sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

"O governo do PT perde hoje mais uma extraordinária oportunidade de falar a verdade. O programa zomba da inteligência dos brasileiros.

Ao final, a propaganda zomba e zomba de forma agressiva daqueles que se manifestam contra a corrupção que este governo implementou no Brasil."

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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB, sobre o programa do PT na TV. Brasília, 6 de agosto de 2015.

Sob pressão, Dilma mobiliza aliados para mudar o governo

Vera Rosa, Talita Fernandes, Rafael Moraes Moura e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

• Após nova derrota no Congresso Nacional e apelo de Temer por ‘união’, presidente passa o dia reunida com ministros e líderes partidários em busca de um novo arranjo que fortaleça sua articulação com o Legislativo e afaste risco de impedimento

BRASÍLIA - Pressionada por partidos da base aliada e com a nova queda de popularidade detectada em pesquisas de opinião, a presidente Dilma Rousseff começou ontem negociações para uma reforma ministerial. Depois da derrota sofrida na madrugada, quando a Câmara desafiou novamente o Palácio do Planalto e aprovou a proposta de reajuste nos salários de advogados públicos e de outras carreiras, Dilma decidiu reforçar a articulação política do governo.

O formato da reforma ainda não havia sido definido até ontem à noite, mas ministros dão como certo que haverá rearranjos no PMDB do vice-presidente Michel Temer, hoje o articulador do Planalto com o Congresso. Além disso, PDT e PTB, que anunciaram independência em relação ao governo, devem entrar na dança das cadeiras da Esplanada.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se reuniu com Dilma na noite de ontem, no Planalto. Com as ameaças de impeachment no cenário político, Dilma ficou apreensiva ao saber que Renan participou de jantar com políticos do PMDB e do PSDB na casa do senador tucano Tasso Jereissati (CE), na terça-feira.

Desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompeu com o governo, a vida da presidente virou um inferno. Agora, ela depende de Renan para barrar, no Senado, um possível processo pedindo o seu afastamento do cargo.

A expectativa de ministros é de que a ala do PMDB no Senado ganhe mais peso na equipe. A aliados, Renan diz que não basta uma reforma ministerial e prega uma “refundação” do governo para zerar o jogo. O discurso do presidente do Senado – que, a exemplo de Cunha, está sendo investigado na Operação Lava Jato – vai na linha de que Dilma precisa fazer um mea-culpa, cortar cargos, revisar contratos, anunciar medidas para aquecer economia e mudar o relacionamento com a base, se quiser se salvar.

Cargos. O PMDB tem hoje sete ministérios, mas uma fatia do partido diz que aceita abrir mão de cargos na reforma desde que o PT faça o mesmo. A Casa Civil está produzindo um estudo de reforma administrativa, para reduzir o número de ministérios – hoje são 39. Mas uma ala do governo acha difícil enxugar a máquina no turbilhão da crise, quando Dilma precisa agradar à base aliada, numa reedição do tradicional toma lá dá cá.

Dilma passou o dia em reuniões com ministros. Distribuiu broncas e mostrou preocupação com o agravamento da crise, vocalizada de forma contundente, na véspera, por Temer. Aos ministros mais próximos do PT, ela pediu ajuda e afirmou que todos “lavaram as mãos” depois que o vice assumiu a articulação política.

Mais cedo, Dilma conversou com Temer. Ela não gostou da entrevista do vice no dia anterior – ele afirmou que o Brasil precisa que alguém “tenha a capacidade de reunificar a todos”. Na manhã de ontem, o vice fez questão de destacar que Dilma promoveu “um trabalho excepcional”. Apesar do discurso otimista ao público externo, o governo avalia que a crise vai piorar, pois está convencido de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, oferecerá denúncia contra Cunha no Supremo.

PT pede apoio contra crise e vira alvo de novo panelaço

• Em propaganda na TV, petistas dizem que crise política é pior que econômica

• Partido defende políticas adotadas por Dilma para economia e acusa oposição de tumultuar ambiente

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O PT reconheceu nesta quinta-feira (6) que a situação econômica do país é muito difícil, acusou os adversários da presidente Dilma Rousseff de tumultuar o ambiente político e pediu ajuda à população para evitar o agravamento da crise.

Veiculada em cadeia nacional de rádio e televisão, em horário reservado pela legislação partidária para a propaganda do PT, a mensagem foi recebida com panelaços em pelo menos 16 capitais e Brasília, onde manifestantes também soltaram fogos de artifício durante a exibição.

O programa fez uma defesa enfática das políticas adotadas por Dilma durante seu primeiro mandato, quando aumentou os gastos do governo para tentar estimular a atividade econômica, e argumentou que as dificuldades atuais são resultado da crise internacional e não de erros cometidos em seu governo.

"Estamos num ano de travessia, e esta travessia vai levar o Brasil para um lugar melhor", afirma Dilma no programa, repetindo bordão que usa há meses. "Quem pensa que nos faltam energia e ideias para vencer os problemas está enganado. Sei suportar pressões e até injustiças."

Antecessor de Dilma e seu principal padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhece na propaganda que o momento atual é delicado, mas diz que o país teve fases piores antes da chegada dos petistas ao poder.
"Sei que a situação não está fácil e que a crise já chegou nas nossas casas", afirma. "Mas nosso pior momento ainda é melhor para o trabalhador do que o pior momento dos governos passados."

O programa petista destaca realizações e avanços alcançados pelas administrações do partido e acusa os líderes da oposição de aproveitar o momento que o país atravessa para alimentar uma crise política que poderia ter "efeitos bem piores" do que a crise econômica.

"Querem enfraquecer o governo e tumultuar a política", diz o presidente do PT, Rui Falcão. "Uma coisa é cobrar e criticar o governo, outra bem diferente é tentar desestabilizar um governo eleito democraticamente."

Um dos atores que participa do programa lembra que o país levou 21 anos para sair da ditadura militar inaugurada pelo golpe de 1964 e deixa uma pergunta no ar: "Tumultuar a política traz solução para a economia?".

"Não se deixe enganar pelos que só pensam em si mesmos", afirma um dos atores que participa do programa, logo após a exibição de imagens do senador Aécio Neves (PSDB-MG), adversário de Dilma na eleição de 2014, e outros líderes oposicionistas.

Aécio, que tem convocado a população a ir às ruas no próximo dia 16 para engrossar os protestos convocados por grupos que defendem o impeachment de Dilma, disse que a propaganda do PT "zomba de forma agressiva daqueles que se manifestam".

Panelas
Os petistas usaram a conclusão do programa para responder com ironia aos oposicionistas que se organizaram nas redes sociais da internet para convocar um panelaço em protesto contra o PT durante a exibição do programa.

"Só queremos lembrar que fomos o partido que mais encheu a panela dos brasileiros", afirma o ator José de Abreu, militante petista, enquanto são exibidas imagens de panelas sendo usadas para cozinhar pratos típicos brasileiros. "Se tem gente que se encheu de nós, paciência. Estamos dispostos a ouvir, corrigir e melhorar."

O programa do PT foi exibido no rádio e na televisão à noite, mas o partido divulgou-o logo de manhã na internet. Anúncios do PSDB convocando para as manifestações do dia 16 também foram veiculados no rádio e na televisão no mesmo horário. A distribuição dos anúncios dos partidos é definida pela Justiça Eleitoral, por sorteio.

Os panelaços nas capitais repetiram os protestos que ocorreram nas últimas vezes em que os petistas apareceram em cadeia nacional de rádio e televisão, incluindo a exibição de outro programa do PT, em maio, e um pronunciamento feito por Dilma em março, no Dia da Mulher.

Na capital paulista, a Folha monitorou 27 bairros. Em 21, houve panelaços contra o PT durante a exibição do programa. Não houve protesto em seis bairros da periferia e seis cidades da Grande São Paulo que são tradicionais redutos eleitorais petistas. Na avenida Paulista, houve buzinaço.
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Colaboraram ALEXANDRE ARAGÃO, de São Paulo, JOÃO PEDRO PITOMBO, de Salvador, PATRÍCIA BRITO, do Recife, PAULA SPERB, de Porto Alegre, JOSÉ MARQUES, de Belo Horizonte, ESTELITA HASS CARAZZAI, de Curitiba eVENCESLAU BORLINA FILHO, enviado a Boa Vista

Governistas discutem transição negociada

Por Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - A antecipação das eleições presidenciais é a nova carta na mesa das negociações feitas no Congresso para desatar o nó da crise política. Praticamente todas as conversas entre os partidos, governistas e da oposição, giram em torno do mesmo tema: a abreviação do mandato da presidente Dilma Rousseff. A razão é que a crise evoluiu aceleradamente nesta semana. A transição negociada, com ou sem a presidente Dilma, é a carta mais forte e está na mão do PMDB.

Na segunda-feira, a presidente organizou um jantar com o objetivo de retomar a iniciativa política e acertar os ponteiros com sua base de sustentação no Congresso. Na terça-feira, a coalizão de Dilma derrotou um requerimento do governo para adiar a votação do projeto que prevê aumentos salariais para as carreiras com teto referenciado no salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na quarta-feira, os líderes do PDT e do PTB, partidos de pouca expressão mas representação no ministério, subiram à tribuna da Câmara para romper com o governo Dilma. A erosão da autoridade da presidente da República se dá na mesma velocidade de aceleração e aprofundamento da crise. Por puro oportunismo, no mesmo dia, o líder do PT encaminhou voto favorável ao projeto para aumentos salariais cuja votação o governo queria impedir. O líder do governo encaminhou contrariamente e teve apenas 17 votos no painel.

A base aliada de Dilma conversa uma coisa com a presidente à noite e faz outra coisa na manhã seguinte. Ao mesmo tempo, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) fez rasgados elogios à conduta do PSDB no comando da economia, nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, o que soou como uma espécie de rendição do PT - alias não aceita pelo presidente do PSDB, Aécio Neves.

A pregação de Temer pela união nacional foi quase uma pá de cal na minada autoridade presidencial. Teria sido um escorregão do vice na articulação política - temeu-se por um esgarçamento nas relações com Dilma - não fosse o fato de que cada palavra foi repensada antes de ser pronunciada.

Temer disse que "alguém" precisa o unir o país. Aparentemente, deixou Dilma de fora. Só faltou entoar uma canção de Roberto Carlos que fala "esse cara sou eu". No PSDB a declaração foi vista como um "ato falho". Até agora, Temer teve o cuidado de não passar a impressão de que trama contra Dilma, a qual sempre manifesta solidariedade. Mas o vice deixou claro que o governo Dilma, da forma como é hoje, acabou.

Junte-se ao fracasso da presidente na tentativa de retomar a iniciativa política a prisão do ex-ministro José Dirceu e o agravamento dos indicadores econômicos, o resultado é que o Congresso já discute sem cerimônia o "day after" do atual governo. Entende-se que, a partir de agora, a crise só vai piorar. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifesta impotente para atuar junto a Dilma. Em conversas reservadas, Lula insinuou que pode abandonar José Dirceu. Em Brasília a conversa é que se Paulo Okamotto não tiver cuidado com rigor da contabilidade do Instituto Lula, o ex-presidente também terá problemas com a Lava-Jato.

São três as saídas em discussão nos partidos, no momento. A primeira é o afastamento de Dilma pela via do Tribunal Superior Eleitoral ou do Tribunal de Contas da União. Seria o impeachment com os traumas decorrentes desse processo. A segunda saída é com Dilma no governo, mas isso significaria três anos e meio de crise econômica e política, como sucedeu no último ano do governo Sarney.

No fim de seu governo, José Sarney (1985-1990) perdeu todas as condições de governabilidade, mas tinha apenas um ano de mandato pela frente, sem expectativa de eleger um sucessor e os políticos ainda temiam pela volta dos militares. A inflação foi a 80% ao mês. Dilma está com a popularidade rés do chão, a inflação em alta mas Lula continua temido como candidato em 2018. Já foi sugerido ao PT que Lula diga não ser candidato.

A terceira opção é a que mais agrada ao PSDB do senador Aécio Neves, o candidato derrotado por Dilma em 2014: a antecipação das eleições. O Congresso em tese pode fazer, mas só numa conjunção política extremamente favorável, o que ainda não é o caso. O ideal, na avaliação feita pelos políticos aliados e da oposição, seria que a própria presidente Dilma tivesse "a grandeza" de reconhecer que perdeu as condições para governar e propor a realização da uma nova eleição ao Congresso. A pergunta é quem vai botar os guizos no gato. Dilma já demonstrou claramente que não pretende abrir mão de um dia de seu mandato.

Além disso, Dilma não entendeu ou fingiu não entender o recado dado por Temer na quarta. Ontem, Mercadante recorreu a Eliseu Padilha para informar a Temer que Dilma queria conversar. O vice já estava na base aérea, com destino a São Paulo. Atrasou a viagem e foi ao Palácio do Planalto. Dilma elogiou rapidamente a fala do vice, na véspera, para em seguida passar a desancar o Eduardo Cunha, seu esporte predileto.

No estágio atual da crise, antecipar a eleição seria a solução ideal porque o novo governo nasceria fortalecido pela vontade popular, em vez dos "arranjos por cima" tradicionalmente feitos pela elite brasileira. A solução Michel Temer desde já impõe uma pergunta nas conversas: o vice passará incólume pelas delações da Lava-Jato? E suas "relações de família" com Eduardo Cunha e o atual esquema de poder na Câmara, como ficariam?

Todos, neste momento, conversam com todos. Só um exemplo: na última segunda-feira, o ex-ministro Moreira Franco, um dos nomes mais próximos Temer e partidário da saída negociada, almoçou com o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), uma das principais referências de Aécio na Câmara e defensor da antecipação das eleições. Aécio vê com bons olhos eleição já, o que não quer dizer que outros tucanos, como José Serra e Geraldo Alckmin, considerem que essa seja a solução ideal. Em política, há convergência quando os interesses convergem, diria o conselheiro Acácio. No momento, a única coisa com a qual todos concordam é que Dilma perdeu condições políticas de governar.

Indústria pede serenidade e diálogo

Por Cristiane Agostine

SÃO PAULO - Empresários da indústria endossaram ontem as palavras do vice-presidente, Michel Temer, e defenderam a ideia de um pacto pela governabilidade e manutenção da estabilidade institucional no país. Fiesp e Firjan, entidades empresariais que representam os dois principais polos industriais do país, São Paulo e Rio, publicam anúncio nos jornais de hoje no qual afirmam que a situação política e econômica é a "mais aguda" dos últimos 20 anos e sugerem a busca de uma solução deixando "de lado ambições pessoais ou partidárias" para "mirar o interesse maior do Brasil".

Ao Valor, o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, disse que "não podemos ficar parados olhando os políticos se digladiarem". E acrescentou: "Não podemos continuar com um país sem confiança e sem estabilidade. Não há doido que vá investir aqui com esse arcabouço. É preciso parar". O presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), afirmou que é preciso haver entendimento para superar a crise. "O Brasil precisa de serenidade, equilíbrio e diálogo. Não podemos mais comprometer empresas, empregos. Precisamos de soluções, de uma agenda positiva paralela a essa crise".

Tanto Vieira quanto Skaf evitaram falar sobre o apoio a um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma, articulado pela oposição. Os dois dirigentes procuraram se desvincular dos partidos políticos e do apoio direto a Michel Temer. "Não estamos apoiando A, B ou C", disse o presidente da Firjan. "Apoiamos a ideia de união que ele defende. Não é um apoio a ele", afirmou Skaf, filiado ao PMDB a convite de Temer.

O PT usou ontem seu programa partidário na TV para pedir apoio contra a "grave crise política", em meio à articulação da oposição e de parte do PMDB sobre o impeachment da presidente Dilma. Já prevendo um "panelaço" durante a exibição do programa, o partido usou a imagem de pessoas batendo panelas e disse que os governos petistas foram responsáveis por "encher as panelas com comida". "Se tem gente que se encheu de nós, paciência. Estamos dispostos ouvir, corrigir, melhorar", disse a propaganda.

Indústria diz que crise é a 'mais aguda' em 20 anos
As federações das indústrias dos Estados de São Paulo (Fiesp) e do Rio de Janeiro (Firjan) pediram ontem um pacto pela governabilidade e manutenção da estabilidade institucional do país. Sem citar o nome da presidente Dilma Rousseff, as duas entidades empresariais defenderam, em nota, a proposta de "união" feita pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) e afirmaram que o momento é de "responsabilidade, diálogo e ação". Na véspera, Temer disse que o Brasil precisa de "alguém" que tenha a "capacidade de reunificar a todos" e reconheceu a gravidade da crise política no país.

Segundo o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, as entidades apoiam o "entendimento nacional", a governabilidade e o fortalecimento das instituições. "Não podemos ficar parados olhando os políticos se digladiarem", afirmou o dirigente. "Não podemos continuar com um país sem confiança e sem estabilidade. Não há doido que vá investir aqui com esse arcabouço. É preciso parar", disse.

Na mesma linha, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), afirmou que é preciso haver entendimento para superar a crise. "O Brasil precisa de serenidade, equilíbrio e diálogo", afirmou Skaf. "A situação é bastante grave e já temos muitos problemas. Não podemos mais comprometer empresas, empregos. Precisamos de soluções, de uma agenda positiva paralela a essa crise", disse.

Tanto Vieira quanto Skaf evitaram falar sobre o apoio a um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma, articulado pela oposição. Os dois dirigentes procuraram se desvincular dos partidos políticos e do apoio direto a Michel Temer. "Não estamos apoiando A, B ou C", disse o presidente da Firjan. "Apoiamos a ideia de união que ele defende. Não é um apoio a ele", afirmou Skaf, filiado ao PMDB a convite de Temer.

Na nota divulgada ontem, a Firjan e a Fiesp afirmaram que a situação política e econômica do país é a "mais aguda" dos últimos vinte anos e analisaram que é hora de buscar uma solução, deixando "de lado ambições pessoais ou partidárias" para "mirar o interesse maior do Brasil". "É nesse sentido que a indústria brasileira se associa ao apelo de união para que o bom senso, o equilíbrio e o espírito público prevaleçam".

Na nota, Firjan e Fiesp cobraram do governo o corte de despesas da máquina pública e prioridade ao investimento produtivo, sem o aumento de impostos, e afirmaram que o Brasil não pode mais ter "irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas". A Firjan e a Fiesp apoiaram também "todas as iniciativas de combate à corrupção" e a punição exemplar dos desvios comprovados.

Panelaço é registrado em 21 estados e DF durante programa do PT na televisão

• Protesto foi ouvido em 21 capitais do Brasil; houve convocação em massa nas redes sociais

Por O Globo

RIO - Veiculado na noite desta quinta-feira, o programa partidário do PT — quemostrou a presidente Dilma Rousseff dizendo que "sabe suportar pressões e injustiças"—, foi alvo de protestos em todas as regiões do país. Apesar de o fim da inserção, que durou 10 minutos, ironizar os panelaços, moradores de diversas cidades brasileiras bateram panelas ao mesmo tempo em que a propaganda do partido era exibida na TV.

Logo no início do programa, já se ouvia um forte panelaço em Copacabana e Botafogo, bairros da Zona Sul do Rio. Também na Zona Sul, o barulho foi forte na Gávea, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico e Ipanema. No Humaitá, panelaço e buzinaços, com mais intensidade no momento da aparição da presidente Dilma, além de gritos contra a petista. Na Praça São Salvador, em Laranjeiras, houve panelaço e discussão entre críticos e defensores do governo Dilma. Também houve protestos no Centro da cidade, na Lapa, Bairro de Fátima e no Rio Comprido. O panelaço também chegou à Zona Norte do Rio. No Méier, na Tijuca e no Engenho de Dentro. No Grajaú, protestos e gritos de “Fora, Dilma”. Também houve panelaço em Niterói e São Gonçalo.

Protesto chega à periferia de São Paulo
O protesto também foi forte em São Paulo, onde foram registrados panelaço em bairros como Pinheiros, Jardins, Pompéia, Itaim Bibi, além de Santa Cecília e Higienópolis. Em alguns bairros, as pessoas fizeram ainda buzinaços e piscaram as luzes das casas e apartamentos. Pela primeira vez, houve panelaço na periferia da Zona Norte da capital paulista: em Parque Edu Chaves, Jardim Brasil e Vila Sabrina.

O corretor de imóveis Celso Dacca, de 58 anos, morador de Higienópolis, bairro nobre de São Paulo onde houve panelaço, buzinaço e apitaço, além de gritos de "Fora, PT", criticou os petistas:

— O panelaço é uma forma de protesto contra um governo que criou um projeto de poder. O PT teve uma oportunidade histórica de fazer grandes reformas enquanto estava por cima. Perdeu uma grande chance de fazer uma reforma política, uma reforma administrativa para que este país vá pra frente. O projeto de poder levou o país à bancarrota — disse.

Segundo Dacca, este não é o primeiro protesto dele contra o governo federal. Eleitor do senador Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da última eleição, ele disse que já foi à Avenida Paulista no dia 15 de março e bateu panela contra o governo federal nos últimos pronunciamentos da presidente Dilma à nação.

— O governo enganou o povo. Está fazendo tudo o que disse que não faria na eleição — desabafou.

Em Curitiba, foram registrados protestos em vários pontos da cidade. Além de moradores batendo panelas, também se ouviram gritos de "Fora Dilma" e "Fora PT".

Em Porto Alegre, houve panelaço em vários bairros. Também houve protesto nas cidades gaúchas de Santa Maria, na Zona Central do estado, e em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana.

Em Cuiabá, capital do Mato Grosso, o panelaço se espalhou por vários bairros da cidade durante os dez minutos do programa do PT. Assim como em outras cidades, em Cuiabá também foram registrados buzinaço e gritos contra o governo.

Os panelaços também aconteceram no Espírito Santo, em Mato Grosso do Sul, no Ceará, em Alagoas e no Pará.

Nas redes sociais, páginas críticas ao governo Dilma chamaram internautas a protestar de forma barulhenta no momento da exibição do programa petista na televisão. “Vamos tirar as panelas da gaveta e espancá-las espontaneamente em alto e bom som”, diz a descrição de um dos eventos no Facebook.

Com a prisão do ex-ministro José Dirceu na última segunda-feira, o PT já esperava novos panelaços durante a veiculação da propaganda. A presidente foi alvo de um panelaço em março, ao usar o pronunciamento pelo Dia Internacional da Mulher para pedir “paciência e compreensão” da população. Depois dessa reação, ela desistiu de discursar na televisão no Dia do Trabalho.

Nesta quinta-feira, a inserção do PT ironizou os panelaços:

— Nos últimos tempos, começaram a dar uma nova utilidade às panelas. A gente não tem nada contra isso. Só queremos lembrar que fomos o partido que mais encheu a panela dos brasileiros. Se tem gente que se encheu de nós, paciência, estamos disposto a ouvir, corrigir, melhorar. Mas com as panelas, vamos continuar fazendo o que a gente mais sabe: encher de comida e esperança. Esse é panelaço que gostamos de fazer pelo Brasil — afirmou o ator José de Abreu, que conduziu o programa.

Datafolha: governo Dilma tem 71% de reprovação
No momento em que o Planalto faz apelos à sociedade, à oposição e ao Congresso e o governo se vê às voltas de uma crise política onde até a base aliada ameaça abandonar o barco, uma pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira pelo jornal “Folha de S.Paulo” mostra que a presidente Dilma Rousseff tem 71% de reprovação, superando assim as piores taxas registradas pelo ex-presidente Fernando Collor no cargo às vésperas de sofrer processo de impeachment, em 1992.

Na pesquisa anterior, divulgada na terceira semana de junho, 65% dos entrevistados avaliaram o governo Dilma como ruim ou péssimo.

Planalto vai focar articulação política no Senado; avaliação é que Câmara está 'ingovernável’

• Agenda da presidente foi alterada na última hora para reunião com o vice e ministros

Por Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro e Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Depois de sofrer mais uma derrota na Câmara, o governo vai tentar barrar a chamada pauta-bomba no Senado. A avaliação é que os senadores, por terem mandatos mais longos, de oito anos, e por serem mais experientes, são menos suscetíveis à pressão das ruas. O assunto foi discutido em reunião de emergência nesta quinta-feira com o vice-presidente Michel Temer, os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Eliseu Padilha (Aviação Civil) para discutir a crise política. O diagnóstico foi que a Câmara está “ingovernável” e que os deputados não estão preocupados com o país. Em paralelo, o Planalto pretende abrir negociação com os servidores públicos para conceder aumentos salariais considerados plausíveis.

Temer aproveitou a reunião para esclarecer o apelo por união, feito por ele, de forma dramática, no dia anterior. Em meio a articulações na própria base aliada para que Dilma não conclua o mandato, setores do governo consideraram que o vice estaria se credenciando para o cargo. O peemedebista disse à presidente que sua intenção não foi essa, mas sim chamar a Câmara à responsabilidade.

Na quarta-feira, antes de reconhecer que a crise é grave e pedir para que todos trabalhassem juntos pelo país, Temer havia conversado com Dilma e avisado que faria a declaração. Na ocasião, ele fez um relato da reunião tensa que havia tido com líderes da base na Câmara.

Mesmo depois do apelo feito por Temer, a Câmara aprovou, nesta quarta-feira, por ampla maioria, em primeiro turno, o substitutivo à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 443, que prevê aumento do teto salarial para as carreiras da Advocacia-Geral da União, para procuradores estaduais e municipais e para delegados das polícias Federal e Civil. O impacto anual é de R$ 2,4 bilhões nas contas públicas.

O Planalto tem investido na reaproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas, para não ficarem à mercê dos humores e interesses do peemedebista, líderes da base aliada no Senado dizem que tentarão influir mais na pauta da Casa por meio do colégio de líderes.

Nesta quinta-feira, o líder do PR, senador Blairo Maggi (MT), subiu à tribuna do Senado para conclamar os senadores a atuar com racionalidade e serenidade para reformar as matérias aprovadas pela Câmara, como a PEC 443, que aumenta salários de advogados da União e terá um impacto anual de R$ 2 bilhões nas contas públicas.

Com críticas severas à articulação política do governo e dos deputados em geral, Maggi disse que o que mais preocupa é que durante essa turbulência política e econômica, a Câmara cria um ambiente muito ruim para o Brasil e uma perda do grau de investimento que irá afetar profundamente a vida de todos os brasileiros. Ele conclamou

O encontro que a presidente teria com a coordenadora-geral da Marcha das Margaridas às 15h no Planalto foi adiado para as 16h, por causa da reunião de emergência com os ministros e o vice.

Michel Temer está cansado e quer deixar ‘varejo’ da articulação

• Vice-presidente teria dado prazo para reorganizar base

Por Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - Michel Temer está cansado. Mas a fadiga nada tem a ver com os 75 anos que o vice completa em setembro. O articulador político do governo tem dito a pessoas próximas que está chegando no limite de suas forças para tentar debelar a crise política com o Congresso, que aparenta ser incontornável. O relato foi feito ao GLOBO por três interlocutores do vice-presidente.

Sua permanência, a curto prazo, vai depender da movimentação da própria presidente Dilma na reorganização da base. A aliados, Temer comenta que, com o agravamento da crise, cabe a Dilma tomar a frente do processo.

— Depende dela (Dilma) pautar, fazer esse movimento. As próximas semanas vão determinar isso. A situação está mudando muito rapidamente, e é um rearranjo político complicado. É preciso rediscussão com a base, que passa pela presidente — disse um interlocutor de Temer.

Temer teria até mesmo estabelecido prazo para permanecer na função: até o fim de setembro, quando espera terminar a montagem da base para, a partir daí, só precisar intervir pontualmente. Planeja deixar o “varejo”, como negociar cargos e emendas, com o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) e o ex-deputado Tadeu Filipelli, que tem lhe assessorado.

— Ele tem dito que não vai aguentar ficar mais tempo. Fala que há crise grave e que de fato o governo está sem base. Mostrou estar cansado, doido para sair disso. Diz que é desgastante essa tarefa, quer ficar só no macro — afirmou outro interlocutor seu.

Temer só não entregou a toalha ainda, segundo relatos, por compromisso com Dilma. Mas não encontra condições para suas atribuições. Negocia com os parlamentares, sem depois conseguir entregar o prometido.

— Ele vai esperar as próximas semanas. A Câmara voltou muito pior, líderes dizem não controlar bancadas. Hoje não é tão simples deixar a articulação. Mas tem de ver se o governo vai fazer a DR, se vai se reposicionar — concluiu um político próximo ao vice.

Ministros defendem que Dilma reconheça erros publicamente

• Presidente convocou reunião de emergência e pediu estratégia contra a crise antes dos protestos do dia 16

• Comando do PMDB e líderes aliados avisaram ao governo que bancadas estão incontroláveis

Marina Dias, Andréia Sadi - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Instados pela presidente Dilma Rousseff a encontrar alternativas para conter a crise política até o dia 16, quando protestos contra o governo estão convocados em todo o país, três ministros ouvidos pela Folha defenderam que a petista faça uma declaração pública reconhecendo erros cometidos durante sua gestão.

O pedido da presidente foi feito durante reunião de emergência convocada por ela com ministros do PT. O diagnóstico é que, se nada for feito antes dos protestos, há risco de a situação tornar-se irreversível. Não há, no entanto, consenso sobre o que fazer.

As soluções debatidas no governo implicam custos. Uma das alternativas citadas foi a de diminuir o tamanho da Esplanada. Mas reduzir cargos também significa diminuir o poder de barganha que o governo tem para negociar com os partidos políticos apoio no Congresso.

Segundo relatos de quem participou do encontro, ministros não falaram abertamente sobre o risco de um pedido de impeachment, mas, nos bastidores, nenhum deles descarta o cenário.

Nesta quinta, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), limpou a área regimentalmente para a apreciação das contas de 2014 de Dilma, que deverão ser rejeitadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Diante desse cenário, considerado "sombrio" por vários integrantes do governo, Dilma convocou uma nova reunião, provavelmente no domingo (9).

A reunião de Dilma com os ministros ocorreu um dia depois de o vice-presidente Michel Temer (PMDB) admitir a gravidade da crise publicamente e dizer que poderia "reunificar o país".

Além disso, pesquisa Datafolha publicada nesta quinta (6) mostra que Dilma é a presidente mais impopular desde o início da avaliação, em 1990: apenas 8% dos ouvidos aprovam o seu governo.

Na madrugada desta quinta (6), para completar, o governo sofreu derrota acachapante na Câmara. Até o PT votou em favor de uma "pauta bomba" que prevê aumento de gastos com servidores.

Antes do encontro com os ministros, a presidente recebeu Temer, que na quarta (5) telefonara a ela antes de dar a declaração pública dizendo que poderia reunificar o país. No telefonema, ele disse que iria pedir "união de todos". Dilma assentiu. Para ministros, a fala acabou "passando do ponto".

Na reunião desta quinta, Temer reiterou a Dilma que seu objetivo era o de transferir responsabilidade da crise para o Congresso. O comando do PMDB e os demais líderes aliados já avisaram o governo que as bancadas estão incontroláveis na Câmara.

A aposta, por isso, deverá se concentrar na tentativa de aproximação com o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), que se encontrou com Dilma nesta quinta. Ele e Cunha culpam o governo pelo que chamam de influência sobre o Ministério Público, que os investiga na Lava Jato.

Governo buscará apoio de elite empresarial do país

• Dilma irá chamar Jorge Gerdau, Abílio Diniz e outros líderes do setor privado

• Fiesp e Firjan divulgaram nota a favor da preservação da estabilidade; entidades só citam Michel Temer

Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com os indicadores econômicos piorando e a instabilidade política reforçando o cenário de recessão, a presidente Dilma Rousseff irá recorrer aos líderes do setor privado do país para tentar obter apoio e, assim, driblar a crise.

O governo quer chamar a elite empresarial brasileira para um encontro nos moldes da reunião com os governadores, ocorrida semana passada, no Palácio da Alvorada.

A petista também convidará executivos do mercado para conversas individuais. Estão na lista alguns dos maiores grupos privados do país, tais como Rubens Ometto (Cosan), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Jorge Gerdau (Gerdau) e Abílio Diniz (Grupo Pão de Açúcar). Todos são considerados relativamente próximos ao Executivo.

Em avaliações internas, o governo concluiu que precisa não só recuperar interlocução com os movimentos sociais, mas também refazer as pontes com o capital.

O objetivo é, de um lado, mostrar apoio entre os chamados barões do PIB (Produto Interno Bruto), e, do outro, obter ajuda da iniciativa privada para influenciar o Congresso Nacional contra a aprovação de projetos com forte impacto fiscal.

O agravamento da situação política ampliou o grau de incerteza sobre o futuro da economia brasileira e gerou dúvidas sobre a capacidade do Planalto de reagir à crise.

Na Câmara, as condições de governabilidade são as mais frágeis possíveis. Investigado pela operação Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem se valido da aguda fragilidade do governo como estratégia para tentar desviar a atenção de seu próprio desgaste.

Nesta semana, o peemedebista colocou em votação a proposta que reajusta salários de carreiras do funcionalismo público federal. Uma aprovação em caráter definitivo gerará aos cofres da União uma perda aproximada de R$ 10 bilhões ao ano. E isso para atender à demanda de 71.397 servidores, 40.950 deles já aposentados.

Fiesp e Firjan
Nesta quinta (6), dois dos principais representantes da indústria nacional, Fiesp e a Firjan, divulgaram nota a favor da preservação da estabilidade institucional. Mas, em vez de citar nominalmente Dilma Rousseff, a declaração divulgada à imprensa menciona apenas o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP).

Na véspera, Temer fez um apelo ao Congresso contra projetos que ajudam a secar ainda mais os cofres federais e disse que o Brasil precisa de alguém capaz de "reunificar" o país. O tom não agradou a setores do governo, que viram no teor da fala a intenção de tentar se colocar como alternativa à presidente.

"O Brasil não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas e deve agir para manter o grau de investimento tão duramente conquistado, sob pena de colocar em risco a sobrevivência de milhares e milhares de empresas e milhões de empregos", diz a nota.

Ainda não está definida uma reunião conjunta com os principais executivos da indústria e banqueiros do país, mas um encontro assim no médio prazo está no script de auxiliares presidenciais.

Programa do PT bate na oposição e enterra qualquer chance de pacto

Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo

Durante as últimas duas semanas, integrantes do governo federal e líderes petistas acenaram publicamente com uma tentativa de aproximação política com os partidos de oposição. O gesto tinha como objetivo a formação de uma espécie de pacto nacional em nome de uma recuperação rápida na economia. Além disso, essa união buscaria evitar uma crise institucional num momento turbulento. Em tom de campanha eleitoral, o programa partidário do PT mostrou nessa quinta-feira que o movimento era pura balela. Petistas, incluindo o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, usaram o programa para bater a valer nos adversários a quem praticamente responsabilizaram pela crise atual.

Foram exibidas fotos de líderes da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado pela presidente Dilma Rousseff na eleição passada, e os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e José Agripino (DEM-RN), além dos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Todos foram chamados de oportunidas pelo programa e foi dito que pensavam apenas nos próprios interesses.

A questão contra a oposição foi ainda reforçada no programa petista na fala de Lula, que disse que a pior crise de qualquer governo petista ainda é melhor do que a dos governos adversários. Embora o Instituto Lula tenha negado a aproximação de Lula com a oposição, intermediários do ex-presidente teriam procurado o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para justamente iniciar uma rodada de conversas sobre a crise. Se os assessores de Lula procuraram desmentir o movimento, ministros como Jaques Wagner, da Defesa, e Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação, afirmaram publicamente que as conversas com a oposição seriam bem vindas.

Além disso, em depoimento na Câmara dos Deputados, na quarta-feira, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também elogiou a oposição, num aceno político para os adversários. Depois da exibição do programa petista, governo e oposição fincam seus pés definitivamente em campos opostos.

Dirigente tucano desautoriza radicalização da bancada

Ana Fernandes e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

• Vice-presidente do PSDB Alberto Goldman defende que o partido precisa, neste momento, pensar no que é melhor para o País, não no que é conveniente ao partido ou a algum quadro da legenda

SÃO PAULO - O ex-governador de São Paulo e vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman, disse nesta quinta-feira, 6, ao Estado que as posições da bancada do PSDB sobre novas eleições são "especulações individuais"

O vice-presidente do PSDB e ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, diz que não há uma posição consolidada do partido sobre a defesa de novas eleições, como defendem os líderes tucanos no Congresso.

Segundo Goldman, as posições manifestadas por parlamentares tucanos no Congresso Nacional são "especulações individuais".

O dirigente disse que líderes do partido se reuniram na terça-feira, 4, e que não havia uma definição de qual linha o partido iria seguir e que isso não mudou até hoje. "Não decidimos nada, por enquanto o que temos são especulações individuais em cima das mais diversas hipóteses levantadas", disse.

"O único consenso a que chegamos é da inviabilidade de Dilma continuar como presidente. Ela não consegue mais passar um projeto, dar sequência a um programa de governo. Não há como imaginar que ela possa continuar à frente do governo por mais três anos e meio."

Goldman disse defender que o PSDB precisa, neste momento, pensar no que é melhor para o País, não no que é conveniente ao partido ou a algum quadro da legenda.

"Temos que pensar o que interessa mais ao País, não ao (Geraldo) Alckmin ou ao Aécio (Neves)", disse em referência ao governador paulista e ao senador presidente nacional do PSDB.
O ex-governador ressaltou ainda que os processos institucionais para saída de Dilma do governo, que pode ser afastada sozinha ou juntamente com seu vice Michel Temer (PMDB), passa por instâncias que estão acima do PSDB, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tribunal de Contas da União (TCU) e o próprio Congresso Nacional.

Goldman lamentou que o governo da petista tenha chegado a esse ponto que chamou de "esfacelamento do governo". "Do ponto de vista das instituições e até mesmo do PSDB enquanto partido de oposição, se ela tivesse condições de governar até o fim do mandato seria a melhor opção, mas a gente não está vendo essa possibilidade", afirmou.

Manifestações. O ex-governador frisou que as manifestações do dia 16 devem ser vistas como um "movimento espontâneo da sociedade contemporânea" e que não deve haver envolvimento partidário. Apesar de o PSDB ter gravado programas televisivos dando apoio aos protestos que pedem o impeachment de Dilma, Goldman defendeu que políticos não tenham protagonismo.
Nesta quinta-feira, lideranças do PSDB na Câmara e no Senado defenderam que os manifestantes troquem o discurso, pedindo em vez do impeachment a realização de novas eleições - o que poderia ser uma pressão para a presidente renunciar.

Tucanos pedem novas eleições e Alckmin homenageia Temer

Isadora Peron, Pedro Venceslau e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

• PSDB se divide sobre a substituição de Dilma; grupo de Aécio quer que vice também saia, mas paulistas refutam tese

BRASÍLIA - Lideranças do PSDB no Congresso próximas ao presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), afirmaram nesta quinta-feira, 6, que a melhor saída para a crise política é a realização de novas eleições, e não apenas o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A posição, porém, não é consensual na sigla porque envolve interesses de outros presidenciáveis. Os grupos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do senador José Serra (SP) são contrários a essa tese.

“Precisamos, sim, de alguém que una a Nação, e esse alguém só surgirá legitimado pelas urnas”, defendeu o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). As declarações foram dadas após a revelação de que tucanos e peemedebistas discutiram, durante um jantar, os prós e os contras de um eventual processo para afastar Dilma.

A tese das novas eleições é defendida pelos líderes do partido no Congresso e atende aos interesses do senador Aécio Neves, segundo colocado na disputa ao Planalto do ano passado. Uma nova eleição ainda neste ano beneficiaria Aécio, primeiro colocado neste momento em pesquisas de intenção de voto.

O PSDB pressiona o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a impugnar a chapa eleitoral da presidente Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer. Se isso ocorrer, ambos ficariam impedidos de assumir a Presidência.

“Concordamos com Michel Temer sobre a necessidade de encontrar alguém capaz de unir o País para sair da crise e ao mesmo tempo também tenho o convencimento da necessidade de que isso só se constrói através de eleições diretas”, afirmou Cássio Cunha Lima.

Tanto Cunha Lima quanto o líder tucano na Câmara, Carlos Sampaio (SP), refutaram a tese de aliados do governo de que pedir uma nova eleição era um movimento golpista da oposição.

Disseram que estavam na “expectativa” da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que investiga irregularidades nas contas da campanha petista que podem resultar até mesmo na cassação do mandato de Dilma. A previsão é que o caso seja julgado até outubro.

Paulistas. Os grupos em torno de Geraldo Alckmin e de José Serra, no entanto, não têm mostrado entusiasmo em abraçar a causa das novas eleições. “Cada um tem uma ideia na cabeça, mas não há nada decidido no partido em termos coletivos. Não é o momento de tomar essa decisão”, disse o ex-governador Alberto Goldman.

Temer foi homenageado ontem à tarde por Alckmin em um evento no Palácio dos Bandeirantes que celebrou os 30 anos da Delegacia da Mulher. “Michel Temer tem a grandeza dos grandes homens, que defendem o interesse público e o bem comum”, disse o governador. Temer retribuiu dizendo que Alckmin “tem uma educação cívica extraordinária” e uma “capacidade agregadora que esta acima dos acontecimentos”.

Impeachment de Dilma: processo já está em curso, diz presidente do PPS

Por: Valéria de Oliveira - Portal PPS

"O processo já se iniciou. Não sabemos se vai chegar ao afastamento, mas já começou e isso se espalha como rastilho de pólvora", disse o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), referindo-se ao impeachment da presidente Dilma, durante encontro de presidentes estaduais da legenda, realizado em Brasília nesta quinta-feira (06).

Freire apontou como aceleradores do processo a prisão do ex-ministro de Lula José Dirceu, na operação Lava Jato, e a declaração do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) de que o país precisa de alguém que o reunifique. Segundo Roberto Freire, a fala é "de quem está começando a assumir a presidência".


Para Freire, a declaração de Temer demonstra que a presidente da República já não exerce nenhum papel, nem como chefe de Estado, nem como chefe de governo. "Esse processo vai se aprofundar", disse, lembrando que a sociedade vai se pronunciar sobre esse momento no panelaço previsto para acontecer durante programa de TV do PT, hoje, e na manifestação do próximo dia 16.

"Esse pronunciamento de Temer foi preparado numa reunião de senadores do PMDB e do PSDB, incluindo Renan Calheiros (PMDB-AL), Aécio (PSDB-MG) e Serra (PSDB-SP), dentre outros, quando se discutiu a situação pós-Dilma naquela que é a questão básica do momento: o PMDB saber se haverá apoio das forças pró-impeachment para assumir", acrescentou Freire. Ele comentou que Temer parecia nervoso ao fazer a declaração.

Isolamento
No entender de Freire, a omissão do PT com relação à prisão de Dirceu é um sinal de isolamento do partido e do governo, aturdidos com o fato. "Já está se discutindo na sociedade quem será o próximo", disse, referindo-se a petistas de alto coturno envolvidos na corrupção na Petrobras.

Para Roberto Freire, o país vive "um desmoronamento da força que sustenta Dilma, neste momento em que o governo não consegue mais aprovar um requerimento para adiar uma votação de matéria que lhe preocupa". Segundo Roberto Freire, o governo prioriza um ajuste, mas não consegue mais adiar uma votação na Câmara por entender que ela pode comprometer essa medida.

Numa mesma noite, acrescentou Freire, dois partidos - PDT e PTB - anunciaram ruptura com a base governista. "O Congresso já se prepara para votar as contas de Dilma com as pedaladas fiscais, e as forças que apoiam o impeachment precisam estar prontas para apoiar o governo que virá em consequência desse impedimento da presidente".

Freire exorta os políticos a "acabar com algumas veleidades de achar que se vier o impeachment não temos responsabilidade". Ele contou episódios da estruturação do governo Itamar Franco, após o impeachment de Collor, quando se fez uma administração de união nacional. "O PT se recusou, mas Lula ia às reuniões e indicava ministros",lembrou.

Trauma
Freire salientou que haverá traumas, principalmente na economia, com o impedimento da presidente Dilma. "Mas atualmente, com esse quadro que vivemos, os agentes políticos e econômicos não veem perspectivas de solução da crise. Precisamos apresentar um caminho para a saída", ponderou.

O presidente do PPS lembrou ainda que o partido rompeu com o governo Lula em 2004 por discordar da política econômica e advertiu o país que ele poderia levar "a uma desgraça".

Situação terminal
Já o vice-líder da oposição na Câmara, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), afirmou que a declaração de Temer sobre a crise mostra que o governo Dilma está em situação terminal. "Precisamos preparar as condições porque teremos uma transição. E esse alternativa passa pelo vice-presidente Michel Temer. Temos que estar preparados para dar sustentação a um governo de coalização. Essa saída é inevitável e está por vir", alertou o parlamentar.

Cientistas políticos discutem saídas para a crise

• Da pauta-bomba no Congresso, passando pelas contas que o TCU julgará, veja os pontos que andam sufocando o governo

Por Alessandra Duarte, Thiago Herdy e Julianna Granjeia – O Globo

RIO e SÃO PAULO - A prisão de José Dirceu feriu o PT. Com novas delações, a Polícia Federal se aproxima de Lula e do Planalto. A provável denúncia à Justiça do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deixará o ambiente ainda mais tumultuado no Congresso. Desde que foi acusado, Cunha patrocinou a votação da chamada “pauta-bomba”, conjunto de medidas que ameaça desfigurar o ajuste fiscal e aprofundar a crise econômica que o país atravessa. A crise se acentuou, com dados que mostram piora no emprego, renda e inflação, afetando o poder de compra. O país corre o risco de perder o grau de investimento, o que provocaria fuga de investidores e aprofundaria a crise. Para piorar, o TCU julgará as contas de Dilma de 2014 e a tendência é a rejeição em razão das chamadas “pedaladas fiscais”, quando o governo melhora artificialmente as contas. As contas serão votadas no Congresso, o que pode dar argumento para o impeachment.

Insatisfeitos com o governo, PDT e PTB, que somam 44 deputados, anunciaram o desembarque da base aliada na Câmara. Sem eles, a sustentação política fica ameaçada, e o governo tende a sofrer mais derrotas. Rompido com o governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, arquivou quatro pedidos de impeachment apresentados na Casa contra a presidente Dilma Rousseff. Agora, nove pedidos estão na Câmara. No dia 15 de março, houve manifestação contra o governo Dilma. No dia 12 de abril, a adesão foi menor. Agora, os grupos críticos à gestão petista convocam novo protesto para este mês. O governo e o PT sofrem com panelaços e o Datafolha mostrou que Dilma tem 71% de reprovação. Diante da crise política e econômica que assola o governo, O GLOBO ouviu seis cientistas políticos que discutiram saídas para o momento conturbado que vive o país.

Veja, abaixo, o diagnóstico de cada especialista:

Roberto Romano, cientista político da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp):

— A saída é a saída de emergência. Com o atual nível de popularidade da presidente Dilma Rousseff (71% da população desaprovam o governo, segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha), não há engenharia política que possa resolver este problema. A saída seria um pacto político de todos os partidos representados no Congresso Nacional com a sociedade, no sentido de garantir o funcionamento normal das instituições. Fora esse pacto de governabilidade, não vejo o que fazer. Tudo indica que estamos caminhando para um processo de impeachment da presidente Dilma, mas isso não é uma saída. O impeachment trará divisões gravíssimas na sociedade brasileira e não garantirá o próximo governo, possivelmente liderado por Michel Temer. Não seria uma situação diferente da de hoje. E o Temer representa só uma parcela do PMDB, sobretudo o PMDB paulista. A pauta que se instalou no Congresso Nacional vai continuar em curso, dada a fraqueza da economia atual e também a fraqueza da União. Um presidente que assuma sem ter sido eleito (como cabeça de chapa), nessas condições, pode piorar, e muito, a crise atual. A situação ficaria ainda mais grave.

Francisco de Azevedo, cientista político da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar):

— O governo está totalmente encurralado no Congresso, com baixa popularidade e com a base partidária completamente esgarçada. Uma das possíveis saídas seria reunificar a base no Congresso Nacional, ainda que isso resulte em ter a minoria na Casa. A crise é muito ampla e extrapola as possibilidades de reação do Executivo, envolve várias forças políticas. À esta altura, é impraticável a proposta de diálogo nacional, nos termos que tentou sugerir o governo, porque a possibilidade de diálogo com a oposição está totalmente inviabilizada. Talvez o caminho passe pelas forças políticas, independentemente do governo, para assegurar a governabilidade. É mais nesse sentido do que na ideia de a oposição sustentar o governo, depois de um acordo, através de pauta comum. É uma crise complicada, que vai demandar muita conversa no intuito de assegurar a governabilidade, de impedir que se extrapole a crise política e tenhamos uma crise institucional. Isso seria muito mais grave. A saída passa pelo Legislativo, não pelo Executivo, que está emparedado e totalmente sem capacidade de tomar iniciativas políticas.

Paulo Baía, cientista político da UFRJ:

“Tem de haver disposição de todos os setores para conversar. A fala de (Michel) Temer ontem (anteontem), pedindo união, foi muito prudente e muito lúcida. É preciso prudência, porque tudo que não queremos é que a crise política se torne uma crise institucional, senão é mudar a crise de patamar e colocar a democracia em risco. O Legislativo tem tido um ativismo belicoso em relação aos outros Poderes. Quando as bancadas não obedecem mais a seus líderes (na Câmara), você pode esperar qualquer coisa. Mas o Senado tem tido um papel de poder moderador: recebe as polêmicas da Câmara, guarda e esfria. Tem de haver essa disposição para conversar, senão fica todo mundo falando, e ninguém escuta ninguém, que é o que está acontecendo hoje. E com um elemento a mais: fora dos Poderes, há grupos na sociedade que têm tido função importante, têm sido microlideranças pelas redes sociais, na organização de manifestações. Esses grupos e a sociedade também precisam ser escutados e ter diálogo. E escutados em todos os seus desejos: na área econômica, por exemplo, o governo precisa tomar medidas que mostrem que está ouvindo também nessa área, como diminuir o tamanho (da máquina) do governo, um dos pontos que têm sido mais criticados.

Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio:

— O problema vem desde o início do ano, quando o governo lançou outro candidato à presidência da Câmara, contra (Eduardo) Cunha; a partir disso, só evoluiu. Ontem (anteontem), na votação da PEC 443 na Câmara, viu-se que não há mais controle da base. A questão nem é a pessoa na articulação política, mas como o modelo funciona. O governo Dilma toma decisões num grupo fechado, ensimesmado, formado ali pelo (ministro Aloizio) Mercadante, pelo (ministro Miguel) Rossetto... É preciso chamar a base também para decidir. Os deputados se sentem apenas cobrados, mas não se sentem participando das decisões. Eles têm o ônus, sem o bônus. É um problema de origem: o PT tem aliados, mas não quer se misturar a eles. Por que (Eduardo) Cunha não fica isolado? Porque o que expressa em relação ao governo é compartilhado por outros. Agora, para o governo sair da crise, precisa também buscar apoio na sociedade, e, para isso, precisa assumir sua responsabilidade. Até agora, o que fala é que fez tudo certo; a crise internacional e a Lava-Jato é que afetaram a economia. Tem de explicar melhor, senão mina a confiança da população. O problema não são as pessoas que não votaram na Dilma, mas as que votaram e acreditaram nela.

Fábio Wanderley Reis, cientista político e professor emérito da UFMG:

— Na verdade, a crise vai se consolidando. Havia uma expectativa de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tomasse algumas medidas, elas estão acontecendo agora, como podemos observar. A tendência é a crise se agravar e se atualizar. Há motivos reais para preocupação, não vejo truque capaz de resolvê-la. O que vejo de positivo é uma manifestação mais conciliadora, ainda que com reservas, por parte do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lula acenou com uma conversa, que bem ou mal, apesar da reserva, Fernando Henrique respondeu positivamente. É fundamental conversar com ele para descapitalizar a crise. A materialização do ódio que resultou da última eleição é muito negativa para o país. Uma boa parcela do PSDB está agindo de maneira totalmente irresponsável e oportunista. Hoje, não acredito que haja base jurídica para o início de um processo de impeachment contra a presidente da República. Mas sabemos que existe um pedido da oposição em análise pelo Congresso, que conta com o apoio da base aliada do governo, que é uma base de araque. É possível que se acabe encontrando um tecnicismo jurídico que justifique isso. O resultado seria catastrófico para o país.

Emil Sobottka, professor de Ciência Política da PUC-RS:

— O mais viável agora para o governo é fazer a combinação de dois elementos. O primeiro é que acho que ele não escapa de uma reforma ministerial. Precisa abrir para outros nomes, isso se ainda encontrar gente que aceite ser governo neste momento. O outro elemento é negociar emendas parlamentares com os aliados. Essa combinação não é o ideal; o ideal seria reformar o que está na estrutura dos problemas ligados à corrupção, como o financiamento dos partidos, uma gestão profissional das estatais... Mas isso, neste momento, não é nem um pouco viável. Se o governo conseguir negociar ministérios e emendas, acredito que é possível uma saída. As ameaças de impeachment devem perder força: pelo lado do TCU (que analisa as contas de governo de Dilma), a tradição tem sido aprovar, no máximo, com ressalvas, e não reprovar; pelo lado das contas de campanha de Dilma (que podem ter recebido dinheiro de propina, segundo as denúncias na Lava-Jato), reprovar essas contas é um risco elevadíssimo para os outros partidos assumirem, podem ser atingidos também. E os problemas vindos de (Eduardo) Cunha também tendem a amenizar: com as denúncias contra ele, quem estava a seu lado para atacar o governo passa a se afastar; não vai querer ter a imagem contaminada pelas acusações.

'Nem governo nem oposição têm a saída', afirma sociólogo

• Para autor de livro sobre Collor, não há coalizão clara para impeachment nem estratégia de Dilma para superar crise política

Alexandra Martins - O Estado de S. Paulo

O sociólogo Brasilio Sallum, autor do recém-lançado livro O Impeachment de Fernando Collor, não vê saída para a crise política atual porque o governo da presidente Dilma Rousseff não tem clareza da direção a tomar nem a oposição tem "horizonte" a seguir. Para o professor da USP, os movimentos que defendem o afastamento da petista têm força para "empurrar" os partidos, mas isso é insuficiente para desencadear o processo político em si.

É possível o governo sair da crise política?

Passamos por incertezas que não têm respostas claras nem do governo nem da oposição. Paulatinamente, estamos amadurecendo. O fato de o governo tentar hoje ajustar as contas já é um enorme avanço em relação ao que antes da eleição se dizia, de que não estávamos em crise econômica, que o mundo era uma maravilha. Nós, pelo menos hoje, temos absoluta consciência de que devemos fazer alguma coisa. A crise política é grave por, no mínimo, três razões: pelo fato de a presidente ter perdido autoridade, pelo enfraquecimento da coalizão e pela baixa popularidade de Dilma. Por outro lado, as forças que se opõem a ela não têm horizonte claro a perseguir. Não sabemos a qual direção a presidente quer levar o País.

Quem se beneficiaria com um processo de impeachment?

Como não estamos vendo uma coalizão definida e clara, que trabalhe especificamente pelo impeachment, não se pode dizer que hoje haja beneficiários. Como funciona o processo? Você tem oposições, que se organizam contra o presidente, mas ao mesmo tempo se organizam em favor do vice. Na época do ex-presidente Fernando Collor, houve isso: uma coalizão entre PMDB, PSDB e PT, que se articularam contra o Collor, conseguiram maioria e atraíram ex-aliados do ex-presidente. É isso que não existe hoje.

As ruas podem hoje estimular esse movimento?

Os movimentos de rua não têm a menor condição de fazer isso hoje. As mobilizações da época do Collor foram articuladas com partidos e por uma rede de mais de 100 organizações. Os movimentos de hoje, desde os de 2013, não têm condução partidária. As ruas hoje empurram os partidos, mas não são empurradas pelos partidos. Parece que hoje a relação é inversa àquela verificada na época de Collor. Em geral, mobilizações sempre têm um cordel, são puxadas por aqueles que fazem parte do sistema político, mesmo em posição secundária. A questão é que os partidos não estão conseguindo dar direção à demanda. Os partidos estão muito desorganizados, têm alas diferentes com dificuldade de manter uma unidade, têm facções que agem de formas distintas.

Temos então só ameaças?

Há tentativas, ameaças, 'pautas-bomba'. Mas os obstáculos são muito grandes para se alcançar o impedimento. Os sinais ainda não são totalmente claros, não é um movimento que será facilmente bem-sucedido. As dificuldades jurídicas e políticas serão bastante grandes, não vejo o impeachment visível no horizonte, embora haja movimentos nessa direção.

E o peso da Operação Lava Jato nesse contexto?

O problema é que a Lava Jato mostra de um lado que as instituições estão funcionando extraordinariamente bem do ponto de vista institucional, produzindo minibombas políticas. Isso tornam difíceis as associações - as agregações, digamos - entre os políticos, porque eles são passíveis de processos. Todos os mecanismos de articulação política estão sujeitos a receberem o impacto da Lava Jato. Depois que o Eduardo Cunha foi envolvido nas investigações, a Câmara passou a ser uma fonte potencial de obstáculos.

'O PT perdeu a curva da história', diz sociólogo

Por Maria Cristina Fernandes - Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

SÃO PAULO - O sociólogo Francisco de Oliveira avisa logo que segue, nesta crise, as recomendações de seu conterrâneo, o jornalista Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000): "Cético, frio e distante". Ao longo de quase três horas de conversa, no entanto, derruba, um por um, os três adjetivos.

Crítico cáustico do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo dos 12 anos do petismo no poder, Chico de Oliveira agora está mais moderado. Talvez porque a realidade do partido que vive a maior crise de sua história se imponha. Fundador do PT, o sociólogo se diz hoje um "militante esquizofrênico" do PSOL.

Diz que a falência do PT é muito mais grave do que a da economia brasileira. Vê na conjuntura de desemprego em alta e renda em baixa um ciclo que será superado, não sem antes cobrar pedágio na rota da redução das desigualdades.

Saúda a operação Lava-Jato como um processo de afirmação da cidadania, mas não acredita na capacidade de a operação judicial mudar a configuração do capitalismo nacional, a não ser pela indução de um novo ciclo de internacionalização da economia: "As grandes empresas brasileiras não são peças de um xadrez. Elas são o xadrez".

Vê o PSDB como um possível beneficiário que emergirá da crise, mas diz que, dos três presidenciáveis do partido, apenas o senador José Serra (SP), de quem não se diz eleitor, sabe o que fazer do Brasil.

Sobre a crise política do governo Dilma Rousseff, o sociólogo é taxativo: "Ela não vai cair". Diz que a economia e a sociedade ganharam complexidade e dificultaram a formação de um bloco hegemônico de interesses como aquele que derrubou Fernando Collor de Mello em 1992.

Contemporâneo de Fernando Henrique Cardoso na Universidade de São Paulo, onde foi professor, e no Cebrap, instituição da qual também foi pesquisador, Chico de Oliveira traçou rumos muito distintos, tanto na política quanto na sociologia. Diz que o governo de seu antigo colega foi mais intervencionista que o de Lula e de Dilma: "Não se privatiza, numa economia desse tamanho, sem a força do Estado".

Criança no Recife, assistia às empregadas domésticas egressas da Zona da Mata inibidas em pedir carteira de trabalho, mas firmes na resistência de votar em usineiro. A experiência está nos primórdios da análise que o consagraria na sociologia com "Crítica à razão dualista" (1972). O ensaio filiaria Oliveira a uma tradição crítica que vê progresso e atraso como faces de uma mesma moeda.

Filho de um dono de farmácia e de uma dona de casa, Francisco de Oliveira deixou o Recife depois de se formar em ciências sociais e voltaria à cidade nos anos 1960 como assessor de Celso Furtado (1920-2004) na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Aos 81 anos, queixa-se da diabete e dos rins, mantém-se afastado das atividades acadêmicas e pouco sai de casa, um apartamento na Vila Romana, zona na oeste de São Paulo. De dois casamentos lhe ficaram oito filhos, de 20 a 60 anos, e seis netos.

Tem à sua cabeceira "Napoleão - Uma Vida", de Vincent Cronin (Amarilys, 2014): "Sempre o tomei por sanguinário, mas nesse livro descobri um estadista". Na semana passada, o sociólogo recebeu o Valor em sua casa para a entrevista que segue:

Valor: O desfecho desta crise vai repetir o de 1992?

Francisco de Oliveira: São processos muito diferentes. [Fernando] Collor ameaçou o establishment político. Ele trazia uma vertente nova na política. Parecia um liberal e, ainda que essa fachada não viesse a resistir muito tempo, foi suficiente para ameaçar forças tradicionais da política que acabariam por derrubá-lo.

Valor: Que forças?

Oliveira: O PMDB, que nunca tem força para chegar à Presidência, mas tem força para impedir que se chegue. Do ponto de vista partidário, foi a grande falha de Collor. Ele tinha uma extraordinária força popular. Todo mundo pensa que Collor era alagoano. Ledo engano. A base dele era o Rio, que nunca teve presença autônoma na política brasileira. Adquiriu no seu governo e desestabilizou o comando de São Paulo.

Valor: O senhor está falando do capital financeiro e industrial? Mas ele não chamou Marcílio Marques Moreira [ministro que sucedeu Zélia Cardoso de Mello na Fazenda até o impeachment]?

Oliveira: Podia colocar o nome que quisesse, ele contrariou fortemente essas forças. Quem derrubou Collor foi São Paulo. Pensar que um presidente da República caiu por um automóvel chamado Elba é uma piada [a comprovação de que o carro que servia à casa de Collor foi comprado com um cheque da conta-fantasma do tesoureiro Paulo Cesar Farias foi um dos últimos atos do impeachment].

Valor: São Paulo elegeu e derrubou Collor?

Oliveira: Aquele foi um momento de enorme contradição. As forças da política se equivocaram quase todas. Collor é um equívoco enorme. O modelo intervencionista e semiestatizante é a força de São Paulo. A indústria paulista só existe por causa do protecionismo. Hoje está muito consolidada, mas naquela época havia brechas muito fortes.

Valor: O senhor vê setores organizados que hoje tenham interesse na queda da presidente Dilma Rousseff?

Oliveira: Hoje não há uma oposição sistêmica. Naquela época era um Collor que levaria o país para um capitalismo desenfreado contra aquilo que, equivocadamente, se pensava que fosse o socialismo. Hoje as forças não têm mais essa configuração. Não há margem para mudanças radicais, seja pela direita seja pela esquerda. A economia e a sociedade se sofisticaram e os interesses ficaram muito complexos. Não são fáceis de ser identificados e não se faz um processo de impeachment sem força social por trás.

Valor: Mas as pesquisas não indicam que hoje há apoio popular ao impeachment?

Oliveira: Essas pesquisas parecem ter base, mas são inteiramente falsas. Uma coisa é conversar abstratamente sobre impeachment. Outra é colocar em votação na Câmara para ver se sai. Não sai. Ela não vai cair. O impeachment não tem apelo popular. A recessão não torna o impeachment popular. O povo sentirá como um golpe de Estado.

Valor: O governo tem capacidade de reação?

Oliveira: Não quero ser muito negativo, uma ave de agouro, mas todos sabemos que ela [Dilma] não tem cacife próprio. Está na dependência do cacife do Lula, que pode se esgotar rapidamente. Lula é uma figura emblemática da ascensão e queda do PT. O líder comanda, não pode ficar se justificando o tempo inteiro. Obriga Dilma também a fazer.

Valor: Mas se o cacife de Lula se esvair, o dela também não se vai?

Oliveira: Lula teve uma chance que poucas vezes se repetiu na história brasileira que foi a de liquidar uma era. É lamentável que não tenha aproveitado a chance. Ele não é corrupto no sentido vulgar, de meter o dinheiro no bolso, mas é culpado de ter abortado uma era de contestação sistêmica. Isso acontece poucas vezes na história. É um pecado que ele não vai pagar nunca. Agora a acusação de corrupção contra Dilma cola mal. Ela é um ponto baixo da curva e uma governante medíocre, mas não fez nada de escandaloso.

Valor: O que o senhor espera da manifestação de 16 de agosto?

Oliveira: Essas manifestações têm uma ambiguidade fundamental. Parecem expressar o jogo da direita, mas abrem o jogo da política mais do que nunca. Vão mostrar que o problema, no momento, é o PT. O partido perdeu a curva da história. O PT é uma força nacional. Molda interesses estratégicos da sociedade. Está desalinhado e em franco recuo, o que é um risco.

Valor: Está se formando um consenso entre economistas bem postos no país de que o chamado pacto social estabelecido pela Constituição de 1988 chegou ao limite. A crise do PT levará ao fim desse pacto?

Oliveira: É o eterno discurso da direita econômica. A direita brasileira é muito pobre teoricamente. Os economistas brasileiros, salvo Celso Furtado [criador da Sudene e ministro do Planejamento de João Goulart] e Eugênio Gudin [ministro da Fazenda do presidente João Café Filho, que assumiu depois da morte de Getúlio], não têm obra teórica. Gudin tentou ser liberal e não deu. Algumas das medidas mais incentivadoras da indústria são de Gudin. A famosa instrução 113 da Sumoc [norma de 1955 da Superintendência da Moeda e do Crédito, antecessora do Banco Central, que liberou licenças de importação sem cobertura cambial] é do Gudin. Foi um instrumento de intervenção estatal extraordinário. E ele era o papa do liberalismo. Juscelino [Kubitschek] manteve a instrução. É tido como liberal, mas era um enorme intervencionista. Criou as condições para a indústria moderna. Isso é fruto de todo um processo teórico extremamente rico, mas é subestimado por nós mesmos. O que parece liberal é intervencionista e o que parece intervencionista é liberal, como o Celso Furtado.

Valor: Celso Furtado liberal?

Oliveira: O intervencionismo de Celso Furtado é uma imagem muito equivocada. Ninguém foi mais ativamente liberal do que ele. A Sudene foi o último capítulo do esforço nacional para reduzir as desigualdades regionais. E teve um êxito parcial. Criou incentivos fiscais para levar empresas exitosas do Sudeste a se transferir para o Nordeste. Foi uma emenda de um parlamentar do Sudeste que criou os incentivos fiscais para que as empresas se transferissem. Isso não veio da criação da Sudene. Celso Furtado deve tremer no túmulo de arrependimento. Mas essa foi a forma de transferir capital do Sudeste para o Nordeste.

Valor: O intervencionismo dessa época gerou o BNDES. O senhor imaginava que teria o gigantismo de hoje?

Oliveira: O que houve foi um pouco mais de retórica sob a direção de um filho da Unicamp que é o Luciano Coutinho. Mas o BNDES sempre foi assim desde sua fundação. Sem BNDES não existiria a indústria brasileira. Era esse o jogo. Um enorme esforço teórico foi conduzido por Raúl Prebisch na Cepal [economista argentino, secretário executivo da comissão de 1949 a 1963]. E de onde vem Prebisch? É o organizador do Banco Central argentino. Torna-se um desenvolvimentista aloprado. Gênio como era, percebeu o jogo de poder internacional. JK é um discípulo de Prebisch e virou o grande estadista capitalista do Brasil. Fez Gudin ser intervencionista. Só houve mercado livre no Brasil na Primeira República e na segunda fase do Império. E deu num desenvolvimento medíocre. O Brasil só retoma um ritmo capitalista sério com [Getúlio] Vargas.

Valor: A oposição entre Fernando Henrique e Lula é sempre descrita como o desmonte e a recuperação do legado de Getúlio Vargas. A crise de hoje é um novo desmonte?

Oliveira: A sociedade hoje é muito mais complexa, com interesses contraditórios. Não podem ser movidos por uma dinâmica hegemônica. É a corrupção que os move? Não, é crescimento econômico. Quando estanca é que vem a crise. Há uma certa incapacidade de domar as forças do mercado.

Valor: O senhor disse que votaria em Dilma porque ela não implantaria o programa do PSDB, mas a política econômica dela não é a mesma dos tucanos?

Oliveira: É. A economia brasileira é muito importante. Não dá para mudá-la de acordo com a ideologia. O problema não é que Dilma seja intervencionista. O problema é que ela não é.

Valor: Não foi o intervencionismo exacerbado que levou a essa crise?

Oliveira: O Estado não mudou muito desde Fernando Henrique. Ele tentou reduzir o intervencionismo, mas não teve êxito completo. Houve reformas estruturais, mas ele não mudou a trajetória da economia brasileira e sua inserção. Fernando Henrique, mais liberal na aparência, é mais intervencionista do que Lula. As privatizações foram conduzidas e financiadas pelo Estado. Não se privatiza, numa economia desse tamanho, sem as forças do Estado. Ele também usou a política monetária para domar essas forças, que pareciam muito autônomas. Sem o Estado você não faz nada na periferia do capitalismo. Essa é a contradição que o acompanha. Você quer ser menos intervencionista, mas, para fazer isso, tem que ser mais.

Valor: Mas isso não parece ser um processo restrito à periferia. A recuperação americana depois da crise financeira internacional não se deu em parceria com o Estado?

Oliveira: De certa forma, sim. É uma ficção olhar a economia americana pela lente do mercado. Uma economia que comanda o mundo não se move pelas leis do mercado. O que o mercado espera com mais ansiedade toda vez que há uma nova eleição nos Estados Unidos? Quem será nomeado presidente do Fed [Federal Reserve, o banco central americano]. Quando essa notícia ocorre, as forças do mercado se alinham. O Fed é liberal? O pitaco que o presidente americano dá não tem nenhuma importância se a autoridade monetária não respaldar. O Fed de cada Estado é uma ficção que a Constituição americana mantém. Não há como o Fed do Kansas divergir do de Nova York.

Valor: Mas a crise fiscal em que o Brasil se meteu vai deixar alguma brecha para o intervencionismo?

Oliveira: O fato principal que deveria nos inquietar, e muito, é a falência do PT. Se o PT recuar muito, teremos problema. Não pelo avanço da direita, mas pelo recuo da esquerda. A direita nunca foi capaz de superar a lenga-lenga do mercado livre. [Leonel] Brizola, que era muito cáustico, disse que Lula era a esquerda que a direita sonhou. Apesar disso, foi um estadista capaz de ser vice de Lula. Não gosto nada do recuo do Lula, porque não está à vista nenhuma nova configuração de forças que capture o entusiasmo nacional.

Valor: O senhor já disse que o lulismo é uma falácia porque se recusou a reformar o Estado. De que reforma exatamente o senhor falava?

Oliveira: O PT não tem uma teoria do Brasil. Isso parece uma abstração, mas não é. Se você não sabe o que é este país, para onde vai e que forças o comandam, você não vai a lugar algum. E Lula não sabe. É o típico produto do desenvolvimentismo. Foi São Bernardo que o fez e não o contrário. Esse impulso esgotou-se. O risco é você ficar à mercê das forças do mercado. Esse é o risco. Eu gostaria que Dilma tivesse força para impor outro rumo. O risco está em não ter rumo algum.

Valor: O senhor prevê, então, um governo que vai se arrastar até o fim dominado por interesses de mercado?

Oliveira: O Brasil pode perder algumas alavancas de controle social sobre a política justamente num momento em que houve uma redução importante da desigualdade. Mas não estamos vivendo uma crise nos termos apregoados pela imprensa. A economia brasileira tornou-se cíclica porque desenvolveu-se e não o contrário. O capitalismo tem ciclos. O Brasil não experimentava ciclos desde Vargas porque a intervenção do Estado foi decisiva para mudar a curva dos ciclos. Os ciclos fazem parte da dinâmica do capital e o Brasil é hoje uma economia em que não cabe mais o adjetivo de subdesenvolvida.

Valor: Como se caracterizará o ciclo que está para começar? Haverá uma maior internacionalização da economia?

Oliveira: Estamos numa fase de maturação do investimento. Ele se esgotará e dará início a um período que, se for leve, chamaremos de recessão; se for mais pesado, chamaremos de depressão. Não está no horizonte nenhuma depressão. Mas como já não somos insignificantes do ponto de vista do desenvolvimento do capital, o comando da autonomia da economia brasileira já está mais sujeito às chamadas leis do mercado. As oportunidades de investimento vão ficar mais palpáveis, talvez haja uma maior internacionalização, mas isso só vai acontecer se a economia estiver patinando.

Valor: Qual será a configuração política que resultará desse novo momento da economia? O PSDB ganha fôlego?

Oliveira: O PSDB está fragmentado em três nomes. Aécio [Neves] e [Geraldo] Alckmin não sabem o que fazer com o Brasil. Estão mais perdidos que cachorro em procissão. [José] Serra sabe. É um cepalino modernizado. Se Serra, e não Aécio, tivesse concorrido, ele teria ganhado. Fernando Henrique ainda tem muita força. Você olha para o Fernando Henrique e tem inveja. Não sou serrista nem tucano e vejo que Fernando Henrique está manobrando por uma saída conservadora. Vejo riscos na conjuntura, mas prefiro seguir o dito do meu conterrâneo Barbosa Lima Sobrinho: "Cético, frio, distante". Assim é que estou.

Valor: Mas Serra concorreu duas outras vezes e perdeu.

Oliveira: Era outra a conjuntura. Dessa vez teria ganhado, o que só prova quanto os partidos políticos estão com os sensores muito fracos. Não gosto dele. Nossas linhas nunca se cruzaram, mas ele sabe para onde levar o país. Os outros dois são balsas ao vento. O problema é o PSDB entregar a candidatura para ele e mobilizar gente. Eles são ruins de mobilização.

Valor: Vai sobrar algum nome do PT?

Oliveira: Não vejo. [Fernando] Haddad é muito "nós com nós". Muito universitário. Chamou os amigos da universidade para governar com ele.

Valor: A crise, pelo que o senhor diz, apenas será superada por um novo pacto. Se o PT estará fora desse pacto, que forças o comandarão?

Oliveira: Ainda não temos claro. A ciência social não é uma bola de cristal. Isso é o bom da política, a incerteza. Não vejo surgir uma força política transformadora. É uma repetição anódina, mais do mesmo, sem entusiasmo. À la Ulysses Guimarães, que foi o maior político do Brasil dos últimos 30 anos. Fez uma política convencionalíssima. Sem tesão. Não entusiasmava ninguém, entretanto era um racionalista. Isso pode ser um sinal da maturidade do país? Talvez. O grande general americano que seduzia as massas na Segunda Guerra foi [Douglas] MacArthur, que era reacionaríssimo. [Dwight] Eisenhower [presidente dos Estados Unidos de 1953 a 1961] não entusiasmava ninguém e era um general medíocre, mas foi quem conduziu os Estados Unidos no pós-guerra. Se o país tivesse caído nas mãos do MacArthur, talvez tivesse havido uma terceira guerra mundial. A gente espera que os políticos sejam mais Ulysses e Eisenhower.

Valor: A esquerda se esvazia num momento de grande protagonismo do Judiciário. O senhor espera que esse protagonismo reverbere para a política eleitoral?

Oliveira: Não, o único lugar do mundo em que o Judiciário conta como força política são os Estados Unidos. Em nenhuma outra parte. O Brasil importou essa tradição, mas nossos juízes são fracos politicamente. A Lava-Jato é muito saudável. É através desses processos que a cidadania mostra que está querendo se afirmar. Sempre há o risco de o Judiciário assumir uma centralidade na política, mas não acredito que ninguém saia à rua sob a liderança da toga.

Valor: Mas esse protagonismo do Judiciário não é a grande diferença em relação ao impeachment de Collor?

Oliveira: Talvez, mas é outro o jogo do capitalismo brasileiro. As grandes empresas brasileiras não são peças de um xadrez. Elas são o xadrez. Acho que não haverá problema do ponto de vista dos grandes interesses. A Lava-Jato não vai desmontá-los. É interessante do ponto de vista jornalístico, mas não tem essa força.