O Estado de S. Paulo
Patriotas são aqueles dispostos a colocar
seus tijolos na nunca terminada construção de uma casa comum que seja de todos
Bolsonaro se crê um patriota. O engano é
evidente. O atual presidente não revela traço algum de quem ama o seu país. O
desprezo pela vida dos brasileiros, demonstrado na pandemia, e o descaso com o
meio ambiente, em geral, e a Amazônia, em particular, falam por si. Bolsonaro
não conhece nem tem apreço pela cultura brasileira, na sua imensa riqueza e
diversidade. Se dependesse dele, a natureza e a cultura, que dão corpo e alma a
este país, não resistiriam. E nossa história ficaria aprisionada nos chavões de
um autoritarismo primitivo.
E, apesar de tudo isso, o bolsonarismo
tenta se apoderar de símbolos nacionais, como o hino, a bandeira e a camisa da
seleção brasileira. Patriotismo excludente, movido a ódio, exterminador do
futuro.
Nações são comunidades imaginadas, na
definição de Benedict Anderson, autor de um livro clássico sobre as origens dos
Estados nacionais e a difusão do nacionalismo. Existem não como um dado da
geografia física, mas como construções políticas e culturais, pelo fazer, o
falar, o atuar e o escrever constantes de muitos que compartem uma língua e
vínculos concretos e simbólicos com um território delimitado e um passado em
comum, vivendo sob as mesmas leis. Para subsistirem, as nações precisam ser
periodicamente reimaginadas para projetar um destino em comum, melhor para
todos.
Os mitos da nacionalidade brasileira – a democracia racial, o gigante pela própria natureza, o país do futuro, etc. – estão em mau estado. Não resistiram ao embate com a realidade de um país que, em 200 anos, resolveu bem suas questões de fronteira, ocupou seu território, se urbanizou e industrializou, tornou-se uma grande economia, mas não conseguiu entregar à grande massa de sua população condições aceitáveis de vida e um terreno firme e plano para o exercício da cidadania.