*Raymundo Faoro
(1925-2003), "Donos do Poder", 3ª Edição, p. 329-330. Editora O Globo, 2001.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sexta-feira, 11 de agosto de 2023
Opinião do dia – Raymundo Faoro* (Um pouco de nossa formação)
Vera Magalhães - Lula mira no Rio diante de revés de Bolsonaro
O Globo
Turnê de lançamento do PAC, concessões a
Castro e Paes e retomada de investimentos em óleo e gás fazem parte da
estratégia de retomar liderança no Estado
Luiz Inácio Lula da Silva está em turnê no
Rio. A solenidade com pompa e circunstância do novo PAC será apenas o clímax de
uma visita estendida, planejada para marcar uma ofensiva política do presidente
no estado com o qual viveu uma história de amor em seus mandatos anteriores —
que acabou sem final feliz para ele e os parceiros de então.
Agora, diante dos graves reveses políticos
e judiciais de Jair Bolsonaro, Lula investe para fincar a bandeira do governo
federal na forma de investimentos e concessões no Rio, com o intuito evidente
de chegar ao término de quatro anos tendo entregado mais para o estado e para
sua capital que o antecessor, que tem neles sua base política.
Por mais que escorregue aqui e ali na
retórica quando fala de improviso, Lula é imbatível na arte de, em cima de um
palanque, entender rapidamente a maré do público e conquistá-lo para si.
Foi dessa forma que deu as mãos ao prefeito Eduardo Paes, político igualmente habilidoso, e passou um pito na plateia que começava a vaiar o governador Cláudio Castro, aliado de Bolsonaro quando foi alçado ao cargo pelo impeachment de Wilson Witzel e na bem-sucedida campanha à reeleição, mas que vem se mostrando o mais discreto dos governadores do triângulo do Sudeste agora, na fase do ocaso do capitão.
Bernardo Mello Franco - O muro de Castro
O Globo
Barreira na Linha Vermelha não é ideia boa
nem nova; governador resiste a câmeras e quer enfrentar violência com tijolos
Cláudio Castro teve uma ideia para acabar
com a violência na Linha Vermelha. Mandou erguer um muro nas laterais da via
expressa.
Segundo o governador, a medida vai
“garantir a segurança de todos que passam”. Faltou mencionar os que ficam: os
moradores de bairros e favelas cortados pela autoestrada.
A Linha Vermelha cruza regiões
historicamente dominadas pelo crime, como Vigário Geral e Maré. Em vez de
prender os bandidos e libertar as comunidades, Castro quer escondê-las da visão
dos motoristas de classe média.
A solução de segregar a pobreza não é boa nem nova. Em 2010, o prefeito Eduardo Paes mandou instalar barreiras de três metros de altura entre a Linha Vermelha e a Maré. Ao ser acusado de tentar ocultar a favela, disse que o objetivo era proteger os tímpanos de seus moradores.
Flávia Oliveira - Execução sumária
O Globo
Menino de 10 anos foi fuzilado por
policiais militares quando se distraía com um telefone celular na porta de casa
Foi na exibição final de “Macacos”,
monólogo que rendeu ao fenômeno Clayton Nascimento os prêmios Shell, APCA e
Deus Ateu de melhor ator em teatro, que pude ver Therezinha, mãe de Eduardo. No
Rio de Janeiro, quem tem empatia e memória não precisa nem de sobrenome nem de
contexto para saber de quem se tratava. Ao ouvir os dois nomes, foi natural ser
transportada para aqueles dias de abril de 2015 e todas as semanas, todos os
meses seguintes ao drama do menino de 10 anos fuzilado por policiais militares
quando se distraía com um telefone celular na porta de casa, no Complexo do
Alemão.
Na peça, o ator, também autor e diretor da obra (eu disse fenômeno), encena os minutos finais da criança inocente, a dor visceral da mãe ao saber do filho morto, o encontro póstumo, que só o teatro e a fé tornam possível. Anos atrás, Therezinha se emocionou ao saber da indignação, da denúncia, da homenagem em forma de arte, e foi ao encontro de Clayton. Desde então, não é incomum vê-la no espetáculo. Naquele domingo de julho, o último da temporada carioca, ela saiu da plateia, subiu no palco e fez um apelo por justiça por seu filho, o menino de 10 anos fuzilado por policiais militares quando se distraía com um telefone celular na porta de casa, no Complexo do Alemão:
Luiz Carlos Azedo - Segurança pública e direitos humanos são velhas prioridades
Correio Braziliense
A segurança pública não pode ser tratada como
um problema estadual, tanto nas cidades brasileiras quanto nas florestas da
Amazônia. Exige a presença forte do governo federal
Uma das características de países de
dimensões continentais como o Brasil é a dificuldade de dar um cavalo de pau do
rumo das coisas. É mais ou menos como a diferença da capacidade de manobra do
jet-ski para a de um graneleiro de grande porte, que vira de proa lentamente e,
por causa da inércia, precisa da ajuda de rebocadores para atracar com
segurança nos portos. Governos podem mudar de prioridades abruptamente, mas
isso é muito raro, porque pode ser considerado um estelionato eleitoral.
O Plano Real foi um cavalo de pau na economia, mas havia uma necessidade real, por causa da hiperinflação, e um certo consenso nacional de que algo de novo deveria ser experimentado, diante do fracasso de sucessivos planos econômicos, desde o Plano Cruzado, no governo José Sarney. O Plano Collor fora um grande fracasso e o presidente Itamar Franco, que assumira a Presidência, diante da falta de horizonte, decidiu inovar. Com a transferência do então ministro de Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, para o Ministério da Fazenda, montou-se uma das melhores equipes econômicas de que se tem conhecimento.
Reinaldo Azevedo - O bolsonarismo tem de ser banido
Folha de S. Paulo
Erraram os que viram Bolsonaro só como a
cara mais feia da democracia
Estavam obviamente enganados todos aqueles
que chegaram a supor que o bolsonarismo era só uma forma de ser da direita, um
pouco mais áspera e angulosa do que se tinha até então, mas, ainda assim,
suportável em nome da diversidade. Um outro equívoco se juntou a esse. Muitos
apostaram que Jair
Bolsonaro acabaria se vergando ao peso das instituições. No fim
das contas, seria só um fanfarrão agressivo, dado a arroubos retóricos, mas se
dava como pouco provável que tentasse se organizar para golpear a democracia.
Ele se mostraria apenas como a cara mais feia do regime.
Direitistas não fascistoides e liberais que pareciam, então, autênticos se deixaram encantar pelo "líder popular" que, finalmente, estaria dando corpo e expressão a valores chamados, impropriamente, de "conservadores". Nessa perspectiva, o tal só precisaria, vamos dizer, de um certo "banho de loja" no shopping do bom senso. Livre de alguns comportamentos mais grosseiros, poderia até ser admitido à mesa da civilidade.
Bruno Boghossian - Os esqueletos vestem farda
Folha de S. Paulo
Investigações sobre golpismo e falcatruas
ampliam vexame da aliança militar com ex-presidente
Antes de exercer o direito ao
silêncio, Mauro
Cid mandou dois recados em sua passagem pela CPI do
8 de janeiro, no mês passado. Primeiro, o coronel chegou
ao Congresso com uma farda do Exército. Em seguida, disse que sua
designação como braço direito de Jair
Bolsonaro havia sido "responsabilidade das Forças
Armadas" e que a função era "exclusivamente de natureza
militar".
Preso desde maio, Cid procurava abrigo no corporativismo verde-oliva. O Exército estendeu a mão de volta ao coronel e informou que havia emitido uma orientação para que ele fosse uniformizado à CPI por entender que ele estava ali para "tratar de temas referentes à função para a qual fora designado pela Força".
Hélio Schwartsman - Castidade ambiental
Folha de S. Paulo
Países amazônicos emulam santo Agostinho
A leitura da Declaração
de Belém, o documento final da primeira Cúpula
da Amazônia, me transportou para a África do século 4º. Foi ali que um
jovem, que mais tarde se converteria num dos principais filósofos católicos,
Agostinho de Hipona, ou santo
Agostinho, teria dito "Deus, dai-me a castidade e a continência, mas
não agora" (Confissões VIII, 7).
Os governantes amazônicos, como o santo, desfilam ótimas intenções, mas evitam comprometer-se com atitudes concretas para realizá-las. Em duas ausências notáveis, não propuseram uma meta conjunta de zerar o desmatamento nem descartaram prospectar petróleo na região. É como se dissessem "Deus, dai-nos a continência para preservar as florestas e abandonar os combustíveis fósseis, mas não agora".
André Roncaglia* - Novos ares no Banco Central e o jus esperneandi do rentismo
Folha de S. Paulo
A autonomia do BC precisa de regulação
detalhada sobre a conduta da diretoria
A mais recente reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom)
trouxe novos ares ao Banco Central, com a estreia dos diretores indicados pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Galípolo (Política Monetária) e
Ailton Aquino (Fiscalização).
A decisão do Copom de reduzir
a Selic em 0,5 p.p. teve placar apertado (5 x 4) e fez um racha entre
diretores mais moderados —em favor de reduzir a Selic mais rapidamente— e
aqueles mais ortodoxos, que defendiam corte
menor (0,25%).
A minuta e a ata da reunião mostram, de
fato, uma diretoria mais arejada. A ata fez uma bem-vinda reflexão sobre a
incerteza que afeta as estimativas de hiato do produto, o indicador do ignorado
mandato de fomentar o pleno emprego. Pela primeira vez desde 2017, saiu do
balanço de riscos a preocupação com a incerteza fiscal e entrou o efeito da
reforma do regime de metas que substituiu a meta ano-calendário pela meta
contínua. Citar agora essa regra —a qual passa a valer apenas em 2025— tem
aparência de um recibo ao governo, pela manutenção das metas futuras de
inflação em 3%.
Com um toque de oportunismo, Campos Neto, presidente do BC, deu o votou de desempate em favor do corte de 0,5 p.p. (60% dos agentes de mercado esperavam um corte de 0,25 p.p.). Como fiador da intransigência monetária que ainda asfixia o setor produtivo, ele sabe que cortes de mesma magnitude até o final do ano levarão a Selic a 11,75%, um nível ainda bastante restritivo.
Laura Karpuska* - ‘Poder e Progresso’
O Estado de S. Paulo
Livro desmantela narrativa de que mais tecnologia resulta em ganhos imediatos a todos
Nossa vida é hoje, certamente, melhor e
mais confortável do que a dos nossos antepassados. Devemos isso, em grande
medida, ao avanço tecnológico dos últimos séculos. Contudo, o aumento da
tecnologia não foi por si só condição suficiente para isso.
O progresso tecnológico resultou em uma melhora da qualidade de vida das pessoas porque houve organização das classes subjugadas, que pressionaram as elites para compartilhar de maneira mais equitativa os benefícios dos avanços técnicos.
Eliane Cantanhêde - Direita, presente e futuro
O Estado de S. Paulo
Cid, Torres e Silvinei ameaçam o
bolsonarismo; Zema e Tarcísio, a ‘nova direita’
A extrema direita brasileira está acossada
pelos escândalos do governo Jair Bolsonaro e a “nova direita” é ameaçada pelas
ações e manifestações absurdas de prováveis herdeiros de Bolsonaro, os
governadores Tarcísio Gomes de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG), que não
preenchem o vácuo de uma direita mais arejada, preparada e, claro, não
golpista.
Mauro Cid é tenente-coronel da ativa do Exército. Anderson Torres, delegado de carreira da Polícia Federal (PF). Silvinei Vasques foi da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de 1995 até o ano passado. Os três foram presos por armações contra as eleições, boas práticas da administração pública e a própria democracia. São provas vivas do quanto Bolsonaro corrompeu as instituições e as forças que são armadas.
César Felício - Faturas para Tarcísio, caso troque de partido
Valor Econômico
Governador de São Paulo precisa ganhar
tempo
Uma mudança de partido do governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, pode significar uma mudança na forma como São Paulo
vem sendo governado. Tarcísio seria recebido com festas no PL, sem dúvida, caso
decida abandonar o Republicanos assim que o partido adentrar a Esplanada dos
Ministérios, com a iminente nomeação para algum cargo do deputado federal
Silvio Costa Filho. Mas não há almoço grátis, a migração teria um preço.
O partido entende que o bolsonarismo tem muito a oferecer ao governador, mesmo com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, decidida em junho pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Concretamente, entende serem necessárias mudanças no governo de São Paulo. O presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, tem deixado claro a interlocutores que Tarcísio não pode ter como governador a mesma liberdade que Bolsonaro teria tido como presidente para nomear a sua equipe. O diagnóstico é que ainda não se estabeleceu uma linha de corte clara entre o que é a direita no poder em São Paulo e o que foram os 28 anos de PSDB. E que para isso acontecer é preciso delegar as funções de governo que fazem a interlocução política com o interior do Estado.
Claudia Safatle - Governo quer mesmo zerar o déficit em 2024
Valor Econômico
Há ainda muitas dúvidas e incertezas em
relação ao Orçamento do próximo ano
Fontes do Ministério da Fazenda garantiram
que o governo mantém a meta de zerar o déficit primário em 2024; e sustentaram
que não vai haver mensagem modificativa estabelecendo qualquer condicionante na
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ao cumprimento da meta.
São muitas as dúvidas e incertezas, porém, em relação ao Orçamento do próximo ano. A começar pelo fato de que, não tendo sido ainda aprovada a lei do arcabouço fiscal, ele terá que ser elaborado com base na lei do teto de gasto ou não? A ideia no Ministério do Planejamento é que o Orçamento, que tem que ser enviado ao Congresso até o fim deste mês, seja elaborado com base no arcabouço que foi aprovado pelo Senado, caso não seja aprovada a tempo, pela Câmara, a lei que define um conjunto de regras fiscais.
José de Souza Martins* - Livro para ler, livro para consumir
Eu & / Valor Econômico
O livro é instrumento ativo de ensino e
aprendizado, mesmo fora da escola. É obra, como texto e produção física.
Situa-se no campo da arte
A Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo anunciou a dispensa dos 10 milhões de livros didáticos fornecidos pelo
governo federal para distribuição aos alunos das escolas paulistas. Em seu
lugar optou pelo livro virtual, acessível pela internet. É uma inovação
modernosa, antipedagógica. O secretário não explicou o que é para ele a
natureza da diferença entre o livro físico e o livro virtual.
Faz objeção ao conteúdo desses livros
físicos. Portanto, não conseguiu ou não achou necessário explicar aos educadores,
aos pais de alunos e aos próprios alunos suas razões para, no intuito de impor
um suposto conteúdo novo, impor também uma forma de deslivrar o livro do que
lhe é próprio, de destituí-lo de sua forma de livro segundo a tradição e a
cultura do livro.
Quando se fala em livro, fala-se também na forma da sua apresentação, de sua acessibilidade e de seu uso. Tradicionalmente, a forma do livro não se separa do seu conteúdo e do modo de usá-lo.
O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões
Deflação acrescenta riscos para o crescimento chinês
Valor Econômico
A lenta recuperação chinesa só pode ser
acelerada com injeção do consumo, mas pacotes amplos de estímulos aos gastos
das famílias nunca foram lançados
A China frustrou as expectativas de
desempenho econômico, que eram grandes logo após ter abandonado as rígidas
medidas preventivas contra a covid-19. O crescimento registrado no segundo
trimestre do ano reduziu-se a 0,8% sobre o trimestre anterior, ante 2,2% no
primeiro. Mesmo com a previsão de expansão de 5,5% para o ano, a menor em muito
tempo, surgiram dúvidas de que seja alcançada. Depois de um Produto Interno
Bruto (PIB) modesto, vieram mais um recorde de desemprego entre os jovens
(21,3%) em junho, deflação em julho (-0,3%) e quedas de dois dígitos no
comércio externo, tanto de exportações como importações. Estouro de bolha
imobiliária, baixo consumo, crescimento menor e inflação negativa são sinais de
que a economia aproxima-se de um ponto morto com altos desequilíbrios.
A China está ficando sem motores de crescimento. Nas ocasiões em que teve de enfrentar problemas na economia, as autoridades do Partido Comunista lançaram sucessivos e bilionários estímulos à infraestrutura, que relançaram as atividades. Ainda que possam fazê-lo novamente, o governo agora pensa duas vezes antes de usar os mesmos incentivos. A enorme bolha dos imóveis, agigantada por pacotes anteriores, estourou há dois anos com a falência da Evergrande e o espetacular endividamento das maiores incorporadoras, estancando um setor que produzia algo entre um terço e um quarto de um PIB de US$ 18 trilhões.