• "As pessoas vão associar essa melhora da economia, senão ao governo, à agenda do governo"
• "Em 2018, juros, emprego e confiança precisarão puxar a atividade econômica para valer"
Por Sergio Lamucci | Valor Econômico
SÃO PAULO - A queda significativa da inflação e a perspectiva de manutenção desse cenário também no próximo ano têm impactos bastante amplos sobre a economia - e também sobre a politica -, segundo o economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero.
Em relação a 2018, o quadro é bastante positivo, diz ele. A inflação seguirá tranquila e os juros deverão atingir níveis "ineditamente baixos", num cenário em que os gastos do governo e o crédito dos bancos públicos ficarão contidos.
Com isso, o radicalismo no cenário eleitoral tende a diminuir, diz Montero. "Vejo a economia que todo governo almeja em um ano eleitoral: retomada cíclica, comida abundante, um mundo amigável e alguém que pode ser culpada por tudo de ruim - a ex-presidente Dilma. As pessoas vão associar a melhora da economia, senão ao governo, à agenda do governo. Aumentam as chances de um candidato da agenda".
'Ano eleitoral terá juro ineditamente baixo e comida abundante'
A recuperação da atividade econômica ganha força, devendo levar a um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,8% a 0,9% neste ano e de 3% ou até mais do que isso no ano que vem, diz o economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero. Ele ressalta o papel crucial da queda da inflação para a retomada, ao levar a ganhos de renda em termos reais. Além disso, ela abriu espaço para o tombo dos juros. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou 2015 em 10,7% e 2016 em 6,3%, subiu apenas 2,46% nos 12 meses até agosto.
"Por trás dessa enorme desinflação está a sobreoferta agrícola", afirma Montero. Há um ano, destaca ele, o salário mínimo de R$ 880 comprava uma cesta básica e sobravam pouco mais de R$ 183; hoje, o piso salarial de R$ 937 paga os produtos da cesta e ainda restam quase R$ 300. Montero nota ainda que os rendimentos têm crescido cerca de 3% em relação ao mesmo período do ano passado, descontada a inflação, segundo números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Para 2018, Montero traça um quadro positivo. A inflação seguirá tranquila e os juros deverão atingir níveis "ineditamente baixos", num cenário em que os gastos do governo e o crédito dos bancos públicos ficarão contidos e há grande ociosidade na economia. Para ele, o Banco Central (BC) poderá cortar a Selic para 7% neste ano e para 6,5% no começo do ano que vem - hoje, a taxa está em 8,25% ao ano.
Essa perspectiva de retomada mais firme tende a, no mínimo, diminuir o radicalismo no cenário eleitoral, avalia ele. "Vejo a economia que todo governo almeja num ano eleitoral: retomada cíclica, comida abundante, um mundo amigável e alguém que pode ser culpado por tudo de ruim - a ex-presidente Dilma Rousseff. As pessoas vão associar essa melhora da economia, senão ao governo, à agenda do governo. Aumentam as chances do candidato da agenda."
A seguir, os principais trechos da entrevista de Montero, que foi secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1999 e 2001.