quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Opinião do dia – Álvaro Dias: república de banana

"Dilma mostra que, ao contrário do que diz, é muito suscetível a pressões. Ela quis impor autoridade e acabou se curvando a quem nos trata como uma república de bananas."

Do líder do PSDB no senado, Álvaro Dias (PR), sobre as mudanças que o Planalto será obrigado a promover no texto da Lei Geral da Copa depois da nova rodada de negociações com a Fifa. Folha de S. Paulo, 5/10/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Rio vai dobrar indenização para remover mais favelas
Farra com Bolsa Pesca eleva gasto a R$ 1,3 bi
Brasil libera droga banida nos EUA
Entrando de sola
Após 22 dias, Correios faz acordo e encerra greve

FOLHA DE S. PAULO
Para deputado, cada colega de SP tem um preço
Bulgária usa visita de Dilma para fechar negócios
Anvisa proíbe anfetaminas e restringe a sibutramina
Correios fazem proposta, e fim da greve deve ser votado hoje

O ESTADO DE S. PAULO
No Judiciário, mais de 4.800 podem ter supersalário
Brasil e UE divergem sobre taxar transações
Acordo deve encerrar greve dos Correios
Emagrecedor é mantido pela Anvisa
Em 12 meses, preço da cesta básica sobe acima da inflação

VALOR ECONÔMICO
Capital externo garante o aumento de investimentos
Dependência do petróleo cresce no Rio
UE prepara ação para recapitalizar bancos
Bolsa perde mais valor do que na crise de 2008
Infraero relicita todas as lojas de aeroportos

CORREIO BRAZILIENSE
Dilma freia desmonte do BB em Brasília. Falta brecar a Caixa
Aonde eles vão levar o mundo?
AGU não quer eleição com verba pública
Um alerta brasileiro
Novas regras para o uso de emagrecedores

ESTADO DE MINAS
Proibidos três remédios para emagrecer
Dilma defende parceria global

ZERO HORA (RS)
Sites municipais omitem dados de contas públicas
Campeão de uso, Brasil não proíbe remédio para emagrecer

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dengue recua no Estado
Paralisação dos Correios perto do fim

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

Após 22 dias, Correios faz acordo e encerra greve

Acordo no TST põe fim à greve dos Correios, que durou mais de 20 dias

Não houve avanço nas negociações com bancários e petroleiros preparam paralisação

Geralda Doca e Wagner Gomes

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os funcionários dos Correios devem voltar ao trabalho amanhã, depois de 22 dias de paralisação geral. Ontem, representantes da categoria e da estatal fecharam acordo sobre os termos do reajuste salarial, em audiência de conciliação realizada pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Foi estabelecido um reajuste de 6,87%, retroativos a agosto, para cobrir as perdas com inflação e um aumento linear de R$80, a partir deste mês. Segundo a empresa, este valor, que será incorporado aos salários, representa um ganho real de 9,9% para os carteiros. Enquanto isso, os bancários vão para o décimo dia de greve e os petroleiros se preparam para greve nacional, que pode começar na próxima semana.

Hoje, os 35 sindicatos dos Correios realizarão assembleias em todo o país, mas o comando do movimento vai orientar os trabalhadores a aprovar o acordo celebrado entre as partes e com isso, pôr fim à greve. Assim que a metade das entidades se manifestar, as atividade voltarão ao normal, aos poucos.

Os serviços de Sedex 10, Sedex Hoje e Disque Coleta somente deverão ser aceitos a partir de amanhã, segundo a estatal. A empresa informou que a paralisação causou atrasos em 147 milhões de cartas e encomendas e que ainda não se sabe quando a situação será normalizada. O prejuízo estimado sobre o faturamento é de R$20 milhões por dia.

O acordo celebrado permitiu a compensação, por parte dos trabalhadores, da maioria dos dias parados (15 dias), durante sábados e domingos, até maio de 2012. Os seis dias que foram descontados do contracheque serão devolvidos em folha suplementar imediatamente. Eles só serão descontados a partir de janeiro até dezembro, sendo o equivalente a meio dia parado por mês.

Dez mil metalúrgicos fizeram manifestação
O TST passou a mediar o conflito na última sexta-feira, quando a direção da empresa entrou com pedido para que a Justiça suspendesse a greve por se tratar de serviço essencial e instaurasse processo de dissídio coletivo no Tribunal. A liminar para acabar com a paralisação foi negada pela vice-presidente do TST, Cristina Peduzzi.

Já os bancários, em greve há mais de uma semana, enviaram ontem carta à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) cobrando a retomada nas negociações do acordo coletivo da categoria. No início da noite, a Fenaban alegou não ter conhecimento da carta e nenhum encontro havia sido agendado. A greve dos bancários já mobiliza cerca de 32 mil trabalhadores. O silêncio dos bancos, segundo os sindicalistas da confederação dos bancários, tem ajudado a ampliar a paralisação, que ontem atingiu 8.328 agências e 21 prédios administrativos.

Os bancários, que iniciaram a greve no dia 27 de setembro, reivindicam 12,8%, e os bancos ofereceram 8%.

Também em campanha salarial, dez mil metalúrgicos de várias empresas das regiões sul e oeste da capital paulista participaram ontem de um ato de mobilização para a campanha salarial, cuja data base é em novembro.

FONTE: O GLOBO

Em greve há oito dias, bancários cobram ação dos empregadores

Marcelo Rehder

Sem avanço nas negociações salariais, a greve dos bancários completou ontem oito dias de paralisações em bancos públicos e privados em todo o Brasil. De acordo com a Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), 8.328 agências ficaram fechadas ontem, 42% das cerca de 19,8 mil existentes no País.

Reunido em São Paulo, o Comando Nacional dos Bancários divulgou nota em que repudia o que chamou de "silêncio dos bancos". Os sindicalistas criticam a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) por não retomar as negociações para apresentar nova proposta aos trabalhadores capaz de pôr fim à greve nacional da categoria.

No texto, os sindicalistas afirmam que "os bancos estão agindo de forma irresponsável ao permanecerem em silêncio e ignorarem a disposição dos bancários para retomar o processo de negociações".

"Desde o início reafirmamos nossa disposição para o diálogo, que consideramos o melhor caminho para resolver o impasse", disse Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional

A greve começou no dia 27 de setembro, após assembleias da categoria rejeitarem a proposta de reajuste salarial de 8% apresentada pela Fenaban, A oferta dos bancos representa 0,56% de aumento real. Os bancários querem reajuste de 12,8% (aumento real de 5% mais inflação do período), valorização do piso, maior Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e mais contratações, entre outras reivindicações.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em greve, servidores gritam 'fora, Dilma' perto do Planalto

BRASÍLIA - Cerca de 400 servidores federais da área de educação bloquearam ontem a avenida em frente ao Palácio do Planalto. Em greve há dois meses, eles pediam reajuste salarial de 14,6%.

Após duas horas de protesto e gritos de "fora, Dilma", eles deixaram o local depois de serem recebidos por assessores da Secretaria-Geral da Presidência. Prometeram, porém, voltar se não forem recebidos pela ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) ou pela presidente Dilma Rousseff.

O grupo, que faz parte do Sinasefe (sindicato de professores, técnicos e servidores da educação), pede ainda 10% do PIB para a educação.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Contra medidas de austeridade, Grécia faz greve no setor público

Funcionários param 24 horas contra cortes para enfrentar crise da dívida.

Eles temem as demissões que devem ocorrrer dentro de um ano.

Com as escolas e os museus fechados, os voos cancelados e os hospitais atendendo apenas casos de emergência, a Grécia tem nesta quarta-feira (5) um dia de greve no setor público contra as medidas de austeridade impostas para enfrentar a crise da dívida.

A convocação de uma greve de 24 horas nos serviços e empresas públicos inclui um protesto à tarde em Atenas.

Os funcionários públicos protestam essencialmente contra o projeto de colocar 30 mil deles em paralisação técnica, com uma redução de 40% do salário até o fim do ano, antes de uma provável demissão após um ano, com o objetivo de reduzir drasticamente os gastos públicos do país.

A medida foi negociada pelo governo grego com o trio de credores: União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu.

A ideia do governo é reduzir o quadro do funcionalismo público das atuais 750 mil pessoas para 150 mil até 2015.

FONTE: G1

Farra com Bolsa Pesca eleva gasto a R$ 1,3 bi

Com orçamento de R$ 1,3 bilhão este ano, o seguro-defeso é pago sem qualquer controle e fiscalização a pescadores - mas também a mortos, empresários e desempregados. Auditoria descobriu irregularidades em mais de 60 mil benefícios em apenas dois anos. O Ministério Público apura fraudes de norte a sul, inclusive o uso da chamada Bolsa Pesca - de um salário mínimo - como moeda eleitoral

História de pescador de R$1,3 bi

Bolsa Pesca é paga sem controle pelo governo e usada até como moeda eleitoral

Alessandra Duarte

Um benefício que este ano consumirá R$1,3 bilhão do Orçamento da União está sendo pago sem qualquer controle pelo governo federal. O seguro-defeso ou Bolsa Pesca - no valor de um salário mínimo, pago por quatro meses a pescadores artesanais na época da reprodução de peixes e outras espécies, quando a pesca é proibida - é alvo de dezenas de inquéritos do Ministério Público Federal nos estados devido a denúncias dos mais diversos tipos de fraudes. Há estados em que o benefício virou moeda de barganha para compra de votos em eleições.

Em artigo publicado ontem no GLOBO, o fundador da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, expôs o aumento do número de benefícios concedidos pela Bolsa Pesca: em 2003, eram 113.783 favorecidos; em 2011, esse número foi para 553.172 - o que fez aumentar o gasto do governo com o benefício, que foi de R$81,5 milhões em 2003 para R$1,3 bilhão, mais que o dobro do orçamento do Ministério da Pesca (R$553,3 milhões). O Bolsa Pesca é pago pelo Ministério do Trabalho.

O principal problema apontado por profissionais da área e por procuradores que investigam as irregularidades é o controle falho do governo federal. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, hoje o governo nem sabe quantos pescadores artesanais existem no país:

- Começaram um cadastramento no 1º mandato do governo Lula que foi muito malfeito e nem foi concluído. Havia gente que apresentava carteira até com a foto trocada. A fraude está na concessão do RGP (Registro Geral da Pesca, concedido pelas superintendências do Ministério da Pesca nos estados, e necessário para a obtenção do seguro-defeso). Em alguns estados, como Bahia, Paraíba e Pará, soubemos que usaram o seguro-defeso para pessoas se elegerem - diz. - Muita gente coloca a culpa nas colônias de pescadores, dizendo que elas não controlam a inscrição. Mas há três anos o pescador não precisa mais apresentar declaração de que é de alguma colônia.

Cruz se refere a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, julgando uma ação direta de inconstitucionalidade movida por pescadores, derrubou a exigência de filiação do pescador a sindicato ou a outra entidade para se registrar. Outra lacuna apontada no controle da concessão do benefício é o fato de que a lei 10.779 de 2003 reduziu de três anos para um ano o tempo mínimo que o pescador precisa ter para ter direito ao seguro.

- Outro problema é a falta de transparência. Esses dados não aparecem nos sites do governo federal - diz Gil Castello Branco, citando outras medidas que o governo poderia adotar. - O mínimo seria fazer um recadastramento dos beneficiados. Em 2008, a CGU (Controladoria Geral da União) já dizia que esses dados não eram confiáveis.

- Não tive conhecimento de aumento no número de pescadores. Esse aumento de beneficiários é falta de critérios de controle mesmo - destaca Flavio Leme, secretário-executivo do Conselho Nacional da Pesca.

Deputado teve mandato cassado

Com as falhas no controle, as irregularidades nos estados não param. No Rio Grande do Sul, o MPF investiga mais de 200 pessoas em Rio Grande e São José do Norte. Inquérito apura irregularidades também no Amazonas.

Em Santa Catarina, donos de restaurante e mercearias e até proprietários de casas de veraneio estavam sendo beneficiados e foram alvo de uma ação penal por estelionato proposta pelo procurador Darlan Airton Dias em Criciúma, em 2006. Em Tubarão (SC), o procurador Michael Gonçalves contou que abre uma nova linha de investigação para chegar às fraudes:

- Várias são as pessoas que, empregadas por anos, passam de uma hora para outra a "exercer atividade de pesca". Começamos a pedir à Justiça do Trabalho esses tipos de caso.

Outro caso ocorreu no Pará, onde o deputado estadual Paulo Sérgio Souza, o Chico da Pesca, foi cassado em agosto pelo TRE-PA por abuso de poder político e econômico (em setembro, o tribunal concedeu uma liminar permitindo que o deputado continue no cargo até o julgamento do recurso). Segundo o Ministério Público Eleitoral, Chico da Pesca - que já foi superintentende da Secretaria Federal da Pesca no Pará - incluiu centenas de pessoas irregularmente no RGP em troca de votos.

Segundo o MPF no Pará, entre 2008 e 2010 o número de beneficiários do seguro-defeso no estado cresceu 1.400%. A pedido do MPF, a Polícia Federal investiga, há mais de cinco anos, a chamada "Máfia do Seguro-Defeso" na cidade de São João do Araguaia, no sudeste do Pará.

Já em Nova Ipixuna, também no Pará, em julho deste ano o MPF encaminhou à Justiça denúncia criminal contra o vereador Zacarias Rodrigues da Silva. Junto com a mulher e um pescador, ele é acusado de organizar um esquema que desviava recursos do seguro-defeso. Além deles, seis pessoas foram denunciadas por estelionato. Em troca do cadastramento o vereador solicitaria a transferência de título eleitoral, com o objetivo de angariar votos. O caso foi encaminhando ao MPE, para apuração de crime eleitoral.

O Ministério da Pesca atribui o aumento no número de beneficiários à regularização da situação dos pescadores feita nos últimos anos. "O Ministério da Pesca e Aquicultura tem buscado combater as fraudes na emissão do RGP através de investigação e cruzamento de dados. Só no ano de 2011, até o mês de junho, foram cancelados 87.160 registros. Desde janeiro deste ano e até dezembro estão suspensas as emissões de novos registros", informou por email. O ministério diz que não fez recadastramento de pescadores, mas que "constantemente acompanha e revê o Registro Geral da Pesca, através do cruzamento de dados com outros cadastros do governo federal. O MPA estuda a realização de um recadastramento geral dos pescadores em todo o país e o aprimoramento do sistema de registro".

FONTE: O GLOBO

Ato pela reforma política tem baixa adesão

Evento esvaziado na Câmara mostra que proposta não agrada

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. A reforma política em discussão na Câmara dos Deputados enfrenta forte resistência dos parlamentares, incluindo aliados de grandes partidos, como o PMDB. O esvaziamento do ato pró-reforma realizado ontem na Câmara foi mais uma mostra da pouca disposição dos políticos de aprová-la.

O evento, que contaria inicialmente com a presença do ex-presidente Lula, foi marcado ainda pela ausência de governadores, prefeitos e líderes dos partidos. Só algumas siglas prestigiaram o encontro desde o início, ao lado de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a CUT.

Ao final, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, compareceu, mas criticou a forma como se deu o debate: disse que foi um erro Câmara e Senado promoverem discussões separadas. Mais do que os problemas de procedimentos, são as divergências de mérito que devem adiar novamente a votação do relatório do deputado Henrique Fontana (PT-RS), que pretendia votá-lo hoje na Comissão Especial da Câmara.

As divergências ficaram claras ontem. Os representantes de partidos como PCdoB, PV e PSOL insistiram no financiamento público exclusivo para as campanhas. O relatório de Fontana é a favor do financiamento público, mas não exclusivo. Ainda assim, o PMDB não concorda, pois quer ampliar as possibilidades de financiamento privado

FONTE: O GLOBO

Êxodo para PSD atinge mais o DEM

Sigla oposicionista perde 17 deputados; PP, da base aliada, fica sem pelo menos 7

Adriana Vasconcelos e André de Souza

BRASÍLIA. Embora ainda não esteja definido o número de parlamentares que o PSD terá no Congresso, já é possível apontar os maiores perdedores com a migração partidária. DEM e PP deverão ser os mais afetados pela ação da nova legenda em busca de filiados. O oposicionista DEM está perdendo uma senadora - Kátia Abreu (TO) - e 17 deputados. Já o governista PP pode perder entre sete e oito deputados. Além do abalo nas bancadas federais, o que mais preocupa os dirigentes dessas legendas é o impacto das desfiliações em suas bases políticas - o PSD quer marcar presença em 80% dos municípios em 2012.

Cada deputado que muda de partido costuma levar junto prefeitos e vereadores. Tanto que o novo partido está concentrando seus esforços na filiação dos que pretendem concorrer a prefeito e vereador em 2012.

Prazo para candidatos em 2012 acaba em 7 de outubro

O prazo de filiação partidária para quem concorrer em 2012 termina dia 7 deste mês. No caso dos que não vão disputar a eleição, a filiação poderá ocorrer até 28 de outubro sem o risco de perda de mandato por infidelidade partidária. O prazo para essas filiações é de 30 dias após a publicação da obtenção do registro eleitoral do PSD no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Diário Oficial , o que ocorreu na semana passada.

Ainda sem dados muito precisos, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, prevê que a legenda tem chance de se instalar em mais de 80% dos municípios brasileiros para disputar as eleições do ano que vem, seja com candidatos próprios ou em aliança:

- A estimativa continua a mesma, de 55 deputados federais e 110 estaduais. Mas está todo mundo focado esta semana nas filiações municipais. Só na próxima semana que vamos retomar as conversas para aumentar nossas bancadas federal e estaduais - disse Saulo.

Na Câmara, outros partidos além de DEM e PP, terão baixas. Segundo o PSD, o PMDB perde quatro ou cinco deputados; o PR, cinco; o PTB, dois; o PMN, três ou quatro; PPS, três; PSC, três; PCdoB e PV, um cada. O PMN também perde o senador acriano Sérgio Petecão.

A bancada no Senado é muito mais modesta que a da Câmara. E ontem fracassaram as negociações com Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Petecão lamentou:

- Precisamos de mais um senador para garantirmos o direito de termos uma liderança na Casa. Por enquanto, só somos eu e a senadora Kátia Abreu.

O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), admitiu que seu partido foi um dos mais atingidos, mas diz que o partido está se recompondo:

- Não acredito em novas perdas, embora eles estejam tentando desesperadamente tirar mais gente do partido. Numericamente, foi o mais prejudicado, mas nada que comprometa o nosso futuro, até porque estamos nos recompondo nos estados mais atingidos.

FONTE: O GLOBO

Procuradoria irá analisar se abre inquérito contra Palocci

Órgão confirma indício de crime em negócios

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal confirmou ontem ter encontrado indícios de crime nos negócios da empresa do ex-ministro Antonio Palocci e informou ter instaurado procedimento para analisar abertura de inquérito criminal.

A Folha revelou ontem que a investigação na área cível sobre as atividades de consultoria de Palocci esbarrou em indícios de de crime.

O procurador Gustavo Pessanha Velloso irá decidir se abre o inquérito criminal, que pode analisar se houve tráfico de influência.

O Ministério Público Federal do DF não esperou uma resposta formal do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para instaurar o procedimento.

Informado há mais de um mês, Gurgel disse à Folha que dava sinal verde para a investigação, mas até ontem não havia respondido a ofício.

O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, afirmou que acompanha as investigações na área cível e que não existe "fato novo" que justifique um outro inquérito na área criminal.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Entrevista - Sérgio Guerra

Presidente do PSDB admite que a sigla precisa de mudanças estruturais se quiser voltar a disputar o Palácio do Planalto em 2014 com chances de interromper o ciclo do PT no poder

Denise Rothenburg e Paulo de Tarso Lyra

Desde que recebeu, na semana passada, os resultados da pesquisa que aponta o favoritismo da presidente Dilma Rousseff para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2014, o PSDB foi para o divã. Com os elementos positivos e negativos da legenda em mãos, a maioria de seus líderes está convicta de que, ou a sigla promove mudanças internas profundas, ou chegará à próxima corrida presidencial com fôlego ainda menor do que o verificado no ano passado.

O foco na Presidência da República é o principal motivo para, em 7 de novembro, os tucanos anunciarem uma reestruturação interna e a antecipação de calendários, inclusive a data da escolha do presidenciável, prevista para 2012, tão logo terminem as eleições municipais. E, nesse quesito, em entrevista exclusiva ao Correio, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, fala com tamanha ênfase da necessidade de “algo novo” dentro do ninho tucano que deixa transparecer o nome do senador Aécio Neves (MG) como o primeiro da fila, da mesma forma que desconversa quando questionado sobre a possibilidade de José Serra voltar a concorrer ao Planalto. “Se ele (Serra) quiser, o partido analisará, mas ele não coloca isso”, diz o deputado pernambucano.

Guerra cita ainda uma série de jovens candidatos a prefeito por todo o país, que representam a renovação dos quadros do PSDB. Confira os principais trechos da entrevista.

O que levou o PSDB a precipitar essa caminhada rumo a 2014?

Ninguém se apresentou efetivamente como candidato. No partido, muita gente acha que devemos escolher nosso presidenciável com brevidade para que representemos uma alternativa de poder. Mas não houve lançamento, nem escolha de nome. Do meu ponto de vista, a situação deverá estar resolvida tão logo sejam concluídas as eleições municipais. Defendo isso há muito tempo. O presidente Fernando Henrique também defendia isso lá atrás.

Então foi um erro, nas últimas eleições, deixar a escolha para o último segundo?

Não. Primeiro, foi escolha do próprio Serra, do candidato. Ele deixou claro que só trataria disso quando saísse do governo (José Serra se desincompatibilizou do cargo de governador de São Paulo no fim de março de 2010 para concorrer à Presidência da República). Segundo, houve intensa movimentação de dois pré-candidatos, José Serra e Aécio Neves, que percorreram o país inteiro. Terceiro, porque as pesquisas davam com muita clareza a preferência pelo nome de Serra, o que, de alguma forma, já antecipava a escolha dele.

Mas agora as pesquisas indicam Dilma muito bem e Aécio praticamente já se coloca como uma alternativa. Pelo menos isso é o que foi veiculado na semana passada...

Aécio era pré-candidato antes. Tão logo as últimas eleições de presidente foram encerradas, o nome dele apareceu naturalmente como possível presidenciável para 2014. Agora, ele disse uma única frase: que, se tivesse que ser candidato, gostaria de enfrentar o Lula. A partir daí, inferiram que ele era candidato lançado.

E o Serra? Onde ele se encaixa?

Serra não disse até agora que é candidato a coisa nenhuma. O Serra tem andado pelo Brasil quase todo, escrito semanalmente. O pensamento dele tem grande influência no partido. Quanto ao projeto pessoal dele, não saberei responder. Mas ele tem envergadura para qualquer projeto.

E se ele quiser a Presidência?

O partido certamente analisará o assunto. Mas ele não manifesta esse desejo e isso não está em discussão. Vamos cuidar do tema depois das eleições municipais. Na verdade, o PSDB é o sonho de consumo de muitos brasileiros. Aparentemente, o produto não tem a qualidade que gostariam. Não é fácil responder a sonhos. Por isso, há tantas críticas. As pessoas, às vezes, nos comparam àquilo que elas gostariam que nós fossemos.

Quais são os empecilhos para responder aos sonhos?

O PSDB enfrenta uma máquina muito poderosa. Os petistas e essa maioria que eles arregimentaram mudaram a ética da política no Brasil. Se antes havia alguns desvios de conduta, eles agora estão generalizados. Enfrentar essa máquina não é fácil. Ainda mais quando tem uma liderança como o Lula, que veio do povo, que fala como o povo e é inteligente, um líder muito forte. E nós temos uma ética, não torcemos contra o Brasil, não apostamos no "quanto pior, melhor". Não queremos que o governo da Dilma seja um desastre, nada disso. Ao contrário, se a gente puder ajudar para que governe bem, vamos ajudar. Então, essa atitude nova demora a ser reconhecida, mas há elementos na sociedade que apontam nesse reconhecimento. A sociedade acha que somos sérios, que temos competência. Nos estados, somos mais bem avaliados onde governamos. Nossos gestores são vistos como os mais competentes. São elementos que podem fazer a diferença. E isso tudo tem que estar associado a um projeto novo, de muita energia.

A pesquisa, que mostrou esses elementos, falou ainda da falta de bandeiras...

A pesquisa demonstra que tivemos ganhos importantes no governo FHC e que não divulgávamos essas conquistas nem no governo nem depois dele com a intensidade que deveríamos ter feito. Durante todo esse período, erramos na comunicação do partido. Ao longo do governo Lula, nos oito anos de uma comunicação poderosa, muitas vezes até ilegal, o PT apareceu como dono de algumas bandeiras que eram nitidamente nossas. A pesquisa mostrou isso, e ainda apontou que o governo Dilma não tem alicerces seguros.

Por exemplo?

Das pessoas ouvidas, 40% acham que Dilma combate a corrupção. E 40% acreditam que ela não combate. Em vários pontos, fica claro que a questão da corrupção aparece associada ao PT. E o PT, no passado, era o partido dos puros, daqueles que perseguiam os corruptos. Eles perderam esse patrimônio. O que de fato existe, e de uma maneira muito clara, é uma popularidade do PT e da suas lideranças que têm duas razões centrais. A primeira, os programas de benefícios sociais, que são, na realidade, os programas que o PSDB fez, mas ampliados. Em segundo, um certo ambiente macroeconômico que ainda favorece o Brasil.

O PSDB passa a impressão de continuar adiando uma disputa interna que agora parece inevitável entre Serra e Aécio ou entre alas do partido...

Em 2002, Serra foi candidato, sem muita disputa. Em 2006, Geraldo Alckmin foi candidato. Serra não quis. Em 2010, Aécio fez uma carta, na qual reconhecia que as condições de favorabilidade de Serra nas pesquisas deveriam prevalecer na escolha dele como candidato. O fato de ter pessoas disputando o direito de ser candidato a presidente da República de forma alguma deveria nos prejudicar. O que nos prejudica é a falta de um ambiente democrático que faça dessas discussões e dessas disputas algo ordinário e plausível. Faltou democracia interna e instâncias múltiplas que organizassem esse processo de escolha.

O que seria essa democracia interna? O que falta para chegar a ela?

Nesse momento, passa por uma grande reforma do partido, pelo surgimento de novas lideranças que vão se apresentando à sociedade, pela realização de prévias onde for preciso, pela criação de uma série de secretarias que vão interagir com a população. São reformas que vamos anunciar em 7 de novembro. Não é à toa que, nessa eleição para as prefeituras, muitos nomes novos vão se colocando.

Que reforma é essa que o partido fará?

Teremos duas mudanças importantes: estrutura e intervenção sobre situações estaduais que estão insustentáveis. Vamos mudar e todo mundo vai ajudar. O próprio Fernando Henrique acha que tem que mudar tudo e é mais radical do que nós. O que deseja é o novo projeto do PSDB para o futuro. A agenda que está aí foi a que nós fizemos, que Lula desenvolveu e expandiu. Temos que olhar para frente. Não podemos ficar disputando com Lula o que já é visto como dele. A proposta é ousada e vamos ousar.

Qual a influência de FHC, hoje, no partido?

Agimos muito em função das orientações dele, mas ele não entra nos detalhes.

E como o PSDB lida com essa aproximação entre Dilma e FHC?

Dilma trata Fernando Henrique de forma republicana, civilizada e equilibrada. Fernando Henrique trata a presidente Dilma da mesma forma. Isso é perfeitamente normal.

Mas a bancada do PSDB não gostou quando FHC disse que os tucanos deveriam apoiar a faxina...

Fernando Henrique esteve certo em quase tudo, mas ali errou na dose. Ele estava movido pela convicção sincera de que Dilma estava fazendo um esforço, e que nós deveríamos apoiar esse esforço. Mas o fato é que o que ela fez foi uma reação ao PR. Não reagiu ao PMDB e, muito menos, ao PT. A demissão de Palocci, por exemplo, foi arrancada pelo povo, pela sociedade, contra a vontade da presidente.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Roberta Sá - Faceira

Jogo de interesses:: Merval Pereira

As bancadas dos estados produtores, em especial a do Rio de Janeiro e a do Espírito Santo, conseguiram adiar a votação do projeto de redistribuição dos royalties do petróleo para daqui a duas semanas, ganhando tempo para tentar uma negociação que não prejudique os seus interesses e contemple os estados não produtores.

Mas a situação continua muito difícil para eles, porque o governo criou um problemaço quando saiu do sistema de concessão para o de partilha, mudança feita com o objetivo de fortalecer o poder central não somente financeiramente como no sentido de deter a decisão sobre o petróleo.

Centralização e estatização, em mais uma etapa da história da tributação sobre combustíveis que se confunde com o histórico do processo de divisão federativa do país.

A justificativa para a partilha do pré-sal confunde-se com o longo processo de recentralização desencadeado depois da Constituinte. Como já vimos aqui, a tributação do petróleo e a divisão da correspondente receita entre níveis e entes federados contribuíram para moldar uma tendência marcante e secular da Federação brasileira: a oscilação no longo prazo entre maior concentração dos poderes e dos recursos e maior descentralização, como um pêndulo, que agora tende para a União.

Sendo assim, ao determinar o fim da distribuição das participações especiais, houve um lucro excedente para o governo federal. O governo central quer ainda por cima reduzir a participação dos estados produtores na partilha futura, sob o fundamento do aumento da produção. Além disso, criaram a expectativa de os estados não produtores participarem dos campos já licitados, retirando dos estados produtores o direito adquirido sobre os royalties e participações especiais, redistribuindo-os entre todos os demais estados com base no Fundo de Participação dos Estados e Municípios.

Para resolver o problema presente sem prejudicar os estados produtores, há quatro soluções na mesa de negociações, aguardando que o governo central entre formalmente no debate, o que vem fazendo de maneira sub-reptícia através do Ministério da Fazenda:

1 - Aumentar o cálculo das participações especiais;

2 - Criar o imposto de exportação;

3 - Monetizar o Campo de Libra, que vale cerca de R$40 bilhões; e

4 - Abrir mão das participações especiais e transferi-las para os estados não produtores.

Não se consegue resolver esse impasse sem que o governo ou as petroleiras coloquem o dinheiro.

O senador Francisco Dornelles vai pedir preferência para o seu projeto, que aumenta a divisão dos royalties para 20% (hoje é 10%) e cria as participações especiais para satisfazer os estados não produtores sem precisar tirar nada dos produtores.

O projeto do senador Wellington Dias prejudica os estados produtores na divisão futura das participações especiais: dá 40% à União, e os outros 60% ele distribui de acordo com o critério do Fundo de Participação dos Estados e Municípios.

O Estado do Rio sempre apoiou sistemas de distribuição da renda dos impostos nacionais com base no critério inverso da renda per capita. Por esses critérios, o retorno para o Estado do Rio dos impostos aqui arrecadados foi de apenas 2,4%, enquanto no conjunto dos estados do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste foi de 56%, e nos estados do Sul foi de 17%.

Na distribuição dos royalties ou das participações especiais, esse critério não pode ser adotado, pois quebraria financeiramente os estados produtores, além de desrespeitar o espírito da legislação, que trata os royalties como uma compensação aos estados produtores não só pelos transtornos que têm na exploração do petróleo, mas também pelo fato de que o petróleo não tem ICMS cobrado na sua origem, e sim onde é consumido, prejudicando os estados produtores.

O deputado federal suplente em exercício Brizola Neto, do PDT, recuou de sua posição dissidente na bancada do Rio na questão dos royalties, prometeu votar a favor da posição do Rio de Janeiro em Brasília e com isso garantiu permanecer como deputado federal por mais algum tempo.

Ele exerce o mandato por uma deferência do governador Sérgio Cabral, que atendeu a um pedido da presidente Dilma para que colocasse um deputado do PDT no seu secretariado para abrir uma vaga para Brizola Neto.

Diante da redefinição do suplente, o secretário estadual de Trabalho e Renda do Rio, Sergio Zveiter, que é o detentor do mandato pelo PDT, desistiu de retomar a vaga para votar a favor dos interesses do Rio.

Na reunião ocorrida na segunda-feira de toda a bancada com o governador Sérgio Cabral, Brizola Neto pediu a palavra para se declarar a favor da posição do governo do Rio e disse que o secretário Sergio Zveiter estaria fazendo uma "intriga".

Foi o próprio governador, que estava a par da decisão de seu secretário de retomar o mandato, quem pediu que Zveiter explicasse sua posição.

"A questão é de direito adquirido no voto", disse o secretário Sergio Zveiter. "Fui eleito para defender o estado e a população, e essa questão é fundamental para nós. Quando vi no jornal que a posição do Brizola Neto era contrária à nossa, comuniquei ao governador que pediria exoneração para poder votar a favor. Agora, tendo em vista que o Brizola está voltando atrás de sua posição e aderindo à nossa causa, fica tudo como está."

Outro deputado que destoa da posição unânime da bancada do Rio é o petista Edson Santos. Na base da decisão dos dois - da qual Brizola Neto abdicou publicamente - está a defesa dos interesses da Petrobras, que teria, como as demais companhias petrolíferas, de aumentar o pagamento de royalties ou participações especiais para que o Rio de Janeiro não perca seus recursos. A mesma posição do Ministério da Fazenda.

FONTE: O GLOBO

Clube da luta::Dora Kramer

O mais recente charivari entre tucanos, envolvendo a exclusão do ex-governador José Serra e do senador Aloysio Nunes do programa de TV do PSDB paulista, seria só mais uma escaramuça entre correligionários não fosse também uma perfeita tradução da incapacidade do partido de se acertar internamente e tocar a vida em frente.

Aloysio reclamou no Twitter e o governador Geraldo Alckmin respondeu pelos jornais com uma desculpa esfarrapada - redução do tempo do programa - e a promessa de que no próximo serão todos devidamente "prestigiados".

Indigência total de espíritos. Como de resto têm sido as ações oriundas de um PSDB em crise de abstinência provavelmente resultante do poder precoce conquistado (em 1994) apenas seis anos após a fundação do partido (em 1988).

Uma hora é a briga pela "tomada" da máquina do partido, outra hora é a contratação de pesquisa para definir rumos e que só produz novos desacertos e, com frequência, propostas de temas para reflexão a fim de motivar ações são desqualificados internamente numa autofagia intelectual de dar dó.

Tucanos não conversam com tucanos a não ser que pertençam ao mesmo grupo de afinidades eleitorais, enquanto a direção do partido só se manifesta para dizer que vai tudo bem enquanto as evidências mostram como tudo vai mal.

Vivem de subterfúgios, troca de ironias, gestuais minúsculos e atos isolados em prol deste ou daquele interesse sem que haja qualquer formulação estratégica que indique à sociedade que por trás da sigla exista um partido.

O PSDB hoje é uma confederação de emburrados sem rumo, cuja principal ocupação é dar vazão a ressentimentos mútuos por intermédio de atos e palavras que não se conectam entre si.

Nada tem lógica ali: a atuação dos governadores não se comunica com a ação das bancadas no Congresso, que por sua vez não conseguem estabelecer uma conduta que transmita minimamente uma noção de conjunto.

As lideranças alimentam o clima interno de tensão sempre culpando o grupo rival por fazê-lo, sem coragem de explicitar nem de resolver as divergências.

Quando explode em público a discordância, improvisa-se uma cenografia qualquer para simular convergência, acumulando conflitos não resolvidos, que resultam na falta de unidade nas campanhas eleitorais importantes. Nelas há sempre um grupo a solapar o outro, o que se não acaba em derrota produz revanche.

Vem sendo assim desde a fundação, mas foi a partir de 2002 que a paralisia do PSDB em função dos ódios internos se tornou visível a olho nu.

A revitalização do partido é uma promessa eterna. Inexequível, porém, enquanto ali predominar a hipocrisia e a omissão.

Moral. O governador Geraldo Alckmin está interessadíssimo em pedir abertura de investigação para apurar denúncia do deputado Roque Barbiere de que parlamentares vendem emendas para empreiteiras na Assembleia Legislativa de São Paulo. Mas só o fará quando, e se, aparecerem os nomes dos acusados.

Antigamente, quando as palavras ainda correspondiam aos seus significados de origem, investigar queria dizer descobrir. Mas, nestes tempos de eufemismos, "investigação" refere-se ao que já foi descoberto.

Por essa e algumas outras é que a oposição perde autoridade para cobrar o que quer que seja da situação.

Na prática. Nova regra em vigor na Polícia Militar do Rio de Janeiro obriga a que só sejam nomeados para o comando dos batalhões policiais cujas fichas funcionais e criminais não registrem antecedentes.

Só entra quem passar pela triagem da corregedoria e do setor de inteligência da PM.

Parece até absurdo que exigência precise ser explicitada, mas partidos e governos também deveriam estabelecer vida pregressa livre de maus antecedentes para registro de candidaturas e nomeação para cargos de confiança e, no entanto, o País está na dependência de o Supremo Tribunal Federal considerar ou não a Lei da Ficha Limpa constitucional para que se atente ao óbvio.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Falta um gesto:: Fernando Rodrigues

Do ponto de vista cartesiano, gerencial, faz todo o sentido a proposição do presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, quando se trata de investigar juízes acusados de malfeitos.

Peluso acha que o Conselho Nacional de Justiça pode vasculhar casos individuais de magistrados corruptos Brasil afora, mas deve focar sua atuação nas corregedorias locais, órgãos responsáveis pela fiscalização nos Estados. Em termos operacionais está correto. Seria inexequível o CNJ investigar todos os juízes suspeitos do país.

O problema é que nem sempre a vida real segue os ditames da lógica. Muito menos na condução de um dos Poderes da República. O Judiciário é o mais imperial dos Poderes, hermético e desacostumado a se abrir para a sociedade.

Basta dizer que o CNJ foi criado em 2004 e até hoje há relatos de dificuldades enfrentadas pelo órgão quando precisa ir até algum Estado e fazer uma auditoria num Tribunal de Justiça. A corregedora do Conselho, ministra Eliana Calmon, foi espirituosa quando afirmou que conseguirá inspecionar a Justiça paulista "no dia em que o sargento Garcia prender o Zorro".

A corregedora fala a verdade. Não há como enxergar normalidade quando quase nunca um juiz é punido. Ou apresentar como se fossem punições meras "aposentadorias compulsórias" com a preservação do salário integral. Quem comete um crime não deve apenas ser aposentado -prática comum entre juízes. Criminosos devem ser condenados e ir para a cadeia.

Cezar Peluso parece estar antenado. Sua posição é ponderada ao propor a investigação das corregedorias locais. Mas essa atitude ainda é tímida. Para avançar, falta um gesto prático do CNJ com apoio do STF. Por exemplo, punir exemplarmente alguns juízes corregedores que protegem colegas. Fazer menos é optar só pela retórica.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sutis, porém mudanças:: Rosângela Bittar

Que a assunção de Dilma Rousseff ao poder provocou alteração de comportamento e estilo em todo o governo, é fato. Anote-se, agora, que se multiplicam as transformações de conteúdo das políticas em execução. E no próprio PT há o reconhecimento de que, segundo síntese de um dirigente partidário, "ela está se impondo". Isto significa que o rumo é o que Dilma traçou, a pista é a que desbravou, e todo mundo segue a nova rota porque não quer ser dispensado da tropa.

Os movimentos da presidente são pendulares, razão pela qual, muitas vezes, são tantos os recuos que dá a impressão de que não sai do lugar. As alterações, porém, estão aí e, novamente ao estilo do início do governo, ela muda disfarçando.

A política econômica - não se quer admitir - mudou na percepção dos agentes de mercado e de economistas de fora do governo. Com Fernando Henrique e Lula, o chamado tripé - câmbio flutuante, metas para inflação e superávit primário - foi dogma. Sem anunciar e sem ruptura, Dilma alterou os conceitos. As intervenções do Ministério da Fazenda tornaram o regime de câmbio quase administrado, como notam entusiastas da flexibilização do modelo, como Bresser-Pereira. O regime de metas também deixou de ser cláusula pétrea. A inflação, não é segredo, desvestiu-se da pele de lobo e passou a ser recebida na sala. O relatório trimestral do fenômeno, divulgado na semana passada, tira a meta da meta. Quanto ao superávit primário, presente em prosa, ora mocinho, ora vilão, no momento está na segunda condição a julgar pelos conselhos que a presidente vem dando aos europeus.

O tripé, é preciso admitir, está em processo de flexibilização. Tem relevância, também, na política econômica, o novo protecionismo instituído em medidas para barrar produtos importados, sendo a de automóveis a principal. A presidente imprime uma orientação mais ideológica ao seu projeto, algo que se identifica, no mercado, como um exemplar vivo do nacional-desenvolvimentismo.

Na política externa, o Brasil de Dilma mudou nesses dez meses, embora os partidários da administração anterior insistam em ver, hoje, carbono de ontem. De início, a transformação apareceu com nitidez. A presidente precisou manifestar-se sobre a política de direitos humanos e, em comparação com o antecessor, foi assertiva ao condenar os regimes ditatoriais. Nada espalhafatosa na ação ou no discurso, a presidente imprimiu racionalidade também à conversa diplomática entre Brasil e Estados Unidos, o que, é preciso reconhecer, foi uma alteração de forma que se traduziu-se em novo conteúdo. O Brasil parece menos emotivo também nas relações com Hugo Chávez e Evo Morales, que praticaram, na era Lula, a diplomacia predatória sem que o governo ou as empresas brasileiras pudessem esboçar reação.

Chamemos o testemunho de um especialista no assunto, o embaixador Rubens Ricupero que, em artigo na "Folha de S. Paulo", nesta semana, reconheceu as mudanças da política externa, e lembrou, com graça e espírito, que tudo pode ser uma visão provocada pelas transformações do mundo - as sequelas da Primavera Árabe, a rebelião na Líbia, a evolução na América Latina, a doença de Chávez, o enfraquecimento de Morales - mas o fato é que mudou.

Não se ouve mais no governo a defesa de críticas pelo ataque aos analistas, taxados de subservientes. Evidenciam-se os sinais de profissionalização dessa política, hoje de tom mais econômico e comercial que político. Mais discrição, menos provocações.

Ao levar o ex-chanceler Celso Amorim para o Ministério da Defesa, a presidente ficou com três chanceleres (Amorim, Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático da Presidência, e Antonio Patriota, o ministro de direito). A tensão no mundo diplomático com esse fato não tem eco na Presidência da República. A presidente está segura, o Itamaraty, não. A aguardar o tipo de desorganização que a aposta provocará no governo, se for o passo atrás do movimento sempre pendular da presidente.

Nas duas políticas - econômica e externa - há experimentos visíveis em teste, e a presidente não opta por uma ou outra posição das sempre divididas equipes de governo. Tem a dela própria. Como também atribui peso específico a suas relações políticas com os partidos da aliança deixada pelo antecessor e o seu partido, o PT. Nesses quase dez meses de administração, a presidente deu pouca bola ao PT, considerou à distância os aliados, manteve a base nos cargos da administração - os partidos querem mais que isso? - e tirou quando quis os que não se sustentaram mais nos cargos.

Há políticas que já foram alteradas duas vezes nesse curto espaço de tempo. A de combate à corrupção, por exemplo. As providências que tomou com relação a ministros e diretores de autarquias denunciados por prática de irregularidades administrativas foram inéditas no governo petista. Contando, inclusive, com o período em que comandou uma equipe de funcionários denunciados, na Casa Civil, que defendeu até o amargo fim.

Dilma não liderou as iniciativas, mas tomou providências diante de denúncias da imprensa. E foi assim que quatro ministros e dois presidentes de importantes autarquias deixaram seus cargos. Lula não só passava a mão na cabeça dos denunciados, a seu tempo, como agora os incita a não temerem a objetividade da presidente. Recomendou que ministros endureçam seus cascos para resistir, nos cargos, às denúncias. Diante da pressão de Lula e do PT, Dilma fez o segundo movimento, o de recuo. Não concluiu a faxina, deixou para trás sujeiras já expostas na imprensa. Nenhuma providência foi tomada para inibir os ministros das Cidades e do Trabalho, ambos já objeto de reportagens com denúncias. A presidente se deixou intimidar e os ministros e diretores com currículo em praça pública respiraram aliviados.

Informa-se, no governo, que não houve interrupção do combate à corrupção, apenas a presidente não quis esvaziar a reforma ministerial que pretende fazer entre o fim deste ano e início do próximo. Quer ter quem trocar. Uma justificativa inafiançável. Dilma suspendeu a limpeza porque a cúpula do PT e Lula não gostaram.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Charge do dia - Dilma levou a vassoura

Miguel - Jornal do Commercio (PE)

Produção industrial de agosto cai 0,2% em relação a julho

Encomendas para o fim do ano não foram suficientes para impulsionar o setor, que mantém o estoque alto

Daniela Amorim

RIO - As encomendas para o fim do ano costumam impulsionar a atividade industrial em agosto, mas não foram suficientes para estimular a produção do setor, que caiu 0,2% em relação a julho. Além da concorrência com os importados, várias atividades ainda têm estoques em níveis altos. As perdas no setor de Alimentação chegaram a 4,6%, tornando-se a maior contribuição negativa para o recuo.

No entanto, o bom desempenho da produção de bens de capital, única categoria a registrar expansão no período, aponta para uma possível recuperação em futuro próximo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com agosto do ano passado, a indústria registrou aumento de 1,8%, graças ao maior número de dias úteis no mês este ano.

Mas, tanto na comparação com 2010 quanto com o mês imediatamente anterior, a produção de bens de capital é o que tem sustentado a atividade: o aumento foi de 0,9% ante julho, e de 8,6% na comparação com agosto do ano passado. O resultado foi impulsionado pelos bens para equipamentos de transporte (18,4%), fins industriais (10,5%) e construção (13,8%).

"Dada a relação de bens de capital com investimento, (esse aumento) dá uma qualidade para o resultado da produção de agosto, mesmo com esse quadro de estabilidade que o setor industrial vem mostrando nos três últimos meses", avaliou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Macedo ressaltou que houve investimento em modernização de parque produtivo, o que poderia significar um futuro melhor para a indústria. "Embora os índices de confiança do empresário mostrem redução contínua nos últimos meses, esse resultado e a maior importação de máquinas e equipamentos também podem ser uma leitura de um horizonte melhor lá na frente."

Na avaliação do economista do Besi Brasil, Flávio Serrano, a produção industrial deve avançar entre 1% e 2% em 2011. Serrano disse que a queda de 0,2% de bens intermediários em agosto, em relação a julho, comprova que os temores sobre o cenário internacional e a demanda externa mais fraca estão impedindo a indústria de crescer. Mas a produção de máquinas e equipamentos mostra, segundo ele, que a tese de desindustrialização é "furada". "Não se pode dizer que o setor está se desindustrializando se está produzindo e importando bens de capital. É uma indústria que está investindo e que não está passando por um colapso", disse o economista do Besi.

Já o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) atenta que há forte desaceleração da produção de bens de capital desde dezembro de 2010. "A produção de bens de capital fechou 2010 com crescimento de 20,9%, e hoje o crescimento está em 6,8% (no acumulado) em 12 meses. Está desacelerando muito rápido", alertou o economista-chefe da instituição, Rogério César de Souza. O Iedi prevê que a produção industrial feche 2011 com alta entre 2% e 2,3%. No acumulado de 12 meses encerrados em agosto, o índice está em 2,3%./

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Medo do pânico:: Míriam Leitão

Um fantasma rondou ontem a Europa quando se anunciou que o Dexia estava perto do colapso. É um banco biestatal, pertence a dois governos, mas, mesmo que seja isolado e saneado com dinheiro do contribuinte, existem os outros. Os bancos estão desconfiando até da própria sombra e por isso os governos têm medo do pânico. No ano, há muitas instituições mergulhadas num mar vermelho.

O dia foi de instabilidade. As bolsas fecharam em queda na Europa e abriram em queda do lado de cá do Atlântico. Quando o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, falou, o mercado melhorou o humor. No final do dia teve uma recuperação forte. Olhem só os gráficos abaixo do Ibovespa e do índice S&P 500. Às 10h09m, o Ibovespa caía 1,25%. Às 10h57m, a perda chegava a 2,52%. Por volta de meio-dia, recuperava uma parte da perda, mas ainda marcava 0,63% no vermelho. Ficou oscilando na casa de -1% até as 14h. Depois disso, afundou e chegou a cair 2,43%, para na última hora do pregão ganhar dois pontos e fechar em -0,21%. A bolsa americana também teve uma melhora súbita no final. Volatilidade da bolsa é outro sintoma da crise: ela reage excessivamente a cada boato, expectativa ou notícia.

Bernanke fez uma análise pessimista da crise e da economia americana e os analistas acharam que isso era um alívio: concluíram que se Bernanke está pessimista, alguma coisa será feita pelo governo americano. No final do dia, já com o pregão fechado, saiu outra notícia: a redução em três níveis da nota da Itália pela Moody"s. A dúvida é: o que a dívida da Itália estava fazendo lá em cima. Ela caiu três níveis e ainda ficou acima do nível do Brasil. Eles têm uma dívida de 120% do PIB e o Brasil tem metade disso. Essas agências!

O Dexia foi resgatado em 2008; ontem amanheceu na Europa com suas ações despencando e o aviso de que precisaria de socorro. Chegou a estar em queda de 38%. Foi apoiado por declarações conjuntas dos ministros da França e da Bélgica, que têm o controle de suas ações; foi assunto na reunião dos ministros das finanças da Zona do Euro e provocou uma reunião de emergência do gabinete belga. Resultado, vão fazer um Proer para o Dexia: separar o banco bom do banco podre. Vender bons ativos para ajudar a sustentar os ativos sem liquidez da instituição. E a parte podre é exatamente a que carrega os títulos dos governos como Grécia e Portugal. Aí a queda acabou se reduzindo para -22%. Mas um olhar para as ações das outras instituições financeiras mostra como o medo se espalhou. Bancos grandes americanos e europeus e a seguradora AIG - que foi capitalizada em 2008 - estão com fortes quedas de ações este ano. Vejam a tabela abaixo. Isso, em parte, é efeito de suas próprias decisões: um banco tem medo do outro, o dinheiro não circula entre eles, e os bancos se livram das ações dos bancos.

Quando tudo está muito ruim, como ontem, de repente aparece uma avaliação salvadora como a que circulou dias atrás e reapareceu: a de que a Europa vai elevar o fundo de estabilização dos atuais 440 bilhões para um ou dois trilhões. Com isso, montaria uma operação definitiva: separar países com problemas de liquidez, como a Itália, dos países com problemas de solvência, como a Grécia; capitalizar os bancos que compraram ações desses governos e por isso estão com ativos sem liquidez e com o risco de uma quebra em dominó.

As dúvidas são: de onde sairá tanto dinheiro? O contribuinte está disposto a pagar essa conta? Nas ruas, as manifestações ganham força. É difícil entender como pequenos negócios quebram, empresários médios perdem suas empresas, trabalhadores ficam sem emprego, mas bancos não podem quebrar. A Europa precisa de uma saída que preserve o depositante e não beneficie nem o controlador nem os grandes executivos.

FONTE: O GLOBO

FMI não descarta possibilidade de recessão na zona euro

Segundo relatório do Fundo, os efeitos da crise da dívida soberana na zona do euro estão se espalhando para países importantes

Álvaro Campos

BRUXELAS - Os efeitos da crise da dívida soberana na zona do euro estão se espalhando para países importantes, bancos e investidores, e outra recessão econômica não pode ser descartada, disse hoje o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um relatório.

O FMI prevê que a Europa crescerá 2,3% em 2011 e 1,8% em 2012. A inflação deve ficar em 4,2% neste ano e 3,1% no ano que vem, o que justificaria uma política monetária mais acomodatícia. Além disso, a União Europeia deve facilitar uma presença sólida do Banco Central Europeu (BCE) nos mercados, disse o Fundo.

Mas Antonio Borges, diretor do departamento europeu no FMI, disse que a maioria dos países do continente não está em condições de implementar medidas para estimular a economia. "É claro que eles precisam manter uma disciplina muito forte no campo fiscal", comentou. A Grécia, em especial, precisa acelerar a implementação de reformas econômicas, como a privatização de entidades estatais.

Ele destacou que os bancos europeus estão sob forte risco, e repetiu que a posição do FMI é que todos os grandes bancos regionais deveriam ser recapitalizados. Se essa recapitalização não puder ser feita pelo setor privado, os governos devem ajudar, diz Borges.

Mas o diretor afirma que essas decisões precisam abranger toda a Europa. Ele propôs a criação de um fundo de seguros de depósitos. "Tudo isso é viável", disse, mas afirmou que pode ser difícil colocar essas ações em prática em função de obstáculos políticos.

Grécia

Borges afirmou que o tamanho do segundo pacote de resgate para a Grécia, de 109 bilhões de euros, terá de ser revisado. Ele disse que o número está "obsoleto". "Todos os números foram extremamente experimentais", comentou.

Borges acrescentou ainda que o próximo programa terá de enfatizar a geração de crescimento econômico, em vez de se focar somente nas contas públicas da Grécia. O diretor também disse que não há pressa nas negociações entre a troica de inspetores internacionais e o governo grego para a liberação da próxima parcela do primeiro pacote internacional de resgate. "A mensagem essencial é que nós não estamos com pressa", comentou, acrescentando que está confiante que as conversas atingirão um "resultado positivo".

Segundo Borges, uma vez que a ampliação da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) for aprovada pelos Parlamentos dos 17 membros da zona do euro, o FMI poderá atuar juntamente com as operações desse mecanismo no mercado secundário. Para isso, o Fundo teria de criar um veículo de propósito específico para intervir nos mercados primário e secundário.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Brasil é hipócrita ao aconselhar Europa, diz ‘Financial Times’

Sílvio Guedes Crespo

O blog BeyondBrics, do “Financial Times”, publicou um texto atacando o discurso da presidente Dilma Rousseff em Bruxelas.

Na capital da Bélgica, a chefe do governo brasileiro disse que, no caso da crise da América Latina nos anos 1980, “medidas fiscais extremamente restritivas apenas aprofundaram o processo de estagnação”.

“Sim, você leu direito. O país que está listado em 152º lugar no ranking do Banco Mundial por seu desajeitado e pesado sistema de impostos está dando conselhos sobre impostos restritivos”, provoca o BeyondBrics.

Sem avaliar o teor da proposta de Dilma, o texto opta por discutir se as autoridades brasileiras têm ou não o direito de dar sugestões a países europeus.

“Os políticos brasileiros recentemente assumiram para si o papel de resolver a crise financeira global, distribuindo conselhos ao mundo desenvolvido”, afirma Samantha Pearson, autora do artigo.

“Depois de despontar para a fama graças ao seu discurso da ‘guerra cambial’, [o ministro da Fazenda, Guido] Mantega no mês passado propôs um pacote um tanto excêntrico de socorro à zona do euro por parte dos Brics. O problema é que ele não consultou outros Brics, como a China”.

O BeyondBrics acredita, ainda, que “o conselho vindo do Brasil soa de certa forma hipócrita”, porque a presidente falou sobre a necessidade de combater o protecionismo uma semana depois do governo anunciar o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre automóveis importados.

Outra atitude hipócrita, na visão da autora, é a compra de dólares quase diária pelo Banco Central (antes da atual fase de queda do real), combinada com a crítica a países que estariam manipulando suas moedas.

“Com um dos sistemas bancários mais sólidos do mundo, uma enorme capacidade de medidas de estímulo anticíclicas e reservas cambiais robustas, não causa surpresa que o Brasil hoje se sinta no direito de distribuir tantos conselhos – ainda que excêntricos”, conclui o texto.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Uma dose de razão:: Alon Feuerwerker

Complicado haver um Ministério da Mulher que se reserva a atribuição de dizer o que pode e o que não pode ser dito. Amanhã poderá haver um governo que considere, por exemplo, o trabalho feminino fora de casa como fator de desintegração familiar

Certo dia Lamartine Babo escreveu isto:

O teu cabelo não nega mulata.
Porque és mulata na cor.
Mas como a cor não pega mulata.
Mulata eu quero o teu amor

Lamartine morreu em 1963, aos 59 anos. Não sem antes compor os hinos populares dos clubes do Rio de Janeiro.

É uma figuraça da nossa música popular.

Mas, e esses versinhos de um dos grandes sucessos dele, um hit dos carnavais de sempre? Pelo ângulo politicamente correto seriam motivo de escândalo.

Por duas razões, ou três. Por levar no bom humor a constatação de que a mulata alisa o cabelo para, talvez, parecer menos mulata. Por fazer o elo entre o desejo que a mulher desperta e a garantia de que a cor da pele dela não passa por contato.

E por, no fim das contas, tratar a mulata como tal, e não como negra.

Talvez haja um quarto. Por carregar, escondida, uma história da nossa escravidão: a submissão sexual das escravas negras aos senhores brancos.

Discutir assuntos assim é sempre complicado, especialmente se a opinião vem “de fora”. Eu sou branco, então me é relativamente tranquilo palpitar sobre as críticas que Lamartine Babo certamente sofreria se vivesse hoje.

O que não tira meu direito de palpitar. Pois a relação de um determinado grupo social com o restante da sociedade não é monopólio desse grupo.

Negros não têm o monopólio do debate sobre a discriminação racial contra os negros. Ou sobre as cotas. Assim como as mulheres não são as únicas donas do juízo sobre a desigualdade de gênero.

É legítimo que algumas mulheres não gostem do comercial de lingerie no qual Gisele Bundchen vende a sensualidade como arma da mulher na relação com o homem, quando ela busca determinado objetivo.

Cada um sabe onde o calo aperta, então não vou fazer juízo de valor. Mas um detalhe é insuportável: a intromissão indevida do governo, com a pressão aberta sobre a fabricante da lingerie.

Não haveria nada de errado em as mulheres insatisfeitas com o conteúdo das peças publicitárias proporem, sei lá, boicotar a marca.

Eu acharia uma bobagem, mas elas estariam no pleno exercício da cidadania.

Diferente é ter um Ministério da Mulher que se reserva o poder de dizer o que pode e o que não pode ser dito sobre o “assunto mulher”.

Pois amanhã poderá haver um governo que considere, por exemplo, o trabalho feminino fora de casa como fator de desintegração familiar. E de estímulo portanto à criminalidade.

Governo no qual o Ministério da Mulher se dedicará a combater o feminismo. E a patrulhar quem estiver no caminho da missão. Usando inclusive o poder político e econômico do governo para impor sua vontade imperial.

É bizarro? Talvez. Mas extrapolar na argumentação é uma forma de reduzir ao absurdo.

A técnica lógica pela qual determinada premissa leva inevitavelmente a conclusões erradas.

No dia em que um governo conservador nomear uma ministra da Mulher que se dedique a combater o feminismo, jogando o poder do Estado na empreitada, a turma que hoje bate palmas para a pressão do governo contra o comercial da Gisele dirá que é um ato autoritário.

E não deixará de ter alguma razão.

FONTE: Blog Alon Feuerwerker