O Globo
A exacerbação da retórica radicalizada do
presidente Bolsonaro à medida que se aproximam as eleições, com indicações de
dificuldades quase intransponíveis para sua reeleição, demonstra que ele não
está aceitando a derrota e prepara o terreno para uma subversão do resultado.
Informações não desmentidas de que a recente reunião ministerial, além da
ilegalidade de ter tratado da campanha eleitoral, foi uma exaltação a um golpe
de Estado com ares de legalidade, fazem com que o sinal de alerta tenha sido
ligado em diversas instituições democráticas, e provocou a denúncia do
Observatório para Monitoramento dos Riscos Eleitorais no Brasil à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Bolsonaro ameaçou as eleições novamente na reunião ministerial no Planalto. O
caso é mais sério porque o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, estava
presente, e o atual ministro da pasta, general Paulo Sergio, respaldou as
ameaças, ao afirmar que o TSE não respondeu às demandas das Forças Armadas. O
primeiro absurdo é fazer reunião ministerial para tratar de eleições durante o
expediente dentro do Palácio do Planalto, e pedir aos ministros que participem
da campanha.
Os relatos indicam que o presidente disse que, se as informações pedidas pelas
Forças Armadas não forem dadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele
não participará da eleição. Isso é diferente de “não vai ter eleição”, como
vinha ameaçando. Pode desistir, se sentir que vai perder já no primeiro
turno? Não parece de seu feitio, o que aumenta a possibilidade de que pode
tentar decretar um estado de sítio, ou medida semelhante. O que passa pela
cabeça dele não pode ser coisa boa, porque está batendo com muita persistência
nas urnas eletrônicas, e nos dias mais recentes tem claramente estimulado uma
reação de seus seguidores: “Vocês sabem o que têm que fazer”, disse Bolsonaro
nada enigmático.