O Globo
O caso do assassinato de um ativista
petista por um agente penitenciário bolsonarista é simbólico de alguns
fenômenos muito típicos do momento crítico que o país vive. O presidente
Bolsonaro aproveita-se de uma divisão familiar, infelizmente comum hoje em dia,
para imiscuir-se entre os familiares do morto neste momento de dor, não para
apresentar condolências à viúva e aos filhos, mas para extrair dos irmãos
bolsonaristas palavras de apoio, livrando-o da responsabilidade pelo ambiente
de tensão e violência que tomou conta da campanha eleitoral. Aumenta, assim, a
divisão familiar.
Em vez de se solidarizar com a viúva e ficar preocupado com um assassinato por
questões políticas, o presidente, ao saber que parte da família da vítima é
bolsonarista, pegou esse atalho para dizer que o crime não foi político. É uma
manobra de quem só pensa em si. Bolsonaro tem essa capacidade de ser duplo
quando lhe convém. Seu seguidor foi chutado na cabeça enquanto estava no chão,
tendo sido baleado pela vítima, que acabaria morrendo. Pois o presidente deu
uma dimensão maior à surra que o assassino levou, o que pode ser condenado pois
o atacante estava ferido e dominado, do que à morte do atacado.