sexta-feira, 2 de julho de 2010

Reflexão do dia – José Serra


" O MST é um movimento que usa a reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária e socialista no Brasil. Não quero reprimir, não. Só sou contra que usem dinheiro do governo para isso. [...] Ao governo não compete dar dinheiro de forma disfarçada. Não adianta por o boné numa hora e na outra hora tira o boné e esconder na gaveta. "


(José Serra, Folha.com, 1 jul. 2010.)

Crise fiscal :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Seja quem for que ganhe a próxima eleição, vai ter que encarar uma crise fiscal, especialmente se o cenário internacional piorar como está acontecendo. Qual o país do mundo em que o PIB cresce 7%, a receita cresce mais que o dobro disso, cerca de 18%, e o governo consegue gastar ainda mais, pois a despesa do governo cresceu 20%?

Isso quer dizer que os gastos governamentais estão crescendo três vezes mais que o PIB. Notícia perigosa, sobretudo porque esses gastos não são de investimentos, que são benéficos e podem ser controlados no futuro em caso de necessidade.

Mas estamos subindo gastos permanentes, e a receita não crescerá sempre nessa velocidade para sustentar os gastos, embora a candidata oficial Dilma Rousseff baseie suas propostas de reformulação do sistema tributário, com redução da carga tributária, na premissa de que a receita continuará crescendo devido ao crescimento do PIB.

Neste ano, ainda por cima, a receita está crescendo sobre uma base muito deprimida pela crise e, sobretudo, porque no início do ano passado a Petrobras, que é a maior contribuinte de impostos do país, estava fazendo truques contábeis para pagar menos impostos. Estão pagando este ano o dobro do que pagaram ano passado.

Segundo estudo do economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências, com o aumento de gastos no governo Lula, a dívida total do setor público no país chegará ao maior patamar dos últimos dez anos.

Em dezembro deste ano, o endividamento chegará ao recorde de R$2,2 trilhões, correspondente a 64,4% do PIB. Em 2000, a dívida era de 52,7% do PIB.

A herança do governo Lula para o seu sucessor foi aumentada por "empréstimos" que o Tesouro vem realizando com o BNDES desde o ano passado, por meio da emissão de títulos públicos.

O governo está usando o que considera ser uma permissão para gastar dada aos governos nacionais pela crise financeira que se abateu sobre o mundo a partir de setembro do ano passado, com a quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos.

A irresponsabilidade com que o equilíbrio fiscal vem sendo tratado nos últimos tempos parece ter, por parte dos mercados financeiros, uma "licença especial", na certeza de que o próximo governo tomará as providências necessárias.

Um número que passa a ser observado com atenção, mesmo que não afete as estatísticas fiscais, é o da dívida bruta. O Ministério da Fazenda está usando o que o mercado identifica como "um truque" para repassar recursos aos bancos públicos sem aumentar a dívida líquida, este, sim, um número que o mercado financeiro acompanha, especialmente sua relação com o PIB.

Desde junho de 2008, o volume de crédito do BNDES, que era insignificante para as contas públicas, subiu bastante, ficando em torno de 5% do PIB.

A dívida pública bruta passou para 66,5% do PIB, e deve chegar a mais de 70% em 2010 com os novos repasses.

Países que têm investment grade como o Brasil possuem uma dívida bruta em torno de 40% do PIB, embora os Estados Unidos já tenham chegado aos 80%, devido às medidas que tomou por conta da crise.

Em consequência, a dívida líquida do setor público, que representava 61% do PIB em 2002, passou a 48,2% em 2005, e fechou o ano de 2009 em 42,8%.

Segundo levantamento do economista José Roberto Afonso, entre 2002 e 2009 as receitas do governo federal cresceram significativamente.

Passaram de 21,6% do PIB para 23,5% do PIB em 2009 - apesar do recuo verificado no último ano sob forte impacto da crise financeira global.

Ou seja, hoje o governo federal arrecada 1,9 pontos do PIB a mais do que arrecadava em 2009.

As despesas do governo aumentaram mais do que a receita. Em 2002, o governo federal gastava 19,5% do PIB, passando a gastar 22,3% em 2009.

Aumento de 2,76 pontos do PIB entre 2002 e 2009, que resultou num encolhimento do superávit primário do governo central (governo federal + Banco Central) de 0,9 ponto do PIB: em 2002, a economia do governo central, excluído o gasto com juros, foi de 2,17%, e caiu para apenas 1,25% em 2009.

A trajetória de alta das despesas é o fator responsável pelo déficit primário registrado pelo governo em maio, também na análise do economista da Tendências Consultoria Felipe Salto.

Segundo ele, o setor público não deve cumprir a meta integral de superávit primário de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

Na sua avaliação, o esforço fiscal deve alcançar 2,63% do PIB. Para não descumprir a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o governo deve abater da meta cerca de 0,7% do PIB os gastos em investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A CPI da Câmara dos Vereadores do Rio sobre a Merenda Escolar, cujo relatório final sugeria irregularidades nas licitações quando o candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, deputado federal Indio da Costa, era secretário de Administração municipal, foi arquivada em 2008 por decisão do Ministério Público, que "não vislumbrou qualquer irregularidade em razão da empresa Milano ter vencido 75% do total do objeto licitado". O Ministério Público acatou análise do Tribunal de Contas.

Jogo duro:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - José Serra e Dilma Rousseff estão tecnicamente empatados, diz o Datafolha. E o tucano aparece um ou dois pontos à frente da petista, conforme o cenário analisado -sem ou com os nanicos na disputa. Há 40 dias, o Datafolha mostrava os dois empatados em 37%. Quase nada mudou -seria essa a conclusão mais óbvia a ser extraída da pesquisa. Sim e não.

Objetivamente, estavam empatados e assim continuam. Ocorre que Dilma vinha numa trajetória ascendente: estava na casa dos 30% até abril e pulou para 37% no final de maio. Com Serra se passou o contrário: tinha 42% em abril e havia caído para 37% em maio.

Soma-se a isso o seguinte: desde pelo menos as convenções partidárias, na segunda semana de junho, quando Serra e Dilma foram lançados, criou-se um ambiente político francamente favorável à petista.

A influência mais evidente do apoio de Lula, a consolidação da aliança com o PMDB, as boas novas na economia -tudo contribuiu para consolidar a percepção do favoritismo de Dilma. Para reforçar ainda mais o clima de barbada, pesquisas divulgadas recentemente por outros institutos, como Ibope e Vox Populi, apontaram a petista cinco pontos à frente de Serra. O Datafolha não confirma esse movimento de ultrapassagem de Dilma -isso a despeito dos humores quase opostos vividos pelas duas campanhas.

É preciso levar em consideração que Serra esteve muito presente na TV em junho, beneficiado pelo programa e pelas inserções do PSDB, além das aparições que fez nos programas do DEM, do PPS, do PTB.

À luz dessa exposição, o fato de que tenha se mantido no mesmo patamar poderia ser visto quase como uma marca ruim. Não, porém, à luz da sucessão de más notícias que sua campanha conseguiu fabricar, culminando com a comédia de erros que veio desembocar na escolha de Indio da Costa para vice.

Quem já previa uma goleada deve, pois, ter mais cautela. Talvez sirva como alerta para o jogo de hoje.

Protocolo dossiê:: Melchiades Filho

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - É enorme o esforço do PT para tentar se desvencilhar do dossiê antitucano formatado pelo "grupo de inteligência" do comitê de campanha de Dilma Rousseff.

A ordem agora é martelar que o próprio PSDB arquitetou o escândalo -e pressionar a imprensa a revelar como obteve a papelada.

A narrativa não para em pé. Que a própria candidata à Presidência se empenhe em divulgá-la é sinal de, no mínimo, desorganização.

Primeiro, porque o caso só veio à tona graças a dirigentes do PT, que o confirmaram à revista "Veja".

Gabavam-se de ter abortado a tentativa de alguns correligionários de reeditar os "aloprados" de 2006.Segundo, porque os próprios envolvidos desautorizam a versão.

O empresário que chefiava a equipe de comunicação de Dilma, apontado como o coordenador do dossiê, não hesitou em acusar o "fogo amigo". "O grupo do PT que integrou o governo da Marta [Suplicy] quer entrar na campanha a qualquer preço. Fui a primeira barreira dessa guerra e sofri as consequências", declarou Luiz Lanzetta.

Indagado sobre como o conteúdo de reportagens inéditas suas sobre José Serra foi parar na imprensa, o jornalista Amaury Ribeiro alegou que seu computador tinha sido violado e que ele só não havia ido à polícia por orientação de Lanzetta: "Havia a suspeita sobre os próprios integrantes" do comitê de Dilma.

A tática petista de jogar na confusão não é nova. Foi usada em 2008, quando a Folha revelou que a Casa Civil havia juntado documentos sobre Fernando Henrique e Ruth Cardoso, com o objetivo de coagir a oposição e impedir a CPI dos Cartões Corporativos.

Na época, o PT tentou emplacar a versão de que o PSDB havia infiltrado um "espião" no Planalto e forjado a planilha que vazou à imprensa. O inquérito policial, porém, confirmou o noticiado: arquivo específico contra o casal FHC tinha sido criado e alimentado no computador de assessora de Dilma.

Serra, seus vices e o DEM :: Cláudio Gonçalves Couto

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A brutal celeuma armada pelo PSDB em torno do candidato a vice-presidente na chapa de José Serra foi, sem qualquer sombra de dúvida, o maior erro de condução cometido até agora na campanha ao Planalto, dentre todos os postulantes. Foi uma patacoada de tal magnitude que se mostrou capaz de ofuscar todos os deslizes cometidos pelos demais candidatos ou seus staffs. E o pior é que, mais do que uma mera gafe (como, por exemplo, a foto de Norma Bengell no site de Dilma Rousseff), trata-se de uma grande barbeiragem política. O surpreendente disto é que, no contraste entre a candidata petista e seu rival tucano, este é sempre notado (justificadamente, aliás) como o mais experiente em disputas eleitorais, o mais rodado nos embates políticos e o mais desenvolto na cena pública. Contudo, mesmo com tal currículo de político calejado, Serra foi capaz de meter os pés pelas mãos naquilo que é o mais fundamental numa eleição em presidencialismo de coalizão - a construção da coligação.

As razões desta presepada podem ser buscadas em origens mais longínquas (o antigo desapreço recíproco entre José Serra e o antigo PFL, hoje DEM), ou no processo mais recente - a definição da candidatura tucana na disputa interna entre o atual postulante e Aécio Neves.

Se buscarmos as fontes remotas, poderíamos recordar o quão difícil foi o relacionamento entre PSDB e PFL ao final do governo Fernando Henrique Cardoso, quando a candidatura do ministro da saúde foi gestada no ninho tucano, imediatamente deflagrando sinais de repulsa na seara pefelista - notadamente por parte de Antônio Carlos Magalhães, que manifestava publicamente sua rejeição a Serra. O ápice dessa conflagração foi a operação da Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade da família Sarney. As imagens de uma montanha de dinheiro vivo descoberta dentro de seus cofres devastaram a até então bastante promissora pré-candidatura pefelista de Roseana Sarney (basta lembrar que em março de 2002 o Ibope mostrava Roseana tecnicamente empatada com Serra e Anthony Garotinho, em segundo lugar, com 13% das intenções de voto). À época diversos caciques pefelistas atribuíram a Serra a operação policial que abortou sua chance de chegar ao Planalto com uma candidatura própria, rompendo com o governo e com o PSDB. Por isto mesmo, os tucanos disputaram as eleições daquele ano coligados ao PMDB - uma união sacramentada pela unção de Rita Camata como candidata vice-presidencial. O PFL ficou de fora da disputa nacional.

Com a vitória do PT nas eleições presidenciais, a ida para a oposição de tucanos e pefelistas os reaproximou, permitindo-lhes uma estratégica aliança na cidade de São Paulo com Serra, que bancou o nome de Gilberto Kassab para compor a chapa. Coincidentemente, já nessa eleição a questão do vice de Serra ganhou importância na disputa, pois seus adversários afirmavam que o eleitor paulistano votaria no tucano, mas acabaria sendo governado pelo pefelista, já que Serra provavelmente abandonaria a prefeitura para disputar a Presidência. O tucano jurou que não faria isto, registrando a promessa em cartório, mas acabou por descumpri-la para candidatar-se não a presidente, mas a governador do Estado; e o vaticínio petista se cumpriu: o PFL (ou DEM) passou a governar a capital paulista. Ora, como quase ninguém vota em vice, a maioria dos eleitores paulistanos deu pouca importância à advertência: votou em Serra e topou correr o risco, referendando depois essa escolha ao reeleger Kassab.

A aproximação com o DEM sugeria que Serra optara por estabelecer a ponte com um partido que, apesar de seu desafeto pessoal, era o aliado nacional mais importante de sua própria agremiação. Tal percepção era reforçada pelo empenho serrista na reeleição de Kassab, cristianizando o postulante tucano Geraldo Alckmin - depois reabilitado ao ser nomeado secretário e, conseqüentemente, catapultado a uma aparentemente fácil eleição governatorial. E tudo parecia confirmar a aproximação: o vice naturalmente viria do DEM, exceto se Aécio Neves topasse ir para o sacrifício e compusesse a chapa, pois isto supostamente reforçaria a candidatura em Minas Gerais. Foi justamente esta remota possibilidade em aberto que parece ter propiciado o embaralhamento do jogo.

Em nosso presidencialismo de coalizão a indicação do vice por um partido aliado significa basicamente uma coisa: a sacramentação de uma coligação eleitoral. E isto não é pouco, pois gera tempo de televisão e rádio no horário eleitoral gratuito, estrutura organizacional pelo país todo e articulação com as campanhas estaduais do partido aliado (sobretudo onde não houver disputas locais internas à coligação nacional). Para além disso, contudo, os ganhos são principalmente simbólicos, pois o vice pode representar a abertura da candidatura para um setor da sociedade (os empresários, as mulheres, uma região do país, um estado etc.). Os ganhos eleitorais diretos da indicação de um vice são muito pequenos - afinal, os eleitores olham muito pouco para o candidato a vice, de modo que não vale a pena gastar muita munição com isto. Por esta razão, foi um gravíssimo erro a coligação serrista ter perdido tanto tempo na expectativa de que Aécio levasse consigo um caminhão de votos mineiros, caso compusesse a chapa. Não só o seu aceite teria pouco peso na decisão do eleitor (mesmo o mineiro), como as cicatrizes deixadas pela disputa interna e os ganhos para Aécio na eleição para o Senado tornavam muito pouco provável que o ex-governador das Gerais entrasse nessa empreitada.

Mas se a indicação do vice indica tão somente a formalização duma aliança, é fazer muito estrago por pouca coisa denegar tal possibilidade a um aliado que não só a postula, como é a segunda força no campo da oposição; ainda mais para tentar resolver um problema de acerto político-familiar num dos únicos estados em que a situação eleitoral dos tucanos é boa, o Paraná. Pior do que o vexame público dessa patetice são os ressentimentos internos que ela tende a gerar dentro da coligação. Serra deu tanta importância à questão do vice que corre o risco de ficar com o vice-campeonato.

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP. A titular da coluna, Maria Cristina Fernandes, não escreve hoje excepcionalmente

JUÍZO FINAL - Clara Nunes

Serra, 39%, Dilma 38% : Empate entre Serra e Dilma permanece, diz Datafolha

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Após mês de intensa exposição do tucano na TV, ele tem 39% e ela, 38%

Quadro fica estável em relação a maio, quando ambos detinham 37%; Marina Silva tem 10%; 2º turno está empatado

Fernando Rodrigues
DE BRASÍLIA - Depois das convenções que oficializaram suas candidaturas à Presidência e às vésperas do início oficial da campanha eleitoral, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) estão tecnicamente empatados, segundo pesquisa Datafolha realizada ontem e anteontem em todo o país. O tucano tem agora 39%, contra 38% de Dilma.

Marina Silva (PV) aparece com 10%. Entre os 2.658 entrevistados, 5% responderam que pretendem votar em branco ou nulo. Outros 9% disseram não saber. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O quadro mostra pouca variação em relação a 20 e 21 de maio, quando Serra e Dilma tinham 37% e Marina, 12%. Em junho, Serra concentrou aparições em programas de TV de 10 minutos do PSDB, do PTB e do PPS, partidos que o apoiam. Também teve alta exposição em propagandas curtas de rádio e TV dessas legendas.

Em maio, o levantamento foi produzido após Dilma Rousseff também estrelar propagandas do PT. Em maio, 29% diziam ter visto algum comercial do tucano nos 30 dias anteriores.

Agora, 50% responderam "sim" à mesma pergunta. Já em relação a Dilma, em maio 37% diziam ter lembrança de comerciais da petista nos 30 dias anteriores à pesquisa. Agora, o percentual é próximo: 34%. O PT usou vários horários regionais de sua propaganda partidária para manter Dilma em evidência em junho.

ESPONTÂNEA

Um resultado da maior exposição de Serra em junho fica evidente no levantamento espontâneo, quando os entrevistados dizem em quem pretendem votar sem ver uma lista de nomes. Há um mês, o tucano tinha 14% na pesquisa espontânea. Subiu agora para 19%. Dilma estava com19%e foi a 22%.

Marina manteve 3%. Nesse quesito, Dilma tem ainda potencialmente a seu favor os 5% que não sabem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se reeleger e declaram voto nele.

Há também 4% inclinados a votar em quem Lula indicar e 1% no "candidato do PT". Serra manteve a maior rejeição, com 24% dizendo que não votariam nele de jeito nenhum, mas a taxa teve leve queda: era de 27% em maio.

Dilma se manteve com 20% de rejeição.Marina tem14%, mesmo índice anterior. No cenário em que são incluídos os candidatos "nanicos", o empate se mantém: Serra tem 39% e Dilma, 37%.

Marina vai a 9%. Apesar do empate, Dilma lidera quando o eleitor é questionado sobre a expectativa de vitória. Para 43%, Dilma será eleita, contra 33% dos que apostam em Serra. Houve também estabilidade do cenário de eventual segundo turno. Serra aparece com 47% e Dilma com 45%. Em maio, o tucano registrou 45% contra 46% da petista.

Dilma continua tendo suas melhores taxas no Nordeste, onde subiu de 44% para 47%, e Norte/Centro-Oeste, onde foi de 40% para 42%. Já Serra está melhor no Sul, onde sua intenção de voto subiu de 38% para 50%, e no Sudeste, onde tem 43%, contra 40% de maio.

O jogo da sucessão ainda não está jogado

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Nas eleições de 2002 e 2006, apesar de as condições objetivas serem favoráveis a Lula, não houve uma lavada

Se imperasse o determinismo econômico, era de esperar que Dilma estivesse a ponto de liquidar a fatura

Vinicius Mota
Secretário de redação

Ao final de 2010, a atividade econômica ao longo do segundo mandato de Lula terá crescido, em média, perto de 4,5%ao ano, cifra que cai para 4%, considerados os oito anos. Desde a ditadura militar -no quarto de século até 1980, o Brasil cresceu 7,5% ao ano- não se registra resultado tão positivo. Quanto menor a renda, mais depressa ela cresce, o que diminui a desigualdade de salários.

A recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, mostrou que a pobreza é menor que se imaginava. Há uma geração não se vê taxa de desemprego, em torno de 7%, tão baixa. A popularidade do presidente da República bateu novo recorde de alta.

Se imperasse o determinismo econômico em eleição, era de esperar que a candidata da situação estivesse a ponto de liquidar a fatura no primeiro turno.Mas, a 94 dias do pleito, Dilma Rousseff continua empatada com José Serra.

As eleições de 2002 e de 2006 mostraram a dificuldade de ocorrerem lavadas na eleição presidencial brasileira.

Nos dois pleitos- em ambos as chamadas condições objetivas favoreciam Lula-, o tucano derrotado teve pouco menos de 40% dos votos válidos no segundo turno. Serra é competitivo porque mantém frente de 11 pontos percentuais no Sudeste, na hipótese de segundo turno contra Dilma. Em 2006, Lula bateu Geraldo Alckmin por 14 pontos na região.

Serra também supera o desempenho de Alckmin no Nordeste. Tem 35% (39%, desprezadas intenções de voto em branco, nulo e indecisos), contra 54% (ou 61%, fazendo a mesma subtração) da petista.

No 2º turno de 2006, o candidato tucano obteve apenas 23 de cada 100 votos válidos nordestinos. É muito mais difícil explicar o fenômeno sociológico que sustenta uma divisão quase ao meio do eleitorado brasileiro.

Circulou, faz pouco tempo, a tese de que os petistas souberam cativar um certo conservadorismo das classes populares que iam ganhando poder de consumo -e isso teria desequilibrado a balança o suficiente para reeleger Lula.

Não terá, contudo, esse ganho de status recente operado uma certa "sudestização" de todo o eleitorado brasileiro?

Quando as necessidades mais básicas da maioria das famílias deixam aos poucos de ser um tema central, não terá a disputa eleitoral mudado de parâmetros? Aspectos como os valores (culturais, morais, sociais) não passariam a ter mais relevo?

Não sabemos. Sabemos apenas que o jogo que vai definir o sucessor de Lula, apesar da impressionante maré favorável da economia, não está jogado.

Serra vai sozinho a debate

DEU EM O GLOBO

O presidenciável José Serra (PSDB), único a comparecer ao debate promovido pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA), criticou o financiamento público do MST. "Muitos assentamentos são mantidos por cestas básicas, o que é uma ironia", disse. Mais descontraído do que o habitual, ele "aconselhou" o seu vice, Índio da Costa, que estava na plateia, a ter cuidado com eventuais amantes: "Tem que ser uma coisa discreta."

Sem Dilma e Marina, debate de um só

Encontro para discutir setor rural acaba sendo realizado apenas com Serra, que atacou governo

Adriana Vasconcelos

Único presidenciável presente no debate promovido pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o tucano José Serra subiu ontem o tom das críticas ao governo Lula, em especial ao que chamou de contraditória relação mantida com o Movimento dos Sem Terra (MST). Para Serra, não dá para financiar com recursos públicos esse tipo de movimento e ao mesmo tempo condenar sua política de invasões e desrespeito às leis. A presidenciável governista, Dilma Rousseff (PT), tem condenado as invasões do MST. Dilma e a candidata do PV, Marina Silva, foram convidadas, mas se recusaram a participar do debate.

Diante da recusa das adversárias, o tucano aproveitou para cobrar delas um confronto mais direto sobre as propostas que cada uma delas apresentará ao país. Ele evitou declarar que a candidata do PT esteja fugindo do debate, mas fez questão de citar que Dilma não compareceu ao debate do UOL, se recusou a participar de um rodada de entrevistas para a Globonews e ontem não compareceu ao evento promovido pela CNA.

A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), também lamentou a ausência de Dilma e Marina: - O silêncio, de certa forma, confunde os eleitores e lhes tira a oportunidade de conhecer melhor seus candidatos.

No encontro, Serra disse que é uma "ironia" a política dos assentamentos no país.

- Muitos assentamentos são mantidos por cestas básicas, o que é uma ironia. Eles deviam estar produzindo - afirmou, criticando o MST:

- O MST é um movimento que se diz de reforma agrária, quando na verdade usa essa ideia para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil. Não quero reprimir, não. Só sou contra que usem dinheiro do governo para isso. É importante a gente mostrar qual é a motivação para isso. Na verdade não é reforma agrária - afirmou Serra.

O tucano disse ainda que ele e seu partido sempre deixaram claro que eram contra a ilegalidade cometidas pelo MST, como as invasões de propriedade particulares e prédios públicos:

- Nunca deixamos de dialogar. Agora ilegalidade, não. Qual é a melhor forma de tratar a questão? É solucionar os problemas que estão na origem do MST: a falta de terra e de renda desses produtores. De um lado não aceitamos ilegalidade. De outro, não deixamos de dialogar. O que não é possível é uma discussão sobre boné quando está em questão um setor produtivo imenso do país, a agricultura familiar.

"Temos que estatizar o estado brasileiro"

Sem citar nominalmente a adversária Dilma Rousseff, que há uma semana, em Aracaju, usou um boné do MST , Serra acrescentou:

- Tem gente que veste o boné numa hora, depois guarda na gaveta. Usa o boné de manhã, guarda à tarde, uma hora fala que o juro está muito alto e tem que baixar, depois fala que está bom. Depende do público. Eu não tenho essa característica. Numa campanha eu acho muito importante que isso seja debatido, principalmente num palco como este aqui.

Nas considerações finais, Serra condenou a falta de sinceridade e coerência do governo, o loteamento político e sindical da administração pública e falta de experiência na gestão governamental.

- Nós temos que estatizar o Estado brasileiro. Estatizar as agências reguladoras. Porque o Estado brasileiro e as agências foram apropriados pelo setor privado, pelos partidos, sindicatos. O caso das agências é típico.

Serra citou como exemplo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os Correios. Relatou o caso de um político que ficou sem mandato na última eleição e virou diretor da Anvisa, sem citar nomes.

- Agora vai se candidatar, saiu da Anvisa. Virou uma parada de ônibus - ironizou, em outra referência indireta, só que ao candidato do PT ao governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que deixou a agência para concorrer.

Serra destacou que "agropecuária tem sido a galinha dos ovos de ouro do desenvolvimento brasileiro". Disse ainda que "governo não é lugar para aprender, mas para fazer". E insistiu na necessidade de os candidatos seguirem a estratégia "da exposição, do debate e da verdade".

- Não é só propaganda. Tem que ter um mínimo de exposição e comparação de ideias. Não só pode vender candidatos como se fosse um iogurte ou a marca de uma bebida.

Serra assinará 'Carta' para o social

DEU EM O GLOBO

Documento reafirmará que programas começaram na gestão FH e vão continuar

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Como um de seus primeiros eventos públicos no início oficial da campanha, o candidato do PSDB a presidente, José Serra, assinará, na próxima segunda-feira, em Curitiba, uma espécie de versão social da "Carta ao Povo Brasileiro", divulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2002 - em que o petista se comprometeu com metas econômicas e a honrar contratos, num momento de crise nos mercados. O documento, elaborado por gestores da área de assistência social de prefeituras do PSDB e do DEM e endossado pela equipe tucana, trará, em resumo, duas ideias: reafirmação da paternidade do PSDB e de conquistas tucanas na área social durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e o compromisso da continuidade e aprofundamento dos avanços obtidos pela atual gestão.

O ato cai sob medida na campanha de Serra. Os tucanos veem nele uma oportunidade de reforçar seu discurso e minar especulações como a de que, se eleito, Serra acabaria com o Bolsa Família, vitrine social do governo Lula e bandeira de campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff. O PSDB acusa os adversários de explorarem o discurso do medo com o eleitorado mais carente.

É nesse sentido que a carta a ser firmada por Serra assemelha-se à divulgada em 2002 por Lula. Na época, candidato à Presidência contra Serra, o petista apresentou o documento, em que prometia não fazer uma revolução na área econômica, para acalmar o mercado internacional e frear a alta do dólar e do risco-país.

- É uma reafirmação política do Serra de compromisso com a assistência social. O governo do Lula rouba as coisas nossas como se fossem deles. Vamos deixar claro que começamos essa construção lá atrás, com a primeira-dama Ruth Cardoso, com a reforma de toda a rede social - disse o coordenador do programa de governo da campanha de Serra, Xico Graziano.

Em um dos trechos, a carta tucana para a área social usa o slogan da campanha de Serra: "O Brasil pode mais na Assistência Social, com Serra presidente".

Discurso para o setor já estava evidente no programa de TV do PSDB

O candidato assinará o documento em Curitiba, em um evento no Paraná Clube, para cerca de 1.500 pessoas, segundo o PSDB paranaense, encarregado da organização. São esperados gestores, agentes sociais e representantes de ONGs de, pelo menos, cinco estados - Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.

A escolha da capital paranaense não é por acaso.

- O PT fica dizendo que o PSDB não tem exemplos bem-sucedidos de ações nessa área. Resolvemos fazer esse evento em Curitiba porque é um dos locais mais exemplares do país em termos de políticas sociais - explicou Graziano. A capital é governada pelo PSDB desde 2005.

A preocupação com o discurso social por parte do PSDB ficou evidente no programa nacional da sigla veiculado no rádio e na TV há duas semanas. A mensagem de abertura foi um compromisso explícito do partido com a manutenção do Bolsa Família.

- Também queremos mostrar o compromisso do candidato Serra com uma política institucional de assistência social de longo prazo - disse um dos idealizadores da carta, Sérgio Wanderly, secretário de Assistência Social de São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul.

A ideia de fazer o documento partiu de um grupo de secretários da área social de prefeituras governadas pelo PSDB e pelo DEM. Eles chegaram até a campanha de Serra por intermédio da senadora Marisa Serrano (MS), responsável pela agenda do candidato. Em maio, tiveram uma reunião com Graziano, em São Paulo, e entregaram uma minuta da carta. A ideia foi aprovada pela campanha, que deu aval para a organização do evento.

A agenda de Serra no Paraná incluirá ainda uma visita do presidenciável à comunidade Parolin, uma das favelas mais antigas de Curitiba e que passa por reurbanização, para conhecer alguns programas sociais.

Após faltar a debate, Dilma critica proposta de Serra sobre irrigação

DEU EM O GLOBO

Petista diz que tucano não conhece projeto de transposição do São Francisco

Dilma e Michel Temer participam de evento em Campinas, ao lado do prefeito Hélio de Oliveira Santos


Leila Suwwan

CAMPINAS (SP). Depois de recusar o convite para a sabatina de ontem na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) com seus adversários, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, rebateu as propostas e críticas do candidato tucano, José Serra (PSDB), e afirmou que ele não conhece o projeto de transposição do Rio São Francisco. A petista negou que tivesse fugido do debate e afirmou que factoides estão sendo usados para evitar a discussão de programas de governo.

Dilma não quis polemizar com o recém-indicado vice de Serra, o deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ), que a desafiou para um debate e afirmou ter mais experiência do que ela. A petista disse que deseja uma discussão de alto nível e lançou seu próprio desafio:

- Eu quero discutir conteúdo. Meu negócio é discutir conteúdo - afirmou ela.

Candidata diz que governo dialoga com MST

Ela reagiu a críticas do tucano, em relação a investimentos em irrigação no Nordeste (Serra sugeriu que se aproveitem técnicas usadas em Israel) e sobre a relação do governo com o MST:

- Acredito que talvez o candidato Serra não saiba, em profundidade, em que consiste o projeto de integração da bacia de São Francisco - disse Dilma, em entrevista ontem em Campinas, onde participou de eventos promovidos pelo "Movimento Pluripartidário de prefeitos pró-Dilma Rousseff". - Sem desfazer da experiência de Israel, quero dizer que o Brasil está caminhando a passos largos para um projeto de irrigação pesada no Nordeste brasileiro. É um programa do PAC com investimento de cerca de R$6 bilhões.

A respeito da crítica sobre o uso do boné do MST, Dilma reiterou que o governo não apoia ilegalidades, mas dialoga com movimentos sociais.

- Sempre que o MST cometeu ilegalidades, deixamos clarinho que éramos contra - disse Dilma. - Qual é a melhor forma de tratar a questão? É solucionar os problemas que estão na origem do MST: a falta de terra e de renda desses produtores. De um lado não aceitamos ilegalidade. De outro, não deixamos de dialogar. O que não é possível é uma discussão sobre boné quando está em questão um setor produtivo imenso do país, a agricultura familiar.

Dilma negou que tenha fugido de debates e criticou o uso de factoides.

- Eu não conheço nenhum debate que esteja legal neste momento. Eu tenho comparecido a todos os debates dentro dos mesmos parâmetros que os demais candidatos estão comparecendo. Nestas eleições, a gente deve evitar factoides, que tiram o foco do debate consistente.

Serra e Índio desafiam Dilma para debates

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em sabatina na Confederação Nacional da Agricultura, tucano critica MST e cobra do governo o apoio que dá ao movimento

Christiane Samarco, Eugênia Lopes, Rosa Costa

BRASÍLIA –Após desempenhar por quase uma semana o papel de administrador da crise com o DEM, o presidenciável tucano José Serra, acompanhado do novo vice, deputado Índio da Costa, do Democratas, vestiu o figurino de candidato: chamou a petista Dilma Rousseff para uma disputa de currículos e propostas, além de atacar o governo Lula.

Bem à vontade diante do auditório lotado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o tucano aproveitou a plateia ruralista para atacar o Movimento dos Sem-Terra.

Não satisfeito em criticar o MST, Serra também reprovou a relação do governo federal com o movimento, ironizou a ausência e a falta de experiência da adversária petista e ainda observou que não se vende candidato como se fosse um iogurte.

"Nossa estratégia de campanha é a da exposição, da transparência e da verdade. A de outros candidatos não passa por aí", disse Serra ontem, em uma indireta à petista Dilma Rousseff.

O tucano condenou a injeção de recursos públicos no MST e o vaivém do governo Lula e de sua candidata. "Não adianta pôr o boné numa hora, e noutra hora tirar o boné (do MST) e esconder numa gaveta. É preciso ter clareza do que fazer", afirmou.

Serra também declarou que não compete ao governo dar dinheiro público para invasões. "O MST se diz de reforma agrária, mas, na verdade, não passa de um movimento de natureza revolucionária socialista."

O tucano considerou legítimas as reivindicações dos sem- terra, mas advertiu que dinheiro do governo não pode financiar invasões e desrespeitar as propriedades. "Reforma agrária não pode ser pretexto para uma ação política. Na prática o MST é mantido pelo governo federal."

Vice no Twitter. Enquanto Serra atacava o governo, Índio da Costa criticava Lula e Dilma em seu Twitter. "Lula diz que não me conhece. Esqueceu que tentou barrar o (projeto do) ficha limpa, mas não conseguiu", escreveu o deputado. Também aproveitou para acusar a petista de fugir do debate promovido pela CNA. "Tem petista que diz que sou inexperiente. Tenho mais experiência que a Dilma. Muito mais."

Para mostrar a atenção que seu eventual governo dará à agropecuária, Serra começou sua exposição referindo-se ao setor como a galinha de ovos de ouro da economia e criticou mais uma vez o MST, propondo-se a criar um marco contra o movimento que tem invadido áreas plantadas.

Serra bateu forte no governo Lula. Disse que há nova modalidade de privatização no Brasil, em que o governo pega o dinheiro do contribuinte e doa a determinadas empresas, financiando empréstimos subsidiados ao setor privado. Ao criticar o loteamento dos cargos públicos promovido pelo governo Lula entre os partidos e sindicatos, o tucano propôs estatizar o Estado brasileiro e voltou a condenar o aparelhamento das agências reguladoras.

O tucano disse que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que ele criara nos tempos de ministro da Saúde, virou "um ponto de ônibus". Segundo Serra, políticos derrotados embarcam e, na eleição seguinte, desembarcam da direção da agência para concorrer a novo mandato.

Sem citar o nome dos adversários, Serra procurou mostrar que é o mais preparado para assumir o comando do País. "O governo não é lugar para aprender", destacou. "É lugar para fazer."

Âncora. Tratou a agricultura como a âncora verde da estabilidade de preços, mais forte até do que a âncora cambial que "acaba punindo a economia, pelo abuso". Diante de exportadores sempre queixosos do câmbio sobrevalorizado, e dos juros altos, disse que o Real, é a moeda mais valorizada do mundo. E foi aplaudido quando prometeu implantar o defensivo genérico no Brasil e criar nova política de crédito para o setor.

Serra critica uso político de agências reguladoras

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A ruralistas disse que quer "estatizar o Estado"

Simone Iglesias e Flávia Foreque
DE BRASÍLIA - Ao participar ontem de debate que, na ausência dos adversários, virou uma sabatina, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu a "estatização do Estado brasileiro" e, por duas horas e meia, fez críticas diretas ao governo Lula e indiretas à candidata petista, Dilma Rousseff.

Durante o evento, organizado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), as agências reguladoras foram alvos do candidato tucano.

"Nós temos que estatizar o Estado brasileiro. Nós temos que estatizar as agências reguladoras, [...] apropriadas pelo setor privado, partidos, sindicatos que supostamente defendem classes sociais, mas defendem muitos, não todos, os seus próprios interesses, de seus dirigentes."

Entre as críticas que fez ao presidente Lula, o tucano reclamou que o governo dá dinheiro "de forma disfarçada" ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Disse também que a entidade usa a reforma agrária como pretexto para tentar implantar o socialismo.

Além disso, criticou os que usam o boné do movimento, como já fizeram Lula e Dilma.Quanto a Dilma, lamentou sua ausência em debates e disse que campanha não pode ser feita só com publicidade, como se os candidatos fossem "iogurte". "É uma pena que a gente não debata. É importante para que a população possa fazer seu juízo."

Para Serra, Dilma tem rejeitado entrevistas e encontros porque "provavelmente não sabe o que responder".

Dilma e a candidata do PV, Marina Silva, foram convidadas. A petista recusou alegando problema de agenda. Marina confirmou, mas acabou desistindo porque queria ter acesso às perguntas antecipadamente.

Indio da Costa reage a ironias do PT e quer comparar currículos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DE BRASÍLIA E DE CAMPINAS - O vice de José Serra (PSDB) na disputa presidencial, o deputado Indio da Costa (DEM-RJ), desafiou ontem o PT a comparar seu currículo com o da candidata do partido, Dilma Rousseff, numa resposta às ironias de petistas sobre o fato de ele ser um político desconhecido.

"Eu tenho muito mais experiência que a Dilma, tanto administrativa quanto política. Não vou aceitar, de forma nenhuma, brincadeira e provocação do PT, dizendo que eu não tenho experiência."

Ele foi vereador por três mandatos, secretário municipal de Administração do Rio e "prefeitinho" do Parque do Flamengo em 1994.

Dilma foi ministra das Minas e Energia, da Casa Civil e secretária de Estado no Rio Grande do Sul.

Em Campinas, onde participou ontem de eventos organizados pelo PDT, Dilma disse que não conhece Indio.

Eleição polarizada no Rio

DEU EM O GLOBO

Rafael Galdo
A desistência de Anthony Garotinho (PR) de concorrer ao governo do Rio pode fazer com que as eleições no estado se decidam no primeiro turno, segundo especialistas. Para eles, sem o ex-governador no páreo, o quadro eleitoral fluminense, com seis concorrentes, acaba polarizado entre o governador Sérgio Cabral (PMDB), que tenta a reeleição, e o deputado federal Fernando Gabeira (PV), com vantagem inicial para o peemedebista.

É o que diz o cientista político Jairo Nicolau, professor visitante da Uerj, que considera o pleito atual um dos mais polarizados da História do Rio. Ele lembra que houve disputas com características parecidas, como em 1998, com Garotinho, então no PDT, e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, pelo PFL (atual DEM). Mas na época, frisa, havia candidatos com votações medianas, que forçaram um segundo turno. O que ele não acredita que ocorrerá agora, com Fernando Peregrino (PR), Jefferson Moura (PSOL), Cyro Garcia (PSTU) e Eduardo Serra (PCB) completando o quadro.

Nesse panorama, Nicolau crê que Cabral saia na frente, por ter mais penetração entre o eleitorado de Garotinho no interior e na Baixada, das classes populares.

Opinião semelhante tem o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio. Para ele, o embate entre Cabral e Gabeira repete o segundo turno da campanha municipal de 2008, em que o verde disputou com Eduardo Paes (PMDB), que tinha uma base parecida com a de Cabral. Agora, em função do apoio dos prefeitos a Cabral e da máquina do governo com o peemedebista, ele acredita que a missão de Gabeira será difícil.

PT manda romper alianças para mostrar Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente do partido avalia que é melhor sacrificar o pouco tempo de propaganda, de 15 a 30 segundos, do que perder a imagem do presidente

João Domingos, Mariângela Gallucci

BRASÍLIA – Para não perder o direito de exibir imagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, na propaganda de seus candidatos a governador, a direção nacional do PT orientou os diretórios regionais do partido a romper as coligações com legendas que tenham lançado candidato à Presidência.

"Essas coligações foram feitas para agregar mais 15, 30 segundos à propaganda. Mas, diante da decisão do TSE, chegamos à conclusão de que é melhor perder esse tempo de propaganda do que a imagem da candidata Dilma Rousseff ou do presidente Lula", disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Na terça-feira o TSE decidiu, ao responder a uma consulta do PPS, que candidatos a governador, vice e senador não podem exibir imagens de candidatos à Presidência ou seus aliados - no caso, o presidente Lula -, caso sejam adversários na disputa pelo Palácio do Planalto.

A decisão do TSE causou confusão entre os partidos, visto que foi tomada na noite de terça-feira, depois que todas as agremiações haviam feito as convenções e fechado as alianças. Por isso mesmo, o tribunal decidiu ontem que em agosto vai tratar novamente do tema, para ver qual será o alcance da medida.

O recuo do TSE não convenceu o PT. "Como não sabemos o que (os ministros) vão decidir em agosto, se vão rever sua posição ou vão mantê-la, achamos mais seguro orientar os diretórios a romper as coligações onde for possível", disse Dutra.

Atingidos. A decisão do TSE atingiu dois candidatos ao governo paulista. Aloizio Mercadante, do PT, que está coligado com o PSL ? o partido lançou Américo de Souza à Presidência. E o tucano Geraldo Alckmin, apoiado pelo PHS, que concorre à Presidência com Oscar Silva.

Foram também atingidas as candidaturas de Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul, Antonio Anastasia (PSDB), em Minas Gerais, e Fernando Gabeira (PV), no Rio de Janeiro.

"A decisão pegou todo mundo de surpresa. Exatamente para evitar que haja insegurança jurídica, a lei determina que mudanças nas regras constitucionais sejam feitas um ano antes. Todos nós trabalhamos com essa orientação. Mas, depois das convenções fechadas, o TSE tomou outra decisão", lembrou Dutra.

O presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, reconheceu que a decisão do TSE criou confusão. Por isso, os ministros resolveram não publicá-la até que a questão seja reavaliada. O assunto deve voltar à pauta do tribunal a partir de 2 de agosto.

TSE "verticaliza" a propaganda na TV e depois volta atrás

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Decisão tomada na terça-feira impediria Dilma e Serra de aparecer em programas de seus partidos nos Estados

Reação de políticos faz presidente do tribunal congelar a medida, que voltará a ser discutida pelo plenário em agosto


Felipe Seligman e Ranier Bragon

BRASÍLIA - Dois dias após adotar uma decisão que impediria a maioria dos candidatos a governador e senador de usar em suas propagandas as imagens dos candidatos à Presidência e do próprio Lula, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu ontem congelar a medida e rediscuti-la no início de agosto.

O presidente da corte, ministro Ricardo Lewandowski, afirmou que o tema precisa de uma "segunda reflexão" por se tratar de questão "extremamente complexa".

A decisão de terça, tomada em resposta a uma consulta do PPS, determinava uma espécie de verticalização na propaganda eleitoral.

Exemplo: um candidato a governador do PT que tivesse em sua coligação um partido comprometido com outra candidatura presidencial que não a do PT ficaria impedido de usar em sua propaganda a imagem de Dilma Rousseff (PT) ou de Lula.

Em outro caso, um candidato a governador do PSDB que abrigasse em sua chapa um partido com candidato presidencial que não o tucano ficaria impedido de usar em sua propaganda a imagem de José Serra (PSDB).

A verticalização nas eleições foi instituída no pleito de 2002 pela Justiça, mas acabou derrubada em 2006 pelo Congresso.

Ela tinha como princípio obrigar a coerência nas alianças ao proibir partidos adversários na disputa nacional de se coligar nos Estados.

A decisão de terça do TSE provocou imediata reação nos partidos, que devem se encontrar com Lewandowski na próxima semana.

Alguns dos candidatos cujas convenções explicitaram a chance de alterações nas alianças até segunda (prazo final de registro das candidaturas na Justiça) avaliam a possibilidade de se livrar de certas uniões, especialmente com pequenos partidos.

No lado petista, os principais candidatos a governador têm pautado as campanhas pela associação a Lula.

Aloizio Mercadante (SP), por exemplo, não poderia usar Lula ou Dilma porque sua coligação inclui o PSDC e o PRTB, que lançaram candidatos à Presidência.

Os tucanos também teriam problemas. Geraldo Alckmin (SP) tem o PHS, que lançou candidato à Presidência, em sua coligação.

Hermano Alves morre aos 82, em Lisboa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Jornalista e deputado pelo MDB no período da ditadura militar foi vítima de câncer

Estêvão Bertoni


SÃO PAULO - O jornalista Hermano Alves, deputado federal de 1967 a 1968 pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), morreu ontem, aos 82 anos, em Lisboa, vítima de um câncer. Vivia em Portugal desde o início da década de 90. Era o principal colunista de política da Folha em 1964, quando o golpe militar depôs o governo João Goulart. Teve uma segunda passagem pelo jornal entre 1984 e 1985, após um período no exílio.

Teve atuação destacada na oposição ao golpe militar no Brasil e na cobertura que fez da Revolução dos Cravos (1974), que pôs fim ao regime ditatorial em Portugal. Filho de portugueses, Alves nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, e se mudou ainda pequeno para Ilhéus (BA).

Aos 13 anos, voltou à terra natal, onde estudou direito, sem chegar a concluir. Sua vida profissional começou no jornalismo. Em 1949, ao lado de Carlos Lacerda, foi um dos fundadores da "Tribuna da Imprensa", no Rio de Janeiro.

Desde logo admirado por colegas, Alves trabalhou ainda no "Jornal do Brasil" e no "Correio da Manhã".

Em 1964, passou a escrever sistematicamente na Folha contra o golpe que depôs Goulart e instaurou a ditadura militar (1964-1985). Dois anos depois, candidatou-se a deputado federal. Eleito em 1967 pelo MDB, integrou o movimento Frente Ampla, que defendia a "pacificação política do Brasil através da plena restauração do regime democrático".

CASSAÇÃO

Em 1968, ano em foi decretado o AI-5 -ironicamente no dia de seu aniversário-, Alves teve os direitos políticos cassados. No dia 30 de dezembro daquele ano, seu nome constou da primeira lista de cassações pós-AI-5, num pacote que incluía o deputado Marcio Moreira Alves. Com a cassação, Hermano Alves deixou o Brasil. Exilou-se no México, na Argélia, na França e, depois, na Inglaterra, onde trabalhou para a BBC de Londres.

Em 1979, foi beneficiado pela anistia, mas só regressaria ao Brasil em 1984, quando se estabeleceu em Brasília, trabalhando em jornais e prestando assessoria para o então deputado Antonio Paes de Andrade (PMDB-CE). Em 2005, recebeu indenização do governo brasileiro pela perseguição sofrida durante a ditadura. Foi casado duas vezes.

Com Maria do Carmo Veloso Alves, teve quatro filhos. Sua segunda esposa foi a portuguesa Maria Helena Alves, professora universitária, com quem vivia em Lisboa.

Colaborou Uirá Machado, de São Paulo

O real testa sua força:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Mesmo em meio a uma tempestade, a moeda brasileira se valoriza em relação a outras importantes

Nestes tempos de grande instabilidade financeira, chama a nossa atenção a pequena flutuação do real nos mercados de câmbio. Se o analista tiver a memória do que acontecia com nossa moeda em situações semelhantes, a sensação de que algo mudou no Brasil passa a ser muito forte.Mesmo nos momentos de maior volatilidade, a taxa de câmbio está sempre oscilando em torno de R$ 1,80 por dólar. Esse mesmo valor também -há bastante tempo- aparece semanalmente nas estatísticas do Banco Central quando divulga as projeções do mercado financeiro para o valor do real em 2011 e 2012.

Muitos dirão que esse comportamento é explicado principalmente pelas elevadas taxas de juros no Brasil. Na BM&F de São Paulo, os contratos futuros estão sendo negociados a 12,4% anuais para o período de dois anos e meio à frente. Em um mundo em que, nos países mais avançados, os juros para esse período de tempo estão abaixo de 1% ao ano, temos que concordar que esse é um estímulo e tanto para vender dólares e aplicar em títulos em reais.

Entretanto, mesmo para que esse argumento seja válido, é preciso que os investidores internacionais confiem na economia do país nos próximos anos. Sem isso, os juros nominais -mesmo elevados- perdem o significado. No passado, os juros nominais eram elevados, mas, dada a volatilidade da taxa de câmbio, os juros em dólar eram impossíveis de serem mensurados. Por isso as aplicações de estrangeiros em papéis denominados em reais não eram competitivas.

E aqui está, na sua versão mais pura, a grande mudança em relação ao passado. Os investidores conseguem hoje olhar para um período de vários anos à frente com confiança na estabilidade macroeconômica do Brasil, principalmente na taxa de câmbio. Com isso, os juros reais elevados exercem atração sobre os investidores que buscam diversificar suas aplicações de renda fixa. Os grandes fundos de investimento no G7 são aplicadores constantes em papeis do Tesouro Nacional, indexados ou não à inflação. Também em relação aos investidores em ações a estabilidade do câmbio, ao lado do crescimento do consumo interno, tem funcionado como forte polo de atração de novos investimentos. Agora mesmo, no aumento de capital do Banco do Brasil, a participação do capital internacional foi relevante.

Em razão desses fluxos estáveis de recursos externos, o real tem tido um comportamento surpreendente quando comparado com outras moedas importantes tanto no mundo desenvolvido como no emergente. A moeda brasileira tem se valorizado em relação a elas, mesmo em meio a uma busca quase frenética por aplicações mais seguras.

A primeira metade do ano de 2010 foi marcada pelo fortalecimento do dólar americano nos mercados de câmbio. O euro e a coroa dinamarquesa perderam, nesses seis meses, quase 15% de seu valor em relação à moeda americana. A libra inglesa ficou 8% mais fraca, o dólar australiano, 6%, e o won sul-coreano, 4,7%. Já o real perdeu apenas 3,5% de seu valor. Entre as moedas mais importantes, só o dólar canadense teve performance melhor, ao se desvalorizar em apenas 0,8%.
Não por outra razão é que as importações têm aumentando de forma importante sua participação nas cadeias de produção e distribuição de bens industriais, como escrevi na minha coluna passada. Ancoradas em uma moeda estável, mesmo ao meio de uma tormenta financeira, as empresas passam a trabalhar com componentes e produtos importados para aumentar sua eficiência e reduzir o poder de fixação de preços dos fornecedores nacionais. Por outro lado, ao agir dessa forma, diminuem os efeitos de uma moeda forte e valorizada sob a competitividade das empresas.

Aumentar o coeficiente de importações e reduzir o valor agregado da produção interna em setores em que somos menos competitivos é o mecanismo adequado para uma economia ainda muito fechada. E isso está acontecendo no Brasil de hoje de forma acelerada como resultado do real forte.



Luiz Carlos Mendonça de Barros, 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). Escreve às sextas, quinzenalmente, nesta coluna.

Importações disparam e a balança comercial desaba

DEU EM O GLOBO

Com o forte aquecimento da economia do país e o real valorizado, as importações bateram recorde fazendo a balança comercial registrar no primeiro semestre um tombo de 43,7% no superávit, em relação ao mesmo período do ano passado. A diferença entre exportações e importações de janeiro a junho caiu para US$ 7,8 bilhões, ante US$ 13,9 bilhões no primeiro semestre de 2009, no pior saldo comercial desde 2002. As compras no exterior foram puxadas pela alta de 49% nos bens de consumo, com destaque para automóveis (72,3%) e eletrodomésticos (122%). Para economistas, a disparada das importações mostra que a economia está superaquecida, o que pode provocar mais inflação. A forte queda do superávit também piora o déficit externo, tomando o Brasil mais vulnerável.

A farra dos importados

Compras externas disparam e país tem no semestre pior saldo comercial em 8 anos

Eliane Oliveira

Mesmo com um dia útil a mais (123) do que no período anterior, a balança comercial do primeiro semestre de 2010 registrou superávit 43,7% menor do que nos seis primeiros meses de 2009. A diferença entre exportações e importações de janeiro a junho deste ano foi de US$7,887 bilhões, ante US$13,907 bilhões ano passado, o pior resultado desde 2002, quando foi contabilizado saldo negativo de US$2,618 bilhões. O forte aquecimento do mercado interno, ajudado pelo real valorizado frente ao dólar, fez os gastos no exterior, principalmente de bens de consumo, explodirem, batendo recorde histórico.

- O aumento das importações de bens de consumo está bastante ligado ao aquecimento da economia brasileira - comentou o secretário-adjunto de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Fábio Faria.

O total importado de janeiro a junho de 2010, de US$81,302 bilhões e média diária de US$661 milhões, teve acréscimo de 43,9% em relação ao montante apurado no primeiro semestre de 2009. As compras externas de bens de consumo duráveis aumentaram 49%, com destaque para os automóveis, que registraram alta de 72,3%, e os eletrodomésticos, com 122%. Os gastos com bens de capital subiram 26,2%; matérias-primas, 42,8%; e combustíveis e lubrificantes, 65%.

As aquisições de produtos chineses aumentaram 57,7% no semestre. Só no mês passado, as importações da China subiram nada menos do que 83,7%, em comparação a junho de 2009.

Destacaram-se eletroeletrônicos, químicos, siderúrgicos e instrumentos de ótica e precisão. Já as vendas brasileiras caíram 2,9% para o país asiático e 5,5% para a África - mercado disputado por brasileiros e chineses. A China comprou menos aviões, soja e celulose do Brasil.

Por outro lado, as exportações no primeiro semestre de 2010, de US$89,189 bilhões e média diária de US$725,1 milhões, aumentaram bem menos: 26,5%. A taxa, porém, é superior à projeção de crescimento para o comércio mundial em 2010 (16%). Fábio Faria disse que houve recuperação das vendas brasileiras de manufaturados para América Latina e Caribe:

- O aumento da participação desses dois mercados na pauta brasileira foi de 21% para 24%. Além disso, ainda não há efeito da crise europeia nas exportações brasileiras.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os veículos importados já respondem por 18% do mercado brasileiro e 60% das compras são de países com os quais o Brasil tem tarifa zero de importação: México e Argentina.

- As importações estão bombando não só por causa de nosso mercado. O câmbio está facilitando e incentivando enormemente a compra de eletroeletrônicos, componentes e produtos acabados. Enquanto não houver medidas compensatórias, devemos continuar tendo saldo extremamente negativo - previu o presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Humberto Barbato.

A estimativa da Abinee é de déficit de US$25 bilhões este ano no setor eletroeletrônico. Em 2009, o saldo ficou negativo em US$17 bilhões.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apesar do superávit fraco, há uma relação "mais ou menos equilibrada" do comércio brasileiro este ano ante o que se viu no primeiro semestre de 2008, antes da crise global.

- Em termos de valores, a exportação não está tão ruim, embora a balança esteja sendo sustentada, principalmente, por soja, minérios e petróleo - disse Castro.

Os destaques nas vendas externas brasileiras foram máquinas e aparelhos de terraplanagem, veículos de carga, óleos combustíveis, automóveis, minério de ferro, carnes bovina e de frango, óleo de soja e celulose.

Economista alerta para dependência externa

Para Roberto Padovani, economista do banco WestLB, a disparada das importações é um sinal claro de que a economia brasileira está superaquecida, ou seja, cresce acima do que é capaz sem gerar desequilíbrios:

- O Brasil precisa recorrer cada vez mais ao exterior para se abastecer. Não consegue produzir o que precisa. E isso tem dois efeitos: mais inflação e aumento da importação.

O Brasil cresceu 9% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2009. Para Padovani, o país pode crescer entre 4,5% e 5% sem produzir desequilíbrios.

Luis Otávio Leal, economista do Banco ABC Brasil, acrescenta que o tombo no superávit comercial vai piorar o déficit em conta corrente do país, o que torna o Brasil mais dependente do humor do financiamento externo:

- Se essa conta não for equilibrada, o real pode se desvalorizar ou BC terá que usar reservas internacionais para tapar o buraco.

No mês passado, o Brasil exportou US$17,095 bilhões (média diária de US$814 milhões) e importou US$14,817 bilhões (média diária de US$705,6 milhões), resultando no superávit de US$2,278 bilhões. Sobre junho de 2009, as exportações subiram 18,2% e as importações, 50,2%. O saldo comercial diminuiu 50,5%.

De janeiro a junho deste ano, a China liderou a lista de principais mercados compradores de produtos brasileiros, com destaque para soja, petróleo, óleo de soja, couros e peles, aviões e açúcar. Os Estados Unidos ficaram em segundo. No mesmo período, o maior mercado fornecedor para o Brasil foram os EUA, com bens de capital, diesel, carvão, químicos, eletroeletrônicos, plásticos e produtos farmacêuticos.

COLABOROU: Bruno Villas Bôas

Jogos da sustentabilidade :: Sérgio Besserman

DEU EM O GLOBO

Há razões muito fortes para que a agenda da sustentabilidade seja um dos eixos, senão o principal eixo, das transformações que a cidade do Rio de Janeiro almeja com a realização dos Jogos Olímpicos em 2016.

Em primeiro lugar, está a competição internacional entre as cidades globais e sua relação com o mais precioso, ainda que intangível, dos ativos nessa disputa: a marca.

É compreensível que uma região com carências em infraestrutura urbana e social tenda a examinar o legado dos Jogos Olímpicos voltada para os avanços na superação dessas deficiências, mas a conquista com maior taxa de retorno pela realização de um evento desse porte é o fortalecimento da marca da cidade.

Na agenda do mundo em 2016 é certo que continuarão prioritárias as diversas dimensões da crise ambiental, muito especialmente a mudança climática e as grandes transformações na oferta de energia, nas cidades e na dinâmica tecnológica que o esforço para evitar os piores cenários de aquecimento global impõe.

De outro lado, a marca da cidade do Rio de Janeiro é exatamente essa: a de "capital ecológica" do planeta. Isso pode parecer surpreendente aos que acompanham a degradação de áreas como a Baía de Guanabara, manguezais, lagoas ou a falta de saneamento em muitas comunidades da cidade, mas a surpresa decorre apenas do fato de não incluirmos nessa conta o ainda imenso valor de nossos ativos naturais e históricos.

A agenda do mundo estará focada em sustentabilidade e os olhos de todos no planeta estarão voltados para o Rio. Poderemos fortalecer muito a marca da cidade se ela conseguir se apresentar ao mundo, não como uma cidade já sustentável, pretensão que trabalharia contra a credibilidade da imagem, mas como cidade em movimento para um desenvolvimento mais sustentável. Como seria possível demonstrá-lo e orientar investimentos nessa direção?

Em primeiríssimo lugar, os equipamentos olímpicos e, especialmente, a maior de todas as vitrines, o Maracanã, deveriam ser casos de sucesso na incorporação das mais modernas práticas de construções sustentáveis e eficiência energética, indo, a exemplo dos equipamentos para os Jogos de Londres em 2010, muito além das certificações exigidas pelo COI ou pela Fifa.

Uma ideia suplementar do ponto de vista da credibilidade do legado dos Jogos e do fortalecimento dessa marca para a cidade seria uma orientação para a ação e uma estratégia de comunicação bastante simples e amigável: avanços sustentáveis nas "águas", no "ar" e nas "terras" da cidade. Com metas mensuráveis, reportáveis e verificáveis.

Com relação às águas, por exemplo, as metas deveriam ser relativas a um grande aumento do percentual de domicílios com saneamento básico e a avanços significativos na limpeza das águas da Baia de Guanabara e do sistema lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá.

O ar da cidade tem uma dimensão relativa à poluição local e outra relativa à emissão de gases de efeito estufa (GEE) que aquecem o planeta. No primeiro caso, trata-se de definir os indicadores que serão utilizados para auferir a melhoria na qualidade do ar que respiramos.

No caso da redução das emissões de GEE de responsabilidade da cidade, as metas propostas pelo prefeito Eduardo Paes e em tramitação na Câmara de Vereadores estão bem alinhadas com os melhores esforços das principais cidades do mundo: 12% de redução até 2012, 16% até 2016 e 20% até 2020, sem considerar o acréscimo decorrente da entrada em operação da CSA, que será tratado em trilho próprio pelos governos federal, estadual e municipal.

A meta até 2012 poderá ser obtida apenas com a modernização na coleta de lixo, o novo centro de tratamento de resíduos em Seropédica e o encerramento das operações no aterro de Gramacho. As metas até o ano dos Jogos dependerão da implantação dos projetos de BRT (Bus Rapid Transit, ônibus articulados em vias exclusivas) e da tecnologia que neles será utilizada, do cumprimento das metas de reflorestamento e de muito planejamento, parcerias e investimentos públicos e privados.

Quanto às nossas "terras", o compromisso assumido na candidatura aos Jogos foi a meta extremamente ambiciosa de 24 milhões de novas árvores no Estado do Rio até 2016. Basta cumpri-lo.

Finalmente, haveria uma externalidade positiva muito importante: o envolvimento dos atores sociais e da população com metas mensuráveis, facilmente identificáveis e de alto valor simbólico e coletivo.

Sérgio Besserman é presidente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio de Janeiro e foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Nós e o mundo :: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A crise europeia não atinge o Brasil porque o comércio exterior brasileiro é uma parte pequena do PIB, portanto o canal de transmissão não é relevante. Só afetará se houver uma crise financeira. É o que acha o economista Alexandre Schwartsman, do banco Santander. Para o economista Armando Castelar, o crescimento sustentado não está garantido por uma questão aritmética.

Entrevistei os dois ontem na Globonews sobre economia mundial e brasileira. O mundo oscila com incertezas e quedas, enquanto isso o Brasil está com um crescimento forte. Ontem saiu um dado que parece ruim mas não assusta ninguém: a produção industrial zero em maio.

- Foi apenas uma pequena parada. A produção cresceu muito no primeiro trimestre. A expectativa é que a indústria continue bastante forte. O setor de bens de capital foi o que sofreu mais e agora tem uma recuperação mais forte, no ano deve fechar com alta de 20% em relação ao ano passado - explicou Armando Castelar.

Ele acha que essa desaceleração é bem vinda, até porque o crescimento da demanda doméstica no primeiro trimestre foi de 12%.

No mundo, o debate é se é hora de manter os estímulos econômicos ou cortar o déficit público. Alexandre acha que a questão essencial é o timing desse ajuste. Acha natural que se dê estímulos às economias ainda fracas, mas se houver um comprometimento com queda maior do déficit, a recuperação será mais fácil. Portanto, não há um conflito entre as duas fórmulas:

- O país tem que se comprometer, criar as regras, para que o mercado saiba que num período de dois ou três anos o déficit será reduzido. Fazendo isso, o país tem o melhor dos dois mundos, mantém o estímulo, mas fortalece a confiança dando um horizonte para a queda dos gastos. Alguns países como Grécia, Itália não têm a alternativa. Têm que cortar agora para evitar o pior. Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e em certa medida a França têm a opção de manter os estímulos agora, projetando cortes no futuro.

A economia mundial estava se recuperando, aí a Europa entrou em crise, e agora há sinais de desaceleração em outras economias. A dúvida é se estamos indo para um segundo mergulho. Armando Castelar acha que há sim esse risco:

- O risco existe. A economia mundial tem um problema sério que é a falta de demanda privada, as famílias estão muito endividadas tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Isso não mudou. Acho que o mundo vai crescer muito pouco, não apenas a Europa. Nos Estados Unidos, os dados imobiliários americanos mostram queda a partir de abril; a China e a Índia já estão com sinais de desaceleração. O que vem sustentando o crescimento mundial são os emergentes e até eles começam a ter sinais revisados para baixo. O cenário do novo mergulho não é o mais provável, mas há o risco.

Alexandre acha que o Brasil poderia ser afetado pelo canal do comércio, mas o fato de o Brasil importar e exportar pouco, 11% a 12% do PIB, reduz os riscos:

- O risco de o país ser afetado aumentaria se houvesse uma crise financeira como aconteceu após a quebra da Lehman. Não é o cenário mais provável. Uma crise financeira afeta o crédito que atinge a demanda doméstica, que é importante para o crescimento brasileiro. O Brasil está razoavelmente isolado disso.

Mesmo com o aumento do custo de se carregar dívida dos países europeus, que é o grande ativo dos bancos da Europa, Alexandre não acha que possa haver essa crise financeira. Ele acredita que só um evento traumático, como um calote de um dos países, é que poderia criar uma crise.

Armando acha que dificilmente a Grécia escapa de um calote. A torcida é para que seja uma reestruturação negociada da dívida, em vez de uma ruptura com os credores:

- A Grécia acabará fazendo uma reestruturação da dívida que, na verdade, é um calote. Inevitável. Não deu um calote até agora porque tem déficit primário, ou seja, até para pagar as contas que não são juros ela precisa ser financiada. Ela tem sido financiada porque os grandes detentores da dívida grega, além dos banco gregos, são os bancos franceses e alemães. Com uma divida que está indo para 150% do PIB, ela teria que gerar superávits de 6% a 7% só para pagar juros. É inviável. A situação dos bancos europeus vai continuar ruim por muito tempo, porque os bancos são os que carregam as dívidas dos países.

Armando acha que o crescimento sustentando do Brasil não está garantido:

- É uma questão aritmética. Precisaria investir 23% do PIB para crescer 5,5%. Está investindo 18%, com uma poupança de 16% e já tem déficit em conta corrente. Para investir 23% com 16% de poupança, teria que ter um déficit externo de 7%. O que é inviável. A literatura é clara sobre isso: é preciso aumentar a poupança do setor público, o que significa reduzir o gasto. Nós estamos fazendo o oposto: aumentando o gasto corrente.

Alexandre alerta também para o risco BNDES. O balanço do banco será de 12% a 13% do PIB e a contrapartida disso é uma expansão da dívida. Lembra que o governo está emprestando a um custo menor do que se financia. Com o aumento do volume dessas operações, o gasto aumenta. Ele diz que isso não é razoável.

Paisagem apagada :: Graziela Melo



A paisagem morna, antipática e apática, não era uma paisagem de fato. Era apenas a sombra da janela que se projetava nos meus olhos, como algo gigantesco, assombroso.

A insônia se misturava a tudo. À perspectiva cinzenta do amanhã. Sonhos mórbidos de olhos abertos para uma clara escuridão. Que sonho sonharia eu? Qual sonho seria melhor de sonhar naquela escura noite onde não moravam nem conviviam o sol ou a lua, só uma ou outra estrela insípida, preguiçosa?

Não!. Nada de sonhos! Melhor os fantasmas. Qual? Qualquer um: D. Pedro, São Pedro ou até mesmo Zé Pedro, aquele nordestino morto a facadas pelo próprio irmão e que depois de um tempo, fugiu do cemitério e até hoje perambula por aí, assombrando as pessoas, nas noites de lua cheia!!!

Cruz! Credo!

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Valentina Lisitsa - Beethoven - "Für Elise"

Talvez :: Pablo Neruda


Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...