Oposição e governo avaliam impacto das manifestações
• Participação em atos divide tucanos; Planalto diz estar atento às ruas
Júnia Gama, Thiago Herdy e Julianna Granjeia – O Globo
BRASÍLIA e SÃO PAULO - A oposição, principalmente o PSDB, debate a melhor maneira de atuar junto às manifestações que vêm ocorrendo contra o governo Dilma Rousseff, incluindo pedidos de impeachment. Ontem, um dia depois do segundo grande protesto, tucanos reclamaram da ausência do presidente do partido, Aécio Neves, nos protestos do último domingo, e consideraram que ele perdeu uma oportunidade de firmar sua liderança. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que os partidos não podem instrumentalizar manifestações espontâneas e têm responsabilidades institucionais. O governo, por sua vez, diz que continua atento à pauta das ruas.
Na reunião da coordenação política, com a presidente Dilma, o vice Michel Temer, e nove ministros, foi avaliado que a redução no número de manifestantes em relação aos atos de 15 de março reduz a pressão sobre o governo.
- Entendemos que, desde junho de 2013, há um questionamento da forma como o modelo político brasileiro está organizado. Todos os poderes instituídos do Estado brasileiro estão sendo questionados. Mas vamos continuar atentos à pauta das manifestações - afirmou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.
Setores do PSDB pretendem demonstrar seu desapontamento com Aécio, hoje, na reunião da bancada federal com o líder tucano. O encontro, inicialmente previsto para tratar a reforma política, deve ter como pauta principal a atuação do PSDB a partir de agora, diante da insatisfação popular com o governo Dilma.
Na semana passada, Aécio consultou lideranças tucanas para saber se deveria participar da manifestação no domingo, e a maioria o aconselhou a ir.
- O PSDB tem que estar mais presente nas ruas porque as pessoas estão pedindo isso de forma mais efetiva - alega o deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA).
FH é contra instrumentalização
Em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso minimizou as críticas à oposição nos protestos de domingo. Lideranças de grupos como o Movimento Brasil Livre e o Vem pra Rua fizeram discursos cobrando de oposicionistas apoio ao impeachment da presidente.
- O movimento tem sua dinâmica própria, não foi convocado pelos partidos. Os partidos têm uma responsabilidade institucional. É natural que os movimentos exijam mais, e os líderes políticos têm que mesurar, ver o que é possível fazer e o que não é - disse Fernando Henrique, após um debate sobre reforma política realizado em sua fundação.
Para o ex-presidente, é normal a "permanente tensão entre a rua e a instituição".
- Agora, se os partidos fossem para a rua, seria mais grave. Porque seria tentar instrumentalizar aquilo que não é instrumentalizável - argumentou.
Já há quem acredite, no PSDB, que o partido deve tomar a frente de um processo de impeachment.
- O preço político poderia ser muito grave se parecesse que o PSDB se omitiu num momento como esse. Começamos a achar que a formalização de um processo de impeachment está madura. O PSDB foi muito cuidadoso e responsável, mas vai acontecer por alguém, e temos que definir o papel que teremos nisso. A maioria da população está pedindo impeachment. Os requisitos estão prontos, há vontade popular e fatos que substanciam com força uma peça jurídica bem construída - afirma o deputado Bruno Araújo (PSDB -PE).
Interlocutores mais próximos a Aécio, porém, defendem um maior cuidado no tratamento do tema.
- Você não vai tomar cafezinho na casa de quem não te convidou. Ele está sendo respeitoso e cuidadoso, porque a presença dele não é qualquer uma e pode dar margem de leitura de terceiro turno e partidarização. Aécio e as oposições vão abrir diálogo com esses movimentos para saber o que esperam das oposições - afirmou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).
- Impeachment não é objetivo inicial, é consequência. Das três pré-condições, só uma está sendo atendida, que é o apoio popular. Não podemos ser voluntaristas, e Aécio não apoiará nenhuma aventura autoritária. Impeachment fora dos marcos constitucionais seria golpismo. A substância jurídica ainda não está configurada, isso vai depender da CPI da Petrobras e dos desdobramentos da Lava-Jato - afirmou o mineiro.
O Movimento Brasil Livre anunciou ontem que organiza uma marcha de São Paulo a Brasília para entregar uma "carta com reivindicações aos três Poderes". A saída, diz um dos líderes do grupo, Kim Kataguiri, de 19 anos, será na sexta-feira. A previsão de chegada é o dia 20 de maio.
O porta-voz do Movimento Brasil Livre no Rio Grande do Sul, Rafael Bandeira, chamou de "neuróticos e alucinados" os grupos a favor da volta dos militares ao poder por meio de uma intervenção constitucional. Segundo Bandeira, o grupo não integra as mobilizações pelo impeachment de Dilma, lideradas pelo MBL e pelo Vem Pra Rua.