Após um ano de pandemia, situação só piora – Opinião / O Globo
Imaginava-se que as cenas dantescas vividas no Brasil ano passado, durante o auge da pandemia do novo coronavírus, eram a materialização do inferno. Câmeras frigoríficas instaladas junto a hospitais para receber mais e mais cadáveres; engarrafamentos de carros funerários à porta dos cemitérios; profissionais de saúde obrigados a fazer a escolha cruel sobre que paciente levar ao respirador. Um ano depois do primeiro caso de Covid-19 confirmado no país, percebe-se que estávamos apenas na antessala — o inferno mesmo ainda estava por vir.
Depois de uma trégua ilusória, a pandemia voltou a se agravar no fim do ano passado. Foi no início de 2021, depois das aglomerações de fim de ano, que o número de casos explodiu, dando origem à temida — e previsível — segunda onda. Manaus, que se tornara exemplo dos momentos mais dramáticos em 2020, mostrou que, no Brasil de Bolsonaro & Pazuello, o horror não tem limite. Aos efeitos perversos já conhecidos do colapso nas redes pública e privada de saúde, acrescentou-se mais um, altamente letal: pacientes morreram asfixiados porque as autoridades não providenciaram o insumo mais básico numa pandemia de doença respiratória: oxigênio. O ministro-general Eduardo Pazuello foi alertado sobre a escassez, mas não agiu a tempo. Em apenas dois meses de 2021, o número de mortes no Amazonas supera o total de 2020.