Professora critica falta de debate sobre proposta social, política econômica e papel do Estado
Por Daniela Chiaretti /Valor Econômico
SÃO PAULO - A campanha para presidente de
2022 teve como marca a despolitização extrema, na análise de Maria Hermínia Tavares
de Almeida, professora titular aposentada de ciência política da Universidade
de São Paulo. “Sem dúvida é a campanha mais despolitizada que já vi. Uma
campanha onde não se discute proposta social, onde não se discute política
econômica, onde não se discute o papel do Estado, onde não se discute nada. É
um jogo pesado o tempo inteiro, dos dois lados”, critica. De pontos positivos
ela enxerga o amadurecimento da sociedade na discussão do racismo e em permitir
que o tema ambiental entre definitivamente na agenda.
Maria Hermínia, membro e uma das fundadoras
da Comissão Arns, indicou uma grande mudança no espectro político da direita,
que encontrou em Jair Bolsonaro um líder populista, e, portanto, forte
eleitoralmente. A esquerda, por sua vez, protagonizou um grande avanço político
com o apoio de muitos e diversos grupos em uma frente democrática em torno de
Luiz Inácio Lula da Silva. “A grande revolução ocorreu no hemisfério da
direita, não da esquerda”, constata. “O Brasil encontrou sua liderança de direita
que não é de elite, é popularesca. Daí sua força”, diz. No polo oposto, ela
enxerga na multiplicidade de apoios e na convergência de forças em volta de
Lula, a conquista de um valioso patrimônio político: “As pessoas perceberam que
era a hora da generosidade e de deixar para trás as mágoas porque o país está
sob uma ameaça muito grande.”
A seguir os principais trechos da entrevista ao Valor: