• Resposta foi dada após petista dizer que 'quem não quer ser criticado não pode ser presidente’
Letícia Lins – O Globo
JOÃO PESSOA — A candidata do PSB à sucessão presidencial, Marina Silva, reagiu com ironia às críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff (PT), e as atribuiu ao “desespero com a possibilidade de perder a eleição”. A pessebista rebateu a fala de Dilma em Belo Horizonte nesta quarta-feira, em que afirmou que quem não quer ser criticado “não pode ser presidente”.
— Para ser presidente é preciso ter programa — rebateu Marina em comício realizado no início da noite deste sábado em João Pessoa. E continuou:
— É preciso ter disposição para o diálogo político, trabalhar com o respeito, com a verdade e não com o boato. É preciso que se busque a legitimidade necessária para isso, e que não se terceirize essa legitimidade. Para ser presidente da República é necessário que a gente tenha uma visão generosa do mundo, respeitosa, mesmo dos adversários. Isso a presidente Dilma tem de mim, ela é a primeira mulher eleita do Brasil. E ela pode ter certeza, não vou fazer com ela o que ela está fazendo comigo. Ela vai ter sempre o meu respeito.
A candidata voltou a falar que vai fazer campanha “oferecendo a outra face”, e que prefere ser vítima de injustiças do que praticá-la. Disse ainda que não vai jogar com as mesmas armas, mas sim com “a esperança, o compromisso e a coragem”.
Ela fez as declarações pela noite, na cidade de João Pessoa, onde visitou um hospital filantrópico e participou de comício ao lado do Governador Ricardo Coutinho (PSB), candidato à reeleição.
— Estamos oferecendo a outra face. Ninguém vai me levar para o embate, porque o que estou querendo é o debate. Não vou concorrer utilizando as mesmas armas, os mesmos métodos. Vamos continuar dialogando. Queremos unir o Brasil. Estou em paz com minha consciência, muito tranquila, e estamos felizes com a possibilidade de ganhar. O que eu vejo é que o programa da candidatura do PT e também do PSDB é o desespero, com a possibilidade de perder a eleição — discursou as pessebista.
— Para a face agressão, o respeito. Para a face da mentira, a verdade. Para a falta de um programa para debater, um programa que discute saúde, educação, segurança pública, infraestrutura, tecnologia, inovação — ironizou Marina.
Ao comentar a falta de programa dos adversários, a ex-senadora fez questão de lembrar os últimos escândalos divulgados envolvendo a Petrobras.
— Ela (Dilma) não apresentou programa, disse que não vai apresentar e que vai continuar do mesmo jeito que está fazendo. Significa que no caso da inflação é a mesma política. Do baixo crescimento, a mesma política. Do juro alto, a mesma política. E infelizmente, na nomeação de diretores de empresas importantes para a economia brasileira, manter os mesmos critérios que levaram o senhor Paulo Roberto a fazer o que fez com a Petrobras. Isso é o que precisa ser explicado — declarou Marina.
Ela prometeu que vai governar de forma “honesta e competente” para ampliar os serviços que a sociedade tanto reclama, e falou em memória de Eduardo Campos:
— As críticas que fiz foram em relação à propaganda do candidata que hoje está no governo, que usa os onze minutos de televisão para injustamente me atacar. Mas tomei uma decisão, que para mim é muito significativa, em homenagem à memória do Eduardo, em que só depois de morto é que reconheceram seu valor, e a gente se reuniu em torno do caixão para chorar sua ida. Quando a gente está vivo não é capaz de reconhecer os valores, as qualidades daqueles que por ventura possam estar em campos diferentes, com ideologias e pensamentos diferentes.
Desde a manhã deste sábado Marina cobre uma extensa agenda pelo Nordeste, iniciada em Sobral (CE), depois Campina Grande — a 120 Km de João Pessoa — e João Pessoa. Na capital paraibana, a pessebista visitou o Hospital Padre Zé, instituição filantrópica fundada há 50 anos por José da Silva Coutinho, que encontra-se em processo de beatificação. O hospital tem 60 leitos em funcionamento, 53 implantados e atende a cerca de 7 mil pacientes recrutados entre as populações mais miseráveis da Paraíba.
Apesar das últimas críticas e do clima de guerra deflagrado nos últimos dias entre o PSB e o PT, o partido integra a coligação “A Força do Trabalho”, liderada pelo governador Ricardo Coutinho (PSB), que tem como vice, a médica Lígia Feliciano (PDT). Na chapa, consta ainda Lucélio Cartaxo, candidato ao Senado pelo PT e irmão gêmeo do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PT).
No hospital, foi recebida por uma pequena multidão que gritava “Brasil pra frente, Marina Presidente”. Ela percorreu a ala de convivência do hospital, destinado ao acolhimento de pessoas portadoras do HIV. Ela foi recebida pelo Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, e pelo diretor do hospital Padre Zé, e pelo Diretor da entidade, Padre Egídio de Carvalho. Ele reclamou da burocracia estatal. Disse que o Don Zé possui 60 leitos, mas que ainda não conseguiu colocar para funcionar os 53 que implantou:
— É mais fácil construir do que fazer funcionar, porque a burocracia é grande no Brasil — reclamou a candidata, que afirmou que, há uma década a tabela do SUS não sofre reajuste, e que os repasses do governo federal não pagam sequer a folha de pagamento dos servidores da entidade, que sobrevive “as custas de doações e da ajuda do governo da Paraíba”.
Adversários disseminam 'cultura do ódio'
Marina Silva acusou os adversários de disseminarem a "cultura do ódio", durante comício realizado na cidade de João Pessoa, em apoio ao Governador Ricardo Coutinho (PSB), que disputa a reeleição. A candidata afirmou ainda que a sua principal adversária usa os onze minutos do programa eleitoral gratuito para desconstruir sua imagem, diante da prática de uma política que ela considera " perversa".
— Eles estão me agredindo muito. Quando peço que parem com a calúnia e com a mentira, dizem que estou me fazendo de vítima. Olhem como a política ficou perversa. Você tem que ser apunhalado, caluniado e eles querem que você fique sorrindo.
De João Pessoa, a candidata seguiria para Teresina, em último compromisso do dia e no Nordeste. Neste domingo, a candidata cumpre agenda em Brasília.
Apesar de ter declarado anteriormente que só realizaria a campanha em voos de carreira, após a tragédia que matou o presidenciável Eduardo Campos, a candidata usou um jatinho do modelo Hawker 800, fretado à Líder. Segundo um dos seus assessores, ela dá prioridade a voos comuns, mas tem sido obrigada a apelar para o táxi aéreo diante do aperto da agenda.