Luiz Inácio Lula da Silva é, até o momento, apenas o técnico do pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad. Orienta seus passos, faz campanha por ele no partido, manda que saia da toca, determina quando e como deve se expor, recomenda que dê entrevistas sempre e ocupe os espaços da mídia, aproveite a oportunidade para arredondar seu discurso. Isso é muito, mas não é tudo, ainda. O ministro da Educação não venceu com esse apoio a disputa preliminar, a ideia das prévias e muito menos a eleição. Portanto, ainda há jogo para os cinco petistas pré-candidatos.
É a isto, certamente, que Marta Suplicy está se referindo quando diz, ou quer dizer nas suas declarações, que a escolha de Lula, por si só, não encerra o caso. O ex-presidente, por sinal, sempre perdeu na capital, um dado histórico na manga dos petistas para argumentar com os querem entregar de véspera a partida. Em 1988, por exemplo, Lula ungiu Plínio de Arruda Sampaio para disputar a prefeitura, fez campanha por ele e a vitória, na prévia, foi de Luiza Erundina, que acabou ganhando a eleição.
À época, o ex-presidente ainda não era o super-Lula de hoje, mas já se preparava, com gana de vencer, para a disputa de 1989. O PT também não era o de hoje que, segundo testemunhas do processo de escolha do candidato em 2012, está levando adiante um sistema limpo.
Fim do grupo Marta amplia desvantagem no embate com Lula
Aloizio Mercadante e Arlindo Chinaglia, que tinham pretensões iniciais, não colocaram seus nomes. Ficaram cinco: Marta e Haddad, Eduardo Suplicy, Carlos Zarattini e Jilmar Tatto. No fim de semana participaram de debates em Sapopemba, no domingo, com 400 pessoas; em São Miguel, no sábado, com 280 presentes; e na sexta, em Tatuapé, com 160 pessoas. Vão ser realizados 36 debates até o fim de setembro.
Destacam-se, desses encontros, suas diferenças com relação aos debates de campanhas prévias anteriores do PT, concluindo-se que, agora, eles fortalecem o partido. As antigas claques de cada candidato, as barulhentas torcidas, deram lugar a uma organização que tem sido avaliada como mais produtiva: os candidatos são perfilados à mesa, falam os dirigentes nacionais, estaduais e municipais, 10 participantes são sorteados aleatoriamente para fazer as perguntas aos candidatos e estes respondem dando ênfase às questões em que se sentem mais fortes.
Marta Suplicy fala de seu amor por São Paulo, ressalta sua administração na cidade, diz que a boa experiência administrativa foi interrompida e quer retomá-la. Eduardo Suplicy promete fazer de São Paulo uma cidade pioneira na admissão da renda mínima da cidadania. Tatto e Zarattini seguem um pouco na linha de Marta, mas dando ênfase a outras prioridades, como transportes e segurança, num discurso mais geral de renovação. E Haddad faz o discurso do desempenho da Educação federal, afirmando que pretende fazer em São Paulo o que fez no ministério. O ministro, como se sabe, não tem um bom portfólio, seus resultados são pífios, mas pelo método Lula a propaganda abriga tudo.
Uma nuance no quadro da disputa tem sido mais determinante para a aparente desvantagem de Marta do que propriamente a opção de Lula por Haddad. Zarattini e Tatto passaram a ter suas próprias correntes internas no PT, com militantes, base e discurso. Não têm, porém, experiência administrativa, o que os mantêm dependentes da história de ação política de Marta. A diáspora desse grupo, até agora conhecido como o grupo da Marta, causa à candidatura da senadora e ex-prefeita, no momento, talvez mal maior do que propriamente a opção de Lula por Haddad e o treinamento a que o submete. Os resultados disso podem aparecer melhor mais ao fim do próximo mês, quando houver um afunilamento das candidaturas que irão às prévias, se forem ainda necessárias.
Não tendo mais o seu grupo coeso, Marta passou a contar como vantagem apenas as realizações na prefeitura e, nelas, as ações que favoreceram as periferias. A rica que governou para os pobres poderá ser seu principal slogan de campanha.
O Palácio do Planalto faz uma distinção entre a crise política derivada de corrupção, desvios e irregularidades que teve epicentro no Ministério dos Transportes, sob o comando do PR, e a crise que vem jogando na arena o Ministério da Agricultura e o PMDB, com vantagem para o ministro Wagner Rossi.
O argumento para estabelecer a diferença começa pela atuação do ministro na Presidência da República. Rossi demitiu Oscar Jucá Neto, que detonou as denúncias contra a Conab na revista "Veja", antes de sua entrevista, portanto protagonizou um dos únicos casos em que o governo não agiu a reboque da imprensa. Depois, comunicou o fato à ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, porque se tratava do irmão do líder do governo, Romero Jucá, e também à ministra Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, porque envolvia ações de governo. O ministro não foi citado nominalmente em nenhuma questão e, ao levar o pacote de providências à presidente, acertou com ela uma ação firme para trocar toda a diretoria da Conab, tal como foi feito com o Dnit. A presidente deu ao ministro uma folguinha de tempo, para não ser acusada de precipitada e apressada como o foi nos Transportes, permitindo que conversasse e negociasse as demissões com padrinhos dos dirigentes.
Por último, destaca-se, no Planalto, a enorme diferença da pecúnia: a Conab "trabalha" em uma faixa infinitamente mais estreita que a do Dnit.
Os ministérios das Relações Exteriores e o da Defesa têm políticas e ações em comum. Não por acaso a comissão permanente do Senado que trata desses temas tem a denominação de Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. O chanceler Antonio Patriota vinha se dando muito bem com o ministro Nelson Jobim mas cada um líder no seu campo. A esperança, no Itamaraty, é que Celso Amorim contrarie as piores previsões e não queira promover uma anexação dos temas diplomáticos dos quais se afastou com grande pesar, explícito, quando houve a troca de governo. Até por gostar muito da Casa, a sua, acredita-se que queira preservá-la.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.
FONTE: VALOR ECONÔMICO