segunda-feira, 26 de maio de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Esse crescimento de Dilma é bom para as oposições, até porque se ela continuasse caindo não seria candidata a nada, a não ser voltar para casa.

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS, Portal do PPS, sexta-feira (23/5/2014).

Oposição classifica como desespero discurso de Dilma

• Em congresso com jovens do PCdoB, presidente voltou a recorrer ao discurso do medo em relação a uma eventual vitória da oposição

• Líder do PSDB na Câmara diz que população acredita cada vez menos no que Dilma fala e em seu governo

Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - A oposição reagiu fortemente ao discurso da presidente Dilma Rousseff, que durante a abertura da 17º Congresso da União da Juventude Socialista, do PCdoB, no sábado, voltou a recorrer ao discurso do medo para associar uma eventual vitória de Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) ao retrocesso, ao desemprego, e à adoção de medidas impopulares, que ela qualificou de "espectros fantasmagóricos".

Para a oposição, Dilma demonstra desespero antes mesmo da campanha iniciar. Eles avaliaram que os ataques dela são fruto de marketing, e que ela não tem discurso próprio, mas segue apenas o que dizem seu marqueteiro, João Santana, ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A participação da presidente no encontro não estava programada e foi confirmada em cima da hora no sábado. Para os militantes do PCdoB, partido que domina o Ministério do Esporte desde o governo Lula, Dilma disse que não havia sido eleita para criar desemprego, nem para acabar com a política industrial ou varrer a corrupção para debaixo do tapete. Em outro momento, afirmou:

— Quem tem lado sabe que é preciso estar atento, é preciso estar ao mesmo tempo com um olho no futuro e outro no passado. Esse olho no passado é para evitar que espectros fantasmagóricos tentem voltar com as ameaças às conquistas dos brasileiros, que eles já chamam abertamente de medidas impopulares e que significam arrocho salarial, desemprego e recessão.

O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imabassahy (BA), contestou a presidente e disse que as afirmações dela não correspondem à verdade:

— Na verdade, ela deve ter sido orientada pelo marqueteiro, porque sempre que se encontra forte dificuldades, ela convoca o marqueteiro para dizer o que ela tem de fazer. O que ela diz não corresponde à verdade. É uma fantasia. O governo é muito ruim, ela se revelou uma administradora incompetente, não demonstrou liderança para fazer transformações e reformas que o Brasil necessita, e se submete à vontade dominante do ex-presidente Lula.

Imbassahy acredita que há um desespero no governo.

— O desespero invade o Palácio do Planalto e aí ela recorre a esse expediente. Mas a população cada vez dá menos importância ao que ela fala e acredita cada vez menos nela e no governo dela.

José Agripino, líder do DEM, fez uma avaliação semelhante. Mas, para ele, ao dizer que não foi eleita para colocar o país de joelhos, por exemplo, Dilma faz exatamente o contrário.

— Ela não foi eleita para isso, mas está fazendo do Brasil um país sem competitividade, colocando, sim, a indústria de joelho graças a uma política econômica equivocada. Ela nega o que justamente está fazendo e os dados estão aí para provar.

E complementou:

— O que ela devia ter feito no passado, para evitar o que está acontecendo agora, ela não fez.
Demorou muito, por exemplo, para fazer as concessões dos aeroportos e estamos vendo o resultado.
Líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg foi irônico: ele afirmou que foram os quatro anos de governo de Dilma que podem deixar a população com medo:

— A população está ficando com medo de mais quatro anos de Dilma porque o pais não cresce, a inflação aumenta e a presidente insiste no viés autoritário. O Brasil não aguenta mais isso.
Mendonça Filho (DEM-PE) também apontou desespero na presidente.

— Quando bate o desespero, ela apela para o discurso do medo, ao qual está adotando mais cedo do que se imaginava. Isso demonstra que a derrota está batendo na porta dela. A campanha sequer teve início e ela está reagindo com apelação, que não tem sintonia com a realidade. Se o povo tem que ter medo é da inflação, do crescimento pífio e da corrupção na Petrobras. Esse é o medo do hoje.

PSB ainda precisa definir palanques em 6 estados

• SP é caso mais grave de impasse, motivado por exigências da Rede

• Partido terá candidato próprio em 11 estados. Em outros três (Paraíba, Rondônia e Amapá) ainda não há garantia de apoio da Rede

Sergio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - A pouco mais de um mês do prazo final para as convenções, o PSB ainda precisa definir a situação dos palanques de Eduardo Campos em seis estados. São Paulo é o caso mais preocupante e delicado para a cúpula da pré-candidatura a presidente. Há no estado um impasse entre os integrantes do partido e da Rede, a sigla que Marina Silva tentou criar no ano passado e que foi rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As duas legendas chegaram a acordo em 12 das unidades da Federação, sendo que em quatro vão apoiar candidatos de outras siglas: José Ivo Sartori (PMDB) no Rio Grande do Sul, Pedro Taques (PDT) no Mato Grosso, Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão e Miro Teixeira (PROS) no Rio.

O PSB terá candidato próprio em 11 estados, mas em três deles (Paraíba, Rondônia e Amapá) ainda não há garantia de apoio da Rede. Há locais em que as siglas já definiram que estarão separadas, como o Paraná, em que o PSB apoiará a reeleição de Beto Richa (PSDB), e a Rede deve ficar com o PV.

Além de São Paulo, também há indefinições em Santa Catarina, Sergipe, Rio Grande do Norte, Rondônia e Tocantins. Mas o estado de maior eleitorado do país é o que mais preocupa, pela importância estratégica na eleição nacional.

Originalmente, o PSB defendia a manutenção da aliança com o PSDB e o apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin. Para aceitar ser vice na disputa presidencial, Marina exigiu uma chapa própria na eleição paulista. O PSB aceitou e indicou o nome do presidente da legenda no estado, Márcio França. Mas os integrantes da Rede vetaram o seu nome com o argumento de que ele não é identificado com a renovação na política, e indicaram o ambientalista João Paulo Capobianco e o coordenador da sigla de Marina no estado, Célio Turino, o que gerou mal-estar.

Crescimento nas pesquisas
A chance de o PSB apoiar Alckmin voltou a ganhar força. Nesse cenário, os integrantes da Rede optariam por um outro candidato na eleição paulista.

Campos foi o pré-candidato com maior crescimento proporcional na pesquisa Ibope divulgada na última quinta-feira: 83%. O comando da campanha do PSB crê que o aumento de 6% para 11% no levantamento prova ser viável uma terceira via na disputa presidencial deste ano.

O cientista político Marco Antonio Teixeira, professor da FGV, entende que Campos tem conseguido, como planejado, se viabilizar entre os eleitores descontentes com o governo da presidente Dilma Rousseff, que no passado se identificavam com o PT.

— Ele cresceu em cidades pequenas num extrato de eleitores muito parecido com o da Dilma. Tem conseguido se aproximar desse perfil de eleitor simpatizante do PT — afirmou o professor.

Teixeira lembra que o crescimento pode ser atribuído ao anúncio de Marina de que será vice na chapa do pré-candidato do PSB. Além disso, Campos, desde que deixou o governo de Pernambuco no começo de abril, começou a percorrer o país, justamente para se tornar conhecido. Nas visitas, além de encontros com políticos, sempre constam na agenda entrevistas a emissoras de rádio e televisão locais.

— Campos tem peregrinado bastante. A pesquisa Ibope mostra que ele é viável. À medida que a campanha começar a chegar nas regiões mais remotas do país, a tendência é ele crescer.

Segundo o professor da FGV, o dado importante para confirmar esse raciocínio é o que mostra uma queda da rejeição de Campos de 21% para 13%:

— A rejeição dele é relacionada ao desconhecimento.

Já o cientista político Alberto Almeida, autor do livro “A cabeça do eleitor”, diz que é preciso lembrar que os candidatos de oposição ainda não foram atacados na disputa.

— Ele cresceu no embalo desse sentimento de oposição — afirma Almeida, que vê pouca chance de o pré-candidato do PSB desbancar Aécio Neves (PSDB) como adversário de Dilma no 2º turno.

O comando da campanha relaciona o crescimento ao conhecimento que o eleitor passou a ter de Campos. Também considera que há um cansaço da polarização PT x PSDB e que a maior parte do eleitorado busca uma 3ª via. O crescimento mais acentuado, porém, só deve ocorrer com o início do horário eleitoral, em agosto.

PT aprofundará enfrentamemto contra adversários

• Parte da cúpula do partido entende que surtiu efeito a nova linha de ação de reagir sempre que houver ataques

Erich Decat - Agência Estado

A estratégia de enfrentamento e beligerância contra os adversários políticos, já conhecida como "bateu, levou", será aprofundada nas discussões da reunião da Executiva Nacional do PT marcada para esta segunda-feira, 26, em Brasília.

Parte da cúpula do partido entende que surtiu efeito a nova linha de ação de reagir sempre que houver ataques de integrantes da oposição ao governo, ao PT e à presidente Dilma Rousseff. Os petistas avaliam que, com as ações adotadas até aqui, saíram vitoriosos nesse período de pré-campanha, considerado internamente como o "primeiro round" das eleições.

"O enfrentamento que construímos se mostrou correto. E todas as iniciativas que nós tomamos se refletiram nos últimos dados, mostrando que a candidatura da Dilma se consolidou", afirmou o vice-presidente nacional do PT, deputado José Guimarães (CE).

A tática de despertar o "medo do passado" no eleitor será adotada em eventos do governo, especialmente nos discursos de Dilma e seus auxiliares, além de servir como orientação para líderes de partidos da base aliada.

O alvo prioritário dos petistas, no momento, é enfraquecer a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG), segundo colocado nas pesquisas eleitorais, atrás de Dilma. "O PSDB escolheu esse caminho, tirou o discurso do Eduardo Campos, e chamou o PT para briga. E nós os enfrentamos. Nesse primeiro round nós estamos ganhando", considerou Guimarães.

Na análise de alguns integrantes da cúpula do partido, a criação de uma linha mais combativa e a estabilização da presidente nas pesquisas também servirão de "combustível" para a militância até aqui "acuada" pelos ataques dos adversários.

Entre os alvos da ofensiva, passaram a fazer parte até o ex-atacante Ronaldo, que disse estar "envergonhado" com os atrasos das obras da Copa. Sem citá-lo, Dilma rebateu o ex-craque. "Não temos do que nos envergonhar e não temos complexo de vira-latas", afirmou para uma plateia de jovens.

A medida foi aplaudida dentro do PT. "Há até pouco tempo ela não respondia, o governo não respondia", avaliou Florisvaldo Souza, integrante da Executiva Nacional do PT. "O caso do Ronaldo é um exemplo positivo. Houve uma reação rápida. Ela matou a fala dele". O dirigente petista defende a manutenção dessa linha.

"Temos que debater o que tem que ser debatido e não deixar para depois, não ter que aguardar o resultado de pesquisas para saber como agir."

A linha de "matar o discurso" do adversário, também deverá ser adotada no caso da Petrobras, considerado como um símbolo do País e, atualmente, alvo de investigação por parte da Polícia Federal e de uma CPI no Congresso. "No caso da Petrobras, não tem aparecido novidades e as explicações do governo têm sido absorvidas pela população", afirmou Florisvaldo Souza.

A mudança no tom da campanha petista teve como ponto de partida o pronunciamento da presidente Dilma em cadeia nacional, no feriado de 1º de maio. Naquele momento, ela enfrentava queda nas pesquisas e a crítica de vários setores da base aliada no Congresso. A petista aproveitou o pronunciamento para lançar um pacote de bondades que inclui um reajuste de 10% nos valores do Bolsa Família e a correção na tabela do Imposto de Renda (IR). De lá para cá, a presidente tem seguido à risca estratégia construída pela cúpula da legenda e respondido, de bate pronto, a todos críticos de seu governo.

Centrais quebram domínio petista ao abrir palanques para Campos e Aécio

Com mais de 6 milhões de trabalhadores filiados, as cinco maiores centrais sindicais do País estão divididas em relação à eleição presidencial - diferentemente do que ocorreu em 2010, quando todas apoiaram a petista Dilma Rousseff. Há discordâncias até no interior de cada entidade.

João Villaverde - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Até agora, as três maiores delas - a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) - já contam com suas cúpulas envolvidas no apoio declarado a Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), respectivamente. O respaldo desse apoio nas bases, porém, não é pleno.

O melhor exemplo disso é a CUT, braço sindical do PT, partido da presidente. Com seus 2,2 mil sindicatos e 2,7 milhões de sócios, é a maior delas e majoritariamente pró-Dilma. Mas há insatisfações. "Os servidores estão muito magoados com Dilma, que não cumpriu as promessas políticas que a elegeram. Defendemos a neutralidade da CUT nestas eleições", disse Sergio Ronaldo da Silva, secretário-geral da confederação dos servidores federais, a Condsef, filiada à CUT.

O presidente da CUT em São Paulo, Adi dos Santos, argumenta, porém, que os servidores precisam compreender o quadro geral: "Não é possível sustentar esse distanciamento da presidente com o movimento sindical em um segundo mandato, mas, para nós, é indiscutível que Dilma encarna o melhor projeto para os trabalhadores brasileiros", defende. "Eles (os servidores) ganharam muito com Lula, é verdade, mas o que perderam com Dilma? Nada. O País é muito maior que a Condsef, a CUT e todo o movimento sindical, e isso precisa ser pensado na hora do voto".

Indicação. A Força Sindical também tem discordâncias internas sobre a sucessão. Segunda maior central do País, com 1,6 mil sindicatos e pouco mais de 1 milhão de filiados, seu principal líder, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SDD-SP), concedeu apoio formal de seu partido, o Solidariedade, para a campanha de Aécio Neves (PSDB). E sugeriu o nome de Miguel Torres, seu sucessor tanto na presidência da Força Sindical quanto no poderoso Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, para vice de Aécio.

"Em 2010, a Força esteve fortemente com Dilma, porque acreditávamos que haveria uma continuidade", disse Torres. "Lula conversava com as centrais, e chamava para falar e ouvir, mesmo quando fosse para negar uma proposta nossa. Dilma não recebe, e não fez política econômica boa. Os trabalhadores perderam poder de compra por causa da inflação."

Tanto Paulinho como Torres enfrentam resistências. O secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, tenta convencer os associados à central a votar em Dilma. Um dos seus aliados nessa opção é Jorge Nazareno, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, filiado à Força.

Para Nazareno, o projeto petista ainda é superior ao dos demais candidatos. "A dificuldade de diálogo com a presidente é real, e isso não é bom para os trabalhadores", disse o dirigente, que é filiado ao PT. "Mas o projeto do PT ainda é superior a todos os outros quando olhamos a pauta sindical. Ela só terá chances de avanço com Dilma."

Bases. As dissidências atingem ainda a terceira maior central, a UGT. Em 2010, parte da cúpula da central declarou apoio a Serra, mas a grande maioria dos filiados embarcou na campanha de Dilma. Agora, enquanto o presidente da entidade, Ricardo Patah (PSD), defende a reeleição da presidente, outros dirigentes, ligados ao PPS, preferem Eduardo Campos (PSB).

"Fizemos uma pesquisa, em nosso último congresso sindical, ano passado, e vimos que a maior parte da base vota no PT. É claro que parte da base é muito influenciada pelo que diz a central, mas todos têm suas ligações partidárias já definidas", pondera Patah, que também preside o Sindicato dos Comerciários de São Paulo. "Eu não tenho como direcionar o voto de todos os 480 mil comerciários da cidade, mas há influência, claro", disse.

A entrada da chapa Eduardo Campos e Marina Silva também é crescente na CTB, braço sindical do PC do B. Em 2010, a CTB estava de "corpo e alma" com Dilma, disse Joilson Cardoso, vice-presidente da entidade, "mas o quadro agora é totalmente diferente".

Segundo Cardoso, que também é secretário sindical nacional do PSB, "houve uma estagnação do projeto trabalhista no governo Dilma". Para ele, o apoio a Eduardo Campos tem sido crescente no movimento sindical, que renega "os anos de desemprego do PSDB de Aécio, e o atraso que é Dilma".

'Dilma criou desconforto com dirigentes ao delegar diálogo'

O Estado de S. Paulo

A falta de diálogo direto da presidente Dilma Rousseff com os líderes das centrais sindicais é o que explica o fato de as entidades estarem divididas em relação à próxima campanha, segundo o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Na sua avaliação, os líderes sindicais têm influência limitada sobre o voto dos trabalhadores que representam.

Qual dos pré-candidatos tem se mostrado mais próximo da pauta sindical?
Nenhum candidato, isoladamente, terá força política para implementar uma agenda que implica custos para o empresariado e o próprio governo. Ao analisar o nível de comprometimento desses candidatos deve-se ter em conta os grupos políticos que os apoiam. No caso do PT, Lula conseguiu avançar em algumas matérias e Dilma em outras, do ponto de vista sindical. O grupo ao redor dos dois conseguiu empurrar medidas como a lei de valorização do salário mínimo, a correção da tabela de Imposto de Renda, a ampliação do aviso prévio, a PEC das empregadas domésticas e outras.

Se há manutenção do projeto de Lula, que foi apoiado por todas as centrais, por que agora elas estão divididas?
O governo Lula uniu todo o movimento sindical em torno dele e deu tratamento político de diálogo direto com os presidentes das centrais. Dilma, embora tenha feito mais medidas pró-sindicatos do que seu antecessor, com 13 medidas de 2011 até hoje, acabou delegando o diálogo para outros atores de seu governo. Ela não é do ramo, realmente. Isso criou nos dirigentes um desconforto, porque havia acesso direto antes. As centrais se dividiram, apoiando candidatos distintos. Na minha avaliação, isso é uma reação ao comportamento da Dilma de não receber diretamente.

Há transferência de voto do líder sindical aos trabalhadores por ele representados?
Essa transferência não é automática. De fato, o sindicato exerce muito mais influência sobre seus filiados do que sobre seus não filiados. O índice de sindicalização está em torno de 20% no Brasil. Então, sobre esses 20%, a transferência é direta mesmo. Já o não filiado não tem maiores simpatias pelo sindicato e muito menos pela liderança, embora se beneficie dos aumentos salariais conquistados. De qualquer maneira, como as causas defendidas pela liderança sindical coincidem com a dos trabalhadores, é razoável que alguma influência aconteça.

Como o senhor vê a situação da CUT, que tem sofrido críticas de outras centrais por participar ativamente do governo?
De fato, a CUT exerce influência muito grande no governo federal, desde 2003. Ela tem o poder de filtrar algumas propostas ruins para os trabalhadores, o que não é necessariamente perceptível, porque se dá internamente, na burocracia do governo. A situação da CUT é um tanto quanto delicada porque, ao mesmo tempo em que ela tem que dar satisfação aos trabalhadores, ela precisa preservar seu aliado, que é o governo.

Sem Marina, campanha do PV será de vanguarda

Daniela Garcia – Correio Braziliense

Pré-candidato à Presidência da República pelo Partido Verde, Eduardo Jorge, 64 anos, promete que a campanha deste ano terá um programa de governo nada conservador. Ex-deputado federal por São Paulo, o médico sanitarista disse que defenderá tanto o aborto como a legalização de drogas. Ele afirmou que, com a saída da ex-senadora Marina Silva do PV, a legenda agora está livre para defender "ideias de vanguarda".

Na candidatura de Marina à Presidência em 2010, o partido conseguiu 20 milhões de votos. Em entrevista ao Correio, Eduardo não respondeu se terá cacife para alcançar a marca das eleições passadas, mas garante que, além do plano de governo, pretende tomar atitudes diferentes da atual pré-candidata a vice-presidente pelo PSB. E, no caso de um segundo turno, o médico afirma que a legenda escolherá um candidato para apoiar. "Eu, pessoalmente, vou ter a mesma posição que eu tive em 2010. Eu fui o único na reunião com a Marina que foi contra aquela história de se omitir. Aquela posição infantil de dizer: "se o povo não botou a gente no segundo turno, não quero mais brincar". Isso foi um erro."

Além de deputado, Eduardo também exerceu o cargo de secretário de Saúde de São Paulo, quando Luiza Erundina foi prefeita, de 1989 a 1993, e na gestão da petista Marta Suplicy. Ele foi membro do Partido dos Trabalhadores até 2003. Já filiado ao PV, entre 2005 e 2012, a convite do então prefeito José Serra (PSDB), passou a responder pela pasta municipal do Meio Ambiente. Desde o fim de 2013, ele trabalha como médico sanitarista no governo paulista de segunda a sexta-feira. Nos outros dias, ele tem se dedicado aos encontros regionais do PV para discutir as diretrizes do plano de governo.

Três perguntas para Eduardo Jorge, médico e presidenciável pelo PV

Quais são as diretrizes principais para a campanha deste ano?
Às vezes, existe um estereótipo que quer nos prender a uma espécie de gueto verde, "esses aí são do partido da selva, da defesa da Amazônia, dos rios". Mas o que nós queremos mostrar é que a sustentabilidade deve atravessar todas as outras diretrizes. A principal diretriz é essa: a sustentabilidade em todos os campos, para o equilíbrio socioeconômico ambiental, nesse diálogo com todas as outras políticas públicas. E a segunda diretriz é a necessidade de uma reforma política profunda no Brasil.

O senhor acredita que tem força para conquistar 20 milhões de votos como fez a Marina Silva na campanha de 2010?
Cada eleição tem sua história. Na outra eleição, era o PT versus PSDB. Todos os outros insatisfeitos vieram para a nossa campanha, porque éramos uma espécie de coligação PV com Marina. Marina se filiou ao PV, mas ela, na verdade, não era do PV. Marina é uma instituição, uma moça muito importante na área ambiental do mundo inteiro. Foi uma campanha belíssima. Pela característica do PV e da Marina, já que nós tínhamos o voto do ambientalista radical ao pastor mais reacionário.

O que terá de diferente nessa campanha?
O PV agora pode vir com o seu programa mais completo. Voltam as teses mais comportamentais que conflitavam com a visão conservadora e religiosa da Marina. Por exemplo, uma política mais inteligente para a questão das drogas. Queremos algo semelhante ao que Estado já faz com o álcool e o tabaco, em que ele (governo) explica que, se for usar, use muito pouco, com determinados cuidados. A partir dessa regulação, eu posso dizer: "em vez de você usar maconha, é melhor que se interesse por literatura, música, por observação de pássaros, vá passear na praia".

"Aezão" desagrada aliados de tucanos

Renata Batista e Guilherme Serodio – Valor Econômico

RIO - A estratégia do pré-candidato Aécio Neves (PSDB) de se aproximar do PMDB de Sérgio Cabral e Jorge Picciani incomoda - e afasta - alguns dos mais tradicionais aliados do partido e principais lideranças tucanas no Rio. O PV já declarou apoio ao PT e terá a vice na chapa do senador Lindbergh Farias, no melhor estilo "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". No DEM, o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, espera o apoio do PSDB à sua candidatura ao governo estadual, mas o arranjo orquestrado nacionalmente não exigiria a exclusividade de Aécio no Estado.

Internamente, nenhum dos acordos - nem com o DEM nem com o PMDB - parecem empolgar os dirigentes locais do PSDB, como Luiz Paulo Corrêa da Rocha e Otavio Leite. Na falta de um nome de peso, como o técnico de vôlei Bernardinho, ambos ainda prefeririam uma derrota certa na disputa estadual a uma aliança com o grupo político do PMDB, ao qual se opõem há 15 anos, quando Marcello Alencar (PSDB) deixou o Palácio Guanabara.

Apesar da insatisfação, o cientista político Cesar Romero, da PUC-Rio, avalia que a estratégia de Aécio de apostar em uma aliança suprapartidária com o PMDB é a sua melhor cartada no Estado. Na sua visão, o movimento do "Aezão", como está sendo chamada a aliança informal que reúne o apoio de parte do PMDB fluminense à candidatura de Aécio no plano nacional e ao governador Luiz Fernando Pezão, no Rio, é expressão da fraqueza do PSDB no Estado.

"Na falta de uma candidatura expressiva, o partido tem que buscar uma base que não é sua e, no Rio, quem tem máquina é o PMDB", diz Romero. "Oficialmente Aécio não conta com nada de muito relevante ao apoiar a candidatura do Cesar Maia, mas, na prática, ele pode vir a contar com a máquina do PMDB".

Na semana passada, o deputado federal Otavio Leite foi cauteloso ao se apresentar em um debate de pré-candidatos ao governo estadual e fez questão de frisar que estava ali como representante do PSDB para apresentar as ideias programáticas do partido.

De olho no apoio dos tucanos, Cesar Maia aproveitou para reforçar a posição - frágil - de Leite. Já o pré-candidato pelo PR, Anthony Garotinho, foi mais explícito e acenou: "Vem pra mim!"

Para Romero, esse assédio é resultado do quadro eleitoral no Estado, que ainda é muito nebuloso. Os principais jogadores no tabuleiro querem fazer seus movimentos tendo uma visão mais nítida da corrida presidencial e aguardam o resultado das pesquisas eleitorais. "É possível que o Pezão faça juras de amor à [presidente e candidata à reeleição] Dilma [Rousseff] e vice-versa, mas nenhum dos dois de fato confia no outro nessa articulação", diz.

Integrantes do PSDB no Estado assumem que a prioridade do partido no Rio não é o apoio ao DEM de Cesar Maia, mas a aliança suprapartidária com o PMDB.

"O PSDB se orienta na direção daquilo que seja mais útil para ter votos para o Aécio e hoje não temos nenhum nome que seja eleitoralmente viável", diz um cacique do partido. "Hoje Picciani é o maior poder político do Estado do Rio e este apoio é nosso e está acabado. Um eventual candidato nosso seria só para marcar posição", complementa.

Desde que o PSDB não conseguiu emplacar Bernardinho na corrida estadual, integrantes do partido no Rio já se reuniram ao menos duas vezes com Picciani para acertar seu apoio. Aécio esteve também na cerimônia de casamento de Picciani. Em todas as oportunidades, o envolvimento da bancada do PSDB no Estado, porém, foi tímido. "Há um constrangimento em apoiar um grupo ao qual fazem oposição desde que o Cabral era presidente da Alerj [Assembleia Legislativa do Rio]", diz um observador.

No PV, o discurso oficial indica que a decisão de apoiar Lindbergh também foi motivada pelo incômodo com a aliança entre Aécio e o PMDB. "Tivemos papel protagonista [em chapas] em todas as últimas eleições, sempre disputando o segundo turno com o PMDB. Nosso opção foi manter esse protagonismo", diz o pré-candidato a vice-governador na chapa de Lindbergh, Roberto Rocco (PV).

Aécio Neves monta time de estrelas jurídicas para guerra política durante a campanha eleitoral

• Time inclui três ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e especialistas em Direito na área digital

• Ataques virtuais ao senador teriam partido de órgãos públicos, diz advogada

Julianna Granjeia e Renato Onofre – O Globo

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência da República, montou um time de estrelas jurídicas — que inclui três ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e especialistas em Direito na área digital — para a guerra política que vai ser travada durante a campanha eleitoral. Cada um terá uma área específica de atuação. O núcleo digital da defesa do senador descobriu que parte dos ataques virtuais à imagem do tucano partiu de dentro de órgão públicos, como a Eletrobras e a prefeitura de Guarulhos, comandada há 14 anos pelo PT.

- Identificamos uma atuação simultânea contra o senador Aécio Neves em diversos pontos do país. Muitos partindo de computadores situados em órgãos públicos. Inclusive já temos comprovação de que um dos ataques partiu de dentro da Eletrobras - afirmou a advogada Juliana Abrusio, do escritório Opice Brum.

De acordo com Juliana Abrusio, a utilização de computadores da estatal para ataques ao senador não é o primeiro identificado num órgão público. Ontem, a “Folha de S. Paulo” publicou que Aécio foi vítima de ações que partiram de computadores da prefeitura de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo.

Procurada pelo GLOBO, a assessoria de imprensa da prefeitura de Guarulhos informou que foi aberta uma investigação para apurar a denúncia. Ainda de acordo com a assessoria, a prefeitura desconhecia o uso das instalações municipais para ataques a políticos.

- Há uma atuação simultânea, em locais diferentes, utilizando perfis compartilhados Ou seja, o mesmo perfil é acessado por pessoas em diferentes cidades, o que representa uma organização. Há evidências de que esses grupos agem como quadrilhas virtuais - acrescentou a advogada.

A descoberta aconteceu depois que Aécio conseguiu, na Justiça, quebrar o sigilo contratual de clientes de 27 empresas que prestam serviços relacionados à internet, com o objetivo de descobrir quem estava por trás de páginas com o nome “Aécio Boladasso”.

Segundo Juliana, já é possível dizer que há uma rede coordenada para fazer ataques virtuais ao pré-candidato tucano em diversos estados.

- Contratamos peritos para avaliar e investigar as contas criadas para denegrir a imagem do senador. Estamos assustados com o número de ofensas virtuais que já estão acontecendo - disse a advogada.

Além de Juliana, o advogado Renato Opice Blum também estará atento ao uso de técnicas como robôs virtuais para viralizar boatos contra o tucano.

Eleição judicializada
Há outros cinco juristas sob a coordenação do deputado Carlos Sampaio (SP). Os ex-ministros do TSE Carlos Eduardo Caputo Bastos e Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira serão responsáveis por cuidar dos assuntos relacionados ao tribunal em Brasília. O advogado José Eduardo Rangel de Alckmin, que também foi ministro do TSE e é primo do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vai cuidar dos recursos nos estados e acompanhar os candidatos a governador.

Já o ex-subprocurador-geral da República José Roberto Figueiredo Santoro, que tem bom trânsito no Ministério Público Federal, vai atuar na área criminal e nos casos de improbidade administrativa.

- A eleição será muito judicializada, trabalhar com o PT em uma disputa nacional é muito difícil, eles tangenciam a legalidade sem nenhum receio. Por isso, optei por organizar uma forma metodológica de trabalho em equipe. Um não vai interferir no trabalho do outro, mas todos vão trabalhar de forma conjunta e complementar. Apesar das competências específicas, todos serão ouvidos, e faremos conferência quando tivermos um debate maior - explica o deputado Carlos Sampaio, que também é advogado.

Auxiliando o parlamentar na coordenação jurídica da campanha estão os advogados Flávio Henrique Pereira da Costa - da liderança do PSDB na Câmara - e o advogado Gustavo Kanffer, que defende o partido.

Aécio Neves: O fim da miséria

- Folha de S. Paulo

Não existe um único brasileiro que não queira o fim da miséria no país.

Este é um desafio que precisa ser enfrentado com responsabilidade e requer que o compromisso com a propaganda não supere o compromisso com a transformação da dura realidade vivida por milhões de pessoas no país.

Para que a miséria de fato seja vencida é preciso garantir proteção integral à família contra desproteções econômicas, sociais e comunitárias que desagregam o núcleo mais importante da sociedade.

Ao contrário do que entende o governo federal, a miséria não pode ser identificada apenas pela ausência de renda. O PSDB defende duas visões e compromissos para enfrentar esta questão:

a) No campo da renda, além da manutenção atual do Bolsa Família, buscamos o que foi pactuado nos Objetivos do Milênio no ano 2000 e que, apesar de anunciado pelo governo federal em 2011, não vem sendo cumprido: que nenhum brasileiro tenha renda inferior a 1,25 dólar/dia.

b) Adotar o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que mede a pobreza a partir das privações de saúde, educação, moradia e qualidade de vida. O IPM leva em conta um conjunto de ausências que vão muito além da ausência de renda.

Minas Gerais foi a primeira unidade subnacional (Estado) do mundo a pactuar com o Pnud, em 2011, o uso do IPM para identificar as famílias e as comunidades em situação de extrema pobreza.

Precisamos mapear os territórios brasileiros e o risco social das famílias. Temos que trabalhar com inteligência e com metas para que possamos afirmar que uma área não tenha mais analfabetos e moradias inseguras, que todas as crianças e adolescentes estão estudando e que todas as famílias são acompanhadas por equipes sociais. Isso, sim, significaria o fim da miséria.

Precisamos construir o caminho para uma verdadeira transparência cidadã em que todos os brasileiros inscritos no Cadastro Único sejam informados anualmente de seus direitos sociais ainda não conquistados.

Um sistema direto de informação, com gestão social de um conselho formado por usuários, trabalhadores sociais, gestores e Ministério Público. As famílias precisam conhecer os direitos que não estão vivenciando.

Que a criança tem direito a uma vaga na escola, que o adulto pode voltar a estudar e que a moradia em que vivem não está segura.

Todos os brasileiros devem ter o direito de deixar de ser pobres. A pobreza não pode ser uma herança, não pode ser uma condição intransponível.

A superação real da miséria se dará quando de fato as famílias tiverem plena educação, pleno trabalho e autonomia em relação à dependência estatal.

Aécio Neves, senador(MG) e presidente nacional do PSDB

*Luiz Sérgio Henriques: O 'maracanazo' antes da Copa

• Algo deu errado na receita da celebração: eis-nos às voltas com o complexo de vira-latas

- O Estado de S. Paulo

Nesta altura dos acontecimentos, segundo a previsão de quem concebeu a transformação do País e de um sem-número de suas principais cidades em palco de um evento global como a Copa do Mundo, o clima psicossocial - para usar um termo de tristes tempos, que têm deixado sua marca retórica até mesmo nos discursos presidenciais - deveria ser de festa e celebração. Uma grande corrente pra frente coroaria uma década, ou pouco mais, de êxitos sociais retumbantes e, como decorrência, manteria junto à bandeira do escanteio uma oposição à míngua de propostas e lideranças: uma oposição carcomida, sitiada num gueto "neoliberal", incapaz de compreender um tempo de revolução social, de mobilidade e gestação de novas classes médias, de prosperidade e expansão do consumo privado.

Não faltou quem insinuasse a perenidade da nova ordem ou a projetasse até os fastos de 2022, quando, simbolicamente, o País se daria conta de que sua face cruel e excludente, velha de 500 anos, teria ficado perdida para sempre em algum espelho do passado. A poucas semanas da Copa, porém, todas essas fantasias parecem caducas. Se a sorte da pátria de chuteiras está nos pés de Neymar e companhia, a quem só se pode desejar o êxito das magistrais gerações anteriores de Garrincha, Pelé ou Gerson, há laivos de imprevisto maracanazo na visão que temos de nós mesmos, como sociedade e comunidade política, e na visão que projetamos para os outros, a tal "imagem do Brasil no exterior", para recorrer novamente ao léxico de antanho.

Alguma coisa deu errado na receita da celebração: eis-nos às voltas com o renitente complexo de vira-latas, de rodriguiana memória, chamados a encarar as duras realidades de uma "sociedade incivil". Nesta última, que constitui a trama concreta do cotidiano de milhões de (sub)cidadãos, o que se eterniza é, antes, a precariedade dos serviços públicos e a improvisação das políticas, remendadas por "projetos de impacto", a exemplo da importação de médicos ou paramédicos, como se nessa dimensão - serviços públicos e políticas sociais - não estivesse em jogo um aspecto decisivo da luta hegemônica que deveria ser a preocupação essencial de uma esquerda com vocação dirigente, à moda "ocidental", sem flertes com as "democracias autoritárias" que nos rodeiam. Ou alguém duvida de que um sistema público de saúde com gestão modelar modificaria em sentido luminoso o modo de vida dos brasileiros, com ampla repercussão na sociabilidade e mesmo na elevação da renda real?

Em vez da luta hegemônica, temos uma política partidária frequentemente mesquinha e permeada de estéril conflituosidade. O grande partido social-democrata, entre nós, dividiu-se em metades inconciliáveis por toda uma época histórica que podemos datar da Constituição de 1988; e a reconciliação das duas metades nem sequer está à vista.

O primeiro ramo da social-democracia, que de todo modo nos legou o controle do processo inflacionário ainda no governo "peemedebista" de Itamar Franco, operou certamente nas condições de crise do nacional-desenvolvimentismo e de ajuste à impetuosa globalização dos anos 1990, o que teria implicado, em qualquer circunstância, reformas favoráveis ao mercado. Mas, exceção feita a um ou outro de seus expoentes, jamais se penitenciou da confiança desmedida nos mecanismos de mercado que arrastou os social-democratas da terceira via, como o reconheceram Bill Clinton e Massimo D'Alema.

Fundamentalmente, comportou-se como uma cabeça sem corpo, um conjunto de personalidades respeitáveis que não logrou lançar raízes e se articular capilarmente com a sociedade, assim desatendendo a um requisito essencial da política de massas, na qual os partidos são "a democracia que se organiza". A húbris - a desmedida - se revelaria ainda na intenção anunciada de permanecer 20 anos à frente do governo, para reformar o Brasil, e na desastrada emenda da reeleição, implantada, ainda por cima, sem os cuidados que levaram a democracia norte-americana a limitar mandatos presidenciais no pós-guerra, mesmo considerando a importância histórica do reformismo rooseveltiano.

Corpo sem cabeça, ou com uma cabeça majoritariamente atrasada, não obstante o trabalho intelectual que cercou o seu nascimento, é como muitas vezes se comporta o segundo ramo da social-democracia. Partido originalmente de massas, com forte enraizamento sindical e laços "orgânicos" com a intelligentsia, que lhe deu uma teoria do Brasil classista e antipopulista, esse ramo conhece o descomedimento de forma inversa e simétrica ao primeiro. Suas ações à frente do Estado parecem reciclar vetusto lema revolucionarista: "Temos o governo, ainda não temos o poder". Mas a ocupação do poder não tem - historicamente não pode ter - o sentido de outrora, o da construção de um novo modo de produção e da "transição para o socialismo". Por isso se estiola em acordos sem programa mediante os quais, paradoxalmente, se legitima toda a política patrimonialista, desde que as armas estejam apontadas contra a primeira fração - "neoliberal" - do grande partido social-democrata que não temos.

O travo amargo de maracanazo terá origem nessa política manca, que se reitera a cada rodada eleitoral e afeta violentamente a qualidade do discurso público, alimentando o fanatismo, o sebastianismo e vícios correlatos de secular memória. Não há estratégias de aggiornamento econômico nem de inclusão social que alterem este sentimento de derrota.

Até que progredimos um pouquinho, como dizia o poeta da Pauliceia Desvairada: afinal, progredir também é uma fatalidade. Mais problemático é saber se temos uma cidadania vibrante, livre de tutela, capaz de dar mais do que o consenso passivo na hora da bonança ou de explodir em fúria na hora inevitável das dificuldades.

*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das 'obras' de Gramsci no Brasil

José de Souza Martins:O variável humor das ruas

• Neste maio de 2014, o sujeito dominante das manifestações coletivas não usa máscara porque ele próprio é a máscara

- O Estado de S. Paulo – Caderno Aliás

As manifestações deste maio de 2014 não repetem as de junho de 2013. São outra coisa, ainda que variantes do mesmo estado de inquietação social. Junho de 2013 indicou que a paz do pacto político de 2002 chegava ao fim na brecha que se abria no conformismo dele decorrente. Em maio de 2014 a brecha continua aberta, ocupada por outros personagens. Agora são os sindicalizados, até então submissos aliados do poder, que puxam o cordão do protesto. A ruptura de 2014 mudou a chave dos significados das ocorrências. O cenário é outro, pois inclui dois eventos habitualmente de conciliação, as eleições e a Copa, planejada apoteose de um partido e seu governo, que, no entanto, se realizarão num cenário invadido por novos e hostis coadjuvantes.

Em junho de 2013, o sujeito das manifestações era um sujeito difuso e não institucionalizado. Um sujeito que fazia questão de dizer-se não partidário e recusava bandeiras ideológicas. Sua identidade era a do sem rosto, nas máscaras que participantes usavam. Todos os indícios são de que, apesar das aparências, esse sujeito continua atuando, ainda que nos interstícios das manifestações dos outros. Foi o que se viu na quinta feira, em São Paulo: a manifestação conjunta dos anti-Copa com os sem teto, enquanto ocorria a tumultuada greve dos ônibus e a marcha dos professores municipais. É o primeiro sinal do que Henri Lefebvre chama de coalização dos resíduos, a dos insubmissos que não foram cooptados, os que falam em nome de outra ordenação social.

O sujeito coletivo que aí se manifesta o faz não só quando menos se espera, mas também para reivindicar o que os enquadrados da ordem dominante não esperam nem reivindicam. Fazem-no em nome do que menos tem sentido nas análises políticas convencionais: 20 centavos de aumento na tarifa de ônibus entornaram o caldo das interpretações viciadas nos grandes números e nos grandes acontecimentos. As miudezas próprias da vida cotidiana não se explicam pelo convencionalmente explicável. Elas se propõem como enigma.

Neste maio de 2014, o sujeito dominante das manifestações coletivas tem cara, nome e até endereço. Não usa máscara porque ele próprio é a máscara. São entidades sindicais e corporativas, as das reivindicações previsíveis e compreensíveis. Não raro são cúmplices do que questionam, como os desmandos que culminam na inflação alta, na corrosão dos salários, nas carências que não são as do catálogo do Fome Zero. Em 2013, o povo supostamente manso, diluído no sistema de cooptações que enquadrou a sociedade inteira nas conveniências do poder e do partido que governa, deu o primeiro aviso de que mansidão tem limite. A surpresa é que, em 2014, a forma é outra, mas o recado é o mesmo: a cumplicidade tem o seu dia de basta.

Se há essa convergência entre 2013 e 2014, há uma divergência que dá bem a medida da gravidade do que está ocorrendo: em 2013, a rua falou em favor do povo, de algo que tinha sentido para a maioria do povo; em 2014, a rua fala contra o povo, em nome de grupos restritos e de seus interesses corporativos. A Polícia Militar de Pernambuco abriu as portas da cidade do Recife à baderna e ao saque ao cruzar os braços. Em São Paulo, os trabalhadores dos transportes coletivos puniram quem trabalha e vive nas condições adversas da periferia, da jornada de trabalho duplicada pela agonia do transporte insuficiente. A informação oficial de uma reunião entre gente de uma cooperativa de ônibus e gente do crime organizado, em março, mostra grave mudança no eixo das reivindicações. Esta greve de 2014 deixou de ser greve para se tornar anárquica manifestação de rua, para punir e indiretamente agredir o usuário do transporte. Usaram a reivindicação trabalhista para aterrorizar a população e colocá-la a serviço dos impasses laborais. É um modo de por a sociedade de joelhos, coisa de feitor de senzala, de quem não sabe negociar e até acha que não precisa.

É nesse cenário que caminhamos para os eventos que nos esperam: um deles a Copa do Mundo. As Copas tem sido aqui um momento litúrgico de reafirmação da identidade nacional. Acompanhei nas ruas as Copas do Mundo desde a de 1994. Naquele ano, no centro de São Paulo, onde uma multidão acompanhava os jogos num telão do Anhangabaú, não houve um único crime durante todo o mês do evento. Questionar os absurdos gastos do governo com a Copa é mais do que compreensível num país que alega ter uma multidão de famélicos e resolve os problemas sociais com o suborno do Bolsa Família. Mas questionar, por tabela, o sentido de comunhão que o espírito da Copa encerra é opor-se a um povo que historicamente prefere o encontro ao conflito.

Já em relação às eleições, a coisa é mais complicada. O País para elas se encaminha sem uma proposta de novo pacto político, que as próprias manifestações sugerem, sem um projeto de nação, de que carece. À vista dos acontecimentos destes últimos doze meses ninguém sabe o que vai sair das urnas e, menos ainda, o que nelas vai entrar.

José de Souza Martins é sociólogo e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Entre outros livros, é autor de 'A política do Brasil Lúmpen e místico' (Contexto)

Ricardo Noblat: Eleição.com

• “O Brasil é um grande cemitério de obras inacabadas por toda a parte”
Aécio Neves, pré-candidato do PSDB a presidente

- O Globo

A deste ano será a eleição das redes sociais, aquela onde os candidatos travarão a mais cruenta batalha pelo voto desde que a internet começou a ser utilizada comercialmente no Brasil em 1995. Certo? Errado.

Os políticos estão longe de saber explorar a maioria dos recursos que a internet oferece. Se muito, o “santinho” impresso distribuído entre os eleitores cedeu lugar ao “santinho” eletrônico.

“Santinho” é um tipo de panfleto com a foto e o número do candidato. Interagir com as pessoas é o recurso da internet que mais pode servir a caçadores de votos. E, no entanto...

No entanto, é o que eles menos sabem fazer. Na maioria das vezes, limitam-se a postar mensagens por meio de assessores. Quase nunca estão disponíveis para discutir o que pensam. Nem refletem sobre o que os internautas dizem.

A BITES Consultoria, empresa com sede em São Paulo, monitora as redes sociais.

A meu pedido, ela compilou dados do Facebook e do Twitter entre primeiro de janeiro e anteontem, e do Google somente em abril, relativos aos três principais aspirantes a presidente da República na eleição de outubro próximo – Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Juntos, em números redondos, eles atraiam no Facebook 2.185.000 fãs até às 16 horas do sábado. Quer dizer: alcançavam apenas 2% dos usuários do Facebook, que tem 92 milhões de contas ativas no Brasil.

Campos liderava com 952 mil fãs, seguido por Aécio com 714 mil e Dilma com 520 mil. A página do guaraná Antártica conta com 17 milhões de fãs.

Volume de fãs é um dado que deve ser ponderado porque qualquer um pode fazer publicidade no Facebook e aumentar sua audiência. Campos e Aécio parecem estar procedendo assim.

A BITES valoriza mais o percentual de compartilhamentos sobre cada mensagem postada em nome dos candidatos. Nesse caso quem lidera é Dilma com uma taxa de 26%. Campos e Aécio empatam com 18%.

Dilma foi citada no Twitter 1,9 milhão de vezes no período pesquisado, Aécio, 390 mil e Campos 142 mil. No mês passado foram feitas no Google 131.480 buscas sobre Dilma, 81.030 sobre Campos e 33.360 sobre Aécio.

O nome de Campos costuma aparecer associado ao de Marina Silva, que deverá ser sua vice. Marina foi o terceiro candidato a presidente mais votado na eleição de 2010.

Eu quis saber, em resumo, se os três candidatos entraram de verdade no jogo digital. Ou se estão fazendo cena como tantos fizeram em eleições anteriores.

Resposta de Manoel Fernandes, Diretor-Executivo da BITES: “Tudo indica que fazem cena. Há muitos gastos em publicidade digital e pouco resultado político. Os candidatos carecem de uma estratégia consistente de ocupação dos espaços digitais”.

Em breve, a BITES divulgará pesquisa sobre o universo das redes sociais alcançado pelos três Poderes da República – Legislativo, Executivo e Judiciário. O resultado é modesto.

Cerca de 64,5 milhões de eleitores aptos a votar em 2012 tinham acesso à internet. Mas até 16 de abril último, os Poderes só falavam com 30% deles. Ou em números absolutos, 19,5 milhões.

Em 25 dos 27 Estados, o eleitorado com acesso à internet é superior a 30%. Pois só 18% dos deputados federais atingem acima de 1% do eleitorado com acesso à rede em seus Estados.

Entre os 20 campeões em número de seguidores, cinco deputados são do Acre e um do Rio – Romário (PSB). Nenhum é de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, os maiores colégios eleitorais do país junto com o Rio.

José Roberto de Toledo: Pior é melhor para Aécio

• Dos 20 pontos do tucano no Ibope, 12 vêm de quem acha o governo ruim ou péssimo

- O Estado de S. Paulo

Pensando nas últimas semanas, qual a história da eleição? Dilma Rousseff (PT) parou de cair e parece ter encontrado seu chão em 40%. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) cresceram, para 20% e 11%, após aparecerem na TV. Converteram eleitores que antes prometiam votar nulo, em branco ou estavam indecisos. O que o passado conta serve para o futuro? É possível projetá-lo?

Sim, desde que se aceite que as condições à frente serão as mesmas de trás. Mudanças na conjuntura econômica, sucesso ou fracasso estrondosos da Copa invalidarão as projeções com base no passado. Ainda assim, o exercício é útil para entender a tática dos candidatos diante das tendências do jogo até agora.

A Dilma de 2014 não é a mesma desconhecida de 2010. Antes, bastava Lula martelar seu nome. Quanto mais ele repetia, mais ela crescia. Quatro anos e um governo depois, Dilma é conhecida por 90% dos eleitores - e quase metade de quem a conhece diz que não votaria nela. Na balada atual, quanto mais ela aparece sem Lula, pior é. O ex-presidente ainda é seu maior eleitor.

O teto de crescimento de Dilma cai desde o fim do ano passado. Em setembro, segundo o Ibope, a presidente batia a cabeça nos 56% (33% diziam que votariam nela com certeza, e outros 23%, que poderiam votar). O teto baixou para 51% em abril e chegou a 47% em maio. Ao mesmo tempo, quem diz que não votaria nela de jeito nenhum foi de 34% para 43% do eleitorado.

O achatamento entre o piso e o teto eleitorais de Dilma reflete a polarização das avaliações sobre o governo. Mais brasileiros acham sua gestão ótima/boa ou ruim/péssima. Os que diziam "regular" estão murchando. Ficar em cima do muro não é mais tão confortável. A pressão social dos seus pares e a propaganda estão forçando o eleitor a descer para um lado ou outro.

Em maio, a taxa de ruim/péssimo do governo bateu recorde desde que Dilma é presidente. Chegou a 33%. Desse cardume, o governante nunca pesca mais do que 5% de eleitores. Estão num barril onde os anzóis da oposição fisgam muito mais votos. E quem tem tido mais sorte na pescaria, Aécio ou Campos?

Quanto pior, melhor para o tucano. No Ibope, entre abril e maio, Aécio cresceu de 21% para 35% no terço do eleitorado que desaprova o governo Dilma. Agregou 14 pontos. Ao mesmo tempo e no mesmo barril, Campos pegou mais 7 pontos e chegou a 15%. Como ainda há, nesse segmento, 10% de indecisos e 28% que declaram voto branco/nulo, é o tucano quem mais pode encher seu bornal.

Dos 20 pontos de Aécio, 12 vêm de quem acha o governo ruim ou péssimo - o dobro de pontos que o tucano conseguia até abril nesse segmento. Isso significa que quanto mais gente avalia pior o governo, mais eleitores Aécio ganha em proporção a Campos - e, por tabela, maiores suas chances de ir ao segundo turno.

A pescaria já estaria perdida para o ex-governador de Pernambuco, não fossem os 30% que seguem no meio do caminho entre a simpatia e a ostensiva rejeição ao governo Dilma. Desde abril, Campos dobrou de 7% para 14% entre quem acha o governo regular, enquanto Aécio ficou em torno de 20%. Campos mostrou potencial para crescer nesse eleitorado. Já o tucano parece ter batido no teto ali. Mas há dois problemas para o pernambucano.

À medida que o barril do "regular" esvazia, há proporcionalmente menos eleitores para Campos fisgar. E a concorrência com Dilma entre esses eleitores é mais dura: a presidente tem o voto de um terço dos que acham seu governo mais ou menos.

O passado aponta um futuro em que Dilma e Aécio forçarão a radicalização do eleitorado, apostando num duelo de um contra o outro. Para seguir no jogo, Campos fará o discurso oposto, nem tanto ao mar nem tanto à terra - e tentará provar que tem mais chance do que Aécio de vencer Dilma no segundo turno.

Valdo Cruz: Milagres da eleição

- Folha de S. Paulo

Ao longo de seu mandato, a presidente Dilma mostrou-se mestre em colecionar, com seu estilo polêmico de governar, qualificações nada abonadoras.

Foi chamada, por inimigos e até por aliados, de intervencionista, beligerante, dona da verdade, inábil politicamente, gerente nem tão boa assim como venderam e por aí vai.

Agora, como num passe de mágica, uma nova faceta presidencial começa a surgir. Foi o que descobriram 36 empresários que se reuniram com ela na semana passada. Todos saíram "muito bem impressionados" com a nova Dilma.

Um deles assim definiu o encontro: "Entramos pessimistas pelo histórico de nossas reuniões e saímos otimistas. Era outra presidente. Atenciosa, prometendo estudar com muito carinho nossas demandas. São os milagres da eleição".

Outro, acostumado com o estilo carrancudo da presidente, revelou estar surpreso com a transformação dilmista: "Ela estava mais interessada em nos ouvir do que ficar falando e falando, como sempre costumava fazer. Estou bobo".

O novo estilo presidencial, apesar de bem-vindo por quase todos que andam frequentando os palácios da capital nos últimos dias, chega um pouquinho tarde.

A confiança dos empresários e dos consumidores na economia anda roçando o chão. Resultado: investimento devagar, quase parando, e consumo em ritmo bem lento, o que vai dar em crescimento fraco no ano eleitoral.

Sem falar que súbitas transformações costumam deixar interlocutores ressabiados. Afinal, promessas em tempos de eleição costumam virar fumaça depois. É preciso mais ação e menos encenação.

Do lado de sua equipe, a mudança da petista é festejada. A chefe precisa recuperar o apoio de parte do empresariado perdido para seus adversários. Aí, antes tarde do que nunca. Sem falar que o clima no Planalto fica mais agradável.

Renato Janine Ribeiro: À espera de uma surpresa

• Nossa política em seu momento mais vulnerável

- Valor Econômico

A campanha parece estar chegando a uma certa estabilidade na instabilidade, que dificilmente sofrerá mudanças sensíveis antes de começar - depois da Copa - o período que os pernambucanos chamam de "guia eleitoral", isto é, a propaganda na TV e no rádio. A não ser que haja um imprevisto enorme - e o problema é que estamos vulneráveis a surpresas.

O que sabemos: que Dilma Rousseff está perto de ser reeleita no primeiro turno ou de ficar para o segundo - isto é: tudo é possível, tudo está por um fio. Aécio Neves pode ganhar, se chegar ao segundo turno e conseguir a transferência dos votos de Eduardo Campos. Ou seja, o quadro só se definirá perto das eleições. Mas há um dado difícil de mudar: Eduardo não se diferenciou de Aécio. Ele se portará como um coadjuvante na eleição, salvo uma reação enérgica, que está tentando mas até agora sem êxito. PT e PSDB conseguiram marcá-lo na oposição. Os petistas o atacam, os tucanos o acolhem, mas o efeito é o mesmo: ele aparece como um sócio menor do projeto tucano. Essa situação é letal para a "terceira via". Marina Silva não teria deixado as coisas chegarem a esse ponto. Essa situação da terceira via ficar em terceiro lugar não parece fácil de alterar.

Nosso eleitorado se divide em três grupos, de tamanho próximo: um terço gordo (algo acima de 33%), que é o eleitorado seguro do PT, outro, que prefere os dois candidatos de oposição, e um "terceiro terço", que por ora não se decidiu. Esses números sobem e descem com as pesquisas, mas, descontando o impacto efêmero das circunstâncias, a realidade é essa disputa entre PT e anti-PT, a ser decidida pelos que mudam de opinião. Quem resolve nossas eleições mais disputadas não são os petistas roxos ou tucanos até embaixo d'água: são os menos animados, indecisos, inconfiáveis. Isso é bom, porque servem de termômetro para as políticas, punindo as desastradas e recompensando as felizes. Uma democracia precisa de indecisos.

O melhor cenário para Dilma é a vitória no primeiro turno. Não só pela razão óbvia (quanto mais cedo, melhor), mas porque seu pesadelo é perder no segundo turno, se não conseguir votos a seu favor entre os eleitores dos candidatos descartados. O melhor cenário para Aécio e Eduardo é a soma deles superar a votação dela: um deles a enfrentaria no final de outubro e o outro acumularia méritos para ter participação em seu governo.

O melhor discurso para Dilma é a ênfase nos êxitos petistas em matéria social, para Aécio é a insistência tucana nas falhas que vê na política econômica. Mas aqui a coisa se complica.

Os oposicionistas têm preferido falar a empresários - o que mereceu a crítica desse agudo observador da cena política que é Cesar Maia, lembrando que o capital não dá votos e até gera antipatia no povo; melhor fariam os dois se subissem os morros, se falassem a quem vota. (É só na eleição que todos somos iguais).

Aécio e Eduardo buscam os patrões para arrecadar fundos, mas assim expõem o flanco à crítica de descuidarem do social e de prepararem uma política, usemos o que na América Latina é um palavrão, "neoliberal". Uma eleição tem vários turnos, dos quais só o primeiro e o segundo estão na lei e têm data; durante o mandato, haverá um terceiro turno durando mais de três anos, em que capital e movimentos sociais pressionarão o eleito para atender a suas reivindicações; mas, antes disso tudo, há um "turno zero", quando as forças se reúnem, se montam as coligações, se consegue dinheiro. A chance de Aécio e Eduardo está em fecharem logo o turno zero, obtendo apoios empresariais, e aí partirem para o povão. Frequentar as elites tem "deadline" e seus rastros devem sumir antes da hora decisiva, de disputar o um-homem-um-voto.

Neste quadro, o que esperar? Não deve haver grandes mudanças nos próximos meses, salvo um incidente sério, uma surpresa na Copa ou fora dela. Mas a verdade é que estamos à mercê de surpresas. O clima político e social está tão carregado que uma fagulha pode ter efeitos devastadores - ou não. E o Brasil é um país que muda de repente. Somos mais sujeitos ao aleatório do que sociedades de perfil social e político mais rígido. Faz um ano, a violência de alguns manifestantes do Passe Livre ia voltando a população contra eles, até que a violência - em escala industrial - da polícia paulista provocou um repúdio generalizado e, em reação, o apoio às manifestações. Não fosse a sangrenta ação policial, tudo seria diferente. A truculência policial mudou o país.

Por que chegamos a um equilíbrio social e político tão vulnerável? O Brasil mudou muito em 20 anos. As privatizações de FHC transferiram a propriedade de 30% do PIB, segundo Chico de Oliveira. A inclusão social promovida pelo PT fez um quarto da população sair da grande pobreza, além de beneficiar outras classes. Nem as medidas econômicas de FHC, nem as sociais dos governos petistas, agradaram a todos. Nossa sociedade se rachou em torno não de duas interpretações dos mesmos fatos, mas do próprio relato que direita e esquerda fazem do que julgam ser a realidade factual. Perdemos a ideia de um conjunto de fatos que todos reconhecem como reais. Estamos perdendo a noção de realidade. Vivemos só com interpretações, que se expandiram a ponto de engolir o mundo real. A direita não quer nem escutar os dados sobre a inclusão social, a esquerda não quer nem ouvir a perda do apelo político do PT à sociedade. Nesta situação, ficamos à mercê de qualquer coisa. Daí que vivamos estes momentos de protestos como perigo, como ameaça, que pode queimar até aqueles que os promovem.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Alberto Almeida: O jogo entre futebol e eleição

• O que tem impacto no voto é a avaliação do governo; o resultado da Copa não interfere

• Em pesquisa do Instituto Análise, quase metade dos brasileiros diz que a Copa é boa para o Brasil

- O Globo

Em 1994, o Brasil foi campeão na Copa do Mundo, e o governo venceu as eleições. Só nesse ano os resultado de Copa e eleição foram nessa direção: o governo teria sido beneficiado pela vitória no futebol. Em todas as copas subsequentes, 1998, 2002, 2006 e 2010, quando o Brasil ganhou, o governo perdeu; ou quando o Brasil perdeu; o governo ganhou. A conclusão é simples: o resultado da Copa não influencia o resultado da eleição. Pelo menos quando a Copa não é no Brasil.

A diferença entre sediar o torneio ou não é bem clara e simples: o país-sede precisa gastar recursos públicos para que o evento ocorra, gastar muito com reforma e construção de estádios. Uma parte significativa do eleitorado não apoia este gasto. Pode-se dizer que metade acha que a transferência de recursos públicos de Saúde e Educação para os estádios não deveria ter acontecido.

Em pesquisa nacional do Instituto Análise, 49% dos brasileiros afirmam que a Copa é boa para o Brasil porque traz investimentos e gera empregos, enquanto 46% consideram que ela é ruim para o Brasil porque o dinheiro gasto com os estádios deveria ser usado em Saúde e Educação.

A maioria das pessoas pode vir a pensar que os que acham a Copa ruim para o Brasil votam mais na oposição, enquanto os que acham a Copa boa para o Brasil votam no governo. Não é verdade; isso não acontece: a divisão do eleitorado entre esses dois grupos não tem impacto algum sobre o voto no governo ou na oposição. Na realidade, o que tem impacto no voto é a avaliação do governo: quem avalia ótimo e bom tem alta probabilidade de votar no governo, ao passo que quem avalia ruim e péssimo muito provavelmente votará na oposição.

O resultado da Copa não tem impacto algum sobre a avaliação do governo. O que tem impacto é a situação da economia, a sensação que o eleitor tem acerca de seu poder de compra. Se a inflação de alimentos aumenta, o eleitor sente no bolso e passa a avaliar o governo de uma maneira mais negativa. Se a inflação cai, ocorre o oposto. Se o desemprego cresce, aumenta o medo de perder o emprego, e o eleitor passa a ver o governo de uma maneira mais negativa. Porém, se a oferta de empregos aumenta, o eleitor passa a avaliar o governo de uma forma mais positiva. Diante disso, resultados de jogos de futebol não têm relevância.

Há, porém, um risco para o governo. Uma eliminação precoce da Seleção Brasileira numa Copa em casa, onde metade do eleitorado acha que o gasto com os estádios deveria ter privilegiado Saúde e Segurança Pública, por exemplo, pode servir de combustível para protestos, porque a sensação será a de que gastamos muito para realizar uma festa para os estrangeiros. Isto poderá resultar em protestos, e, a exemplo do que ocorreu em 2013, a avaliação do governo pode vir a piorar e afetar as intenções de voto em Dilma.

Alberto Almeida é cientista político

Diário do Poder – Cláudio Humberto

Jornal do Commercio (PE)

• Medo de cassar medalha custará caro a general
O comandante do Exército, general Enzo Peri, está sujeito a ação penal pelos crimes de responsabilidade e prevaricação por não cassar a Medalha do Pacificador concedida ao mensaleiro e ex-deputado José Genoino (PT-SP), segundo especialistas consultados pela coluna. Pelo Decreto 4.207 de 2002, o general é obrigado a cassar a medalha ex officio quando o agraciado, como Genoino, é condenado por corrupção.

• Medo
Exército, Ministério da Defesa e Ministério Público Federal fazem jogo de empurra. Todos parecem temer uma posição sobre o caso Genoino.

• Debaixo da cama
Esta coluna aguarda há meses explicação sobre o caso Genoino, pedida ao gabinete de Enzo Peri por meio do coronel Amauri Silvestre.

• Não é só militar
Juristas consultados são taxativos: a ação contra Peri não é exclusiva ao âmbito militar. Pode ser acionado na Justiça Federal, por exemplo.

• Que problema?
Genoino foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal, no caso do mensalão. Há quase dois anos, Peri ignora o problema.

• Grampo legal fez PF flagrar destruição de provas
Quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Lava Jato, havia contra o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa apenas mandado de “condução coercitiva” para depor. Mas, ao concluir seu depoimento, ele teria ligado a familiares (filhas, genros) para fazerem uma “limpeza” em seu escritório. Como o telefone era monitorado, a PF fez o flagrante da destruição de provas e obstrução da Justiça, e sua prisão foi decretada.

• Cana dura
Além do que o processo da Lava Jato dita, Paulo Roberto Costa e familiares respondem agora por obstrução da Justiça. Isso dá cadeia.

• Privilégio
Único dos presos sob a grave acusação de tentativa de destruição de provas, Paulo Roberto Costa foi o único a ser solto pelo Supremo.

• Alívio geral
A permanência de Paulo Roberto Costa na prisão, e sob pressão para abrir o jogo, tirou o sono de figurões da política e do meio empresarial.

• Inédita nomeação
Apesar de ter contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União e responder a ação civil pública na Justiça do Ceará, o presidente da Fecomércio-CE, Luiz Gastão Bittencourt, foi nomeado interventor do Sesc-RJ pelo eterno presidente da CNC, Antonio Oliveira Santos.

• ‘Prêmio’ bíblico
A Operação Ararath, da Polícia Federal, foi batizada em homenagem ao monte na Turquia, onde – de acordo com livro de Gênesis – estaria a Arca de Noé; uma espécie de “loteria” de proporções bíblicas.

• Quem tem amigo
À beira do Conselho de Ética pela enrolada amizade com o doleiro Alberto Youssef, o deputado André Vargas (ex-PT-PR) não poupa verba: contratou mais um secretário comissionado para seu gabinete.

• Muito estranho
Servidores do IBGE em dez estados decretam greve a partir de hoje. A crise no instituto ocorre desde abril, quando a presidência do órgão tentou suspender nova metodologia de pesquisa. Grevistas apontam, em ano eleitoral, que a taxa de desemprego é maior que o divulgado.

• Último capítulo
Portaria de Joaquim Barbosa (STF), presidente do Conselho Nacional de Justiça, pôs um ponto final no currículo dos políticos presos do mensalão: estão inelegíveis Genoino, Valdemar e Roberto Jefferson.

• Sobra para todos
Novo pânico no submundo da corrupção: áudios de conversas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, com empresários e políticos, em animadas negociatas, podem ter vazado da operação Lava Jato.

• Lula Phelps
Internautas já começaram a cobrar “alongamento” do ex-presidente Lula. Ele prometeu, em 2010, que voltaria “a nado” da África do Sul se o Brasil não estivesse pronto para a Copa do Mundo de 2014.

• Escalação
Foi de Copa a conversa do líder Vicentinho (PT-SP) com os colegas de CPI da Petrobras: “No ataque, Sibá Machado. Goleiro, Marco Maia, retaguarda, Arlindo Chinaglia; na defesa, Iriny Lopes”. Pano rápido.

• Pulando fogueira
O ministro Teori Zavascki estragou o São João do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que dançará a quadrilha sozinho.

Painel - Vera Magalhães

- Folha de S. Paulo

Igual, mas diferente
O afastamento de Eduardo Campos (PSB) do polo do PSDB foi reforçado por pesquisas qualitativas que apontaram um desejo de continuidade do modelo de investimentos sociais lançado no governo Lula. A ideia é captar o eleitorado insatisfeito com Dilma Rousseff, mas que rejeita Aécio Neves (PSDB). Os pessebistas estão convencidos de que a classe média percebe que as perdas que tiveram com a gestão atual foram maiores que os ganhos, ao contrário da época de Lula.

Pós-Lula Apesar de escorada no Bolsa Família, a gestão atual não aponta inovações na área social, segundo os entrevistados. As classes de renda mais baixa, no entanto, expressam "gratidão" e ainda acreditam que Dilma tem capacidade de conduzir novas mudanças no país.

Blue eyes Em pesquisa de percepção de imagem encomendada pela campanha de Campos, o ex-governador pernambucano superou Aécio nos quesitos "competente", "corajoso" e "atraente".

Barulho Grupos do PP que rejeitam o apoio do partido à reeleição de Dilma estudam entrar com um mandado de segurança na Justiça Eleitoral para que a decisão só seja tomada na convenção do partido, marcada para junho. Querem garantir que a posição a ser adotada pela sigla seja tomada no voto.

Bolivariano Aloizio Mercadante (Casa Civil) ganhou outro apelido dos companheiros de PT: Maduro. Reservadamente, os petistas brincam que, além do bigode farto, o ministro compartilha com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, uma postura "quase autoritária".

Substituição O secretário de Assuntos Legislativos, Marivaldo Pereira, assumirá o posto de número dois do Ministério da Justiça quando a atual secretária-executiva da pasta, Marcia Pelegrini, deixar o cargo para integrar a equipe jurídica da campanha de Dilma pela reeleição.

Sede... Aliados de Dilma creem que a indefinição do rumo de Gilberto Kassab (PSD) na eleição paulista se deva ao fato de o ex-prefeito pleitear três postos na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) ou de Paulo Skaf (PMDB): vice-governador, senador e primeiro suplente de senador.

... ao pote Kassab tem apontado que só aceita ser vice na chapa de Alckmin. Se fechar com Skaf, o posto ficará com Alda Marco Antônio, sua vice na capital paulista.

Cabe? Mesmo nomes do PR que defendem apoio ao PSDB em São Paulo começam a questionar o espaço da sigla caso Alckmin feche com PSB e PSD. Acham mais fácil emplacar a vice de Alexandre Padilha (PT). Para tucanos, a dúvida não passa de tentativa de valorizar o passe.

Fora de casa Articuladores políticos de Alckmin vão a Brasília nesta segunda-feira (26) para conversar com lideranças nacionais das siglas cortejadas pelo tucano.

Artilharia pesada Depois de o próprio Padilha entrar em campo, Lula deve se reunir nesta semana com o ex-ministro Carlos Lupi, presidente do PDT, para tratar do apoio do partido à candidatura petista no Estado.

3ª via? Para rebater a resistência de Marina Silva à aliança entre PSB e PSDB, a equipe de Alckmin aposta em dados que mostram que 43% dos eleitores da ex-senadora em 2010 declaravam voto no governador. Só 4% diziam escolher o candidato do PV, seu partido na última eleição.

Antes tarde Após um imbróglio jurídico de dois anos, a Assembleia paulista passará a divulgar o salário de seus servidores, sem identificação nominal. Funcionários tentaram impedir a publicação.

Tiroteio
A sociedade agora começa a ver para quem trabalha a máquina pública nas mãos do PT. É o caso dos aloprados, em sua versão 2.0.
DO DEPUTADO CARLOS ROBERTO (PSDB-SP), presidente da sigla em Guarulhos, sobre o uso de equipamentos da prefeitura para atacar Aécio Neves na internet.

Contraponto
E tenho dito!

A deputada estadual Juliana Brizola (PDT-RS) decidiu fazer uma dupla homenagem familiar ao batizar o filho, hoje com três anos, de José Inácio Brizola da Silveira -José é o nome do bisavô materno, pai de Leonel Brizola, e Inácio, o do bisavô paterno.

Ainda assim, o nome faz lembrar o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e provoca a curiosidade de interlocutores. Na última vez em que foi questionada sobre a relação do nome com o do petista, ela estourou:

- Estou pensando em vestir uma camiseta no guri com os dizeres: "O Inácio não é por causa do Lula"!