- Valor Econômico
Neste texto, André traz para o Brasil duas controvérsias sobre política econômica que têm ocupado a atenção de economistas e políticos nos EUA recentemente. Trata-se da chamada “teoria moderna da moeda” e da discussão sobre o ônus real de dívidas públicas elevadas nos países desenvolvidos.
A primeira controvérsia refere-se às consequências da aplicação na prática da chamada “teoria moderna da moeda”. Confesso que nunca havia ouvido falar desta teoria antes de ler o artigo do André. Por ele provocado, fiz algumas pesquisas na internet, das quais tiro as seguintes conclusões:
A MMT, para usar a sigla em inglês (“modern money theory”), já existe há algum tempo, mas era visível apenas para quem descesse por assim dizer ao andar de baixo da academia americana. Pois seus proponentes militam em universidades de pouco prestígio e não publicam nas principais revistas acadêmicas.
Antes de debates recentes, que mencionarei a seguir, a única análise acadêmica sobre a MMT que me chamou a atenção foi feita por um economista americano que é uma espécie de guru dos nossos desenvolvimentistas. Trata-se de Thomas Palley, economista americano que se autointitula “pós-keynesiano”.
Para Palley, a MMT tem coisas boas e coisas novas. Mas as coisas boas para ele são antigas, pois há tempos fazem parte do repertório do keynesianismo -- aqui entendido como o uso de políticas econômicas expansionistas para combater a recessão e o desemprego.
Já as coisas novas da MMT, para Palley, são ruins, porque, com o argumento de que o governo não tem restrições financeiras, a MMT ignora qualquer barreira a políticas expansionistas. Segundo Palley, para os aderentes da MMT essas políticas poderiam ser praticadas sem limites, para gerar pleno emprego sem pressões inflacionárias.
Nisso, a MMT me faz lembrar o General Perón, dizendo ao presidente do Chile para ignorar os conselhos de economistas, porque a economia era igual um elástico, podia ser esticada à vontade, sem qualquer limite.
Palley também registra que é difícil dialogar com os proponentes da MMT porque, ao contrário do resto da profissão, eles não usam “modelos” (representações simplificadas da realidade, expressas em equações matemáticas) nem aceitam testes empíricos sobre suas hipóteses.
Por isso mesmo, como disse a princípio, o debate sobre a MMT até recentemente não chamava a atenção dos papas da profissão nos EUA.
Economistas ligados à MMT começaram a ser notados há três anos, quando uma de seus principais proponentes se tornou assessora de Bernie Sanders na última campanha presidencial dos EUA.
Eles ganharam grande proeminência este ano quando Alexandria Ocaso-Cortez, a nova estrela da esquerda do partido democrata nos EUA, passou a citar a MMT quando indagada sobre como iria financiar o chamado Green New Deal, o grande projeto para combater a desigualdade e as mudanças climáticas, por ela proposto juntamente com o Senador democrata Ed Markey.
Tendo sido assim chamados politicamente para prestar atenção à MMT, os papas da profissão partiram para um impiedoso ataque. O prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, em sua coluna no NYT, comparou a MMT ao Calvinbol, um jogo maluco inventado pelos personagens da deliciosa história de quadrinhos, Calvin e Haroldo, jogo este cuja única regra é que não se pode repetir a mesma regra duas vezes.