quarta-feira, 7 de abril de 2021

FH sobre Lula: 'Melhor alguém novo no jogo'

Ex-presidente critica Bolsonaro, prega nome de centro, manifesta apoio a Doria e admite apoiar Ciro se ele for 'capaz de levantar votos'

 - O Globo

SÃO PAULO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que “uma hora as pessoas devem passar o bastão” em referência ao também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defendeu um nome de centro para 2022. A declaração foi dada em entrevista à Radio CBN.

— Chega uma hora que as pessoas devem passar o bastão e me refiro ao presidente Lula. Que novidade ele vai trazer? Para o Brasil, seria melhor alguém realmente novo no jogo. Bolsonaro dificilmente vai representar algo diferente do que representou, que foi o "não ao PT". Ou rompemos essa dicotomia ou o Brasil vai atrapalhar o futuro — disse FH.

O tucano defendeu um nome de centro que seja comprometido com a ”democracia e progresso econômico”. Manifestou apoio a João Doria (PSDB), governador paulista, mas afirmou que pode apoiar Ciro Gomes (PDT), se este for “capaz de levantar votos”:

— Tem que ter alguém que expresse um sentimento de futuro. E esse futuro está altamente prejudicado agora pela saúde pública, a concentração de renda e o desemprego.

O ex-presidente afirmou que é “melhor para o Brasil” que Bolsonaro complete o mandato, pois o país já viveu vários impeachments e isso "deixa marcas". O tucano destacou, no entanto, que o futuro depende do atual presidente. "Está nas mãos dele", avaliou. Também criticou a atual gestão:

— O presidente governa para o grupo, a família, os partidários e os amigos dele.

FH afirmou ainda que Bolsonaro tem o histórico de um homem que olha apenas para um lado, seja no Brasil ou no exterior.

— Bolsonaro vê o outro lado como inimigo, e não como adversário — afirmou.

Vera Magalhães - Da farda ao distintivo

- O Globo

Nem bem deu com a cara na porta dos quartéis ao tentar bagunçar o coreto por lá com sua forma deliberada e sistemática de minar as instituições, comprometendo sua tonicidade, Jair Bolsonaro voltou-se para outra delas que muito interessa a seu projeto de aparelhamento do Estado, a Polícia Federal.

Não que o ex-ministro da Justiça, atual advogado-geral de Bolsonaro e candidato a ministro do Supremo, André Mendonça, tenha oferecido qualquer resistência a esse projeto, muito pelo contrário.

Mas o novo ocupante da pasta, o delegado da PF Anderson Torres, que chegou ao posto demonstrando grande apetite por poder e por aparecer nas redes sociais, quer colocar sua própria turma por lá.

E sendo, ele próprio, da patota de Bolsonaro e dos filhos, a troca fica em casa e serve ao propósito do chefe.

Desde que venceu as eleições, o capitão não esconde sua compreensão absolutamente peculiar do que seja o exercício da Presidência da República: o uso ilimitado da caneta Bic para nomear e destituir pessoas não pelo currículo, algo de que ele aliás desdenhou nesta terça-feira, mas de acordo com seu também muito próprio código de lealdades.

O presidente não se furta a se referir ao Exército, à Polícia Federal ou ao Ministério como “meu” isso, “meu” aquilo, deixando explícita a maneira nada republicana com que enxerga as atribuições de cada uma dessas estruturas que são de Estado, e não puxadinhos do condomínio Vivendas da Barra ou mesmo do Palácio da Alvorada.

Elio Gaspari - Uma festa séria para 2022

- O Globo / Folha de S. Paulo

O Brasil era atrasado, mas não se orgulhava disso

Tomando notas para sua obra “Efemérides brasileiras”, o Barão do Rio Branco registrou que amanhã, há 200 anos, realizou-se a “eleição primária de eleitores de paróquia no Rio de Janeiro. Foram as primeiras eleições desse gênero a que se procedeu no Brasil”.

O barão foi um obsessivo pesquisador da linda História do Brasil, e a Fundação Alexandre de Gusmão botou na rede as suas “Efemérides”, tornando-as acessíveis para pesquisadores.

Essa migalha aponta para a importância de outra data: no dia 7 de setembro de 2022, comemoram-se os 200 anos da Independência do Brasil. Afora a provável reinauguração do Museu do Ipiranga, não se tem notícia de iniciativa séria para que ela seja lembrada. Nem há muito que se possa esperar.

Em 1922, quando o Brasil fez 100 anos, viveu-se um ano de festas. O país tinha um pé no atraso, mas encantava-se com o progresso. O Rio mudou de cara, realizou-se uma exposição internacional, e várias nações ergueram pavilhões para mostrar seus produtos. O da França hospeda hoje a Academia Brasileira de Letras.

Cinquenta anos depois, no governo do general Emílio Médici, produziu-se uma patriotada circulando pelo país os ossos de D. Pedro I, até que os puseram numa cripta no Museu do Ipiranga. (Anos depois, descuidada, virou mictório.) Enquanto o mito banal ia de um lugar para outro, a verdadeira figura do primeiro imperador era escondida. Foi proibida a transcrição do decreto pelo qual aboliu a censura à imprensa. Com a economia crescendo a taxas de milagre, a ditadura podia dizer que, com censura, o Brasil era um país que ia “pra frente”.

Bernardo Mello Franco - A revolução é ser normal

- O Globo

Ao tomar posse, o chanceler Carlos Alberto França prometeu correr atrás de vacinas, valorizar o multilateralismo e apoiar o combate às mudanças climáticas. Tudo o que o Itamaraty se recusou a fazer na primeira metade do governo Bolsonaro.

O novo ministro afirmou que o diplomata deve agir como um construtor de pontes. Seu antecessor se empenhou na tarefa de dinamitá-las.

Em dois anos e três meses, Ernesto Araújo conseguiu se indispor com a China, a Índia, a Alemanha, as Nações Unidas e os EUA pós-Trump. Ele também hostilizou nosso principal vizinho. Horas depois da eleição na Argentina, tuitou que “forças do mal” celebravam a vitória de Alberto Fernández.

França lembrou que o Brasil sempre foi um ator relevante nos fóruns internacionais. Não precisou dizer que esse patrimônio foi desprezado por Ernesto. Na gestão passada, o Itamaraty renegou suas tradições e fez uma opção pelo isolamento. O país levará tempo para reparar o estrago.

Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro no vermelho

- Correio Braziliense

Pandemia e cenário econômico puxam avaliação do governo para baixo e assustam estrategistas do Palácio do Planalto, que também perde apoio do mercado

O presidente Jair Bolsonaro tenta se reposicionar no mercado. Quer reverter o grande desgaste que vem sofrendo com o agravamento da pandemia da covid-19 e busca se reaproximar dos grandes empresários do país, dos quais se afastou em decorrência do seu negacionismo em relação à crise sanitária. A pedalada fiscal desenhada no novo Orçamento da União, fruto de uma negociação entre o Palácio do Planalto e o Centrão, que guindou à Secretaria do Governo a ex-presidente da Comissão Mista de Orçamento deputada Flávia Arruda (PL-DF), também assustou os investidores. Para o mercado, o governo está no vermelho.

Hoje à noite, Bolsonaro participará de um jantar organizada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, com 20 grandes líderes empresariais, tendo por anfitrião o empresário Washington Cinel, dono da Lide Segurança e magnata da terceirização, na antiga mansão de José Ermírio de Moraes, em São Paulo, arrematada em leilão por quase R$ 40 milhões. Entre os participantes confirmados estão André Esteves (BTG), Alberto Leite (F5 Securities), Alberto Saraiva (Habib’s), Candido Pinheiro (Hapvida), Carlos Sanchez (EMS), Claudio Lottenberg (Hospital Albert Einstein), Flavio Rocha (Guararapes), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), João Camargo (grupo Alpha de comunicação), João Carlos Saad (Band), José Roberto Maciel (SBT), Ricardo Faria (Granja Faria) e Tutinha Carvalho (Jovem Pan). Não haverá gravações.

Cristiano Romero - Poderes eleitos têm pouco espaço no orçamento

- Valor Econômico

A rigidez atrofia a democracia e ocorre simultaneamente ao aumento de incentivos fiscais

No país a que chamamos de Brasil, muitas vezes a explicação de um conflito entre atores políticos não está no fato em si, mas, sim, nas estruturas que, ao longo do tempo, a sociedade cria para lidar com seus problemas. Em outras palavras, é possível afirmar que, nesta Ilha de Vera Cruz, a maioria dos problemas é enfrentada por meio de subterfúgios e soluções incompletas. Para não tratar da verdadeira causa de nossos desequilíbrios, forjamos acordos que, no fundo, apenas evitam o "confronto" imediato.

O futuro é sempre adiado porque vivemos numa sociedade que não pensa em seus descendentes. Prevalece, também, nas relações sociais, talvez justificável em alguns aspectos da vida nacional, um sentimento permanente de desconfiança em relação aos propósitos do vizinho, do colega de trabalho, do empresário que lhe dá emprego, do político eleito pela maioria de nós, do estrangeiro que se dispõe a vir aqui, entre outros lugares, para investir seu capital, no lucro de quem consegue lucrar, no sucesso de outrem, enfim, entre nós não há reconhecimento mútuo, mas, acima de tudo, suspeição.

Daniel Rittner - Dá para esperar algo do novo chanceler?

- Valor Econômico

França ensaia ‘revolução da normalidade’

Carlos França, o novo chanceler, deu sinais de ter entendido direitinho onde está e por que está. Tal como fora combinado por suas assessorias, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) esperava uma reunião virtual com o ministro nos próximos dias. Presidente da Comissão de Relações Exteriores e protagonista do capítulo final da queda de Ernesto Araújo no Itamaraty, ela tem evitado sair de sua fazenda nos arredores de Palmas e prefere videoconferências desde que passou uma semana hospitalizada com covid, no fim do ano passado. Diz que ainda sente falta moderada de ar, às vezes fica sem olfato. Com tato, França se voluntariou: “A senhora não se incomodaria se eu pegar um voo e for ao Tocantins para conversarmos pessoalmente?”, questionou, prometendo seguir os cuidados sanitários. Política e diplomacia são feitas, também, de pequenos gestos. Kátia Abreu aprovou esse movimento. Sinal de alguém que se esforça para ouvir e dialogar, comentou a senadora.

Tiago Cavalcanti* - Racismo intrínseco

- Valor Econômico

Alegar que preconceito racial é menor hoje do que no passado não ajuda a enfrentar tão grave questão moral

O racismo nunca foi um tema central nas conversas de minha família em Olinda durante minha adolescência nos anos 80 e 90. Na verdade, lembro de pouquíssimas vezes ter discutido sobre preconceito racial com meus parentes. A leitura que faço é que muito provavelmente acreditávamos na democracia racial, na inexistência do preconceito racial no Brasil.

Talvez por ter aspecto físico de uma pessoa típica do nosso litoral nordestino, a minha aparência de cor parda nunca foi questão a ser discutida, não só entre familiares, mas também com amigos.

Na adolescência, recebi o apelido de “mago”, dado pelos colegas do futebol de salão, refletindo baixo índice de massa corporal, que agora luto para manter em nível razoável, mas nunca imaginei se poderia ser discriminado pela cor da pele. Fato que demonstra também certa indiferença que tinha em relação aos problemas que meus amigos negros enfrentavam na época.

Ricardo Noblat - Brasil pede socorro contra o vírus, a fome e Bolsonaro

- Blog do Noblat / Veja

Generosidade em fim de linha 

E aí? Engane-se quem acredita que o governo do presidente Jair Bolsonaro mudou de posição quanto ao enfrentamento da pandemia. Só por que Marcelo Queiroga, médico, sucedeu ao desastrado general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde e recomenda que as pessoas usem máscara, lavem as mãos com álcool gel e se mantenham distantes umas das outras?

É o mesmo Queiroga que se recusa a admitir o lockdown porque Bolsonaro é contra. É o mesmo que evita condenar o tratamento precoce que Bolsonaro continua recomendando, um logro que já custou muitas vidas. É o mesmo que prometeu em breve vacinar um milhão de brasileiros por dia, meta distante de ser alcançada porque a demanda é maior do que a oferta.

Mudança de posição só por que o embaixador que sucedeu o inepto Ernesto Araújo no Itamaraty revelou que seus compromissos são com a vacina, a economia e o meio ambiente? Moleza suceder Araújo e parecer sensato. É como substituir Felipão no comando da Seleção Brasileira depois dos 7 x 1. Se ganhar o jogo seguinte com gol de mão será exaltado como herói.

Rosângela Bittar - Passaram-se 27 meses

- O Estado de S. Paulo

Bolsonaro governará nos próximos 21 meses tal como o fez nos 27 passados

Centrão não é surpreendente, é implacável. Como demonstra o deputado Arthur Lira, comandante em chefe do grupo, não só por ser presidente da Câmara mas por representar um papel múltiplo e mutante. Ora é um diplomata negociador. De repente dá sinais do seu limite e pode tornar-se um cangaceiro.

Tanto que o presidente Jair Bolsonaro está ciente de que não deve fugir ao resgate negociado. O ignorou, por exemplo, na escolha do ministro da Saúde, desprezando a candidata indicada. E desde então não se esgotam as compensações que é obrigado a fazer. O presidente nunca esteve tão fraco politicamente como neste momento.

Nas cláusulas do contrato de adesão do Centrão ainda restam muitos espaços a serem ocupados. Entre eles, os ministérios da Educação e o do Meio Ambiente. Metas que, enquanto não se cumprirem, são compensadas por um adiantamento da lista de nomeações para cargos menores. Além de dinheiro na veia: as emendas parlamentares do orçamento, ainda não legalizado, mas certamente já distribuído. Parcelas do inesgotável ajuste de contas. 

Este é o panorama de hoje. Bolsonaro governará nos próximos 21 meses tal como o fez nos 27 passados. Em conflito com cada um e o universo.

Almir Pazzianotto Pinto* - Obsessão por poder

- O Estado de S. Paulo

O próximo governo deverá ser austero. A economia e o povo não suportam mais impostos

O poder é inebriante, envolvente, afrodisíaco. O imperador dom Pedro I revelou desapego ao poder. Preferiu abdicar e entregar o trono ao filho com 5 anos de idade. Voltou a Portugal, para não enfrentar manifestações de rebeldia. Dom Pedro II adotou atitude semelhante. Diante da quartelada comandada pelo marechal Deodoro da Fonseca, embarcou com a família e alguns amigos para a França, onde faleceu, pobre, em 5 de dezembro de 1891, cercado de admiração, carinho e respeito.

Na Primeira República, exemplo clássico de apego ao poder foi deixado por Getúlio Vargas. Investido na chefia do governo provisório pela Revolução de 1930, de imediato deixou claro que pretendia ficar. No Diário iniciado em 3 de outubro de 1930, data da deflagração do movimento armado, escreveu ao anoitecer do dia 25: “Osvaldo (Aranha) telegrafa-me, propondo assumir o governo para entregar-me constitucionalmente a 15 de novembro (data do encerramento do mandato do presidente Washington Luís). Respondo-lhe que as medidas excepcionais que precisam ser tomadas não comportam um governo constitucional, devendo essas medidas estender-se além de 15 de novembro” (vol. 1, Ed. Siciliano-FGV, RJ, 1995, pág. 17).

Roberto DaMatta - Quando seguir à risca é um dilema

- O Estado de S. Paulo

Como seguir à risca leis impessoais sem olhar rostos, mestiçagens e laços de família, se as relações são fundamentais?

Quem, no Brasil, segue tudo à risca? 

Quem tem certeza de cumprir com todo o oceano de leis, portarias, decretos, normas e regimentos (uma pesquisa do ministro Ives Gandra revela que são 34 mil regras, mas é preciso admitir que esse número aumentou) que compõem a escrita legal no Brasil? 

Vale notar que cinco séculos de escravidão negra formam a nossa base sociocultural e a nossa índole coletiva. Nos Estados Unidos, a escravidão foi regional. Sua abolição causou uma guerra civil e o regime mistificador do “iguais, mas separados” segregava. Aqui, depois da abolição, mas mesmo antes dela, tivemos um racismo contextual e negacionista; lá, há racismo manifesto e sociedades como a KKK. No Rio, a princesa Isabel acolhia escravos fugidos no seu palácio e uma flor (a camélia) era o símbolo discreto e aristocrático dos antiescravistas. 

Quem seguia alguma coisa à risca? 

Hélio Schwartsman - Boas e más notícias da vacina

- Folha de S. Paulo

Esse vírus não cessa de nos surpreender

É com a vacina que controlaremos a pandemia de Covid-19, mas vai dar trabalho.

A boa notícia vem de Israel e do Reino Unido. Com respectivamente 116 e 87 doses aplicadas para cada 100 habitantes, os dois países viram suas curvas de mortes, hospitalizações e infecções baixarem significativamente e parecem estar retomando algum tipo de normalidade. Em Israel, houve celebrações presenciais de Páscoa —e não porque um magistrado assim o quis, mas porque os dados epidemiológicos sugeriam que era seguro fazê-las.

A má nova vem do Chile e dos EUA. Com respectivamente 56 e 49 doses por 100 habitantes, as duas nações vinham conseguindo baixar as transmissões, mas, nas últimas semanas, viram os números voltar a subir. O principal suspeito é a disseminação de variantes virais mais infecciosas. O cúmplice é o relaxamento dos cuidados não farmacológicos, mais ou menos inevitável quando as pessoas se sentem mais seguras.

Bruno Boghassian - De papel passado

- Folha de S. Paulo

Com chegada de Valdemar, partidos fecham olhos para ação delinquente do presidente

Valdemar Costa Neto visitou Jair Bolsonaro pela segunda vez em sete dias. Depois de um encontro reservado na semana passada, o chefe do PL foi um dos convidados de honra na posse de Flávia Arruda como ministra da Secretaria de Governo. O ex-deputado ajudou a inaugurar a placa oficial do centrão no Planalto e reforçou a aliança política para proteger o presidente.

O PL já tinha cargos no segundo escalão, por indicação do próprio Valdemar. Mas a chegada ao quarto andar do palácio, com o presidente do partido na foto, mostra que esse é um acerto de longo prazo, custo elevado e alto potencial de retorno.

Bolsonaro abriu um gabinete para o centrão no momento em que o grupo farejava a fragilidade do governo. A pandemia galopante, a popularidade decadente e o buraco da economia fizeram disparar a cotação dos partidos de sua coalizão. Agora dentro do Planalto, eles devem fechar de vez os olhos para a ação delinquente do presidente na crise.

Ruy Castro - Matem-se por mim, diz Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Um dia ele terá de responder por tentar induzir o povo brasileiro ao suicídio em massa

Numa coluna há meses ("Saída para Trump: matar-se", 10/1), sugeri a Donald Trump, ainda presidente dos EUA, que, diante de sua derrota para Joe Biden e pelo fracasso em tornar-se o novo Hitler, desse um tiro no peito e se convertesse em mártir. E a Jair Bolsonaro, seu obsceno papagaio, que o imitasse no tresloucado gesto. Bastou para que um advogado particular de Bolsonaro, então dando expediente como ministro da Justiça, anunciasse a abertura de inquérito pela PF para apurar por que eu escrevera aquilo.

Há uma lei, com que concordo, segundo a qual induzir alguém ao suicídio é crime. Mas duvido que se aplique a um colunista de província que recomenda isso ao homem mais poderoso do mundo e a um sujeito eleito com 57 milhões de votos. Imagine Trump e Bolsonaro, mesmo por um segundo, avaliando minha sugestão! A ideia era deliciosa, mas nunca esperei que a seguissem. A Casa Branca, claro, me ignorou, mas o dito ministro, atracado aos baixos meridianos do chefe, ameaçou uma investigação. Os anais da lei ainda tentam descobrir como se investiga uma opinião.

Vinicius Torres Freire - Menos gente na UTI, mais no cemitério

- Folha de S. Paulo

Há menos internados, mas Covid está mais letal, assim como o governo e cúmplices

Em São Paulo, no estado e na cidade, o número de internados em UTIs de Covid praticamente parou de aumentar. Ficou estável no pico do horror, por ora. Mas o monte de cadáveres ainda não tem limite. A doença agora parece muito mais letal, cresce sem parar no país quase inteiro. Com tamanha disseminação do vírus, a próxima onda talvez seja a de criação de variantes que vençam as vacinas que existem, mas nem chegam ao país em número bastante. Seria a epidemia sem fim.

Enquanto isso, o que foi feito do “pacto”, do “comitê nacional” contra a Covid, a farsa funérea encomendada por Jair Bolsonaro a fim de desviar a atenção de seus crimes? O capitão da extrema direita continua a fazer campanha contra medidas de controle da doença, desde o dia do “pacto”.

Carta aberta pelo controle de armas. E pela democracia*

- O Globo

Há pouco menos de dois anos, manifestamos nossa profunda preocupação com os retrocessos no controle de armas e munições inaugurados pelo governo federal pouco tempo depois de sua posse.

Desde a publicação de nossa carta aberta, em 4 de junho de 2019, foram mais 9 decretos e 15 portarias do Exército Brasileiro ou de ministérios, em um conjunto normativo de 31 atos unilaterais do Poder Executivo que ferem de morte qualquer vislumbre de uma política de controle de armas e munições moderna e responsável, inclusive contradizendo acordos internacionais ratificados pelo Congresso e interiorizados no ordenamento jurídico nacional.

Nesse período, discursos que elevam o armamento da população como instrumento de ação política, orientada contra adversários e contra políticas das quais se discorde, foram irresponsavelmente apontados como caminho para o fortalecimento da democracia brasileira. Além de irem na contramão das prioridades de um país assolado por uma das maiores crises sanitárias de sua história, as medidas adotadas pelo governo federal ignoram todas as evidências científicas sobre o impacto negativo do aumento do acesso e circulação desses arsenais num país já gravemente afetado pela violência armada: cerca de 70% dos homicídios que acontecem no Brasil são cometidos com armas de fogo.

Zeina Lafit - No Orçamento, prevaleceu o velho clientelismo

- O Globo

A tragédia do País está exposta também no Orçamento da União - tardio, ficcional e desconectado do momento. O imbróglio é tamanho que não será possível corrigi-lo a contento. Buscam-se formas para torná-lo exequível e evitar crime de responsabilidade, mas o problema é bem maior.

Todos saíram chamuscados da confusão: Executivo e Congresso. Foi mais um passo na corrosão da credibilidade da gestão fiscal e revelou uma classe política, nos dois poderes, alheia à natureza da crise de saúde, apesar dos discursos de compromisso com a sociedade.

Prevaleceu o velho clientelismo, que cresce com o enfraquecimnto do governo. As Forças Armadas, que concentram boa parte do recurso para investimento, também ficaram mal na foto.

O problema começa lá atrás – a administração federal não se preparou para 2021. Mesmo em meio a tantas incertezas, assumiu que a pandemia respeitaria o calendário gregoriano e acabaria em 2020.

O governo esgotou rapidamente a munição com gastos expressivos no ano passado, ignorando a chance concreta de a crise ser longa, na saúde e na economia.

Em que pese o ineditismo da situação, que torna alguns erros compreensíveis, é inegável a falta de estratégia e planejamento estatal. E não há qualquer arrumação a caminho, a julgar pelo recém-criado Comitê da Covid-19.

Com apoio a mais pobres, EUA voltarão ao pleno emprego em 2022, diz secretária do Tesouro

EUA registraram taxa de desemprego de 6% em março, menor que o pico de abril do ano passado, quando atingiu 14,7%

Marina Dias / Folha de S. Paulo

WASHINGTON - A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, disse nesta terça-feira (6) que sua previsão é que os EUA voltem ao pleno emprego e aos investimentos de longo prazo em 2022, após diversos planos de ajuda financeira à população mais vulnerável do país. De acordo com a economista, longos períodos de desemprego podem trazer "severas cicatrizes" e o apoio a minorias e a pessoas mais pobres —geralmente as mais atingidas pela crise— é fundamental para a retomada econômica.

"Decidimos ir grande porque os riscos são de cicatrizes severas se permitirmos que haja desemprego de longa duração, e estamos projetando uma recuperação rápida. Tenho esperança de que estejamos de volta ao pleno emprego no ano que vem e, assim que o fizermos, voltaremos para uma agenda de investimento de longo prazo."

Yellen disse que as medidas tomadas internamente pelo governo Joe Biden, como a aprovação do pacote de alívio econômico no valor de US$ 1,9 trilhão, vão também ajudar na retomada mundial, mas destacou que os países precisam trabalhar juntos para criar um sistema financeiro mais resiliente para encarar crises futuras.

"Para mim, uma das lições da crise é que o sistema global deveria ter aprendido que precisamos estar melhor preparados para crises do que estávamos para esta. Como vimos nos EUA, nossa rede de segurança não era tudo o que deveria ser para proteger os cidadãos mais vulneráveis."

Música | Água da minha sede - Roberta Sá

 

Poesia | Mario Quintana - Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...