quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Em busca da unidade

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

O PSDB resolveu fazer do limão das prévias uma limonada, antecipando legalmente a campanha eleitoral para a sucessão de Lula. Ao mesmo tempo em que entrou no TSE com uma reclamação contra o que considera a antecipação ilegal da campanha da ministra Dilma Rousseff, a pretexto de acompanhar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aguarda também a resposta a outra consulta, feita em novembro do ano passado, sobre a maneira de realizar as prévias partidárias para escolher seu candidato a presidente.

A cúpula partidária está convencida de que o instituto das prévias só tem uma vantagem, a de antecipar a campanha, mas viu-se compelida a aceitar a exigência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Por isso, consultou o TSE sobre a possibilidade de seus candidatos usarem os meios de comunicação de massa - rádio, televisão e jornais - para levar suas opiniões aos cerca de 1 milhão de filiados em todo o país.

A legislação eleitoral diz que os partidos só podem fazer propaganda política no período reservado à candidatura, isto é, após a realização das convenções, que devem ocorrer entre 15 e 30 de junho do ano eleitoral, tendo as candidaturas a presidente e vice que ser registradas até o dia 5 de julho.

Uma decisão do TSE diz que os partidos só podem fazer propaganda entre seus filiados, e, nesse caso, os tucanos não poderiam usar os meios de comunicação como acontece nos Estados Unidos. Os debates teriam que ser internos, apenas para os filiados.

A direção do PSDB está tentando que o tribunal "alargue um pouco essa posição rígida e permita a realização de uma prévia real", na definição de um dirigente envolvido na organização das regras.

Fora a vantagem de fazer uma campanha antecipada, tudo o mais é problemático, na visão da maioria da cúpula partidária, para a qual dizer que prévias criam união "é bobagem".

Além do mais, uma prévia dessas tem vários problemas de logística e exige recursos, não apenas financeiros. A direção partidária está trabalhando com várias possibilidades para que os candidatos se sintam confortáveis.

Se a decisão for por uma prévia entre todos os filiados, que são 1 milhão e 50 mil em todo o país, terão que ser colocadas urnas em todas as zonas eleitorais do Brasil.

Essa é a maneira mais completa, seria "uma prévia real". Diferentemente do PT, que faz prévias para decidir uma disputa de correntes políticas internas, no PSDB será uma consulta a filiados que não são organizados.

Há, também, outras formas de realizar as prévias sem uma mobilização tão grande: os candidatos podem aceitar que as prévias sejam realizadas apenas em cidades que tenham um mínimo de filiados, número que deveria ser decidido entre eles.

Uma opção seria recadastrar os filiados. Quem quisesse participar das prévias, e já fosse filiado, se registraria. Assim, a direção partidária saberia quantos filiados participariam das prévias, em que localidades do país.

Nos EUA existe isso em alguns estados, e há também a possibilidade de qualquer pessoa participar da prévia, mesmo que não seja filiado ao partido.

Um prazo de dois, três meses seria aberto, e um cidadão, para registrar participação nas prévias, teria que fornecer seu endereço eletrônico, o que facilitaria a campanha pela internet.

Outra dúvida: será preciso usar as urnas eletrônicas do TSE, ou se cada seção partidária organizaria seu processo, para simplificar?

Numa prévia, se existe um grau de confiança dos candidatos na direção partidária, não é preciso ter aquelas regras rígidas que garantem o sigilo absoluto de uma eleição real, pondera um dirigente tucano.

Pode fazer essa prévia quando? Em setembro, outubro, novembro? O fato é que a prévia tornou-se inevitável, a não ser que os dois candidatos cheguem a um consenso.

Diante da aceitação do comando partidário de realizar as prévias, colocadas como ponto fundamental pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ele pode ficar mais tranquilo.

"Ele já tem a garantia de que não será atropelado. A existência das prévias só depende de ele dizer que quer mesmo", comenta o dirigente tucano.

Mas, continua o mesmo dirigente, vamos dizer que lá por agosto, setembro, ele, avaliando os acontecimentos políticos, resolva não querer mais as prévias, se disser satisfeito e resolver que o melhor é unir logo o partido? E se o Serra desiste de ser candidato, vai ter prévia? Claro que não.
Mesmo dispostos a realizar as prévias, a direção do PSDB ainda se empenha para uma solução consensual, e avalia que tudo dependerá do que acontecer no país nos próximos meses, e em particular com a candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Uma posição já é consensual entre os dois candidatos: a negativa de antecipar a decisão, pois consideram que a situação política e econômica ainda está muito instável, e é dinâmica por natureza.

A antecipação não será destituída de sentido apenas se eles chegarem a um consenso, conclui a cúpula tucana.

Mas se não houver consenso, por que antecipar, se amanhã as condições políticas podem ser outras, mais favoráveis a um ou outro candidato?

Uma coisa é certa, afirmam os dirigentes tucanos em uníssono: se houver prévia, vai ser feita de uma maneira que satisfaça aos dois candidatos, nenhum deles poderá sair dizendo que a prévia não foi bem feita, ou foi tendenciosa.

"Estamos realizando as prévias com boa-fé, para distender o partido e unir todo mundo. Se continuar nessa divisão toda, é melhor entregar logo o jogo", define um dirigente.

PMDB repõe Aécio na agenda

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, retomou o diálogo interrompido com o PMDB sobre a possibilidade de se candidatar pelo partido a presidente da República em 2010. Na semana passada, aproveitou uma agenda em Brasília para conversar com Michel Temer, presidente do PMDB, e com o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Desta vez, o governador foi assertivo e falou em data. Disse que se até 31 de março o PSDB não resolvesse realizar as prévias para escolher o candidato a presidente ele deixaria o partido e poderia se filiar ao PMDB.

Pôs as coisas nos seguintes termos: continuaria nas próximas semanas a "bater o bumbo" em defesa das prévias e, se não conseguisse, estaria à vontade, teria motivação e discurso para sair.

Provavelmente também uma justificativa para evitar a perda do mandato de governador um ano antes do prazo de desincompatibilização, por causa da restrição legal à troca de partidos.

O discurso de Aécio, caso viesse mesmo a concretizar a decisão, incluiria a denúncia da "ditadura das elites partidárias" e o anúncio da disposição de cumprir o destino desejado "pelo povo de Minas", além da retomada da trajetória do tio-avô, Tancredo Neves, interrompida pela morte antes da posse na Presidência, em abril de 1985.

Talvez não por coincidência o governador tenha dado o prazo de 31 de março na conversa com o PMDB. Teria abril à disposição caso a providência se fizesse necessária.

O PMDB, cujo presidente, Michel Temer, dias antes considerara "fato vencido" a hipótese de Aécio Neves trocar de partido, deu à conversa a devida proporção: acha que há mais chance de o PSDB ceder para Aécio ficar que os tucanos comprarem uma briga do tamanho do segundo colégio eleitoral Brasil.

De qualquer modo, os pemedebistas se sentiram fortalecidos. Começaram a sonhar com palanques regionais robustos, livres da dicotomia PSDB-PT e com uma candidatura própria passível de vir a conquistar o apoio do presidente Luiz Inácio da Silva como alternativa a Dilma Rousseff.

Um acréscimo considerável ao cacife político do partido e um sinal de que a sorte definitivamente se decidira por uma aliança com o PMDB, um colecionador de vitórias.

O estigma

Assim estava em regozijo o espírito pemedebista até o fim de semana passado, quando a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à Veja tachando o partido de "corrupto" fez baixar a apreensão e acendeu a desconfiança.

Teria o senador escolhido estrategicamente esse momento de glória para dizer de público o que há muito diz em particular?

Se o lance obedeceu a uma lógica política, entraria ele nesse jogo desguarnecido, sem munição suficiente para revidar a um contra-ataque imprudente?

Sob a marca de "corrupto" impressa na testa por um correligionário, o PMDB não veria se esvaziar seu papel até agora tido como decisivo na definição dos rumos da sucessão presidencial?

E Aécio Neves, ficaria tão à vontade para entrar no partido, como dissera havia poucos dias, se à legenda fosse pregado o estigma de má companhia?

Logo agora que corria tudo bem e o País já se esquecera daquele dia de dezembro de 2002 quando o recém-eleito Luiz Inácio da Silva desistira na última hora de entregar três ministérios ao PMDB por não considerá-lo à altura do governo "plural" e imune a "feudos" com o qual iniciaria a era da mudança.

O mal-estar, o constrangimento e a cautela pautaram a decisão da Executiva do PMDB de sair pela tangente com uma nota oficial de sete linhas totalmente anódinas.

Qualquer movimento brusco poderia ser fatal.

Havia dois caminhos a seguir: partir para a briga de rua na base da desqualificação do senador ou questionar ponto a ponto as acusações, exigir provas e perguntar a ele por que não fizera denúncias formais aos canais competentes.

Uma terceira possibilidade foi sugerida - a intervenção da Executiva Nacional no diretório regional de Pernambuco, sob a alegação de mau desempenho político-eleitoral -, mas, por ora, arquivada.

Analisadas as perdas e os ganhos, decidiu-se tentar não provocar, trabalhar em silêncio para a poeira baixar e esperar o carnaval passar.

Do PMDB diga-se tudo, menos que lhe falta senso de realidade para perceber que Jarbas Vasconcelos prega em terreno fértil, atira em dois símbolos do estigma (José Sarney e Renan Calheiros) e, por mais dispersas que possam ser suas razões para bater, o partido sabe precisamente porque apanha.

Assim é

Autoridades governamentais, partidárias e parlamentares, situacionistas e oposicionistas, cumprem o acerto tácito de formalizar o vácuo em torno das declarações do senador Jarbas Vasconcelos sobre o PMDB.

É de se notar, porém, que, se todas elas evitaram corroborar as afirmações, nenhuma delas tampouco se dispôs a oferecer as mãos ao fogo em prol do desmentido.

Minas, fiel da balança

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Com tantas coisas em comum, para o bem e para o mal, PT e PSDB têm agora a mesma avaliação: alavancada pelos 80% de Lula e pelo PAC, Dilma vai indo; com Aécio pela frente, Serra empaca. Parece espremido entre a desenvoltura de uma e a pressão do outro.

Petistas e seus aliados estão prestes a acender velas para Aécio, mas os tucanos ficam onde eles têm fama de ficar: em cima do muro. Mas, como há dois candidatos, parece haver também dois PSDBs.

Enquanto há um certo consenso fora do Congresso de que a vez é de Serra, que está disparado na frente, tem 66 anos e se preparou a vida inteira para ser presidente, entre senadores e deputados não é tão evidente assim. Exceto um caso ou outro, como Jutahy Jr. (Serra até debaixo d"água) ou Nárcio Rodrigues (aecista roxo), os parlamentares elogiam igualmente os dois pré-candidatos e parecem levar Aécio muito mais a sério do que o eleitorado, a imprensa e os que se interessam por política.

Lembra um pouco o descompasso em 2006, quando as pesquisas davam Serra na cabeça e a bancada federal, surpreendentemente, preferia Alckmin. Que levou. Ao que tudo indica, Aécio não tem força para ser candidato, mas tem para evitar que Serra seja presidente. De tanto engrossar o coro suprapartidário mineiro contra "os paulistas", pode inviabilizar o voto de Minas em Serra, mesmo subindo pro forma no palanque dele.

Prévias são naturais e consolidadas nos EUA, onde envolvem rituais, regras e compromissos morais. No Brasil, fora o PT, elas são sinônimo de racha. Quem perde pode fazer o que quiser -e quer atrapalhar. Dilma tende a ter o Norte, o Nordeste e boa parte do Rio; Serra é forte em São Paulo e no Sul; Aécio, por enquanto, está limitado a Minas.

Com o PSDB dividido, ou Serra perde Minas, ou Aécio perde São Paulo. Dilma fecha o jogo.

Aliás, a "gaúcha" Dilma nasceu em Minas. Na campanha, pode vir a ser mais mineira do que nunca.

O PSDB e a difícil arte de aprender a somar

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A divisão faz parte da dinâmica dos dois partidos que têm polarizado as eleições no país, o PT e o PSDB, mas o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou desenvolvendo mecanismos de disputa interna mais maleáveis à composição em torno de candidaturas que a legenda do governador de São Paulo, José Serra.

No PT, as piores brigas, as mais autofágicas, giram em torno do poder interno, que dá às tendências majoritárias maior poder não apenas sobre a máquina partidária, mas para conquistar espaços em governos petistas. Os embates não são personalizados: os atores se agrupam conforme suas posições políticas. Mais recentemente, assumiram importância os grupos comandados por políticos com bases clientelistas, donos de votos, mas ainda assim as tendências que se formam em torno desses personagens se integram à dinâmica interna de disputa política quer pelo controle de pedaços da máquina partidária, quer por espaços em governos, o que significa fazer alianças e compor. Os resultados de prévias partidárias, dados esses mecanismos menos personalistas que o PSDB de composição interna, acabam sendo melhor assimilados. Existe um pragmatismo maior nas decisões sobre candidaturas, pelo fato de não ser um partido onde as lideranças individuais têm um grande peso e porque a disputa entre os grupos mira também o horizonte pós-eleitoral, isto é, a composição dos governos, na hipótese de eleição dos candidatos do partido.

No PSDB, a personalização da luta interna dificulta a assimilação de disputas - incentiva, portanto, as divisões. A decisão sobre candidaturas nacionais sempre foi centralizada na direção nacional, que por sua vez não é produto da luta interna entre posições políticas, mas representa o consenso entre poucas lideranças. O cacife de cada postulante são os votos que ele pode arregimentar sozinho, como liderança política - e se supõe que a eles vão se somar posteriormente os votos resultantes da polarização com o PT (essa é a realidade na história recente, polarizar sempre com o partido de Lula); ou então o poder de desestabilizar, pela ameaça, seu adversário. Em 2006, o ex-governador Geraldo Alckmin desbancou a candidatura favorita dos cardeais tucanos, de José Serra, porque ameaçou disputar com ele na convenção nacional. Serra, que perdeu as eleições de 2002 em grande medida porque provocou a divisão do PSDB - apostando erradamente que o partido iria se unir mais na frente, durante a campanha - recuou e deixou Alckmin, nas eleições seguintes, às voltas com um partido igualmente dividido e tendo que administrar também uma derrota.

Nas eleições de 2010, essa incapacidade de assimilar discordâncias internas pode novamente comprometer o PSDB. O alarme já soou, tanto da parte do grupo de Serra como do lado do DEM. O ex-PFL não apenas está fechado com o governador de São Paulo na disputa pela Presidência, como abriu mão da vaga de vice, para que o PSDB tente negociar a saída do PMDB da base da candidatura governista - mas quer que seja o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o candidato a governador da coligação. O DEM tem se articulado para obrigar não apenas um entendimento entre Serra e o governador de Minas, Aécio Neves, sobre quem vai ser candidato (a preferência do ex-PFL, e a sua aposta, são em Serra), como uma rápida definição. Acha que a oposição tem que botar o bloco na rua, pois a última pesquisa Sensus/CNT revela, na sua avaliação, que a candidatura de Dilma Rousseff pelo PT já está consolidada junto ao eleitorado. Se não andar logo, a oposição corre o risco de ser atropelada pela candidata petista, mesmo tendo Serra como candidato, hoje o melhor colocado nas pesquisas.

Serra, por seu lado, está às voltas com a solução de uma equação difícil: como disputar com Aécio sem dividir o partido. Minas Gerais é o Estado com o segundo maior colégio eleitoral do país (10,86% do total de eleitores do Brasil) e, se não tem o poder de, por si só, garantir uma vitória de Aécio, se ele disputar a Presidência da República, pode ter o efeito de derrotar Serra, se for o governador paulista o candidato do partido à sucessão de Lula. Segundo um "serrista", a questão agora é deixar claro para o eleitor mineiro que o PSDB não está subtraindo de Aécio as chances de tornar-se candidato a presidente, mas que o candidato será Serra porque ele é o que tem mais chances de vencer a candidata petista. Por esta razão Serra mandou recados para todos os lados que topa as prévias. Se elas vão ocorrer, é outra história. Mais para a frente, e antes da data marcada, a situação pode ser resolvida em favor do paulista com manifestações claras e inequívocas de maioria dentro do partido - o apoio declarado, por exemplo, dos 26 dos 27 diretórios estaduais do partido. Não existe entusiasmo com as prévias, até porque os "serristas" não acreditam que o governador mineiro tenha a intenção de se unir ao candidato vitorioso se perdê-las, mas a questão agora é não dar chances para que Aécio pareça vítima - nem pretexto para que ele deixe o partido e leve o eleitorado mineiro a votar contra a candidatura de Serra.

Enquanto isso, os grupos do PT se articulam em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

Praticamente não há resistências internas ao seu nome. A ministra, por sua vez, tem se aproximado e mantém conversas com as tendências petistas. É uma forma de se inserir na lógica do partido, de abrigar as discordâncias internas e, ao mesmo tempo, unificar as tendências que brigam pelo poder da máquina no mesmo palanque. Um jantar na residência da ex-prefeita Marta Suplicy foi uma aproximação com o PT paulista que rearticula um campo majoritário e, assim, a hegemonia no partido. Também tem marcada uma reunião com a tendência Mensagem ao PT, do ministro da Justiça, Tarso Genro.

O pragmatismo petista deve-se ao fato também de ser um partido que depende muito do seu grande líder, o presidente Lula, mas mais ainda de sua estrutura nacional e da identificação do eleitor com a legenda para conseguir votos. No caso do PSDB, o pragmatismo é menor porque disputam a ribalta grandes líderes num partido com pequena capacidade de se unificar nacionalmente.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

Aécio convida Serra para caravana tucana

Isabella Souto e Bertha Maakaroun
DEU NO ESTADO DE MINAS

Governador de Minas quer que o paulista o acompanhe em viagens pelo país antes das prévias que o partido deverá fazer para escolher o candidato a presidente da República


O governador Aécio Neves (PSDB) vai convidar o colega de São Paulo, José Serra (PSDB), para percorrerem juntos os estados brasileiros atrás de votos nas prévias que escolherão o candidato do partido a presidente da República nas eleições de 2010. O assunto será tratado entre os dois durante conversa que será agendada logo depois do feriado do carnaval. Em março, o mineiro já anunciou que iniciará uma série de viagens – em um primeiro momento, pelas capitais do Nordeste, região onde é menos conhecido.

A proposta – se aceita por Serra –, segundo Aécio Neves, mostraria que não há divisão ou rachas na legenda em razão da disputa. “Quem sabe possamos caminhar juntos pelo Brasil, coordenados pela direção nacional do partido, mostrando que, mais que qualquer projeto individual, prevalece o projeto de país que o PSDB tem. Aqueles que apostam nas prévias como um instrumento de divisão do partido e acirramento dos ânimos, alguns talvez até torçam para isso, se decepcionarão”, afirmou.

Na segunda-feira à noite, durante um jantar no Palácio dos Bandeirantes, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), informou a José Serra que o partido deverá realizar as prévias – e ouviu do paulista que estaria disposto a disputar a indicação para as eleições do ano que vem. Até então, os aliados do governador de São Paulo eram os mais resistentes à realização das prévias e estavam trabalhando para um consenso interno que garantisse a sua candidatura.

Por outro lado, o governador Aécio Neves vem insistido na tese de ouvir a opinião das bases do partido para uma definição do candidato à sucessão presidencial. O seu principal aliado tem sido o senador Sérgio Guerra, que recentemente veio a Belo Horizonte para uma conversa no Palácio da Liberdade. Na ocasião, veio acalmar os ânimos: no dia anterior à sua vinda, Serra havia anunciado a nomeação do ex-governador Geraldo Alckmin para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, medida que foi vista como uma jogada de Serra para atraí-lo para seu grupo.

Para Aécio, as prévias não indicarão a existência de um “vitorioso” ou um “derrotado” dentro do PSDB. Até porque, afirmou que, se depender de seus gestos, os tucanos estarão “unidos”. “As prévias não são contra ninguém. É legítimo que cada um tenha o seu projeto, mas todos nós temos respeito pelo Brasil ”, afirmou. “Se as prévias se realizarem, será em clima de respeito mútuo e fortalecimento da união partidária”, completou Aécio.

A ideia dos tucanos é de que as prévias sejam realizadas entre agosto e dezembro deste ano, ou, no mais tardar, início de 2010. A pressa tem motivo: os tucanos querem uma resposta à movimentação do governo federal em torno da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff

Formato

Apesar da disposição, o PSDB ainda não sabe como será a formatação das eleições internas que escolherão o candidato tucano à Presidência da República. O secretário-geral da Executiva Nacional do PSDB, Rodrigo de Castro, afirmou ontem que o PSDB aguarda o resultado da consulta feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para traçar o modelo das prévias no PSDB. “Há várias hipóteses possíveis. Mas tudo depende dessa consulta, que deverá apontar os limites de gastos em publicidade, na operacionalização das prévias para que o partido possa definir que modelo de consulta interna adotará”, disse ele. Na consulta, feita em janeiro, o PSDB pergunta a partir de quando é permitida a realização das prévias partidárias e se os eleitores não-filiados ao partido poderiam participar.

Ao discorrer sobre os modelos de prévias adotados por diferentes partidos no mundo todo, o cientista político e professor da UFMG, Carlos Ranulfo considera ser competência das legendas regulamentarem as prévias eleitorais. “Não vejo necessidade de consulta à Justiça Eleitoral”, afirma. “Geralmente os próprios partidos definem as regras, que podem ser abertas a todos os militantes ou podem ser restritas aos delegados de convenções”, assinala Ranulfo. Não apenas na Europa e nos Estados Unidos, mas na América Latina, vários partidos já escolheram candidatos à Presidência da República por meio de prévias. “Argentina e Chile são exemplos. No Brasil, o próprio PT faz prévias com alguma frequência. Os filiados votam e pronto, é o padrão. Já a experiência do Uruguai é atípica, pois lá existe lei regulamentando as prévias”, observa.

Investimentos

Os investimentos na Região Norte, nos vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, serão prioridade para o governo mineiro e serão mantidos ainda que sejam necessários cortes no orçamento para conter os efeitos da crise financeira mundial no estado. O anúncio foi feito ontem pelo governador Aécio Neves (PSDB)durante solenidade realizada no Palácio da Liberdade para a assinatura da ordem de serviço para investimentos de R$ 545 milhões em obras de saneamento básico que beneficiarão 400 mil habitantes na região.

'A briga é com a Dilma'

Leandro Colon
Entrevista/Sérgio Guerra
DEU NO ESTADO DE MINAS

"Presidente nacional do PSDB afirma que alvo da oposição está definido e que prévia acontecerá"

Brasília – O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), avisa que na briga eleitoral de 2010 a arma da oposição vai mirar desde já a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), e não o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não vamos disputar com o Lula, mas com a Dilma. Vamos contrapor o que a candidata vai dizer com os nossos candidatos, que têm obra feita”, diz. “Ela não tem capacidade para governar o Brasil e fazer as mudanças de que o país precisa. Não tem raízes políticas”, ressalta. Em entrevista dada ontem ao Estado de Minas, Guerra confirma o acerto com os governadores Aécio Neves (Minas Gerais) e José Serra (São Paulo) para realizar prévias e escolher qual deles vai disputar a sucessão presidencial. O senador descarta a possibilidade de uma chapa puro-sangue, com os dois. “Não vejo viabilidade nas duas personalidades, nas conjunturas às quais estão vinculados. Acho improvável.”

Como foi o encontro com o governador Serra na segunda-feira?

Eu disse que tinha combinado com o Aécio que faríamos a regulamentação das prévias. E ele (Serra) disse “tudo bem, eu não sou contra as prévias”. Eu queria que um apoiasse o outro, porque teríamos desde logo alguém com a cara do PSDB em todo lugar. Mas se não houver apoio haverá prévias.

Acha possível um acordo entre os dois? Uma chapa pura, por exemplo?

Não acho, acho que não será assim. Uma chapa puro-sangue seria o céu, mas não acredito. Não vejo viabilidade nas duas personalidades, nas conjunturas às quais estão vinculados. Acho improvável.

O governador Aécio evita um discurso anti-Lula, prefere o pós-Lula. O senhor concorda?

Está certo, porque não vamos disputar com o Lula, mas com a Dilma. Vamos contrapor o que a candidata vai dizer com os nossos candidatos, que têm obra feita. São Paulo é uma máquina, o Serra é um grande governador. Aécio é consenso, pegou o estado de um jeito, deixou de outro, com habilidade.

E a campanha da ministra Dilma…

É uma vergonha. Ela não faz campanha pelo partido, mas por dentro do governo. Até porque não teria como aparecer sozinha. Ninguém sabe quem é ela. Num comício em Pernambuco, as pessoas diziam “dona Nilma”. Ela não tem capacidade para governar o Brasil e fazer as mudanças de que o país precisa. Não tem raízes políticas. De onde é? Aécio é mineiro, encarna uma enorme tradição e um conteúdo mineiro. Serra tem uma história, uma vida, um conteúdo em São Paulo. E as raízes da ministra? O que ela já fez desde lá trás? A mãe do PAC? Isso é marketing. E precisamos de gente democrática. Ela não me parece muito democrática. É centralizadora, autoritária.

Na semana passada, a ministra falou aos prefeitos que o Brasil teria quebrado na crise financeira se fosse no governo anterior...

Essa frase é de uma incompetência técnica exuberante. A ministra está falando muita bobagem. É uma pessoa séria, nada contra. Agora, está sendo produzida. É um produto para disputar a presidência.

O presidente Lula tem registrado uma popularidade de 85%. Onde a oposição errou?

A oposição não teve a competência técnica para enfrentar uma situação concreta. O presidente Lula faz comunicação eleitoral o tempo todo. Nós não fazemos essa arte. Respeitamos as instituições.

Qual o discurso para vencer a eleição e derrotar Dilma?

O discurso da oposição tem que ser reciclado, ter foco. Temos muitas falhas e precisamos resolver. Não adianta fazer oposição espalhada. É preciso ter foco.

E como chegar a esse foco?

Vamos acompanhar centros de problemas do governo federal. Um deles é o PAC. Dizer que o PAC não está cumprindo suas metas é verdade, mas não o suficiente. Dizer que o PAC não está organizado é mais do que verdade. Agora, o que vamos dizer é se tal licitação se deu e por quê. Vamos acompanhar para a população ter ciência do que está acontecendo.

O Bolsa-Família tem sido um dos carros-chefes do governo Lula. Como o PSDB vai tratar o assunto?

O programa é bom? É, e temos que sustentá-lo, mas melhorá-lo com a ideia da contrapartida. O dinheiro vem não para a pessoa depender dele, mas para dar condição para as pessoas se emanciparem..

Lula é a "Alice" que enxerga o fim da crise no Brasil, diz Freire

Valéria de Oliveira
DEU NO PORTAL DO PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, criticou o discurso "eleitoreiro, com objetivo de manter popularidade" que vem sendo feito pelo presidente Lula anunciando o fim da crise econômica no país. "Ele decretou que a crise no Brasil está no fim, quando em nenhum lugar do mundo se tem noção de qual o tamanho dela nem de quando será o seu fim; é uma irresponsabilidade que não tem tamanho, e só pode vir de quem só pensa em si mesmo". Freire chamou Lula de Alice, referindo-se à personagem de Lews Carrol, que ficou famoso no cinema com o filme "Alice no País das Maravilhas".

O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ao jornal Valor Econômico que ainda não se sabe sequer a extensão da crise, mas, conforme Freire ressalta, Lula insiste em sustentar a retórica otimista e "palanqueira" sem se preocupar com o drama do desemprego – que vem aumentando diariamente no país e no planeta – ou com as dificuldades do setor industrial, que acumula perdas por causa da enorme retração nas vendas, o que leva os empresários a demitir. Desde o início, a crise vem sendo tratada pelo governo Lula com irresponsabilidade, diz ele.

Discurso irreal

"Primeiro, havia a tese do descolamento da economia brasileira, quando o presidente disse que a crise era do Bush e nós não tínhamos nada a ver com ela; depois, quando essa tese ficou insustentável, Lula escorou-se no discurso de que os fundamentos da economia brasileira era tão sólidos que só veríamos uma ‘marolinha’; agora, ele insiste em vender ilusões de que o fim chegou, em vez de agir para debelar a crise, acabando com ela no discurso e desprezando a realidade".

O presidente do PPS salientou que se o governo brasileiro quer mostrar alguma coisa ao mundo, deveria se preocupar com a eficiência e a competência para enfrentar a crise, em vez de querer "faturar" eleitoralmente com ela, mentindo sobre um assunto tão importante. "Lula usa táticas que desrespeitam a inteligência das pessoas, como o que fez ao afirmar que São Paulo tem 10% dos analfabetos do país, se fazendo de desinformado para atingir o adversário político, o governador José Serra".

Finanças e ciência, ilusão e religião

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Armínio Fraga critica ilusões da economia, aprova estatização provisória de bancos, mas alerta contra regulação pesada

"NOS EUA , estão dando uma moleza extraordinária para os bancos." É uma opinião de Armínio Fraga, nosso "quiet liberal", um liberal tranquilo, financista, ex-presidente do Banco Central, ex-gestor de fundos de George Soros e economista dito "ortodoxo", "ma non troppo". O economista falava na quarta-feira para parte da comunhão tucana paulista, no Instituto FHC: o próprio FHC, José Serra, ex-BCs, ex-assessores graduados de FHC, banqueiros e economistas. Expunha as recomendações de reforma financeira que elaborou com Paul Volcker e cia.

Fraga acredita que se vive o fim de grandes ilusões, como aquela "do controle científico do risco", por meio de estatística avançada, entre outras, que ajudaram a alimentar a religião ultraliberal do período em que Alan Greenspan presidiu o Fed. "E os economistas achavam, de modo meio prepotente e otimista, que se vivia a "grande moderação"", um período em que os BCs acreditavam ter encontrado um equilíbrio entre inflação baixa e crescimento.

Fraga é contra a "regulação pesada", que inibiria a inovação, seria custosa e, no caso de exigir capital demais dos bancos, limitaria o crédito. Mas acha que "a criatividade [inovação financeira] foi longe demais. O ganho [para a economia] foi pequeno tendo em vista os riscos e a crise que gerou". E, com a chancela do governo dos EUA, os bancos ficaram "superalavancados" (tinham "empréstimos" demais em relação ao capital próprio. Quanto maior essa razão, maiores a alavancagem e o risco de quebra em caso de perdas).

"O pessoal [das finanças] alega que alavancar era o modo de ganhar 25% [ao ano]. Mas qual é a lei da natureza segundo a qual os ganhos têm de ser constantes em 25%?"Fraga aprova a estatização provisória dos bancos americanos. Credores e acionistas perderiam dinheiro. "Do ponto de vista social, é justo, do ponto de vista do funcionamento do sistema, é bom": tal punição inibiria investimentos de risco demasiado. Diz que é "muito ruim o governo [dos EUA] comprar dos bancos essa papelada podre".

O aperfeiçoamento da supervisão enfrenta um problema político, avalia Fraga. Muito dinheiro das campanhas eleitorais vem de instituições financeiras. Durante a campanha de 2008, "ninguém queria saber de discutir o problema da supervisão financeira, isso é real, aconteceu", disse Armínio.

Fraga relatou uma conversa que teve faz alguns meses com Volcker, o lendário presidente do Fed que domou a grande inflação americana dos anos 70 com pancadas de juros. Volcker perguntou a Fraga quais as contribuições essenciais da teoria econômica, nos últimos 20 anos, para melhorar a política monetária. Fraga disse que teve dificuldade em responder. Suas lembranças mais importantes eram de contribuições feitas nos anos 60 e até meados dos 70 do século passado.

A outra pergunta de Volcker era sobre engenharia financeira (criação de instrumentos como derivativos exóticos). Sem engenharia financeira (e computadores e liberalização etc.), coisa que ganhou impulso no final dos anos 70, o mundo financeiro seria outro e menor. Fraga disse que o emprego da engenharia financeira "passou do ponto ótimo".

Gasto do governo com encontro de prefeitos foi de R$2,4 milhões

Maria Lima, Chico de Gois e Regina Alvarez
DEU EM O GLOBO


Oposição quer ação contra Dilma por campanha e uso de dinheiro público

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A informação de que o governo gastou muito mais do que os R$253 mil divulgados com a realização do encontro de prefeitos em Brasília, há uma semana, deu novo fôlego à oposição e mais argumentos para uma enxurrada de ações de DEM e PSDB na Justiça Eleitoral, no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União (TCU). Eles tentam barrar a superexposição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com uso de recursos públicos. À noite, o Planalto admitiu que os gastos com o evento chegaram a R$1,875 milhão. Mas levantamento, ainda parcial, feito pelo GLOBO junto a outros órgãos identificou um custo de R$2,431 milhões.

As executivas de DEM e PSDB entraram com duas ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar propaganda antecipada da pré-candidata do presidente Lula ao Planalto. Depois, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) entrou com representação na Procuradoria da República no Distrito Federal para apurar improbidade administrativa de Dilma e Lula. E o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), estuda outra representação no TCU para pedir que os responsáveis pelo evento dos prefeitos devolvam aos cofres públicos os recursos que teriam sido usados de forma indevida para promoção pessoal.

"Não entendemos a politização do problema"

O ministro de Relações Institucionais, José Múcio, informou que o gasto fora de R$1.875.486, sem considerar despesas feitas por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. E detalhou: além dos R$253 mil que sua secretaria aplicou, houve mais R$273 mil de outros 10 ministérios, e R$1.349.000 do Ministério das Cidades. Segundo Múcio, quando ele divulgou os R$253 mil, referiu-se ao gasto de sua pasta.

- Não entendemos a politização do problema. Não houve sentimento de maldade ou má-fé. As contas estão todas no Siafi - disse, negando que o evento tivesse conotação eleitoral.

Além dos gastos divulgados pelo ministro, o BB informou que sua despesa chegou a R$400 mil, incluindo a montagem e ambientação de estande, sala de computadores, equipamentos, acesso à internet, serviço de buffet, recepcionistas e banners. O Ministério da Saúde informou que gastou R$138 mil, com estande, sala de atendimento e translado dos prefeitos na cidade. A Caixa disse que gastou R$18 mil com um estande. A empresa Dialog informa no seu site que participou do evento por meio de seus clientes, os ministérios das Cidades e do Turismo, e ficou responsável, entre outras coisas, pela montagem do auditório em que o Lula recebeu os prefeitos, palcos e sala reservada à Presidência.

A assessoria de Múcio informou que pediu que todos os ministérios informassem os gastos, mas admitiu que nem todos o fizeram. Por isso, Múcio disse que até o final da semana teria tudo contabilizado. Porém, com a insistência da imprensa, antecipou o anúncio.

A primeira ação do DEM/PSDB ao TSE é uma consulta, questionando se é possível um pré-candidato subir em palanques antes de 5 julho do ano da eleição. A segunda é uma representação contra Dilma e o presidente Lula, usando como base o financiamento do encontro dos prefeitos com recursos públicos, que teriam servido, segundo alegam, para fazer propaganda da candidatura. Na ação, relacionam discursos de Lula defendendo uma candidata mulher, declarações de vereadores dizendo que o evento era para "turbinar" a candidatura de Dilma e o estande onde os participantes confeccionavam santinhos com fotos dela e de Lula.

- O Planalto usou o nosso dinheiro para mostrar a ministra Dilma - disse o deputado Roberto Magalhães (DEM-PE), que redigiu as duas ações.

- Se PSDB e DEM fizerem uma pesquisa entre seus prefeitos, verão que a maioria apoia o encontro. A oposição está com medo da democracia e quer introduzir uma espécie de censura ao presidente e à ministra Dilma - disse o líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

Dilma rebate acusação de que faz campanha em viagens

Em São Paulo, Dilma acusou a oposição de tentar "interditar" o governo em ações de combate à crise, como o PAC. Ela adiantou que fará ainda mais viagens, além de inaugurações de obras para "prestar contas" do governo. E frisou que DEM e PSDB são beneficiados pelo PAC, citando os governadores José Serra (PSDB), de São Paulo, e José Roberto Arruda (DEM), do DF.

- Eu acho que (a ação) tem esse intuito (de disputa eleitoral) e tem, sobretudo, o intuito de interditar o governo. Acho absolutamente incorreta essa versão de que estamos fazendo campanha. O que tenho feito é dar explicações, nós devemos uma satisfação.

Dilma falou a cerca de 500 sindicalistas na Força Sindical. Elza de Fátima Pereira, mulher do deputado Paulo Pereira (PDT-SP), presidente da entidade, abriu o evento afirmando que "o Brasil está pronto para eleger uma mulher". Dilma não reagiu. De manhã, em reunião do Conselho Político, Lula defendeu a participação de Dilma em viagens e sugeriu que recente a ida de Serra ao interior do Paraná teve característica de campanha.

COLABORARAM Soraya Aggege e Gerson Camarotti

O norte na crise

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


Foi um tempo aflitivo, quando vivido um dia por vez, mas olhando-se agora, em retrospectiva, o Brasil se saiu muito bem da crise bancária que enfrentou nos anos 90. Nos Estados Unidos a crise é cada vez mais assustadora, e até Alan Greenspan defendeu ontem a estatização dos bancos. Gustavo Loyola, que enfrentou uma crise bancária, diz que aqui não foi preciso estatizar.

Loyola era presidente do Banco Central na maior parte da crise bancária que estourou com a quebra do Econômico, depois do Nacional, do Bamerindus e de uma série de instituições menores.

Nos Estados Unidos, a estatização (ou nacionalização, como eles dizem) tem sido defendida até pelos maiores adeptos do liberalismo. Aqui, esse caminho foi evitado.

- No Brasil havia bancos sólidos, que serviram como pontos de apoio para o Banco Central. O trabalho funcionava assim: o Banco Central intervinha no banco em crise e passava para outro banco os passivos com o público (os depósitos à vista e a prazo), junto com ativos equivalentes. Por esse banco bom, o adquirente pagava uma quantia ao banco podre que ficava no Banco Central.

As autoridades brasileiras foram rápidas em isolar o problema e atuar em cima de cada um. Não foram problemas simples. A crise maior estourou nos bancos públicos.

- O Banespa sofreu intervenção, o Banco do Brasil foi capitalizado na época do (Carlos) Ximenes na presidência, os bancos estaduais foram federalizados para serem saneados e vendidos - conta Loyola.

A crise, estourando no começo da estabilização, produziu um momento de perigo extremo para o país e a economia. Evitou-se que a crise se alastrasse. O complicador político foi afastado, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso determinou que as decisões fossem técnicas e seu ministro da Fazenda, Pedro Malan, respaldou a atuação do Banco Central.

- No caso brasileiro não se podia estatizar os bancos, porque isso significaria proteger o acionista. No Brasil os acionistas tinham responsabilidade objetiva pela situação das instituições, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, e por isso ficaram com os bens indisponíveis. Se os bancos brasileiros com problemas fossem estatizados, seria uma forma de tirar dos banqueiros essa responsabilidade - conta Loyola.

Outra diferença enorme entre a crise lá e cá é que no Brasil não havia subprime ou excessos de empréstimos. Os rombos dos bancos revelados após a queda abrupta da inflação estavam relacionados com títulos públicos como FCVS (Fundo de Compensação de Variação Salarial) ou títulos da dívida ou TDAs, papéis que no mercado tinham um valor muito menor que o valor de face porque traziam a memória dos problemas econômicos anteriores do Brasil. No caso dos bancos estaduais, principalmente do Banespa, havia rombos causados por empréstimos concedidos pelas instituições aos governos estaduais, que não pagavam. O Banespa recebeu um empréstimo do governo para sanear as contas e, quando ele foi vendido para o Santander, o dinheiro ajudou a abater a conta, mas o governo de São Paulo ainda paga essa dívida. Loyola diz que, ao atacar o problema, deve-se mapear o tamanho da crise e atacar a falta de confiança no sistema.

- O primeiro norte com o qual trabalhar é a eliminação da desconfiança, por isso não adianta emprestar 300 para cobrir um rombo de 500, porque os agentes econômicos continuarão desconfiados e, ao fim, o buraco crescerá e o Banco Central terá posto 300 para nada. Na medida do possível, é preciso ter um diagnóstico preciso do tamanho do problema. O segundo norte é saber que o investidor de risco que subscreveu ações do banco não pode ser salvo, é preciso garantir apenas o depositante e o poupador. O terceiro norte é não permitir a contaminação de um banco sólido que tiver absorvido um banco com problema; aqui, quando tivemos sinal disso, agimos imediatamente.

Nos Estados Unidos, o Bank of America comprou a Merrill Lynch depois de uma longa due diligence (auditoria), mas, após completada a aquisição, avisou ao Fed (o BC americano) que tinha subestimado os problemas do banco adquirido, e isso reabriu a temporada de problemas.

Crises bancárias aconteceram em outros países da região. A Venezuela teve uma crise antes do Brasil. Vários bancos quebraram, os donos fugiram para o exterior com remessas de capital e o governo caiu. A crise provocou uma enorme recessão. No corralito que aconteceu na Argentina, tempos depois, o dinheiro dos depositantes ficou preso, numa espécie de Plano Collor piorado. O Brasil voltou a ter um problema com os bancos Marka e FonteCindam na época da desvalorização cambial, mas o problema foi isolado.

- Mas a grande vantagem é que no Brasil a crise bancária não coincidiu com a crise cambial. Aqui houve um sequenciamento perfeito - diz Loyola.

Agora enfrentamos a crise internacional de grandes proporções, à qual não resistiríamos sem ter saneado e criado regras de prudência para os bancos, como foi feito naquela nossa crise bancária.

Comício com prefeitos. Pressa para lançamento de Serra.

Jarbas de Holanda
Jornalista

Precipitou-se, mesmo antes do Carnaval, a tomada de posições do governo e dos principais partidos já com o ostensivo desenho da disputa presidencial de 2010. O fator básico de desencadeamento do processo foi a iniciativa do Palácio do Planalto de usar o encontro da semana passada em Brasília com milhares de prefeitos como verdadeiro palanque eleitoral em favor da pré-candidata lulista Dilma Rousseff. O que levou o ex-presidente FHC, refletindo demandas do núcleo paulista do PSDB e acolhendo recomendações da direção do DEM, a propor rápida definição do candidato tucano (neste caso, o governador paulista José Serra, que lidera as pesquisas de intenção de votos), com óbvio sacrifício do processo de prévias partidárias reclamado pelo governador mineiro Aécio Neves. Cujas reações incluíram o aprofundamento de sua interlocução com o PMDB e entrevistas a grandes veículos da imprensa fixando data para que se aprove tal processo, até o final de março próximo, e, implicitamente, admitindo deixar a legenda se as prévias não forem promovidas.

Por outro lado, o novo e agressivo passo do Planalto em favor da ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC (além de vários outros dados e programados) suscitou ação do DEM junto ao STF contestando a extemporaneidade do ato de conteúdo eleitoral, enquanto Ciro Gomes, sentindo-se marginalizado na base governista que íntegra, tratou de reafirmar sua pré-candidatura pelo PSB. E, por fim, o ex-governador de Pernambuco e senador peemedebista Jarbas Vasconcelos disparou, a partir de entrevista à Veja, contundentes ataques ao governo Lula e, sobretudo, ao conjunto de dirigentes e lideranças do seu próprio partido, o que combinou com manifestação de apoio a José Serra.

O novo cronograma de afirmação do nome de Dilma Rousseff combina a persistência (e até o aumento) dos altos índices de popularidade do presidente Lula, apesar dos efeitos da crise econômica, com a oferta de sedutoras parcerias ao PMDB na campanha e num governo de Dilma. Oferta com a qual espera assegurar a ela, na disputa, o precioso tempo do chamado programa eleitoral gratuito do partido, bem como o apoio das suas duas grandes alas (em troca dos quais promete também respaldo de Lula para candidatos peemedebistas aos governos de vários estados, com a subordinação a isso de um PT enfraquecido e inteiramente dependente do presidente Lula). De fato, se os desdobramentos da crise não afetarem, e significativamente, a popularidade do presidente, uma aliança lulista-peemedebista dificilmente poderá ser batida numa campanha polarizada em torno do atual presidente (diversamente do que ocorreu nos pleitos municipais de 2008, dominados por fatores locais).

De fato também, como avaliam FHC e Jorge Bornhausen, do Democratas, a demora na escolha do nome do PSDB facilita o cronograma da construção política e social da candidatura de Dilma (que, ampliou em 189% neste mês, em relação à média dos últimos 12 meses, a centimetragem de sua presença na mídia). Por isso, o núcleo paulista e provavelmente a maioria da direção nacional do PSDB, bem como as lideranças dos aliados DEM e PPS, estão pressionando por uma definição do candidato tucano, o mais rápido possível, entendendo que não se deve esperar pelo resultado de prévias (que Bornhausen qualifica como “não tendo tradição no Brasil” e das quais “os partidos saem desgastados”). Mas, para tanto, há um grande obstáculo à frente: a recusa das prévias contraria compromisso assumido pela cúpula do PSDB com Aécio Neves, que reitera e enfatiza a exigência delas e bloqueia propostas para que aceite ser vice de Serra. Isso num contexto de amplo predomínio do diagnóstico de que o potencial competitivo de uma campanha oposicionista dependerá em grande medida de uma composição entre Serra e Aécio. Diagnóstico em face do qual se mantêm e intensificam os esforços do presidente do partido, Sérgio Guerra, para se viabilize essa composição. E ontem Serra negou que se oponha às prévias, dizendo-se disposto a participar delas.

Nas entrevistas de reiteração da cobrança de prévias, Aécio Neves reafirmou os dois elementos centrais de seu posicionamento sobre a disputa presidencial: uma aliança entre o PSDB e o DEM é insuficiente, devendo e podendo ser ampliada com a presença de partidos que compõem hoje a base governista, especialmente o PMDB; e tal realinhamento político precisa ser buscado não em torno de confrontação eleitoral com o Palácio do Planalto mas de propostas que se situem além disso, base da receita de um reformismo pós-Lula. Para ele, as prévias seriam, ou serão, o mecanismo para o debate das propostas, ao mesmo tempo ensejando aos pré-candidatos do PSDB contrapor-se publicamente à campanha disfarçada de Dilma Rousseff. Quanto ao PMDB, as novas entrevistas de Aécio frisam a essencialidade do partido para a conquista e o exercício do governo federal, indicação de que passou a admitir a filiação à legenda, caso se sinta “liberado” para isso pela recusa das prévias. Mas essa possível filiação, teria grande incerteza de resultados satisfatórios, como assinala o Estadão, de domingo último, na reportagem com a entrevista do governador de Minas: “Apesar do entusiasmo dos peemedebistas com a possibilidade de transformar Aécio em candidato do partido, em 2010, o governador considera essa opção de “alto risco”. Afinal, os próprios dirigentes do PMDB, admitem nos bastidores que será difícil fechar todo o partido em torno de um candidato, ainda que este nome seja o de Aécio. O cenário mais provável seria o PMDB dividir-se entre Serra, Dilma e Aécio”.

É quase carnaval

Frevo: Evocação nº 1
Autor: Nelson Ferreira
Canta: Antonio Nóbrega

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O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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