segunda-feira, 13 de julho de 2020

Fernando Gabeira - Cólera e algoritmo

- O Globo

Batalha para combater Bolsonaro tem de ser travada no universo em que ele venceu

O Facebook jogou Bolsonaro no mar com sua rede de 88 contas.

Ele é o primeiro presidente gestado no mundo virtual. Isso explica muito sua ascensão. Mas explica também as redes sociais.

O Facebook foi pressionado pelos anunciantes. A rede pode se desfazer dos discursos de ódio mais grosseiros. É difícil manter as pessoas presas na coleira eletrônica só para consultar os “likes”, numa incessante busca de reconhecimento.

A verdade, além de ser em certos momentos tediosa, propaga-se muito lentamente. Mark Twain disse: “Uma mentira pode dar a volta ao mundo enquanto a verdade leva o mesmo tempo para calçar os sapatos.” Esta citação está no livro “Os engenheiros do caos”, de Giuliano da Empoli. Ele disseca as eleições influenciadas por algoritmos, medo, fake news e teorias da conspiração.

Bolsonaro está na lista. Embora o autor não o compare com os outros, é possível dizer que é menos sofisticado do que o Movimento 5 Estrelas, na Itália, que é controlado diretamente por uma empresa digital, que detém inclusive as senhas dos candidatos eleitos.

Da mesma forma, Bolsonaro não teve os recursos do grupo que conduziu a campanha do Brexit e mergulhou num oceano de informações, produzindo com elas milhões de mensagens pessoais, de acordo com as tendências do destinatário. O Brexit protege a caça para o caçador, defende os animais para o ecologista.

Demétrio Magnoli - A máscara da hipocrisia

- O Globo

Há um governador esperto culpando o povo pelo fracasso do governo

Máscaras são proteções úteis contra a transmissão do vírus em lugares confinados ou em meio a aglomerações. O Congresso aprovou lei que obriga o uso de máscara em todos os locais públicos, inclusive os abertos, onde são inúteis. Bolsonaro vetou trechos da lei sobre lugares fechados, como lojas, templos, escolas e penitenciárias — mas não os que tratam de calçadas, parques ou praias. Os dois atos não têm relação com as necessidades postas pela emergência sanitária. São gestos políticos, no pior sentido da palavra.

A máscara tornou-se símbolo do conjunto de medidas sanitárias adotadas por sociedades que, sem vacinas, preservam a capacidade do sistema de saúde de operar na pandemia. Os vetos presidenciais, destituídos de efeito prático por contrariarem normas estaduais, formam um manifesto da negligência. Inspirado por uma extrema direita mística, Bolsonaro está dizendo que o “vírus chinês”, a “kung-flu”, nas expressões de Trump, é um elemento da conspiração internacional de comunistas e globalistas contra as nações.

Cacá Diegues - Histórias de nossa história

- O Globo

Eles simplesmente não sabem governar

Como no futebol, a democracia é uma caixinha de surpresas. Por mais que a gente celebre o regime democrático, nem sempre estamos satisfeitos com o que ele nos entrega. Nem sempre o que é parido em seu ventre é aquilo que pensamos ser o melhor para a nação e para nós mesmos. Há sempre um sincero limite naquilo que achamos pelo menos razoável para continuarmos a viver em paz numa dita democracia, quando somos surpreendidos pelos resultados desagradáveis de uma eleição indiscutível. Em 2018, foi mais ou menos essa a natureza de nossa angústia: como contestar um resultado eleitoral legítimo, que não correspondia, nem um pouco, ao mínimo do que esperávamos para o futuro da nação? Mesmo que simplesmente enquanto democracia.

A decepção pode vir de uma traição à nossa esperança. Como em 1961, quando o Brasil elegeu Jânio Quadros seu presidente da República. Jânio era a síntese do que acreditávamos que a nação podia ser e tinha que ser inevitavelmente. Uma democracia inteligente e moderna, acima dos interesses geocêntricos da Guerra Fria, com a economia voltada para um desenvolvimento com integridade, liberdade e a igualdade possível. Apoiado à esquerda e à direita, Jânio confirmava nosso sonho de liderança e independência, a consequência mais feliz de uma democracia adolescente de 15 anos, conquistada depois de uma Guerra Mundial e da longa ditadura de Getúlio Vargas.

Ricardo Noblat - Vem por aí o Ministério do Grampo

- Blog do Noblat | Veja

A fissura de Bolsonaro por informações sigilosas

Está para nascer um novo ministério, e logo no governo do presidente da República que prometera enxugar a máquina pública. Naturalmente não se chamará Ministério do Grampo como extraoficialmente começa a ser chamado pelos que assistem de perto ao processo de parto que já começou.

Deverá chamar-se Ministério da Segurança Pública, como no passado. Foi criado pelo então presidente Michel Temer assim que ele decretou a intervenção militar no aparelho de segurança do Rio devido a mais um surto de violência urbana. Fundiu-se com o Ministério da Justiça por exigência do ex-juiz Sérgio Moro.

Pois do Ministério da Justiça será tirado para agradar à bancada da bala, um grupo de deputados federais evangélicos do Centrão que cobra a providência desde que Bolsonaro tomou posse. Mas não só por isso. O novo ministério agradará também aos policiais militares e bombeiros que votaram em peso em Bolsonaro.

E ao próprio Bolsonaro, fissurado em informações sigilosas sem as quais, segundo ele, é impossível governar. PMs e bombeiros formam um contingente de 470 mil homens que votaram em peso no presidente e a ele são leais. É mais do que o contingente de homens das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica.

“Quem fez a campanha (para eleger Bolsonaro) foram os PMs e bombeiros. Na hora de virar chefe, viraram (ministros) os comandantes das Forças Armadas”, disse o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Já passou da hora de Bolsonaro retribuir a ajuda.

Carlos Pereira - Um MP banguela?

- O Estado de S.Paulo

Ao privilegiar sua unidade e hierarquia, Toffoli enfraquece o Ministério Público

O Brasil foi surpreendido com a decisão monocrática do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, proferida durante seu recesso, que concedeu liminar para que as forças-tarefa da Lava Jato de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro compartilhassem informações e dados sigilosos de suas investigações com a Procuradoria Geral da República (PGR). Os procuradores da Lava Jato haviam se negado a enviar os dados e acusaram a PGR de fazer diligência para recolher, sem autorização judicial, tais informações em Curitiba.

Em sua decisão, Toffoli afirmou que o Ministério Público (MP) “é instituição una, nacional e de essência indivisível e, como tal, conta com órgão central”, que é a PGR, e que “a direção única pertence ao procurador-geral, que hierarquicamente, detém competência administrativa para requisitar o intercâmbio institucional de informações, para bem e fielmente cumprir suas atribuições finalísticas”. Toffoli disse ainda que os procuradores da Lava Jato, ao negar repassar informações ao PGR, cometeram “evidente transgressão”.

Após a liminar de Toffoli, o PGR Augusto Aras declarou que a decisão do presidente do Supremo “reafirma a estrutura e a organização do MP Federal, garantindo a união e as relações que devem nortear os órgãos inferiores em relação aos superiores”.

Marcus André Melo* - Os dois corpos do rei

- Folha de S. Paulo

Como sobrevivem as democracias

Para a teologia política medieval, o rei possuía dois corpos: o material e o político —este imortal e simbólico.

Para os atuais autocratas, a imortalidade política continua a ser o objetivo central. Putin, por exemplo, passou a adotar curioso estratagema, viável no marco do semipresidencialismo faux adotado no país: alternar-se como presidente ou primeiro-ministro, logrando assim permanecer no poder por 20 anos —e sabe quantos mais após a recente aprovação de emenda constitucional.

Não deveríamos nos surpreender com as vicissitudes da democracia onde ela nunca existiu: o país só teve duas experiências eleitorais --ambas sob Boris Yeltsin, que estabeleceu o padrão corrupto e não competitivo característico; em nenhuma ocorreu transferência de poder do incumbente a um desafiante.

A trajetória da Polônia não difere muito, salvo nas últimas duas décadas, quando a democracia floresceu, mas foi submetida a testes de estresse não triviais. Foi o único país no qual o ideal dos dois corpos do rei poderia ter se materializado --e não só simbolicamente. Os irmãos Kaczynski —Lech e Jaroslaw—, fundadores do PiS (Partido Paz e Justiça), governaram o país como presidente e primeiro-ministro em 2006-2007. E eram gêmeos. O fim da experiência foi trágico: Lech faleceu em um acidente aéreo que também ceifou as vidas de metade do seu gabinete.

Celso Rocha de Barros* - O acordão de Jair Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Vagas no STF servem de moeda de troca por sentenças para bolsonaristas

Jucá, Jucá, minha pobre criança, alma inocente, escoteiro idealista, aprenda com Jair Bolsonaro como se faz acordão com Supremo, com tudo.

O presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha, concedeu prisão domiciliar a Fabrício Queiroz e a sua esposa, até então foragida. Noronha disse que soltou Queiroz porque ele é idoso, doente e corria risco de saúde durante a epidemia. Já tinha negado o mesmo direito a réus que não se escondiam na casa do advogado do presidente da República.

Segundo reportagem do Globo, seus colegas do STJ acham que Noronha soltou Queiroz para receber de Bolsonaro uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Até outro dia, os bolsonaristas usavam a decisão de soltar presos durante a epidemia como argumento para fechar o STF. Agora dependem disso para não serem presos, e não podem fechar o STF enquanto ele for a principal moeda de troca por sentenças.

Diminuiu a pressão para que Queiroz faça delação premiada e entregue o presidente da República. Se essa opção tivesse sido dada a Paulo Roberto Costa ou Marcelo Odebrecht, a Lava Jato não teria prendido ninguém.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, também fez seu jogo. Declarou guerra à força-tarefa da Lava Jato de Curitiba, brigou por acesso a informações sigilosas da operação e agora pretende unificar a ação anticorrupção em suas próprias mãos. Se der certo, a PGR, já completamente aparelhada, vai ter o poder de melar as investigações contra Bolsonaro.

Leandro Colon – Jogada ensaiada

- Folha de S. Paulo

Presidente do STJ aliviou a tormenta de Bolsonaro em um momento bem delicado para o presidente

Próximo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux carrega no currículo uma revelação sobre os bastidores de sua campanha ao tribunal em 2011.

Sob pressão dos petistas, preocupados com o julgamento do mensalão, Fux teria dito "eu mato no peito", segundo admitiu no ano seguinte à Folha.

O ministro, então no STJ (Superior Tribunal de Justiça), foi escolhido por Dilma Rousseff. Ao contrário da promessa feita no escurinho, Fux não matou no peito e votou pela condenação dos envolvidos, inclusive de José Dirceu.

O jogo da sucessão de Celso de Mello, que deixa o Supremo em novembro, já começou e tem candidato dominando a pelota com classe.

Bruno Carazza* - Lições do Mobral

- Valor Econômico

MEC precisa de mais gestão e menos ideologia

No auge do governo Médici, o ministro da Educação, Jarbas Passarinho, exigiu a demissão da gerente pedagógica da fundação Mobral, Andrea Mandim. A acusação era que sua filha estava envolvida com os movimentos de oposição ao regime militar, além de seu marido ter sido cassado num dos Atos Institucionais por ter sido homem de confiança de Carlos Lacerda.

Mario Henrique Simonsen vinha dando contribuições informais ao governo desde que escreveu, em parceria com Roberto Campos e o jurista José Luiz Bulhões Pedreira, o programa econômico do primeiro-ministro Tancredo Neves, em 1961. Durante o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), Simonsen ajudou a conceber a nova regulação do sistema financeiro nacional e criou uma fórmula de reajuste salarial para conter a inflação, além de ser figura central na construção dos primeiros modelos macroeconômicos do recém-criado Ipea (então chamado de Epea, com “E” de “Escritório”).

Após recusar diversos convites para integrar a equipe econômica, Mario Henrique Simonsen decidiu entrar no governo num cargo pouco usual para quem, aos 35 anos, já era considerado o maior economista brasileiro: em 1970, assumiu a presidência do Movimento Brasileiro de Alfabetização, o Mobral. Antenado ao que de mais avançado se discutia em teoria macroeconômica no mundo, Simonsen havia lançado no ano anterior o livro Brasil 2001, em que apontava a educação como um dos grandes gargalos para o crescimento brasileiro. Aceitar a nomeação, portanto, seria a oportunidade de aplicar, na prática, as recomendações de seus modelos teóricos.

Sergio Lamucci - O difícil equilíbrio da política fiscal

- Valor Econômico

Dívida elevada e economia anêmica complicam cenário

A condução da política fiscal terá grandes desafios já neste semestre, mas especialmente no ano que vem. O país deve terminar 2020 com uma dívida bruta na casa de 95% do PIB, o que aponta para a necessidade de retomada do ajuste das contas públicas. Ao mesmo tempo, uma contração fiscal muito forte pode ter consequências negativas para a economia, num cenário em que ainda não se sabe como famílias e empresas reagirão no pós-pandemia.

Se o governo não indicar um caminho crível de consolidação das contas públicas, as expectativas sobre a trajetória fiscal podem se deteriorar, elevando o risco país e os juros futuros. Com isso, a manutenção da Selic em níveis baixos por um longo período pode entrar em xeque. No entanto, um ajuste fiscal muito abrupto pode minar a recuperação da economia, o que seria péssimo para o mercado de trabalho e para a própria dinâmica da dívida pública.

Em post publicado na semana passada no blog do Fundo Monetário Internacional (FMI), o diretor do departamento de Assuntos Fiscais, Vitor Gaspar, e a economista-chefe da instituição, Gita Gopinath, afirmam que a política fiscal terá que continuar a ser flexível e a apoiar a economia até que uma saída segura e duradoura da crise esteja assegurada. “Embora a trajetória da dívida pública possa subir adicionalmente num cenário adverso, uma retração fiscal prematura representa um risco ainda maior de tirar a recuperação dos trilhos, com maiores custos fiscais futuros”, escrevem os economistas do FMI.

Entrevista | “Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo”

Única mulher no Superior Tribunal Militar é a voz divergente na maioria dos julgamentos da Corte

Por Luísa Martins | Valor Econômico

BRASÍLIA - O Superior Tribunal Militar (STM) estava a poucos dias de completar 199 anos quando rompeu a tradição de ter apenas homens em sua composição. A ministra Maria Elizabeth Rocha tomou posse em 2007 e, desde então, tem se notabilizado não só por ser a primeira (e, até hoje, única) mulher a integrar e a ter presidido a mais antiga Corte do país, mas também pelo teor de seus votos. Quase sempre, ela é a voz que diverge do entendimento adotado pela maioria dos colegas nas sessões de julgamento.

Foi assim no ano passado, por exemplo, quando foi a única a votar pela manutenção da prisão preventiva dos nove militares envolvidos na morte de um músico e de um catador em Guadalupe, no Rio de Janeiro. A conclusão do caso trouxe revolta aos familiares das vítimas e colocou o STM em evidência, especialmente pelas falas do presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a tragédia.

"Quando a política entra nos quartéis, a hierarquia e a disciplina sofrem abalos e a credibilidade é comprometida

Em entrevista exclusiva ao Valor, a ministra falou sobre o uso da imagem das Forças Armadas pelo governo e a presença de militares no Executivo, movimentos acentuados a partir da campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018. Disse que “não é saudável para a democracia” o fato de haver militares da ativa no alto escalão político - casos do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello. “Quando a política entra nos quartéis, a hierarquia e a disciplina sofrem abalos. O governo compromete a credibilidade dos militares”.

Apesar de ela compor a cota do STM destinada a civis, a convivência com militares no trabalho e em casa - é casada com um general -, a faz ter certeza de que entre eles não se desenha a hipótese de golpe. A ministra defendeu as investigações sobre atos antidemocráticos no Supremo Tribunal Federal (STF) e disse ser descabida a tese sobre o “poder moderador” das Forças Armadas em caso de crise entre os Poderes.

Maria Elizabeth também criticou a condução do governo frente à pandemia, a qual classificou como “um horror existencial imenso”, com “desfecho fúnebre”. Ela própria sentiu os efeitos da crise sanitária no início do mês, quando sua mãe, aos 97 anos, esteve sob suspeita de estar com covid-19. O diagnóstico, felizmente, acabou por não se confirmar.

"Sou a única do meu gênero no STM, portanto não faria sentido render-me à homogeneidade. Faço questão de firmar posições”

Natural de Belo Horizonte (MG) e doutora em direito constitucional, a ministra faz parte da terceira geração de juristas da família. Na década de 1980, passou em primeiro lugar em concurso da antiga Fundação Nacional de Serviços de Saúde Pública (hoje Funasa) e se tornou procuradora federal. Até ser nomeada para o STM, atuou como assessora jurídica de órgãos vinculados a cada um dos três Poderes, como a Câmara dos Deputados (Legislativo), a Casa Civil (Executivo) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Abuso de poder religioso volta à pauta

TSE deve retomar discussão em agosto, após a volta do recesso do Judiciário

Por Isadora Peron | Valor Econômico

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve retomar em agosto, após a volta do recesso do Judiciário, a discussão sobre incluir a prática de “abuso de poder religioso” entre as hipóteses que podem levar à cassação de mandatos. O debate começou há cerca de duas semanas e, segundo ministros ouvidos pelo Valor, a corte está dividida. No campo político, o início do julgamento gerou uma forte reação de integrantes da bancada evangélica e aliados do presidente Jair Bolsonaro.

Após o voto do ministro Edson Fachin, que defende que esse entendimento já deveria ser aplicado nas eleições de 2020, o ministro Alexandre de Moraes divergiu. O julgamento foi então interrompido por um pedido de vista do ministro Tarcisio Vieira.

A expectativa no tribunal é que ele devolva o processo a plenário já no início de agosto. A interlocutores, o ministro afirmou que aproveitaria o recesso para estudar o caso.

Outro magistrado também apontou que esse é um tema que exige “muita reflexão” e que o debate levantado é fruto de um “olhar arguto” de Fachin.

Já um terceiro ministro disse considerar “complicado” alargar uma regra sancionatória, uma vez que, hoje, o TSE entende que apenas o abuso de poder político e econômico podem resultar na perda do mandato.

Entre o sucesso e a má fama – Editorial | O Estado de S. Paulo

Batendo mais um recorde, o Brasil deve atingir 251,4 milhões de toneladas na atual safra de grãos, segundo o Ministério da Agricultura. Serão 3,9 toneladas por hectare, se confirmada a nova estimativa. Em 15 anos a produção por hectare aumentou 63,4%. Com base na ciência, na difusão de tecnologia e no trato eficiente do solo, o agronegócio brasileiro produziu volumes crescentes de alimentos e matérias-primas poupando terra e preservando o ambiente. Esse é o agronegócio relevante, competitivo e presente em mercados de todo o mundo.

Comprometido com a preservação de florestas, sua imagem tem sido, no entanto, manchada por grileiros e aventureiros criminosos, favorecidos pela péssima política ambiental do governo e por sua retórica irresponsável.

Enquanto a pandemia derruba a atividade industrial e a produção de serviços, o agro se mantém como o setor mais firme da economia brasileira, com mais um ano de crescimento garantido.

Com a colheita de 120,9 milhões de toneladas, número calculado pelo Ministério da Agricultura, o Brasil recupera a posição de maior produtor mundial de soja, tomada em 2018 dos Estados Unidos e perdida em 2019.

Soja e derivados continuam sendo os principais itens vendidos ao exterior pelo agronegócio. O complexo soja rendeu em maio US$ 5,88 bilhões, mais de metade do valor faturado pelo setor (US$ 10,93 bilhões). Esta soma, um novo recorde, representou 60,9% da receita brasileira de exportações em maio.

As vendas externas do setor, amplamente superavitárias, têm sustentado, há anos, o saldo positivo da balança comercial de bens. Os US$ 42 bilhões faturados pelo setor nos cinco primeiros meses de 2020 superaram por 7,9% o valor vendido no mesmo período do ano passado e foram, historicamente, a maior receita obtida no período de janeiro a maio.

Delonga tributária – Editorial | Folha de S. Paulo

Atraso de Guedes na definição de reforma tumultua debate e alimenta incertezas

Já se tornaram objeto de pilhéria as recorrentes promessas grandiosas do ministro da Economia, Paulo Guedes, para algum futuro próximo que nunca se confirma.

Exemplo quase caricato —e particularmente lamentável— é o da delonga em torno da reforma tributária, motivo de sucessivos desencontros no Executivo. Em fevereiro último, Guedes anunciou que enviaria uma proposta ao Congresso em duas semanas. Cinco meses depois, não se notam mais que especulações em torno do texto.

Ora se fala em simplificação de impostos indiretos de responsabilidade federal (PIS, Confins e IPI), ora em desoneração das folhas de salários —e não parece sepultada a temerária ideia de um novo imposto sobre transações financeiras.

Na ausência de um encaminhamento efetivo, os riscos são o tumulto do debate e o aumento das incertezas, já enormes devido à complexidade do tema.

É o que se vê, no exemplo mais recente, com a decisão do Congresso de prorrogar até 2021 a desoneração de folha para 17 setores, que deveria vencer neste ano. A matéria foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas parece elevada a possibilidade de derrubada do veto pelos parlamentares.

País acumula perdas na inovação em processos e produtos – Editorial | O Globo

Pesquisa do IBGE mostra que volume total de investimentos no setor caiu 17,4% entre 2012 e 2017

Um aspecto positivo da crise nesses últimos quatro meses foi a capacidade de reação de alguns segmentos industriais, em parceria com instituições de pesquisa, para converter linhas de produção e atender às necessidades emergenciais das redes pública e privada de saúde. Empresas e pesquisadores desenvolveram soluções inovadoras.

É notável que tenha acontecido em tempo recorde num país com deficiente infraestrutura de internet, e cujo parque industrial há anos retrocede em investimentos em novos processos e produtos, mostra a Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE. “Se existe uma deficiência que o Brasil precisa urgentemente corrigir é sua baixa disposição à inovação”, concluiu o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), de São Paulo, ao analisar a pesquisa.

Com a ressalva devida a algumas iniciativas , o Iedi fez a autocrítica do setor industrial a partir dos dados coletados. Listou, em resumo: “Falta engajamento das empresas; são insuficientes os programas públicos de apoio à ciência, tecnologia e inovação; há pouca interação e coordenação entre instituições de pesquisa, empresas e setor público e pouca integração internacional; e falta mão de obra qualificada.”

Opiniões distorcidas ou fatos lamentáveis na Amazônia? – Editorial | O Valor Econômico

Não há recursos publicitários ou campanha de comunicação que possam reverter números lamentáveis do Brasil

Desde a campanha presidencial de 2018 já se notava que o discurso sobre a “indústria da multa” do candidato Jair Bolsonaro e sua paranoia em torno dos objetivos de ONGs na Amazônia, bem como o desdém à proteção de culturas indígenas e o flerte com a saída do Acordo de Paris, sugeriam um enfraquecimento das políticas ambientais.

Antes mesmo da posse, ele fez o Brasil desistir de sediar a 25ª edição da conferência da ONU sobre o clima (COP-25) e quase extinguiu o Ministério do Meio Ambiente, deixando seu ocupante como último a ser anunciado na formação do governo. Já na Presidência, Bolsonaro protagonizou afrontas ao artigo 225 da Constituição Federal, que impõe ao poder público a responsabilidade por “preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais”.

Seria preocupante, mas com consequências muito menos prejudiciais, se as atitudes do presidente tivessem se limitado a questões quase folclóricas, como o afastamento do fiscal do Ibama que havia lhe multado por pescar em estação ecológica ou a insistência em criar a “Cancún brasileira” numa baía fluminense com 29 ilhas, lajes e rochedos que servem de refúgio e berçário para um sem-número de espécies marinhas.

Música | Elizeth Cardoso - Sei lá Mangueira

Poesia | Vinicius de Moraes - O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito…