*Senadora (MDB) e candidata a presidência
da República. Folha de S. Paulo, 18.8.22.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 18 de agosto de 2022
Opinião do dia – Simone Tebet*
Merval Pereira - Democracia na berlinda
O Globo
Alexandre de Moraes deixou claro a
Bolsonaro que não será fácil tumultuar as eleições
Se nossas instituições estivessem
funcionando normalmente, como gostamos de afirmar como que para acalmar os mais
pessimistas, o ministro Alexandre de Moraes não precisaria ter feito o discurso
que fez ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nem
mesmo precisaríamos ter um tribunal superior para cuidar das eleições, espécime
raro que não é encontrado com facilidade noutros países. Mas, numa situação que
os ventos da política criaram, o ministro teve de assumir com um libelo a favor
da democracia e das urnas eletrônicas, tendo a seu lado o presidente Jair
Bolsonaro.
Fez um discurso impressionante, que mexeu com a vida política e repercutiu tanto em Brasília que alguns apressadinhos já falam que ele poderá ser candidato à Presidência da República em 2026, representante de uma direita mais palatável que o extremismo de Bolsonaro. O que também demonstra a disfunção de nossa cidadania: continuamos buscando um “salvador da pátria”. Apesar de ser o responsável por inquéritos caracterizados por abusos autoritários, como acusam os bolsonaristas. Infelizmente os fatos confirmaram a necessidade de uma ação vigorosa do Supremo Tribunal Federal (STF) contra grupos golpistas que continuam a tentar desestabilizar a democracia, não tão estável quanto gostaríamos que fosse. Os vícios de origem dos inquéritos, e os inegáveis exageros, acabaram atenuados pelos acontecimentos golpistas liderados pelo próprio presidente da República.
Malu Gaspar - O xerife enquadrou o capitão
O Globo
Novo dirigente do TSE operou impressionante
demonstração de poder ao reunir o establishment político a seu favor diante do
presidente da República
Ao assumir seu lugar na mesa de autoridades
da posse de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jair
Bolsonaro já sabia mais ou menos o que ouviria. Ao convidá-lo, o ministro
avisou que faria um discurso em defesa do sistema eleitoral. Disse também que
quatro de seus antecessores, incluindo
Lula, estariam na plateia. O presidente da República tinha,
portanto, informações suficientes para resolver não ir.
Ainda não está bem claro por que ele
preferiu comparecer. Segundo alguns aliados, Bolsonaro queria mostrar que ele e
o filho, Carlos (Republicanos-RJ), não são os “monstros que pintam”. No
Judiciário, a hipótese mais em voga é que o presidente não quis “ficar por
baixo” e deixar todo o palco para Lula, que já havia confirmado presença.
Outros ainda apostam que Bolsonaro não tenha entendido exatamente quão humilhante o discurso de Moraes seria ou que Lula se mostraria tão enturmado com o ecossistema político. Daí a cara de poucos amigos que o presidente exibiu depois da menção do novo presidente do TSE à eficiência do sistema de apuração, que “divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, competência e transparência” e “é motivo de orgulho nacional”.
Míriam Leitão - Os olhos, as urnas e emoções do Brasil
O Globo
Lula mantém sólida vantagem e frustra, por
ora, manipulação de Bolsonaro. Paulo Hartung alerta que toda eleição tem
surpresas
Houve um momento, ao
fim da posse do ministro Alexandre de Moraes, na presidência do TSE, em que
todos os olhares se voltaram para o ex-presidente Lula. Virou meme, viralizou.
Mas a dinâmica política é bem essa. Os olhos se voltam, metaforicamente, para
quem representa a expectativa de poder. As pesquisas que estão saindo neste
começo oficial da campanha mostram o voto muito cristalizado entre dois
candidatos, Lula e Bolsonaro, com forte vantagem para Lula. O ex-governador do
Espírito Santo Paulo Hartung, que entrevistei ontem na Globonews, me disse que
nunca se pode dizer que uma eleição está decidida tanto tempo antes. “Não
existe eleição sem surpresa.”
A posse de Moraes no TSE teve muito mais significado do que a direção dos olhares. Tudo ali era sinal, um mar de sinais e todos na mesma direção, a da confiança nas urnas eletrônicas e na Justiça Eleitoral. Tudo falava naquela cerimônia, as palmas e a falta de palmas. Os sorrisos e os amuos. Bolsonaro escolheu a solidão institucional, e ela ficou evidente ali. Que sentido faz um presidente da República não bater palmas quando se fala de um motivo de orgulho nacional?
Maria Cristina Fernandes - Não é só a economia
Valor Econômico
Rejeição a Bolsonaro supera intenção de
votos em Lula no início oficial da campanha eleitoral
O aumento do auxílio emergencial e a
redução no preço dos combustíveis são aprovados pela população, a rejeição do
presidente da República diminui, a aprovação de seu governo sobe, mas sua
intenção de voto não cresce na mesma proporção. Este é o cenário das últimas
pesquisas no início oficial da campanha. Donde se conclui que não é só a
economia que define o voto de outubro. O núcleo duro da rejeição bolsonarista
resiste ao dinheiro que cai do helicóptero.
A rejeição de Bolsonaro, apesar de cadente,
é maior que o apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
tanto no Ipec quanto na Quaest. A despeito da gastança e da redução da pressão
inflacionária, a resiliência da rejeição se dá porque o voto tem mais a ver com
a expectativa de futuro do que com a avaliação do presente. Com o isolamento
demonstrado na posse no TSE, por exemplo, o presidente custa a convencer que
melhores dias virão.
Todo governante em disputa de reeleição melhora seu desempenho entre os mais pobres porque, com a máquina na mão, pode adotar políticas que os favorecem. Foi assim com todos os que disputaram a recondução de mandato. Não é assim com Bolsonaro. Ao se eleger em 2018, não liderava as pesquisas entre os mais pobres. Foi o único, na redemocratização, a conseguir ser eleito a despeito desse desempenho.
Luiz Carlos Azedo - Ciro carrega pedra como Sísifo
Correio Braziliense
Ciro novamente foi emparedado
por Lula. As pesquisas mostram que, dificilmente, manterá o patamar de dois
dígitos de votação das campanhas anteriores. A pedra que carrega morro acima
rola pra baixo
Candidato à Presidência da República pela
quarta vez, Ciro Gomes nos lembra O Mito de Sísifo, o mais esperto dos mortais
segundo a mitologia grega. Ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará,
ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e da Integração Nacional do
governo Lula, ex-deputado estadual e federal, é um dos políticos mais
experientes do país, com reconhecida capacidade administrativa. Concorreu à
Presidência em 1998 e 2002 pelo antigo PPS; e, em 2018, pelo PDT, mesma legenda
que o abriga neste ano.
“Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram (os deuses), com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança”, escreveu o filósofo existencialista franco-argelino Albert Camus (1913-1960), ao explicar a condição humana no livro O Mito de Sísifo, publicado em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial.
Ruy Castro - Bolsonaro embalsamado
Folha de S. Paulo
Foram discursos antigolpe que não
precisaram falar em golpe
Enquanto Bolsonaro tinha de engolir sem água o discurso de posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE, sua tropa nas redes sociais disparava milhares de mensagens convocando para ataques ao mesmo TSE nas arruaças de 7 de Setembro. Esses disparos eram como o braço mecânico do "Dr. Fantástico", personagem de Peter Sellers no filme de Stanley Kubrick, automático, incontrolável, programado para fazer sem parar a saudação nazista, e seriam as senhas para um possível golpe contra as eleições. Mas, como Bolsonaro percebeu, a fala de Moraes foi um direto de muay thai contra seu projeto.
Bruno Boghossian - O sonho da elite própria
Folha de S. Paulo
Presidente insiste em personagem
antissistema, mas grupo de endinheirados faz torcida organizada por ruptura
Em menos de uma semana, Jair Bolsonaro
conseguiu preencher uma cartela com o repúdio de quatro grupos influentes da
vida nacional. Na quinta passada (11), um manifesto encabeçado por intelectuais
e pela elite econômica denunciou as
ameaças golpistas do presidente. Cinco dias depois, cardeais da
política e dos tribunais se opuseram aos ataques do capitão e aplaudiram as
urnas eletrônicas em cerimônia no TSE.
Bolsonaro disputou a última eleição com o figurino de um candidato que desafiava os interesses dos ricos e poderosos. O presidente tenta renovar a imagem sempre que se vê isolado por esses grupos: andou dizendo que os bancos só defendem a democracia porque perderam dinheiro com a criação do Pix e alega que o establishment trabalha contra ele porque seu governo não cedeu a velhos conchavos.
Maria Hermínia Tavares* - Luz verde para o ambiente
Folha de S. Paulo
Agenda ambientalista ganha espaço inédito
nos programas dos candidatos ao Palácio do Planalto
Dias atrás, a Câmara dos Representantes dos
Estados Unidos aprovou a Lei de
Redução da Inflação. Muito além de um conjunto de medidas para
conter a alta dos preços, consiste na mais importante iniciativa ambiental da
história americana. Destina US$ 370 bilhões (cerca de RS$ 1,9 trilhão) a um
conjunto de iniciativas, com ênfase no desenvolvimento de empresas de alta
tecnologia verde, aptas a competir com quaisquer outras do gênero no mundo.
O historiador Adam Tooze, da Universidade Columbia, em Nova York, por exemplo,
considera a legislação um passo decisivo para a formação de um novo complexo
industrial, capaz de aglutinar uma coalizão de forças mais poderosa do que aquela
que sustenta o tradicional lobby dos gigantes do setor de combustíveis fosseis.
William Waack - Os influencers Lula e Bolsonaro
O Estado de S. Paulo.
O peso das redes sociais ao limitar o alcance dos candidatos
Henry Kissinger acabou de completar 99 anos
e de publicar mais um livro. Leadership (Liderança). É quase um testamento de
quem pessoalmente viu de tudo. De Hitler a Merkel, de Mao a Xi Jinping, de
Kruchev a Putin, de Eisenhower a Biden. Goste-se ou não de Kissinger, esse
hiper-realista tem algo a dizer sobre qualidades de líderes políticos.
No livro ele nem cita o Brasil, mas que
lugar ocupariam Bolsonaro e Lula, os dois líderes brasileiros do momento, na
grande separação universal que Kissinger faz entre “estadistas” e “profetas”?
Nem um, nem outro. O estadista, diz o autor, teme a personalização da política,
pois sabe como são frágeis as estruturas que dependem sobretudo do indivíduo.
Lula e Bolsonaro são populistas por definição.
Na visão de Kissinger os dois brasileiros liderando a política teriam algo de profetas. Mas apenas num aspecto muito restrito: acham que simplesmente por ter uma visão, isso lhes confere razão. Estão a galáxias de distância daqueles que superaram as circunstâncias que herdaram e conduziram suas sociedades para as fronteiras do possível (profetas na História, para Kissinger, foram Robespierre, Lenin, Joana D’arc e Gandhi).
Adriana Fernandes - Promessas vazias e retrocesso
O Estado de S. Paulo.
Os candidatos tratam os eleitores com a certeza de que eles gostam de ser enganados
Para quem acompanha a política econômica de
perto há 25 anos, é desanimador ver que os primeiros dias da campanha eleitoral
para a Presidência da República tenham sido marcados por promessas velhas e
empacotadas para enganar os eleitores. A mais emblemática delas é a promessa de
correção da faixa de isenção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física
(IRPF).
Nas eleições de 2018, esse foi o tema que
“dominou” a campanha e as promessas na reta final da campanha. Na época,
Bolsonaro foi o primeiro a prometer a correção da faixa de isenção para cinco
salários mínimos. Fernando Haddad logo seguiu o seu adversário fazendo a mesma
promessa.
Agora, o tema volta à tona como se fosse ponto central e decisivo para os rumos do País. Bolsonaro prometeu e não fez nenhuma correção. Zero. Poderia ter começado desde o início do seu mandato.
Pedro Cavalcanti e Renato Fragelli* - Desindustrialização e subsídios
Valor Econômico
Subsídios para “setores estratégicos” e
proteção comercial vão na direção oposta do que o Brasil precisa para crescer
Até pouco tempo atrás, economistas
heterodoxos e representantes da indústria costumavam apontar a China como
exemplo de políticas industriais bem sucedidas e indicação da necessidade de
subsídios para o setor. Ainda hoje muitos deles defendem a volta dos velhos (e
lucrativos) esquemas de financiamento do BNDES como condição necessária para o
desenvolvimento nacional. Essas crenças, entretanto, ignoram dois fatos
importantíssimos: a explosão do financiamento privado de longo prazo no Brasil,
ocorrida desde que o financiamento estratégico do BNDES foi reduzido e a perda
recente e acelerada da importância relativa da produção industrial na economia
chinesa, com o aumento relativo da participação dos serviços.
Entre 2011 e 2014, no auge da Nova Matriz Econômica, os desembolsos do BNDES - subsidiados em sua maioria - ultrapassavam os financiamentos no mercado de capital privado doméstico e se mantinham acima de 3% do PIB. Os privados, em 2011 por exemplo, eram somente 2,57% do PIB. Após o fim da TJLP e a introdução da TLP, os financiamentos do banco passaram a se dar a taxas próximas das de mercado e, ao contrário do que previam os desenvolvimentistas e lobistas da indústria, não houve escassez de fundos.
O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões
Editoriais / Opiniões
Demonstração de união contra o golpismo
O Estado de S. Paulo
Ao expressar firme união do País em torno da democracia e do TSE, cerimônia de posse de Alexandre de Moraes foi auspiciosa. Não há espaço para devaneios golpistas
Em tempos normais, a cerimônia de posse de
um novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é ato meramente
protocolar e burocrático. Como não vivemos tempos normais, a posse do ministro
Alexandre de Moraes na presidência do TSE, anteontem, foi meticulosamente
organizada para expressar a imperturbável disposição de fazer valer a vontade
dos eleitores nas eleições de outubro, ante as ameaças golpistas do presidente
Jair Bolsonaro.
Além do próprio presidente Bolsonaro, estiveram
presentes os presidentes da Câmara e do Senado, o presidente do Supremo
Tribunal Federal, quatro ex-presidentes da República, numerosas autoridades de
diversas esferas, parlamentares, candidatos e lideranças da sociedade civil. Ou
seja, a República compareceu em peso para ouvir o ministro Alexandre de Moraes
garantir que o sistema eleitoral, difamado por Bolsonaro, é seguro e
transparente. Foi aplaudido de pé.
A cerimônia de posse do novo presidente do TSE expressou a firme união do País em torno da democracia e de sua Justiça Eleitoral. As urnas eletrônicas não são um tema que cause divisão na sociedade. Ao contrário: como mostraram os atos suprapartidários em favor do atual sistema de votação na semana passada, a campanha bolsonarista contra o sistema eleitoral é artificial e minoritária. Sem provas e sem apoio, Jair Bolsonaro, claramente deslocado na cerimônia do TSE, está cada vez mais solitário na tentativa de difamar e bagunçar as eleições brasileiras.