Eu & / Valor Econômico
Esperava-se que o presidente deixaria para
trás qualquer resquício de um esquerdismo autoritário que ainda ronda alguns de
seus apoiadores. Só que não
Duas coisas definem o sucesso dos
governantes: aproveitar os fatores que os favorecem e eliminar ou reduzir ao
máximo os problemas que podem prejudicá-los. O terceiro governo Lula tem vários
desafios pela frente, como a dificuldade em montar a maioria congressual e o
legado extremamente negativo deixado por Bolsonaro, mas também pode se
fortalecer com uma boa gestão da economia e com a sua maior sensibilidade para
as políticas sociais. O presidente da República ainda não percebeu, contudo,
que precisa apostar mais, sem titubear, na defesa da democracia como uma de
suas aliadas mais importantes em prol do seu fortalecimento político e de um
projeto de país.
De boa-fé, ninguém pode dizer que a trajetória de Lula tenha sido contrária à democracia. Ele virou um líder político a partir de sua luta contra o regime militar, foi essencial para a redemocratização brasileira e exerceu dois mandatos cumprindo estritamente as regras democráticas - e até as ampliou, com a criação de várias arenas de participação social. Como governante, comportou-se muito diferente de líderes políticos latino-americanos como Fidel Castro ou Hugo Chávez, estes sim pertencentes a uma linhagem de autoritários de esquerda.