domingo, 19 de novembro de 2017

Opinião do dia: Roberto Freire

Temos que começar a discutir uma candidatura única das forças que fizeram oposição aos governos ‘lulo-petistas’. O Alckmin é um dos nomes que pode representar essa unidade. Ele tem um diferencial, que a experiência de um governo com capacidade de diálogo.

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Roberto Freire é deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em O Estado de S. Paulo, 18/11/2017

Marco Aurélio Nogueira: Polarizações suicidas

- O Estado de S. Paulo

PSDB em crise, PT recolhido, PMDB às voltas com as dificuldades de Temer, partidos em geral excitados com a aproximação de 2018. Todos fazem cálculos, tendo em mente a conquista dos eleitores. O troca-troca de legendas combina-se com a abertura da temporada de caça aos “melhores nomes”, a busca da posição ideal para apoiar esse ou aquele candidato, a preocupação com os desdobramentos do “efeito Temer” e das escolhas governamentais.

A fragmentação agradece, penhorada.

O estoque de artefatos polarizadores é grande: avanço ou retrocesso, reforma ou conservação, progresso ou reação, populismo ou responsabilidade, desenvolvimentismo ou neoliberalismo. Não faltam, evidentemente, os conhecidos esquerda x direita e PT x PSDB, ora em versões repaginadas ora no formato anquilosado de sempre.

A pergunta que ninguém faz é: a quem interessa a reposição dessas polarizações? Qual delas pode expressar os dilemas atuais do país e organizar os interesses fundamentais dos cidadãos?

O ponto comum das construções polarizadoras é a recusa ao diálogo, a reiteração de divisões improdutivas, a falta de uma articulação política que ofereça uma perspectiva de futuro para os brasileiros e modernize o país. Para dar vida a isso, criam-se campos ideológicos antípodas, soltos no ar, alimentados por frases de efeito modeladas sob encomenda e sem pé na realidade. Parte-se de uma visão de que a sociedade é mais dividida do que se vê, e com isso criam-se divisões por sobre divisões, agravando ainda mais o quadro.

Luiz Sérgio Henriques*: Profissão esperança

- O Estado de S.Paulo

Corre contra o tempo quem acalenta a ideia de reconstruir o centro político em 2018

As dificuldades da política democrática – aquela que de modos muito variáveis, segundo os diferentes contextos, apela ao centro político e o considera lugar por excelência de conflito e consenso – estão à vista de todos e não se restringem a nós. Pode ser frágil consolação para nossa própria miséria, mas o fato é que, fora das nossas fronteiras, também nos assustamos com as estratégias radicais de polarização, toscas, mas conscientes, postas em prática por “populistas” de vários tons e matizes, e diferentes graus de periculosidade, a começar pelo caso evidente da mais antiga das democracias contemporâneas.

Nela, surpreendentemente, da própria sala de comando partem assaltos continuados à razão, ameaçando mais do que a coesão do grande país do norte ou a arquitetura institucional construída nas últimas décadas para ordenar de algum modo as relações globais. Como está claro, o extremismo de Donald Trump parece pôr em risco o próprio estatuto da verdade, tal como modernamente pode ser concebida a partir do debate plural, em razoáveis condições de paridade, entre os diferentes atores da sociedade aberta.

Os novos inimigos desse tipo de sociedade – diferentemente dos velhos inimigos, com suas versões “totais” de Estado e sociedade, baseadas na hipótese racionalista da “classe universal” ou, de modo bárbaro, na da “raça superior” – apostam desabridamente na polarização destrutiva. A falsificação elementar dos fatos é sua estratégia. O irracionalismo diante de consensos científicos razoáveis, como o que se tem estabelecido em torno dos riscos ambientais, é o credo acintoso que ostentam, em prejuízo da inteligência. A linguagem do ódio é o recurso expressivo predileto, cindindo de alto a baixo as relações cotidianas de homens e mulheres comuns.

Sergio Fausto*: Duas falsas narrativas

- O Estado de S.Paulo

A esquerda populista e a direita truculenta ao menos têm as suas. O centro não se articula

Na disputa político-eleitoral brasileira se destacam, até o momento, duas narrativas. Ambas falsas. De um lado, a vitimização de Lula. De outro, a normalização de Bolsonaro. A primeira consiste em transformar o ex-presidente em alvo de uma conspiração armada pelas “elites” para levá-lo à condenação judicial e à inabilitação eleitoral. “Elites”, como sabemos, é uma figura de retórica deliberadamente imprecisa com a qual o PT joga segundo as suas conveniências (não me lembro de o termo ter sido empregado para designar empreiteiras ou frigoríficos amigos do rei). A segunda narrativa reside em travestir de liberal convicto um político notório por declarações e projetos de lei que nada têm que ver com o liberalismo, nem econômico, muito menos político.

Tanto uma narrativa como a outra respondem a cálculos político-eleitorais perfeitamente racionais do ponto de vista dessas candidaturas. Se prosperarem, ambas causarão grave dano ao País.

Estou convencido de que, ao fim e ao cabo, Lula será barrado pela lei das inelegibilidades, que proíbe a candidatura de indivíduos com a “ficha suja”, ou seja, condenados em segunda instância por crimes previstos na Lei Complementar 135/2010, entre eles os de corrupção, lavagem de dinheiro, etc. As lideranças do PT devem saber disso. Apostam na candidatura de Lula porque ela é a única capaz de manter a perspectiva da volta rápida do partido ao poder. Trata-se de uma ilusão necessária, sem a qual a crise e as divisões do partido se aprofundariam. Mais ainda, nessa linha de raciocínio, a transmutação de Lula em líder proscrito atende aos interesses de conservação do PT a prazo mais longo. Partidos, assim como as nações, necessitam de mitos que permitam produzir sentido de pertencimento e coesão entre seus membros, sobretudo quando confrontados por dissidências internas ou ameaças externas (neste caso, o castigo eleitoral).

Gaudêncio Torquato: Um deserto de ideias

- Blog do Noblat

O que Bolsonaro pensa do Brasil? Que ideia tem trazido ao debate nacional?

E Lula, conhecido pela expressão farta, sempre pronto para atacar adversários e defender o “petismo salvador da Pátria”, que propostas tem apresentado para melhorar a economia ou os serviços básicos de responsabilidade do Estado?

O que pensam Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin ou, ainda, o animador de auditório Luciano Huck?

Quem souber de uma boa sacada, um projeto interessante, uma proposta crível e factível que tenha sido expressa por um desses pré-candidatos à presidência da República, está convidado a trazê-la ao conhecimento público.

O fato é que, até esse momento, sobram blábláblás e falta algo inovador, capaz de chamar a atenção e gerar interesse pela originalidade.

Se as campanhas não conseguem empolgar plateias, seja por ausência de novidade, seja pela sensação de que as propostas mais parecem uma teia de retalhos e fragmentos, dispostos um ao lado do outro sobre o pano de fundo de nossa realidade, imaginem as besteiras que surgem nesse momento.

De Lula em suas caravanas, brotam roças de demagogia, sob um tiroteio ao atual governo, para ele o responsável pelo descalabro que afundou o país nos últimos anos. Como é sabido, a defesa do Lula é o ataque.

O petismo-lulismo, inspiração do dilmismo, afundou a Nação.

Os bolsões que receberam da era petista melhorias para mudar de patamar na pirâmide social acabaram voltando ao estágio inicial.

De Bolsonaro, não se espera grandes coisas. Ele mesmo reconhece que ignora fundamentos de economia. Claro, é capaz de identificar o mapa do Brasil, mas não se cobre dele conhecimento profundo sobre o Nordeste, o Norte, o Centro-Oeste e o Sul.

Nesse instante em que eventuais candidatos à presidência da República começam a povoar espaços midiáticos com suas ideias (???), seria oportuno virem à público para oferecer pautas densas que chamem a atenção pela relevância e oportunidade. Nada disso se vê.

Fernando Gabeira: A trajetória Rio abaixo

- O Globo

Quando menino, vi as luzes do Rio e me apaixonei. A escola nos trouxe para uma excursão a Petrópolis. A professora, generosamente, permitiu que o ônibus avançasse um pouco para nos maravilhar com a visão. Mais tarde, li no romance “Judas, o obscuro”, de Thomas Hardy, uma experiência semelhante: o personagem também admirava a cidade grande longe, fixado em suas luzes.

Assim que minha segurança profissional permitiu, ainda quase adolescente, mudei-me para o Rio, apenas com a mala de roupas, decidido a nunca mais sair. Ao voltar do exílio, apesar do avanço cultural em São Paulo, decidi, ou algo decidiu dentro de mim, ficar. Sei apenas que moro aqui, tive filhas e neto no Rio e não pretendo sair.

Mas a crise que o Rio vive é a mais grave que presenciei. Às vezes, repito aqui a pergunta de Vargas Llosa sobre o Peru, nas primeiras linhas de seu romance “A cidade e os cachorros”: quando é que o Rio se estrepou? É um reflexão que pode começar com a mudança da capital, passar pelas várias experiências de populismo de esquerda para acabar se fixando no encontro do PT com Cabral e toda a sua quadrilha. Entre eles, um coadjuvante de peso: o petróleo.

Às vezes, pergunto se fiz tudo o que poderia para evitar esse desastre. Confesso que, apesar de denunciá-los em várias campanhas, não tinha a verdadeira dimensão da rapina que iriam promover no Rio. Lembro-me que, em 2010, a “Folha de S.Paulo” publicou uma fala em que eu tentava descrever o projeto de Cabral. Comparava-o à tática das milícias que dão segurança a uma determinada área e são livres para cometer crimes. Disse que o instrumento dessa barganha eram as UPPs. A opinião pública ficaria satisfeita e Cabral teria as mãos livres para a pilhagem.

Samuel Pessôa: Reforma possível

- Folha de S. Paulo

Na sexta-feira da semana retrasada (10), meu colega Nelson Barbosa lembrou em seu artigo neste espaço que haverá necessidade de reformar a Previdência mesmo que o governo consiga aprovar uma versão mais reduzida da atual reforma.

Nelson afirmou: "As principais linhas da reforma devem ser a recuperação da receita do INSS, o aumento do tempo mínimo de contribuição, a fixação da idade mínima para a aposentadoria e, mais importante: o alinhamento entre regras aplicáveis ao trabalhador do setor público e do setor privado".

Noticia-se na imprensa que o governo desenha um modelo reduzido (em comparação ao relatório que havia sido aprovado na comissão da Câmara em abril) de reforma previdenciária, excluindo os temas mais polêmicos da elevação da idade de elegibilidade ao benefício assistencial, BPC/Loas, e das alterações na aposentadoria rural.

Merval Pereira: Confusão jurídica

- O Globo

Para STF, decisão do caso Aécio não vale para Alerj. Vamos entrar agora na fase de amplo debate jurídico-político para definir com quem está a razão no caso dos deputados de vários Estados, os mais notórios os do Rio de Janeiro, que se utilizaram de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) para se verem livres de medidas cautelares impostas pela Justiça, como a suspensão dos mandatos.

Vários ministros do Supremo, abertamente como é o caso de Marco Aurélio Mello, ou veladamente, como a maioria, anunciam que o acórdão sobre essa decisão do Supremo deixará claro que ela só se refere a parlamentares federais, ou seja, deputados e senadores, e não pode ser estendida aos deputados estaduais e vereadores.

A Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) vai recorrer ao STF para anular a decisão da Assembleia do Rio de Janeiro e de outros Estados que utilizaram uma interpretação ampliada da decisão do Supremo, que consideram equivocada.

Eliane Cantanhêde: Huck é para valer

- O Estado de S.Paulo

Parecia brincadeira, mas candidatura Luciano Huck está virando coisa séria

Luciano Huck deve se filiar ao PPS até o dia 15 de dezembro, encerrando as dúvidas sobre sua intenção de se candidatar à Presidência da República em 2018. O que parecia brincadeira começa a ficar sério, num ambiente de polarização entre Lula e Bolsonaro e a ansiedade por uma opção de centro. Ele, porém, precisa mostrar que, além de celebridade, é capaz de assumir esse desafio monumental: não ainda o de ser presidente, mas o de meramente ser candidato.

O movimento Agora! lança Huck como “o novo”, o PPS disponibiliza a legenda e quadros de ponta, como Armínio Fraga, topam a parada, mas todos eles conscientes de que, se há alguma chance na empreitada, é atraindo intenções de voto nas pesquisas, simpatias em diferentes segmentos da sociedade e o apoio de um bom leque de partidos. Quatro letrinhas chaves são PSDB.

Passado o pior momento de disputa com João Doria no PSDB, Geraldo Alckmin terá pela frente o embate com Huck nas forças de centro. Alckmin é do ramo, do principal Estado e de um partido consolidado. É a “segurança”, o “político tradicional”. Huck é um homem de massas, conversa bem com “o povo”, vem de uma família de intelectuais e tem diplomas respeitáveis. É “o novo”, a expectativa.

Vera Magalhães: Estão se lixando

- O Estado de S.Paulo

Ação mais firme do Supremo é medida urgente e eficaz para que políticos recuem de sua ousadia

Em 25 de novembro de 2015, o Senado manteve a prisão em flagrante de Delcídio do Amaral por 59 votos a 13. Anteontem, a Assembleia Legislativa do Rio resolveu soltar Jorge Picciani e dois asseclas por um placar também dilatado: 39 a 19.

O que mudou nesses dois anos? Não, não foi o entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre Aécio Neves, uma vez que a Constituição já prevê desde sempre que o Legislativo tem de votar a prisão de parlamentares – o que, aliás, não era o caso do mineiro.

O que mudou foi que os políticos perderam os pruridos de reagir de peito aberto à Lava Jato e às demais investigações que ameaçam sua sobrevivência. E o caso Aécio foi, certamente, um dos impulsos para o “liberou geral”, mas não foi o primeiro.

Luiz Carlos Azedo: Detrás das grades

- Correio Braziliense

O dispositivo que atribui poder ao Legislativo de autorizar ou não a prisão de seus integrantes está na Constituição de 1988 para preservar o mandato popular

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, por 39 votos a 19, decidiu revogar as prisões dos deputados Jorge Picciani, presidente da Casa; Paulo Melo, ex-presidente; e o líder do governo, Edson Albertassi, os três do PMDB. Foi uma demonstração de força de Picciani, o principal cacique político do estado, que tem um governador combalido pela crise econômica, ética e política, Luiz Fernando Pezão; o ex-governador Sérgio Cabral na cadeia e o ex-prefeito Eduardo Paes com o filme queimado. As prisões haviam sido determinadas pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo), por unanimidade.

É uma decisão para entrar na longa história da política fluminense, porque Picciani, Melo e Albernassi comandaram a operação por detrás das grades, pois estavam presos em Benfica. Provaram, assim, que são mesmo os mandachuvas da política fluminense e que têm nas mãos o controle sobre a maioria dos colegas. A revogação fez valer o princípio constitucional de que cabe ao Legislativo autorizar ou não a prisão de seus integrantes. Essa prerrogativa está em linha com recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e já vinha sendo exercida em outros estados e municípios, nenhum dos quais com a mesma repercussão.

Bernardo Mello Franco: Coisa de preto

- Folha de S. Paulo

Na segunda-feira, será comemorado o Dia da Consciência Negra. A data foi criada para lembrar a luta contra a escravidão e a desigualdade que ainda separa brancos e negros no Brasil. Quem pensa que este debate é desnecessário deveria dedicar alguns minutos do feriado à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE.

A nova versão do levantamento informa que pretos e pardos somam 63,7% dos desempregados. Isso equivale a um exército de 8,3 milhões entre os 13 milhões de brasileiros que procuram trabalho. Apesar da leve melhora da economia, a taxa de desemprego de pretos e pardos ainda alcança 14,6%. É um índice muito superior ao registrado entre trabalhadores brancos: 9,9%. A média nacional está em 12,4%.

As diferenças também persistem entre a população ocupada. De acordo com os números da PNAD Contínua, pretos e pardos ganham menos, ocupam vagas piores e têm menos estabilidade no emprego.

Hélio Schwartsman: Limites da ciência

- Folha de S. Paulo

Os deuses parecem ter um prazer especial em desmoralizar quem faz profecias sobre os limites da ciência. Auguste Comte afirmou, em 1835, que nunca surgiria um meio para estudarmos a composição química das estrelas. Bem, o método existe e hoje sabemos do que elas são feitas. Sabemos até que nós somos feitos de poeira estelar.

É verdade que Comte não era cientista, mas filósofo. Só que cientistas não se saem muito melhor. Um dos maiores físicos de seu tempo, lorde Kelvin escreveu em 1900: "Não há mais nada novo a ser descoberto na física; só o que resta fazer são medidas cada vez mais precisas". Vieram depois disso relatividade, mecânica quântica, modelo padrão etc.

Míriam Leitão: Depois da tempestade

- O Globo

Eletrobras se ajusta, e ação sobe 173%. A Eletrobras está mudando. A dívida líquida caiu, o número de funcionários foi reduzido, a administração foi reorganizada, e a ação já se valorizou em 173% até agosto. Estão sendo vendidas 77 SPEs no valor de R$ 4,6 bi. A devastação causada pela ex-presidente Dilma Rousseff impressiona: a Eletrobras perdeu de 2011 a 2015 quase a metade do patrimônio líquido e acumulou prejuízo de R$ 31 bi.

“Acompanhia tem 55 anos. Em quatro anos, só quatro, ela perdeu 40% do seu patrimônio líquido. Quase metade do patrimônio esfacelado em um prazo muito pequeno. Ao mesmo tempo ela aumentou muito a dívida para fazer frente a isso e aos planos enormes de investimento. Esse era o tamanho do problema 14 meses atrás” conclui Wilson Ferreira, olhando para os gráficos da companhia que preside.

Essa destruição de valor na Eletrobras aconteceu pelo mesmo motivo que houve um mar de prejuízos em todas as empresas do setor: a Medida Provisória 579. Dívidas e brigas judiciais ainda se acumulam entre os diversos segmentos do mercado por causa da MP. Com ela, a ex-presidente Dilma achou que estava reinventando a roda. Deu errado. Entre outras razões porque ela reduziu na marra o preço pago às geradoras, diminuindo em 20% a receita da Eletrobras. Mas a seca se agravou, tornando o valor pago ainda mais irreal.

Vinicius Torres Freire: Como contar empregos após a reforma

- Folha de S. Paulo

Qualquer governo trata de alardear a criação de tantos e quantos empregos, melhor ainda se formais. Mas a definição de "emprego formal" não é pacífica. Até o aumento do número de postos de trabalho em si não diz muito sobre a situação do trabalhador, que pode ter apenas aceito um bico a fim de atenuar uma situação desesperada.

Essas medições tendem a se tornar mais controversas depois da reforma trabalhista. Considere-se o caso do trabalhador intermitente, que poderá ser contratado por horas, talvez aleatórias, por mês. Teria registro em carteira, talvez até mais de um –com vários empregadores. Mas pode ficar semanas sem ser chamado para o serviço, sem receber.

Estaria empregado? Como contar esse emprego formal nos registros e estatísticas do trabalho? Técnicos do IBGE e do Ministério do Trabalho preparam mudanças no modo de medir as novidades.

Os primeiros dados devem aparecer já em dezembro.

O Caged é fonte importante de informações sobre o mercado dito formal. É um registro de demissões e admissões de trabalhadores com carteira assinada que as empresas declaram ao Ministério do Trabalho. Uma categoria como trabalhador intermitente pode atrapalhar a interpretação desses dados. O coordenador-geral do Caged, Mário Magalhães, conta que o ministério vai mudar os relatórios que as empresas enviam ao governo.

Celso Ming: Martinho Lutero e o tamanho da gaiola

- O Estado de S.Paulo

A Reforma não se conteve nas 95 teses espetadas à porta da igreja do castelo de Wittenberg em 1517; ela também se refletiu na formação do Brasil

O homem é dotado de livre-arbítrio, mas nem tanto. A vida ensina que a liberdade é mais questão de tamanho da gaiola.

Desde quando começou a ter consciência de si mesmo e de suas limitações, o ser humano se pergunta até que ponto suas ações são comandadas pelos deuses, pela força do destino, pelos astros ou, quem sabe, por alguma energia desconhecida. E até que ponto pode escolher livremente seu caminho, agir ou deixar de agir, para o bem ou para o mal, não importando aqui o que isso signifique.

Nem com sua grande sagacidade o herói Édipo conseguiu fugir do que já havia sido manifestado pelo oráculo. Até mesmo seus pés tortos haviam sido predeterminados pela sua origem e pelo entorno. “Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella, no me salvo yo” – lembrou-nos Ortega y Gasset, nas Meditaciones del Quijote.

Seis meses – Editorial: Folha de S. Paulo

Ainda que frustrante, dificilmente poderia ser diverso o quadro dos resultados até agora produzidos pela delação premiada dos executivos da JBS. Seis meses depois de divulgado o acordo de Joesley Batista e seus associados com o Ministério Público, a apuração das irregularidades apontadas se desenvolve com lentidão.

Mesmo num país dotado de instituições mais eficientes e ágeis do que as brasileiras, não seria de fato simples examinar acusações envolvendo um total de 1.829 políticos.

Do gigantesco conjunto, é natural que se tenham destacado as suspeitas contra o presidente Michel Temer (PMDB) e o ex-candidato à sucessão de Dilma Rousseff (PT), o senador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais.

Ambos sobrevivem, desacreditados, em seus postos de poder. Aqui, não foi exatamente porque faltassem indícios ou investigações quanto a pontos duvidosos de seus respectivos comportamentos. Foi a blindagem no Legislativo que os preservou, até agora, de consequências que sem dúvida atingiriam políticos de menor cacife.

O que se espera do novo diretor-geral da PF – Editorial: O Globo

Sem nunca ter sido um cargo menor na alta burocracia estatal, a direção da Polícia Federal ganhou mais importância à medida que organismos públicos receberam musculatura e passaram a flexioná-la no enfrentamento à corrupção nas elites políticas e empresariais.

Foi dessa forma que o Ministério Público, fortalecido institucionalmente pelos constituintes da Carta de 88, entrou no radar das preocupações dessas elites. Assim como a PF, parceira do MP em ações que, em especial, desde março de 2014, com a ida às ruas da Lava-Jato, passaram a tentar virar o jogo neste enfrentamento, em que nunca o princípio republicano da lei valer para todos valia de fato. Ocorrera antes o histórico desbaramento do mensalão petista, quando o Supremo, contra as expectativas, condenou poderosos a sentenças de reclusão. Mas a Lava-Jato tem sido o marco mais visível desta mudança.

É pelo fato de este avanço de instituições que vigiam a aplicação de princípios republicanos inscritos na Constituição ainda não estar consolidado que a transferência do cargo de diretorgeral da PF de Leandro Daiello para Fernando Segovia, previsto para amanhã em Brasília, se constitui em bem mais que um ato protocolar.

A inflação, o pobre e os ajustes – Editorial: O Estado de S. Paulo

A inflação deu uma trégua aos mais pobres, desde o fim do ano passado, e com isso as famílias de baixa renda tiveram dois benefícios. O mais visível é mostrado de forma direta nas pesquisas publicadas mensalmente ou, em alguns casos, até a cada semana: seus gastos de consumo foram menos pressionados que os das famílias mais abonadas. Nos 12 meses terminados em outubro, os bens e serviços consumidos pelo grupo mais pobre, com renda mensal abaixo de R$ 900, encareceram em média 2%. Para as famílias do patamar superior, com renda acima de R$ 9 mil por mês, a alta de preços chegou a 3,5%. O outro benefício, menos ostensivo nas tabelas de inflação, é simples e sempre muito bem-vindo. É o desafogo do orçamento. Quando o custo de vida sobe mais devagar, a renda é corroída mais lentamente ou, em outras palavras, o salário dura mais, assim como qualquer outro tipo de ganho. Se o alívio ocorre nos itens mais importantes, como os gastos com a alimentação, o ganho é maior, porque sobra mais dinheiro para outras despesas e o consumidor fica mais livre para ajeitar suas condições de vida.

A inflação já foi descrita como o mais injusto dos impostos, porque faz o pobre pagar um preço desproporcional pelos desajustes criados pelo governo. Preços desarranjados, é sempre bom lembrar, geralmente resultam de erros cometidos pelas autoridades, como excesso de gastos públicos, intervenções desastradas no sistema de preços ou, simplesmente, corte voluntarista de juros e expansão imprudente do crédito. Houve uma desastrosa concentração de todos esses erros entre 2011 e 2015.

‘outsider’

Coluna Lauro Jardim / O Globo

Vai passar? 1
Nas contas de Michel Temer, que, ninguém nega, conhece a alma da Câmara como poucos, a Reforma da Previdência tem hoje 240 votos. Com a mexida no Ministério, acha que dá para subir a 280.

Vai passar? 2
Temer tem dito reservadamente que, para alcançar os necessários 308 votos, “vai depender da pressão dos empresários e até dos candidatos a presidente que não querem ter que fazer eles mesmos uma reforma”.

Vai passar? 3
Nas mesmas conversas, Temer explica que, se no dia da votação tiver menos de 300 votos garantidos, retira o projeto de pauta. Ou seja, não quer jogar para perder.

A vingança dos políticos
A CPMI da JBS não acabou, mas o relatório final que os seus comandantes planejam terá como peça de resistência o pedido de indiciamento e prisão de Rodrigo Janot e do seu entorno na PGR.

Conta dividida
Geddel Vieira Lima já tem uma linha mestra para defender o indefensável: vai dizer que os R$ 51 milhões não eram só dele, mas do partido também.

Mais provas
A PGR está enviando a proposta de delação de Eike Batista para o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro para que sejam colhidas novas provas. É uma delação ecumênica: além de Lula, atinge o PSDB e o PMDB.

O ‘OUTSIDER’ JOAQUIM 1
Joaquim Barbosa só toparia ser candidato a presidente pelo PSB com carta branca. Já Luciano Huck nega que o prazo para se decidir por candidatura seja dezembro. Mesmo elogiando o PSB em conversas com interlocutores ("Os partidos no Brasil têm donos; o PSB me parece não ter"), Joaquim Barbosa só aceitará ser o candidato a presidente da República da legenda com carta branca. O ex-presidente do Supremo se encontrou com os chefes do PSB no dia 8, em Brasília. Disse a eles que não se interessa "em ser vice de ninguém". Barbosa acredita que uma aliança com a Rede pode resultar numa chapa harmônica — será que com Marina Silva de sua vice?

O ‘OUTSIDER’ JOAQUIM 2
Barbosa ainda repete a interlocutores que sua tendência é não ser candidato a nada (“preciso refletir se estou disposto a uma mudança tão radical na minha vida”), mas o fato é que nunca esteve tão aberto a discutir a possibilidade. Ao PSB disse que fará agora uma longa viagem ao exterior. E prometeu dar uma resposta definitiva entre "final de janeiro e início de fevereiro".

O ‘OUTSIDER’ HUCK 1
Aos interlocutores mais próximos Luciano Huck tem negado que dezembro seja o prazo final para decidir se será candidato à Presidência da República. O tempo seria mais elástico. Se tivesse que se definir hoje, porém, não entraria na corrida eleitoral.

O ‘OUTSIDER’ HUCK 2
Sobre sua amizade com Aécio Neves, que seria cobrada de forma rigorosa numa campanha, Huck já tem uma resposta na ponta da língua: “Quem não tem pelo menos uns dez amigos com quem já se decepcionou ao longo de uma vida?”.

Correios acusam China de manobra comercial

Coluna do Estadão / O Estado de S. Paulo

Encomendas feitas por brasileiros em sites internacionais agravam a crise dos Correios. A previsão para este ano é entregar 43 milhões de pequenos objetos comprados principalmente da China. Ocorre que o país está enviando as mercadorias para serem distribuídas no Brasil pelos Correios como se fossem cartas simples, que têm a tarifa mais baixa, quando deveriam chegar como cartas registradas, cujo preço é, no mínimo, cinco vezes maior. A estatal fará reclamação aos organismos postais internacionais para evitar a manobra comercial.

» Entregas. As 43 milhões de encomendas compradas no exterior por brasileiros devem gerar faturamento de R$ 295 milhões para os Correios neste ano. Valor que poderia ser maior se não houvesse a burla.

» É regra. A legislação brasileira prevê que apenas comunicação pessoal pode ser enviada por carta simples, incluindo papel, CD e pendrive. Mercadorias só podem ser despachadas por carta registrada. 

» Fico. O ministro Marcos Pereira (Indústria e Comércio) tenta emplacar afilhados no Sebrae. O PSD, que comanda a entidade com Guilherme Afif, está incomodado com o movimento do chefe do PRB. O ministro nega a articulação.

Ação pronta para ser julgada no Supremo pode abrir brecha para debater semipresidencialismo

Painel / Folha de S. Paulo

Agora ou nunca A última porta para instalação de um regime semipresidencialista no país foi aberta. Na última terça (14), o ministro Alexandre de Moraes pediu a inclusão na pauta de julgamentos do Supremo de uma ação que questiona se o Congresso poderia mudar o sistema de governo mesmo após a rejeição do parlamentarismo no plebiscito de 1993. Se o tribunal entender que sim, abre-se uma brecha para a articulação que o presidente Michel Temer gesta há meses com seus aliados.

A origem O mandado de segurança que trata do assunto está na corte desde 1997 e foi proposto por partidos que questionaram tentativa de aprovar uma emenda constitucional que instituísse o parlamentarismo depois da rejeição do regime por uma consulta popular.

Sem saída Se o STF decidir que a articulação de uma emenda contraria a Constituição, qualquer iniciativa desse tipo terá que ser descartada. Temer tem consultado aliados no Congresso sobre o assunto e discutiu a mudança do sistema de governo com o ministro Gilmar Mendes.

Já deu Na cúpula da Procuradoria-Geral da República, a decisão do ministro Ricardo Lewandowski de devolver a delação do marqueteiro Renato Pereira sem homologá-la foi lida como sinal claro de reprovação à forma como vinham sendo conduzidos os acordos de delação .

Nós x eles Mais de 250 advogados —entre eles Antonio Claudio Mariz de Oliveira, Alberto Toron e Celso Antônio Bandeira de Mello— assinaram manifesto de repúdio ao pedido do procurador Januário Paludo para acessar escutas telefônicas feitas no escritório que defende Lula.

Sem alarde, Alckmin costura alianças para 2018

Fiel ao estilo de ‘jogar parado’, governador avança nas negociações com partidos aliados

Pedro Venceslau e Adriana Ferraz / O Estado de S.Paulo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tem mantido uma agenda discreta de viagens pelo Brasil, mas é hoje o pré-candidato à Presidência da República que mais avançou nas articulações com outros partidos para montar seu palanque. Fiel ao seu estilo de “jogar parado”, o tucano já construiu pontes com pelo menos sete legendas: PV, PTB, PSB, PPS, PHS, PP e DEM.

Enquanto Alckmin se aproxima de seus aliados de São Paulo no plano nacional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê até o parceiro histórico PCdoB lançar uma candidatura própria, enquanto Ciro Gomes (PDT) rejeita uma aliança. Já Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSC) estão isolados em suas respectivas legendas.

Um passo importante foi dado por Alckmin no dia 11, durante um churrasco em Capão Bonito, no interior de São Paulo, na fazenda do deputado federal Guilherme Mussi, presidente do diretório paulista do PP. Mussi comemorou o aniversário com uma grande festa que possibilitou mais um encontro entre o governador e o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira (PI).

Os dois já haviam conversado pessoalmente em agosto, quando Mussi promoveu um jantar em Brasília para o governador estreitar suas relações com a bancada federal da sigla no Congresso – hoje uma das mais fortes do bloco partidário informal classificado como Centrão.

Nas duas últimas eleições, o PP (futuro Progressistas), esteve em lado oposto ao do PSDB, no palanque petista. De meados do ano para cá, o tucano intensificou a aproximação a partir de reuniões fora da agenda com lideranças locais e nacionais.

Cacá Diegues: Aprender a voar

- O Globo

Autores escrevem menos com a tecnologia. Eu era criança, ainda em Maceió. Uma negra baixinha e magra, muito velha e carinhosa, de nome Bazinha, costumava me botar pra dormir cantando canções e contando histórias que, para mim, só ela devia conhecer. Numa dessas histórias, Bazinha dizia que o Zumbi dos Palmares ainda estava vivo, escondido nas matas da Serra da Barriga, ali pertinho de Maceió. Ninguém pegava o Zumbi, porque ele sabia voar.

Não preciso explicar a impressão que essa história produzia em mim, nem a importância que ela teve ao longo de minha vida como cidadão e artista brasileiro. O Zumbi se tornou, para mim, um herói a decifrar.

Mais recentemente, comecei a entender melhor a história da Bazinha e por que ela me impressionara tanto. Nenhum inimigo alcançava o Zumbi, porque ele sabia alçar voo acima de suas cabeças, longe da perfídia de suas armas vulgares, aquelas que só podem ferir quem não é capaz de deixar o duro chão do que costumamos chamar de realidade. O Zumbi sabia voar.

Contei essa história e suas consequências pessoais na homenagem que me prestaram na Universidade Estadual de Alagoas, a Uneal, onde me outorgaram um título de Doutor Honoris Causa, no momento em que o estado festeja 200 anos de sua emancipação. Disse que, hoje, são os pensadores e os artistas brasileiros que têm a obrigação de aprender a voar.

Maiakovsk, revolução, poesia e um tiro no peito

Russo foi tido como um dos principais poetas da Revolução de 1917

Flávio Ricardo Vassoler* / O Estado de S.Paulo

A editora Perspectiva acaba de publicar uma edição especial, revista e ampliada dos Poemas do russo Vladimir Maiakovski (1893-1930). Com traduções e ensaios de Augusto e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman, o livro nos traz uma antologia da obra de Maiakovski como um panorama pré e pós-revolucionário de sua poesia. Para Boris Schnaiderman, “a evolução de formas e as mudanças de visada são apenas múltiplos aspectos da mesma realidade poética. O Maiakovski futurista [pré-revolucionário], que usava blusa amarela, é o mesmo poeta da Revolução, consciente e desafiador, assim como os poemas que escreveu nas vésperas da morte [Maiakovski se suicidou com um tiro no peito] trazem a marca dos mesmos procedimentos poéticos, altamente elaborados, que pôs em prática a partir de 1912.”

O livro tem início com o poema A Vladimir Maiakovski (1921), de autoria da poeta Marina Tzvietaieva (1892-1941), para quem “Ele é dois: a lei e a exceção, / Ele é dois: cavalo e cavaleiro”. Se, para a criação da arte revolucionária, forma e conteúdo politicamente revolucionários também precisam ser artisticamente radicais, o poeta da revolução e o poeta revolucionário têm que se fundir em uma única e mesma pessoa. Para Tzvietaieva, essas duas entidades encontraram-se apenas uma vez no centauro Maiakovski – “Ele é dois: cavalo e cavaleiro” –, “pois ele é um revolucionário poeta, o milagre de nossos dias”, escreve ela.

Cecília Meireles: Ou isto ou aquilo

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

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Cecília Meireles, no livro “Ou isto ou aquilo”. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.

Paulinho da Viola: Quem é do mar não enjoa