A França cortou os voos com o Brasil, e o
primeiro-ministro Jean Castex provocou risos no Parlamento ao falar do uso da
hidroxicloroquina por aqui.
Isso que chamam de Brasil soa cada vez mais
distante para mim. Guardo um país no escaninho da memória, mas o lugar onde
vivo hoje costumo chamar de Neverlândia.
É um lugar realmente estapafúrdio, onde um
Bolsonaro presidente troca ideias ao telefone com um senador Kajuru e ameaça
dar porradas num quadro da oposição.
No final de tudo, o senador Kajuru está
sendo processado por uma apresentadora de TV que ele ofendeu em entrevista,
após a conversa com o presidente. Tudo na verdade parece um enredo televisivo,
filmado com a luz de padaria e um cenário com cores berrantes.
Em Neverlândia, o presidente incorpora um
personagem do programa “Casseta & Planeta”, chamado Maçaranduba, obcecado
por dar porradas.
Em Neverlândia , o ministro do Meio
Ambiente é acusado pela polícia de se associar a desmatadores para protegê-los
da investigação e processo criminal. Isso jamais aconteceu no país chamado
Brasil, agora envolto em névoa, pairando sobre meus cansados neurônios.
Em Neverlândia, políticos ainda hesitam em apurar o que acontece, apesar de mais de 370 mil mortos, de a maioria da população ter fome e de alguns doentes amarrados na cama, por falta de sedativos e relaxantes musculares.