domingo, 9 de outubro de 2022

Paulo Fábio Dantas Neto* - Armadilhas mentais no outubro largo

Há pouco mais de uma semana parecia à grande maioria dos analistas (incluído este que vos escreve) que estava em curso uma onda pelo “voto útil” que poderia levar à vitória de Lula no primeiro turno. Muitos admitiam que a hipótese se tornara provável, alguns mais afoitos a consideravam quase certa. Secundei aqueles que apenas a consideravam mais possível do que antes e resumi o que via, no artigo do dia 01.10, numa disjuntiva: outubro breve ou outubro largo. Argumentei sobre vantagens e desvantagens das duas opções - inclinando-me a preferir a do outubro largo – e sobre a lucidez de uma atitude positiva diante de qualquer desfecho que o eleitor soberano determinasse para o turno do dia 2.

Pois bem, deu outubro largo e cá estamos, a meu ver, ainda em busca da atitude mais positiva possível diante dessa realidade que a democracia engendrou. Mais necessário ainda do que há uma semana retornar à questão de Luiz Sergio Henriques, que mencionei no artigo passado: “Não se trata só de ganhar eleições, mas de reconstruir a esfera pública. Será possível ter uma normal dialética democrática com uma extrema-direita capaz de mobilizar, pelo que parece, 30 ou 40% dos eleitores em estado de insubmissão latente?”. Abertas as urnas do primeiro turno e embora ainda esteja em aberto a disputa principal, leio com cada vez mais frequência análises que dizem não à pergunta de Luiz Sergio, partindo da premissa de que sim, a extrema-direita mostrou-se capaz de mobilizar tantos eleitores, que se formou uma gigantesca bancada bolsonarista na Câmara e teria mobilizado até a maioria do eleitorado, a ponto de eleger uma maioria bolsonarista no Senado. São descrições mais ou menos próximas de um apocalipse, absoluto ou relativo, conforme a ponderação do analista. Mas como apocalipse e relatividade não combinam, acaba que, nessas análises, em diferentes graus, qualquer nuance morre no veredicto de que o eleitor brasileiro autorizou uma mais que provável destruição da nossa democracia.

Merval Pereira - As nossas bolhas

O Globo

Estudo identifica perfis de brasileiros sob o ponto de vista de como se comunicam e dialogam

É inescapável constatar pelas pesquisas de opinião, e pelo debate político nas redes sociais, que o país está dividido, e qualquer candidato que vença a eleição terá problemas para governar. O ex-presidente Lula continua numericamente à frente de Bolsonaro depois do primeiro turno, mas a diferença está se estreitando. O Congresso eleito, no entanto, é mais conservador, e talvez mais reacionário, do que o eleito em 2018, o que faz prever que Lula vencendo, encontrará uma forte barreira ideológica que limitará suas ações.

As possibilidades de barganha com o Congresso estarão bloqueadas pelo controle do orçamento secreto, que não será apenas do Centrão, mas do grupo ideológico que apoia Bolsonaro. O ex-presidente terá problemas para acabar com ele, mas poderá ter o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF), o que, por outro lado, provocará a reação da maioria governista, uma novidade no Senado, responsável pelo impeachment de ministros do STF.

O controle do Poder Judiciário deverá ser o objetivo maior de um governo Bolsonaro renovado, um golpe parlamentar semelhante ao que já aconteceu em países de esquerda como a Venezuela. Paradoxalmente, esse receio de um golpe esquerdista é a bandeira maior da candidatura Bolsonaro. Como não se cansa de defender o golpe militar de 1964, é fácil entender que Bolsonaro não é contra ditaduras, desde que sejam de extrema-direita.

Bernardo Mello Franco – A marcha da autocracia

O Globo

Mourão expôs plano para dominar a Corte: aumentar número de ministros, encurtar mandatos e restringir alcance de decisões

Bastaram cinco dias, a contar do primeiro turno, para o bolsonarismo voltar a mostrar as garras. Na sexta-feira, o general Hamilton Mourão expôs o plano da extrema direita para subjugar o Supremo.

O vice-presidente acusou a Corte de violar o processo legal e invadir competências do Executivo. A pretexto de restabelecer a harmonia entre os Poderes, defendeu mudanças que limitariam as atribuições e a autonomia do Judiciário.

O roteiro inclui aumentar o número de ministros, encurtar mandatos e restringir o alcance das decisões do Supremo. A cartilha já foi seguida na Hungria e na Polônia, onde aliados de Jair Bolsonaro governam com poderes imperiais.

Recém-eleito senador, Mourão indicou que também defenderá a cassação de atuais ministros do Supremo. Expôs a ideia com seu novo sotaque gaúcho, ensaiado para pedir votos no Rio Grande do Sul.

Dorrit Harazim - Voto no segundo turno é decisão sem volta

O Globo

Na escolha entre Bolsonaro e Lula para presidente estará gravado nosso retrato. A escolha é final e definitiva

Algumas coisas são tão autoevidentes que não precisam ser revisadas nem debatidas. Exemplo: o fato de a alimentação ser, há milênios, a única linguagem genuinamente universal. Do ser humano ao reino animal, passando pelo mundo das plantas, todo organismo vivo já nasce conhecendo essa gramática — sabe que, sem comida, sua vida se extingue. Em contrapartida, o que exige esforço máximo, quase inalcançável por cada um de nós, é a obrigação não nata de pensar no que somos. Toda a obra de Hannah Arendt trafega por essa necessidade. Somente quando admitirmos que “em nosso tempo” (seja ele qual for) tudo é possível, seremos capazes de nos confrontar com o que somos, de olhar com honestidade para o que nos tornamos e de saber o que queremos, ensinou a filósofa magna do século XX. Só assim “o homem consegue viver na fenda do tempo entre o passado e o futuro”, argumentava. No entender da autora, pensar é a única atividade capaz de se interpor entre nós e o mais hediondo dos males. Talvez pensasse estar encerrado o longo período da História em que a tradição, a religião e a autoridade funcionavam como substituto.

Elio Gaspari - O basta de Malan, Arminio, Arida e Bacha

O Globo

Nota dos quatro economistas é um documento histórico e recupera um momento emocionante de 1976 da história do país

A nota dos economistas Pedro Malan, Arminio Fraga, Persio Arida e Edmar Bacha antecipando seus votos no segundo turno de eleição presidencial é um documento histórico. Teve apenas uma frase de 14 palavras: “Votaremos em Lula no 2º turno; nossa expectativa é de condução responsável da economia.”

Os quatro perderam parte da juventude na ditadura. Sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso (e de Itamar Franco), fizeram o Plano Real, que devolveu ao país o valor da moeda.

Para quem associa ditaduras a desempenhos, vale lembrar que, ao fim de 1984, o regime se acabava com uma inflação de 215% e o país na bancarrota. Em 1996, ao fim do segundo ano do Plano Real, ela estava em 9,6%. (O posto Ipiranga de Jair Bolsonaro fechou 2021 com 10%.)

É possível que algum deles já tenha votado em candidatos do PT, mas não em Lula. Votarão nele porque defendem a democracia.

Cacá Diegues - Ficar igual ou mudar

O Globo

No último domingo, ninguém perdeu nada; nossa maior meta era a democracia, e ela foi respeitada

E agora? Agora está na hora de encerrar as dúvidas, escolher um candidato que será definitivo por quatro anos. O que aconteceu no primeiro turno não interessa mais, já votamos nele e agora temos que escolher o candidato definitivo de nosso gosto. Tudo isso até o dia 30 de outubro, quando a coisa se encerra de vez.

Os eleitores de Bolsonaro não foram surpreendidos, duvido que a grande maioria deles já não esperasse resultado semelhante. As urnas eletrônicas não deram o que falar, ninguém reclamou de nada, vencedores e vencidos só tiveram que pensar em como atrair mais votos para garantir a vitória ou virar o jogo. Uma aspiração democrática, perfeitamente dentro do que permitem as regras do regime e seu sistema de escolha. Ou eleição.

Míriam Leitão - Bolsonaro quer cheque em branco

O Globo

Bolsonaro não tem proposta fiscal e quebrou o teto. Muito pior, quer tirar a independência do STF, cláusula pétrea da Constituição

O presidente Bolsonaro avisou que recebeu uma proposta de mudar a composição do Supremo Tribunal Federal e que vai tratar disso depois das eleições. Então o que ele está pedindo aos eleitores brasileiros é que votem nele apesar de ele estar avaliando um projeto que vai ferir de morte a independência dos poderes da República, e informa que tratará disso depois de eleito. Na entrevista à “Veja”, ele mostrou claramente que seus propósitos para o segundo mandato são exatamente os que se temia.

Mas e a economia? Sobre esse tema sabe-se extraoficialmente que a equipe de Bolsonaro prepara umas mudanças nas regras fiscais. Os jornalistas ficam sabendo disso em conversas nas quais não podem revelar a fonte ou ouvindo palestras de integrantes da equipe. Uma delas foi a do chefe da Assessoria Especial de Assuntos Econômicos, Rogério Baueri, em debate na UnB. Ele falou em aumento real de despesas com um teto atrelado ao PIB. Seja lá o que for isso, o que fica claro é que na economia o governo não diz, ou não sabe, o que vai fazer se conquistar um segundo mandato.

Luiz Carlos Azedo - Vamos falar de exclusão estrutural

Correio Braziliense

Não existe apenas uma via de ascensão social, pautada pelas políticas públicas inclusivas, de caráter social-democrata; também há o empreendedorismo e o esforço individual na via iliberal, com outros valores

“Toca para a frente, berrou o cabo. Fabiano marchou desorientado, entrou na cadeia, ouviu sem compreender uma acusação medonha e não se defendeu.
— Está certo, disse o cabo. Faça lombo, paisano.
Fabiano caiu de joelhos, repetidamente uma lâmina de facão bateu-lhe no peito, outra nas costas. Em seguida abriram uma porta, deram-lhe um safanão que o arremessou para as trevas do cárcere. A chave tilintou na fechadura, e Fabiano ergueu- se atordoado, cambaleou, sentou-se num canto, rosnando.
— Hum! hum!
Por que tinham feito aquilo? Era o que não podia saber. Pessoa de bons costumes, sim senhor, nunca fora preso. De repente um fuzuê sem motivo. Achava-se tão perturbado que nem acreditava naquela desgraça. Tinham-lhe caído todos em cima, de supetão, como uns condenados. Assim um homem não podia resistir.
— Bem, bem.
Passou as mãos nas costas e no peito, sentiu-se moído, os olhos azulados brilharam como olhos de gato. Tinham-no realmente surrado e prendido. Mas era um caso tão esquisito que instantes depois balançava a cabeça, duvidando, apesar das machucaduras.
Ora, o soldado amarelo…”

Essa passagem de Vidas secas, de Graciliano Ramos (1852-1953), publicado em 1938, um clássico de nossa literatura moderna, retrata a relação de poder no sertão nordestino, num determinado momento na vida de uma família de retirantes, que foge de miséria e da seca. Fabiano é brutalmente agredido, depois de se retirar de um carteado, para o qual fora intimado pelo soldado amarelo, sem pedir autorização. Hoje, é uma situação corriqueira nas grandes cidades brasileiras, e não só nas periferias.

Hélio Schwartsman - Como ainda votam em Bolsonaro?

Folha de S. Paulo

Boa parte do eleitorado releva as atitudes mais inflamadas do presidente

Um vulcano que chegasse à Terra desconfiaria das capacidades lógicas da espécie humana. Pelas pesquisas, 75% dos eleitores brasileiros consideram a democracia a melhor forma de governo e 25% são contrários ou indiferentes a ela ou não opinaram. Entretanto, 41% dos nossos conterrâneos sufragaram o nome de Jair Bolsonaro nas urnas (votos totais, incluindo brancos e nulos). Uma conclusão possível é que 16% ignorem o princípio da não contradição (se você é pró-democracia, não deve votar em quem a ameace), outra é que as pessoas são mais complicadas.

Confesso que tenho dificuldades para compreender como alguém pode votar em Bolsonaro após ter vivido quase quatro anos e uma pandemia sob sua gestão. Mas são justamente os fenômenos mais intrigantes que mais demandam explicação. Ela vem em duas etapas.

Bruno Boghossian - O baú do segundo mandato

Folha de S. Paulo

Presidente tenta copiar líderes autoritários para reduzir controles sobre o governo e sua família

Jair Bolsonaro decidiu levar para o centro da campanha a ideia de aumentar o número de cadeiras do STF. O presidente tenta pegar carona num sentimento coletivo de indignação para criar no plenário uma maioria artificial que atenda a seus próprios interesses políticos.

Bolsonaro não busca uma discussão séria sobre os limites dos tribunais ou uma proposta para melhorar o funcionamento do Judiciário. Se for reeleito, ele vai tentar mexer na composição da corte porque quer tranquilidade para fugir da polícia e manter seu grupo político no poder.

O presidente não disfarça a motivação. Em entrevista publicada na sexta (7) pela revista Veja, Bolsonaro disse que vai discutir após a eleição o plano de indicar mais cinco ministros ao STF e deu entender que a prioridade é frear investigações que ameaçam a família presidencial. "O próprio Alexandre de Moraes instaura, ignora o Ministério Público, ouve, investiga e condena", queixou-se.

Vinicius Torres Freire – Não era Portugal, era a Turquia

Folha de S. Paula

País bem-pensante sonhou com social-democracia e acordou sob risco de autocracia

No domingo do primeiro turno, uma parte bem-pensante do país acordou sonhando que poderia viver em uma espécie de Portugal e sua geringonça social-democrática. Foi dormir temendo que talvez more em um lugar propenso a se tornar uma Turquia autocrática, ao menos dado a votar de modo conservador e religioso.

As pesquisas mais ajustadas de voto no segundo turno e os resultados mais mastigados do primeiro turno delineiam melhor esse quadro descrito aqui com a pena da galhofa: não somos Portugal ou Turquia. Mas deve ter dado para entender a metáfora.

Quem ainda não entendeu, ouça Hamilton Mourão (Republicanos), vice de Bolsonaro. Recém-eleito senador pelo Rio Grande do Sul, defendeu a mudança da composição do SupremoJair Bolsonaro (PL) foi na mesma linha. Já reiterou também que quer um STF "cristão". "Vai vendo", como diz o povo.

Muniz Sodré* - O macaco do dia seguinte

Folha de S. Paulo

Entre nós, brasileiros, falta estabilidade ao 'ismo' característico das ideologias

Nunca foi tão oportuna uma tirada reflexiva de Mário Quintana: "O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser o nosso futuro". A frase vem ao encontro de conjeturas sobre a possibilidade de um bolsonarismo sem Bolsonaro, insinuada pelo próprio Lula. A sobrevivência pós-eleitoral do trumpismo suscita naturalmente questões comparativas dessa natureza.

O poeta dá uma estocada irônica no criacionismo com sua negação histriônica da teoria darwiniana da evolução das espécies em favor da descendência humana direta de Adão e Eva. Mas é também pretexto para a hipótese de que opções eleitorais pregressas sejam menos relevantes do que os riscos de sua repetição como fenômeno social. Afinal, pode-se votar com cérebro de macaco e depois, alertado por um neurônio humano, corrigir-se.

Janio de Freitas - Silêncio sem defesa

Folha de S. Paulo

Oposição à democracia não isenta de deveres

Em condições anormais, o percurso daqui ao dia 30 se encerrará com vitória do ex-presidente Lula. Contudo, não está extinto o risco de que se volte ao que é a normalidade destes tempos, sucessão impune de aberrações e crimes do governo, um tanto contidos desde o primeiro turno eleitoral.

A combinação de derrota inapelável do golpismo na batalha inicial e condições mais promissoras para Lula, nos dados preliminares, não garante sucessão tranquila com possível derrota de Bolsonaro.

Tribunal Superior Eleitoral proclamou os 100% de aprovação às urnas e à contagem. Importa pouco ou nada o silêncio de Bolsonaro a respeito. Não é o caso do Ministério da Defesa e do general-ministro Paulo Sérgio Nogueira.

Foram a infantaria no ataque às urnas e à lisura eleitoral, dando realidade às circunstâncias golpistas em que Bolsonaro foi e é o "laranja".

Eliane Cantanhêde - O plano bolsonarista

O Estado de S. Paulo

É com o Congresso, não com as Forças Armadas, que Bolsonaro pretende invadir o Supremo

O ano de 2022 marca o estrangulamento do centro e a polarização entre os extremos para além das eleições, com a esquerda de um lado e a extrema direita de outro, ambos servindo como ímã para as demais forças políticas. E é assim que os movimentos no 2.º turno, de certa forma naturais, são da centro-esquerda para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da centro-direita para o presidente Jair Bolsonaro.

Esse estrangulamento do centro parece, mas não é, exclusivo do Brasil. Basta olhar a Colômbia, há décadas presidida pela direita, que viveu neste mesmo 2022 uma eleição entre um ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro, e um ricaço que, em 2016, fez loas “ao grande pensador alemão Adolf Hitler”. Queria dizer Albert Einstein...

Pedro S. Malan* - Uma decisão, uma expectativa

O Estado de S. Paulo

Se vitorioso, Lula terá de tentar unir o Brasil. Terá de ampliar, em muito, sua base de apoio na sociedade, contrariar muitos seguidores.

 Há quase 20 anos escrevo neste espaço. No artigo inaugural (Falsos dilemas, difíceis escolhas..., 8/6/2003, A2), dizia: “Ao longo dos últimos 12 meses o Brasil mostrou ao mundo que continua avançando em termos de maturidade político-institucional e de racionalidade no debate econômico”. Gostaria de começar um artigo futuro, talvez repetindo essa mensagem. Esse desejo me veio à mente nessa semana que passou ao subscrever, com Arminio Fraga, Edmar Bacha e Persio Arida, uma singela nota que continha uma decisão e uma expectativa. A decisão: votaremos no segundo turno na chapa Lula-Alckmin. A expectativa: por uma condução responsável da economia num eventual novo governo. Cabe, talvez, tentar explicar a decisão e a expectativa.

O segundo turno será decidido, como apontou Marcus André Melo, por aquela parte do eleitorado que “vai votar em quem não aprova muito para evitar quem rejeita ainda mais”. Não é uma situação ideal, mas para o eleitor que não pretende se abster ou votar branco ou nulo restam apenas as duas opções: Lula ou Bolsonaro.

Rolf Kuntz* - Primeiro, a democracia

O Estado de S. Paulo

Fala-se muito em teto de gastos, em âncora fiscal e em programa econômico, mas o mais importante, neste momento, é garantir para o País uma forte âncora institucional.

Democracia é o principal valor político em jogo nesta eleição. Valores fundamentais, como a vida e as condições de sobrevivência, também estão em jogo, mas dependem, há milênios, das formas de cooperação social e da organização do poder. Programas de governo foram cobrados de alguns candidatos. Compromissos com o teto de gastos ou com alguma âncora fiscal foram apontados como essenciais. Todos esses pontos são relevantes, mas os compromissos e limites mais preciosos, no Brasil de hoje, são de outra natureza. Ao anunciar apoio a um dos candidatos, grandes economistas destacaram a defesa da democracia, dando muito menos atenção a detalhes econômicos. Nem precisaram justificar essa prioridade. O ritual democrático funcionou até agora, mesmo com o presidente insistindo no uso de meios públicos para sua campanha. Mas ninguém deveria esquecer os perigos, quando autoridades se mostram saudosas do período militar, elogiam torturadores e já convocaram multidões para pressionar o Legislativo e o Judiciário.

Cristovam Buarque* - Equipe para os fundamentos

Blog do Noblat / Metrópoles

No mundo de hoje, não há nome icônico para a economia. Nem Keynes, nem Marx, nem Friedman, como antes

Todos sabem da incompetência e da irresponsabilidade do atual presidente. Por isto, as lideranças econômicas sérias, do Brasil e do mundo, temem fortemente reeleição de Bolsonaro. Esta é uma das razões pelas quais grandes nomes da economia brasileira, os melhores, mais brilhantes e mais testados de nossos economistas têm se manifestado em apoio ao Lula no segundo turno. O apoio se dá pelo horror ao Bolsonaro, mas ainda com certas desconfianças em relação ao Lula e ao PT. Apesar do comportamento exemplar entre 2003 e 2008, ainda está presente a resistência ao Plano Real, a manipulação de preços da Petrobras, o desdém por âncoras fiscais.

Por isto, o mundo econômico, desejoso de se afastar de Bolsonaro, mas ainda assustado com a visão econômica do PT no passado, pede que Lula indique desde já o nome de seu ministro da economia. Seria erro político, eleitoral e técnico.

No mundo de hoje, não há nome icônico para a economia. Nem Keynes, nem Marx, nem Friedman, como antes. O nome depende de ganhar a eleição, avaliar corretamente o momento, no Brasil e no exterior, e selecionar quem traga confiança e competência. Nesta ordem, porque a competência depende da equipe, e a confiança depende de quem fala na mídia.

Fernando Carvalho* - Bolsonaro é fascista?

Este artigo é baseado de uma entrevista que o historiador argentino, Frederico Finchelstein autor do livro Uma Breve História das Mentiras Fascistas nos últimos anos surgiram no mundo grupos populistas de direita que estáo se aproximando perigosamente do fascismo. Segundo ele Trump e Bolsonaro deixaram para trás Berlusconi e Menen.

Em entrevista à revista La Tercera, o historiador concorda que há um abuso do termo fascista. Mas quem o usa dessa forma não tem noção de que o fascismo é um ideal antidemocrático de extrema direita, baseado em um nacionalismo extremo (Brasil acima de tudo!), com uma ideia da política entendida como culto ao líder (mito...mito...mito).

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões 

Lula tem de explicar o que entende por ‘reindustrialização’

O Globo

Essa foi uma de suas raras propostas econômicas na campanha, mas o histórico petista recomenda ceticismo

Na visita que fez à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) no início da campanha, o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva falou o que a plateia queria ouvir: anunciou a “reindustrialização” do país como uma das plataformas de seu governo. Como foi uma das raras ideias econômicas concretas que aventou ao longo de toda a campanha, torna-se essencial entender o que o líder nas pesquisas de opinião entende por isso.

O Brasil tem longa tradição de subsídios e programas protecionistas para indústrias “estratégicas” ou “nascentes”. Os gastos se perpetuam, a proteção não as expõe à competição e eterniza as ineficiências, cujo custo é pago pelo consumidor e pela sociedade. O protecionismo é a receita para emperrar o principal motor do crescimento saudável: a produtividade. São tantas as iniciativas do tipo no país, que não é coincidência a produtividade brasileira estar estagnada há décadas.

Os defensores dessa escola de pensamento poderão alegar agora que os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia nas cadeias globais de suprimento aconselham os países a produzir o máximo possível internamente, de modo a blindar-se de choques externos. Fala-se muito em “desglobalização”, mas isso não pode significar políticas autárquicas e dirigistas para impor a produção local a qualquer custo.

Poesia | Ferreira Gullar - No mundo há muitas armadilhas

 

Música | Teresa Cristina - Senhora Tentação (Cartola)