sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

É isso que nos une: uma vontade danada de fazer esse país voltar a crescer e as pessoas voltarem a sorrir. Mas sorrir de verdade, é dar dignidade, sem precisar botar dente de última hora.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG) e candidato a presidente da República, em S. Paulo, 28 de agosto de 2014.

Denúncia de fraude na CPI derruba chefe de gabinete da Petrobrás em Brasília

• José Eduardo Barrocas aparece em um vídeo discutindo com dois colegas da estatal as perguntas que seriam feitas a atuais e ex-diretores da petroleira pelos membros da CPI

Andreza Matais - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O chefe do escritório da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Barrocas, homem de confiança da presidente da petroleira, Graça Foster, deixou o cargo. Segundo oEstado apurou, Barrocas caiu por causa do seu envolvimento numa suposta trama para fraudar a CPI da Petrobrás no Senado. A Polícia Federal investiga a denúncia e já intimou o executivo a prestar depoimento.
Barrocas aparece num vídeo, divulgado pela revista Veja, discutindo com o chefe do departamento jurídico do escritório da empresa em Brasília, Leonan Calderaro Filho, e com o advogado Bruno Ferreira as perguntas e respostas que seriam feitas pelos senadores na CPI da Petrobrás aos investigados da petroleira.

Na gravação, Barrocas indica que as perguntas eram combinadas entre o PT e a Petrobrás. Desta forma, os atuais e ex-dirigentes da empresa já saberiam de antemão as perguntas que lhes seriam feitas pela CPI.

A Petrobrás confirmou nesta quinta-feira, 28, o desligamento de Barrocas. Ele deixou o cargo no dia 18 de agosto “retornando ao Rio de Janeiro, sua cidade de origem, onde desempenha atualmente a função de assistente do chefe de Gabinete da Presidência.”

A empresa não comentou o motivo da substituição. O chefe de Gabinete da presidente, Antonio Augusto Almeida Faria, está, interinamente, acumulando a gerência do escritório em Brasília. A informação sobre a troca foi antecipada nesta quinta-feira pelo portal estadao.com. br. A Petrobrás só se manifestou após a publicação da reportagem. Barrocas comandava o escritório da petroleira em Brasília desde 2012, quando Graça assumiu o comando da empresa. Antes disso, trabalhou com a atual presidente na BR Distribuidora.

No diálogo gravado em vídeo, Barrocas cita o assessor especial da Secretaria Especial de Relações Institucionais, Paulo Argenta; o assessor da liderança do governo do Senado Marco Rogério de Souza; e o assessor da liderança do PT na Casa, Carlos Hetzel, como os autores das questões feitas na CPI do Senado. “Perguntei quem é o autor dessas perguntas. Oitenta por cento é do Marcos Rogério. O Carlos Hetzel fez alguma coisa. O Argenta fez outras”, afirma.

A estratégia de combinar perguntas e respostas teria sido colocada em prática em 20 de maio, quando o ex-presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli depôs na CPI. Na gravação, Barrocas diz aos colegas que encaminhara, por fax, um “gabarito” à presidente da estatal, Graça Foster.

A reunião em que se discutiu a fraude à CPI ocorreu no gabinete da presidente da Petrobrás, em Brasília. A sala de reuniões integra o gabinete e o acesso é restrito a servidores da alta cúpula da estatal.

O espaço é usado por Graça para receber autoridades e fazer reuniões com assessores. O gabinete da presidente ocupa todo o segundo andar do prédio da Petrobrás na capital federal. É no mesmo espaço que Barrocas despachava.

Investigação. A fraude está sob investigação da Polícia Federal. Barrocas foi chamado a depor em setembro sobre seu envolvimento. A reportagem apurou que o advogado da estatal Bruno Ferreira, que também aparece nas imagens, já prestou depoimento, mas se recusou a dar qualquer esclarecimento.

A CPI da Petrobrás foi instalada após a presidente Dilma Rousseff informar ao Estado que aprovou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), com base em resumo “falho” que não trazia informações a respeito de cláusulas contratuais que se tivesse conhecimento não teria dado seu aval.
A compra da refinaria teria provocado prejuízo de US$ 792,3 milhões, conforme apuração preliminar do Tribunal de Contas da União (TCU).

Na quarta-feira, 27, a maioria dos ministros do TCU votou pela liberação da presidente da Petrobrás, Graça Foster, de um bloqueio patrimonial por responsabilidade no negócio envolvendo a Pasadena. A sessão do pleno do TCU foi suspensa após pedido de vista do ministro Aroldo Cedraz, que seria o último a votar. O placar, porém, já estava cinco a dois a favor da executiva da estatal petrolífera.

Petrobras: ex-diretor preso foi decisivo para aprovar Abreu e Lima

• Custos da obra saltaram de us$ 2,3 bi para us$ 20 bi; parte das sugestões de Costa foi aprovada por Graça

Vinicius Sassine – O Globo

BRASÍLIA - Disposto a aceitar um acordo de delação premiada, o que vem assustando meio mundo político, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa teve papel decisivo nas mais diferentes fases da construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e conhece como ninguém os meandros de um dos empreendimentos mais controversos da estatal, usado para abastecer seu suposto esquema de corrupção. Extratos inéditos de atas da Diretoria Executiva da Petrobras, relacionados apenas a deliberações sobre Abreu e Lima, mostram que Costa submeteu ao colegiado sete propostas decisivas para o empreendimento, duas delas referentes à participação da Petróleos da Venezuela (PDVSA) no negócio.

Todas as sugestões do diretor, hoje preso no Paraná por conta de desvios de contratos superfaturados nas obras da refinaria, foram aprovadas pela Diretoria Executiva. A presidente da Petrobras, Graça Foster, participou de três dessas reuniões.

As propostas foram feitas à cúpula da estatal entre 2005 e 2011. No ano seguinte, Costa deixou o cargo de diretor de Abastecimento e passou a atuar na iniciativa privada. Com a deflagração da Operação Lava-Jato pela Polícia Federal, em março deste ano, veio a público a participação do ex-diretor no esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef.

A base dos supostos desvios feitos por Costa são os contratos das empreiteiras e subempreiteiras para as obras da refinaria. Os custos de Abreu e Lima saltaram de US$ 2,3 bilhões, valor do primeiro orçamento feito, para mais de US$ 20 bilhões, total que deve ser gasto até novembro, mês previsto para a inauguração. O Tribunal de Contas da União (TCU) calcula um superfaturamento nas obras superior a US$ 493 milhões (mais de R$ 1,1 bilhão).

Registros em ata desde 2005
No primeiro registro em ata sobre uma proposta de Costa à Diretoria Executiva, em setembro de 2005, ele propôs que o projeto tivesse continuidade, começando a partir do mês seguinte a fase dois da refinaria, com a localização do empreendimento em Pernambuco e "equacionamento da questão relativa à disponibilidade de água". O registro seguinte é de março de 2007. Costa introduziu na pauta dos diretores da Petrobras o "Plano de Antecipação da Refinaria do Nordeste". Na prática, ele propôs que se criasse uma empresa para a implantação a refinaria.

Três meses depois, a criação da empresa ficou mais clara, novamente a partir de uma sugestão do ex-diretor. Ele sugeriu uma sociedade entre a Petrobras e a Downstream Participações e indicou que o próprio diretor de Abastecimento fosse o representante da estatal na sociedade. A diretoria, com o então presidente José Sergio Gabrielli à frente, concordou com a proposta.

O passo seguinte de Costa, conforme as atas das reuniões da diretoria, foi submeter à aprovação o termo de compromisso com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) para a construção e a operação da refinaria. Já em novembro de 2009, o ex-diretor propôs a execução da fase quatro de Abreu e Lima, o que na prática significou a execução das obras. Graça Foster participou dessa reunião e votou a favor da proposição, assim como os demais diretores.

Acordo com venezuelanos passou por Costa
Em dezembro do mesmo ano, Costa tratou de dois assuntos decisivos para Abreu e Lima: a participação da PDVSA, estatal de petróleo da Venezuela, e do BNDES no empreendimento. O ex-diretor propôs que a PDVSA deveria fazer um aporte inicial de R$ 854,1 milhões no negócio, o que acabou não ocorrendo. O governo da Venezuela abandonou o empreendimento quando as obras já estavam em curso, o que contribuiu para o encarecimento dos custos, uma vez que a refinaria foi planejada para processar o óleo pesado venezuelano. Também se discutiu na reunião minutas de contratos de compra e venda de petróleo entre a PDVSA e Abreu e Lima, além da participação societária da estatal venezuelana.

Na mesma reunião, Costa pediu autorização para que houvesse negociações junto ao BNDES e a PDVSA, "de forma a obter a anuência do BNDES para a nova estrutura societária" de Abreu e Lima. A ideia era garantir o financiamento já contratado de R$ 9,8 bilhões.

O último registro em ata com o protagonismo do então diretor de Abastecimento é de outubro de 2011. A Diretoria Executiva apenas tomou ciência de um ato de Costa: ele autorizou a celebração de um acordo de sigilo e confidencialidade entre a Petrobras e a PDVSA, "visando conferir proteção às informações e documentos solicitados pela PDVSA do Brasil".

A maioria das decisões sobre Abreu e Lima não passava pela Diretoria Executiva ou pelo Conselho de Administração da Petrobras. A refinaria tinha um conselho próprio, presidido por Costa, que deliberava sobre a rotina das obras. As decisões mais comuns nesse colegiado eram a aprovação de aditivos contratuais com as empreiteiras. Parte desses aditivos resultava em acréscimo de serviços e no encarecimento dos custos.

O GLOBO questionou a Petrobras se as propostas de Costa nas reuniões da Diretoria Executiva foram revistas após as descobertas feitas pela PF. Não houve resposta da estatal até o fechamento desta edição. O jornal também procurou a advogada Beatriz Catta Preta, que assumiu a defesa do ex-diretor para organizar a delação premiada. Ela não deu retorno.

PIB cai 0,6% no segundo trimestre e Brasil entra em recessão técnica

• Produção de bens e serviços da economia nacional também foi negativa no primeiro trimestre de 2014, em 0,2%, de acordo com correção anunciada pelo IBGE

Gustavo Santos Ferreira - O Estado de S. Paulo

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil sofreu variação negativa de 0,6% no segundo trimestre de 2014 comparado ao resultado dos três meses imediatamente anteriores - informou nesta sexta-feira, 28, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesta versão das Contas Nacionais, também foram revisados os dados do primeiro trimestre deste ano: a alta de 0,2%, anunciada em maio, foi corrigida para recuo de 0,2% ante o último trimestre de 2013.

Fica constatada, assim, a recessão técnica da atividade econômica brasileira. Ela ocorre quando, por duas vezes seguidas, a soma trimestral da produção de riquezas de um país é menor que a obtida anteriormente. Ou seja, embora essa tese não seja unânime, na prática, boa parte de economistas e analistas de mercado consideram agora que o PIB do Brasil entrou em processo de redução.

A última vez que isso aconteceu foi no auge da crise financeira mundial, entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009 - mostra a base de dados do IBGE. As turbulências da economia internacional eram incomparavelmente mais severas que as atuais - ainda que, até hoje, a economia mundial não tenha recuperado totalmente a prosperidade de antes.

Com esse resultado, o atual governo retoma, em seu último ano de mandato, cenário econômico semelhante ao do primeiro semestre de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência. A variação negativa do PIB no primeiro semestre de 2003, por outro lado, viria a ser revertida para uma taxa anual média de crescimento de 4,0%, conquistada entre 2003 e 2010 - bem acima do ritmo de expansão média de 2,3% por ano do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002.

PIB fraco deve virar debate em campanha

• Governo se prepara para responder a ataques da oposição pelo resultado do PIB no 2º trimestre, que aponta recessão técnica após a queda de 0,6% no trimestre

João Villaverde - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O resultado do PIB no segundo trimestre, que colocou o País em recessão técnica após a confirmação de dois trimestres consecutivos com crescimento negativo, deve se tornar um ponto importante no debate eleitoral. O número divulgado nesta sexta-feira, pelo IBGE, mostra uma queda de 0,6% no segundo trimestre, e traz também uma revisão do PIB do primeiro trimestre, que passou de 0,2% para -0,2%.

O governo já se prepara para o bombardeio que virá da oposição. “Fato é que, se teve recessão, ela já passou. Estamos em ritmo mais acelerado agora. Mas não é algo bom nesta altura do campeonato”, disse uma fonte do Ministério da Fazenda, já em clima de expectativa negativa, que também foi reverberada no Planalto. Na quarta-feira, Dilma se reuniu com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir sobre a comunicação do governo a ser adotada após a divulgação do PIB.

A mensagem central do governo - de que o quadro econômico “já está melhor” - foi antecipada nesta quinta-feira pela manhã, quando os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, anunciaram o Orçamento de 2015. Na apresentação, Mantega e Miriam apresentaram números muito melhores para 2015 (tanto para PIB quanto para inflação) do que todos os registrados de 2011 para cá. Mantega também repetiu por três vezes ao longo da cerimônia que o quadro econômico atual é mais dinâmico do que em vigor no início de 2014.

À frente da política econômica há mais de 8 anos, Mantega também fez duros ataques aos economistas da oposição, notadamente Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central (BC) durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). Coordenador econômico da campanha de Aécio Neves (PSDB), Fraga já foi anunciado pelo candidato tucano como futuro ministro da Fazenda, em eventual vitória do PSDB.

Questionado durante o anúncio do Orçamento 2015 sobre as críticas à política econômica feitas tanto por Aécio quanto por Marina Silva (PSB), Mantega fez um discurso pesado, na tentativa de assustar principalmente os trabalhadores assalariados, com a perspectiva de vitória da oposição. “Tudo o que a população brasileira ganhou nos últimos anos, com aumento de renda e queda da taxa de desemprego, corre o risco de ser revertido”, disse Mantega, que fez uma referência indireta à Armínio: “Me preocupa muito a política monetária que vai combater a inflação de forma radical, porque poderemos ter a volta dos juros estratosféricos do passado”.

Meta de inflação. Mantega também afirmou que a inflação durante o governo Dilma Rousseff “nunca estourou o teto” da meta de 6,5%, e citou, novamente, Armínio Fraga, de forma indireta. “Um ex-presidente de BC que está numa candidatura entregou inflação acima da meta”, disse.

Ao final, Mantega afirmou que o governo Dilma resistiu a praticar o “populismo cambial” para derrubar a inflação, “diferente de governos passados, que chegaram a segurar o câmbio fixo por quatro anos, até estourar”. A referência foi ao primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que entre 1995 e 1998 manteve o real fixo ao dólar na relação de um para um. A política mantinha a inflação controlada, mas acabava punindo os exportadores.

Uma reação imediata à fala de Guido Mantega veio do economista Mansueto Almeida, um dos mais próximos de Armínio Fraga na coordenação econômica da campanha de Aécio Neves à presidência. Em seu Twitter, Almeida afirmou: “O ministro Mantega acaba de fazer terrorismo eleitoral. Disse ter medo da política econômica da oposição. Deveria ter (medo) quando olhar para o espelho”. / Colaborou Tânia Montero

Dilma e Lula criticam discurso de Marina

• Presidente afirma que não basta "a pessoa ser boa"; ex-presidente diz para não crer em quem "faz apologia da não política"

• Para petista, campanha é "baseada em mentira"; para Marina, "mentira" é falar que rival do PT eliminará projeto social

Aguirre Talento e Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff (PT) e seu padrinho político, o ex-presidente Lula, fizeram nesta quinta-feira (28) ataques ao discurso da adversária Marina Silva (PSB).

Dilma rebateu declarações de Marina de que pretende governar com "os melhores do PT e do PSDB" e disse que não basta "a pessoa ser boa", é preciso "compromisso com distribuição de renda".

"Essa história que você acha os bons ou os melhores sem aferição não está certa não. Como é que eu vou fazer uma política da agricultura familiar com quem não defende a agricultura familiar?", disse Dilma em Brasília, durante evento da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura).

Após comparar as gestões de PT e PSDB na Presidência, ela disse que "os bons desse país são aqueles que têm compromisso com a distribuição de renda e inclusão social".

Dilma não chegou a citar nominalmente Marina. No domingo, já havia criticado a adversária ao chamar de "temeridade" a afirmação de que o Brasil não precisa de gerente.

Depois de tratar das diferenças entre os governos PT e PSDB, a petista afirmou ainda que "estamos diante de uma campanha que vai estar baseada na mentira".

"Na mentira como eles fizeram durante a Copa do Mundo, que disseram não vai ter Copa, não tem aeroporto, não tem estádio, não tem rua, não tem nada"."

Marina rebateu a petista dizendo que ela deveria estar se referindo a boatos de que benefícios sociais como o Bolsa Família serão suspensos se algum adversário do PT vencer.

"Deve ser [a declaração de Dilma] em referência a muita mentira que vem sendo dita no Nordeste, de que políticas sociais vão ser desmontadas [se a atual presidente não for reeleita]." Segundo Marina, "unir os melhores é difícil para o PT e o PSDB".

"Política"
Em evento do candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, em São José dos Campos, Lula reforçou a estratégia petista de desconstruir a adversária.

Disse que não é possível "alguém governar fora da política". Marina tem como bandeira a defesa do que chama de "nova política", além de críticas a alianças e à estruturação dos partidos.

"Se alguém quiser votar em alguém que não é político, em primeiro lugar: não acredite quando o cara faz apologia da não política. Não acredite porque não é possível alguém governar fora da política."

Dilma e Lula fazem críticas à ‘nova política’ de Marina

• Presidente sugere que visão da adversária é ‘simplista’, Lula pede que eleitor ‘não acredite em quem faz apologia da não política’ e programa do PT diz que ‘ninguém quer incerteza de uma aventura’

Rafael Moraes Moura, Nivaldo Souza, Ricardo Della Coletta, Tânia Monteiro, Lilian Venturini e Valmar Hupsel - O Estado de S. Paulo

A campanha à reeleição de Dilma Rousseff intensificou nesta quinta-feira, 28, as críticas à candidata do PSB ao Planalto, Marina Silva. Em entrevista, a presidente sugeriu que a adversária é “simplista” ao dividir políticos entre “bons e maus”. Horas depois, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em discurso que o eleitor não deve acreditar “em quem faz apologia da não política”, numa outra referência indireta à ex-ministra do Meio Ambiente. Já no rádio, o programa eleitoral petista bateu na tecla de que “ninguém quer a incerteza de uma aventura”.

A ofensiva governista vem se somar às críticas que já vinham sendo feitas pelo candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves, desde o debate da TV Bandeirantes na terça-feira passada. Aécio já fez referências sobre riscos de “aventuras” e citou “que o Brasil não é para amadores”.

Tanto o tucano quanto os petistas tentam explorar a imagem de inexperiência da candidata do PSB. Sugerem ainda que ela não conseguirá governar por afastar os partidos em razão de seu discurso da “nova política”. Marina tem dito que, se eleita, vai buscar “os melhores” de cada partido. Chegou a citar Eduardo Suplicy (PT) e José Serra(PSDB).

Pela mais recente pesquisa Ibope/ Estadão/ TV Globo, divulgada na terça-feira, Dilma tem 34%, Marina tem 29% e Aécio tem 19%. Na simulação de 2º turno, a candidata do PSB, que substituiu Eduardo Campos após a morte do ex-governador pernambucano num acidente aéreo no dia 13 de agosto, venceria a presidente por 45% a 36%.

Complicada. “Acho que essa distinção entre bons e maus é uma distinção muito complicada e simplista. Para mim, os bons neste país são aqueles que têm compromisso com distribuição de renda e inclusão social”, disse Dilma nesta quinta, ao conversar com jornalistas depois de participar de evento da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Contag).

O evento foi feito sob medida para render imagens de Dilma nos “braços do povo” para o horário eleitoral. Ela recebeu da Contag um documento com propostas elaboradas pelo movimento sindical, como acelerar a reforma agrária e consolidar a educação no campo, dois pontos frequentemente criticados pelos trabalhadores rurais. Marcado para o horário do almoço, contou com a presença de cinco ministros e um grande contingente de seguranças do Planalto. “Pra mim, o conceito de ‘bons’ tem de ter ligação com o compromisso. Todas as pessoas podem ser boas ou más, mas as boas pessoas podem não ter compromisso. A pessoa é muito boa, mas o compromisso dela é com outra coisa. Ela tem compromisso com o crescimento de 3% da população. Agora eu prefiro o bom com compromisso com a maioria da população brasileira”, afirmou a petista.

“Tem gente que acha que um cargo de presidente da República é só de representação. Não é”, engrossou o coro de críticas o presidente do PT, Rui Falcão.

Conversa. Lula foi ao ataque durante evento de apoio ao candidato petista em São Paulo, Alexandre Padilha. “É impossível governar fora da política, pois quem for eleito presidente da República tem que conversar com o Congresso Nacional. Não está na hora de negar a política”, disse ele, sem citar o nome de sua ex-ministra do Meio Ambiente uma única vez.

As afirmações de Lula foram feitas em cima de um carro de som, na cidade de São José dos Campos, no Vale do Paraíba.

Marina foi uma da poucas figuras políticas que se beneficiaram dos movimentos de rua deflagrados em todo o País em junho de 2013, pelo fato de ter conseguido passar uma imagem de que não compactua com o atual modelo de representatividade.

O evento de Lula nesta quinta foi primeiro ato político em que ele participou ao lado de Padilha após a divulgação das pesquisas de intenção de votos feitas depois do início do horário eleitoral, que apontam estagnação do candidato petista em 5%.

Dilma adverte para 'incerteza' e 'extremismo'

• Sem citar o nome de Marina, presidente faz referências a comportamento da adversária

Simone Iglesias, Luiza Damé e Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Em duas atividades de campanha durante o dia de ontem, a presidente Dilma Rousseff atacou indiretamente a candidata Marina Silva (PSB), que ocupa o segundo lugar nas pesquisas. Em sua propaganda no rádio, Dilma alertou para "a incerteza de uma aventura", e em ato na Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), citou posições de "extremismo absoluto" que dificultaram a aprovação do Código Florestal.

Ao defender a atuação do governo na aprovação do Código Florestal, Dilma, sem citar o nome de Marina, afirmou que optou pelo caminho do meio para solucionar impasse causado pela radicalização.

- Quero falar um pouco de Código Florestal. Estava um processo de discussão radicalizado. De um lado, falavam que todo mundo tem de reservar a mesma quantidade de terra que foi usada indevidamente do ponto de vista ambiental. É tudo igual e não tem perdão para ninguém. Do outro lado, diziam, os grandes têm que ter um certo perdão porque, senão, inviabiliza as exportações. 

Estávamos nessa posição de extremismo absoluto, quando criamos uma coisa proporcional, que é a escadinha - disse a presidente, referindo-se ao sistema de compensação do Código Florestal, no qual as menores propriedades precisam recompor áreas proporcionalmente menores.

Dilma afirmou que a preservação ambiental não pode inviabilizar a vida do produtor. Segundo ela, o resultado da negociação do código foi uma legislação que preserva o meio ambiente e o pequeno produtor rural. Marina chamou de "Código Agrário" o projeto aprovado.

Em mais uma estocada em Marina, a presidente afirmou não ser possível administrar apenas com os melhores quadros, mas com os que têm afinidade e compromisso com as propostas de governo.

- Essa distinção entre bons e maus é bem complicada. Bons para mim são os que têm compromissos com a inclusão social e de renda. Pode ter pessoa boa que não tem compromisso com a população brasileira - retrucou.

Lula também critica ex-senadora
Em São José dos Campos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também fez uma crítica indireta a Marina. Em comício ao lado do candidato a governador de São Paulo, Alexandre Padilha (PT), Lula disse que é preciso desconfiar de quem defende a "não-política".

- Se alguém quiser votar em alguém que não é político, em primeiro lugar, não acredite quando o cara faz a apologia da não-política. Porque não é possível alguém governar fora da política - disse ele, completando: - Quem for eleito presidente da República vai ter de conversar com o Congresso Nacional e com os partidos políticos. Não está na hora de a gente negar a política.

A propaganda eleitoral de Dilma no rádio fez crítica velada à Marina e ao candidato do PSDB, Aécio Neves:

- O povo está com a Dilma e ela vai ganhar outra vez. Ninguém quer a incerteza de uma aventura e nem a volta ao passado - afirmou o locutor do programa.

Em reunião na noite de quarta-feira com os presidentes dos partidos da aliança à reeleição da presidente, dirigentes avaliaram que é preciso esperar ao menos mais uma semana para ver se o rápido crescimento de Marina se consolida num patamar próximo aos 30%. A expectativa dos partidos é que ela comece a cair nas pesquisas a partir da próxima semana, passada a comoção pela morte de Eduardo Campos e com a exposição de suas posições "contraditórias" e "divergentes" de parte dos eleitores que migrou para sua candidatura.

Dilma afirmou no encontro, segundo pessoas presentes, estar convencida de que Marina tirou de Aécio o apoio do mercado financeiro ao defender a autonomia do Banco Central. A petista disse, ainda de acordo com participantes da reunião, que, com isso, espera conquistar mais apoios do setor produtivo, como indústria e agronegócio, que seriam contra a independência do BC.

Marina deve repetir estilo Itamar para governar com minoria, dizem aliados

César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - A candidata presidencial Marina Silva (PSB) poderá se espelhar no governo de Itamar Franco (1992-1994) para administrar o país sem maioria no Congresso, caso seja eleita. A ex-senadora descartou ter o apoio formal em um eventual governo do PT, PMDB e PSDB e anunciou que irá trabalhar com dissidências partidárias.

"Vamos mudar o conceito de governabilidade", disse o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (PE), que foi líder do governo Itamar na Câmara. "O governo negociará caso a caso e, se perder no Congresso, a decisão será levada à sociedade que vai demonstrar seu sentimento a favor ou contra o que aconteceu. O que não se pode é gerar uma relação promíscua", disse Freire.

Vice que chegou ao poder com o impeachment e a renúncia do titular, o hoje senador Fernando Collor (PTB-AL), Itamar Franco (1930-2011) não tinha partido ao chegar ao cargo: havia se desfiliado do PRN quatro meses antes do afastamento de Collor. Itamar ignorou as lideranças partidárias na hora de montar seu ministério e escalou integrantes de seis partidos: PMDB, PSDB, PDT, PT, PSB e PFL. Reservou para sua cota pessoal os ministérios da Fazenda, Planejamento, Casa Civil, Educação, Ciência e Tecnologia e Saúde.

Desagradou assim aos principais dirigentes da época, como Orestes Quércia (PMDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Antonio Carlos Magalhães (PFL), Leonel Brizola (PDT) e Miguel Arraes (PSB). Mas não teve dificuldades para aprovar projetos que enviou ao Congresso, como por exemplo o da criação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF) em 1993. O tributo antecedeu a CPMF e foi declarado inconstitucional alguns anos mais tarde. "A maioria no Legislativo naquele tempo não se construiu por arranjos partidários, mas negociando matéria a matéria", lembrou Freire.

O agravamento da crise econômica fez com que Itamar mudasse seu estilo de governar em maio de 1993, quando nomeou Fernando Henrique Cardoso para o ministério da Fazenda. Ao contrário dos antecessores, FHC teve respaldo do mercado financeiro e ganhou do presidente carta-branca para armar um plano de estabilização financeira.

O otimismo dos aliados de Marina com a força popular que a candidata terá caso eleita é tão grande que seus partidários no Congresso tentarão ganhar poder no Legislativo. Um dos deputados mais veteranos da Casa, Miro Teixeira (Pros-RJ), que busca seu décimo-primeiro mandato, pretende se lançar para a presidência da Câmara dos Deputados nessa hipótese.

"Vou disputar a presidência da Casa. Teremos uma presidente com minoria, mas com imensa legitimidade pelo voto e com pelo menos metade dos mandatos renovados na Câmara. Eu duvido que o PT marche unido com Arlindo Chinaglia ou o PMDB fique coeso com Eduardo Cunha", disse Miro, citando os dois mais prováveis candidatos a presidente da Câmara pelo PT e pelo PMDB, maiores bancadas no Legislativo.

Segundo Miro, a escolha das presidências das mesas diretoras do Legislativo, que acontece em 2 de fevereiro, "será o momento para se forjar uma nova governabilidade". "Estaremos em uma etapa em que o Congresso estará mais suscetível à opinião pública. No Senado, o PMDB continuará sendo a maior bancada, mas com boa parte de seus integrantes na metade final do mandato, necessitando armar suas alianças para renovar suas cadeiras em quatro anos", disse.

O parlamentar, que foi ministro das Comunicações e líder do governo Lula na Câmara entre 2003 e 2004, afirmou que "no Brasil o conceito de governabilidade é distorcido". "As maiorias se organizam conforme as propostas são apresentadas. Em 2003 Lula não aprovou a reforma da Previdência com mensalão, aprovou com um acordo com o PSDB e o PFL. Em 1990 Collor assumiu o governo em total minoria, montou um ministério sem representatividade e ainda assim aprovou de maneira quase unânime um plano econômico de caráter confiscatório", exemplificou Miro.

Eleito em 1989, tendo Itamar como vice, Fernando Collor concorreu em uma eleição solteira e contava apenas com o apoio de três siglas nanicas. Para compor seu primeiro ministério, com treze pastas civis, Collor nomeou apenas três políticos: Bernardo Cabral (Justiça), Carlos Chiarelli (Educação) e Alceni Guerra (Saúde). Nos últimos meses de seu governo, pouco antes de perder o mandato em um processo de impeachment, entregou os principais cargos de sua administração para o PFL, atual DEM.

Mantega entra na eleição e ataca Armínio

• Ministro entra na campanha e defende legado de Lula e Dilma

Martha Beck e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, partiu ontem para o ataque contra os adversários da presidente Dilma Rousseff na corrida presidencial. Repetindo uma fórmula que já havia sido usada em 2002 pelo então presidente do Banco Central (BC), Arminio Fraga, para criticar o candidato Lula, Mantega disse que algumas das propostas que estão surgindo hoje, especialmente para o combate à inflação, podem acabar provocando recessão e desemprego.

Mantega aludiu ao ex-presidente do BC no governo Fernando Henrique, apontado como o futuro ministro da Fazenda caso o candidato do PSDB, Aécio Neves, vença a disputa nas urnas. Arminio faz críticas aos rumos da política econômica e promete mudanças. Sem citar nomes, o ministro da Fazenda disse:

- Tem um (assessor de) candidato aí que era presidente do Banco Central que não cumpriu as metas de inflação, que entregou uma inflação maior do que nós entregamos. Nós cumprimos o câmbio flutuante. No passado, não cumpriram, pelo contrário, engessaram o câmbio e provocaram uma crise em 1999.

"Juros estratosféricos"
A atitude de Mantega é semelhante à de Fraga em 2002. Em meio às turbulências no mercado financeiro às vésperas da eleição presidencial, o então presidente do BC atribuiu a instabilidade à falta de clareza de Lula em suas propostas econômicas. Numa entrevista para acalmar o mercado e tentar segurar a disparada do dólar, Fraga afirmou que era preciso "rechaçar os caminhos estapafúrdios e apresentar com mais clareza os programas":

- Conhecemos alternativas e tentativas de soluções mágicas. Fala-se em reestruturação de dívida pública e controles no câmbio. Se os candidatos têm alternativas, que as mostrem em detalhes - desafiou à época.

Durante a divulgação da proposta orçamentária de 2015, Mantega foi perguntado sobre as ideias que outros candidatos à Presidência vêm apresentando para mudar a condução da política econômica.

- Me preocupa muito a política monetária que vai ser praticada pelo que estou ouvindo. Estão falando em política monetária que vai combater a inflação de uma forma radical. Nós poderemos voltar aos juros estratosféricos que tínhamos no passado, onde só o setor financeiro levava vantagem - afirmou o ministro acrescentando: - Podem até ser bem-sucedidos (no combate à inflação), mas vão criar recessão, desemprego, e a população vai regredir. Tudo isso que a população avançou corre o risco de ser revertido. É perigoso.

Arminio Fraga foi procurado pelo GLOBO, mas não retornou aos contatos.

Solidez financeira
Ao lado do secretário do Tesouro, Arno Augustin, Mantega foi incisivo ao defender o legado da política econômica dos governos Lula e Dilma:

- Vamos deixar um país sólido. Uma economia pronta para um novo ciclo de crescimento. Um país que tem reservas e, assim, não sofre turbulências ou evasões de capital. Somos credores, emprestamos a outros países. É uma situação de solidez financeira. A população brasileira é a que menos sofreu a crise internacional. O emprego e a renda continuaram aumentando. E chegamos a ter uma situação de quase pleno emprego.

O ministro, no entanto, sinalizou que o governo não conseguirá realizar o superávit primário prometido para 2014, de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, a situação fiscal está difícil este ano em função do fraco desempenho da economia e das receitas:

- Este ano está sendo mais difícil, mas vamos continuar trabalhando para fazer o maior primário possível.

Bem-humorado, Mantega brincou ao comentar o pequeno aumento do orçamento de sua pasta para 2015:

- A Fazenda é sempre sacrificada pelo Planejamento. O orçamento subiu um pouco porque tem emissão de cédulas. Mas continuamos naquela pindaíba que tem nos caracterizado.

Ministro da Justiça de Dilma ataca Aécio

• Cardoso diz que candidato do PSDB está profundamente desinformado em relação às questões de segurança pública

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

Seguindo a estratégia adotada pelo governo de não deixar os ataques da oposição sem resposta, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, rebateu às declarações do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. "O senador está profundamente desinformado em relação às questões de segurança pública", declarou Cardozo ao Estado, após lamentar que Aécio "não estivesse presente às sessões do Senado todas as vezes que ele participou de audiências lá, falando sobre as ações de sua pasta". Para o ministro da Justiça, a proposta do senador Aécio Neves de mudar o nome de sua pasta para Ministério da Justiça e Segurança Pública é "cosmética" porque a pasta hoje já concentra suas atuações, seus recursos e o pessoal com a área de segurança pública.

"Mudança de nome não muda conteúdo. O Ministério da Justiça hoje, na prática, já atua na área da segurança pública. Ao mudar o nome, o senador não muda um realidade que já está dada, pois a maior parte do nosso orçamento já é para segurança pública, a maior parte do quadro do pessoal do MJ é de segurança pública. Mudar nome é postura meramente cosmética", rechaçou. Cardozo citou ainda que a presidente Dilma vai encaminhar nos próximos dias uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que redefina constitucionalmente o papel da União na segurança pública. "Copa do mundo é paradigma para questão de segurança pública. Nós queremos a segurança pública daqui pra frente no padrão Copa", emendou, justificando que o governo só está fazendo isso depois de três anos e meio de gestão porque está usando o projeto bem sucedido da Copa.

O ministro José Eduardo Cardozo respondeu ainda à acusação de Aécio que a Polícia Federal "tem o menor orçamento desde 2009". Cardozo rebateu afirmando que houve "20% de aumento na execução do orçamento da Polícia Federal de 2009 para cá". "Não sei que dado foi avaliado pelo senador, mas o que é real é o orçamento executado", disse, informando que a previsão de execução orçamentária para 2014 é de R$ 5,01 bilhões, contra R$ 4,88 bilhões em 2013, R$ 4,61 bilhões, em 2012, R$ 4,52 em 2011, R$ 4,44, em 2010 e R$ 4,15, em 2009.

Em relação às afirmações de Aécio que apenas 10% do Fundo Penitenciário Nacional (Funpem) foi executado pelo governo, o ministro reagiu dizendo que ele está "mal informado". Segundo Cardozo, o Funpem "tem o programa mais ousado na história do País e estamos com execução orçamentária em ascendência". Em seguida, apresentou números informando que de 1995 a 2002, período do governo Fernando Henrique, 51,7% dos recursos do fundo foram executados, em média. De 2003 a 2010, no governo Lula, a execução média subiu para 59,3%. No governo Dilma, de 2011 a 2013, a execução média foi de 60,56%.

O ministro da Justiça ironizou a promessa do candidato tucano de fazer uma "profunda" reforma nos Códigos Penal e de Processo Penal.

"O senador mostrou uma profunda desinformação aos nos criticar. Ele é senador da República e desconhece que a sua proposta já esteja em curso, há algum tempo, no Senado Federal", afirmou Cardozo. "Aliás, eu não tive a oportunidade de participar de nenhum debate com o senador nas vezes que estive lá porque ele não pode comparecer, estava ausente", completou.

Sobre a acusação de que a presidente Dilma só comprou dois dos 14 vants prometidos, Cardozo justificou que o governo reavaliou o plano de aquisição dos equipamentos. "Seria absurdo que não revisássemos o programa, em decorrência da nova realidade tecnológica que se descortinou a partir do momento que recebemos e os dois novos equipamentos entraram em operação", comentou o ministro, explicando que verificou-se que estes dois vants podem e devem trabalhar em conjunto com os das Forças Armadas, reduzindo o numero a ser adquirido. Ele citou ainda a possibilidade deste equipamento vir a ser fabricado no Brasil.

Dilma ataca Marina com alfinetada velada

• Em encontro, presidenta evita falar o nome da candidata do PSB à Presidência da República, mas critica os critérios de escolha da oponente para a formação de ministérios

Edla Lula – Brasil Econômico

Minimizar o efeito Marina Silva (PSB), mas sem deixar de alfinetar a adversária. Esse foi o tom das ações da campanha do PT na corrida para reeleger a presidenta Dilma Rousseff, ontem, em Brasília. Dilma aproveitou o horário de almoço como presidenta para falar como candidata a uma entusiasmada platéia de trabalhadores rurais que apoiam sua reeleição. Sem citar Marina, criticou o critério a ser usado por ela na escolha de sua equipe, caso seja eleita. Marina tem dito que escolherá as melhores cabeças, sejam do PT, sejam do PSDB.

À tarde, foi a vez de o presidente do partido, Rui Falcão, convocar uma coletiva para mostrar que a candidata Marina Silva não preocupa tanto assim e assegurar que o PT não vai mudar sua estratégia de campanha em função dos índices que apontam derrota de Dilma no segundo turno.

O discurso de Dilma, que durou quase 43 minutos, parecia programático, com a presidenta falando dos feitos para a agricultura familiar ao longo dos últimos 12 anos e aquilo que pretende fazer se for reeleita. Mas os dez últimos minutos foram dedicados à batalha eleitoral.

"Essa história de que você acha os bons ou os melhores sem aferição não está certa, não", disse Dilma em discurso para os trabalhadores rurais. "Como é que eu vou fazer uma política da agricultura familiar com quem não defende a agricultura familiar? A pessoa pode ser ótima, mas ela não tem nenhum compromisso com agricultura familiar. Ela não fará". Segundo a candidata, "não é uma questão de a pessoa ser boa ou ser ruim, é uma questão de que compromisso ela tem. E melhor ter pessoas boas e compromissadas do que pessoas boas e sem compromisso".

Rui Falcão, por sua vez, convocou a coletiva para anunciar que o partido entrará com ações na Justiça Eleitoral para a retirada do ar e responsabilização dos autores de uma montagem feita no vídeo em que o ex-presidente Lula apoia a candidata do PT ao Senado por Goiás, Marina Sant" Arma. O vídeo, editado, mostra Lula apoiando Marina Silva. A marca oficial da campanha de Marina Silva abre e encerra o vídeo. Além disso, há um corte na palavra "Goiás", para que o espectador não perceba a propaganda original.

Falcão fez questão de frisar que as ações não são dirigidas ao PSB, numa tentativa de demonstrar que não é Marina que preocupa o PT. "Queremos deixar claro que não e tamos atribuindo a autoria desse vídeo fraudado a nenhum partido e a nenhum candidato", disse.

As redes sociais têm sido o principal espaço utilizado pela campanha de Marina para atingir os eleitores. " Queremos colocar um freio e deter este tipo de campanha. Comum vídeo grosseiramente fraudado e que infelizmente traz marca oficial da campanha da candidata do PSB e se atribui falsamente o apoio do presidente Lula à candidata Marina Silva", disse Falcão.

Logo após a coletiva de Falcão, a assessoria de imprensa do PSB divulgou nota afirmando que a coligação "repudia o uso indevido da imagem de sua candidata e da marca da aliança". Segundo a nota, o partido também requererá ao Ministério Público e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a abertura de inquérito para identificar a origem e o responsável pela montagem e veiculação. "Expediente dessa ordem contraria os princípios éticos que caracterizam a candidata Marina Silva e os partidos que integram nossa coligação", diz a nota.

Nos últimos dias, fontes do comitê petista disseram que faz parte da nova estratégia "desconstruir" a imagem de Marina, denunciando incoerências entre o discurso e a prática. Mas, ontem, Rui Falcão afirmou que nada mudou na estratégia da coligação governista. "O dado mais novo que tem nessa pesquisa é a comprovação de algo que eu já dizia antes, que é a realização do segundo turno", comentou, referindo-se às pesquisas do Ibope e do MDA desta semana.

Falcão citou pesquisa de outubro do ano passado, quando o Data-folha atribuiu 27 pontos a Marina. "Nessas últimas pesquisas ela se aproxima desse percentual, dando a entender que manteve parcela do seu recall e agregou a isso um pouco da comoção e subtraiu parcela de eleitores que tendiam a votar no candidato do PSDB", disse Rui.

As estratégias para o segundo turno, disse Rui, serão pensadas quando se encerrar o primeiro: "Vamos ver como será a campanha. Segundo turno é outra eleição".

Aécio diz que governo dele dará dignidade, e não 'dente de última hora'

• Tucano visitou canteiro de obras e tomou café da manhã com operários em São Paulo

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO – Numa crítica velada à presidente Dilma Rousseff, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse nesta quinta-feira que um eventual governo dele dará dignidade às pessoas e não “dentes de última hora”. A declaração foi feita durante discurso a operários de um empreendimento imobiliário em São Paulo.

- É isso que nos une: uma vontade danada de fazer esse país voltar a crescer e as pessoas voltarem a sorrir. Mas sorrir de verdade, sem precisar botar dente de última hora - afirmou.

Na semana passada, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou que uma moradora de Paulo Afonso, na Bahia, recebeu prótese dentária na véspera da visita de Dilma à comunidade. A casa da moradora foi a única visitada pela presidente, que gravou no local imagens para serem usadas no programa dela no horário eleitoral.

Por duas vezes, Aécio usou o episódio em seu discurso. A primeira referência foi feita quando Aécio falava da importância da retomada do crescimento econômico. A segunda veio quando o tucano prometeu pagar um salário mínimo para jovens que voltarem a estudar

- Isso não é dar dente, é dar dignidade - disse o presidenciável sobre o programa Mutirão Oportunidade que ele anunciou no Nordeste na semana passada caso seja eleito.

Sobre a adversária Marina Silva (PSB), Aécio disse apenas que “não entende direito para que direção ela quer levar o país”.

Numa agenda organizada por um parlamentar ligado ao setor da construção civil, Aécio chegou às 6h30 no canteiro de obras de um grande empreendimento imobiliário residencial na capital paulista para tomar café da manhã com os operários. Depois fez um minicomício do lado de fora do refeitório em que reafirmou compromisso com um reajuste real do salário mínimo e atualização da tabela do Imposto de Renda.

Aécio participa de ato em Campinas com aliado de Marina

Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

O candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, participa na noite desta quinta-feira, 28, de um ato político em Campinas ao lado do prefeito da cidade Jonas Donizette, que é do PSB e aliado da ex-ministra e adversária de Aécio, Marina Silva.

Ao chegar ao local, o tucano voltou a criticar Marina. Para ressaltar que o projeto de sua adversária é inconsistente, Aécio afirmou que "boas intenções são importantes", mas que é ele que apresenta "um projeto consistente e com gente capaz de transformar sonho em realidade".

O candidato foi questionado sobre uma declaração de Marina, onde ela insinuou que Aécio é um profissional das escolhas incorretas. Em discurso na Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética (Fenasucro), em Sertãozinho (SP), hoje, a ex-ministra afirmou que muita gente no Brasil diz que o povo não pode ser governado por amadores do sonho.

"Ou apostam no sonho, ou vamos continuar nas mãos dos profissionais, dos que fazem escolhas incorretas", disse Marina. Sobre isso, Aécio disse que se surpreende por ela ter se considerado uma amadora. "É preciso que ela diga com clareza o que significaria o seu governo. Me parece um pouco confuso", disse o tucano.

Questionado sobre sua queda na última pesquisa do Ibope, que apontou a ultrapassagem da Marina, o tucano responsabilizou o impacto da morte de Eduardo Campos. Quando perguntado se a candidata do PSB passará a ser seu alvo preferencial a partir de agora, Aécio afirmou: "Sou adversário do modelo que está ai".

Antes do evento, o prefeito Jonas Donizette disse aos jornalistas que o deputado Beto Albuquerque, candidato a vice de Marina, gravou depoimento de apoio à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) para ser utilizado na propaganda de TV.

Para derrotar Dilma, mercado 'marinou'

Talita Moreira e Cristiano Romero – Valor Econômico

SÃO PAULO - Marina Silva (PSB) está longe de ser a candidata dos sonhos do mercado financeiro, mas tem ganhado adesões de peso entre banqueiros e gestores de recursos, que veem nela a grande chance de derrotar a presidente Dilma Rousseff (PT) nas urnas. Respaldada pelas últimas pesquisas, que mostram a candidata do PSB vencendo a eleição em segundo turno por diferença razoável da presidente Dilma, uma ala significativa do mercado já "marinou".

"Os bancos 'marinaram', sim, neste ambiente de 'PT nunca mais'", disse ao Valor um profissional experiente.

Prevalece o pragmatismo: o sonho de dez entre dez integrantes do mercado financeiro é ver a derrota da candidata do PT. Banqueiros ouvidos pelo Valor preferem, em geral, o candidato do PSDB, Aécio Neves. O tucano agrada porque é considerado mais experiente e, sobretudo, porque teria Armínio Fraga no comando de sua equipe econômica caso fosse eleito. No entanto, Aécio não decola nas pesquisas. Além disso, foi quem mais perdeu espaço com a entrada de Marina na disputa.

O presidente de um grande banco avalia que Aécio perdeu a mão conforme a campanha começou a avançar. "Ele começou muito bem, mas depois se saiu mal no episódio do aeroporto de Cláudio e, agora que começou o programa eleitoral, fica claro que ele não consegue se comunicar com a população", comentou.

Sobre Marina Silva, esse mesmo banqueiro disse não acreditar que as propostas econômicas defendidas por ela sejam resultado de convicções pessoais. Mas ele se mostra confortável com os compromissos assumidos pela candidata, como a manutenção do tripé macroeconômico (austeridade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante), a independência do Banco Central (BC) e um menor intervencionismo na economia.

"O mercado já vê Marina com completo conforto", atestou um ex-diretor do BC, que, a exemplo de todos os entrevistados, exigiu anonimato para dar seu depoimento. A razão seria o fato de os bancos serem um setor regulado pelo BC. "Não se vê diferença entre o grupo de Marina e o do PSDB em matéria de assuntos econômicos", disse o ex-diretor, lembrando que "a preocupação reinante no cenário econômico é a de que o país, sob Dilma, está indo pelo caminho errado" e que tanto Marina quanto Aécio prometem corrigir isso.

Muitos agentes do mercado têm preferido engrossar desde já a campanha de Marina como um antídoto para a reeleição de Dilma - que seria, na visão deles, o pior dos cenários. A candidata do PSB sabe da importância de ganhar o apoio desse segmento. Não à toa, explicitou o compromisso de restabelecer o tripé macroeconômico e tem reafirmado isso sempre que pode.

O discurso vem desde o ano passado, quando Marina e o então candidato Eduardo Campos fizeram um périplo por São Paulo, onde se reuniram com os banqueiros, investidores e gestores para deixar claro que pretendiam trilhar, na gestão macroeconômica, o caminho da ortodoxia. Segundo um banqueiro de investimentos, a escolha de Eduardo Giannetti e André Lara Resende, dois expoentes do pensamento econômico liberal no Brasil, como mentores da candidata dá o conforto necessário para se acreditar que o compromisso com o tripé não é da boca para fora.

"O fato de Giannetti estar acompanhando Marina há tanto tempo mostra que nada do que está sendo dito é uma novidade. Há uma compatibilidade de opiniões e convicções entre eles e a direção está muito clara: é preciso restabelecer o ambiente macroeconômico na direção correta", observou um gestor. "Giannetti, ao contrário de assessores econômicos de outras campanhas, nunca foi desmentido por ela."

Segundo esse gestor, nas últimas duas semanas, o grupo de Marina afinou o discurso, de forma que todos estão falando a mesma língua, ao contrário da expectativa inicial, que previa a eclosão de desencontros após a trágica morte do ex-governador Eduardo Campos.

"Houve um movimento articulado das lideranças de Marina e da própria candidata para acalmar o mercado e mesmo os setores que se sentem desconfortáveis com o antigo radicalismo dela em questões ambientais", disse uma fonte do mercado, mencionando entrevistas concedidas, em curto espaço de tempo, por João Paulo Capobianco (articulador do grupo junto ao agronegócio), Neca Setúbal (coordenadora do programa de governo), Roberto Amaral (presidente do PSB) e Eduardo Giannetti, além da própria participação de Marina no debate da Band e de sua entrevista ao Jornal Nacional, na Rede Globo.

"Há uma linearidade e uma coerência muito grande em todos os discursos", elogia um gestor. O compromisso da candidata, por exemplo, com a instalação do Conselho de Gestão Fiscal, previsto desde 2000 pela Lei de Responsabilidade Fiscal, foi percebido como algo relevante.

Embora o compromisso com o tripé econômico seja um denominador comum, há nuances na forma como Marina é vista no mercado financeiro. Para alguns, mesmo sendo a melhor opção disponível, a candidata do PSB, caso seja eleita, poderá enfrentar problemas de governabilidade, pelo menos num primeiro momento, advertiu o executivo de um banco.

Outros também têm dúvidas quanto à capacidade de Marina de montar um time de peso. Isso vale, inclusive, para a equipe econômica. Para um banqueiro que trabalhou com ambos, Giannetti e Lara Resende são conselheiros "brilhantes", mas não têm perfil de gestor e talvez nem queiram atuar no dia a dia. Giannetti já deixou claro que não pretende ocupar cargo executivo. O que se sabe é que ele vai influir na definição dos nomes para a área econômica, o que ajuda desde já a tranquilizar o mercado.

Há quem aposte que Marina conseguirá agregar nomes de primeira linha - e com boa reputação no mercado - em um eventual governo. "Se ela chamar o Armínio [Fraga, hoje assessor de Aécio Neves], ele vai. O mesmo vale para todos os ministérios", afirmou um banqueiro experiente. "Por enquanto, Marina não precisa indicar quem será seu Armínio. Se ela estivesse colada no Aécio, precisaria fazer isso. Com a vantagem que tem, ganha tempo. Talvez, tenha que fazer no segundo turno, dependendo de como andarem as pesquisas. Mas, por enquanto, o mercado já 'precificou' Marina", explicou uma fonte do mercado. (Colaboraram Denise Neumann, Vanessa Adachi e Angela Bittencourt)

Merval Pereira: Contradições

- O Globo

O caso do jato Cessna que vem dando dor de cabeça à direção do PSB por ser, ao que tudo indica, produto de uma obscura transação que envolve laranjas e dinheiro não contabilizado, trouxe para a herdeira política Marina Silva uma questão adicional, que reforça as supostas contradições de sua candidatura.

Uma das empresas envolvidas na compra do jato é a Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda, que importa pneus usados, negócio considerado como dos mais danosos ao meio-ambiente. A autorização de importação de pneus usados, por sinal, foi uma das muitas brigas que Marina travou à frente do ministério do Meio-Ambiente, e perdeu.

Em 2003, foi convencida pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, a recuar em sua posição contrária à importação de pneus em nome de um “bem maior”, no caso a unidade do Mercosul. Isso por que, apesar de oficialmente proibir a importação de pneus remodelados, o Brasil acata desde 2002 uma decisão do Tribunal Arbitral do Mercosul que obriga o país a aceitar a entrada de pneus vindos do Uruguai.

Essa posição provocou decisões judiciais que trouxeram para o país pneus usados dos Estados Unidos e da União Européia. Marina sempre reclamou que a questão dos pneus era tratada como puramente comercial, sem que fosse levado em conta seu lado ambiental. Seu objetivo, dizia, era fazer com que o Brasil deixasse de ser uma "lata de lixo global" para os pneus usados em outros países.

Sabe-se agora que a então denominada Bandeirantes Renovação de Pneus foi beneficiada por um decreto assinado em 2011 pelo governador Eduardo Campos, que ampliou seus benefícios fiscais, eliminando limites de importação fixados anteriormente por decreto do ex-governador e hoje deputado federal Mendonça Filho. Um dos sócios da hoje denominada Bandeirantes Companhia de Pneus Ltda, Apolo Santana Vieira, responde a processos de sonegação fiscal estimados em cerca de R$ 100 milhões devidos pela importação de pneus pelo porto de Suape, em Pernambuco.

Unindo-se a natureza do empreendimento ao fato de que o uso do avião não fora ainda declarado como doação de campanha eleitoral, com forte cheiro de caixa 2, têm-se que a candidata Marina Silva está em uma situação no mínimo delicada. A "nova política" que ela e Eduardo Campos pregavam era transportada para cima e para baixo por um jatinho todo irregular, financiado em última instância por uma atividade comercial que a ambientalista Marina Silva repudia. E que recebeu estímulos fiscais de seu companheiro de luta política anos antes de os dois se juntarem para tentar chegar ao Palácio do Planalto.

A essa contradição da dupla anterior soma-se a atual, de ter como companheiro de chapa o deputado Beto Albuquerque, que foi um dos líderes da aprovação do uso de transgênicos no Congresso, derrotando a posição da então senadora Marina Silva. Como a própria Marina explica agora, trabalhar com quem discorda de seus pontos de vista mostra apenas que ela não é uma radical como a acusam, e que sabe conviver com contrários.

No caso de Beto Albuquerque é uma verdade, pois trata-se de um político correto que, ao que se sabe, estava em defesa dos agricultores do Rio Grande do Sul no caso dos transgênicos, e não em alguma transação nebulosa. Mas no caso da empresa de pneus usados, não há desculpa para receber doações de campanha fora da legislação e de um empreendimento que considera nocivo ao meio-ambiente.

Nem mesmo dizer que não fora informada de nada. Ao se juntar à campanha de Eduardo Campos, tinha a obrigação de se informar desses detalhes, justamente para não se ver em uma situação delicada como agora. Outra aparente contradição, mas que desta vez trabalha a seu favor, é a nota do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (Acre), fundado por Chico Mendes, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que não gostou de ver Marina colocá-lo como membro da "elite" brasileira, nem quer vê-lo classificado como um "ambientalista", mas sim como "sindicalista".

O sindicato também condena a política ambiental "idealizada pela candidata Marina Silva enquanto Ministra do Meio Ambiente, refém de um modelo santuarista e de grandes Ong's internacionais". Ora, os próprios termos do debate mostram que a ex-seringueira Marina Silva saiu do Acre para ganhar uma dimensão modernizadora, com uma visão mais ampla da disputa política e da própria defesa do meio-ambiente.

Dora Kramer: O diabo a quatro

- O Estado de S. Paulo

A possibilidade de uma derrota na eleição presidencial já estava no radar do PT há algum tempo. O partido havia abandonado a esperança de vencer no primeiro turno desde que as taxas de rejeição e aprovação à presidente Dilma Rousseff se encontraram.

Os petistas consideravam que a disputa final seria um páreo duro. Perder para Aécio Neves, do PSDB, seria uma hipótese. Remota, é verdade. Principalmente diante da perspectiva de que o horário eleitoral desse à presidente uma dianteira, senão confortável, ao menos segura.

No fatídico dia 13 de agosto último, porém, tudo mudou. Eduardo Campos saiu da vida e Marina Silva entrou na disputa para presidente justamente numa quadra da história em que o País só quer saber de mudança e nada mais. A qualquer custo.

Veio a primeira pesquisa, a segunda, a terceira e as análises precisaram ser revistas. A derrota de Dilma já não se desenhava mais como uma hipótese remota. Enquadrava-se na moldura de uma possibilidade concreta.

Os especialistas em interpretações de pesquisas passaram a dizer que, mantida a tendência e salvo o imponderável, a candidata do PSB se elegeria presidente em segundo turno.

Observam esses mesmos analistas que em 2002 havia um clima semelhante. Na época, a tentativa de mudar começou em abril, com Roseana Sarney. Abatida em maio, com a descoberta pela Polícia Federal de dinheiro sem origem justificada em empresa de propriedade dela e do marido no Maranhão.

O eleitorado, então, fez nova tentativa voltando-se para Ciro Gomes. Subiu nas pesquisas, ficou com jeito de fenômeno em junho, dizimado pelo próprio destempero verbal. Em seguida, a ausência de opções (só havia Anthony Garotinho e o governista José Serra) levou o rio para o mar de Lula.

Hoje, visto do alto o panorama parece pior para o PSDB, que ficaria fora da disputa. Mas, olhando com visão pragmática, o partido perderia o que não tem. Contabilizaria mais uma derrota eleitoral. Péssimo para seus projetos político-partidários? Sem dúvida alguma.

Mas o dano maior mesmo seria para quem corre o risco de perder o que tem. O PT está mais perto de perder o poder do que nunca esteve antes nos últimos anos.

E por poder entenda-se não apenas o federal. Dos dez maiores colégios eleitorais só está em primeiro lugar nas pesquisas para governador em Minas Gerais. Em Estados importantes como São Paulo, Rio, Paraná e Bahia o PT fica entre os 3.º e 4.º lugares.

Nesse quadro, a perda do poder central seria especialmente desastrosa, pois enfraqueceria a legenda também no Congresso, reduzindo seu poder de fogo como força de oposição.
Por essas e várias outras questões relativas ao acomodamento dos companheiros (petistas ou aliados) máquina pública País afora, a inquietação toma conta dos que se veem ameaçados de voltar à condição de 12 anos atrás.

Essa mesma máquina está sendo mobilizada no afogadilho para trabalhar na campanha. Convoca-se o conselho político, reúnem-se assessores de segundo escalão de ministérios e empresas estatais para serem despachados a encontros e debates com o objetivo de defender o governo.

Ou seja, terror e pânico. O clima não chegou ao horário eleitoral. A presidente mantém artificialmente a fleuma e a ideia de que ainda pretende polemizar com o tucano Aécio Neves. Bobagem. Chuva que já choveu.

A inimiga real é Marina e contra ela é que está sendo feita a convocação geral para pôr em prática o uso do "diabo" anunciado pela presidente para ganhar as eleições.

Farão daqui em diante o diabo a quatro para impedir que seja interrompida não a implantação de um projeto de País, mas a execução de um plano de ocupação hegemônica de todos os instrumentos de poder.

Para isso anunciou-se a disposição de fazer "o diabo". Diante do perigo, não há dúvida: haverá de se fazer o diabo a quatro.

Eliane Cantanhêde: Dilma e o fantasma Marina

- Folha de S. Paulo

A expectativa de segundo turno entre duas mulheres, uma ex-gerentona neopetista e uma evangélica ex-petista, ambas bravas e autoritárias, promete boas emoções. Vai sair faísca.

Duas mulheres, duas histórias diferentes. Dilma Rousseff vem da classe média de Minas e entrou pela porta da frente em bons colégios católicos. Marina Silva emergiu da miséria no Acre e chegou pela porta dos fundos: esfregava chãos e lavava banheiros das freiras para ter direito às aulas.

Dilma vem da resistência armada à ditadura, era do PDT e virou presidente pelo PT. Marina nasceu com a bandeira do meio ambiente, cresceu no PT, fez fama nacional no PV, tentou sem sucesso criar a Rede e acabou candidata a derrotar Dilma pelo PSB. Ou seja: Marina, muito mais petista de raiz do que a neófita Dilma, se tornou a maior ameaça à continuidade do PT no Planalto.

Dilma e Marina conviveram no PT e no ministério do primeiro governo Lula. Foi aí que a encrenca começou. As duas encarnaram uma guerra entre "desenvolvimentismo" e "sustentabilidade" e disputaram não só espaço e poder interno, mas as graças do ídolo Lula. Dilma venceu todas, e Marina deixou o governo, o lulismo e o PT. Ganhou vida própria. E assombra os petistas.

Contrariando pesquisas e evidências de que tudo mudou com a queda do Cessna Citation, a campanha de Dilma continuou, estranhamente, desperdiçando munição contra o tucano Aécio Neves. Demorou a cair a ficha. Talvez porque Dilma e Lula tenham fixação em tucanos. Talvez porque não tenham discurso e bala para atingir Marina, com sua figura frágil e um projeto abstrato.

Dilma acordou ontem (28), tateando, improvisando para acertar a intangível Marina. Com um detalhe: passou a mirar Marina, mas sem tirar o olho de Aécio. Além do medo de perder para Marina, o pavor de Lula, Dilma e o PT é... terem de entregar o Planalto nas mãos de uma aliança da ex-petista Marina com o PSDB.

João Bosco Rabello: O ciclo populista do PT

- O Estado de S. Paulo

O populismo se serve da característica de uma população de atribuir ao Estado todas as mazelas que contribuem para seu maior ou menor sucesso pessoal e profissional. Ante os revezes, culpar o Estado aplaca a consciência, terceiriza a culpa e cria o atalho para a figura do salvador da pátria.

O Brasil tem sido vítima desse processo em ciclos raramente interrompidos, que retornam mais fortes, como a bactéria resistente ao antibiótico. Governos que se entregam à reconstrução dos efeitos populistas têm contra si o tempo de maturação das mudanças que, às vezes, aultrapassam gerações.

Transformações econômicas e educacionais, entre outras, impõem prazo para a produção de resultados, nunca inferiores a uma década, o que é exasperante para o contribuinte que clama por soluções imediatas e não percebe na falta de continuidade dos governos a fonte dos problemas.

É uma chaga que conspira contra gestões planejadas, de resultados a médio e longo prazos, impondo aos gestores conscientes o ônus do convencimento geral de que o mais demorado e bem feito é melhor que o barato que sai caro.

O imediatismo de resultados favorece a política do curto prazo que pode manter um governo forte popularmente à base de assistencialismo e discurso, sem gestão qualquer, até que a economia acuse seu esgotamento.

Qualquer semelhança com o governo do PT em seus suspiros finais, não é mera coincidencia. Lula se beneficiou dos efeitos do plano de estabilização de seu antecessor, manteve-o, e, com ele, pôde ampliar os programas sociais, dos quais também não teve a iniciativa, apenas a continuidade.

Mas, pelo menos, manteve em seus oito anos o compromisso com a estabilidade econômica, entregando o comando da economia a perfis que a garantiram, na Fazenda e no Banco Central, contra a vontade do PT, que teve de esperar por Dilma Rousseff para concretizar a imolação do modelo vitorioso.

Ao resultado desastroso desse comportamento, somou-se a colheita da omissão do governo Lula nas áreas de infraestrutura, Saúde, Educação e Segurança, que representam hoje a demanda da população por mudanças.

Aqui vale o parêntese: Lula exerceu o populismo em grau tão explícito que não hesitou em criticar o governo que ele mesmo representava, em diversas ocasiões. Como agora repete Dilma, atribuindo aos antecessores a culpa pelos problemas de gestão, contando com a desimportância do eleitor para com o fato de que o governo é do PT há 10 anos.

Viveu-se uma década de discurso e distribuição farta de direitos civis já garantidos pela Constituição de 88, cuja aplicação não depende de mais legislação, mas de eficiência gestora. Talvez tenha sido o único governo a desfrutar de prazo e otimismo da população para concluir um modelo que recebeu iniciado, testado e aprovado, como mostram as duas eleições do PSDB no primeiro turno.

Uma década também de fartura para o PT a confirmar o dito popular seguno o qual “quem nunca come mel quando come se lambuza”. Um tempo de deterioração do capital político do partido, cuja trajetória no poder levou à cadeia seus dirigentes históricos mais emblemáticos.

Sem biografia partidária no PT, mas eleita por ele, a presidente Dilma Rousseff tentou em vão sugerir a existência de um distanciamento entre ela e o partido, mas o marketing era falso como as declarações ciclícas de reconhecimento ao mercado , o que manteve a desconfiança deste.

No plano ideológico Dilma aplicou ao país aquilo que o PT quis desde o primeiro momento, mas que a Carta aos Brasileiros inviabilizara. Pregou desenvolvimento acima da inflação, privatização a taxas cubanas de lucro, ou seja, zero, e intervenção na economia. Colheu a recessão que hoje desfaz o sonho da reeleição.

É nesse contexto que tenta durar na campanha em segundo lugar, vendendo um país maravilhoso no plano cinematográfico, como registrou sua nova adversária, Marina Silva, no primeiro debate dos presidenciáveis realizado pela TV Bandeirantes.

Pedro Floriano Ribeiro: Racionalidades adaptativas

• Para PT, fracasso de Marina levaria à volta com tudo em 2018

- Valor Econômico

Muitas das análises que se seguiram à tragédia em Santos repisaram o óbvio: tudo podia acontecer com a candidatura de Marina Silva, inclusive nada. A última pesquisa Ibope indica que a candidata pessebista atraiu, primeiro, boa parte dos eleitores disponíveis (indecisos e nulos/em branco), para depois começar a avançar sobre os votos de Aécio e Dilma, convertendo a bipolaridade prevista em um cenário triangular. No entanto, a grande maioria das contendas para o Executivo, seja na cidade paulista de Borá, com seus 1.060 eleitores, seja na eleição presidencial, se reduz a uma dinâmica quase inescapável: uma batalha retórica entre representações da realidade, em que o governo afirma que o presente é bom, mas que o futuro será ainda melhor se o trabalho não for interrompido, enquanto a oposição sustenta que o presente é tenebroso, mas o paraíso na terra se dará a partir da mudança no comando do governo. Essa lógica aceita adaptações conjunturais, como a retórica governista sacando o slogan de "mais mudanças", ao mesmo tempo em que admite alguns problemas na gestão atual somente se situados na lembrança de que na era FHC tudo era muito pior - têm-se então o mundo em preto e branco e as pessoas invisíveis da propaganda petista, era das trevas em que o sol mal se punha. No outro campo, temendo a popularidade de Lula, tanto Aécio quanto Marina se enchem de dedos para criticar seus oito anos na Presidência, centrando fogo nos quatros anos de Dilma.

Apesar dos muitos tons de cinza, a lógica governo x oposição permanece, e a consolidação de Marina como candidata "não governo" leva a uma conclusão óbvia, que coloca Aécio em posição extremamente desconfortável. De candidato quase garantido no segundo turno, quando planejava capitalizar os sentimentos antipetistas e a rejeição a Dilma, passou a enfrentar uma disputa mano a mano com Marina. Por mais que os tucanos insistam em manter uma postura olímpica de única alternativa viável, a nova situação agora já se impõe. E o nível de desconforto se eleva pela dificuldade em atacar uma candidata de aparência frágil, que canaliza o sentimento antipolítica e é vista por parte dos eleitores, em algumas pesquisas qualitativas, como uma espécie de segunda viúva de Campos.

Os tucanos esperam que os petistas façam o serviço sujo, já que o enfrentamento com Marina tampouco se mostraria a opção mais segura de vitória do governo na rodada final. Porém, o não muito tempo que resta de campanha (37 dias) passou a jogar contra Aécio. Além disso, o PSDB despreza cálculo que começa a rondar as fileiras petistas. Um segundo turno contra Marina talvez realmente leve à derrota após 12 anos. No entanto, a falta de quadros do Rede/PSB, o personalismo de Marina e a ausência de bases e alianças sólidas no meio político e em diversos segmentos sociais são fatores que levam parte do PT a apostar que um eventual governo marineiro seria um grande desastre, abrindo as portas para o partido voltar com tudo (e com Lula) em 2018, com a típica cara do "eu bem que avisei". Já a eleição de Aécio poderia significar o início de um novo ciclo tucano em Brasília.

Não seria a primeira vez que a cúpula petista apostaria no "quanto pior melhor" como cálculo eleitoral. Em meio à crise do governo Collor em 1991-92, os dirigentes do partido resistiram o quanto puderam a engrossar o coro que pedia a destituição do presidente. Um governo sangrando até as eleições de 1994 se mostrava um cenário mais favorável à vitória de Lula do que a solução institucional com a posse do vice, que poderia fazer emergir um novo salvador da pátria. Atropelada pelas ruas e pelas próprias bases do partido, somente em meados de 1992 a direção petista adotaria um discurso mais agressivo.

Os desafios de Marina são proporcionais às crescentes expectativas em torno de seu nome. Ela será chamada a se posicionar no debate a todo o momento, pois seu eleitorado possui um perfil ambíguo. De um lado, estratos de classe média com escolaridade acima da média, sobretudo jovens, muitos deles com posturas mais liberais em relação a temas como união homoafetiva, aborto e drogas. De outro, setores evangélicos que mal podem ouvir falar de alguns desses temas. Em segundo lugar, Marina será desafiada a construir pontes com vários setores, muito além do agronegócio. A "Carta ao Povo Brasileiro" de Lula terá que se desdobrar em diversas cartas, não só para amainar segmentos receosos de suas ideias, mas também para mostrar que por trás do salvacionismo messiânico que muitas vezes ronda suas falas existe uma liderança com racionalidade, adaptável e pragmática.

Por fim, Marina será instada a fazer política mais com o estômago e menos com o fígado, aceitando adesões e alianças impensáveis até ontem; mais que isso, terá que se mostrar a agregadora que não foi até aqui, começando - e talvez principalmente - por evitar o despedaçamento do PSB. O enfrentamento (e derrota) com os dirigentes do PV parece não ter sido suficiente para ensinar a Marina que os partidos têm seus "donos". Uma família dá as cartas no PSB desde 1992, quando Miguel Arraes assumiu a presidência da legenda, sendo substituído pelo neto apenas com sua morte em 2005. Se por um lado Marina recebeu o apoio público da família, por outro comprou briga com um dos dirigentes mais influentes e com maior domínio sobre a máquina, Carlos Siqueira, primeiro-secretário nacional do PSB desde 1995 (oito gestões seguidas), o que demonstra sua intimidade com aquela mesma família. Para quem tem tantos desafios pela frente, talvez não tenha sido das atitudes mais sensatas.

Pedro Floriano Ribeiro é professor de ciência política na Universidade Federal de São Carlos, onde coordena o Centro de Estudos de Partidos Políticos

Fernando Gabeira:As regras do jogo

- O Estado de S. Paulo

A morte de Eduardo Campos inaugurou uma nova realidade na campanha eleitoral. Mas é uma ilusão pensar que tudo mudou.

Há elementos que permanecem, como, por exemplo, a força eleitoral do governo federal, baseada na sensação de que os tempos de prosperidade e crescimento econômico não acabaram. Para muitas pessoas, a crise ainda não é um fato. Na verdade, ela é um conjunto de índices e perspectivas sombrias que somente os mais atentos conseguem captar.

Dilma Rousseff, por exemplo, deixou de negar a crise e espantar os urubus que rondam o seu discurso triunfal. Agora admite sua existência e ressalta: "Mantivemos empregos e salários". Ela se dirige precisamente àqueles que ainda não sentiram a crise. Seu ministro do Trabalho disse que, em termos de emprego, o Brasil tinha chegado ao fundo poço. Depois desmentiu: o buraco não seria tão fundo como a sua frase dera a entender.

Isso se parece com aquela piada do Millôr, a de um homem caindo de um décimo andar que, ao passar pelo oitavo, diz: "Até aqui, tudo bem".

O cara da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, parece ter decidido pela delação premiada. Ele é o cara porque articulava tudo, tinha milhões de dólares na Suíça. Antes ele havia dito, na cadeia, que não poderia abrir a boca porque, caso falasse o que sabe, não haveria eleições no País. É uma força de expressão. As eleições brasileiras podem renascer, como após o desastre que matou Eduardo Campos. Não importa o que Paulo Roberto diga, elas vão ser realizadas no dia 5 de outubro.

A morte de Campos e a entrada de Marina Silva na disputa pela Presidência reafirmaram a tendência de segundo turno. Mas ela não é novidade. O PT, com Lula ou Dilma, sempre ganhou no segundo turno.

A novidade é que a oposição pode triunfar. Para isso é preciso que demonstre, com clareza, que a sua proposta é a que melhor protege salários e empregos. Ela precisa encontrar uma unidade entre sua proposta econômica e a disposição de combater o fisiologismo e reduzir a corrupção no Brasil a níveis administráveis.

Não acredito em longos programas de governo, embora esteja sempre disposto a discuti-los e a sintetizá-los, como fiz com o seminário de três dias realizado pelo PPS em Brasília. O ideal seria fixar em alguns pontos comuns. Isso é possível. Basta analisar o discurso dos candidatos de oposição para perceber que convergem em várias questões essenciais.

Eduardo Campos e Aécio Neves tinham uma relação cordial, trocavam ideias constantemente. Isso não impediu que procurassem singularizar-se na campanha eleitoral, marcando suas diferenças.
Essa troca de ideias é fundamental. É uma ilusão supor que se governa um país tão complexo como o Brasil sem criar uma base de sustentação técnica e política.

A maioria das pessoas quer mudança. Mas ainda não está muito claro que mudanças querem. Suponho, pela constância das denúncias, que se queira estancar a corrupção. E, naturalmente, a julgar pelas manifestações de junho de 2013, melhores serviços públicos.

Tão amplo desejo de mudança exige clareza de ideias, mas, sobretudo, humildade. Segundo as pesquisas, metade dos eleitores de Dilma também quer mudança. Isso significa que, potencialmente, eles podem abandonar a candidatura dela se as propostas de mudanças forem diretas. E se o bloco que disputar com o PT, no segundo turno, der claras indicações de que a governabilidade não estará ameaçada.

Todos esses palpites são de um simples eleitor. Não estou dentro das eleições, não conheço seus bastidores, não me informei sobre afetos e rancores que as movem neste instante.

Muitos analistas reclamam que o quadro está confuso. Lamentam que as decisões possam ser tomadas num clima emocional. Ao longo destes anos vimos o processo político degradar-se, o abismo se abrindo entre instituições e eleitores. Mesmo as eleições de 2010, marcadas por fortes votações em candidatos folclóricos, como Tiririca, já eram inquietantes. Depois disso vieram as manifestações de 2013, mostrando mais claramente como o povo estava insatisfeito com o governo, com a oposição e com todo o sistema político.

Observo apenas a contradição de alguns setores que não se importaram em degradar a política e afastá-la do povo, na crença de que a máquina de governo e a propaganda tudo resolvem. Agora clamam por racionalidade, frieza e um roteiro seguro para dirigir o País.

Não creio que Marina vá subir nos fios e fazer milagres, como aquela santa no filme de Pasolini. Mas terá a oportunidade de apresentar suas ideias, responder às questões mais delicadas, enfim, oferecer também uma base racional para ser aceita ou rejeitada.

Tanto para ela como para Aécio, creio, um dos temas centrais é como se relacionar nesse conjunto de candidatos que propõem mudança, querem construir algo diferente do que fizeram o PT e seus aliados nestes 12 anos. A proposta de uma nova política não é esotérica se analisamos o discurso dos candidatos de oposição. Eles condenam o fisiologismo, o toma-lá-dá-cá, o balcão de negócios em que se transformaram governo e Congresso Nacional.

Não se navega nessas águas turvas sem apoio dos políticos. Não é possível discriminá-los, afastando-os do governo. O que é desejável é que se escolham apenas os honestos e que tenham competência específica para o cargo que vão ocupar.

Diante do segundo turno, emerge a possibilidade real de conduzir o País por um caminho mais sólido na crise econômica, menos corrompido na política, mais próximo dos grandes centros tecnológicos nas relações exteriores, mais sério na gestão dos serviços públicos.

Há quem queira disputá-lo sozinho na oposição. Há quem prefira Dilma por achar o PT previsível.

Mas assim mesmo teremos um ano de 2015 cheio de surpresas.

Façam o seu jogo.

*Fernando Gabeira é jornalista