quarta-feira, 4 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA - Almir Pazzianotto Pinto: O julgamento

O "mensalão" deve ser olhado como um divisor de águas. Do resultado que a Ação Criminal vier a colher, mediante votação unânime ou por maioria, a Nação poderá vislumbrar o futuro. Saberá se prevalecerão os valores advindos do trabalho e da honestidade ou se os louros da vitória pertencerão a picaretas, aventureiros e arrivistas.

A quem se encontra na planície, nada resta a fazer, senão acreditar na isenção do Supremo e aguardar a condenação dos culpados.

Almir Pazzianotto Pinto, advogado, foi ministro do Trabalho, presidente do Tribunal Superior do Trabalho. O julgamento, O Estado de S. Paulo, 3/7/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Nem incentivos de R$ 102 bi seguram queda da indústria
Brasil quer compensar Uruguai

FOLHA DE S. PAULO
Indústria registra o 9° tombo seguido apesar do incentivo
Petrobras diz que é padrão rever patrocínios na área da cultura
Brasil aceita diminuir seu superávit com a Argentina

O ESTADO DE S. PAULO
Indústria cai mais e BC pode intervir no câmbio
Chanceler de Chávez esteve com militares paraguaios
Governo quer propor idade mínima para aposentadoria
Planalto vai liberar até R$ 2,7 bi em emendas

VALOR ECONÔMICO
Procura de executivos para a indústria começa a cair
Cade impõe hoje limite para cimento
Alta de custos ameaça projetos siderúrgicos
Dilma convida Peña a vir ao Brasil e acelerar acordo
Revisão tarifária derruba Eletropaulo
Paes enfrenta uma oposição cindida no Rio
Falhas em projetos executivos de obras

BRASIL ECONÔMICO
Produção em baixa e consumo em alta revelam incerteza na economia
Venezuela no Mercosul: bom ou mau negócio para o Brasil?
Grupo de Eike recupera 40% do valor de mercado

CORREIO BRAZILIENSE
Cresce cerco golpe 'pagou, virou europeu'
Planos de saúde: alta de até 40%
Pai do Plano Real cobra reformas
Indústria cai pela nona vez seguida
Governo quer nova previdência até dezembro

ESTADO DE MINAS
PT anuncia Patrus e prestigia Roberto
Câmara de BH: Vereadores aprovam o fim das votações secretas

ZERO HORA (RS)
Mortes põem em xeque estratégia contra a gripe A
Porto Alegre: O Raio X dos salários da prefeitura

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
40 planos de saúde podem ser suspensos
Presidente vai ficar fora de campanha
Tumulto antecipa greve

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Nem incentivos de R$ 102 bi seguram queda da indústria

IBGE aponta recuo de 4,3% na produção em maio, o nono seguido

Apesar de sete pacotes no governo Dilma Rousseff e R$ 102 bilhões distribuídos em incentivos fiscais, a indústria brasileira continua em declínio: houve recuo de 4,3% na produção em maio frente ao mesmo mês do ano passado, como divulgou ontem o IBGE. A queda em maio foi a nona seguida e ocorreu em 17 dos 27 setores pesquisados pelo instituto. Até o setor de capital, que vinha registrando alta, teve freio. Os números também foram negativos na comparação com abril. A produção caiu 0,9%. Segundo o Ipea, os números mostram que o modelo de estímulo ao consumo, que vem sendo adotado nos últimos meses, está esgotado e seria preciso incentivar investimentos de grande porte no país.

Muito incentivo por nada

Após receber R$ 102 bi em estímulos só no governo Dilma, indústria recua 4,3% em maio, a nona queda seguida

Vivian Oswald, Cristiane Bonfanti e Lucianne Carneiro

Mais de R$ 102 bilhões foram destinados a incentivos à indústria desde o início do governo de Dilma Rousseff, em sete pacotes de medidas que tiveram por objetivo estimular o crescimento do país por meio do setor. Quatro deles foram lançados este ano. O montante equivale a mais de um mês de arrecadação de todos os impostos e contribuições do governo federal. Também é superior ao orçamento anual da Saúde, que, em 2012, ficou em R$ 72,1 bilhões.

No entanto, a situação vem se deteriorando: a indústria teve, em maio, recuo de 4,3% na produção frente ao mesmo mês do ano anterior, o maior recuo desde setembro de 2009, que tinha sido de 7,6%. No ano, a queda já está em 3,4%. E, para conseguir encerrar o ano pelo menos no zero a zero, o setor precisa de uma expansão média mensal de 1,5% até dezembro, segundo estimativa da LCA Consultores. Já há quem estime recuo de 1% em 2012, caso da Tendências Consultoria. Mas até para chegar a esse resultado será preciso crescer 1,15% ao mês até o fim do ano, o que não é tarefa fácil.

A queda em maio foi a nona seguida, espalhada por 17 das 27 atividades pesquisadas, 46 dos 76 subsetores e 57% dos 755 produtos investigados. As quatro categorias de uso — bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis — registraram perda. Os números também foram negativos frente a abril. A produção caiu 0,9%, acumulando queda de 2% nos últimos três meses. Das quatro categorias de uso, apenas os bens de intermediários escaparam do território negativo, com alta de 0,2%, após dois recuos seguidos. Em 12 meses, a queda é de 1,8%, pior taxa desde fevereiro de 2010.

— O quadro geral mostra um predomínio de resultados negativos, em qualquer comparação que se utilize — afirmou o coordenador de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo.

Peso maior da falta de competitividade l Até mesmo a produção de bens de capital — identificada com investimentos por estar ligada a modernizações e ampliações de parque industrial —, que vinha se sustentando em alta, deixou a desejar. O segmento recuou 1,5% no bimestre abril-maio, após avançar 2,5% no quarto trimestre de 2011 e 1,3% no primeiro bimestre de 2012.

A principal influência negativa foi o setor de veículos automotores. Após reagir nos últimos três meses, a produção caiu 4,5% em maio, frente a abril, e 16,8% em relação a maio de 2011. Considerando só automóveis, a queda foi de 5,3%, após recuo de 2,7% em abril.

Em nota, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) argumentou que os dados ainda não refletem a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) anunciada em maio para reduzir o preço dos automóveis em até 10%. De acordo com a associação, no período, foram comercializados 353,2 mil veículos, o que representa crescimento de 22,8% com relação ao mês anterior.

O desempenho de maio mostra o impacto da redução do IPI para eletrodomésticos e móveis, mas alguns economistas acreditam que este efeito pode ser limitado nos próximos meses. A produção de eletrodomésticos da linha branca (geladeira, fogão e refrigerador) avançou 8,5% em maio e 9% em abril, frente a igual mês do ano anterior.

Já o setor de móveis teve alta de 22,3% em maio e 14,7% em abril. Setores que não receberam o incentivo tributário, no entanto, não tiveram o mesmo desempenho. A produção de outros eletrodomésticos — que inclui micro- ondas e liquidificadores, por exemplo — teve queda de 25,5% da produção em maio e 13,6% em abril.

O segmento de Alimentos também mostrou retração em maio, de 3,4%, acumulando perdas de 7,1% em dois meses seguidos de recuo.

— O primeiro semestre já está perdido — disse o economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida.

Para o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, as medidas do governo nos últimos12 meses criaram benefícios pontuais, que não resolvem a situação do setor como um todo.

— O impacto da crise mundial e da falta de competitividade é muito maior — afirmou ele.

Os empresários se queixam do câmbio e dos custos crescentes de produção, o que inclui os juros ainda altos para investimentos. Tudo isso agravado pelo cenário mundial ruim. Para o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), José Velloso, os números do IBGE não são surpresa. Segundo ele, está havendo um desinvestimento: — Se, de 2009 para cá, o governo tivesse investido em competitividade, o brasileiro estaria comprando produtos nacionais por preços mais baixos sem a necessidade de desonerações.

FONTE: O GLOBO

Governo X Governo - Para Ipea, modelo de crescimento baseado em consumo está esgotado

Estratégia deve focar em investimento. Caso contrário, governo "enxuga gelo"

Fabiana Ribeiro

Um modelo de crescimento que passe por estimular o consumo está esgotado. Em vez disso, o governo deveria apostar em investimentos públicos — que, por sua vez, daria novo fôlego à economia brasileira. É o que defende Roberto Messemberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, que divulgou ontem o Boletim de Conjuntura em Foco da instituição. Para ele, não há mais demanda forte o suficiente para dar conta dos estímulos dados a vários setores.

— Se o governo não considerar essas medidas como parte de um plano maior, o que se faz é apenas enxugar gelo, apagar incêndio ou tapar o sol com a peneira. Ou seja: não faz nada.

Agora, o país precisa que o governo seja o protagonista de investimentos em setores como infraestrutura e energia — disse ele, acrescentando que a crise ajudou a conter a demanda brasileira.

— Houve enfraquecimento de segmentos, como o crédito, que dinamizavam a demanda doméstica.

O consumo perde o fôlego ainda porque as famílias estão com elevados nível de endividamento e inadimplência. Dados do Ipea apontam que o comprometimento de renda mensal das famílias com o serviço das dívidas (com ajuste sazonal) também apresenta tendência de alta no último ano. Em abril do ano passado, o serviço das dívidas representava 19,8% da renda mensal e passou para mais de 22,1% da renda mensal em abril de 2012.

— E os programas de redistribuição de renda, como Bolsa Família e mesmo o aumento do salário mínimo, já implantados. Com isso, os maiores ganhos já foram alcançados.

Redução de juros é essencial, mas insuficiente O esfriamento do varejo se nota no humor dos lojistas. Após três meses de melhora, o Índice de Confiança do Comércio da Fundação Getulio Vargas piorou, apresentando queda de 3,7% de abril a junho, ante o mesmo período do ano anterior. Em relação aos meses seguintes, o clima também é de desconfiança, tendo o indicador recuado 4,3%. Desânino que se explica nas vendas.

Um exemplo recai sobre o setor de vestuário que, com vendas fracas e estoque altos, já deu início à liquidação de peças da estação, no início do inverno.

Com aumento da taxa de investimento, o país elevaria sua capacidade produtiva, sem gerar inflação, acrescentou o economista: — É isso que vai garantir o crescimento sustentado.

Messemberg lembra que o Banco Central tem feito sua parte ao baixar os juros — movimento desde agosto de 2011. Porém, diz, apenas uma Selic menor não cria condições para novos investimentos privados: — A redução de juros é essencial, mas não é suficiente para fazer a taxa de investimento subir — disse Messemberg, para quem o governo, ao não apostar o investimento, está privilegiando o superávit primário. — Não consigo concordar com isso.

FONTE: O GLOBO

Indústria em sucata

O caminhão de incentivos oficiais concedidos à indústria brasileira não está surtindo efeito. O setor continua sua trajetória ladeira abaixo, afetado pela falta de competitividade e atropelado pela força da concorrência externa. Se pretende chegar a algum lugar, o governo federal precisa mudar sua estratégia. Na realidade, deveria adotar uma política estrutural coerente e não tentar costurar uma colcha de retalhos como tem feito.

Segundo o IBGE, a indústria brasileira caiu 4,3% em maio na comparação com igual período do ano passado. Foi a nona queda seguida nesta base de comparação e o pior desempenho desde setembro de 2009. Num curto espaço de tempo, o setor retrocedeu tudo o que conseguira avançar nos últimos anos.

A indústria brasileira opera hoje no mesmo nível em que estava em fins de 2009. Isso significa que toda a expansão registrada no pós-crise de 2008 foi anulada. Segundo O Globo, foram necessários apenas 14 meses de maus resultados - que praticamente coincidem com a duração do governo Dilma Rousseff até agora - para fazer tamanho estrago.

No ano, a indústria brasileira já encolheu 3,4%. O recuo é generalizado: em maio, houve queda em 17 das 27 atividades pesquisadas, em 46 dos 76 subsetores e em 430 dos 755 produtos investigados pelo IBGE. Historicamente, entre 2003 e 2011, cerca de 60% dos ramos industriais conseguiam manter-se em alta, mas agora apenas 40% estão nesta privilegiada condição.

A partir dos novos dados, a perspectiva do setor para este ano é de encolhimento. Para fechar 2012 no azul, a indústria brasileira teria de reverter completamente sua dinâmica atual. Segundo a LCA Consultores, será necessário saltar da queda média de 0,6% ao mês registrada até maio para uma alta média de 1,5% mensal entre junho e dezembro. Parece difícil.

Um dos complicadores é a dinâmica de bens de produção - a fabricação de máquinas e equipamentos, que indica a direção para a qual aponta o comportamento futuro do setor. Em maio, também neste segmento houve queda de 1,8% em relação a abril e de 12,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado, revertendo seguidas altas que vinham desde setembro de 2011. A perspectiva é nebulosa.

O que parece evidente é que o caminho seguido pela gestão petista não está levando a lugar algum. Foram anunciados nove pacotes de incentivos desde 2009. Destes, sete foram adotados na gestão Dilma e, somados, representam R$ 102 bilhões em benefícios, de acordo com O Globo. Não se enxerga reação à altura.

A insistência do governo federal em medidas pontuais, fragmentadas tem sido criticada pelos analistas e pela oposição. Mas até mesmo órgãos oficiais já detonam a trilha perseguida pelas gestões petistas. Ontem, o Ipea divulgou relatório em que considera "esgotado" o modelo de crescimento baseado no incentivo ao aumento de consumo.

"Se o governo não considerar essas medidas como parte de um plano maior, o que se faz é apenas enxugar gelo, apagar incêndio ou tapar o sol com a peneira. Ou seja: não faz nada", disparouRoberto Messemberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea.

A alternativa, sugere o órgão, é alavancar os investimentos públicos. Mas está ocorrendo justamente o contrário: dos R$ 80 bilhões aprovados no Orçamento para 2012, menos de R$ 17 bilhões foram executados até agora, segundo informou a Tendências Consultoria na semana passada.

O país padece da falta de uma agenda robusta voltada a reestabelecer a competitividade da nossa economia, em especial do setor industrial. Entre 2000 e 2009, a produtividade da indústria caiu 0,9% ao ano. Sem condições adequadas para produzir, com dificuldades logísticas sérias, custos financeiros altos e carga tributária muito onerosa, nossas fábricas curvam-se à concorrência externa.

O comportamento do comércio exterior brasileiro comprova isso. O saldo acumulado no primeiro semestre foi o mais baixo em dez anos, com recuo de 0,9% nas exportações e aumento de 4,6% nas importações. Ou seja: demanda existe, mas ela está sendo suprida pelos fornecedores estrangeiros e não pelas plantas locais.

Os novos resultados divulgados pelo IBGE indicam que os pacotes lançados nos últimos anos não conseguiram impedir sequer que os setores privilegiados por benefícios também sucumbissem. A indústria brasileira tem condições de se soerguer, mas precisa, para tanto, de políticas públicas estruturantes, uma espécie de agenda da competitividade. É tudo o que não se viu nas gestões do PT até hoje.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Planalto vai liberar até R$ 2,7 bi em emendas

Para acalmar base, governo reserva até R$ 2,7 bi para emendas parlamentares

Se todas as emendas dos congressistas forem empenhadas, o desembolso do governo será de R$ 2,673 bilhões

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura

Num esforço para evitar que a base do governo rache às vésperas das eleições municipais, o Palácio do Planalto acertou com a equipe econômica a liberação de emendas individuais de até R$ 4,5 milhões para cada um dos 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores). Como a lei eleitoral proíbe que as emendas sejam liberadas até três meses antes do pleito, o governo corre contra o relógio: esse prazo termina na sexta-feira, 6.

A decisão já surtiu efeito: nesta terça mesmo, a Câmara desativou o pacote de projetos-bomba que poderiam impactar os gastos do governo. Os parlamentares da base vinham aproveitando votações importantes para cobrar a fatura de suas demandas não atendidas.

Se todas as emendas dos congressistas forem empenhadas, o desembolso do governo será de R$ 2,673 bilhões. Só que a maior parte dificilmente será liberada porque faltam projetos ou base legal para o pagamento.

Por causa na demora na liberação das emendas, o governo tem enfrentado problemas com vários partidos, seja o PDT, com pressões do ex-ministro Carlos Lupi (Trabalho) e do deputado Paulinho da Força Sindical (SP), seja o PSB ou o PTB. Como a nomeação para os cargos de confiança é tratada a conta-gotas – e isso tem barrado as indicações –, o governo tem conseguido manter certa fidelidade da base à custa de promessas de que abrirá a torneira das emendas.

Durante café da manhã com jornalistas, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) disse que no fim da semana passada o governo fez "um mutirão" de vários ministérios para verificar quais emendas parlamentares podem ser aprovadas. Mas Ideli advertiu que a emenda só será efetivamente liberada se a proposta estiver vinculada a um projeto de obra aprovado ou se a prefeitura beneficiada não tiver pendências com o governo federal.

Sem previsão. Segundo a ministra, desde abril foram feitas três liberações para os parlamentares, que somam R$ 1,7 bilhão do orçamento de 2012. Ideli, porém, disse não ser possível prever quanto poderia ser liberado até sexta-feira.

"Depende da operacionalidade dos ministros e ministérios e também dos municípios", afirmou. "No Ministério das Cidades, quase metade do que foi indicado para empenhar não poderá ser feito porque os municípios não tinham credenciado a proposta. Isso foi avisado a eles, que estão correndo para ver se conseguem ainda a liberação."

Questionada sobre a liberação dos cargos, Ideli limitou-se a dizer que "nomeações são conversadas caso a caso".

Depois de salientar que "é legítimo atender à expectativa dos parlamentares com o pagamento de emendas ao orçamento", a ministra afirmou que o Planalto está fazendo "o que está ao seu alcance". Ideli disse que o governo está "monitorando para poder executar as emendas, vendo se a prefeitura se cadastrou e, na hora de assinar, se está tudo OK com a prefeitura".

"De qualquer forma, nós não vamos ter 100% de empenho das emendas, por vários motivos. Vários deles fogem ao nosso controle porque não é possível empenhar algo que não esteja credenciado", observou Ideli. "A expectativa dos parlamentares é que fossem liberados R$ 4,5 milhões referentes às emendas individuais, para cada um. Esse limite é o que se está liberando."

Passado o período eleitoral, novas liberações devem ser feitas pelo governo. Cada parlamentar tem direito a R$ 15 milhões em emendas por ano, sendo que R$ 2,2 milhões obrigatoriamente são destinados à saúde, num total de despesas que chegaria a R$ 8,9 bilhões.

Ideli comemorou ainda que, na sexta-feira, foi alterada uma portaria que tratada da liberação de recursos para convênios – uma demanda de prefeitos e parlamentares. Pela nova regra, contratos de até R$ 750 mil receberão 50% do valor no momento da execução.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Governo vai liberar R$ 450 mi a prefeituras às vésperas da eleição

Às vésperas do período eleitoral, o governo federal vai destinar cerca R$ 451 milhões a prefeituras do país.

O montante, anunciado ontem pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), se refere ao pagamento, retroativo a 2010, de 50% de obras feitas pelas cidades em convênios com a União e que custarem até R$ 750 mil.

Portaria de 2011 permitia ao governo repassar aos cofres municipais, no momento da assinatura do contrato dos convênios, metade do custo do empreendimento.

A novidade é que poderão ser quitadas obras de anos anteriores (2010 e 2011).

Segundo Ideli, a ideia é agilizar o repasse e diminuir a burocracia nas obras.

Em função da Lei Eleitoral, o prazo para envio de verba se encerra nesta semana.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ajuda de última hora

Para fugir de restrição da lei eleitoral, governo faz mutirão e destina verbas a redutos de parlamentares

Júnia Gama, Isabel Braga

Às vésperas do início da campanha eleitoral e da vigência das restrições impostas pela legislação, que proíbe assinaturas de convênios do governo federal com as prefeituras entre julho e outubro, o Palácio do Planalto autorizou a liberação de R$ 450 milhões em emendas parlamentares de anos anteriores para obras e projetos de até R$ 750 mil. Esses recursos atenderão as emendas para as chamadas "obras paroquiais", com grande "capilaridade eleitoral", pois são executadas diretamente nas cidades.

A campanha eleitoral começa oficialmente dia 6 de julho e vai até o início de outubro. Mesmo com essa liberação, os políticos aliados reclamam que o volume é pouco, em relação ao montante aprovado no Orçamento. Do outro lado, a oposição acusa o governo de favorecer apenas os aliados.

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, informou ontem que o governo está fazendo "um mutirão" nos ministérios para liberar os recursos já autorizados em anos anteriores. E também para fazer, até sexta-feira, o maior volume de empenhos (promessas para pagamento futuro) das emendas ao Orçamento de 2012 - sexta-feira é também o último dia para os empenhos, que só voltarão a ser feitos em novembro e dezembro.

Ideli fez uma ressalva: lembrou que a liberação até esta sexta-feira vai depender da "operacionalidade dos ministros" e das "condições das prefeituras", que podem ter problemas de inadimplência ou falhas nos projetos para as obras:

- Não vamos ter 100% de empenho, por vários motivos que fogem ao nosso controle. O que estava ao nosso alcance fizemos.

A presidente Dilma Rousseff não está muito disposta a subir nos palanques este ano, segundo Ideli. A ministra disse que Dilma não vai participar de campanhas, mas que os ministros estão liberados "fora do expediente":

- Nós (ministros) podemos participar, desde que não atrapalhe o trabalho no ministério. A presidente não pensa em se envolver. A melhor maneira dela ajudar nas eleições é o Brasil ficar bem.

A fala da ministra não acalmou os parlamentares que se preparam para o início da campanha eleitoral e visitas às bases, com mais frequência, a partir do recesso legislativo, dia 18. Na Câmara, a oposição decidiu obstruir as votações em plenário, em protesto contra o baixo empenho das emendas de seus deputados. Na reunião de líderes, ao avisar que PSDB e DEM iriam entrar em obstrução, o líder do Democratas, ACM Neto (BA), afirmou, segundo presentes:

- DEM e PSDB não aceitam ser considerados deputados de segunda categoria, por isso vamos obstruir.

O líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), também criticou:

- O problema não são os valores envolvidos, mas a diferença. O governo procura massacrar a oposição.

Oposição acusa governo de privilegiar base

De acordo com levantamento feito pela liderança do DEM, dos R$ 20,8 bilhões de emendas parlamentares aprovadas no Orçamento deste ano, só R$ 1,078 bilhão tinha sido empenhado até 28 de junho, com ampla vantagem para os parlamentares governistas.

Considerando a execução dos convênios do governo federal com as prefeituras, em levantamento feito pelo PSDB, R$ 257,4 milhões foram empenhados até o último dia 26. Desse total, segundo os tucanos, a oposição conseguiu para os municípios que representa R$ 1,4 milhão, enquanto os da base aliada conquistaram 99,47%.

Mesmo contemplada, a base está insatisfeita. Os aliados reclamam também dos valores já pagos de emendas de anos anteriores, os chamados "restos a pagar". Segundo os dados já levantados, estavam empenhados (prontos para serem pagos) de três anos anteriores mais de R$ 11 bilhões. Até 25 de junho, o governo pagou cerca de R$ 1,5 bi. Com muito esforço, esse total passará um pouco de R$ 2 bilhões.

Líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG) disse que é desrespeito do governo não cumprir a lei orçamentária e liberar a verba das emendas:

- O problema não é a Ideli, ela tenta ser a solução, o problema é o governo que não quer (liberar). As bancadas da Câmara estão todas insatisfeitas. O liberado até agora é ridículo em relação ao que foi votado - reclamou Portela.

Vice-líder do governo e do PTB, o deputado Alex Canziani (PR) prefere acreditar que a situação poderá melhorar até sexta-feira:

- Até agora, está muito aquém das expectativas e há muitas insatisfações. Mas, até o final da semana, melhora. Sentimos que há interesse dos ministérios em ajudar. Até a oposição vai ser contemplada, em percentual menor, mas será.

FONTE: O GLOBO

Presidente vai ficar fora de campanha, diz ministra

Apesar da decisão, Dilma deve liberar atuação de ministros, desde que estejam de folga.

Dilma ausente da campanha

Ministra Ideli Salvatti diz que a presidente não pretende se envolver em disputas municipais para não perder o foco na gestão

BRASÍLIA – A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, afirmou ontem que a presidente Dilma Rousseff não deverá participar das campanhas municipais neste ano. Mas, de acordo com Ideli, os ministros do governo estão liberados para atuar por seus candidatos, porém fora do horário de trabalho. “A presidente não está pensando em se envolver. Aliás, ela tem dito reiteradamente, a melhor maneira de ela ajudar nas eleições é o Brasil continuar bem”, afirmou a ministra, durante café da manhã com jornalistas.

No Recife, o senador Humberto Costa seria o maior prejudicado com a ausência da presidente, já que ele tem em Dilma e no ex-presidente Lula dois dos seus maiores trunfos eleitorais. Mas o prefeiturável petista avalia que a decisão não impede gravações dela para a propaganda gratuita: o posicionamento abrangeria apenas a participação nos atos de campanha de rua. O candidato Geraldo Júlio, do PSB, partido aliado do PT no plano nacional, considerou natural a ausência da presidente.

Questionada se a presidente Dilma poderia desembarcar em São Paulo onde o candidato do PT, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, tem somente 6% das intenções de voto – de acordo com a última pesquisa Datafolha –, Ideli respondeu: “Olha, a intenção dela é não participar”.

A ministra, porém, confirmou que participará das eleições municipais, assim como outros ministros do governo. “Nós temos uma orientação muito clara da presidenta: fora do horário de expediente, cada um exerça a sua militância. Da mesma forma como eu vou atuar em campanhas no final de semana, eu tenho certeza absoluta que o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) vai participar de campanhas do PSB, Aldo Rebelo (Esporte) do PCdoB, Mendes (Ribeiro, da Agricultura) e Gastão (Vieira, do Turismo) do PMDB”, avaliou ela.

PSB

Sobre o relacionamento PT-PSB, siglas que passam por um processo de distanciamento e troca de críticas, a ministra Ideli Salvatti desconversou e enalteceu a participação do PSB no governo Dilma. “Nós temos uma boa relação de governo com o PSB. O PSB tem ministro da Integração, ministro dos Portos, participa. A orientação da presidente é muito clara: eleição é um problema dos partidos”, afirmou Ideli. O desgaste entre os dois partidos ficou evidenciado com o anúncio do rompimento em Belo Horizonte, palco há anos de uma das mais sólidas parcerias entre as duas siglas. O PT decidiu não mais apoiar a reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB).

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Paes começa campanha com Dilma

Brecha na lei permite que prefeito participe de inauguração ao lado da presidente

Juliana Castro

Uma combinação de datas no calendário eleitoral permitirá que o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, participe de duas inaugurações ao lado da presidente Dilma Rousseff e do governador Sérgio Cabral no primeiro dia da campanha. De acordo com a lei, os candidatos só são impedidos de participar de inaugurações nos três meses que antecedem o primeiro turno das eleições que, este ano, será em 7 de outubro. Assim, o impedimento de participar de eventos como esses só passa a valer em 7 de julho, um dia após o início da campanha.

Na manhã de sexta-feira, o peemedebista participará da entrega de 640 unidades habitacionais em Triagem, na Zona Norte. Paes, assim como Cabral e Dilma, vai discursar. Em março, quando discursou ao lado de Paes, Dilma exaltou a parceria com ele e Cabral. A inauguração será aberta ao público e deverá contar com candidatos a vereador da base aliada de Dilma. Também deverá ir à inauguração o vereador Adilson Pires, indicado pelo PT de Dilma para vice na chapa do prefeito.

Adversários de Paes vão investir no corpo a corpo

O atual vice-prefeito do Rio e coordenador da campanha de Paes, Carlos Alberto Muniz, disse que o evento é uma agenda de Paes como prefeito, e não como candidato. Frisou que a inauguração no primeiro dia de campanha "está dentro da lei", mas reconheceu que um palanque com Dilma neste período ajuda o prefeito:

- Não é positivo, é muito positivo. Agora, isso não é um fato novo. Nós estamos juntos desde o início - afirma Muniz.

À tarde, Paes aparecerá novamente na foto ao lado de Dilma, já que estará com ela na inauguração da Coordenação de Emergência Regional, unidade que funcionará ao lado do Hospital Municipal Miguel Couto, na Zona Sul, com o objetivo de diminuir a lotação da emergência. No fim da tarde, já sem a presidente, Paes deverá participar da cerimônia de implantação da Nave do Conhecimento, em Madureira, que vai oferecer oficinas a moradores da região.

Enquanto Paes passará o primeiro dia da campanha em inaugurações, seus principais adversários optaram por corpo a corpo com eleitores. Rodrigo Maia (DEM), filho do ex-prefeito Cesar Maia, irá ao Calçadão de Bangu, acompanhado de sua vice, Clarissa Garotinho (PR), filha do deputado federal Anthony Garotinho. Marcelo Freixo (PSOL) vai caminhar da Praça Mauá até a Carioca e, à noite, fará evento de lançamento da candidatura no Centro. Já Otavio Leite (PSDB) vai assistir à missa na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, na Zona Sul, e Aspásia Camargo (PV) vai à Praça XV.

FONTE: O GLOBO

Aliança de 19 partidos e oposição dividida disputam eleição no Rio

Guilherme Serodio e Paola de Moura

RIO - A tentativa de barrar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB) levou à união de dois dos maiores adversários da política do Rio (ver matéria abaixo). Mas não foi suficiente para juntar a oposição em torno de uma candidatura forte e competitiva. Dessa forma, quatro candidatos - do PSDB, do PV, do DEM e do PSOL - disputam com o prefeito, que, além de um vistoso orçamento de mais de R$ 20 bilhões para este ano, terá 19 partidos em sua coligação e 16 minutos na televisão. Seu principal adversário - o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), coligado ao PR - terá cinco minutos no horário eleitoral gratuito.

A construção desta aliança tão eclética que inclui PT, PMDB, o PRB do senador Marcelo Crivella e seus eleitores evangélicos, o PP do senador Francisco Dornelles e do deputado federal Jair Bolsonaro, o PDT dos brizolistas do Rio e do ministro do Trabalho, Brizola Neto, o PCdoB da deputada federal Jandira Feghali, e o PSB do deputado federal Romário, é quase igual à costurada para a campanha do governador Sérgio Cabral (PMDB) na eleição de 2010, pelo presidente regional do PMDB no Rio, Jorge Picciani, quando era candidato ao Senado.

Eduardo Paes herdou do governador a aliança praticamente fechada. Apenas o PSB aderiu ao grupo em 2011 - em 2010, fazia parte da coligação que apoiava Fernando Gabeira (PV) junto com o PSDB. "É natural que, num quadro como esse, em que há alinhamento entre o Estado e a prefeitura, a coligação seja reproduzida. Os dividendos são distribuídos por diferentes níveis", explica o presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro. "A vantagem que esta coalizão dá ao prefeito é o exército de vereadores que fará campanha para ele pela cidade", acrescenta.

Para Monteiro, o prefeito ainda leva outra vantagem: os quatro candidatos da oposição, o deputado federal Otávio Leite (PSDB), a deputada estadual Aspásia Camargo (PV), o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), além de Rodrigo Maia têm base eleitoral na mesma região da cidade. "Rodrigo e Otávio têm sua base mais forte na Zona Sul, na classe média e média alta. Já Freixo e Aspásia, atingem o público que se diz um pouco mais intelectualizado e engajado, mas da mesma região e classe social", explica Monteiro.

Para o presidente do IBPS, esta campanha será muito difícil para a oposição. "O prefeito conseguiu dobrar seu orçamento. Saiu de R$ 10 bilhões em 2009 para R$ 20 bilhões este ano. Está fazendo um conjunto de obras importantes, investiu em saúde e ainda será beneficiado pelo programa das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora] do governador", acredita.

A prefeitura hoje tem muito mais dinheiro em caixa para investir. No primeiro ano de governo, Paes fez uma enorme contenção de gastos para arrumar a casa. Chegou a investir 7,41% do que o ex-prefeito Cesar Maia aplicou no seu último ano de governo. Os gastos caíram de R$ 13,41 bilhões para R$ 12,42 bilhões. Nos anos seguintes, Paes renegociou a dívida, conseguiu um empréstimo do BID e fechou 2011 com R$ 19,124 bilhões empenhados e, em 2012, o previsto passará de R$ 20 bilhões.

A única pesquisa de intenção de votos para a capital foi feita pelo Ibope em dezembro de 2011, e não contava com Aspásia Camargo. Na época, Paes tinha o menor índice de rejeição entre os candidatos, 29%. O segundo mais bem aceito pelo eleitor era Freixo, com 47% de rejeição. "A não ser que haja um grande escândalo, os adversários terão dificuldades, porque nem o escândalo de Fernando Cavendish atingiu Paes", explica Monteiro, referindo-se aos vídeos que mostram o dono da Delta em Paris com Sérgio Cabral. Na mesma pesquisa a administração municipal era aprovada por 68% dos eleitores, o mesmo índice de aprovação do governador.

Para o cientista político Ricardo Ismael, ainda é cedo para dizer o impacto dos escândalos da Delta na eleição para prefeito. Ele lembra que, com o começo da campanha, os candidatos da oposição podem usar a proximidade de Paes com o governador para atacá-lo. "Cabral pretendia ter uma participação muito mais forte nesta campanha", diz Ismael. Chamado pelo próprio Paes de "cabo eleitoral de luxo", o governador vem tendo uma atuação mais discreta no apoio ao prefeito.

Enquanto há dúvidas sobre a contribuição de Cabral, os apoios do governo federal e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são um trunfo de Paes. O ex-presidente vem aparecendo em inaugurações de obras da prefeitura e do governo estadual ao lado do prefeito para quem já avisou que vai pedir votos "com muita convicção". "Lula parece ter incluído a eleição de Paes entre aquelas candidaturas que ele acha importante apoiar", diz Ismael.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Adversários de Paes firmam pacto de não agressão

Levar a eleição para o segundo turno é o maior desafio da oposição no Rio. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) tem aprovação de 68%, segundo o Ibope de dezembro, e conta com 19 partidos em sua base. Os 16 minutos de propaganda eleitoral na TV que o candidato à reeleição terá supera a soma do tempo dos outros quatro candidatos.

O fato de a oposição não ter conseguido formar coalizões fortes ajuda, na avaliação do deputado federal Otávio Leite, candidato do PSDB, a chance de um deles chegar ao segundo turno. "Como são de diferentes partidos, a pulverização aumenta e, com isso, a chance de chegarmos lá", afirma.

Os candidatos de oposição não confirmam, mas nos bastidores circulam informações de um pacto de não agressão mútua. A estratégia comum é atacar as fragilidades da administração Paes.

Transporte e saúde já foram definidos por três candidatos como os principais temas da campanha.

"É importante que o Rio tenha segundo turno e debata o que as pessoas querem da cidade, da saúde, do transporte, da segurança e da cultura", diz Marcelo Freixo (PSOL). Aspásia Camargo (PV) vai centrar sua campanha em saneamento, habitação, educação e transporte. Já Otávio Leite falará de saúde, trânsito e transporte.

O deputado federal Rodrigo (DEM), assim como o pai, o ex-prefeito Cesar Maia, usa pesquisas e, segundo diz, o contato com a população para montar sua estratégia de campanha. "Estou percorrendo a cidade inteira e tendo reuniões em todas as áreas", disse Maia, para quem o prefeito tem atualmente 35% de avaliação positiva, segundo seus levantamentos. "Isso é pouco para quem está no auge do governo", diz.

Para o cientista político Ricardo Ismael, a resistência de segmentos de partidos aliados a Paes, como PT e PDT, pode atrapalhar o plano do prefeito de vencer no primeiro turno: "Existem setores do PT muito insatisfeitos com essa aliança. É prematuro dizer como vão se comportar esses eleitores à esquerda."

Além disso, diz Ismael, o governo Paes tem pouca abertura à participação social. "Essa administração mais fechada pode ser criticada pela oposição", diz.

A participação popular nas decisões da administração é uma das principais bandeiras de Freixo, que tem dito que a cidade é governada pelo interesse privado. Seu discurso tenta ainda aproximar Paes da construtora Delta, que manchou a imagem do governo Sérgio Cabral. O PSOL já conquistou o apoio de dissidentes do PDT e conta com a simpatia de parte do PT. Freixo descarta, porém, uma eventual aliança no segundo turno com os Maia ou os Garotinho.

Freixo conta ainda com apoio de tucanos. É o caso da vereadora Andrea Gouvêa Vieira. Insatisfeita com a candidatura de Otávio Leite, licenciou-se do PSDB pra fazer campanha para o candidato do PSOL, a quem atribui maior chance de levar a disputa para o segundo turno.

"Não concorri porque não houve prévia", diz Andrea. (GS e PdM)

FONTE: VALOR ECONÔMICO

PT nacional anuncia Patrus e prestigia Roberto em Belo Horizonte

O comando nacional do Partido dos Trabalhadores, depois de reunião com diretório mineiro, declarou o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome candidato à Prefeitura de Belo Horizonte e delegou ao aliado PMDB a escolha do companheiro de chapa. O atual vice, Roberto Carvalho, disse que é "homem de diálogo"e responde amanhã se renuncia à candidatura já registrada no TRE. Ele foi convidado para a função de coordenador da campanha.

Solução à vista no PT

Comando do partido anuncia candidatura de Patrus a prefeito. Vencedor da convenção, Roberto Carvalho não aceita a pressão da legenda, mas ressalta ser "homem de diálogo"

Isabella Souto, Alessandra Mello e Juliana Cipriani

SÃO PAULO – O ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome e ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias será o candidato do PT à prefeitura da capital. A decisão foi tomada ontem por unanimidade pelo comando nacional do partido depois de uma reunião de cerca de três horas com representantes do diretório mineiro. O grupo também anunciou que o candidato a vice na chapa vai ser indicado pelo PMDB e o coordenador da campanha será o vice-prefeito Roberto Carvalho, que havia sido escolhido candidato depois do rompimento com o PSB, na convenção de sábado. A troca dos nomes só vai ser oficializada com a confirmação da renúncia de Roberto Carvalho, registrado oficialmente anteontem como candidato na Justiça Eleitoral. Ouvido pela reportagem, o vice-prefeito disse apenas que é "homem de diálogo" e que anuncia sua posição oficial amanhã.

Hoje, Roberto Carvalho se reúne em São Paulo com o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão, que vem a Belo Horizonte amanhã para participar do registro da chapa e da comemoração pelo lançamento da candidatura própria. A indicação do vice está sendo negociada diretamente por Falção com o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). Os dois estão em conversa desde ontem e até hoje devem bater o martelo sobre o nome. O candidato do PMDB a prefeitura, Leonardo Quintão (PMDB), pode renunciar e um novo nome ser indicado.

Conversas. Escolhido em convenção, Carvalho registrou sua candidatura na segunda-feira. Pela legislação eleitoral, o candidato do PT só muda se a candidatura for indeferida, houver renúncia ou morte do nome registrado. Ontem, ele passou o dia em conversas com lideranças nacionais, incluindo o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, que ficou de intermediar um encontro com a presidente Dilma Rousseff possivelmente amanhã.

Embora evite falar em deixar a disputa, nos bastidores a saída de Roberto Carvalho é dada como certa. "Sou um homem do diálogo e, acima de tudo, petista. Minha preocupação é com a unidade do PT e vou fazer tudo que for preciso pela vitória do partido", afirmou o vice. Informado da decisão por Patrus Ananias, Carvalho afirmou ter dito à Executiva Nacional que caberá a ele e a Patrus decidirem juntos quem será o candidato. "O Patrus é meu irmão e estaremos juntos", disse. O vice-prefeito tomará a decisão depois de conversar também com Rui Falcão e Dilma, e a comissão de mineiros que participou da reunião. "Tenho até quinta-feira para tomar a decisão", lembrou. Carvalho negou ter pedido a vaga de vice ou outra contrapartida para desistir. "Nunca reivindiquei nada no PT, a única coisa que reivindico é o bem de BH", afirmou. O vice se considera vitorioso por ter conseguido, enquanto único defensor, emplacar a candidatura própria petista. "Antes todos diziam que eu era louco de defender a candidatura própria. A historia mostrou que eu estava certo", ressaltou.

O deputado federal Miguel Corrêa Júnior (PT), que já tinha sido indicado pelo partido para ser o vice do prefeito Marcio Lacerda (PSB), candidato à reeleição, também será um dos coordenadores da campanha de Patrus. "O diretório referendou a indicação de Patrus porque acredita que ele é o nome capaz de manter o partido unido e que tem melhores condições de vencer as eleições", disse Miguel. Falcão garantiu que a candidatura própria é irreversível. "Entendemos isso como um gesto político e não uma simples decisão partidária. Não tem mais volta e estamos unidos para enfrentar essas eleições", garantiu.

Segundo ele, o rompimento ocorre porque o PSB não cumpriu o acordo firmado com o PT de se coligar com o partido na disputa pelas vagas de vereador. A aliança foi garantida em documento assinado pelo presidente do PSB mineiro, Walfrido Mares Guia. "O rompimento de um acordo em política é gravíssimo", pontuou o presidente petista. Segundo Rui Falcão, a candidatura própria em Belo Horizonte tem o aval da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma não deve participar da campanha por haver muitos partidos da base aliada na disputa, mas a presença de Lula foi garantida. "O Lula é do PT e, dentro da agenda dele, estará presente na campanha de Belo Horizonte."

Falcão negou qualquer relação entre o rompimento com o PSB em Belo Horizonte e o fato de os socialistas terem decidido não se aliar ao PT em Recife (PE) e Fortaleza (CE). "Não vou classificar o que aconteceu, mas em Recife e Fortaleza havia uma expectativa de continuidade da frente popular que não se consumou. Em Belo Horizonte havia um acordo por escrito que foi rompido."

FONTE: ESTADO DE MINAS

Tucanos podem indicar vice do PSB em Belo Horizonte

Leonardo Augusto

O PSDB vai esperar até o último momento a definição de quem será o candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte, para negociar com o PSB o nome do vice na chapa de Marcio Lacerda que tentará a reeleição. Os tucanos trabalham com pelo menos quatro nomes. Logo depois de o PT confirmar o nome do vice-prefeito Roberto Carvalho, o mais indicado a compor com Lacerda era Josué Valadão (PP), ex-secretário municipal de Governo. Mas com a opção do ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias o leque de possíveis ocupantes do posto é maior.

No topo da lista está o presidente municipal do PSDB, deputado estadual João Leite, cujo nome chegou a ser ovacionado na convenção tucana no sábado. O parlamentar, no entanto, foi contra a aliança entre os PSDB e o PT em 2008, que acabou elegendo Lacerda, e é um dos principais críticos do prefeito na Assembleia Legislativa. Se o presidente do PSDB em Belo Horizonte recusar, a saída seria escolher alguém de outro partido para a composição com o prefeito. Nesse cenário, o nome mais cogitado é o da também deputada estadual Luzia Ferreira (PPS). Colega da parlamentar na Assembleia, é cotada também a indicação de João Vítor Xavier (PRP). O vereador Pablito (PSDB), indicado para disputar a presidência da câmara, também estaria entre os cotados se os tucanos optarem por uma solução interna.

Até o início da noite de ontem, quando integrantes das executivas nacional e estadual do PT discutiam em São Paulo a possível troca de nomes para a disputa em Belo Horizonte, os tucanos trabalhavam com duas possibilidades. Ou Roberto Carvalho teria realmente a intenção de disputar a prefeitura ou estava apenas "valorizando o passe" com o objetivo ser indicado vice na chapa. Por ter registrado seu nome como candidato do partido à prefeitura, depois de reunião da executiva municipal que o indicou para a disputa, somente com a renúncia de Carvalho à candidatura tornaria possível a entrada de Patrus na corrida pelo governo municipal.

Assediados Em outra frente, o PSDB tenta atrair o pré-candidato do PTB, deputado federal Eros Biondini. O parlamentar, no entanto, afirma que também vem sendo sondado pelo PT. "É natural que todos venham conversar, mas não admito falar em desistência. Meu projeto é o melhor para a cidade", garantiu. O candidato do PV, deputado estadual Délio Malheiros, também mantém seu nome. "Tem muito boato por aí, mas não vou deixar a disputa", afirmou. Apesar das declarações, nenhum dos dois registrou registrou a candidatura no TRE-MG. O prazo termina amanhã.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em Belo horizonte, campanha será nacionalizada

Bertha Maakaroun

2014 é agora. E nas avenidas de Belo Horizonte o enredo principal vai se desenrolar com os principais candidatos à Presidência da República engajados em campos opostos na disputa para a prefeitura. Se o candidato do PT, Patrus Ananias, tem a seu lado a presidente Dilma Rousseff, o prefeito Marcio Lacerda terá a apoiá-lo na tentativa de reeleição não só o senador Aécio Neves – que tem sua candidatura ao Palácio do Planalto considerada natural dentro do PSDB –, como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), estrela socialista que ensaia, em várias capitais, a consolidação do PSB. De satélite petista, o PSB buscou voo solo em Fortaleza, em Recife, em Teresina, em Rio Branco, em Belém e em Natal. De olho também na sucessão presidencial, para quando a sua hora chegar, Campos quer a base socialista fincada em todo o país.

Para Lacerda, o cenário eleitoral mais confortável lhe indicaria a necessidade de manutenção do amplo leque de apoios, em que petistas e tucanos, entre cotoveladas e pontapés, disputavam a primazia da coligação e dos postos do futuro governo. Na condição de magistrado das forças antagônicas, artificialmente juntadas em 2008, o prefeito manteria o tom e um certo controle da disputa. Ao seu lado estariam os poderes estadual e federal, situação conveniente não apenas no que diz respeito à governabilidade e o maior acesso aos investimentos públicos, mas também, para estruturas azeitadas de campanha, financiamento , sem falar no abundante tempo no horário eleitoral gratuito.

Durante a pré-campanha, que se arrasta desde o fim do ano passado, petistas e tucanos se empurraram, na tentativa mútua de lançar o adversário ao mar. A queda de braço se arrastou, com declarações inflamadas de ambos os lados, de quem seria o maior cabo eleitoral em Belo Horizonte, se líderes tucanos ou petistas. Ambos miravam 2014. Mas no confronto direto, nem o PT nem o PSDB arrastou pé do barco.

Proporcional Embora a briga entre o vice-prefeito Roberto Carvalho, que também é presidente municipal do PT, e o prefeito Marcio Lacerda tenha tensionado em muitos momentos o processo de decisão interna petista, não foi esse embate o responsável pela ruptura. Dentro da coligação, o PSDB ameaçou abandonar o barco, levando um conjunto de partidos satélites, caso o PT, além de indicar o vice, se coligasse na chapa proporcional com o PSB. No partido de Lacerda, a chapa de candidatos a vereador e os próprios vereadores fizeram coro aos tucanos, ameaçando com renúncia coletiva. A coligação proporcional com o PT não interessava ao partido.

Com uma bancada hoje de três parlamentares, a chapa do PSB montada para concorrer à Câmara conta com os votos de legenda puxados por Lacerda para eleger mais dois ou três nomes. O PT, que tem hoje seis vereadores, se considerou traído, pois dava como certa uma carta em que os socialistas garantiam a vice e a coligação proporcional. Sem coligar-se com PSB e se não lançasse um candidato a prefeito, teria dificuldades em ampliar a sua bancada.

Os líderes petistas pesaram o quadro e resolveram não colocar a briga com os tucanos em banho-maria, partindo para a candidatura própria. Os tucanos comemoraram. Como em 2008, por motivo diferente, a disputa em Belo Horizonte, de novo, estará no centro das atenções.

Ministros no palanque

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse ontem que a presidente Dilma Rousseff não deve participar das campanha eleitorais, mas que os ministros estão liberados para atuação eleitoral "fora do expediente". "Nós podemos participar, desde que não atrapalhe os trabalhos no ministério. A presidente não pensa em se envolver. A melhor maneira dela ajudar nas eleições é o Brasil ficar bem. A participação do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, na disputa em BH está autorizada.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Após ameaça, PV agora diz que fica com Serra

Felipe Frazão, Guilherme Waltenberg e Isadora Peron

Após dizer que reavaliaria o apoio ao PSDB em São Paulo, o PV decidiu ontem à noite continuar na aliança do tucano José Serra. A sigla vai fazer três "exigências" à campanha: um comitê de coordenação da campanha com todas as siglas; a manutenção de Eduardo Jorge na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente; e a inclusão de 12 propostas ao programa de governo.

"A parceria nunca foi rompida. Estaremos ao lado de Jose Serra nos próximos oito anos, porque ele ficara oito anos", disse o presidente municipal do PV, Carlos Camacho.

Durante o dia, o próprio presidente nacional do PV, deputado José Luiz Penna (SP), já afirmava que o partido "não quer romper a aliança" com Serra. "No conjunto do partido, a ideia é requalificar o relacionamento."

Membros do PV ficaram insatisfeitos com a indicação do ex-secretário municipal de Educação Alexandre Schneider (PSD) para o posto de vice. Eles pleiteavam a vaga para Eduardo Jorge, que se licenciou da secretaria para poder ser indicado à vice.

Mal-estar. Antes da reunião, Camacho deixava explícito o desgosto em relação à escolha de Schneider como vice de Serra. "Nós fomos deixados de lado, não fomos consultados e isso gerou mal-estar no partido."

O PV integra o leque de partidos que compõem a coligação de Serra. Além do PV e PSDB, PR, DEM e PSD compõem a chapa. Os verdes, no entanto, são os únicos que não aderiram à coligação proporcional, também chamada de "chapão", na qual os vereadores das legendas coligadas dividem o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB antecipa plano presidencial após atritos com PT

Cresce entre socialistas tese de Eduardo Campos disputar Planalto já em 2014, após afastamento dos petistas na eleição municipal

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O afastamento do PT nas disputas municipais pode antecipar para 2014 o projeto do PSB de lançar o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na disputa pelo Palácio do Planalto, plano antes previsto para 2018.

A tese da candidatura própria já ganhou novos adeptos no PSB, no embalo do fortalecimento da liderança nacional de Campos e do rompimento de parcerias com o PT no Ceará, em Pernambuco e em Minas. Dirigentes socialistas dizem que está em curso o processo de libertação do PT, que sempre pede apoio, mas resiste a apoiar aliados.

"O resultado das eleições deste ano pode determinar nossa alforria antes de 2018", prevê, otimista, o deputado Júlio Delgado (MG), um dos poucos membros da cúpula socialista que assumem em público a queixa generalizada diante da resistência dos petistas em apoiar aliados.

Diante deste cenário, lideranças do PT temem os reflexos de tal afastamento. O ex-ministro José Dirceu foi um dos que demonstraram preocupação com a reviravolta na capital mineira, onde o PT saiu da chapa à reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB). "O fim da aliança em Belo Horizonte, depois de ter ocorrido o mesmo em Recife e Fortaleza, põe em risco o acordo nacional entre os dois partidos", admitiu Dirceu em seu blog.

Alternativa. Nos bastidores do PSB, a avaliação é que o partido se transformou em alternativa de poder, "para o bem do Brasil". No entender dos socialistas, é preciso romper com a polarização entre PT e PSDB, tratada por ambos os lados como a disputa entre o bem e o mal, o atrasado e o moderno. Um dos governadores do PSB destaca que o projeto de chegar ao Palácio do Planalto está em curso, seja para 2014 ou 2018, até porque o PT terá de "dar um tempo e sair da Presidência, para oxigenar o País com a alternância do poder".

Num paralelo entre a "libertação" do PT e a abolição da escravatura, Júlio Delgado afirma que, para seu partido, a Lei do Ventre Livre foi sacramentada em 2010, quando seis governadores se elegeram pela sigla.

"Nossa relação com a presidente Dilma (Rousseff) é excelente, mas, se a nossa lei dos sexagenários for decretada agora, na disputa pelas prefeituras, e o Eduardo Campos estiver num bom momento em 2014, como está hoje, ele parte para o voo solo", completa o deputado, referindo-se à lei que garantiu a liberdade de escravos com mais de 65 anos, quatro anos antes da abolição da escravatura no Brasil.

Inconformado, José Dirceu culpa o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pelo divórcio entre o PT e o PSB de Minas. "Há manobras e manobras nessa história e elas têm o dedo e a mão toda do senador Aécio, apesar de passarem para a imprensa que o PT é o responsável pelo rompimento."

Embora o PT tenha tomado a decisão de sair da chapa de Lacerda para lançar candidato em Belo Horizonte, Dirceu tem seus motivos para responsabilizar o tucano. Afinal, foi Aécio quem promoveu uma reunião de Lacerda com Ciro Gomes na terça-feira da semana passada, em Brasília. Ciro é defensor intransigente da tese da independência do PSB em relação ao PT.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Entevista. Carlos Melo, cientista político: 'Campos quer mostrar que não é satélite'

Daniel Bramatti

O estremecimento das relações entre PSB e PT está pautado pelas eleições presidenciais de 2014?

Eduardo Campos se consolida como liderança nacional. Fez um grande primeiro governo. Talvez seja a grande novidade em termos de lideranças políticas surgidas nos últimos anos. É um jogador de peso. Tem um futuro tão promissor que ficar amarrado ao PT é complicado; precisa de autonomia, de alguma liberdade. O recado dele é claro: sou aliado, mas não sou satélite.

Campos alimenta o rompimento entre os dois partidos?

Ele está jogando da seguinte forma: pode ter uma bela aliança com o PT em 2014 e ser vice da Dilma, pode se aproximar do PSDB e pode ser candidato, para consolidar seu nome nacionalmente. O problema dele não é com o Lula, aparentemente não é com a Dilma, o problema é com o PT.

Como o sr. vê a situação em Belo Horizonte e outras cidades onde alianças não vingaram?

Em Belo Horizonte, o PSB é governo a partir de uma armação muito sofisticada, que envolveu PT e PSDB. Aí os petistas ficam criando uma série de empecilhos, ficam tentando ter ingerência sobre a composição da chapa. Em Recife e Fortaleza também houve problemas. É uma janela de oportunidade para Eduardo Campos expressar sua autonomia.

E a aproximação com o prefeito paulistano Gilberto Kassab?

Com o Kassab ele consegue se firmar em São Paulo. Não dá para imaginar que Márcio França ou Luiza Erundina possam abrir espaço para Eduardo Campos no maior eleitorado do País.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em Recife, Daniel Coelho(PSDB/PPS): “O caciquismo acabou

Paulo Augusto

Críticas à forma pela qual o PT escolheu seu candidato no do Recife, independência em relação a uma proximidade com PSB ou DEM e defesa da postura do PMDB, que abandonou a oposição e se aproximou do governo do Estado. Estes foram alguns dos principais pontos da entrevista que o deputado Daniel Coelho, candidato do PSDB à Prefeitura do Recife, concedeu ontem à Rádio JC/CBN. A vice de sua chapa, Débora Albuquerque (PPS), também participou da conversa.

O prefeiturável começou o debate desmentindo que tenha havido algum diálogo do DEM com ele, com o intuito de o PSDB apoiar a candidatura de Mendonça Filho. “Comigo o DEM nunca falou. A gente sabe é que houve um movimento em Brasília, um movimento nacional, mas acho que esse tempo da política do caciquismo acabou, de você ir em Brasília, puxar candidatura de alguém lá por fora”, afirmou, citando, a seguir, o exemplo do PT. “A gente criticou muito isso sendo feito por parte do PT, essa decisão de retirar João da Costa depois de ele ganhar uma prévia, num movimento nacional em Brasília e em São Paulo. Então a gente não ia, de forma alguma, permitir que o processo ocorresse dessa forma.”

Questionado a respeito de com quem o PSDB teria mais proximidade hoje no Recife – se com o DEM ou o PSB –, Daniel desconversou.

“Estamos conquistando um espaço e esse espaço não é nem do DEM, nem do PSB. É um espaço novo porque a política se modifica rapidamente.” Embora tenha se esquivado de falar sobre uma possível aproximação com o PSB, o tucano defendeu a decisão do PMDB de mudar de lado. “O PSDB e o PPS também entendem a decisão do PMDB (de apoiar com o candidato do governador Eduardo Campos).

Ninguém é obrigado a marchar junto com ninguém”, avaliou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Charge: governo não vai se meter

FONTE : AROEIRA / O DIA

Momento de aflição:: Merval Pereira

Na política, há um momento em que ninguém é de ninguém que se define com uma expressão trazida da linguagem nordestina: a situação está de vaca não reconhecer bezerro. Brasília vive tal momento de aflição pela expectativa de um futuro tumultuado na economia, que tem naturalmente reflexos na política.

Nesses momentos, não há certeza de nada, e muitas especulações povoam o imaginário normalmente fértil dos políticos. Como sempre, o centro de tais especulações é o ex-presidente Lula, de quem depende o futuro de muita gente.

Lula está de posse de todas as suas capacidades natas que fazem dele o grande líder político que é, ou a doença deixou-o sem condições plenas de fazer o que mais sabe, articulações políticas para ampliação ou manutenção do poder?

A jogada paulistana, com a escolha de Fernando Haddad e a aliança malufista, é um movimento que levará o governo a arrombar a fortaleza tucana, ou será a prova de que o ex-presidente já não é mais o mesmo?

O que há por trás dos movimentos do PSB de enfrentamento do PT em várias capitais?

Lula tem uma agenda própria com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ou, ao contrário, Campos prepara-se para abandonar o barco governista diante da expectativa de um futuro que evidenciará a fadiga de material de um partido que completará 12 anos de poder nacional e espraiou sua influência em todos os níveis governamentais, a ponto de tirar o fôlego de seus aliados?

E a relação da presidente Dilma Rousseff com seu "criador", como vai? Em público, a presidente não perde oportunidade para elogiar Lula, prestando-lhe todas as homenagens possíveis.

Na prática, vem adotando posturas governamentais que vão de encontro a pontos-chave da política lulista. A mais recente delas é a reviravolta que deu na política de gestão da Petrobras, recolocando a empresa no caminho da boa gestão corporativa, refazendo orçamentos, cancelando projetos, retirando da empresa qualquer resquício de politização.

A presidente Dilma Rousseff, sem fazer alarde, vem tentando, por exemplo, aprovar no Congresso algumas das chamadas "reformas estruturais" de que o país tanto necessita, relegadas pelo governo Lula quando este desistiu delas para encontrar caminhos mais fáceis de lidar com as corporações e os partidos políticos.

Em vez das reformas da Previdência, trabalhista, tributária, Lula descobriu o atalho do Bolsa Família. O governo Lula neutralizou a ação congressual, montando uma enorme aliança política com partidos completamente distintos programaticamente, mas com um ponto em comum: nenhum deles dá mais valor ao programa do que aos benefícios que possa obter apoiando o governo da ocasião.

Ao mesmo tempo, o governo tratou de controlar os chamados "movimentos sociais" com verbas generosas e espaços de atuação política quase sempre neutros, popularmente conhecidos como "oposição a favor".

A política sindical é o melhor exemplo dessa neutralização dos eventuais adversários. A Força Sindical, de Paulo Pereira, deixou de disputar poder com a CUT, e juntas ampliaram o espaço de atuação sindical.

Uma manobra nesse sentido foi a inclusão das centrais sindicais na distribuição da verba do imposto sindical obrigatório, que um dia Lula prometeu acabar.

A presidente Dilma conseguiu aprovar, depois de muitos anos, a regulamentação dos fundos de previdência do funcionalismo público, aprovados no raiar do governo Lula, mas nunca colocados em prática.

A mudança do sistema de aposentadoria dos funcionários públicos é dos pontos mais importantes da reforma da Previdência.

De fato, o governo tem agora uma nova batalha na reforma da Previdência, com a tendência majoritária no Congresso de terminar com o fator previdenciário, mecanismo criado há 12 anos, ainda no governo Fernando Henrique, para inibir aposentadorias precoces do INSS.

A presidente já mandou um recado à sua base parlamentar: só aceita o fim do fator previdenciário se conseguir acordo para o estabelecimento da idade mínima de aposentadoria, que seria de 60 anos (mulheres) ou 65 (homens) para os novos trabalhadores, além de uma legislação que obrigue os que entraram recentemente no mercado de trabalho a permanecer mais tempo na ativa.

Caso contrário, deverá vetar qualquer proposta que apenas acabe com o fator previdenciário.

A ansiedade provocada pela visão que considera tecnicista do governo faz com que a base aliada crie uma agenda paralela de aumento dos gastos públicos que nada tem a ver com a decisão do governo de manter uma política fiscal rígida durante a crise econômica internacional.

Mesmo sem descuidar da parte do crédito, a arma utilizada pelo governo Lula para enfrentar a crise em 2008, o governo Dilma dá grande importância à manutenção do equilíbrio fiscal, para não perder a credibilidade dos investidores.

Por isso, a agenda política do Congresso de aumentos de diversas categorias não está em sintonia com a do Planalto.

A decisão da presidente de não participar da eleição municipal, anunciada ontem, é mais um sinal do seu distanciamento do dia a dia da política partidária, o que causa desgaste interno, mas aumenta sua popularidade, especialmente junto à classe média, da qual provém.

A presidente Dilma equilibra-se entre atitudes republicanas que não privilegiam sua base aliada e um populismo intervencionista na economia, que lhe dão credibilidade junto à opinião pública.

E vai levando sua base aliada da melhor maneira que consegue, abrindo os cofres eventualmente para acalmar os ânimos.

Mas, quanto maior sua aceitação pela população, mais se afasta de seus apoios políticos, o que é um paradoxo de difícil solução.

FONTE: O GLOBO

Greve e oportunidade:: Rosângela Bittar

A presidente Dilma Rousseff foi colhida pela sucessão de greves do serviço público no momento em que mal começara a dar seus toques pessoais, mais de um ano de gestão depois, no relacionamento com centrais sindicais e trabalhadores em geral, política especialmente marcante e característica no governo de seu antecessor. O fato de ser continuidade não a impediu de ter algumas ideias transformadoras que vinha refletindo ainda de forma preliminar.

Uma delas acabou explicitada ontem mesmo, a transferência da atribuição de negociação salarial com o funcionalismo público federal do Ministério do Planejamento para a Secretaria-Geral da Presidência da República, agora sob a liderança do ministro Gilberto Carvalho. A ministra Miriam Belchior não tinha perfil para a atribuição e remava sem sair do lugar.

Não significa a troca, porém, que o governo está decidido a dar os aumentos salariais reivindicados ou que vá arredar pé facilmente do que definiu como possível: reajustes em 2013, a serem previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Esperança de abertura da caixa preta das centrais

Para este ano, a presidente já admite correções de rumo, pontuais, como por exemplo uma revisão do Plano de Cargos e Salários do Magistério de Ensino Superior, sobre o qual vem conversando com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Outra expectativa de mudança se processa no Ministério do Trabalho. Desde que assumiu a pasta o ministro Brizola Neto, houve um freio na expansão desenfreada de sindicatos criados com o único objetivo de fazer abarrotar os cofres das centrais de trabalhadores, entidades por onde circulam altas verbas recolhidas do assalariado, das quais não prestam contas nem ao Tribunal de Contas da União. A maior e mais trancada caixa preta do governo e do país, uma desfaçatez desafiadora supernutrida pelo governo Lula.

O governo Dilma até reconhece que as transformações nesse quesito vinham um pouco lentas, em razão mesmo de duas situações adversas: o tempo em que o Ministério do Trabalho ficou sem comando de um titular identificado com a presidente e, portanto, impedido de implantar política diferente daquela de porteiras abertas e dinheiro a fundo perdido e sem risco de controles.

E, algo inesperado, que representou golpe na organização do governo para tratar as greves, a morte prematura de Duvanier Paiva, o bem sucedido secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento que coordenava toda a negociação salarial com os funcionários públicos desde 2007, nos governos Lula e Dilma. A presidente está decidida a seguir com essas reflexões sobre mudança sem se deixar atropelar pelo bloqueio que os sindicatos vêm ameaçando desde janeiro e cumpriram agora. Ou se intimidar pelos evidentes reflexos da paralisação na pesquisa CNI/Ibope divulgada esta semana. Greve é greve, existe, é um direito, tem-se conformado o Palácio do Planalto, concluindo que ministros e técnicos não irão pressionar o ritmo das decisões do governo.

Na avaliação do desempenho está lá: O percentual da população que desaprova as políticas de educação e saúde subiu, respectivamente, de 47 para 54% e de 63 para 66% nos últimos quatro meses. O que não ocorreu, por exemplo, com a segurança, sempre mal avaliada mas estacionada, e a agora bem avaliada política de redução da taxa de juros, percebida pela população como positiva embora não haja efeito concreto e imediato para o bolso do entrevistado.

Não há como, em determinados setores, o cidadão dar opinião diferente daquela que acabou registrada. Se a escola está fechada, a criança sozinha em casa, a universidade federal parada, os alunos de ensino superior com seus sonhos de ingressar no mercado de trabalho adiados sem perspectiva, pois assim estão desde o ano passado, a resposta será: a educação vai mal. O mesmo acontece na área de saúde, onde a greve atinge burocracias e atendimento a doentes.

Melhor ainda será se o destemor que a presidente vem demonstrando para enfrentar esse tipo de revés resulte em oportunidades. Se for suficiente para, finalmente, tirar da gaveta a regulamentação da greve no serviço público, vez que, no Brasil, até as categorias armadas, como as polícias, usam o direito. Cortar os pagamentos dos dias de ausência do trabalho, como penalidade óbvia, assim como também o é direito de greve. E a implantação de algum tipo de controle fiscalização para o que é subtraído ao salário do trabalhador com o objetivo de sustentar a burocracia das centrais sindicais.

São inimagináveis as dificuldades, obstáculos e pormenores envolvidos nas definições do calendário, rito e procedimentos do julgamento do mensalão.

Um dos problemas, por exemplo, que podem reduzir a capacidade de defesa dos réus foi objeto de duas petições ao Supremo Tribunal Federal feitas por dois dos mais celebrados advogados do processo, Alberto Zacharias Toron, cujo cliente é o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, e Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, defensor do publicitário Duda Mendonça.

Entregaram ao ministro Carlos Ayres Britto, presidente do STF, proposta para usarem power point na apresentação da defesa, iniciando uma discussão sobre onde ficaria a tela, a intensidade da iluminação, calibre e compatibilidade da entrada do pendrive, entre outras questões de emoção equivalente que lhes foram colocadas pelo tribunal. Evidentemente que o STF está enrolando os advogados e ainda não decidiu a permissão. O advogado de João Paulo quer a projeção para sublinhar e permitir a visualização de gráficos, chamando a atenção dos ministros do Supremo para evidências contidas em avaliações do Tribunal de Contas da União sobre o contrato da Câmara dos Deputados, então presidida por Cunha, com a agência publicitária SMP&B. O relatório do TCU aceita o alto índice de terceirização registrado pela agência como normal, e inclusive o advogado pretende apontar como normal nesses casos que os meios de comunicação -, jornais, revistas e emissoras de rádio e TV - sejam os principais subcontratados pela empresa de propaganda.

Se o Supremo aceitar o uso de power point será uma inovação tecnológica na Corte, que no caso do mensalão já apresentou o primeiro processo totalmente digitalizado.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Lula quer provar que 'neomalufismo' compensa :: José Nêumanne

Nestes últimos dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem desafiado a própria fama de infalível em estratégias políticas com uma série de "pisadas na bola", como se diz na gíria futebolística, que ele tanto aprecia, num território no qual sempre desfilou com desenvoltura.

Enquanto os adversários tucanos se engalfinhavam em lutas internas intermináveis e injustificáveis para escolher o candidato à sucessão de Gilberto Kassab (PSD) na Prefeitura de São Paulo, Lula não ouviu lideranças locais, federalizou o pleito e lançou Fernando Haddad com a justificativa de que aposta no "novo" e repete a audácia de ter indicado Dilma Rousseff para presidente, em 2010. O risco é que, se Haddad perder, dará a Dilma a oportunosa ensancha de mostrar que ela não ganhou só por causa do apoio dele, mas teve méritos próprios.

A aposta isolada de Lula ignorou a lição do poeta britânico William Congreve, que, no século 17, constatou o óbvio ululante: "Não há no céu fúria comparável ao amor transformado em ódio nem há no inferno ferocidade como a de uma mulher desprezada". Da mesma forma como, segundo Arnaldo Jabor, teria escolhido Dilma para lhe suceder por imaginar que, sendo mulher, ela não o trairia, pensou que, depois de pisar nos calos da senadora Marta Suplicy (PT-SP), pudesse contar com seu apoio leal e entusiástico na campanha do favorito. Deu no que deu: a ex-prefeita virou a "fera ferida" da canção de Roberto Carlos e é, ninguém duvide, o maior empecilho para os planos de Lula conquistar uma vitória pessoal no pleito em São Paulo, cujo eleitorado lhe tem sido historicamente hostil. Ele próprio perdeu para José Serra e para Geraldo Alckmin e seus candidatos Marta Suplicy e Aloizio Mercadante Oliva foram derrotados por José Serra, ela também por Gilberto Kassab há quatro anos, além de Dilma Rousseff para o mesmo Serra nas urnas paulistanas. Outra lambança de Lula na mesma disputa foi deixar-se fotografar afagando o "filhote da ditadura" Paulo Maluf em troca do apoio do Partido Progressista (PP).

Os 95 segundos do PP malufista no horário gratuito, cedidos em troca dos afagos no jardim da mansão do dr. Paulo, geraram a crise da saída da ex-prefeita Luiza Erundina da chapa lulista, numa evidência de que, como o crime, o "neomalufismo" poderá não compensar.

No afã de eleger Haddad, o ex-presidente passou a seu eleitorado devoto e leal a impressão de Kassab - que se dispôs a apoiar o favorito dele e chegou a comparecer a uma reunião petista - lhe ter passado a perna. Tenha sido ou não esperteza do prefeito, a iniciativa dele empurrou o ex-governador José Serra para a disputa e convenceu seus desafetos no PSDB a compreenderem que a única forma de manter a oposição ao poder federal na maior prefeitura do País será apoiá-lo sem restrições, embora tapando o nariz.

Outro episódio posterior ao diagnóstico do câncer na laringe desmentiu mais até do que a fama de infalível do ex-presidente, pois contradisse um histórico de bom senso que o tem aproximado do cidadão comum, responsável por vitórias dele e de seus candidatos e altíssimos índices de popularidade por eles obtidos. Trata-se do encontro com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes no escritório do amigo comum Nelson Jobim. Mesmo que a versão do interlocutor - segundo quem Lula apelou para ele evitar que o julgamento do mensalão coincidisse com as eleições municipais - não seja absolutamente fidedigna, não faz sentido a exposição a que ele e alguns membros da última instância do Poder Judiciário - Gilmar, entre eles - se expuseram, às vésperas de um momento relevante como as sessões nas quais se julgará o maior escândalo de corrupção atribuída a seu governo na vigência do gozo da aposentadoria. Nada justificaria tal cruzada peripatética estando fora da Presidência, período no qual prometera se comportar com o máximo de discrição, e durante delicado tratamento de saúde.

Fato é que quem se surpreende com essas derrapadas do líder tido como infalível desconhece sua biografia. Nem sempre Lula foi sequer sensato como se pensa que foi. Em 1978, o ex-governador Cláudio Lembo, atendendo ao chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, lhe pediu apoio para a anistia e a volta dos exilados. Ele negou. Em 1985, apoiou a expulsão do Partido dos Trabalhadores (PT) dos deputados Bete Mendes, Airton Soares e José Eudes porque votaram em Tancredo Neves contra Paulo Maluf no Colégio Eleitoral, alegando que os dois candidatos eram "farinha do mesmo saco". Em 1988, o partido só assinou a Constituição dita "cidadã" por apelo insistente do presidente do Congresso Constituinte, Ulysses Guimarães (PMDB-SP). No mesmo ano, omitiu-se na campanha da candidata petista à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, que tivera a ousadia de vencer seu favorito, Plínio de Arruda Sampaio, na convenção. Em 1993, apesar de ter participado da derrubada de Fernando Collor no Congresso, o PT recusou-se a participar do governo tampão do vice Itamar Franco e suspendeu a filiação da mesma Erundina, porque ela ousara desafiar novamente o chefão ao aceitar a Secretaria da Administração Federal - o que a levou a migrar para o PSB em 1997.

Aconselhado por Aloizio Mercadante Oliva, Lula levou os petistas a votarem contra o Plano Real, acusando-o de "estelionato eleitoral", posição que o levou a duas derrotas eleitorais seguidas no primeiro turno para o criador do maior projeto social da História do País, Fernando Henrique Cardoso. E, na oposição, se opôs ferozmente à privatização, à adoção do câmbio flutuante, às metas de inflação, à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e aos programas sociais propostos pelos tucanos.

Fiel à condição confessa de "metamorfose ambulante" (apud Raulzito Seixas), contudo, elegeu uma anistiada presidente. E agora enfrenta o desafio de provar que o "neomalufismo" não é crime e pode compensar. Se conseguirá só Deus sabe.

Jornalista, escritor, editorialista do Jornal da Tarde

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO