domingo, 22 de março de 2015

Opinião do dia – Marina Silva

A ideia do impeachment, sem que se tenha um fato que diga que há uma responsabilidade direta da presidente da República, não nos tira do caos. Pode aprofundá-lo. A instituição do impeachment, que é um mecanismo constitucional, é uma questão complexa. Não é porque este ou aquele grupo está insatisfeito que se deve recorrer a esta ferramenta. A tentativa das pessoas de querer voltar à normalidade, talvez com a mesma pressa que tiveram para escolher sem se ater a programa, sem se ater a quais eram os compromissos, não pode ser repetida na hora de reparar o erro. Não é dizer fora fulano ou beltrano. O maior objetivo deve ser o de acolher o Brasil. O Brasil, esse sim, está excluído.

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Marina Silva, ex-senadora e candidata a presidência da República nas eleições de 2014 pelo PSB, em entrevista. Jornal Valor Econômico, 20 de março de 2015.

Para 84%, presidente sabia de corrupção dentro da Petrobras

• 61% também acham que a petista deixava esquema operar, diz Datafolha

Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - De cada 10 brasileiros, 8 acreditam que a presidente Dilma Rousseff sabia da corrupção que acontecia na Petrobras, investigada pela força-tarefa da Operação Lava Jato. É o que mostra pesquisa Datafolha feita nos dias 16 e 17 em todo o país.

Também é majoritária a parcela dos que acreditam que a petista, além de ter conhecimento do esquema, deixava que ele operasse livremente. Do total de entrevistados, 61% acham que ela "deixou" que ocorressem os crimes. Outros 23% dizem que, apesar de saber, Dilma "não poderia fazer nada" para impedir.

Os resultados são parecidos entre os entrevistados de todas as divisões socioeconômica, faixas etárias e preferências partidárias, inclusive entre eleitores da petista.

No grupo dos que declararam voto em Dilma no segundo turno da eleição do ano passado, 74% acham que ela sabia do esquema --outros 19% acreditam que ela não tinha conhecimento e 8% não souberam responder.

Dos que votaram no senador tucano Aécio Neves (MG) para a Presidência, 94% têm convicção de que Dilma sabia da corrupção na Petrobras; 3% acham que ela não sabia; outros 3% não souberam responder à pergunta.

Petrobras
O Datafolha também investigou se os brasileiros acreditam que o esquema desbaratado pela Operação Lava Jato irá prejudicar a Petrobras, a maior empresa do país.

A maioria, 51%, acredita que a Petrobras será prejudicada "por muito tempo", e isso "coloca o futuro da empresa em risco".
Os que acreditam, em menor ou maior grau, que a petroleira foi prejudicada pelo escândalo somam 88%.

Apenas 6% acreditam que a Petrobras não será prejudicada pela Operação Lava Jato. Outros 7% não souberam ou não opinaram sobre a pergunta.

A pesquisa do Datafolha foi realizada com 2.842 entrevistas em 172 municípios, logo após as manifestações anti-Dilma do dia 15. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.

Convidados de Marta dão prazo a Dilma

• Na festa de aniversário da senadora, presentes falavam em 20 dias para a presidente apontar saídas da crise

• Prestes a deixar o PT, Marta recebeu o vice, Temer, o ex-presidente Sarney e o ministro Gilmar Mendes, do STF

Vera Magalhães, editora do Painel – Folha de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff tem 20 dias para romper o isolamento político, reestruturar seu governo e apontar caminhos para sair da crise econômica. Caso contrário, será difícil manter a governabilidade e evitar a escalada da insatisfação popular.

O diagnóstico e o ultimato foram repetidos, com pouca variação, durante a concorrida festa de 70 anos de Marta Suplicy, na sexta, em São Paulo. Além da comemoração, o evento teve um clima de "cerimônia do adeus" da senadora depois de 35 anos no PT.

Marta reuniu o vice-presidente, Michel Temer, o ex-presidente José Sarney, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e o ministro de Minas e Energia de Dilma, Eduardo Braga.

Nas rodas, eles discutiam cenários para o governo com senadores e deputados governistas e de oposição, advogados e empresários.

"Ela tem de 15 a 20 dias para sair da encruzilhada e apontar o caminho que seu governo vai seguir nos próximos três anos e 9 meses. Caso contrário, será difícil assegurar a governabilidade", dizia um dos envolvidos na articulação política atual.

O prazo coincide com a data da segunda onda de protestos, marcada para 12 de abril. Dilma terá de apresentar medidas mais concretas antes disso e pedir um "voto de confiança" à população, avaliava um. "Isso terá de ser feito sem tergiversar em assumir os erros", ponderava.

O expressivo quórum que Marta conseguiu reunir mostrou, no entender de vários, que há políticos conversando para tentar reconstruir pontes rompidas na crise.

A anfitriã circulou a noite toda entre as mesas tomadas por cerca de 300 pessoas no salão de festas em um prédio nos Jardins. Elegante em um vestido branco com corpete bordado em pedrarias e saia evasé do estilista Samuel Cirnansck e sem descer do salto agulha Louboutin altíssimo, Marta explicava a ausência de petistas entre os convidados.

Único petista presente, o senador Delcídio Amaral (MS) demonstrava certo constrangimento e procurava fazer graça com a situação: "O pessoal deve estar chegando". Marta disse que convidou a bancada, mas senadores diziam nos dias anteriores não terem sido chamados.

A ausência mais comentada foi a do ex-presidente Lula. "Não o convidei. Na última conversa que tivemos, disse a ele que iria buscar meu caminho. Lula é o maior estadista que este país tem, mas agora não faria sentido estar aqui", disse ela à Folha.

Marta repassou todas as etapas de seu afastamento em relação ao partido e a Dilma. Disse que, no início de 2014, viu com "clareza" que a presidente não teria condições de conduzir a economia e a política num novo mandato, o que a levou a tentar construir --inicialmente com aval discreto do próprio Lula-- um movimento pela troca de Dilma pelo antecessor.

Diante do malogro e agora com a crise, ela diz: "O PT acabou. Aquele partido que eu ajudei a fundar fazendo reuniões na minha casa, indo de porta em porta, em assembleias, ele não existe mais".

Reinserção no 'azul'
Na festa, o novo caminho de Marta ficou claro pela presença maciça do comando do PSB, sigla à qual ela se filiará. O vice-governador de São Paulo, Márcio França, o presidente da sigla, Carlos Siqueira, e o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, demonstravam entusiasmo com a candidatura de Marta à Prefeitura de São Paulo.

O ingresso num partido de oposição a Dilma e próximo ao PSDB-SP levou Marta a se aproximar dos tucanos. O governador Geraldo Alckmin foi convidado, mas pediu ao vice que o representasse.

Marta sabe que terá de se reinserir no eleitorado "azul" da cidade, ironicamente aquele composto pela classe social a que ela mesma sempre pertenceu e que era predominante na festa.

"Sei que haverá a necessidade de reconstruir relações. A maneira de fazer isso será explicar com clareza que, como governante, fiz uma opção clara pelos que mais precisam, e que ela é a correta para o conjunto da cidade."

Entre os convidados, críticas a Dilma rivalizavam com queixas dirigidas ao prefeito Fernando Haddad. Marta não hesitava em fazer suas próprias: "O governo dele é de uma incompetência total. Ele tenta copiar algumas marcas modernas da minha gestão, mas a periferia está totalmente abandonada".

Em mais uma demonstração da capacidade do PMDB de transitar entre o PT e a oposição, também estava lá o secretário de Educação e provável vice de Haddad na chapa à reeleição, Gabriel Chalita.

O símbolo maior da deterioração da confiança em Dilma e Haddad entre o público que foi cantar parabéns para Marta foi o cabeleireiro Celso Kamura, que cuida das madeixas presidenciais desde 2010, levado pelas mãos da própria Marta --a quem trata como uma diva.

Questionado sobre o momento atual da presidente, Kamura fecha o semblante e mede as palavras. Diz que ouve cada vez mais reclamações de suas clientes e deixa claro que se afastou da presidente nos últimos tempos.

"Antes eu chegava lá, entregava uma 'Caras' para ela, conversava, trocava ideias. Agora eu apenas entrego a 'Caras'", disse.

Aécio tentará aproximação com ativistas antigoverno

• Tucano quer interlocução com grupos que organizaram protestos do dia 15

• Tarefa pode ser difícil, já que movimentos contrários à presidente tentam se desvencilhar de partidos políticos

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), avisou a aliados que vai começar a trabalhar para aproximar institucionalmente seu partido dos movimentos que lideram a organização de atos contra o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

Outras siglas do campo da oposição já atuam nesse sentido, como o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SDD-SP), e o PPS, de Roberto Freire (SP).

A ideia de Aécio é lançar mão de interlocutores naturais para fazer a aproximação. Mulher e filha do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), por exemplo, já estavam engajadas em diversas frentes de organização do ato do último dia 15 em São Paulo.

Ele deve aproveitar ainda a ligação pessoal que tem com artistas e personalidades que cederam suas imagens e gravaram mensagens de convocação para os atos, como o empresário Marcos Buaiz.

A proposta é que esses nomes façam uma ponte, marcando encontros reservados entre Aécio e os integrantes dos movimentos.

A execução da tarefa pode não ser fácil. O Movimento Brasil Livre (MBL) critica abertamente a postura dos tucanos, atribui ao partido uma oposição "frouxa" ao governo petista e rechaça qualquer estreitamento com a sigla.

O Vem Pra Rua, que chegou a ajudar o PSDB a organizar atos pró-Aécio na reta final da campanha presidencial e manteve, por algum tempo, diálogo com integrantes do tucanato, agora trabalha para se desvencilhar da sigla.

O grupo tem divulgado textos em que se afirma suprapartidário e vídeos em que nega qualquer vínculo formal com o PSDB. "Nós não temos intenção de estabelecer conexões com nenhum partido político", disse o porta-voz do grupo, Rogério Chequer.

A cobrança por uma postura mais ativa de Aécio na organização dos protestos contra Dilma tem vindo de dentro da oposição.

O mineiro foi criticado por integrantes de sua sigla e de legendas que o apoiaram em 2014 por não ter ido às ruas no último dia 15 --apenas apareceu na janela de seu apartamento vestindo uma camisa da seleção, visual comum nas manifestações.

Presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força, por exemplo, levou carros da Força Sindical para a avenida Paulista e, após a manifestação, disse a Aécio que, se todos eles não se mexessem juntos, seriam "engolidos pela indignação das pessoas ao lado do PT".

"Ninguém faz mais distinção de nada. Estão vaiando até minuto de silêncio", concluiu Paulinho --que tentou discursar no carro de som que havia levado e foi hostilizado pelo público no dia 15.

Aécio defendeu sua ausência dizendo que, naquele momento, era importante que o movimento fosse reconhecido como espontâneo. "Eu não podia engrossar esse coro de que estamos buscando um terceiro turno", avaliou.

Agora, no entanto, entende que é hora de "haver uma aproximação maior nossa com esses movimentos".

Pagamentos a Dirceu eram propina, dizem empreiteiras

• Segundo executivos, valores eram descontados de comissões devidas ao PT

• Empresas investigadas pagaram R$ 9,5 milhões para consultoria do ex-ministro; petista diz que prestou serviços

Flávio Ferreira - Folha de S. Paulo

CURITIBA - Um dos empreiteiros acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras afirmou a investigadores da Operação Lava Jato que pagamentos feitos à consultoria do ex-ministro José Dirceu eram parte da propina cobrada pelo esquema.

Atualmente preso em Curitiba, o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, disse que os pagamentos a Dirceu eram descontados das comissões que sua empresa devia ao esquema, que correspondiam a 2% do valor de seus contratos na Petrobras.

Um representante de outra empreiteira sob suspeita, a Camargo Corrêa, afirmou aos investigadores que a empresa decidiu contratar os serviços de Dirceu por temer que uma recusa prejudicasse seus negócios com a Petrobras.

Os relatos dos empreiteiros, feitos durante reuniões com investigadores da Operação Lava Jato e não em depoimentos formais, chamaram atenção por revelar detalhes sobre a maneira como o ex-ministro se aproximou dos fornecedores da Petrobras.

Homem forte do início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu caiu em meio ao escândalo do mensalão e foi condenado a dez anos de prisão no julgamento do caso. Ele hoje cumpre pena de prisão domiciliar, em Brasília.

Detalhes sobre os negócios do ex-ministro como consultor foram revelados na semana passada, quando o juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato na Justiça Federal, divulgou um relatório da Receita Federal sobre a consultoria de Dirceu.
O ex-ministro ganhou como consultor R$ 29,2 milhões entre 2006 e 2013. Cerca de um terço do dinheiro entrou na sua conta no período em que ele estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal por seu envolvimento com o mensalão, entre 2012 e 2013.

Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram R$ 9,5 milhões pelos serviços da consultoria de Dirceu, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu --o que ele nega-- e preso em Curitiba há uma semana.

Os empreiteiros ouvidos pelos investigadores da Lava Jato disseram que Dirceu procurava empresas que tinham contratos na Petrobras para oferecer seus serviços sem fazer menção explícita às comissões do esquema na estatal.

Segundo detalhou Pessoa, após a contratação de Dirceu, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, autorizava que os valores pagos à consultoria do ex-ministro fossem descontados da propina derivada dos negócios com a diretoria de Serviços.

Os executivos contaram que Dirceu chegou a fazer alguns contatos em favor das empreiteiras, mas disseram considerar supervalorizados os serviços pelos quais pagaram. O ex-ministro afirma que sua consultoria prestou serviços legalmente e nega que tivesse conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras.

Ricardo Pessoa, o presidente da UTC, negociou com os procuradores da Lava Jato um acordo para colaborar com as investigações em troca de redução da sua pena, mas não conseguiu chegar a um entendimento com eles.

Dois executivos da Camargo Corrêa presos em Curitiba, o presidente da empreiteira, Dalton Avancini, e o vice-presidente da área de finanças, Eduardo Leite, conseguiram um acordo com os procuradores e já prestaram vários depoimentos formalmente.

Os investigadores da Lava Jato acreditam ter localizado um vínculo entre Dirceu e o esquema de corrupção ao encontrar entre os clientes do ex-ministro a Jamp Engenharia, do consultor Milton Pascowitch, apontado como um dos operadores que teria distribuído propina para o PT.

Colaboraram Graciliano Rocha e Lucas Ferraz, de São Paulo

Congresso rebelado aproveita crise do governo para impor agenda política

• Enquanto a presidente Dilma Rousseff amarga baixos índices de popularidade em meio a manifestações de grande porte como as de domingo passado, parlamentares comandados pelo PMDB colocam na pauta projetos de seu interesse

Daniel Carvalho e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

A crise que levou Dilma Rousseff a atingir o pior índice de popularidade para um presidente da República desde o que levou à queda de Fernando Collor de Mello em 1992 acabou por inverter uma das principais características do presidencialismo brasileiro: o poder sobre a agenda política do País.

Se antes cabia ao Executivo impor os temas de debate, o que gerava reclamações de parlamentares de se tornarem reféns do Palácio do Planalto, a atual conjuntura faz com que, no mandato da petista, o Congresso exerça esse protagonismo.

O ápice desse movimento foi visto na semana passada, quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou em plenário a demissão do ministro da Educação, Cid Gomes (PROS), após um bate-boca com parlamentares em sessão em que ele fora convocado a explicar declarações de que no Congresso há “400 achacadores”.

Mas é na agenda em gestação no Congresso, encabeçada pelo PMDB, que se constata o fortalecimento do Legislativo, no que já é chamado no meio político de “parlamentarismo branco” e “presidencialismo congressual”.

Enquanto o governo se concentra na aprovação de medidas do ajuste fiscal, os parlamentares querem aprovar em segundo turno, por exemplo, a PEC da Bengala, que eleva de 70 para 75 anos a idade para a aposentadoria compulsória dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de tribunais superiores e dos componentes do Tribunal de Contas da União (TCU). Com a aprovação da PEC, Dilma deixará de indicar cinco ministros do Supremo.

A Câmara também criou comissões especiais para discutir temas delicados ao governo. Uma delas é a que deverá rever o pacto federativo. O objetivo será, ao final, retirar recursos da União e redistribuí-los a Estados e municípios – justamente onde se concentram as bases parlamentares. Outra tentará elaborar proposta para trazer ao Congresso a responsabilidade da demarcação de terras indígenas, função do Executivo. Há também uma comissão para reformular a Lei de Licitações, tema que atinge diretamente todos os contratos do Executivo.

Inversão. Cunha minimiza a reviravolta que vem promovendo desde que foi eleito presidente da Câmara, em 1.º de fevereiro. “Não acho que tenha um protagonismo do Legislativo. Ele está exercendo seu papel de atuar com independência e tocando as pautas que tem que tocar”, diz Cunha, que vê seu poder aumentar mesmo tendo se tornado alvo de um dos inquéritos que apuram o envolvimento de políticos com o esquema de corrupção na Petrobrás.

“O Congresso vinha muito submisso e modificou esse tipo de relação. É evidente que a fragilidade do Executivo contribui para isso”, diz o líder do PMDB na Casa, Leonardo Picciani (RJ), aliado de Eduardo Cunha.

Ao analisar o cenário atual, parlamentares dizem que o Legislativo aproveitou a fragilidade do governo. Reservadamente, eles apontam uma série de fatores para terem superado o Executivo: conjuntura econômica e política desfavorável, interlocução frágil, base desintegrada e reações atabalhoadas do governo.

Do outro lado, o PMDB se vê fortalecido por ter a segunda maior bancada, capaz de impor derrotas ao governo e com seu poder de barganha potencializado pelo comando das duas Casas – Renan Calheiros (PMDB-AL) comanda o Senado. “O poder não aceita vácuo. Se o Executivo deixa esse espaço, alguém tem que entrar”, diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Para a deputada Jandira Feghali (RJ), líder do PC do B na Câmara e uma das mais aguerridas defensoras do governo no Congresso, o Legislativo vive um processo político decorrente do acirramento da disputa eleitoral de 2014. “O processo de polarização veio da eleição para o Congresso. A oposição se engancha em tudo que prejudica o governo e rejeita qualquer tipo de mediação”, diz a deputada.

“Dilma está de joelhos diante de um grupo que comanda o Congresso hoje. Enquanto isso, a oposição se diverte”, diz o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

Deputado mais antigo da Casa, com 11 mandatos, Miro Teixeira (PROS-RJ) reconhece a mudança. “O governo deixou de influenciar o debate nacional, embora continue sendo o principal foco de atenção.”

O decano diz só ter visto cenário semelhante em 1988, no processo constituinte, sob comando de Ulysses Guimarães. “Mas, naquele ano, era um protagonismo mais qualificado pela figura dele (Ulysses) e pela agenda positiva.”

Roberto Freire toma posse na Câmara dos Deputados e fala em risco de crise institucional

Foto: Tuca Pinheiro

Por: Assessoria PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), tomou posse como deputado federal, nesta sexta-feira (20), no plenário da Câmara. Essa será a oitava legislatura a qual o parlamentar irá atuar no Congresso Nacional. Freire falou sobre os desafios do Parlamento brasileiro nos próximos quatro anos e o protagonismo do partido no cenário político.

Roberto Freire afirmou que a grave crise política traz grandes desafios para o Congresso. Ele destacou as dificuldades enfrentadas pelo governo do PT como o desgaste social, a desarticulação política e a crise econômica. O parlamentar alertou que a situação pode desembocar numa séria crise institucional.

“Assumindo o mandato e muito provavelmente teremos tempos muito difíceis. Não do ponto de vista pessoal, mas do ponto de vista político. Não apenas como deputado Roberto Freire, mas como qualquer político no Brasil diante de um governo que enfrenta um processo de desgaste muito grande e uma crise econômica grave na qual quem paga a conta é a sociedade brasileira”, disse.

O deputado ressaltou que a situação faz com que a população levante bandeiras como a do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que enfrenta uma crise de valores. “Em cima dessa crise econômica e política temos a crise de valores, com todos esses escândalos os quais os governos do PT são pródigos. Escândalos de corrupção que resultam nesse momento que vivemos como a do petrolão, o maior escândalo do Brasil e um dos maiores dos governos democráticos que existem na história do planeta. É próprio de uma organização criminosa que assaltou o estado, como bem disse o ministro Celso de Mello no julgamento do mensalão pelo STF”, afirmou.

Freire afirmou que os problemas não permitirão que o Congresso Nacional tenha uma pauta tradicional de uma atividade parlamentar voltada não apenas aos interesses da nação como também dos estados e municípios. Para ele, a sociedade brasileira exige uma resposta do Legislativo para resolver a crise enfrentada por Dilma e pelo PT. Segundo o deputado, a situação atual é similar à que levou ao processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

“Basta ver que a sociedade brasileira está se mobilizando muito e claramente numa tentativa de resolver essa crise que passa o governo Dilma. Em suas devidas proporções, antes do processo de impeachment, Collor viveu uma crise econômica, política e de valores que resultou na insatisfação popular e consequentemente no seu processo de cassação. Não que queiramos que o que ocorreu se repita. Até mesmo porque a história nos ensina, ela não se repete, mas há elementos importantes que precisamos conhecer para não cometermos os mesmos erros. Essa história da crise institucional é importante conhecermos para não cometermos erros que prejudiquem a sociedade brasileira”, defendeu.

O parlamentar falou sobre o protagonismo do PPS no atual cenário político e lembrou que o partido possui uma postura firme na oposição. Para ele, a atuação da legenda lhe dá credibilidade junto à sociedade. “Que ninguém coloque em dúvida: é um partido pequeno com uma dimensão política bem maior. Isso é um dado que precisamos sempre levar em conta para fazer valer essa condição e para que possamos servir de exemplo para outras forças oposicionistas”, disse.

País vive um apagão de lideranças, diz cientista político

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O País atravessa uma de suas maiores crises no âmbito político, econômico e social e as manifestações de domingo, 15, que levaram uma multidão às ruas de todo o Brasil contra a gestão do PT, a presidente Dilma Rousseff e o escândalo na Petrobras, são um reflexo do descontentamento e da indignação das pessoas.

Apesar de legítimas, as manifestações não devem ter força suficiente, neste momento, para provocar mudanças significativas nos rumos do País, especialmente porque Dilma já deixou patente sua deficiência para comandar este processo, avalia o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis. Em paralelo a isso, o especialista aponta que o País vive praticamente um apagão em termos de lideranças políticas que possam conduzir o barco neste momento de caos e recolocar a nação na rota do crescimento.

Na avaliação de Wanderley, o clima nacional piorou após a reeleição de Dilma. "Vivemos uma situação inédita, com desdobramentos pós-eleições onde o ódio, a animosidade e a frustração só crescem", diz o cientista político. Para ele, o crescimento da insatisfação com os rumos do País tende a aumentar na medida em que o governo Dilma está parado, desorientado e a crise, em todos os âmbitos, crescendo cada vez mais.

"Vejo com perplexidade este cenário e o mais grave é que não temos lideranças que possam cumprir o papel efetivo de ajudar a tirar o Brasil desta enorme crise. Nem mesmo os líderes da oposição estão cumprindo esta função", diz, destacando que mesmo no maior partido de oposição, o PSDB, não consegue vislumbrar este papel. Ele cita, por exemplo, que considerou "infeliz" a frase do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) que prefere ver Dilma "sangrar" nos próximos quatro anos a afastá-la do cargo. Ao falar do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que disputou o segundo turno das eleições presidenciais, o cientista político diz que ele tem sido ''inepto, dúbio e oscilante".

Para Fábio Wanderley, um dos caminhos que poderiam apontar para "a luz no fim do túnel desta crise" seria a tentativa de entendimento entre as duas maiores lideranças políticas do País, os ex-presidentes da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Seria positivo e consistente para o País se essas duas lideranças assumissem, de alguma forma, um papel de protagonismo no cenário de crise que estamos vivendo."

Marta reúne sua nova turma da política

• Nomes do PMDB e da oposição participaram de festa da senadora, que anunciou filiação ao PSB

Ricardo Galhardo, Eliane Cantanhêde, Thais Arbex - O Estado de S. Paulo

Em outubro de 2002, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) ajudou a organizar jantar de apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em um apartamento de prédio no estilo neoclássico no coração dos Jardins, bairro da zona sul da capital paulista. O mesmo edifício foi palco, na última sexta-feira, do divórcio da ex-prefeita e do PT. Na sua festa de 70 anos de aniversário, na qual a ex-ministra anunciou filiação ao PSB, a ausência mais notada foi justamente a de ex-companheiros petistas. O único do partido a comparecer foi o senador Delcídio Amaral (MS), “cristão novo” na legenda e com origens no DEM.

Além da cúpula do PSB, passaram pelo salão de festas do prédio onde mora o empresário Márcio Toledo, namorado da senadora, líderes de PMDB, PPS, PROS, PDT, PTB, DEM, PP e outras legendas menores. São potenciais aliados em eventual candidatura de Marta à prefeitura de São Paulo em 2016, o próximo passo que se prevê da ex-ministra após deixar o PT, possivelmente em abril.

O PSDB faltou, embora Marta tenha convidado o governador Geraldo Alckmin e todo seu secretariado. Os únicos tucanos que compareceram foram o embaixador Rubens Barbosa e o ex-presidente da legenda em São Paulo José Henrique Reis Lobo.

Os jantares e festas organizados por Marta sempre tiveram forte simbolismo político e foram um trunfo do PT por anos. A habilidade da senadora em reunir pessoas de universos diferentes para, entre drinks e música, construir pontes ajudou a eleger Lula e pavimentar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência. Desta vez, a festa serviu para ela apresentar sua nova turma.

Os convidados mais celebrados foram o vice-presidente da República, Michel Temer, e o ex-presidente José Sarney, ambos do PMDB, partido ao qual Toledo é filiado.

Sarney, que saiu de Brasília especialmente para a festa, demonstrava preocupação com o cenário político. “Como você está vendo o quadro?”, perguntou ao presidente do PPS, Roberto Freire. “Este governo não tem capacidade para se recuperar”, respondeu o pernambucano.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes disse em uma roda que não existe precedente no Tribunal Superior Eleitoral sobre senadores que tenham perdido o mandato por mudar de partido. “Ela só pode perder o mandato se o PT pedir o cargo”, avaliou. Marta tem mandato de senadora até 2019.

Às gargalhadas, o presidente do PROS, Eurípedes Júnior, comentava o bate-boca entre o colega de partido Cid Gomes e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que resultou na demissão do ex-ministro da Educação, durante a semana. Para ele, Gomes não foi punido pois agiu de “caso pensado” e teria avisado Dilma de que partiria para o confronto com Cunha.

Outro que circulava sorridente era o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. De mesa em mesa, ele mostrava um ‘meme’ que circula nas redes sociais no qual aparece sorrindo com a frase “saiu a lista do Janot” - uma referência ao fato de advogados famosos como ele lucrarem com a defesa de políticos investigados pelo STF a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Secretário estadual de Habitação, Rodrigo Garcia, do DEM, parecia deslocado. Foi cumprimentado por Gabriel Chalita, secretário municipal de Educação, que o parabenizou pela nomeação.

A anfitriã serviu estrogonofe de camarão e picadinho de filé, seu prato preferido, acompanhados de uísque 12 anos, champanhe e vinho tinto. Uma banda tocou de músicas românticas aos populares Wando e Tim Maia. O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues tomou o microfone e cantou “La Vie en Rose”.

Quando Temer e Sarney deixaram a festa, Marta fez questão de encher a mão da mulher do vice-presidente, Marcela, de bem-casados e macarons. “Leva bastante!”, disse.

Para 'The New York Times', voz do Brasil virou 'sussurro'

• Editorial do jornal critica governo da presidente dilma e posição do país no cenário internacional

- O Globo

Editorial do jornal "The New York Times" publicado ontem afirmou que a voz do Brasil no cenário internacional se transformou em um "sussurro", com o governo da presidente Dilma Rousseff. O jornal ainda sugere que o país aumente sua atuação no exterior. Para a publicação, "enquanto as outras três grandes economias emergentes, China, Rússia e Índia, perseguem intensamente seus interesses na política externa, sob a batuta de Dilma, a voz do Brasil na arena internacional foi pouco mais que um sussurro."

Ainda no editorial, o "The New York Times" cita os escândalos de corrupção na Petrobras e as manifestações ocorridas no dia 15 contra o governo e a corrupção, pela democracia e, em parte, pelo pedido de impeachment de Dilma. Como solução para a crise, o jornal diz que a presidente deveria "olhar para fora" do país, para fortalecer o papel do Brasil no mercado externo. No cenário internacional, o país deveria, ainda segundo o jornal, ampliar os laços comerciais e as relações diplomáticas com os Estados Unidos.

O editorial lembra que as relações entre Brasil e Estados Unidos ficaram comprometidas em 2013, quando o ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA), Edward Snowden, revelou que Dilma havia sido alvo de espionagem do governo americano.

Para a publicação, o Brasil deveria, também, intermediar a abertura de diálogo entre os governos dos EUA e Venezuela, além de exercer um "papel construtivo na evolução política e econômica" de Cuba.

Crises sucessivas travam agenda positiva do governo

• No segundo mandato, Dilma ainda não conseguiu implantar ações prometidas na campanha à reeleição

Catarina Alencastro e Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA - Encurralada por uma dura conjunção de crises política, econômica e de popularidade, a presidente Dilma Rousseff ainda não conseguiu deslanchar neste início de segundo mandato ações e programas capazes de reverter a onda negativa que se instalou desde janeiro no Palácio do Planalto. Grande parte das promessas anunciadas depois dos protestos de 2013 e na campanha à reeleição segue circunscrita à burocracia administrativa, deixando Dilma sem recursos para gerar fatos positivos para seu governo. Essa semana, entretanto, ela retomou viagens e solenidades no Planalto, dando mostras de que pretende reagir.

Em novembro do ano passado, o Planalto sediou um grande evento com representantes da indústria e criou oito grupos de trabalho para fechar um pacto pela competitividade do Brasil. Os grupos tinham até a primeira semana de dezembro para apresentar propostas nas áreas de rodovias e ferrovias; desburocratização e custo do investimento; comércio exterior; energia; inovação; portos; compras governamentais e mobilidade urbana. O governo fecharia um documento e anunciaria o tal pacto. Passados quatro meses, os empresários envolvidos na iniciativa ainda aguardam uma convocação do governo para nova reunião.

Para o diretor de Políticas e Estratégias da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, o atraso no cronograma se deve, entre outras coisas, ao agravamento da crise econômica e política. Ele pondera que desde que o governo convocou a indústria para trabalhar na costura do pacto, novos ministros assumiram, retardando os trabalhos.

- Se você não tiver método e uma forma de trabalho centrada em objetivos, isso tende a perder importância e as coisas acabam não saindo. O momento delicado da economia exige medidas de modernização do ambiente de negócios. É chegada a hora de se formar uma coalização de forças para avançar numa reforma que traga mais competitividade e oportunidades de crescimento para a economia - diz Fernandes.

Reforma política: muito debate e pouca decisão

• Medidas pontuais como o fim de coligações proporcionais e redução de legendas se arrastam sem consenso

Simone Iglesias, Carolina Brígido e Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - Há mais de uma década o Congresso Nacional discute a necessidade de uma ampla reforma político-eleitoral, mas até agora muito pouco virou lei. A maioria dos projetos que não atendem a interesses circunstanciais dos próprios parlamentares acaba engavetada pelo difícil consenso e as pressões de todo tipo num Legislativo cada vez mais dividido com a proliferação de partidos. Muitas medidas capazes de responder aos sinais de esgotamento do sistema político, como a proibição de coligações em eleições proporcionais (vereadores e deputados) ou a cláusula de desempenho de partidos, poderiam ser aprovadas pelo Congresso, sem a necessidade de plebiscitos, como tem sido defendido pelo PT para mobilizar sua militância.

O fim das coligações proporcionais, que normalmente não são programáticas, contribuiria, por exemplo, para acabar com o chamado "efeito Tiririca", que é a possibilidade de o eleitor votar em uma pessoa e eleger outra. Em 2014, Tiririca (PR-SP) recebeu 1 milhão de votos e ajudou a eleger outros dois deputados que, sem os votos dele turbinando o quociente eleitoral da coligação, não chegariam à Câmara. No ano passado, Celso Russomano (PRB-SP) foi o deputado mais votado do país, com 1,5 milhão de votos, e viabilizou a eleição de outros quatro. Um deles com apenas 22 mil votos. Muito discutido, o fim dessas coligações foi aprovado apenas em primeiro turno no Senado.

Legendas não param de surgir
Outra medida que desestimularia as legendas de aluguel, a chamada cláusula de barreira, chegou a ser aprovada pelo Congresso em 1995, mas antes de entrar em vigor, foi derrubada em 2006 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O mecanismo condicionava o acesso ao horário gratuito de rádio e TV e aos recursos do Fundo Partidário ao desempenho do partido nas urnas.

Hoje, existem formalmente 32 legendas, sendo 28 com representação no Congresso. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apenas sete dessas 28 legendas atingiram 5% dos votos válidos: PT, PSDB, PMDB, PSB, PP, PSD e PR. Se cláusula estivesse em vigor, ficariam de fora partidos médios e históricos, como PTB, DEM, PDT, e mais ideológicos, como PV e PSOL. O presidente do TSE, José Dias Toffoli, defende uma cláusula de desempenho para barrar a proliferação de partidos. Na última legislatura, o Congresso tinha 22 partidos. Agora, são 28.

Na Câmara e no Senado, existem mais de 200 projetos e de emendas constitucionais para mudar regras eleitorais tramitando. As propostas dormem nas gavetas ou não avançam nas comissões por divergências entre os partidos, por interferências do Judiciário ou por puro corporativismo. Quando alguma medida avança, por trás estão interesses contrariados dos maiores partidos. Exemplo disso ocorreu na semana passada, quando o Senado aprovou projeto que impede a fusão entre partidos com menos de cinco anos de fundação e que dificulta a obtenção de assinaturas para a criação de um novo partido político. Filiados a um partido não podem subscrever a criação de uma nova legenda. Medidas importantes se não viessem na esteira de uma tentativa do PSD de Gilberto Kassab, insuflada pelo Palácio do Planalto, de criar um novo partido, o PL, fundindo o PSD e abrindo uma janela de filiação de deputados eleitos, para enfraquecer o PMDB no Congresso.

Com a dificuldade dos deputados e senadores se entenderem, o STF acaba sendo acionado por movimentos da sociedade civil organizada para arbitrar lacunas na legislação eleitoral.

Tema que mais divide, financiamento eleitoral entrou na pauta do STF

• Nem a definição de um teto único de gastos tem consenso no congresso

- O Globo

BRASÍLIA - No debate sem fim da reforma política, o principal obstáculo é a falta entendimento entre os grandes partidos, especialmente na Câmara dos Deputados. Os temas que mais dividem é o sistema de votação para o Legislativo e o financiamento das campanhas eleitorais.

A Câmara chegou a levar a plenário uma proposta de reforma política que trocaria o voto no candidato pelo da legenda para as eleições parlamentares, mas a Casa rejeitou e a reforma foi novamente engavetada.

No campo do financiamento, o estabelecimento de um teto para os gastos das campanhas já foi considerado um avanço, mas ele é estabelecido pelos próprios partidos. Para funcionar de fato, uma parte dos parlamentares defende que seria necessário estabelecer um teto único a ser obedecido por todos os candidatos, independentemente do partido. O limite variaria de acordo com o cargo em disputa. Também poderiam ser considerados tetos diferentes de acordo com a realidade de cada estado.

- A cada quatro anos as eleições se inflacionam. Os que conseguem ser eleitos com poucos gastos não chegam a 10% do Congresso. Para os cargos executivos de cidades médias e grandes, capitais e governo federal, não há registro de eleição com poucos recursos - diz o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ). - É de alto interesse dos cidadãos honestos que se candidatam e do eleitorado que haja um teto austero, rigoroso. Teto de campanha é elementar e nem isso passou.

Ação contesta doações
A OAB entrou com uma ação no STF questionando a doação de empresas a candidatos e partidos em valores correspondentes a até 2% do faturamento bruto do ano anterior ao da eleição. A ação também quer derrubar o dispositivo que autoriza pessoas físicas a doarem até 10% de seus rendimentos. Para a OAB, o TSE precisa limitar um valor como teto das contribuições das pessoas, não um percentual.

A mudança representaria redução drástica nas receitas das campanhas, já que as pessoas jurídicas são as maiores doadoras atualmente. O julgamento desta ação está parado no STF desde abril do ano passado. Ele foi interrompido por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, que até hoje não devolveu o processo ao plenário. Na ocasião, já havia seis votos contra esse tipo de doação e um a favor. Ontem, Mendes criticou a ação da OAB. Segundo o ministro, esse sistema estaria sujeito a fraudes, porque bastaria as empresas darem dinheiro para que pessoas físicas fizessem as doações.

- A proposta que veio para cá declara inconstitucional a doação de pessoas jurídicas, fixa um teto e deixa todo mundo contribuir da mesma forma. Significa que o sujeito que ganha Bolsa Família e o empresário devem contribuir com o mesmo valor. Isso tem nome. Isso é encomendar já a lavagem de dinheiro. Significa dizer que nós temos o dinheiro escondido e vamos distribuir para quem tem Bolsa Família. É isso que a gente quer? Essa ação já tem uma fraude embutida nela - protestou o ministro, enfático. -Não sei como essa gente teve coragem de propor isso. Um pouco de respeito à inteligência faria bem a quem formulou essa proposta. Não nos façam de bobos!

Já houve outras tentativas de reforma política no Judiciário. Em 2002, o TSE instituiu a verticalização, que obrigava a repetição das alianças federais nas coligações regionais. Em 2006, o STF confirmou, mas o Congresso mudou a regra. Em 2014, o TSE alterou o número de vagas nas bancadas da Câmara de 13 estados: oito perderiam parlamentares e cinco ganhariam. Logo depois, o STF derrubou a decisão. Entendeu que não seria competência da corte eleitoral definir o tamanho das bancadas.

Fracassa a estratégia do Planalto de reduzir a influência do PMDB

• Demissão de Cid piorou a relação de Dilma com a base, que já era ruim

Chico de Gois e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA - Como no primeiro governo Lula, a reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff realizou no fim do ano passado, após sua reeleição, procurou agregar novas forças políticas ao seu redor, numa tentativa de enfraquecer o PMDB. Dilma abriu espaço em sua equipe para políticos calejados na lida diária do poder, como o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PROS) e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD).

Ambos se tornaram ministros de pastas robustas: Cid da Educação; e Kassab das Cidades. No entanto, eles não conseguiram demonstrar força política suficiente para que a presidente conseguisse reduzir a pressão do PMDB.

Além da estratégia do Planalto ter fracassado, a saída de Cid Gomes do ministério, depois de acusar publicamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ser um dos 400 achacadores a que se referiu numa palestra em Belém, pôs ainda mais combustível na relação ruim que Dilma tem com a base aliada.

O PSD e o PROS, somados, têm 46 deputados (34 do PSD e 12 do PROS) e quatro senadores (todos do PSD). Na Câmara, as duas legendas até fazem frente ao PMDB, com 66 parlamentares. No Senado, os peemedebistas goleiam em número e articulação, com uma bancada de 18 integrantes.

No entanto, os números favoráveis na Câmara não estão ajudando o governo. Nas últimas semanas, houve votações de vetos importantes para a presidente Dilma, entre eles, o da correção da tabela do Imposto de Renda. O partido de Kassab se comprometeu a votar a favor da manutenção do veto. Mas, na hora em que o placar do plenário foi exibido, o PSD estava rachado ao meio: dos 32 deputados que votaram, 16 foram contra o governo.

No PROS, os números nesta votação foram bem mais favoráveis ao governo: oito dos dez deputados o apoiaram.

Sem a presença de Cid Gomes no governo, a tendência é que os deputados do PROS assumam uma posição de independência. O partido, criado em 2013, está desidratado, tem pouca força política e vive uma briga interna. Os poucos deputados se dividem em três grupos muito bem definidos no dia a dia das negociações: um bem ligado a Cid; um segundo que atua em parceria com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); e um terceiro, independente.

Kassab, por sua vez, chegou ao ministério com a ideia - apoiada pelo PT - de criar um novo partido, o PL, e uni-lo ao PSD, formando uma grande bancada para apoiar o governo.

No Rio, 70% dos prefeitos são alvo de investigação

Dos 92 prefeitos do estado, 70% são alvo de investigação

• Dos 92 chefes do Executivo municipal, 65 respondem a inquérito ou ações

• Improbidade administrativa é a principal acusação. Treze já foram cassados, mas estão recorrendo

Elenilce Bottari, Selma Schmidt e Sérgio Ramalho - O Globo

Na última terça-feira, a 21ª Câmara Cível proibiu o prefeito de Búzios, André Granado, de fazer qualquer nova contratação de servidor. A medida, pedida pelo Ministério Público, é uma tentativa de frear a série de desmandos que levou o chefe do Executivo a responder a dez ações por improbidade administrativa e a duas penais, que já resultaram em uma condenação. Para o MP, trata-se de mais um caso de uma prática antiga: mau uso de verba pública. O problema se repete no caso de outros 64 prefeitos eleitos em 2012 (ou seja, 70% dos 92 existentes no estado), que também são investigados.

Um levantamento feito nos tribunais Superior Eleitoral e de Justiça do Rio, nos ministérios públicos Federal e do estado e na Polícia Federal revela ainda que 50 desses prefeitos alternam a cadeira no gabinete com o banco dos réus, sendo que em 13 casos já houve condenações. Juntos, 65 chefes do Executivo respondem a pelo menos 118 ações por improbidade administrativa, dez penais e 86 inquéritos. Treze já foram cassados, mas estão recorrendo.

Durante três meses, repórteres do GLOBO analisaram cerca de três mil páginas de documentos sobre contratações irregulares em serviços e obras, superfaturamentos e denúncias de desvios. Nesse período, dois prefeitos foram cassados (Helil Cardozo, de Itaboraí; e Marcos Antônio da Silva Toledo, o Taninho, de Natividade) e dois foram acusados de enriquecimento ilícito (Luciano Mota, de Itaguaí, e Arlei Rosa, de Teresópolis).

Na quarta-feira, o prefeito de São Sebastião do Alto, Mauro Henrique Silva Queiroz Chagas, foi preso em flagrante quando recebia R$ 100 mil de um empresário, que teria sido obrigado a pagar propina por causa de um contrato com o município. A prisão de Mauro, que estava há 11 meses no cargo, foi o desfecho extremo de uma rotina de irregularidades vivida hoje na maior parte das cidades do estado. Ele era o vice na chapa de Carmod Barbosa, que ganhou as últimas eleições, mas foi cassado em abril do ano passado - responde a três processos por improbidade, devido a contratos considerados ilegais.

Em Búzios, Granado, antes de assumir a cadeira do chefe do Executivo, foi secretário de Saúde na gestão de Toninho Branco. Foi nesse cargo que ele e o então prefeito contrataram, sem licitação, os serviços da Barnato Comércio de Peças Ltda ME (que recebeu R$ 557.885,04), da Lagos Tecno Car Som e Acessórios Ltda e da DJ Felipe Mecânica ME, para manutenção dos veículos da Secretaria de Saúde. De acordo com as notas fiscais, os automóveis chegavam a ser lavados duas vezes por dia na Barnato, sediada em Rio Bonito, a mais de 90 quilômetros de Búzios.

R$ 250 por um único parafuso
Além disso, a prefeitura pagava R$ 250 pela reposição de um único parafuso. O absurdo levou a Câmara a instaurar a CPI do Parafuso, que concluiu pela responsabilidade de Branco e Granado, enviando o caso ao MP. A Justiça concluiu que as notas eram frias e que os serviços, além de contratados ilegalmente, não foram de fato realizados. Em dezembro passado, Branco e Granado foram condenados a devolver R$ 808.864,23 aos cofres públicos. Em sua sentença, o juiz Marcelo Chaves Villas, da 2ª Vara da Comarca de Búzios, lamentou a situação do município, lembrando que, além do então chefe do Executivo, já havia também condenado os dois prefeitos anteriores, também por improbidade administrativa.

Para não ser cassado, o atual prefeito recorreu da sentença para aguardar o julgamento do recurso ainda no cargo. Ele também está sendo investigado pela contratação de uma empresa para administrar o serviço de vagas rotativas da cidade.

- A empresa não tem lastro para um contrato de valor tão alto, com concessão de dez anos. Por isso, abrimos um inquérito civil para investigar o caso - explicou a promotora Marcela do Amaral Barreto, da 2ª Promotoria de Tutela Coletiva de Cabo Frio.

Ela também atua em três outras ações por improbidade em que Granado e o ex-prefeito são acusados de fechar contratos, sem licitação, para a contratação de ONGs que teriam recebido R$ 13 milhões para administrar o único posto de saúde da região.

Além de prefeito, Granado é dono da Búzios Diagnósticos, de serviços de saúde, inaugurada em 2002. A empresa prestava serviços à prefeitura. Ele é ainda proprietário de um casarão no Condomínio Atlântico, na Praia da Ferradura, onde o município faz obras de pavimentação. A rua onde ele mora só está pavimentada até o trecho justamente em frente à sua residência.

Em nota, a assessoria de Granado afirmou que a pavimentação na rua onde vive o chefe do Executivo foi feita "há uma década", muito antes de ele assumir qualquer cargo público. Também nega que ele tenha sido alvo da CPI e afirma que a condenação foi equivocada, baseada num parecer do TCE que acabou reformado. "A dinâmica e a grande gama de legislações que incidem sobre a administração pública hoje em dia sujeitam o administrador público a responder a processos judiciais", diz a nota, acrescentando que a empresa de Granado deixou de prestar serviços à prefeitura há muitos anos.

O prefeito de Cabo Frio, Alair Corrêa, encabeça o número de ações por improbidade - responde a 11 processos - e também já foi condenado. Teve a candidatura impugnada nas eleições de 2012, mas reverteu a decisão no TSE. Ao reassumir seu terceiro mandato, deu início ao processo de licenciamento do parque Riala (Alair ao contrário), de sua propriedade, que teve autorização negada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), por não atender às exigências legais. A assessoria do prefeito não respondeu às perguntas enviadas pelo GLOBO.

Em Cachoeiras de Macacu, o prefeito Waldecy Fraga Machado, o Cica, em seu terceiro mandato, coleciona nada menos que dez ações por improbidade movidas pelo MP estadual. Entre as acusações, está a de prestação irregular de contas e de contratação sem licitação do Instituto Niteroiense de Administração Pública (Inap), para serviços de consultoria e treinamento de funcionários.

Numa das ações, ele chegou a ser condenado em segunda instância por propaganda pessoal nas dependências e no entorno do Centro Intereducacional de Cultura e Arte (Cica). O prefeito foi proibido de usar a sigla "Cica" em placas, avisos e qualquer outro documento, sob pena de multa de R$ 10 mil a cada ato. Waldecy conseguiu manter seus direitos políticos, e a instituição teve o nome trocado: virou Centro Intereducacional de Artes e Cultura (Ciac).

- Foi o secretario de Educação (Osório Luis Figueiredo), do meu mandato anterior, que colocou a placa na época. O Ministério Público entendeu que a placa tinha ligação com o meu apelido. A decisão com a condenação saiu neste mandato, e ainda devo receber uma multa. Quanto às demais ações, estamos recorrendo - diz Cica, um produtor rural que gosta de cavalgadas e não abre mão de visitas à engarrafadora de água mineral Maratuã, da sua família.

Esgoto despejado diretamente nos rios
No município, que já foi conhecido como "o paraíso das águas cristalinas" e tem mais de 200 cachoeiras, é o despejo de esgoto nos rios Macacu e Ganguri que mais chama a atenção. Casas e prédios lançam os dejetos In natura diretamente nos cursos d"água.

- Quase todo o esgoto daqui vai para os rios - lamenta José Fabrício Gonçalo, de 87 anos, 60 vividos em Cachoeiras.

Cica promete licitar ainda este ano um programa de implantação de rede de esgoto e estações de tratamento nos três distritos do município. Os recursos - R$ 55 milhões - serão dos governos federal e estadual. Na administração de uma cidade extremamente dependente de repasses de royalties de petróleo e outras transferências - em 2013, pouco mais de 7% da receita veio de tributos municipais -, Cica fez um corte de 20% no valor dos contratos, atingindo especialmente a limpeza urbana.

- A ação para redução de despesas não tem sido correta. Ele está acumulando dívidas. Deve R$ 4 milhões a fornecedores de remédios, que já estão faltando no hospital municipal - diz o vereador Carlos Melo da Silva (PV), presidente da Câmara.

Marcos Nobre - A gravidade da crise

• Se o sistema político tentar se blindar contra as polarizações existentes nas ruas, situação pode atingir cores ainda mais dramáticas, diz filósofo

- O Estado de S. Paulo / Aliás

O sistema político entrou em pane. A franja parlamentar que se costuma chamar de oposição, liderada pelo PSDB, foi inteiramente atropelada pela oposição que foi às ruas. O PT não lidera o governo que elegeu. O PMDB se divide hoje em três ou quatro ajuntamentos que não se entendem e operam de maneira independente e descoordenada. O PP simplesmente implodiu e os escombros serão recolhidos por algum cacique regional e pelo PSD, que tem dois ministros e uma bancada na Câmara que só costuma entregar metade de seus votos ao governo. Isso para falar apenas dos maiores partidos do País.

Qualquer governo nunca é rocha sólida, é sempre cheio de furos e fraturas por onde se infiltram viscosidades várias. Acontece que está difícil de ver a rocha. Os centros de comando se multiplicaram e estão operando de maneira bastante independente. Só a política econômica parece estar sob relativo controle, ainda que sob permanente ataque de todos os lados. De qualquer maneira, é um controle de tipo motoniveladora e tesoura e não efetiva coordenação.

Uma situação como essa não pode e não deve ser caracterizada apenas como uma crise. É uma crise muito grave, que pode levar o País a uma situação de paralisia ou de regressão por um longo período. É a primeira grande crise em situação de estabilidade da história recente do País.

A estabilidade que se teve nos 20 anos que vão desde o impeachment de Collor até junho de 2013 foi pontuada por momentos de crise. Mas, em termos de gravidade, nenhuma crise chega perto da que se vive agora, com a conjunção de crise de governabilidade, crise econômica, crise hídrica e de energia, crise do sistema partidário.

A crise do sistema partidário é sintoma do fosso entre sistema político e sociedade. Essa crise de representação esteve no centro das revoltas de junho, onde forças políticas opostas ocuparam a mesma rua ao mesmo tempo. A polarização da eleição presidencial de 2014 refletiu, ainda que de maneira limitada, um princípio de organização dessas polarizações sociais reais, que estavam até ali bloqueadas pelo sistema político. Mas essa polarização não se consubstanciou em bancadas de situação e de oposição correspondentes, não encontrou expressão adequada no interior do sistema político.

O pouco mais pouco menos da metade do eleitorado que votou em Dilma Rousseff não se sente representado pela megamaioria de apoio ao governo, que embute a verdadeira, real e efetiva oposição ao próprio governo. O mesmo vale para o pouco mais pouco menos da metade do eleitorado que não votou em Dilma Rousseff: não se sente representado pela franja oposicionista, que não tem nenhum outro projeto a não ser manter o condomínio do mesmo jeito, só mudando o síndico. O único político (de oposição, ressalte-se) que ousou tomar um microfone na Avenida Paulista em 15 de março foi impedido de falar pelas vaias.

Um outro efeito decisivo do junho de 2013 pode ser visto na Operação Lava Jato. Foi a conjunção do clamor das ruas com uma longa preparação de órgãos judiciais e de investigação que conseguiu superar os bloqueios escandalosos que o sistema político impôs a operações anteriores de mesma magnitude. Em 2010, por exemplo, o Superior Tribunal de Justiça bloqueou a Operação Castelo de Areia, precursora da atual Lava Jato. Com isso, foi adiada em cinco anos a nossa “Operação Mãos Limpas”, aquela que mudou para sempre a política da Itália nos anos 1990. Foi perdida mais uma chance de alçar o modo de operação do sistema político a um novo e superior patamar, em um momento econômico ainda relativamente favorável àquela altura.

Diante do risco muito concreto de enfrentarem não apenas o fim de suas carreiras políticas, mas a prisão, grupos inteiros dentro dos partidos se organizaram com o objetivo único e primordial da autodefesa, fragmentando ainda mais um sistema já perto do inadministrável. Situação que é um obstáculo quase intransponível a qualquer projeto de reorganização do sistema político com base em acordos estritamente partidários. Porque o aprofundamento das investigações da Lava Jato vai ter o efeito de desorganizar ainda mais um cenário partidário já muito desarrumado.

Do lado da sociedade, o efeito pode ser o do crescimento de uma negação abstrata da política, de uma rejeição da política enquanto tal. É o caldo de cultura perfeito para a formação de um despolitizado “que se vayan todos”, nos moldes da Argentina de 2001. Esse abismo está posto diante do País e não pode ser ignorado.

Qualquer reconstrução da governabilidade nos moldes tradicionais do peemedebismo do sistema político - ou, para lembrar o eufemismo que ficou consagrado, o “presidencialismo de coalizão” - vai ser bombardeada por quatro longos anos pelas ruas e pelo oportunismo partidário cabível. Mesmo que a desvalorização do câmbio acabe tendo efeitos econômicos positivos no horizonte de um ou dois anos. Mas pode ser que um governo assim consiga sobreviver.

Ocorre que uma reorganização como essa não depende apenas do governo, mas também da oposição. Do contrário, a crise não vai sequer se estabilizar. A reorganização nesses moldes depende de um balé coreografado entre governo e forças que se disponham a liderar uma frente oposicionista efetiva, que dê voz real à oposição presente na sociedade. Para que isso aconteça, forças partidárias de oposição terão de se perfilar no sentido das ruas, sem recuar nem mesmo diante da bandeira do impeachment, por exemplo - que até agora não foi aceita de maneira inequívoca por nenhuma liderança política de peso. O fato de a maioria dos que foram às ruas no dia 15 de março não ser favorável ao impeachment não significa que o tema saia da pauta.

Congregando o conjunto das forças de oposição presentes nas ruas em toda a sua diversidade, uma frente como essa teria o potencial de atrair uma bancada parlamentar representativa, capaz de expressar no interior sistema político a real polarização existente na sociedade entre situação e oposição, e não a encenação patética a que se assiste há quase dez anos. De qualquer maneira, se seguida, essa linha de ação teria de ser executada de maneira hábil e cuidadosa, dado o rechaço generalizado da política e dos políticos que emergiu desde junho de 2013.

Não sendo esse o caminho trilhado, pelo menos duas outras possibilidades se abrem. Na primeira delas, o sistema partidário continua desconectado das diferentes forças sociais que irromperam desde 2013. Nesse caso, o sistema político uma vez mais dará as costas às ruas, em toda a diversidade de aspirações presentes nos diferentes protestos. As forças que sustentam o movimento pelo impeachment vão recrudescer e buscar em outsiders do sistema político a expressão de sua insatisfação de base. Essa é a alternativa Joaquim Barbosa, comparável a uma experiência como a de Silvio Berlusconi na Itália. Depois da “Operação Mãos Limpas” e da ausência de uma efetiva reorganização estrutural, o sistema político italiano entrou em colapso e o rechaço generalizado da política e dos políticos só encontrou expressão em Berlusconi.

A segunda e mais improvável possibilidade é a formação de uma frente ampla em torno de uma reorganização do sistema político em novos moldes. A improbabilidade dessa via é tanto maior quanto mais profunda é a incompreensão do significado do junho de 2013. A raiva social liberada ali, a agressividade cotidiana entre vizinhos, colegas de trabalho e mesmo em círculos de amigos não vai voltar para a garrafa só porque se alcançou um novo acordo com o PMDB - qual PMDB, aliás -, ou porque a franja oposicionista resolveu “estudar a possibilidade” de pedido de impeachment.

Ainda não é suficientemente clara a consciência da gravidade da crise atual. Nem ficou ainda evidente que nenhuma força partidária irá se beneficiar do caos. Se se quiser uma imagem: ainda não ficou claro que a situação se assemelha a uma conjunção do momento pós-impeachment de Collor com o início do segundo mandato de FHC, em 1999.

Mas é apenas uma imagem. Porque, ao contrário desses dois outros momentos, hoje não se pode falar sequer em acordos estritamente partidários, dada a fragilidade em que se encontram os partidos. E a construção de um real programa de governo teria de se dar em bases que não sejam ditadas nem dirigidas por nenhuma força política em particular, mas resultado de um efetivo acordo negociado. Para não falar no fato de que o país que viveu vinte anos de relativa estabilidade, os padrões de vida melhoraram e as expectativas de diminuição de desigualdades, efetivação de direitos e de melhoria dos serviços públicos fincaram raízes profundas na sociedade.

Importa ter claro que essas possibilidades hoje visíveis evidentemente não se equivalem nem significam uma efetiva superação da crise. Se o sistema político uma vez mais optar por se blindar contra as polarizações existentes nas ruas o resultado será o prolongamento da crise por outros meios, em versões até mais dramáticas, inclusive.

Porque o pior da crise ainda está por vir. A Lava Jato ainda não fez todo o estrago que tem para fazer. A recessão econômica ainda não mostrou seus dentes. O desemprego ainda não chegou a seu pior momento nem a inflação atingiu seu pico destrutivo. Os racionamentos de água e de energia ainda não se tornaram oficiais. Os protestos de rua ainda não são cotidianos.

A longa e paquidérmica redemocratização brasileira, de 1979 a 2013, foi feita com base em um grande acordo que teve pelo menos três momentos. A década de 1980 foi marcada pela formação de um “Centrão” político para a superação do autoritarismo, uma garantia contra o risco de “guinadas bruscas” do quadro político. Na década de 1990, esse Centrão foi dirigido e direcionado para a produção de uma estabilização econômica e política, superando a paralisia e o caos da década anterior. Na década de 2000, sem alterar essa mesma lógica de gerenciamento do sistema político, a estabilização alcançada foi posta a serviço de uma melhoria geral dos padrões de vida sem aumento das desigualdades.

A crise atual mostra a obsolescência desse acordão típico da redemocratização e a necessidade de uma democratização da democracia, de uma efetiva democratização do sistema político. O ambiente para isso é ruim, evidentemente. Mas é o que se tem.

Qualquer realinhamento tem de ser feito quanto antes. Não se pode esperar que a múltipla crise que enfrentamos atinja seu momento mais destruidor. Do contrário, o que se verá é uma situação de caos social, econômico e político como só a década de 1980 foi capaz de produzir.

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Marcos Nobre é professor de filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap

José de Souza Martins - Sujeito multidão

• As recentes manifestações desconstroem o antagonismo do pobre contra o rico, negro contra branco, elite contra povo

- O Estado de S. Paulo / Aliás

Fervilham as interpretações das manifestações da sexta-feira 13 e, sobretudo, da do dia 15, domingo. A primeira, manifestação de corporações sindicais de filiação ideológica e partidária explícita. A segunda, surpreendentemente, com certa característica de manifestação política de famílias, um fato novo na quadra histórica iniciada com a redemocratização do País. Para o estudioso do comportamento coletivo, a diferença e o conflito político e ideológico entre as duas manifestações não está na disputa em relação à legitimidade do mandato da atual presidente da República, como temeram os próprios membros do governo. O conflito se expressou na guerra de conceitos.

Sobretudo, do método de elaboração dos conceitos que procuram dar sentido ao embate entre os que estão do lado do governo e os que estão do “outro lado”. As partes confrontando-se na curiosa tentativa de adivinhar quem eram os manifestantes.

A multidão não precisa ter a identidade adivinhada. Ela não é o eleitor da última eleição, não é o branco da desqualificação proposta pela facção do governo, descabida numa sociedade que historicamente se reconhece como mestiça de múltiplas mestiçagens. A multidão é a multidão, identidade temporária e provisória que esgota sua significação e sua função na fração de tempo em que se manifesta nas ruas e no modo como se expressa. É um sujeito que se dissolve no fim da festa.

Pela frequência e pelas peculiaridades de suas demandas, vai ficando claro que a multidão é novo sujeito da sociedade brasileira. Novo sujeito do processo político em conflito com os velhos sujeitos, os da política como ação de estereótipos, os do cidadão aprisionado na camisa de força de conceitos rígidos forjados ainda na cultura da luta de classes. Mas multidão não é classe nem é raça. A multidão desconstrói o regime político dualista das facções antagônicas que a tendência antirrepublicana inaugurada em 2003 impôs ao País como ideologia dos pobres contra os ricos, dos negros contra os brancos, das elites contra o povo. São meias verdades de um pensamento partidário fundado num senso comum pseudossociológico que explica e justifica o que convém e descarta o que não convém.

As multidões que se manifestaram entre nós nos últimos tempos nem sequer são uma única e mesma multidão, embora se possa encontrar nelas o substrato unificador do descontentamento e de uma consciência social de impaciência com os abusos do poder, o mais motivador dos quais é o da corrupção. Mas também o da mentira. Cobranças dessas manifestações recentes, evidenciadas em cartazes rabiscados sobre a mesa da cozinha, cobram o que foi prometido e questionam o que foi omitido como simples técnica para enganar o eleitorado e obter o poder. Nesse sentido, as multidões foram às ruas para questionar não apenas a corrupção e a mentira, mas para questionar, também, a ambição de poder pelo poder, o propósito do poder sem a contrapartida do dever. Em suma, a multidão foi às ruas para questionar pacificamente, republicanamente, a traição aos princípios e valores da República e do republicanismo. Curiosamente, a demanda das multidões do dia 15 foi uma demanda claramente parlamentarista contra a decadente República presidencialista e hereditária.

A premissa de um dos ministros que impugnaram as manifestações populares logo após seu encerramento é a de que quem vota no partido do governo tem que ter com ele uma fidelidade de membro do próprio governo, embora nele não esteja, mais a de cúmplice que a de cidadão.

Concepção baseada no pressuposto de que a sociedade seria uma organização de duas bandas em que as pessoas são prisioneiras de uma banda ou de outra, e a própria sociedade dominada por um movimento pendular que reitera o mesmo. Essa é uma concepção pré-moderna e puramente teatral da realidade social e política. Por trás dessas ideias está a doutrina da luta de classes, na sua versão pré-marxista, ainda distante da interpretação propriamente dialética e sociológica das duas últimas décadas do século 19.

Os malabarismos explicativos para as manifestações de rua destes dias dizem muito mais respeito à inatualidade de um pensamento supostamente de esquerda que se extraviou nos descaminhos da vulgarização interpretativa. E, também, na desatenção ao fato de que a sociedade contemporânea e pós-utópica se tornou uma sociedade complexa e fragmentária. Os sujeitos concebidos anacronicamente como robôs da totalidade pétrea do dualismo interpretativo são mera e retrógrada ficção. Ninguém é o todo da classe social a que supostamente pertence porque, no fim das contas, ninguém pertence a nada. A classe só é substantiva em momentos muito singulares da história social e política. Esta já não é, propriamente, uma sociedade de sujeitos, mas de sujeitos alienados que vivem o tempo todo as incertezas da condição de objeto. Quando a sociedade entra em crise, como a nossa, agora, a própria crise os desperta para a lucidez desalienadora que se viu nas ruas do País.

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José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, De linchamentos - a justiça popular no Brasil (Contexto)

Merval Pereira - Limites ao financiamento privado

- O Globo

A demonstração que vem sendo feita pelas investigações do Ministério Público Federal e Polícia Federal de que o financiamento de campanhas eleitorais do PT vem sendo adubado com verbas desviadas de empresas estatais como a Petrobras, “lavado” pelo fato de serem feitas “legalmente” em doações registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) traz novamente à tona a questão do financiamento dos partidos políticos numa democracia.

A dificuldade para provar a origem ilegal do dinheiro doado aos partidos políticos é um dos obstáculos encontrados nas investigações, mas aos poucos a Operação Lava-Jato, com cruzamentos de dados e pistas de contas correntes no exterior está desvendando os caminhos do dinheiro.

Os Procuradores trabalham com a mesma lógica com que buscam o dinheiro desviado por bandidos comuns que compram bens, como imóveis e carros, e quadros e obras de artes diversas, para lavar o dinheiro roubado. A apreensão de uma coleção de quadros de artistas brasileiros e estrangeiros num quarto refrigerado da casa do ex-diretor da Petrobras Renato Duque só confirma a tática de lavagem da parte do desvio que ficou de posse do executivo.

Procuradores consideram que não será difícil provar isso dentro da mesma lógica dos bandidos comuns, com as planilhas e depósitos bancários que estão apreendendo nas investigações.

A questão do financiamento de campanhas eleitorais também está em discussão no STF, onde uma ação direta de inconstitucionalidade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o financiamento de empresas privadas está parada pelo pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, que considera que a questão deve ser definida nos projetos de reforma política que estão em discussão no Congresso.

Nas propostas que estão sendo discutidas no Congresso, o financiamento privado é mantida em diversas versões, e apenas o PT é a favor do financiamento público exclusivo, alegadamente para frear a corrupção eleitoral da qual tem sido o principal acusado, mas na verdade por que o financiamento público leva necessariamente à aprovação do sistema de lista fechada, onde a direção dos partidos escolhe os candidatos e ao eleitor só é dada a opção de votar na legenda partidária.

Apontado o mentor da tese, o ministro Luis Roberto Barroso fez uma análise da questão em texto publicado no site Consultor Jurídico e ressaltou que não considera inconstitucional que empresas participem do financiamento eleitoral. “Esta é uma decisão política, uma escolha a ser feita pelo legislador, isto é, pelo Congresso Nacional, que pode permitir ou vedar tal tipo de participação”.

O que ele considera “claramente inconstitucional, porque antidemocrático e antirrepublicano, é o modelo atualmente vigente”. Para ele, a prova disso é o fato de grandes empresas fazerem doações para diversos candidatos a cargos majoritários que são concorrentes entre si.

“Intuitivamente, como apoiam candidatos de posições opostas, não se trata de uma opção ideológica nem do exercício de um eventual direito político (para quem admita que empresas possam titularizar tais direitos). A verdade é que ou tais empresas são achacadas para doar ou, ao fazê-lo voluntariamente, estão comprando benesses futuras. Qualquer das duas possibilidades é péssima”.

Essa questão é combatida pela proposta apresentada pelo PMDB, que proíbe a doação a vários partidos por uma mesma empresa. Outra objeção de Barroso é que “não há na legislação qualquer restrição a que empresas que doaram para a campanha sejam contratadas, diretamente ou mediante licitação (e que licitações!), pelo governo do candidato eleito. Vale dizer: o modelo permite que se pague o favor privado (doação de dinheiro) com dinheiro público (contratos administrativos)”.

Sem se referir diretamente ao caso do petrolão, Barroso atribui às doações de campanhas o papel de abrir portas para contratos governamentais. A lavagem de dinheiro através de doações seria um passo à frente nesse assunto. Há também nos projetos em trâmite no Congresso a proibição de que empresas que tenham concessões governamentais ou façam obras para governos doem a partidos políticos.

“A inconstitucionalidade, portanto, não está na possibilidade de empresas participarem com recursos financeiros do processo político, mas na total ausência de quaisquer limitações minimamente efetivas”, ressalta o ministro Luis Roberto Barroso. Com esse esclarecimento, parece que as posições dos ministros Barroso e Gilmar Mendes coincidem em que caberá ao Congresso definir se empresas privadas podem ou não participar do financiamento eleitoral.

Eliane Cantanhêde - Temer vai à festa

- O Estado de S. Paulo

Em política, não se dá ponto sem nó, não se recusa buchada de bode e não se vai a uma festa só por ir. Logo, a presença do vice-presidente Michel Temer no aniversário de Marta Suplicy foi um gesto cheio de significados, deveras instigante.

Temer - que é do PMDB, não vamos esquecer - tomou duas precauções interessantíssimas. Avisou de véspera que o apoio do seu partido à reeleição do prefeito petista Fernando Haddad pode ser, mas pode não ser. E, além de sua bela mulher, Marcela, ele também levou para a festa de Marta o ex-candidato peemedebista à prefeitura Gabriel Chalita, como quem dissesse: esse não será empecilho à sua candidatura.

Soma daqui, diminui dali, o resultado é que o vice-presidente da República prestigiou a quase ex-petista Marta - que anda às turras com a presidente Dilma Rousseff, o governo e o PT - numa festa em que não se ouviu um só elogio ao PT e todas as apostas foram a de que Dilma terá tempos cada vez piores pela frente. Parecia festa da oposição. Talvez tenha sido mesmo.

Então, o que Temer foi fazer lá? Que recado ele quis mandar com o gesto? Que é amigo de Marta desde criancinha, que adora docinhos e champanhe ou... que o PMDB está querendo cada vez mais distância dos petistas, não se mete em briga da família PT, tenta se descolar da crise e parte para uma linha, no mínimo, de independência? Se a casa cair, que caia na cabeça só do PT.

Como contraponto à presença de Temer, só havia um petista na festa de Marta, que milita (ou militou) apaixonadamente no partido durante 35 anos. E esse petista era o senador Delcídio Amaral, que, se não botou a boca no trombone como Marta, também não está nada afinado com o PT. Um encontro, portanto, de insatisfeitos. Vá-se saber se Delcídio também não tem lá seus planos de fuga e quis mandar o recado. Político não vai à festa só por ir...

Marta não tem mais essa dúvida e já passou da fase de mandar recados. Está com um pé fora do PT e outro dentro do PSB, sem retorno. Ela é uma liderança em busca de um partido. O PSB, depois da morte de Eduardo Campos, é um partido em busca de uma liderança. Logo, é a fome com a vontade de comer.

Marta explicava que não convidou Lula porque não faria sentido, já que comunicou a ele que está fora e quais serão seus futuros movimentos. Mas ela quer "dar passinho por passinho", ou seja, uma coisa de cada vez. Deve sair do PT em abril, esperar um mês, um mês e pouco, e então se filiar formalmente ao PSB em junho, antes do recesso do Congresso.

Até lá, vai costurando apoios e evitando que as negativas para integrar outras siglas arranhem suas possibilidades de coligação nas eleições municipais, tanto contra o petista Haddad quanto contra o candidato tucano, seja quem for. Aliás, foram à festa representantes do PTB, do PPS, do PDT, do PP... Sem falar, claro, do PSB e do PMDB.

E, se não havia nenhum cacique tucano, Fernando Henrique Cardoso fez questão de lhe mandar um abraço por um amigo comum. Afinal, nunca se pode descartar uma aliança do PSB de Marta com o PSDB de FHC num eventual 2.º turno contra o PT nas eleições de 2016 em São Paulo.

Aos 70 anos, portanto, Marta não fez só uma festa, fez uma demonstração claríssima de que ela sabe o que quer e para onde está indo. Mostrou o tabuleiro e qual será o seu jogo. Está linda, feliz, sacudindo a poeira, dando a volta por cima e cheia de planos. Seu grande sonho, ou sonho mais imediato, é voltar à prefeitura, mas o céu é o limite.

Se fosse só ela, já seria muito, mas o passo de Marta para fora do PT pode ser o primeiro de muitos num momento em que o Titanic faz água para todo lado e Dilma vai buscar a bóia com... o MST. Como já disse a própria Marta ao Estado, "ou o PT muda, ou acaba".