terça-feira, 12 de agosto de 2014

Opinião do dia: Karl Marx

O poder legislativo fez a revolução francesa; lá onde ele, em sua particularidade, apareceu como dominante, ele fez, em geral as grandes revoluções universais orgânicas; ele não combateu a constituição, mas uma particular constituição antiquada, precisamente porque o poder legislativo era o representante do povo, da vontade genérica. Em contrapartida, o poder governamental fez as pequenas revoluções, as revoluções retrógradas, as reações; ele não fez a revolução por uma nova constituição, contra uma antiga, mas a fez contra a constituição, precisamente porque o poder governamental era o representante da vontade particular, do arbítrio subjetivo, da parte mágica da vontade.

Karl Marx (1818-1883), no livro Critica da filosofia do direito de Hegel, p. 75. Boitempo Editorial, 2005.

Operação para blindar Foster

• Governistas tentarão evitar novos desgastes para a presidente da Petrobras. Oposição protocola pedido de convocação da contadora de Youssef

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

O governo trabalha em duas frentes para blindar os ataques da oposição à presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. A primeira batalha é travada no Tribunal de Contas da União (TCU), já que o plenário da Corte adiou a decisão sobre o bloqueio dos bens da executiva por conta do prejuízo na compra da refinaria de Pasadena. O segundo front está localizado na CPMI, que deve esquentar esta semana após as declarações da ex-contadora de Alberto Youssef, Meire Pozza, afirmando que "malas e malas de dinheiro" derivadas de corrupção alimentaram o caixa dois de PT, PMDB e PP.

Ao mesmo tempo em que tenta enquadrar a presidente da Petrobras, a oposição luta para convocar a contadora Meire Pozza para a CPMI. Dois requerimentos nesse sentido foram protocolados ontem, um pelo DEM e outro pelo PPS. "O depoimento de Meire será fundamental para estabelecer o elo entre Youssef e a Petrobras e identificar como o governo do PT se beneficiou do esquema de lavagem de dinheiro", afirmou o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Depois do empenho, na semana passada, do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, em defender Foster no plenário do TCU, o governo acha que a situação no tribunal está um pouco mais fácil. "Foi o próprio relator do processo de indisponibilidade dos bens de Foster (ministro José Jorge) que pediu o adiamento da votação. Os demais ministros perceberam que ele não estava seguro no pedido", disse um interlocutor do governo.

O diretor corporativo da Petrobras, José Eduardo Dutra, afirmou que a oposição, ao tentar atingir Graça Foster, está mirando, na verdade, na presidente Dilma Rousseff. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), tem um pensamento parecido. "Eles (os oposicionistas) precisam esticar um pescoço e ter uma cabeça para exibir neste período eleitoral", disse.

Pelo segundo dia consecutivo, Dilma defendeu Foster. E não quis responder se afastará a presidente da Petrobras do comando da empresa caso o TCU bloqueie os bens da dirigente. "Eu acho gravíssimo politizarem uma discussão desse tipo. Acho gravíssimo e não acho muito responsável. Espero que não se faça política nesse assunto. Porque, primeiro, a Petrobras é a maior empresa deste país. E a Graça tem méritos inequívocos. Não é só a minha avaliação, mas a de entidades internacionais e do mercado", disse Dilma, em entrevista ao Grupo RBS.

Julgamento
A presidente afirmou que não analisará a situação de Foster com base nas informações recentes sobre irregularidades na Petrobras. "Não vou fazer nenhum julgamento sobre uma pessoa da qualidade da Graça Foster baseado em avaliações questionáveis", alegou. Os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) voltaram a criticar a crise na estatal (leia mais na página 4).

Um aliado de Dilma afirmou que, dentro do governo, Graça Foster jamais foi enxergada como problema, e, sim, como solução. Para estrategistas do governo, a convulsão vivida pela estatal tem dois componentes: uma clara insatisfação interna originada pelas mudanças que ela promoveu ao assumir a presidência e a necessidade da oposição de criar um "factoide eleitoral", como a própria Dilma se referiu à crise no domingo.

Colaborou Julia Chaib

TCU busca saída para evitar bloqueio dos bens de presidente da Petrobrás

• Relator do processo já indica nos bastidores que poderá minimizar a responsabilidade de Graça Foster nos prejuízos da estatal

Fábio Brandt, Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Relator do processo que analisa a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Jorge estuda recuar do pedido de indisponibilidade dos bens da presidente da Petrobrás, Graça Foster, alterando sua conclusão inicial a respeito da gravidade da participação dela no fechamento do negócio.
Jorge tem justificado nos bastidores um possível tratamento diferenciado de Graça Foster dizendo que ela participou apenas da tomada de uma decisão secundária, que provocou uma parcela pequena - US$ 92,3milhões - do prejuízo total, estimado pelo TCU em US$ 792,3 milhões. O ministro não fala oficialmente sobre o caso.

No fim de julho, o TCU atribuiu a 11 diretores e ex-diretores da Petrobrás o prejuízo pela compra da refinaria por parte da estatal. Após gestões do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, os ministros do tribunal não atribuíram responsabilidade ao Conselho de Administração da Petrobrás, que, à época da compra, em 2006, era presidido por Dilma, nem à atual presidente da companhia, que durante o negócio atuou em cargos de comando na estatal.

Jorge, porém, defendeu depois que Graça deveria ser incluída na lista de responsáveis. O ministro levou ao plenário do TCU sugestão de acórdão que dizia ser de "acentuada gravidade" a responsabilidade dela no caso Pasadena. Mas o ministro surpreendeu os colegas do tribunal e pediu, ele mesmo, que a decisão sobre o assunto fosse adiada. Nesta semana, Jorge não incluiu o tema na pauta, o que deveria ter sido feito até sexta-feira. Não há data definida para que a discussão volte ao plenário.

No texto que teve a votação adiada, Jorge escreveu que Graça Foster e Jorge Zelada, outro ex-diretor da Petrobrás, deveriam ser incluídos entre os diretores suspeitos de terem causado dano à Petrobrás porque, em decisão anterior, o tribunal fez uma confusão e os deixou de fora do grupo. Disse ainda que ambos deveriam ter seus bens bloqueados por um ano. "A jurisprudência do TCU aponta no sentido de que a decretação de indisponibilidade de bens se justifica em situações de acentuada gravidade", escreveu.

Além do pedido de adiamento, a sessão da quarta-feira passada teve outro fato inusitado: a presença de Adams, advogado-geral da União, que usou a tribuna para falar a favor dos diretores. Após a manifestação de Adams, Jorge concedeu entrevista coletiva que colocou em xeque seu próprio texto. Ele apontou a existência de dois momentos no caso Pasadena. Num deles, a diretoria executiva que não tinha Graça Foster e Zelada entre seus integrantes "aprovou a compra da refinaria", a "parte substancial e mais importante do projeto".

'Erro'. Ao aprovar por unanimidade, no fim de julho, o texto de Jorge que apontava prejuízo total de US$ 792,3 milhões na compra da refinaria, os integrantes do TCU "erraram" ao atribuir aos ex-diretores Ildo Sauer, da área de gás, e Nestor Cerveró, da área internacional, prejuízo de US$ 92,3 milhões que, segundo o tribunal, foi causado pelo adiamento do cumprimento da decisão arbitral sobre a disputa contra a Astra Oil, antiga proprietária da refinaria. Quando essa decisão foi tomada, faziam parte da diretoria Graça Foster, como sucessora de Sauer, e Jorge Zelada, sucessor de Cerveró. O que está em discussão agora é a correção desse erro.

Graça Foster é alvo de outra frente de investigação. No sábado, o Estado revelou que, a pedido do Ministério Público, a Polícia Federal no Distrito Federal passou a apurar se a presidente da Petrobrás prestou informações falsas sobre Pasadena no depoimento à Comissão de Infraestrutura do Senado, em abril. A suspeita é que ela teria omitido informações sobre a compra da refinaria dos EUA.

No mesmo depoimento, os senadores questionaram Graça sobre contratos da estatal com a empresa C. Foster Serviços e Equipamentos, pertencente ao marido dela. Graça afirmou que a empresa não celebrou contratos com a Petrobrás. Senadores de oposição, porém, dizem que há, sim, contratos com a estatal. / Colaborou João Domingos

Dilma apoia Graça, e Aécio ataca pressão sobre o TCU

• Presidente classifica denúncia de "factoide"

- Folha de S. Paulo

RIO, BRASÍLIA, FORTALEZA - O candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves, criticou nesta segunda (11) a posição da presidente Dilma Rousseff acerca da apuração sobre o papel de Graça Foster na compra da refinaria de Pasadena.

A presidente disse nesta segunda que pretende mantê-la no cargo de presidente da Petrobras e classificou de "factoides políticos" as denúncias contra a Petrobras: "Utilizar qualquer factoide político para comprometer uma grande empresa e sua direção é muito perigoso".

Em resposta, Aécio disse ser preocupante "a tentativa do governo de, de alguma forma, impor sua vontade junto a outros órgãos da administração pública e em especial de outro poderes, como o TCU [Tribunal de Contas da União]. Quando se vê essa movimentação de ministros e do advogado-geral da União para inibir outros poderes, alguma coisa não vai bem no Brasil".

Eduardo Campos (PSB) pediu no domingo que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem a estatal.

Auditores pedem rejeição de contas do PT

• Novo parecer de técnicos do TSE recomenda reprovação da prestação da sigla em 2008, que inclui pagamento a Valério

Mariângela Gallucci - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Técnicos do Tribunal Superior Eleitoral recomendaram pela segunda vez aos ministros da corte que desaprovem as contas do PT relativas ao ano de 2008. Após terem analisado esclarecimentos complementares prestados pela legenda, os técnicos concluíram em parecer liberado na semana passada que permanecem irregularidades na aplicação do Fundo Partidário.

Entre elas, foi detectada a "ausência de documentos relacionados a despesas pagas com recursos do Fundo Partidário" e a existência de "recursos cujas origens não foram comprovadas".

Os técnicos também consideraram irregular o uso de R$ 320 mil para pagar o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Conforme os auditores, a despesa não foi comprovada pelo partido. O empresário está preso desde novembro do ano passado, cumprindo a maior pena fixada pelo Supremo Tribunal Federal para os condenados por envolvimento com o mensalão: 37 anos, 5 meses e 6 dias.

Julgamento. Relator do processo de prestação de contas do PT relativas ao ano de 2008, o ministro Henrique Neves pretende colocá-lo rapidamente em julgamento. No entanto, antes de julgar o caso no plenário do TSE, ele vai aguardar uma opinião da Procuradoria-Geral Eleitoral.

Num despacho assinado na semana passada, mas ainda não publicado, Neves pediu à Procuradoria que emita um parecer sobre a prestação de contas do PT. Ele ressaltou que a Assessoria de Contas Eleitorais e Partidárias (Asepa) do tribunal emitiu o novo documento "mantendo a sugestão de desaprovação das contas da agremiação".

Na primeira avaliação das contas, no início do ano, os técnicos do TSE levantaram as supostas irregularidades na prestação de contas e tinham recomendado a rejeição. Um prazo foi aberto para que o partido se manifestasse sobre a conclusão. No entanto, conforme a equipe técnica, apesar da documentação complementar apresentada, as irregularidades persistem.

Pela legislação eleitoral brasileira, os partidos políticos devem usar os recursos do fundo para, entre outros objetivos, manter as sedes e serviços da agremiação. Quando as contas são desaprovadas, a sigla pode ser punida com a perda dos recursos do Fundo Partidário e devolução do dinheiro.

O fundo é distribuído aos partidos políticos registrados no TSE e com prestação de contas regular perante a Justiça Eleitoral. Ele é formado por recursos provenientes de multas e outras penas pecuniárias, doações e dotações orçamentárias da União. Do total do fundo, 5% são divididos em partes iguais para todas as siglas registradas. E 95% são distribuídos às agremiações na proporção dos votos obtidos na última eleição para a Câmara dos Deputados. No primeiro semestre deste ano o PT recebeu R$ 25 milhões do fundo.

Recentemente, o Estado publicou reportagens mostrando que os diretórios nacionais do PT, do PR e do PP contrataram com recursos provenientes do fundo os mesmos escritórios de advocacia que representavam condenados por envolvimento com o esquema do mensalão.
Na época, o presidente do TSE, José Antonio Dias Toffoli, defendeu uma investigação sobre o uso do dinheiro do fundo.

Diretório nacional. Procurado ontem, o PT não se manifestou sobre a nova recomendação dos técnicos do TSE. A reportagem telefonou para o escritório da advogada Stella Bruna, encarregada de acompanhar o processo de prestação de contas. Mas, de acordo com um funcionário, ninguém do escritório falaria sobre o processo. Ele disse que somente o diretório nacional do PT poderia comentar o assunto.

A reportagem telefonou para o diretório e conversou com funcionários da assessoria de imprensa. Eles pediram que fosse enviado um e-mail descrevendo a demanda. Até a conclusão desta edição, a legenda não havia comentado o parecer dos técnicos do TSE.

Dilma, agora, ataca FHC

• Para Dilma, Brasil de FHC era pior que Argentina sob risco de calote

• Presidente diz que tucano 'quebrou o País 3 vezes' e atribui pessimismo aos que preveem tarifaço após as eleições

Ricardo Galhardo e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

Em evento com estudantes do PT e do PC do B, em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff distribuiu críticas aos adversários, chamados de "pessimistas", e disse que a Argentina, que hoje enfrenta acusações de calote internacional, vive uma situação melhor do que a do Brasil nos piores momentos da economia na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ela, FHC "quebrou o País três vezes".

"O Brasil quebrou três vezes naquela época. Aquilo que hoje ficam falando nos jornais da Argentina, era mais grave. A Argentina deposita seus pagamentos e está sendo objetivo de um coisa terrível que são os fundos abutres (fundos especulativos)", disse a presidente.

A petista aproveitou a plateia amplamente favorável para alfinetar os tucanos em relação ao aeroporto construído em Cláudio quando o presidenciável Aécio Neves governava Minas, a ameaça de desabastecimento de água em São Paulo, a crise nas universidades paulistas e o racionamento de energia no governo FHC.

'Tarifaço'. Dilma também voltou a adotar o discurso da "verdade" contra o "pessimismo". O alvo foram as declarações de adversários sobre a possibilidade de aumentos nas tarifas de energia elétrica e combustíveis após as eleições. "Por que eles falam que vai haver um tarifaço? Isso vai da necessidade deles de apostar que se a situação piorar vai melhorar para eles. Quem faz isso mostra descompromisso com os interesses nacionais", afirmou.

Mais cedo, em sabatina realizada pelo portal G1, em São Paulo, o candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, afirmou estar certo de que o governo Dilma fará um reajuste da gasolina após as eleições de outubro. "Não imaginem que não vai haver reajuste. O orçamento fiscal já não suporta esse tipo de mágica que eles estão fazendo."

"Todo mundo sabe neste país que ela mandou segurar o aumento da energia. E combustível é a mesma coisa", disse Campos.

Ainda no encontro, Dilma, que foi presa por integrar grupos armados de combate à ditadura militar, disse se identificar com o público presente, formado majoritariamente por integrantes do movimento estudantil. "Vocês representam de uma nova forma nossa luta do passado."/ Colaborou Ana Fernandes

Aécio descarta pacote, mas admite realinhar preços

• Aécio admite "realinhamento " de tarifas de energia e gasolina, mas diz que haverá previsibilidade

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO- O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), admitiu ontem a necessidade de fazer , se eleito, o "realinhamento " dos preços das tarifas de energia e da gasolina. Aécio foi o primeiro presidenciável a participar da rodada de entrevistas do "Jornal Nacional", da TV Globo. Ele também afirmou que haverá "previsibilidade" sobre essas tarifas e descartou pacotes ou "planos mirabolantes" em seu eventual governo. Aécio voltou a dizer que vai tomar as "medidas necessárias" para controlar a inflação. 

Confrontado pelo jornalista William Bonner sobre a possibilidade de ajustar os preços, após evitar responder diretamente sobre o assunto, o tucano foi enfático: —No meu governo, vai haver previsibilidade em relação a essas tarifas e em todas as medidas. Ninguém espere no governo Aécio Neves um pacote A, PAC disso, PAC daquilo ou algum plano mirabolante. Nós vamos tomar as medidas necessárias . É óbvio que nós vamos ter que viver um processo de realinhamento desses preços. 

Obviamente , quando você tiver os dados sobre a realidade do governo é que você vai estabelecer isso . Eu não vou temer fazer aquilo que seja necessário, as medidas necessárias para controlar a inflação, retomar o crescimento e principalmente a confiança perdida no Brasil — disse.

"No PSDB, condenado não será herói"
Aécio também foi questionado sobre escândalos políticos que envolvem tanto o PT quanto o PSDB e sobre a diferença na abordagem desses casos. No caso dos tucanos, a apresentadora lembrou do mensalão de Minas Gerais e do cartel do metrô em São Paulo. 

O senador respondeu que, havendo condenação, o envolvido não será tratado como herói, numa alusão à defesa que petistas fazem dos condenados do mensalão , como o ex-ministro José Dirceu. —O que posso garantir é que, no caso do PSDB, se eventualmente alguém for condenado , não será como foi no PT, tratado como herói nacional, porque isso deseduca. 

Portanto , todos os partidos que estão aí têm possibilidade de ter nomes que estejam envolvidos em qualquer denúncias. Apuração e punição , é isso que esperam os brasileiros, independentemente de partido — afirmou Aécio . A apresentadora citou, então , o caso do mensalão mineiro, cujo principal acusado de corrupção , o ex-governador Eduardo Azeredo (MG), apoia Aécio .

O tucano afirmou que não se deve prejulgar e que é preciso esperar a defesa de Azeredo . —Ele está me apoiando, você colocou bem, Patrícia, não é o inverso. É um membro do partido e que tem oportunidade de se defender na Justiça. Vamos aguardar que a Justiça possa julgá-lo e, se condenado, ele vai ser punido. 

Mas eu não prejulgo, não prejulguei os petistas, não vou prejulgar os tucanos. O que posso te dizer , e reitero aqui, independentemente do partido político, eu acho que qualquer cidadão tem que responder pelos seus atos. E o Eduardo vai responder pelos deles. Vamos deixar que ele possa se defender . Aécio também foi questionado sobre o aeroporto na cidade de Cláudio (MG), construído nas terras onde a família do senador tem fazenda. Bonner perguntou se Aécio considera republicano construir um aeroporto que poderia ser visto como um benefício para sua família. 

O tucano afirmou que a obra foi feita com o objetivo de interligar cidades importantes para o desenvolvimento regional e que sua gestão no governo de Minas Gerais foi transparente: — Nesse caso, especificamente, se houve algum prejudicado, foi esse meu tio-avô (proprietário da área), porque o estado avaliou aquela área em R$ 1 milhão e ele reivindica na Justiça R$ 9 milhões, e não recebeu R$ 1 até hoje.

Foi feito de forma transparente e republicana, e a população daquela localidade sabe a importância desse aeródromo, uma pista asfaltada. Ao ser perguntado se sentia constrangido por ter usado o aeroporto para visitar sua fazenda, Aécio respondeu que não. E disse que ignorava o fato de a pista não estar homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac): — Não, não tenho (constrangimento), até porque eu não sabia que essa pista não estava homologada — disse Aécio. 

Bonner o interrompeu e argumentou que não se tratava de uma questão de homologação, mas do uso pessoal do aeroporto construído pelo estado de Minas Gerais. — Eu visitei praticamente todos os aeroportos de Minas Gerais, trabalhando, como governador do estado. E o fato central é esse, que a Anac, porque é muito aparelhada hoje, nós sabemos a origem das indicações da Anac, durante três anos não conseguiu fazer o processo avançar e homologar o aeroporto. 

Sobre uma eventual valorização das terras de sua família por causa da construção do aeroporto, Aécio respondeu:

—Olha, essa fazenda a que você se refere é uma fazenda que está na minha família há 150 anos, tem lá 14 cabeças de gado, essa é a grande fazenda. É um sítio que, valorizado ou não, minha família vai eventualmente nas férias . Ali ninguém está fazendo negócio. Essa cidade precisava desse aeroporto , como todas as outras que tiveram investimento em Minas Gerais . Eu nunca, na minha vida inteira, fiz nada que eu não pudesse defender de cabeça erguida. Criou- se em torno desse caso uma celeuma, e você próprio deve estar surpreso , um sítio que nossa parte deve ter 30 alqueires. Algo absolutamente familiar , pequeno, nada a ver com esse aeroporto , até porque nesse local já havia uma pista, eu poderia ter descido numa pista que estava lá há 20 anos — respondeu Aécio .

Críticas de PT e PSB, elogios de tucano mineiro
Ao comentar a entrevista de Aécio no "Jornal Nacional", o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que o tucano não respondeu a nenhuma pergunta de forma direta e que "tergiversou" ao falar sobre o aeroporto de Cláudio. — Ele falou em questão econômica. Mas o que justifica economicamente aquele aeroporto? Agricultura, pecuária? Ele tentou fugir o tempo inteiro — avaliou. 

Já o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), criticou a suposta falta de propostas do tucano e disse que Aécio tem dificuldade em se colocar como alternativa. 

Já o presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana, elogiou o desempenho de Aécio. Para Pestana, Aécio está num ótimo momento político, e a entrevista foi uma importante forma de falar a um público que ainda não o conhecia: — A atitude e a tranquilidade com que Aécio falou mostraram que o assunto (aeroporto) não é nenhum problema e que fez parte de um projeto legítimo para o estado de Minas Gerais.

Eduardo Campos apoia taxação de grandes fortunas e critica privatização

• Em sabatina do G1, candidato defende casamento gay e condena liberação da maconha

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO- O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, disse ontem, em sabatina promovida pelo site G1, ser a favor de um imposto para as grandes fortunas e contra a revisão da Lei da Anistia. Também defendeu o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas criticou as propostas de liberalização da maconha e descriminalização do aborto. Para ele, a legislação atual, que prevê essa prática em casos de estupro e de risco para a mãe, já é suficiente. Essas questões fizeram parte do "pinga-fogo" a que os jornalistas do G1 o submeteram no último bloco de sabatina, na série de debates com os candidatos a presidente da República, pedindo que ele respondesse sim ou não a essas questões. Ele disse ainda que é contra a privatização de estatais e contra o foro privilegiado para políticos, mas afirmou que é pela obrigatoriedade do voto e contra a união das polícias Civil e Militar . Também disse ser contra o ensino religioso nas escolas públicas, por entender que religião tem que ser aprendida nas igrejas.

Durante 45 minutos de sabatina, Campos insistiu em mudanças na economia, com mais crescimento e inflação menor. — Felipão fez o 7 a 1 no campo e Dilma fez o 7 a 1 na economia, com 7% de inflação e 1% de crescimento. Isso precisa mudar , com a inflação voltando ao centro da meta, em 4,5%, para depois chegar aos 3%, que é uma inflação que outros países da região, como Chile e Colômbia, já tem — disse Campos. Para o candidato, PSDB e PT já estiveram no poder nos últimos anos e fizeram o que podiam fazer , mas hoje "não compreendem o país que ajudaram a mudar , e, por isso, nos apresentamos para implantar uma nova pauta", disse. Perguntado sobre qual era a política para desenvolvimento do Nordeste, Campos defendeu o Bolsa Família: — O Nordeste tem 28% da população, 13% do PIB brasileiro, mas tem 50% dos pobres deste país. Por isso, o Brasil precisa voltar a crescer para podermos melhorar as condições de vida dessa população.

A política do Bolsa Família é uma conquista, mas não vamos resolver a situação do Nordeste apenas com esse programa. Temos que melhorar a educação para a região — afirmou. O candidato defendeu a criação de um fundo nacional para o financiamento do passe livre para estudantes das escolas públicas. Ele afirmou que, se eleito, criará um fundo com participação do Tesouro e com pelo menos 10% de contrapartida dos estados e municípios. Campos explicou novamente que não "mudou de lado ", ao ter apoiado o governo do PT de Lula e Dilma e, agora, se colocar como oposição. — Eu não mudei de lado . Sempre fiquei do lado do campo democrático e progressista. Sempre fui eleito pelo mesmo partido. Na vida, às vezes, temos que tomar atitude de coragem. É que o país vinha mudando e parou de mudar no governo da presidente Dilma — disse o candidato.

Cresce o escândalo de corrupção na Petrobras: O Globo – Editorial

Enquanto o escândalo do mensalão estourou de uma vez, na denúncia feita pelo mensaleiro acuado Roberto Jefferson, do PTB , à "Folha", o caso da montagem de um esquema de corrupção dentro da Petrobras tem emergido aos poucos. Na última edição de "Veja", contornos desse esquema ficaram mais nítidos, com a entrevista de Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef, cumprindo prisão preventiva em Curitiba.

Youssef, acusa a Polícia Federal, é o principal gerente de uma bilionária lavanderia de dinheiro sujo remetido por empreiteiras. E tendo como beneficiários finais políticos do "PT, PMDB e PP", revela a contadora. Também como o doleiro, cumpre prisão preventiva em Curitiba, base de operação de Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa - tudo indica, o primeiro elo do sistema de bombeamento de cifras incalculáveis neste propinoduto. Os dois, apanhados na Operação Lava-Jato, da PF.

Paulo Roberto, mostram investigações e Meire Poza, fazia o clássico papel de criador de dificuldades para vender facilidades. Podia-se deduzir que o ex-diretor da estatal havia sido peça-chave na quadrilha, no tempo em que presidiu o conselho de administração da obra da Refinaria Abreu e Lima, um monumento ao desvio de dinheiro público, como já atestam auditorias do TCU. Não é sempre que um projeto orçado em US$ 2 bilhões custa, ao final da obra, US$ 20 bilhões.

Com a decisão de Meire Poza de contribuir para as investigações da PF, as evidências de roubalheira na Petrobras e suposições de drenagem de dinheiro da estatal para financiar políticos do PT e aliados do governo passam a ter a sustentação de documentos e do testemunho de alguém que trabalhou nas armações. Pode-se dizer que o escândalo começa a ganhar dimensões de um outro mensalão de petistas, desta vez em sociedade com aliados próximos. É exemplar o pagamento de empreiteiras a empresas fantasmas de Youssef e a uma "consultoria" de Paulo Roberto Costa. Ciosas, revelou O GLOBO, empreiteiras declararam à Receita Federal o que pagaram ao esquema de Youssef e Costa. Ou, pelo menos, parte.

A contadora pode contribuir para jogar luz na outra ponta desta lavanderia, a dos políticos. Até agora, haviam sido citados o deputado André Vargas, sem partido, fora do PT devido às ligações com Youssef, e Luiz Argôlo (SDD-BA). Meire confirma um depósito para o senador Collor, já noticiado. O petista Cândido Vaccarezza, de São Paulo, também foi ajudado, para saldar dívida de campanha. E ela colocou na lista dos beneficiários Mário Negromonte (PP), ex-ministro das Cidades. É certo que a contadora sabe mais, a considerar as "malas e malas" de dinheiro que ela diz ter visto passar à sua frente. A presidente Dilma diz que a Petrobras é alvo de "factoides políticos". Não parece. Alvo ela foi de um aparelhamento que resultou em um escândalo formado por dois negócios desastrosos: as refinarias de Pasadena e Abreu e Lima. E ele começa a crescer.

Desfigurando a verdade: O Estado de S. Paulo - Editorial

Contra fatos não há argumentos, mas em desespero de causa sempre se pode tentar desqualificá-los, na expectativa de que outro dito se confirme - o que diz que uma mentira repetida muitas vezes acaba virando verdade. O primeiro fato, no caso, foi a revelação sustentada em evidências irrefutáveis de que, não bastasse a presidente da Petrobrás, Graça Foster, o seu antecessor José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró conhecerem de antemão as perguntas que lhes seriam feitas na CPI no Senado que focaliza notadamente o escândalo da compra de Pasadena, elas foram escolhidas a dedo para produzir respostas convenientes - também elas, aliás, combinadas com os depoentes.

O segundo fato inconteste foi a identificação do coordenador da armação que mobilizou dirigentes da estatal, assessores parlamentares petistas e a liderança do Planalto no Congresso, cujo titular, o senador José Pimentel, do PT, é nada menos do que o relator da CPI. (Dez de seus 13 membros, por sinal, integram a base governista na Casa.) O principal operador da farsa - veio a se saber, como tudo o mais, pela imprensa - chama-se Luiz Azevedo e exerce a função de secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, comandada pelo ministro Ricardo Berzoini, calejado quadro petista. As primeiras pistas não chegavam tão longe, fixando-se no assessor especial da Secretaria, Paulo Argenta. Ele havia sido citado numa comprometedora conversa cuja gravação um dos presentes passou adiante.

A descoberta de um Pasadenagate envolvendo diretamente o braço direito do ministro responsável por fazer a ponte entre a Presidência da República e o Poder Legislativo eliminou quaisquer dúvidas que ainda pudessem subsistir sobre a razão de ser da escabrosa articulação - muito mais do que defender a elite dirigente da Petrobrás, blindar a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Desde que ela confessou a este jornal, em março último, ter aprovado em 2006 a aquisição de metade da refinaria então em posse de um grupo belga, a história que parecia ter sido abandonada no freezer em seguida aos depoimentos de Gabrielli e de Graça Foster nas duas Casas do Congresso, ano passado, ressurgiu no micro-ondas.

Afinal, foi na condição de presidente da mais alta instância decisória da Petrobrás, o seu Conselho de Administração, que Dilma - fundamentando-se apenas em um resumo "técnica e juridicamente falho", do negócio em preparo, como diria ao Estado - abriu caminho para o maior vexame da petroleira em seus 61 anos de existência. Uma sucessão de erros primários - como o de recorrer, por decisão de Dilma, de uma sólida sentença judicial americana que dava ganho de causa à parceira da Petrobrás, depois que se desavieram - abriu na estatal um rombo histórico de US$ 792,3 milhões, segundo os cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU). Não será surpresa se um dia a cifra for revisada para cima. Ou se for constatado que, além de equívocos, grossas falcatruas contribuíram para a catástrofe financeira.

A primeira tentativa da presidente de brigar com os fatos da manipulação da CPI consistiu em se distanciar deles. "É uma questão que deve ser respondida pelo Congresso", lavou as mãos. Desmoralizado o "incluam-me fora disso" ao se comprovar na semana passada que a farsa havia sido concebida dentro do Palácio, esperou o que seria o melhor momento para desfigurar a verdade. Para aparecer na televisão no domingo à noite, convocou pouco antes uma entrevista no Alvorada, a residência oficial dos presidentes, a pretexto de mandar uma saudação pelo Dia dos Pais. E esperou o momento de ser perguntada sobre a armação na CPI para dizer que não é correto "misturar eleição com a maior empresa de petróleo do País".

Foi essa rota alegação que o governo invocou ao tentar de tudo - em sociedade com o dilmista Renan Calheiros, presidente do Senado - para impedir que a oposição abrisse na Casa uma CPI sobre os presumíveis malfeitos na Petrobrás. Barrado na Justiça o rolo compressor, o Planalto apropriou-se da investigação chegando aos extremos denunciados - para Dilma, apenas "um factoide político". Fez lembrar o seu mestre Lula negando o mensalão.

Militância prega boicote a petistas que escondem Dilma

• No Rio, há queixas sobre falta de material de campanha de candidatos

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - A militância petista iniciou uma campanha na internet pregando boicote aos candidatos do PT que estão escondendo as candidaturas majoritárias do partido, como da presidente Dilma Rousseff, que disputa a reeleição.

"Companheiros (as) que omitem as candidaturas majoritárias em seus materiais de campanha não merecem meu apoio! O correto é Dilma 13, governador 13, senador 13", afirma o cartaz virtual produzido pela militância petista.

Na semana passada, o presidente do PT, Rui Falcão, reclamou, em reunião da Executiva Nacional do partido, de um caso desses. Segundo participantes da reunião da Executiva Nacional, Falcão afirmou ter cobrado do candidato ao governo de Minas, Fernando Pimentel, por que Dilma não estava presente no material de campanha distribuído por ele.

O presidente do PT contou, ainda de acordo com pessoas presentes, que o mineiro negou estar escondendo a presidente e alegou ter havido um erro na gráfica. Dilma também não é citada no jingle de Pimentel. Em Minas, o candidato tucano à presidência, Aécio Neves, lidera no estado com 41%, de acordo com pesquisa Ibope realizada entre 26 e 28 de julho. Dilma aparece com 31%.

O problema, no entanto, não se restringe a Minas. A militância do PT está cobrando, também, que candidatos a deputado do partido incluam em seu material de campanha não só Dilma, mas também os candidatos ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, e do Rio, Lindbergh Farias.

No Rio, falta material
No Rio, porém, o problema extrapola a falta de divulgação da candidatura de Lindbergh e Dilma. Militantes petistas reclamam que simplesmente não há material de campanha disponível. Essa queixa tem sido recorrente nas reuniões do comitê eleitoral de Dilma, e partem de representantes de todo o país.

"Pessoal, e comitês de campanha do Rio? Quero adesivo pra carro e não acho! Do Aécio tão (sic) distribuindo na rua até!", escreveu Gustavo Afonso no twitter da militância do PT, referindo-se ao candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves (MG).

No Rio, pesquisa Ibope realizada entre 26 e 28 de julho coloca Lindbergh em quarto lugar, com 11%. Em São Paulo, Padilha aparece com 5% no último Ibope. Já Dilma enfrenta grande rejeição no maior colégio eleitoral do país: 47% dizem que não votariam nela de jeito algum. Na capital, esse percentual chega a 49%.

Pessimismo leva à mais longa série de cortes na projeção do PIB no pós-crise

Juliana Elias e Arícia Martins – Valor Econômico

SÃO PAULO - O abalo na confiança dos empresários e consumidores que vem atingindo a economia brasileira levou ontem os analistas de mercado consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, a cortar pela 11ª vez seguida as projeções para o PIB brasileiro neste ano. No fim de maio, a média das estimativas apontava crescimento de 1,63% do PIB em 2014 e no boletim de ontem este percentual já era de apenas 0,81%. Levantamento feito pelo Valor Data mostra que, no período pós-crise de 2008, não houve uma série tão longa de revisões consecutivas para baixo nas estimativas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) como a observada agora, sempre considerando o ano corrente.

Em 2009, quando o PIB recuou 0,3%, foram feitas sete revisões para baixo consecutivas nesta mesma previsão. No ano passado e em 2012, foram dez cortes seguidos. No começo deste ano, a mediana das projeções dos analistas para o PIB de 2014 estava em 1,95%, mas a deterioração das expectativas e o desânimo com os indicadores do primeiro semestre, sobretudo da indústria, levaram aos cortes.

O enfraquecimento da atividade econômica, no entanto, deve ajudar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a encerrar o ano com elevação abaixo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%, avaliam os economistas. Entre a edição passada e a atual do Focus, a mediana de expectativas para a inflação oficial de 2014 caiu pela quarta semana seguida, ao passar de 6,39% para 6,26%, movimento também influenciado pela alta do IPCA menor do que o esperado em julho, de apenas 0,01%.

Após conhecer o resultado do mês passado, o estrategista-chefe do Banco Mizuho Brasil, Luciano Rostagno, mudou de 6,31% para 6,22% sua estimativa para o avanço do IPCA em 2014. Rostagno afirma que a revisão resultou da incorporação do número de julho, que ficou bem abaixo do previsto. Embora o cenário prospectivo para o segundo semestre não tenha mudado, o economista avalia que a moderação do consumo das famílias e o desempenho negativo do lado da oferta da economia diminuem o risco de a inflação estourar o limite superior da meta no ano. "Acho que existe alguma relação com as revisões do mercado para o PIB e as feitas no IPCA", diz.

Recentemente, o Mizuho também reduziu sua projeção para o avanço anual da economia, de 1% para 0,9%. Para o estrategista-chefe do banco, o longo histórico de revisões para baixo dos analistas tem relação direta com a piora da confiança dos empresários, que, de acordo com a medição da Fundação Getulio Vargas (FGV), está no menor patamar desde abril de 2009. Mas é possível que, daqui para frente, a mediana de expectativas para o PIB se estabilize. "O cenário de pessimismo já foi incorporado, e as previsões já estão bastante baixas", disse.

"A gente tinha esperança de que o comércio fosse um pouco melhor, e que a produção industrial não fosse tão ruim quanto se mostrou", disse Leonardo França, analista da Rosenberg Associados. A consultoria começou o ano com a projeção de um PIB crescendo a uma taxa de 2% em 2014. Atualmente, no entanto, esperam alta de apenas 1,1%.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a série prolongada e intensa de revisões nas projeções do PIB no Boletim Focus guarda relação com o fato de se ter iniciado o ano com as expectativas mais altas do que a realidade viria a apontar depois. "Demorou um pouco para que a percepção sobre a atividade se consolidasse. Havia ainda uma parte importante dos analistas que acreditava que a economia neste ano andaria forte", disse ele. "No início do ano, se esperava uma recuperação da economia americana mais forte e a mudança da trajetória da política monetária por lá, o que se mostrou mais fraco do que esperado. Aqui dentro, começaram a sair os primeiros dados, e só saíram dados ruins".

Produção industrial em retração, cadeia automobilística em queda livre e comércio em desaceleração foram alguns dos resultados que desapontaram as perspectivas no primeiro semestre. A expectativa do Fator para o PIB de 2014 hoje é de 0,8% - no começo do ano o banco projetava 1,9%.

"Desde 2013 vemos vários sinais de que a economia vai desacelerar em algum momento. Então vamos tateando e aguardando os dados concretos para ajustar aos poucos as projeções ao longo do tempo", explica o economista do Itaú Unibanco Caio Megale. "Havia a pressão da inflação mais alta, o que afeta a renda disponível, o movimento de aumento de juros do BC, o que afeta o crédito, o sinal da política fiscal de não dar mais desonerações e também o endividamento mais alto do consumidor."

Megale destaca também o papel da confiança, tanto de empresários quanto de consumidores, cujos principais indicadores despencaram ao longo do ano. "É um fator que pesa nos fundamentos da economia, e foi uma queda muito intensa", diz. "Isso é permanente? É temporário? Como caiu tão rápido, não pode também ter um pouco de exagero? É preciso acompanhar tudo com cautela."

Inflação - Analistas projetam alta para 2015

• Ao contrário das projeções oficiais, as instituições que mais acertam previsões avaliam que preços administrados e câmbio vão pressionar IPCA para 6,47% no ano que vem

Sonia Filgueiras – Brasil Econômico

Na contramão do que projeta o Banco Central, as cinco instituições financeiras que mais acertam previsões de médio prazo apuradas pela pesquisa Focus, do Banco Central, preveem para 2015 uma inflação mais elevada que a deste ano. Impactos mais fortes do aumento dos preços administrados e da taxa de câmbio são os dois principais fatores que levam os economistas destas empresas a trabalharem com um cenário inflacionário pior. Para o grupo, chamado de "Top-5" de médio prazo na pesquisa (que reúne as expectativas do mercado para diversos indicadores econômicos), na média, a inflação ficará em 6,32 % em 2014, e 6,47% em 2015. Especialistas que acompanham de perto as projeções apontam que em geral, o grupo do médio prazo é mais certeiro nas apostas para um ano à frente que o agregado do mercado.

Talvez por isso, o que se viu no Boletim Focus divulgado ontem pelo BC foi uma aproximação da média em direção à elite: agora, o mercado de maneira geral trabalha com estabilidade e não queda para o IPCA: ele ficaria em 6,26% (ante 6,39% há uma semana) em 2014 e em 6,25% em 2015. Na gangorra das previsões, caiu a estimativa para este ano, mas a de 2015 moveu-se apenas marginalmente, de 6,24% para 6,25%. Já o Banco Central trabalha com uma previsão de desaceleração: IPCA de 6,4% neste ano e de 5,7% no próximo, de acordo com o Boletim de Inflação, divulgado em junho. Na última semana, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton de Araújo, reafirmou a expectativa do BC na na trajetória de queda do IPCA, mesmo em um cenário em que o real sofra uma desvalorização maior frente ao dólar nos próximos meses.

"Em um dos cenários que trabalhamos, está contemplada alguma depreciação cambial e ainda assim teríamos recuo na projeção de inflação ao longo do tempo", afirmou ele em entrevista na quinta-feira 7. Stephan Kautz, economista-chefe da Neo Gestão de Recursos, que ocupa a primeira colocação na lista dos cinco melhores, informa que trabalha com um IPCA de 6,15%para este ano e uma leve piora para 2015: 6,30%. "Há uma pressão de alta dos preços regulados, em especial da energia elétrica, que nos faz avaliar que a inflação continuará alta no próximo ano", diz ele. "Muda a composição do índice, mas não muda o seu patamar", diz ele. A Neo trabalha com uma desvalorização do real frente ao dólar de 10% ao longo de 2015, pelo menos.

No caso dos preços sujeitos correções pré-estabelecidas em contrato ou controlados pelo governo, como luz, combustível e tarifas de transporte, a Neo Investimentos projeta 7,2%. Cristiano Oliveira, economista do Banco Fibra, que ocupa o quarto lugar na lista dos cinco melhores, também vê nos preços administrados uma ameaça, ainda que a recomposição de tarifas, represadas pelo governo para conter a inflação, seja realizada ao longo de dois anos. No caso, a elevação projetada é de 8,5%. "A queda dos preços livres, em nossa avaliação, não será suficiente para compensar o peso das correções dos preços administrados e a desvalorização do câmbio", diz. "No médio prazo, vemos um comportamento bem menos benigno para o IPCA, principalmente por conta da aceleração dos preços administrados.

Estimamos que se as principais defasagens dos preços administrados fossem zeradas hoje, o IPCA seria 1,2 ponto percentual mais alto. A convergência do IPCA para o centro da meta é um desafio à frente", afirma Oliveira. Para ele, o preço da energia elétrica não será o único a pesar. "Prevemos correções importantes (de 10% em 2015) nas tarifas de transporte urbanos nas principais capitais brasileira, entre elas São Paulo, que há dois anos não faz correções", explica, lembrando que a capital paulista tem um peso importante no IPCA. Oliveira prevê para este ano IPCA de 6,3% e de 6,5% para 2015. Ao contrário dos top Five anteriores, Felipe Carvalho, sócio e economista responsável pelas projeções da Absolute Investimentos, na segunda colocação no grupo, trabalha com uma trajetória alinhada à do BC: 6,4%para este ano e 6% para 2015.

De “aloprado” para: O "doidinho" do Planalto

Correio Braziliense

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, responsabilizou ontem "algum doidinho do Planalto" pelas alterações em perfis de jornalistas no site Wikipédia. Para Carvalho, quem alterou os perfis "prestou dois desfavores", aos profissionais da imprensa e ao governo federal. "Lamentamos muito o que houve, porque a pessoa que fez prestou dois desfavores. Agora, paira a suspeita de que algum doidinho do Planalto tenha feito essa mudança. Essa pessoa fez malfeito e acabou jogando um problema para dentro do Planalto", disse.

As críticas a Carlos Alberto Sardenberg e a Míriam Leitão teriam sido feitas a partir de computadores do Palácio do Planalto, conforme reportagem do jornal O Globo. Uma comissão do governo começa a investigar o caso hoje.

Ontem, mais uma alteração em perfis da Wikipedia foi revelada. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, teria tomado um susto ao descobrir que informações negativas a seu respeito haviam sido postadas de uma máquina localizada na própria pasta que comanda. "Em seu primeiro período como ministra do Meio Ambiente, em 2010, notabilizou-se por ter efetuado os maiores gastos em viagens entre todos os ministros do governo, tendo recebido, só em diárias, R$ 65.000,00 nos 50 dias em que esteve viajando pelo exterior", diz parte do texto.

Izabella entrou em contato com a enciclopédia on-line e conseguiu que a primeira informação do verbete que leva o nome dela ressaltasse que a página "possui passagens que não respeitam o princípio da imparcialidade". A informação é do blog da jornalista Cristiana Lôbo.

"Patrimônio nacional"
Gilberto Carvalho ainda reclamou da "exploração eleitoral" em torno das denúncias contra a Petrobras. "A gente acha muito ruim, negativo, tentar usar, desmerecer, rebaixar a Petrobras, um patrimônio que não é do governo. É um patrimônio nacional. E nós sabemos que, como a Petrobras tem ações na bolsa, quanto mais se divulga que ela está com problemas, é uma profecia que se autorrealiza: você ajuda a piorar a situação da empresa."

Confrontado com a diminuição de 8% no lucro líquido da estatal no segundo trimestre de 2014, em relação aos primeiros três meses do ano, e de 25% se comparados o primeiro semestre desde ano e o de 2013, Carvalho ressaltou que "a Petrobras continua tendo muito lucro". "Problemas, toda grande empresa tem", complementou.

Marco Antonio Villa: Os jihadistas tupiniquins

- O Globo

Estamos a menos de dois meses das eleições. Mas não parece. Há um clima de desânimo, de desinteresse, de enfado. Acreditava-se que, após o fim da Copa do Mundo, as atenções estivessem concentradas no processo eleitoral. Ledo engano. A pasmaceira continua a mesma. Agora, o divisor de águas é o horário gratuito que começa dia 19. Para o PT, este é o clima ideal para a eleição presidencial. Quanto menor o interesse popular, maior a chance de permanecer mais um quadriênio no poder. O partido tem, inclusive, estimulado discretamente campanha pelo voto nulo ou branco. Sabe que muitos eleitores estão desanimados com a política, justamente com as mazelas produzidas pelo próprio petismo.

A desmoralização das instituições foi sistematicamente praticada pelo partido. A compra de maioria na Câmara dos Deputados, que deu origem ao processo do mensalão, foi apenas o primeiro passo. Tivemos a transformação do STF em um puxadinho do Palácio do Planalto. O Executivo virou um grande balcão de negócios e passou a ter controle dos outros dois poderes. Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum pudor.

Não há área do governo que nos últimos anos tenha permanecido ilesa frente à sanha petista. Todos os setores da administração pública foram tomados e aparelhados pelo partido. Os bancos, as empresas estatais e até as agências reguladoras se transformaram em correrias de transmissão dos seus interesses partidários.

Imaginava-se que, após a condenação dos mensaleiros, o ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu bel-prazer pudesse, ao menos, diminuir. Nada disso. Os episódios envolvendo a Petrobras demonstram justamente o contrário. E mais: neste caso levaram ao descrédito total os trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e desmoralizaram mais uma vez o Legislativo.

As ações seguem um plano de que o partido é o elemento central da política, nada pode ocorrer sem a sua anuência. Esta estrutura tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes. A insistência em impor o projeto dos conselhos populares - uma espécie de sovietes dos trópicos - faz parte desta visão de mundo autoritária.

O maior obstáculo para o PT é a existência do Estado Democrático de Direito. O partido tem como objetivo estratégico miná-lo diuturnamente. Suas ações chocam-se com a "institucionalidade burguesa".

O PT usará de todos os meios para se manter no poder. Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como era do seu interesse. Mas com a permanência de Dilma em um patamar que vai levar a eleição para o segundo turno - isto hoje é líquido e certo -, o partido vai abrir a sua caixa de ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.

O uso da internet para desqualificar seus opositores é realizado há um bom tempo. O PT tem um verdadeiro exército de jihadistas prontos para o ataque. O recente episódio de mudanças no perfil de jornalistas na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem por aí. O auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo turno, onde uma calúnia tem muito mais efeito eleitoral, principalmente se divulgada às vésperas da eleição.

As modificações ocorridas no Tribunal Superior Eleitoral passaram em branco. É bom que a oposição fique atenta, pois quem vai presidir a eleição é um ex-funcionário do Partido dos Trabalhadores e ex-advogado de um sentenciado no processo do mensalão, José Dirceu. O presidente do TSE é o ministro Dias Toffolli.

Neste processo chama a atenção a ação de Lula, seu líder máximo - e único, na verdade. Tem se mantido - até o momento - discreto na campanha eleitoral. Visitou alguns estados e mesmo em São Paulo tem participado pouco das atividades. Pode ser que tenha sentido um cheiro de derrota no ar e está buscando preservar sua figura. No caso da eleição paulista, isto já é definitivo. Seu candidato já está derrotado. Esperto como é, pode já estar iniciando a campanha de 2018. E com o figurino de salvador da pátria.

Frente a este quadro é que a oposição precisa exercer o seu papel. Nesta eleição tem agido com mais consistência, buscando alianças regionais e um discurso mais simples e compreensível para o eleitor. Tem atuado melhor, mas distante do que se espera de uma oposição no grave momento histórico que vivemos.

Eduardo Campos tenta - mas tem muita dificuldade - de encarnar o figurino oposicionista. Afinal, permaneceu mais de um decênio apoiando o governo, inclusive exercendo função ministerial. Mas teve ousadia em se lançar candidato.

É Aécio Neves que tem de exercer o papel de opositor do petismo. Tem se esforçado, é verdade, porém a campanha ainda não empolgou. Conseguiu habilmente construir bons palanques estaduais. Diversamente de 2010 rachou o apoio petista no trio de ferro da política brasileira. Em Minas Gerais deve ter uma grande vitória. Em São Paulo, se conseguir colar a sua candidatura à de Geraldo Alckmin, pode ter a maior vitória do partido no estado desde o restabelecimento das eleições diretas. Conseguiu um raro feito no Rio de Janeiro, rachando o bloco de apoio à petista que foi importante em 2010. Deve surpreender no Nordeste tendo uma boa votação, rompendo com o domínio petista, como na Bahia. Mas ainda é pouco.

A máquina autoritária petista pode ser derrotada. Os dois próximos meses são decisivos. O PT vai usar todas as suas armas. Sabe que é uma batalha de vida ou morte, pois longe do aparelho de Estado não consegue mais sobreviver.

Marco Antonio Villa é historiador

Merval Pereira: A banalização do crime

- O Globo

Sem ter como desmentir as recentes denúncias de manipulação criminosa, os governistas e sua vasta rede de militantes que atuam na internet passaram a uma bem orquestrada ação de banalização dessas atividades ilegais, como se fossem corriqueiras. É o caso da preparação dos ex-diretores da Petrobras para depoimentos na CPI que apura a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, acusada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de prejudicial aos cofres da empresa.

A própria presidente Dilma abriu essa discussão ao acusar publicamente o ex-diretor Nestor Cerveró de ter produzido um relatório falho tecnicamente, que induziu o Conselho Administrativo da Petrobras, presidido por ela na ocasião, ao erro de aprovar uma transação que se mostrou equivocada. Pois bem, como é sabido a Petrobras demitiu Cerveró, que à época trabalhava na BR Distribuidora, e a própria presidente da estatal, Graça Foster, admitiu no Congresso que aquela não fora uma boa compra. Descobre-se agora que a Petrobras está pagando as multas com que os ex-diretores foram punidos pelo TCU, e que todos eles, inclusive o culpado pelo prejuízo, estavam recebendo orientações especiais e treinamento para o depoimento na CPI da Petrobras.

Não bastasse a estranheza de a estatal prejudicada bancar a defesa de ex-diretores acusados de malversação de dinheiro público, gravações de uma reunião na sede da Petrobras revelaram que a chegada de Cerveró à sede da empresa foi cercada de preocupações e cautelas para que sua presença não fosse notada. E que as perguntas que seriam feitas a ele e a outros diretores já estavam previamente preparadas pelos próprios membros da CPI da base aliada do governo.

O ministro das Comunicações Paulo Bernardo, para justificar essa tramoia, deu uma declaração absolutamente absurda: segundo ele, desde Pedro Álvares Cabral, as CPIs são arranjadas. Esqueceu-se de que a CPI que derrubou o então presidente Collor foi liderada pelo PT, e que outras, como a dos Correios, acabaram levando à cadeia diversos líderes petistas envolvidos no mensalão.

Na verdade, as CPIs, um instrumento das minorias, sempre tiveram papel importante no desvendar de atos corruptos, e só quando a maioria resolve boicotá-la é que se transforma em uma farsa como a da Petrobras. Na própria gravação é possível ouvir os advogados da Petrobras procurando uma maneira segura de enviar as perguntas a José Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, o que não seria necessário se não fosse um ato escuso. Treinar os depoentes em CPIs é uma coisa, montar uma farsa com perguntas previamente combinadas é outra muito diferente. A mesma coisa acontece com o caso dos perfis da Wikipédia alterados por pessoas de dentro do Palácio do Planalto.

Que a Wikipédia é um ambiente aberto a todos, ninguém discute. Mas a inclusão de informações inverídicas e calúnias no perfil de alguém não pode ser considerada normal. Especialmente se essas ações são feitas no Palácio do Planalto, de onde saíram mais de 200 alterações em diversos perfis, muitas para incluir elogios a pessoas do governo, outras para atacar jornalistas independentes como Míriam Leitão ou Carlos Alberto Sardenberg.

A própria presidente Dilma, ao repudiar a ação, cometeu um ato falho ao dizer que "nesse caso específico, é algo que quem quiser fazer individualmente que faça, mas não coloque o governo no meio." A fala da presidente é reveladora de uma maneira de pensar a luta política: distorcer informações sobre pessoas consideradas inimigas do governo pode ser uma atividade política que alguns utilizam, desde que não coloque embaraços para o governo.

Que a guerrilha virtual é uma atividade corriqueira dos petistas, já é sabido. A novidade, que agrava a situação, é que agora essa prática criminosa está sendo feita de dentro do Palácio do Planalto, numa demonstração de que não há mais um mínimo de separação entre o governo e a campanha eleitoral, até mesmo nas ações mais baixas. É uma ação de guerrilha de dentro do palácio do governo. Como a presidente pode lavar as mãos? Não há cadeia de comando? Nem dentro do Planalto? Como o Gilberto Carvalho pode dizer que foi "uma bobagem" e ficar tudo bem?

Nesse caso, pelo menos politicamente, o ônus da prova se inverte. É a Presidência que precisa entregar o culpado e provar que era um aloprado celerado agindo por conta própria. Caso contrário, é como se o Nixon dissesse que quem instalou aquelas escutas no prédio Watergate foram uns aloprados do Partido Republicano.

Dora Kramer: Em casa de enforcado

- O Estado de S. Paulo

O que é um factoide? Um pseudofato criado para chamar atenção para alguma coisa ou alguém ou para amenizar o efeito de outros atos.

Nessa definição se enquadra a entrevista convocada pela presidente Dilma Rousseff, neste domingo, em que qualificou como "factoides políticos" as denúncias envolvendo negócios, diretores e ex-dirigentes da Petrobrás.

O pseudofato foi a entrevista da presidente, que nada tinha de importante a dizer. Emitiu juízo de valor sobre o que o Tribunal de Contas da União pode ou não pode fazer. Segundo Dilma, "não pode" submeter uma pessoa "íntegra, correta" como a presidente da Petrobrás, Graça Foster, "a esse tipo de julgamento".

Referia-se à decisão a ser tomada nesta semana sobre a inclusão ou não da executiva na lista dos diretores da estatal que tiveram os bens bloqueados devido ao prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobrás, detectado pelo TCU no exame dos documentos sobre a compra da refinaria de Pasadena.

A declaração foi antes de qualquer coisa inadequada e irrelevante. Não cabe à presidente da República determinar o que deve ou o que não deve fazer o TCU, órgão ligado ao Poder Legislativo. Além disso, ficou parecendo que os outros 11 diretores que tiveram seus bens bloqueados não são íntegros nem corretos no entender da presidente.

Dilma Rousseff mostrou-se também convenientemente esquecida de que foi ela quem repôs a Petrobrás sob o foco da política. Não falemos sobre o aparelhamento nem sobre o manejo dos preços dos combustíveis.

Fiquemos no simples fato de que foi ela quem acusou a diretoria de induzi-la ao erro, a fim de ser excluída do rol dos atuais acusados pelos prejuízos. Um remendo levou à necessidade de outros cada vez maiores.

No domingo, o intuito dos conselheiros da presidente talvez tenha sido o de ocupar o noticiário de segunda-feira, para reduzir o espaço dedicado à repercussão da entrevista da ex-contadora do doleiro Alberto Youssef à revista Veja.

Esta, sim, mais consistente no que se refere a fatos. A moça, Meire Bonfim da Silva Poza, resolveu contar o que sabe à Polícia Federal. Não são boatos, portanto. Relatou operações feitas por ela durante três anos envolvendo malas de dinheiro repassadas a empreiteiras donas de contratos com a Petrobrás, intermediados pelo ex-diretor administrativo Paulo Roberto Costa, cuja destinação final desemboca em políticos de três partidos, PT, PMDB e PP.

Podem ser invencionices? Podem. Mas bastante verossímeis, pois guardam relação com o que até agora vem sendo apurado pela Polícia Federal. Não parecem fabulações de caráter eleitoral como quer fazer crer a presidente, até mesmo desqualificando um órgão sob sua jurisdição.

Não estivesse o instituto da CPI tão absolutamente desmoralizado, seria o caso de se instalar um inquérito parlamentar para investigar a participação dos congressistas nesse esquema. Mas, hoje, as comissões ganharam dos petistas um atestado de tradição de farsa "desde Pedro Álvares Cabral".
Falam disso com a ligeireza de quem está no poder, abstendo-se da prudência de pensar que um dia podem voltar à oposição.

Língua nos dentes. É concreta, embora não seja certa, a possibilidade de o ex-diretor administrativo da Petrobrás Paulo Roberto Costa fazer acordo de delação premiada.
Preso pela primeira vez em março deste ano na Operação Lava Jato da Polícia Federal, foi solto 59 dias depois e preso de novo em junho por ter omitido a existência de uma conta na Suíça e a posse de um passaporte português.

Quanto menores as possibilidades de defesa, maior a probabilidade de um e de outro (ou até dos dois) optarem por um acordo para contar o que sabem. O ex-diretor da Petrobrás estaria apenas aguardando o resultado de um pedido de relaxamento da prisão preventiva.

João Bosco Rabello: Longe dos olhos

- O Estado de S. Paulo

O prazo de 60 dias estabelecido pela presidente Dilma Rousseff para a conclusão das investigações sobre o uso de computador do Palácio do Planalto para alterar perfis de jornalistas na Internet, cai em 10 de outubro, uma semana após a votação do primeiro turno eleitoral.

Parece estratégico o prazo – e é, se considerado o nível de dificuldade inferior ao tempo para a apuração de um IP – a identidade de um equipamento, que leva ao (s) seu (s) usuário (s). Qualquer que seja o resultado só poderá ter alguma influência num segundo turno eleitoral.

Até lá, o tema fica obstruído pela investigação, que o retira de pauta enquanto durar. A campanha já terá seguido seu rumo, para bem ou mal do governo, cada vez com mais frentes negativas a desafiar o projeto de reeleição.

O governo terá feito seu papel – o de mandar apurar -, já tendo condenado o ato, “doa a quem doer”. Livra-se assim dos efeitos imediatos de um ato de aloprados, um segmento partidário cujo epíteto jocoso ajuda a incorporá-lo ao organismo político, como um mal administrável.

O sentido pejorativo da expressão ajuda a blindar criminosos políticos com a tolerância que se aplica a “meninos peraltas”, que no dizer dos nossos avós não paravam de “fazer arte”. E com essa distorção, uma pérola da manipulação do psicológico coletivo sacada pelo ex-presidente Lula, a turma chegou ao Palácio do Planalto de onde, agora, faz suas “diabruras”.

De certa forma, estimulados não só pelo truque que os tolera, embora sempre condenados moralmente, mas também por senhas permissivas, como a da presidente Dilma de que “em eleição se faz o diabo”.

E é novamente a presidente quem comete o ato falho que denuncia o espírito meramente protocolar da condenação da fraude na Internet por inquilino do Planalto. “É algo que se alguém quiser fazer individualmente, que faça, mas não coloque o governo no meio”.

Ou seja, o erro do elemento que alterou perfis de jornalistas na Internet, na versão presidencial, foi fazê-lo de dentro do Palácio. O ato fraudulento, da inserção da calúnia em perfil público de outrem, é, portanto, algo que só diz respeito ao governo se feito nos seus domínios físicos. Longe deles, não é problema, ainda que feito por aliados, e mesmo sendo condenável.

Aos ouvidos do militante aloprado a condenação presidencial se compara à bronca no menino arteiro que tem mau comportamento na frente das visitas. Fora dos olhos dos pais está liberado para fazer o que não deve. Fora de casa, melhor ainda.

Depois de hesitar na crítica ao episódio, o governo procurou livrar-se do problema alegando que a alteração dos perfis poderia ter sido feita por uma máquina particular, embora dentro do ambiente palaciano, valendo-se do sistema wifi.

Depois disse ser muito difícil localizar o autor, mesmo conhecido o IP de onde partiu a operação digital. Os obstáculos iniciais apresentados parecem seguir um método para justificar agora o prazo de dois meses de apuração, que certamente será contestado pela oposição.

Não é o único episódio em que a presidente tenta afastar de seu governo as ações do PT, com discurso frágil. Também no caso da Petrobrás, o esforço retórico sucumbe ante a realidade dos fatos:

Dilma passou a classificar de factóide o escândalo que ela própria reconheceu como tal, ao atribuir à diretoria da Petrobrás que aprovou a operação de compra da refinaria de Pasadena a omissão de dados que orientariam o Conselho a rejeitá-la.

Se não era factóide antes, não o pode ser depois, quando os desmandos na companhia se mostram mais numerosos e graves na medida em que avançam as investigações nas esferas policial e judicial.

O comportamento errático da presidente indica a dificuldade crescente do governo em administrar a crise, tarefa que lhe foi mais fácil nos tempos da bonança econômica que hoje já não serve como anestesia para o contribuinte.

Eliane Cantanhêde: Da euforia ao desânimo

- Folha de S. Paulo

A última cerimônia de apresentação de credenciais de embaixadores estrangeiros à presidente da República foi no final do ano passado. Desde então, lá se vão tantos meses, os novos embaixadores em Brasília estão num limbo.

São em torno de 20, de variados países e continentes, que vivem, trabalham e se movimentam no país sem terem apresentado oficialmente suas credenciais a Dilma.

O embaixador da Turquia disse a colegas que não consegue sequer viajar. Teme sair de Brasília num dia e a cerimônia ser convocada para o dia seguinte, sem tempo de voltar. Não é paranoia. Há relatos de embaixadores chamados pelo Planalto num fim de tarde para entregar credenciais na manhã seguinte.

Essa pequena história ilustra algo detectável em conversas informais com a comunidade diplomática em Brasília: o clima de euforia durante o governo Lula cedeu a um ambiente de surpresa e desânimo (também) entre diplomatas. Cá entre nós, não apenas entre os estrangeiros.

Dias depois de alugar uma casa no Lago Sul, o bairro mais sofisticado da capital da República, um europeu recebeu um telefonema desesperado: ladrões arrombaram a casa, onde estavam sua mulher e filhos. Ele, que já tinha servido no Brasil, questiona: "Por que as mortes em Gaza, na Síria e no Egito chocam tanto, se aqui morrem mais de 55 mil pessoas por ano vítimas da violência?" Alguém se anima a responder?

Uma asiática quer ir ao Nordeste, mas tem medo. Todos reclamam dos preços. Um diz que ficou muito animado para vir, quando o Brasil era o queridinho internacional. Chegou, se instalou e logo o entusiasmo --internacional e dele-- começou a murchar. Hoje, anda meio desanimado, principalmente com a economia.

Diplomatas são cautelosos por definição, mas os estrangeiros já admitem a frustração com o país, e os nacionais não escondem a mágoa com Dilma. Ela não gosta de diplomacia. E o Itamaraty anda bem apagado.

Raymundo Costa: Renovação tira líderes do Congresso

• Se eleito, Aécio terá mais dificuldades para fazer reformas

- Valor Econômico

Além de grande, a renovação do Congresso deve atingir uma boa parte dos mais influentes deputados e senadores. Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) revela que dos 100 "Cabeças do Congresso" eleitos a cada legislatura pelos colegas, 71 estão em final de mandato, sendo 63 deputados e oito senadores. Desse total, 17 não voltam porque desistiram de disputar a eleição ou concorrem a outros cargos em seus Estados.

A renovação do Senado deve ser maior que na Câmara, sobretudo porque apenas nove dos 27 senadores cujos mandatos se encerram em 2015 são candidatos à reeleição. Supondo que os nove consigam um novo mandato, o que é improvável, isso já representaria uma mudança de 20,98% da composição total da Casa - ou de 55,56% das vagas em disputa nesta eleição.

Ocorre que outros 18 senadores com mandato até 2019 são candidatos a outros cargos em outubro, sendo 16 deles ao governo de seus Estados, um à Presidência da República, Aécio Neves, e outro a vice-presidente, o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, que compõe a chapa com do PSDB com o colega de Minas Gerais, o que aumenta a expectativa de renovação da assim chamada Câmara alta.

Dos 513 deputados federais, a investigação do Diap apurou que 396 - 77,19% da atual composição da Câmara - concorrem à reeleição. Os demais 117 ou não disputam nenhum cargo, caso de 40 deles (7,80%), ou concorrem a outros cargos, caso dos 77 restantes (15%). Devido ao ambiente de mudanças, a expectativa é que a renovação supere os 50%, marca que não é atingida desde 1994, quando chegou a 54% dos deputados.

No caso dos "Cabeças do Congresso" que estão em final de mandato, oito já desistiram da reeleição, nove concorrem a cargos do Executivo ou às Assembleias estaduais, e estarão definitivamente fora do próximo Congresso, e 54 tentam a reeleição ou sair da Câmara para o Senado ou vice e versa.

Há 29 "Cabeças" com mandato até 2019, sendo que 13 deles são candidatos a governador. "Supondo que um terço destes (4 dos 13) sejam eleitos governadores e um terço dos que tentam a reeleição (18 dos 54) não renovem seus mandatos, somados aos que desistiram (oito) e aos que concorrem a outros cargos no Executivo ou Assembleias Legislativas (nove), no melhor cenário, algo como 40% dos "Cabeças" estariam fora do próximo Congresso, especula o diretor de pesquisa do Diap, Antonio Augusto Queiroz.

Será um baque forte entre os nomes que hoje comandam o Congresso. O Senado, por exemplo, perde de uma só vez José Sarney (PMDB-AP), Pedro Simon (PMDB-RS) e Francisco Dornelles (PP-RJ). Sarney, não é segredo, sempre foi o articulador dos grandes acordos, um garantidor dos governos do PT, especialmente na era Lula. Ex-presidente da República, Sarney sabe como poucos o quanto o Legislativo pode impor dificuldades para o Executivo. Também pede como poucos, mas sempre corresponde com a contrapartida esperada dele.

O senador Francisco Dornelles, que será candidato a vice-governador do Rio de Janeiro na chapa de Luiz Fernando Pezão (PMDB), é uma referência em matéria financeira e - especialmente - tributária. Nenhum projeto referente a esses assuntos tramita pela Casa sem que sua opinião seja consultada. A importância de Pedro Simon pode ser medida por seu desempenho nos debates - em um deles apressou a queda de um ministro forte do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando pediu a sua renúncia.

Na Câmara, os "Cabeças" também devem fazer falta, a começar por seu atual presidente, Henrique Alves (PMDB), candidato favorito ao governo do Rio Grande do Norte. Henrique está na Câmara há 44 anos. Abelardo Lupion (DEM-PR) é um dos líderes ruralistas que não voltam em 2015, assim como Sandro Mabel (PR-GO). Homem das mineradoras, o deputado Bernardo Vasconcellos (MG) também liderou a rebelião do PR que tirou César Borges do Ministério dos Transportes, apesar de a presidente Dilma Rousseff preferir manter o auxiliar no cargo. Inocêncio Oliveira (PR-PE), ex-presidente da Câmara, conhece o regimento e as manhas para sustentar uma sessão da Casa.

Queiroz vê aspectos positivos e negativos numa renovação tão extensa, se ela de fato se confirmar como prevê o Diap. A perda de experiência e de articuladores com traquejo pode ser negativa. Por outro lado, um Congresso renovado e eleito num ambiente de mudança, como demonstram todas as pesquisas de humor do eleitorado, pode levar para Brasília parlamentares mais sensibilizados para assuntos como a reforma política, por exemplo.

Sempre que há grandes renovações também há mudanças no Parlamento. O melhor exemplo disso foi a renovação de 1990, que chegou a 62% na Câmara dos Deputados. Foi na legislatura eleita em 90 que estourou o escândalo dos "Anões do Orçamento". Como os esquemas antigos em geral são fechados, os novos, quando chegam, são repelidos e acabam por denunciar panelas como a que dava as cartas na Comissão do Orçamento.

Em relação ao futuro governo, Antônio Augusto Queiroz avalia que o senador Aécio Neves, se for eleito, terá muito mais dificuldades com o Congresso do que a presidente Dilma Rousseff e o candidato do PSB a presidente, Eduardo Campos. Por mais que o tucano atraia o apoio do PMDB, o tucano terá o PT na oposição, liderando um grupo de partidos que deve ter entre 180 e 200 deputados, o que já seria bastante para inviabilizar a agenda de reformas do PSDB, que exige quorum constitucional. O PT é um partido que cresceu na oposição, agora conhece a máquina por dentro e sabe como mobilizar os movimentos sociais. Eduardo, por seu turno, teria mais facilidade para encaminhar uma agenda de reformas à esquerda. Dilma provavelmente terá uma base encorpada para uma agenda de reformas, se este for o caso, o que definitivamente não foi no primeiro mandato.

Luiz Carlos Azedo: Erros fatais...

• Enquanto Dilma joga fora a vassoura que chegou a empunhar no começo do governo para a faxina na equipe ministerial que herdou do ex-presidente Lula, a oposição sacode o tapete que encobre os negócios da Petrobras

- Correio Braziliense

A presidente Dilma Rousseff quer pôr uma pá de cal sobre o caso Pasadena, escândalo que ameaça apear do cargo a presidente da Petrobras, sua amiga Graça Fortes, em razão de os diretores da empresa à época estarem sendo responsabilizados por prejuízos causados à estatal. No domingo, tentou interditar o debate sobre o tema nas eleições e blindar a cúpula da empresa. "Não se pode misturar eleição com a maior empresa de petróleo do país. Utilizar qualquer factoide político para comprometer uma grande empresa e sua direção é muito perigoso", disse.

Vai ser difícil evitar o assunto na campanha. Curioso nessa história toda é que a própria presidente Dilma Rousseff tirou esse gênio da garrafa, ao denunciar que a aprovação da compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), por US$ 1,2 bilhão, foi feita sem que o Conselho de Administração da Petrobras, que à época presidia, tivesse conhecimento de cláusulas consideradas lesivas à estatal. Ao tirar o corpo fora, Dilma jogou o ex-diretor da empresa Nestor Cerveró e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli aos leões da oposição.

Em fevereiro de 2006, o conselho aprovou a aquisição de 50% de Pasadena, por US$ 360 milhões. O valor é muito superior ao pago um ano antes pela belga Astra Oil pela compra da refinaria: US$ 42,5 milhões. Depois, a Petrobras foi obrigada, por decisão de uma corte de arbitragem, a comprar 100% da unidade, antes compartilhada com a empresa belga. Ao fim, aponta o TCU, o negócio custou à Petrobras US$ 1,2 bilhão. A suspeita de superfaturamento se tornou alvo de investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal.

Há duas versões para o gesto de Dilma Rousseff, que transformou uma notícia de jornal — de que era presidente do conselho da estatal à época — na maior crise política já enfrentada pela empresa. São faces da mesma moeda. A primeira é de que Dilma já saberia que as investigações sobre a operação poderiam resultar também na incriminação dos antigos membros do conselho e, por isso, teria chutado o pau da barraca para salvar a própria pele. O Palácio do Planalto trabalhou muito para evitar que o TCU responsabilizasse os membros do conselho na semana passada.

Vassouradas
A outra versão é de que o gesto foi um recado aos militantes do PT que articulavam o movimento "Volta, Lula", alguns dos quais envolvidos na Operação Lava-Jato, outro escândalo que ronda a empresa, como o deputado André Vargas, ex-vice-presidente da Câmara. Esse caso acaba de ser turbinado pelo depoimento de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, à revista Veja. Ela resolveu colaborar com as investigações. Um dos principais envolvidos no escândalo de lavagem de dinheiro, recebimento de propina e superfaturamento de contratos da estatal é o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que ameaça virar um "homem-bomba".

Hoje, a presidente Dilma faz o que pode e o que não pode para salvar Graça Fortes de um pedido de demissão, já que a presidente da Petrobras está sendo engolida pela crise. A pedido do Ministério Público Federal no Distrito Federal, a Polícia Federal até já abriu inquérito para investigar se a presidente da Petrobras omitiu informações durante depoimentos prestados ao Congresso sobre a compra da refinaria de Pasadena e a existência de contratos entre a estatal e uma empresa do marido dela.

Em depoimento à CPI do Senado em abril, Graça negou que Colin Foster tenha negócios com a Petrobras. Ela esteve no Congresso para responder a questionamentos sobre a compra da planta de Pasadena. Soube-se agora que os depoimentos de Graça, de Gabrielli e de Cerveró foram facilitados por integrantes da CPI, que teriam fornecido com antecedência aos três depoentes as perguntas que fariam, supostamente com as respectivas respostas.

Enquanto Dilma Rousseff joga fora a vassoura que chegou a empunhar no começo do governo para a surpreendente faxina na equipe que herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição sacode o tapete que encobre os negócios da Petrobras. O candidato do PSDB, Aécio Neves, cobra apuração sobre o esquema de propina montado por Alberto Youssef: "Vamos aguardar que as investigações ocorram e que, se as denúncias forem comprovadas, haja punição exemplar". Eduardo Campos defende a criação de uma "força-tarefa para (...)que instituições, como a Polícia Federal, a Justiça e o Ministério Público, investiguem tudo para esclarecer o que vem acontecendo na Petrobras".