segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Karl Marx

O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, portanto, unidade da diversidade. Por essa razão, o concreto aparece no pensamento como processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida, não obstante seja de partida efetivo e, em conseqüência, também o ponto de partida da intuição e da representação. Na primeira via, a representação plena foi volatizada em uma determinação abstrata; na segunda, as determinações abstratas levam à reprodução do concreto por meio do pensamento. Por isso, Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento que sintetiza-se em si, aprofunda-se em si e movimenta-se a partir de si mesmo, enquanto o método de ascender do abstrato ao concreto é somente o modo do pensamento de apropriar-se do concreto, de reproduzi-lo como um concreto mental. Mas de forma alguma é o processo de gênese do próprio concreto.

Karl Marx, Grundrisse, p. 54. Boitempo editorial, 2011.

Na TV, Dilma repete argumento da ditadura militar

Segurança Nacional. Crime do art. 39, i, do dl. 314, de 1967, na redação do dl. 510 , de 20/3/69. Utilização de meio de comunicação social como veículo de guerra psicológica adversa. Pregação que visa a criar clima psicológico favorável a subversão.

Como escreveu Marx no livro O 18 Brumário de Luiz Bonaparte: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”

Para Dilma, área econômica enfrenta 'guerra psicológica'

Presidente fez a afirmação em seu 17º pronunciamento em rede nacional

A petista, que deve ser candidata à reeleição, ignorou o principal fato político deste ano, os protestos de junho

Fernanda Odilla

BRASÍLIA - No último pronunciamento em rede nacional do ano, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a área econômica de seu governo é vítima de "guerra psicológica" por parte de setores do empresariado, ainda que admita haver o que "retocar" e "corrigir" na economia.

A fala, de 12 minutos, ignorou o principal fato político do ano, as manifestações de rua de junho que derrubaram abruptamente a popularidade do governo.

Dilma citou superficialmente que "ouviu reclamos" da sociedade e que está "implantando pactos para acelerara o cumprimento de nossos compromissos".

Assim, segue a estratégia do Planalto, temeroso de novos protestos durante a Copa do Mundo, de tentar "esfriar" o assunto e tratá-lo como página virada.

Dilma usou um roteiro de campanha eleitoral em seu discurso de ontem, enaltecendo programas federais e instando a audiência a pensar "no que aconteceu de positivo nos últimos anos na vida do Brasil".

Boa parte do discurso, o 17º do seu mandato, foi dedicada a promover uma visão otimista da economia, principal área a sofrer críticas em sua gestão.

Em 2013, a inflação novamente fechará acima do centro da meta do Banco Central, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) está projetado pelo governo para magros 2,3% e a política fiscal é bombardeada até por aliados.

Apesar de ter deixado claro que o pessimismo não pode contaminar a economia e que está atuando "nos gastos" e no combate inflacionário, Dilma ponderou que "não existe um sistema econômico perfeito" nem um "país com uma economia perfeita".

"Em toda economia haverá algo por fazer, algo a retocar, algo a corrigir", disse ela, que previu um 2014 melhor para o bolso dos brasileiros.

Citando "redução de impostos" e "diminuição da conta de luz", a presidente disse que tem recebido "duras críticas daqueles que não se preocupam com o bolso da população".

"Se mergulharmos em pessimismo e ficarmos presos a disputas e interesses mesquinhos, teremos um país menor", afirmou ela, em outro momento.

Dilma também fez seu ataque mais duro, sem nominar o pedaço do empresariado ao qual se referia. "Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas", disse.

Também sem citar o mensalão, cujos protagonistas da antiga cúpula do PT no governo Luiz Inácio Lula da Silva foram presos em 2014, Dilma afirmou que não abriu mão em apoiar o combate à corrupção.

Como de praxe neste tipo de balanço, a presidente listou o que considera sucesso em sua gestão, e que estará em sua propaganda na campanha à reeleição em 2014: Mais Médicos, Ciência sem Fronteiras, Pronatec (programa de formação profissional), Minha Casa, Minha Vida e o Brasil sem Miséria --esses dois últimos heranças dos anos Lula.

"Nos últimos anos somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a uma grave crise. Chegamos até aqui melhorando de vida, pouco a pouco, mas sempre de maneira firme e segura", disse.

O pronunciamento deste domingo foi o sétimo do ano e o 17º desde 2011 --ela já superou os números do antecessor, que fez 11 no primeiro mandato (2003-2006) e 10 no segundo (2007-2010).

Além de evitar os riscos do contraditório em entrevistas, o monólogo em rede nacional de rádio e TV garante maior alcance.

Fonte: Folha de S. Paulo

Mais um ano bem medíocre

Se tudo der certo, o governo Dilma vai emplacar em 2014 um crescimento de 2% na economia. Mas ainda há muito vento de proa para atrapalhar mesmo esse "pibinho"

Ana Luiza Daltro e Marcelo Sakate

Por ter de avançar submetida a diversas forças, mantendo o rumo e a sustentação, a economia de um país pode ser comparada a um avião. Não é por outra razão que os economistas usam e abusam de metáforas aeronáuticas quando analisam desempenhos ou fazem previsões. Quando a economia tem boas taxas de crescimento, eles dizem que o país "decolou". Se acham que o crescimento não é sustentável — ou seja, foi induzido por impulsos artificiais, como juros inadequadamente baixos ou tabelamento da taxa de câmbio —, dizem que ele não passa de um "voo de galinha". Da mesma forma, se preveem que uma economia aquecida começa a dar sinais de desgaste, eles dizem que ela poderá ter um "pouso suave ou se esborrachar na pista", dependendo das circunstâncias e da habilidade do "piloto na cabine de comando". Se usarmos essa mesma linha de metáforas para entender as perspectivas da economia brasileira para 2014, a imagem mais realista que vem à mente é a de um avião em voo rasante que não cai e tampouco ganha altura, apesar do excruciante esforço das turbinas. É assim há três anos e vai continuar sendo assim em 2014.

A expansão média da economia no triênio da presidente Dilma Rousseff é de 2% ao ano, abaixo do ritmo mundial, de 3,3%. Em 2014, a economia brasileira vai encontrar pela frente uma circunstância externa predominante que influenciará fortemente todas as demais variáveis. Essa força maior é a decisão do governo dos Estados Unidos de retirar os estímulos monetários bilionários que vinha dando à economia desde a crise de 2008. Quem vai manejar a retirada é a economista Janet Yellen, a nova presidente do Fed, o banco central americano, cargo que ela assume em substituição a Ben Bernanke. Nenhum país — nem o Brasil, apesar da retórica ufanista oficial — ficará imune às grandes mudanças de rumo da economia americana. Enquanto duraram os estímulos bilionários, os juros americanos foram mantidos próximo de. zero e não valia a pena investir nos papéis emitidos pelos Estados Unidos. A rentabilidade estava em países emergentes. O Brasil tornou-se um destino preferencial de investimentos mundiais. Com a mudança de curso, os juros americanos vão subir e remunerar bem melhor os investimentos. Juros mais altos vão se combinar de novo com a segurança oferecida pelos papéis americanos (os Estados Unidos nunca declararam uma moratória em sua história), e não vai ser fácil competir com eles por investimentos. Esse será o cenário dominante em 2014, e as aeronaves econômicas vão ter de se adequar a essas condições atmosféricas.

Para o Brasil será desastroso se o Fed agir de forma abrupta. As reservas em dólares se evaporarão em pouco tempo. Mas o pais tem 375 bilhões de dólares em reservas e ainda assim está fragilizado? Sem dúvida. Mesmo antes do anúncio do fim dos estímulos pelo Fed, o Brasil torrou o equivalente a parte substancial das reservas (cerca de 100 bilhões) na tentativa de não deixar o preço do dólar disparar em relação ao real. "As mudanças na política monetária americana terão o efeito de um gatilho — e não de causa primária — de mais problemas na economia brasileira", diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. Temos de torcer para que a retirada dos estímulos à economia americana seja o mais gradual possível. Nesse cenário mais ameno, em condições de atuar sem estar em uma emergência cambial, o Brasil poderá até fazer do limão uma limonada.

Há sinais claros de retomada de ritmo das economias dos Estados Unidos e dos países europeus. Esse reaquecimento combinado dos dois lados do Atlântico é uma boa notícia para os exportadores brasileiros. Nesse cenário, a inevitável depreciação do real acaba sendo um fator favorável de competitividade para os exportadores brasileiros. Dessa forma, a mudança de rumos da poderosa economia americana teria sobre o avião brasileiro um efeito neutro. Isso é bom.

Seria ainda melhor se o Brasil estivesse mais equilibrado internamente. Não está. A deterioração das contas públicas, um movimento contínuo desde 2011, deve se acentuar em 2014, como ocorre em todo ano eleitoral. "Existem medidas já tomadas, de desoneração fiscal e de aumento de gastos, que impedem que o governo ponha em prática o discurso de uma política fiscal menos expansionista", diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. O voo rasante se explica pelo peso do Estado na economia. As turbinas de quem trabalha e paga impostos não suportam mais tanta carga tributária. Nessa situação, o Brasil cresce pouco e, portanto, mesmo com impostos excessivos, a arrecadação tende a baixar. A expectativa é que a diferença entre as receitas e as despesas antes de serem pagos os juros da dívida (o superávit primário) seja de apenas 1,3% do PIB, abaixo do 1,8% de 2013. São os dois piores resultados em uma década — e insuficientes para impedir que a dívida total em relação ao PIB volte a subir. Nosso avião, que já resfolega para se manter no ar, pode começar a preocupar os investidores, que, assim, cobrariam uma taxa de risco maior, encarecendo os empréstimos para o governo e as empresas brasileiras. "O maior desafio do governo será reverter a crise de confiança que afeta as decisões de empresas e consumidores", diz o economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, da Projeta Consultoria. A fragilização dos fundamentos reduz o espaço para a melhora das expectativas. "Um novo plano de ação é necessário para que o Brasil volte a crescer acima de 3% ao ano. Isso envolve não só um comprometimento fiscal e monetário como político para que reformas sejam votadas e aprovadas", diz Will Landers, gestor em investimentos para a América Latina da BlackRock, a maior empresa de administração de recursos do mundo.

Para passageiros que já sofreram com essas fragilidades no passado, a economia brasileira parece ainda mais arriscada. Crises de confiança se instalam rapidamente. Custa caro e é demorado reverter as expectativas. A boa vontade com o Brasil é imensa. Somos um país pacífico, unificado pelo idioma, sem disputas étnicas ou religiosas, com uma população que começa a ter oportunidades iguais de educação e ascensão social. É quase tudo de que um investidor precisa para se convencer a colocar aqui suas economias. O governo tem de fazer a sua parte — como o fez em 2013, com o sucesso da privatização de alguns aeroportos e estradas. Por essa razão, mesmo em ano eleitoral, o Brasil pode sinalizar para o mundo que podemos empinar o nariz do nosso avião e subir para patamares bem mais altos. Diz Monica Baumgarten de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica — Casa das Garças e sócia da Galanto Consultoria: "Se as políticas econômicas erráticas forem corrigidas e a agenda de reformas retomada, o Brasil poderá voar mais alto".

Fonte: Revista Veja

Mercado mantém estimativa para o PIB e eleva projeção para inflação

Por Ana Conceição

SÃO PAULO - Os analisas de mercado mantiveram sua expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça 2,3% neste ano, de acordo com o último boletim Focus de 2013, divulgado há pouco pelo Banco Central, que colhe estimativas entre cerca de cem instituições. Para 2014, a projeção também permaneceu a mesma, de expansão de 2%.

Ambas as estimativas são menores que as feitas no fim do ano passado, quando o mercado esperava que o PIB de 2013 crescesse 3,3%, e o de 2014, 3,8%. Em 2012, a economia brasileira avançou apenas 1%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao longo dos últimos 12 meses, as expectativas se deterioraram e os analistas passaram a considerar não apenas que o crescimento seria mais baixo que o inicialmente esperado como também que a expansão da economia no ano que vem será menor que a deste ano. Por trás dessa avaliação menos otimista estão o arrefecimento do consumo das famílias, a desaceleração do aumento dos investimentos e a elevação dos juros que o Banco Central teve que empreender a fim de controlar a inflação, entre outros fatores, como mostra matéria de hoje no Valor.

Após reduzir a taxa Selic ao nível histórico de 7,25%, o BC voltou a elevar os juros básicos da economia em abril deste ano. A taxa neste momento está em 10% e o Focus de hoje mostra que os analistas seguem prevendo que ela subirá a 10,5% até o fim de 2014. Entre os analistas Top 5, os que mais acertam as previsões, a aposta de é juro de 11% em dezembro do ano que vem. Mas ambos os grupos não consideram que a Selic a 10,5% ou 11% será suficiente para levar a inflação ao centro da meta, de 4,5% no próximo ano. Longe disso. Segundo o Focus divulgado hoje, a mediana das previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 está em 5,98%. Na semana passada, estava em 5,97%.

Para este ano, os analistas esperam que o índice oficial de inflação feche com alta de 5,73% (de 5,72% na semana passada), abaixo, portanto, da “meta informal” do governo, que prometeu entregar a inflação abaixo da de 2012, quando o IPCA marcou avanço de 5,84%. Entre os analistas Top 5, a aposta é de inflação de 5,74% em 2013 e de 5,90% em 2014.

No Focus de hoje, a projeção para o IPCA em 12 meses cedeu ligeiramente, de 6,05% para 6,03%.

No fim de 2012, os analistas esperavam inflação mais baixa tanto para este ano (5,47%) quanto para 2014 (5,5%). Para a Selic, a expectativa era de que o juro básico da economia chegasse ao fim deste ano em 7,25% e, ao fim de 2014 em 8,25%.

Produção industrial
A mediana das estimativas para o crescimento da produção industrial deste ano caiu um pouco mais, de 1,60% para 1,59%. Para o próximo ano, a projeção permaneceu em 2,23%.

No fim do ano passado, os analistas de mercado esperavam expansão de 3,7% na produção da indústria em 2013 e de 4% em 2014.

Fonte: Valor Econômico

Sindicato faz plantão para contabilizar demissões na GM

Funcionários da linha de montagem do Classic, que deixa de ser feito em São José, foram informados por telegrama

Gustavo Porto

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos fará hoje um plantão para avaliar as demissões de operários na linha de montagem do Classic no complexo industrial da General Motors (GM) na cidade paulista. Segundo o secretário-geral do sindicato, Luiz Carlos Prates, o Mancha, o plantão será para contabilizar o número de metalúrgicos demitidos e qual será a estratégia do recurso a ser encaminhado à Justiça do Trabalho para tentar evitar os cortes.

Os metalúrgicos foram demitidos por telegrama às vésperas do Ano Novo, já que muitos estavam em licença remunerada e os poucos que ainda trabalhavam produziram as últimas unidades na primeira quinzena de dezembro.

No dia 23 de agosto, a GM, que na semana anterior havia fechado a linha de montagem do Classic, recuou da decisão, retomou a produção do veículo e prorrogou o Programa de Demissão Voluntária (PDV) até o início de setembro.

À época, a GM informou que dispensaria os funcionários que não aderissem ao PDV a partir de 1º de janeiro de 2014. Anteontem, a GM divulgou nota ratificando a decisão.

Estimativa do sindicato aponta que 304 dos 750 operários da linha de montagem aderiram ao PDV encerrado em setembro. O restante estava dividido entre os ativos e os em licença remunerada.

"Não significa que, acabado o prazo, eles poderiam demitir. Por isso, vamos ter de recorrer à Justiça do Trabalho", disse Mancha. "Não temos sequer um balanço, porque muitos funcionários estão viajando e a GM não comunicou quantos ainda estavam na produção ou em licença", completou.

A montadora, que manterá a produção do Classic em São Caetano do Sul e na Argentina, sempre atribuiu a decisão de encerrar produção do modelo em São José dos Campos aos custos da linha, os mais altos da América do Sul, de acordo com a GM. A montadora alegou ainda que no passado não chegou a um acordo com o sindicato para a produção de um novo veículo na planta industrial.

A novela na linha de produção do Classic começou há mais de dois anos e envolveu greves, paralisações e protestos após uma série de demissões após o final da produção de outros três modelos: Corsa, Zafira e Meriva. No pico de produção, mais de 2 mil metalúrgicos chegaram a trabalhar na montagem dos quatro veículos. As outras unidades da GM em São José estão em férias coletivas até 22 de janeiro e não serão afetadas pelos cortes. O complexo produz a picape S10 e o utilitário Trailblazer, além de motores e peças e emprega cerca de 7 mil pessoas.

A GM tem planos de investimentos de R$ 2,5 bilhões em uma possível nova fábrica no País. No entanto, a montadora ainda não definiu se a unidade será no Brasil e, caso isso ocorra, a unidade de São José dos Campos é uma das mais cotadas a receber o projeto.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Oposição critica discurso ufanista de Dilma na tevê

Em tempos de votos para um próspero ano-novo, a presidente Dilma Rousseff discursou ontem, em rede nacional de rádio e televisão, com uma mensagem positiva de incentivo aos brasileiros. Ela reforçou os programas sociais carros-chefes do governo e atacou alguns setores por criticarem o fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o surto inflacionário ao longo de 2013. "Nos últimos anos, somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a alguma grave crise", comentou. A menos de um ano para as eleições em que será candidata à reeleição, Dilma deixou a oposição perplexa com o esbanjo de otimismo. Para eles, a reação do país à crise internacional veio tarde.

O discurso foi dominado pela questão econômica. O país que, segundo ela, nunca apoiou tanto o empreendedor individual, o pequeno e o médio empresário, é apontado entre aqueles com o melhor futuro. "Sinto a alegria de poder tranquilizar vocês, dizendo-lhes que entre 2014 com a certeza de que o seu padrão de vida vai ser ainda melhor do que você tem hoje. Sem risco de desemprego, podendo pagar suas prestações, em condições de abrir sua empresa ou ampliar o seu próprio negócio", enalteceu a presidente.

Ainda de olho na economia, ela frisou as ações para infraestrutura, com a ampliação de estradas, portos e aeroportos. Prometeu continuar a luta contra a carestia, ao admitir que há problemas, mas destacou que a "guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas".

Ela também aproveitou a ocasião para fazer referência indiretamente às manifestações de junho e reiterou pontos abordados nos compromissos anunciados por ela no meio do ano. "Continuamos a difícil luta pela melhoria da saúde e da educação, setores em que ainda temos muito a fazer, mas estamos conseguindo avanços", disse. Entre as melhorias, ela citou o Mais Médicos, o programa de concessão de bolsas de estudo no exterior Ciências sem Fronteiras e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). No entanto, ela evitou comentar promessas não cumpridas, como a realização de um plebiscito sobre a reforma política.

O líder do DEM no Senado, senador José Agripino (RN), considerou a fala da presidente lamentável. "O país está ficando sem competitividade por conta dos ajustes fiscais, da carga tributária, do câmbio, da inflação e da burocracia", afirmou. "A presidente insiste em falar, em termos ufanísticos, de coisas do passado como se fossem presentes. Isso é preocupante", acresentou.

As críticas também vieram do governador de Pernambuco e provável candidato a Presidência, Eduardo Campos (PSB). Em uma rede social, ele reclamou do despreparo do Executivo para lidar com os desastres causados pelas chuvas. "Infelizmente, em Brasília ainda é regra esperar o pior acontecer para tomar alguma medida."

"Somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a alguma grave crise"
Dilma Rousseff, presidente da República

"A presidente insiste em falar, em termos ufanísticos, de coisas do passado como se fossem presentes. Isso é preocupante"
Agripino Maia, líder do DEM no Senado

Fonte: Correio Braziliense

Campos acusa governo federal de omissão

Governador de Pernambuco diz que seu partido já havia alertado sobre desastres naturais
RECIFE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), usou ontem seu perfil no Facebook para acusar o governo federal de "esperar o pior acontecer" para agir no Espírito Santo, onde 24 pessoas morreram e mais de 60 mil pessoas deixaram suas casas por causa da chuva.

O pré-candidato à Presidência escreveu que, em março de 2012, o então ministro da Integração, Fernando Bezerra (PSB-PE), apresentou à ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a minuta de uma Medida Provisória para facilitar o acesso a recursos por municípios atingidos por desastres naturais.

A MP foi publicada no "Diário Oficial" da última quinta-feira.

"Sempre digo que não adianta colocar uma tranca na porta da sala depois que o ladrão já assaltou a casa. [...] Infelizmente, em Brasília ainda é regra esperar o pior acontecer para tomar alguma medida. [...] A MP foi publicada somente agora, depois de passar quase dois anos parada", escreveu Campos.

O governador, que é ex-ministro de Lula e rompeu recentemente com o governo Dilma, afirmou ainda: "Foi preciso que uma tragédia se abatesse sobre o Espírito Santo para que finalmente o processo avançasse. Ou seja, o governo não encontrou uma solução rapidamente; a solução estava na mesa, esperando para ser lida há dois anos".

"Este é o tipo de ineficiência administrativa que o brasileiro se cansou de ver, e que mostra que Brasília continua morando num Brasil bem diferente daquele que viu o povo ir às ruas no meio do ano", afirmou o governador.

A presidente Dilma Rousseff havia defendido a publicação da Medida Provisória em sua conta no Twitter na sexta-feira. "Com essa MP, prefeitos e os governadores poderão planejar, fazer projetos e mais rapidamente investir na prevenção dos desastres naturais."

A Folha não conseguiu contatar a Casa Civil ontem.

À coluna "Painel" de anteontem, Gleisi negou que os estudos para a MP tenham começado no ano passado. Segundo a ministra, eles foram iniciados no segundo semestre deste ano.

Essa não é a primeira vez que Campos usou as redes sociais para criticar a União. Na semana passada, o governador criticou a aplicação e fiscalização do dinheiro destinado ao Bolsa Família, principal bandeira social do PT.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma abusa da TV

Presidente fez este ano sete pronunciamentos, a maioria para divulgar programas e projetos do governo. Cada aparição custou, em média, R$ 90 mil aos cofres públicos

Grasielle Castro

BRASÍLIA – A estratégia da presidente Dilma Rousseff de aparecer cada vez mais em pronunciamentos em rede nacional de rádio e televisão custou até agora R$ 1,2 milhão aos cofres públicos desde o primeiro ano de seu mandato, em 2011. Cada vez que a presidente vai à TV, o Palácio do Planalto desembolsa R$ 90 mil com produção, gravação, edição, computação gráfica, trilha sonora, locução, mão de obra e equipamentos.

Ontem Dilma fez seu sétimo pronunciamento, o 17º desde que tomou posse, e destacou os programas sociais carros-chefes do governo e atacou alguns setores por criticarem o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e o surto inflacionário ao longo de 2013. "Nos últimos anos somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a alguma grave crise", comentou.

Com a fala de ontem, a presidente superou a média de cinco aparições anuais. Seus antecesores, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso registraram uma média inferior a três pronunciamentos de TV ao ano. Nas aparições de 2013, além da que foi ao ar ontem, Dilma divulgou medidas de impacto de seu governo, como a redução da tarifa de energia (23 de janeiro), a desoneração da cesta básica (8 de março) e a promessa de destinar dinheiro do pré-sal para a educação (1º de maio). Foi à TV também para dar uma resposta às manifestações (21 de junho), para exaltar a criação do programa Mais Médicos (6 de setembro) e para comemorar a conclusão do primeiro leilão do pré-sal (21 de outubro).

O pronunciamento de 21 de junho, em meio às manifestações, foi o mais atípico. A aparição foi realizada às pressas e não contou com a superprodução de R$ 90 mil. Naquela oportunidade, quem produziu tudo foi a EBC/NBR, estatal de comunicação, "pois não havia tempo hábil para a mobilização de uma das agências contratadas", segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Em condições normais, é a secretaria que fica responsável por contratar uma agência para a produção dos pronunciamentos da presidente.

Em dezembro de 2012, o valor gasto pelo governo federal para produzir um pronunciamento foi de R$ 58 mil, 56% a menos que os atuais R$ 90 mil. A Secretaria de Comunicação diz que houve uma "atualização de valores", "uma vez que os preços até então praticados remontavam ao ano de 2008". A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2008 a 2012 foi de 32%.

CRÍTICAS O líder do Democratas no Senado, senador José Agripino (RN), considerou a fala da presidente lamentável. "O país está ficando incompetitivo por conta dos ajustes fiscais, da carga tributária, do câmbio, da inflação e da burocracia", afirmou. Segundo ele, enquanto os países do Brics estão evoluindo, saindo da crise, o Brasil está cada vez mais imerso. "E a presidente persiste em falar, em termos ufanísticos, de coisas do passado como se fosse presente. Isso é preocupante", pontuou.

A crítica ao governo Dilma também veio do governador de Pernambuco e provável candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB). Na sua página no Facebook, o governador reclamou do despreparo do Executivo para lidar com os desastres causados pelas fortes chuvas na Região Sudeste, principalmente Espírito Santo e Minas Gerais. "Infelizmente, em Brasília ainda é regra esperar o pior acontecer para tomar alguma medida." (Com agências)

Fonte: Estado de Minas

E o Amor acabou

Lula tenta apaziguar o PT e o PMDB no Rio, para evitar um racha que pode custar caro a Dilma Rousseff em 2014

Thiago Prado

A sempre impositiva e incontrastável demiurgia eleitoral de Lula já produziu um desastre em São Paulo com a eleição de Fernando Haddad para a prefeitura com o apoio de Paulo Maluf. Nas eleições de 2014 ela vai ser testada no Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral do país, onde, sem maiores sobressaltos, sobrevive há quase uma década a sólida aliança entre PT e PMDB. A situação no Rio é mais complexa do que foi em São Paulo. Se forçar muito a barra para um lado ou para o outro, Lula poderá acelerar o racha entre o PT e o PMDB. produzindo como resultado indesejável o fato de deixar Dilma Rousseff sem palanque no Rio de Janeiro em sua luta pela reeleição ao Palácio do Planalto. O jogo da sucessão estadual no Rio de Janeiro caminha para a polarização. De um lado está o petista Lindbergh Farias. Do outro, o candidato do PMDB. Luiz Fernando Pezão, vice e preferido do governador Sérgio Cabral. Ambos agem como candidatos. Lindbergh reivindica o corte imediato dos vínculos do PT com o governo do PMDB, divórcio que seria teatralizado pelo pedido de demissão em massa dos 1 250 militantes petistas atualmente na folha de pagamento do governador Cabral. Pezão descreve os movimentos de Lindbergh como uma aventura inconsequente. Ambos, porém, devem estar conscientes de que não vão a lugar algum sem que seja selado um acordo em nível superior, aquele habitado por Lula e Cabral.

Nesta altura de sua carreira política, o ex-presidente e o atual governador do Rio de Janeiro têm pretensões e circunstâncias distintas. Lula precisa se mostrar à altura de sua fama de grande estrategista, o fabuloso eleitor de "postes" do PT e reeleitor de Dilma. Cabral tem na eleição de Pezão para seu lugar talvez a única chance real de manter algum prestígio político no Rio de Janeiro. O governador se desgastou tremendamente como a figura central de uma série de escândalos. Sua credibilidade desmoronou, levando junto sua popularidade, a ponto de Cabral anunciar que sairia do governo bem antes do prazo legal para não atrapalhar demais a campanha de Pezão. Lula, que fareja como poucos as fragilidades dos aliados e adversários, vem cozinhando Cabral em fogo baixo. Sua esperança é convencê-lo de que terá todo o apoio do governo Dilma para tentar se reerguer politicamente, quem sabe até concorrendo ao Senado, como ele quer, desde que abra caminho para a candidatura de Lindbergh. Lula sabe que não pode deixar Cabral à deriva, sob o risco de que a poderosa engrenagem do PMDB fluminense ignore ou até hostilize a candidata Dilma.

O Rio de Janeiro será o colégio eleitoral estratégico no xadrez de 2014. É o único entre os grandes no qual a oposição a Dilma não tem candidato fone. Em São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin está na dianteira na disputa pelo governo: em Minas Gerais, também é dado como certo que o PSDB do ex-governador Aécio Neves, oponente de Dilma, vai ganhar com excelente margem. Outro eleitorado importante para o PT, o de Pernambuco, deverá pender para onde o governador Eduardo Campos apontar. Nesse cenário, seria suicídio político abrir mão do palanque peemedebista no Rio de Janeiro. A máquina eleitoral do PMDB fluminense é formidável. Ela é formada por 10000 cabos eleitorais muito bem abrigados em dezenas de prefeituras. Diz Jorge Picciani, presidente do PMDB no Rio: "O PT simplesmente não pode se dar ao luxo de prescindir dessa máquina".

Um bom ponto de partida para tentar antecipar o que vai ocorrer no Rio, portanto, é tomar como premissa o fato de que Lula fará de tudo para não abrir mão da máquina eleitoral do PMDB no estado. As abóboras terão de se ajeitar na carroça de acordo com essa realidade. As promessas — e as eventuais traições — serão negociadas em tomo desse, digamos, marco regulatório. Lindbergh, que hoje considera uma possível chapa única com Cabral para o Senado um "abraço de afogados", terá de ceder em algum momento aos interesses eleitorais maiores do PT. Lindbergh é mais uma das criaturas de Lula que alimentam o sonho de vida política própria sem o constante sopro do criador no pescoço. Ele vem conversando com o PSD com a ideia de oferecer ao partido a vaga ao Senado em sua chapa; ganharia assim tempo de televisão, neutralizando um pouco os efeitos de uma cisão com o PMDB. Dilma detesta Lindbergh. Refere-se a ele como "moleque" e não lhe perdoa o notório entusiasmo com o movimento "Volta, Lula". Pezão, ao contrário, é amigo e aliado antigo de Dilma. Ela já o chamou publicamente de "pai do PAC" e o trata pelo apelido familiar de "leão da montanha". E útil lembrar que o senador Aécio Neves tem cordialíssima convivência com Lindbergh, amizade pessoal com Sérgio Cabral e diálogo ameno com muitos peemedebistas fluminenses. Portanto, 2014 promete ser o ano em que o Rio de Janeiro, de alguma forma, volta a se tomar a capital política do Brasil.

Fonte: Revista Veja

Para conter Campos no Nordeste, PT aposta na Bahia e no Ceará

Provável candidatura do socialista faz com que partido procure manter vantagem na região

No segundo turno das eleições de 2010, Dilma Rousseff recebeu cerca de 71% do total dos votos da região

André Uzêda

FORTALEZA - Diante do provável voo solo do PSB na eleição presidencial de 2014, o PT aposta na Bahia e no Ceará para manter a vantagem no Nordeste na disputa pelo Planalto.

Com o governador Eduardo Campos (PSB-PE) no páreo, a ideia é reforçar a campanha da presidente Dilma Rousseff em solos baiano e cearense para suprir possíveis perdas nos Estados da região sob gestões do PSB (Pernambuco, Paraíba e Piauí).

"No Ceará queremos dar 2 milhões de votos de frente para Dilma. Dificilmente Campos ou outro candidato terá espaço aqui", diz o deputado José Guimarães (PT-CE).

Na Bahia, a meta do governador Jaques Wagner (PT) é repetir 2010, quando o Estado deu 2,7 milhões de votos de vantagem para Dilma --a maior do país.

No segundo turno de 2010, 48% dos 10,7 milhões de votos da vantagem de Dilma sobre José Serra (PSDB) na região vieram do Ceará e da Bahia. Pernambuco, Piauí e Paraíba responderam por 32%.

Entre as armas do PT para manter a hegemonia nordestina estão a força eleitoral do ex-presidente Lula e o estímulo a rivalidades regionais.

"Dilma terá ao seu lado um nordestino [Lula], que tem peso enorme na região", diz Wagner, que deve coordenar a campanha no Nordeste.

A concorrência histórica entre baianos e pernambucanos apareceu em declaração recente do candidato do PT à sucessão estadual, Rui Costa. Secretário de Wagner,ele disse que "os baianos não querem ser dirigidos pelo governo de Pernambuco", em referência a Campos.

A aposta no Ceará é na força do grupo do governador Cid Gomes (Pros), que deixou o PSB para apoiar Dilma. Para o cientista político Paulo Fábio Dantas, a "fratura" entre o grupo de Cid e Ciro Gomes e o de Campos tem maior potencial de dano ao PSB.

"Na Bahia vai ser mais difícil [aumentar a vantagem de Dilma] por falta de discurso convincente. O próprio Wagner tem adotado tom moderado [sobre o PSB]", afirmou.

A chapa do PSB na Bahia, com a senadora Lídice da Mata para o governo e a ex-ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Eliana Calmon ao Senado, preocupa o PT.

Outra meta petista é manter suas quatro cadeiras nordestinas no Senado.

"Queremos eleger no Ceará, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte", disse Guimarães, pré-candidato ao Senado em provável aliança com o grupo de Cid Gomes.

Fonte: Folha de S. Paulo

Duas ou três coisas sobre 2013 - Luiz Sérgio Henriques

Nada difícil encontrar sinais contraditórios para onde quer que se olhe, no mundo e no Brasil, a confirmar que vivemos situação inédita em que não basta a navegação de cabotagem, quando acidentes geográficos familiares, ao alcance da vista, asseguram a tranqüilidade do viajante. Agora, de cada um dos atores da cena pública o que se requer é a renovação ousada do repertório de conceitos e valores, de modo que, num cenário subitamente em movimento, encontros imprevistos entre tradições diferentes e até antagônicas podem descortinar modos novos de fazer política e cultura, à altura da situação que alguns definem como de "emergência antropológica", tamanhos os riscos (e as possibilidades) inerentes à atual estrutura do mundo.

Esta é toda uma época, como comumente se diz, de globalização neoliberal ou, se quisermos, de agressiva afirmação do "comunismo dos capitalistas", sob a égide dos caprichos voláteis e tempos velozes da grande finança. Uma época que pode ser lida sob a ótica da unificação contraditória do gênero humano, que deixa de ser categoria filosófico-especulativa para se tomar realidade imediatamente palpável para cada pessoa: já se observou, por exemplo, que até as doenças são globais, a exigir medidas que muitas vezes superam o poder de reação das autoridades de determinado país.

Nem tudo é perdição. Não vivemos, como diagnosticou certa esquerda de tons apocalípticos há um século diante do flagelo da guerra, a era da pecaminosidade absoluta. Indicadores confiáveis trazem a boa-nova segundo a qual, com tal processo de unificação do gênero, diminuiu consistentemente a pobreza em termos absolutos, embora as desigualdades sejam crescentes entre países e no interior dos diferentes países. Fenômeno agravado nestes últimos anos de impenitente crise, com seu cortejo dramático de desemprego estrutural, migrações massivas, tragédias econômicas que marcam o destino de milhões de pessoas.

Um bom diagnóstico, não pessimista, mas rigoroso em suas implicações, é o de que vivemos descompasso crescentemente insustentável entre a internacionalização das forças econômicas, que têm o mundo inteiro como seu teatro real, e a timidez da política - certamente, da política democrática, essa que mobiliza o interesse e a consciência de grandes massas cujo âmbito ainda são os Estados nacionais, relativamente" impotentes para redefinir e regular correntes que superam amplamente sua capacidade de intervenção.

Esta, a realidade efetiva, para empregar expressão ao gosto de um clássico renascentista de 500 anos, completados no ano que ora finda. Inútil retomar, entre outras categorias, ao "finalismo" do comunismo do século 20, que imaginava a transição.

Para onde quer que olhemos, os sinais são às vezes iluminadores e às vezes, não para um Estado ideal - o socialismo ou o comunismo, precisamente determinado pelo desenvolvimento das forças produtivas, que concretizaria, após o grande evento revolucionário, a hipótese do governo como mera administração das coisas. Uma realidade que comportaria, ainda, a supressão progressiva da mediação política, uma vez extirpadas as fontes básicas do conflito entre os homens. Para que, então, pensar o Estado, o Direito, a política - fantasmagorias destinadas a perecer paulatinamente, à medida que se aproximasse aquela imaginária e transparente realidade final da convivência humana?

Eis que descobrimos, ou re-descobrimos, â ideia de que o movimento civilizatório é tudo, o fim é quase nada, ou, antes, será o que dele fizermos, em absoluta coerência com os meios de que lançarmos mão. Esquerda e direita ainda são palavras significativas na esfera pública, mas, além de palavras, devem se referir a coisas, situações, valores, classes, indivíduos. Apropriar-se, na medida do possível, dos mecanismos autonomizados que colonizam a vida dos indivíduos e lhes roubam autonomia e capacidade de escolha - essa deveria ser a tarefa fundamental das diferentes esquerdas.

Mas, assim como é um equívoco demonizar a direita - pois existem correntes moderadas"e conservadoras que lutam legitimamente segundo as regras do jogo e, dentro da normal dialética democrática, não constituem retrocesso político ou social -, também não é suficiente, para a esquerda, a autocomplacência e a arrogância de se pretender, por definição, o "sal da terra". Apregoar pura e simplesmente "socialismo ou barbárie" significa cancelar, de modo míope, a tremenda realidade de que o século 20 conheceu formas bárbaras de socialismo, a seu tempo repudiadas pelas pessoas comuns às quais foram impostas.

Para onde quer que olhemos neste 2013, como dissemos, os sinais são às vezes iluminadores e às vezes, não. Por exemplo, perdemos Nelson Mandela, mas para reconstruir a esquerda a não violência é agora, e para sempre, valor estratégico. Como estratégico é compreender a política cada vez menos como coerção e cada vez mais como persuasão e convencimento mútuo. Sem abrir mão da intocável laicidade do Estado, patrimônio comum duramente conquistado, impossível ignorar, do ponto de vista da esquerda democrática, a bem-vinda presença de valores religiosos, revigorados por um pontífice que sob tantos aspectos traz à lembrança o afeto, a sabedoria e as luzes de João XXIII e seu Concilio Vaticano II - referência de diálogo entre as religiões, bem como entre religiosos e não religiosos.

Seria mesquinho reivindicar para um só lado do espectro político - qualquer que seja - o monopólio do terreno de encontro e diálogo. Ao contrário, a conquista maior consistiria em trazer para esse terreno a maior parte das forças políticas, sociais, intelectuais, sem apagar os bons motivos de diferença e divergência. Com isso aumentaríamos exponencialmente as chances de vencer os desafios da "emergência antropológica" à nossa frente. Mero desejo de um feliz 2014?

Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das "obras" de Gramsci no Brasil e vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira

Fonte: O Estado de S. Paulo

Feliz Brasil Novo - Aécio Neves

A última imagem do ano para milhões de brasileiros solidários é a do sofrimento das famílias vítimas da violência das chuvas. O Brasil assiste a um novo capítulo da mesma tragédia muitas vezes anunciada.

Nenhum governo é responsável por desastres naturais, por chuvas ou enchentes que arrastam vidas e esperanças. Mas são responsáveis pelo que fazem e deixam de fazer.

A presidente Dilma fez bem em simbolicamente levar a solidariedade do país aos brasileiros das regiões atingidas. Mas errou ao tratar essas situações tão graves como se não tivesse responsabilidade sobre elas. As visitas e as declarações da presidente seriam adequadas a alguém que tivesse assumido o cargo na véspera, mas não cabem a quem representa um governo que há 11 anos conduz o país.

Infelizmente, mais uma vez, o governo enfrenta um problema objetivo, acirrado pela sua própria omissão, sem reconhecer a sua parcela de responsabilidade e se limitando a fazer novas promessas. Promessas que, provavelmente, não serão cumpridas, como não foram as feitas no passado.

Na visita a Minas, vendo o sofrimento da cidade de Virgolândia, a presidente surpreendeu a muitos ao comentar que a cidade teve sorte por não ter um rio caudaloso passando por perto. E, em mais um lance de marketing, anunciou a liberação de um cartão "ilimitado" para as prefeituras.

Nenhuma palavra sobre as ações --ou a ausência delas-- do governo federal nos últimos anos. Nenhuma palavra sobre o fato de que das 630 obras acompanhadas no PAC 2, lançado em 2010 (mas que inclui obras anunciadas desde 2007), nas ações voltadas para a Prevenção de Áreas de Risco, apenas 54 tenham sido entregues até setembro passado.

Nenhum comentário sobre a constatação de que, dos R$ 11 bilhões anunciados pelo PAC 2 com a costumeira pompa para a mesma finalidade, apenas 0,5% correspondam às obras efetivamente entregues até a mesma data. Meio por cento! Números como esses falam mais do que qualquer propaganda.

Mais um ano se aproxima do seu final. E registro o que, em meio a tantos desafios, acredito que devemos especialmente celebrar: a consolidação da nossa democracia, com destaque para o Judiciário independente e a liberdade de imprensa assegurada.

A presença de milhares de brasileiros nas ruas, um coro de vozes que ainda ecoa à espera de respostas, é o retrato emblemático e inesquecível do ano que se encerra.

Que no final de 2014 possamos comemorar bem mais do que a "sorte" de cidades não terem rios, e celebrar vidas e esperanças que não terão sucumbido às inevitáveis chuvas que virão. E que possamos celebrar especialmente o resgate da confiança no futuro do país. Feliz Brasil Novo!

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Careca de saber - Ricardo Noblat

“Renan estava careca de saber que não pode usar avião da FAB para viagem particular”
Chico Alencar, PSOL, RJ

O Senado deve ao distinto público a abertura de processo para cassar por quebra de decoro o mandato do seu presidente, Renan Calheiros. Ou não é falta de decoro ignorar a lei? Ou não foi o que fez Renan ao voar em jatinho da FAB para se submeter no Recife a um implante de 10 mil fios de cabelo? Com um agravante: depois de flagrado voando às nossas custas, tentou encenar uma farsa. Consultou a FAB sobre se de fato desrespeitara a lei.

A FAB não respondeu à consulta. Deu-se ao respeito, ora. Renan estava careca de saber que o decreto que regulamenta o uso por autoridades de jatinhos da FAB não prevê deslocamentos por razões particulares. É lícita a requisição de jatinho para viagens a serviço ou de volta ao seu Estado, por exemplo. Ou em caso de emergência médica. Um implante capilar é tudo – até um luxo. Emergência não é.

Imagine se fosse possível escapar dos rigores da lei sob a desculpa de que desconhecia sua existência. “Sinto muito, mas nunca fora apresentado a essa lei”. Não teríamos um Estado, não como o que conhecemos hoje. Mas um Estado de anarquia. Renan é político desde 1978. Foi duas vezes deputado federal por Alagoas, três senador, líder do governo Collor e ministro da Justiça de Fernando Henrique.

Uma de suas atividades é ajudar a fazer leis. Há várias de sua autoria. Fora centenas que ajudou a fazer. Para isso, como deputado ou senador, sempre contou com a assessoria de dezenas de funcionários do quadro fixo da Câmara dos Deputados ou do Senado. Como presidente do Senado – o terceiro na linha direta da sucessão do presidente da República – todas as suas dúvidas lhe são tiradas. Na hora.

Como sugerir que possa ter sido traído pela memória? Ou que seus assessores possam ter-se enganado na interpretação da lei? Ou que caberia à FAB dizer se ele acertara ou não ao requisitar jato para uma viagem particular? E uma viagem que ele se empenhou para que não chamasse a atenção de ninguém? Como de costume, foi a imprensa que descobriu o malfeito de Renan.

Na noite do último dia 18, uma quarta-feira, Renan voou ao Recife a “serviço”, conforme consta dos registros da FAB. A agenda dele no site do Senado omitiu a viagem.
Uma vez lá, se internou em uma clínica onde no dia seguinte teve 10 mil fios de cabelo implantados na cabeça pelo cirurgião plástico Fernando Basto. A cirurgia durou oito horas. Seus resultados começarão a se tornar visíveis daqui a quatro meses.

Do Recife, Renan foi a Maceió. Um outro jatinho o levaria a Brasília quando quisesse. No que deu errado... Renan apelou para o Plano B – “A FAB tem a última palavra”. Esqueceu de combinar com a FAB. Mandou um ofício ao comandante da FAB perguntando se cometera alguma “impropriedade” ao voar ao Recife de jatinho. Não recebeu resposta. Decidiu então pagar à FAB os custos da viagem.

Final feliz? Quem, fora Renan, pode pensar assim? Ok, a imprensa esquecerá mais rapidamente o assunto por causa da decisão de Renan de reembolsar a FAB. E se ela esquece todo mundo muda de assunto. Mas Renan, além de tudo, é reincidente. Em junho passado, foi a Trancoso, na Bahia, para o casamento da filha do colega Eduardo Braga (PMDB-AM). Usou um jato da FAB. Flagrado, devolveu à FAB R$ 32 mil.

Renan é tudo – menos um inocente coitadinho. Ignorou a lei em junho, voltou a ignorá-la seis meses depois, só reembolsou a União quando os dois episódios se tornaram públicos. Do contrário... Razoável supor que teria embolsado nosso dinheiro em silêncio. E sem remorso.

Fonte: O Globo

Muito além da urna - José Roberto de Toledo

Em ano de eleição presidencial, o Brasil discute problemas aparentemente essenciais: privatizar o privado, estatizar o público, bolsas e embolsos. Mas, para espanto dos políticos, a vida dos brasileiros depende pouco dos eleitos. As principais tendências da população mudam à revelia de Brasília.

E muita coisa está mudando. Mais instruída e integrada ao mercado de trabalho, a brasileira casa e tem filhos cada vez mais tarde. A idade média das mães cresceu 12 meses em uma década. Está em 26 anos e aumentando. Uma brasileira de 20 e 24 anos tem 62% de probabilidade de não ser mãe. Se a jovem for branca, a chance de não ter dado à luz chega a 70%.

Mais drástico ainda foi o amadurecimento das noivas. Em 2003, a idade típica da mulher solteira ao casar era 21 anos. Em 2012, já beirava os 25 anos. Essa média oculta um fenômeno dentro das estatísticas do registro civil: em 10 anos, duplicou o número de mulheres de 30 anos ou mais que se casam no papel.

Em parte, é fruto do envelhecimento da população, pois há também mais homens dessa idade se casando. Mas o fenômeno é 30% mais intenso entre as mulheres. As maduras estão mais casadoiras - ironicamente - devido ao novo padrão de mortalidade masculina.

Nasce um brasileiro a cada 10 segundos. Há 5% mais chances de o recém-nascido ser homem. A prevalência do sexo masculino nos nascimentos costumava ser rapidamente compensada pela maior sobrevivência das mulheres. Mas a drástica diminuição da mortalidade na infância faz com que o excedente masculino perdure cada vez mais.

Só quando os nascidos em 2012 completarem 37 anos haverá mais brasileiras do que brasileiros dessa mesma idade. Nas gerações seguintes, essa inversão vai levar mais e mais tempo. O excedente masculino provoca novos comportamentos e uma profunda transformação das relações entre os sexos - inclusive de poder.

Hoje, o mercado matrimonial favorece as mulheres até a faixa dos 30 anos. Além dos homens da mesma idade, mais numerosos, elas atraem também maridos mais velhos. Daí em diante, porém, a oferta de parceiras é maior do que a de parceiros da mesma geração - e muitos desses homens maduros casam com mulheres mais jovens.

É o que a demografia batizou de "pirâmide da solidão": à medida que a idade avançava, as brasileiras, principalmente separadas ou viúvas, tinham ao alcance um contingente cada vez menor de potenciais parceiros, enquanto para os homens a oferta de companheiras aumentava. Com o tempo, cresciam as solitárias e diminuíam os solitários. Mas a pirâmide começa a ruir.

Em 2012, para cada 100 divorciadas que voltaram a se casar, houve 136 divorciados que formalizaram nova união. Felizmente para as mulheres, a desproporção está diminuindo rapidamente. A diferença, que era de 45% só quatro anos antes, caiu para 36% e diminui ano a ano. Tende a desaparecer em pouco tempo. Mas como?

Morre um bebê a cada 15 minutos no Brasil, e a chance de a vítima ser menino é 25% maior. A fragilidade do dito sexo forte se mantém até os 80 anos, quando as mortes femininas pela primeira vez suplantam as masculinas em volume. Por isso, toda redução da mortalidade, principalmente nos primeiros anos de vida, aumenta a proporção de homens na população.

As próprias mulheres têm contribuído para isso: 61% das mães já fazem 7 ou mais consultas pré-natal. Agem em benefício próprio. Menor mortalidade implica maior número de homens, o que aumenta as oportunidades matrimoniais por um período mais longo. Elas ficam em posição de força para postergar a escolha do parceiro enquanto se afirmam profissional e politicamente. É uma revolução, e isso tem pouco ou quase nada a ver com a eleição.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Use com moderação - Almir Pazzianotto Pinto

A realidade da América do Sul, desde que os países se tornaram independentes de Espanha e Portugal, consiste em ininterruptos projetos de reforma. A estranha obsessão por mudanças tenta ocultar o fracasso de projetos que permanecem no papel, para logo serem esquecidos e abandonados.

Veja-se a declaração da socialista Michelle Bachelet, ao ser reconduzida à Presidência do Chile, no primeiro comício após a vitória: "Finalmente é o momento de fazer mudanças". Finalmente, por quê? Não poderia tê-las levado avante no primeiro mandato? Reencontrou o país estraçalhado? Certamente, não. Afinal, segundo a opinião de viajantes, seria o Chile uma espécie de oásis, dentro de desolador cenário político sul-americano.

A proclamação peca pela ausência de originalidade. Não há candidato, na tumultuada história do continente, que economize promessas de estabilidade econômica, geração de emprego e renda, saúde, educação, transporte, segurança, sem abrir mão das garantias democráticas. Com raras exceções, assumem compromissos irreais de combate à corrupção e juram estar dispostos a lutar pela moralização dos costumes. Poucos, entretanto, têm a coragem de dizer que desenvolvimento é fruto de trabalho pesado e persistente, austeridade nos gastos, equilíbrio das contas públicas, que não haverá progresso se não houver um mínimo de entendimento entre governo, oposição e povo.

Caso singular é o do Uruguai. A única reforma que até agora promoveu o presidente José Mujica consiste na liberação do plantio e da comercialização da maconha. Fazendo fronteira com o Brasil, no Rio Grande do Sul, já antevemos os reflexos que a medida insana trará ao nosso país, que hoje enfrenta o dramático problema da expansão do baseado entre jovens de todas as classes sociais, o crescente consumo de crack, cocaína, heroína e outros produtos proibidos. Vozes já se ouvem entre nós em defesa de idêntica bandeira. Talvez venhamos a ter, em maços de cigarro de maconha, e embalagens de cocaína, a inócua frase "use com moderação", encontrada em latas e garrafas de bebidas alcoólicas.

Voltando as atenções para Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela e Colômbia, em décadas de luta contra o narcotráfico, percebemos o perigo que nos circunda, e a necessidade de proteção ao Estado Democrático de Direito, em particular do Poder Judiciário, cuja majestade o PT procura desacreditar após a prisão dos mensaleiros.

É útil o paralelo entre América do Sul e Europa. Enquanto, por aqui, a urgência de medidas corajosas e inovadoras se resolve com promessas, no Velho Continente, crises são combatidas sem o temor da adoção de medidas de austeridade. Experiências acumuladas com guerras, fome, desemprego fizeram com que eleitores e políticos se convencessem da inexistência de medidas simples e rápidas para derrotar desafios que demandam firmeza, integridade e severas punições para transgressores. Acreditamos, como Fernando Pessoa, que "Deus quer e, o homem sonha, a obra nasce".

Com o fim do regime militar, foi devolvida à nação a responsabilidade de sustentar a democracia e resolver problemas de governabilidade e desenvolvimento. Após malogrados esforços para conter os preços, durante os governos de José Sarney e Fernando Collor, havíamos conseguido, com Fernando Henrique Cardoso, aquilo que era tido como impossível: estabilizar a moeda, deter a inflação, preparar a retomada do crescimento. Numerosos obstáculos tiveram que ser superados pela equipe econômica, liderada por Pedro Malan, ministro da Fazenda, para combater o pessimismo e neutralizar opositores e especuladores, beneficiados pelo ambiente anárquico dominante na economia.

Doze anos depois, o país está em marcha a ré. O ministro Mantega fala em crescimento com pernas mancas, para justificar o pífio Produto Interno Bruto (PIB). Esquece-se de que foi o governo quem comprometeu o tripé estabilizador: câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e meta de inflação.

Poucas são as esperanças da oposição em 2014. Sob a dupla PT-CUT, teremos reformas, ou o Brasil se perderá na inconsistência populista dos discursos? Iludir a realidade com promessas demagógicas, acreditar na eficácia mágica das palavras, é típico dos subdesenvolvidos.

Nostri nosmet paenitet. Nós somos o nosso próprio tormento, ensinava o filósofo Terêncio. As provas, nesse sentido, são robustas.

Advogado, ex-ministro e ministro aposentado do TST.

Fonte: Correio Braziliense

E lá se vai 2013! Feliz 2014! - Marcus Pestana

Drummond, em passagem inspirada, rendia homenagens ao indivíduo genial que teve a ideia de fatiar o tempo, apelidando de ano suas fatias. A magia desse pequeno truque, no olhar do poeta itabirano, levou ao limite a capacidade de industrializar a esperança. É que 12 meses são o bastante para cansar qualquer um e fazê-lo entregar os pontos. Quando o milagre da renovação se opera, na noite de réveillon, sob fogos e espumantes, tudo começa outra vez, com um número diferente e com a vontade de acreditar que, dali pra diante, tudo vai ser diferente. Lá se vai 2013!

Esse momento mágico de singularidade humana é campo fértil para toda a sorte de pedidos, avaliações e previsões. Jogam-se os búzios, os videntes decretam mortes e catástrofes. Cartomantes decidem as eleições. O tarô aponta sucessos e fracassos de artistas e famosos.

Os economistas, enciumados, começam a jorrar estatísticas. O PIB crescerá de 2,2% a 2,4%, nem mais, nem menos. A inflação do próximo ano será de 5,1% a 5,3% cravados.

No ano seguinte, se nada se confirmou, se nada previsto aconteceu, pior para a realidade, a esperança ou a angústia coletiva é replantada e industrializada, e todos nós, crédulos cidadãos, consumimos com voracidade as projeções sobre o futuro de nossos geniais doutores em premonição. Nenhum mago, tarólogo, feiticeira, médium, cartomante ou economista dá o braço a torcer. E vestem a mais bela cara de pau e, sem perder a pose, ditam as perspectivas do novo ano.

Não está aqui nenhum Apolo desacreditando profecias de Cassandras, elas podem se realizar e não quero ser responsável pela a queda de Tróia. Quem sou eu para quebrar a fantasia coletiva criada pelo indivíduo genial que fatiou o tempo e industrializou a esperança.

Lá se vai 2013. Mas, no Brasil, como dizia o ex-ministro Pedro Malan, “até o passado surpreende”.
O ano foi agitado. O ponto alto foram as manifestações de junho, quando a sociedade brasileira quebrou o silêncio e tomou as ruas num grito forte, espontâneo, sem plataformas, lideranças formais ou palanques, contra a corrupção sem limites e por qualidade de vida nas cidades, na saúde e na educação. A economia brasileira continuou patinando: PIB raquítico, inflação alta, desindustrialização, carga tributária crescente, empregos de baixa qualidade, produtividade estagnada, setor externo deteriorando. Eike corporificou o fracasso do intervencionismo do governo.

O julgamento do mensalão fortaleceu o Poder Judiciário e o Ministério Público e a democracia brasileira mostrou seus músculos. Obama nos espionou e continuamos com o alinhamento internacional equivocado ao bolivarianismo populista autoritário. Papa Francisco foi o
Homem do Ano. Dilma demonstrou sua inaptidão para o cargo, enfrentou turbulências em sua base, distribuiu broncas, viu o PAC empacar e se rendeu sem muita convicção às parcerias com o capital privado.

Não é a toa que 64% dos brasileiros entrarão 2014 querendo mudanças. Feliz 2014!

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG

Fonte: O Tempo (MG)

O Brasil pode dar certo? - Renato Janine Ribeiro

Ética e gestão, os dois pilares da boa política

Nenhum inglês rico completava a educação, nos séculos XVII e XVIII, sem o "Grand Tour", uma longa viagem ao continente europeu para conhecer cidades e artes. (O mais ilustre dos preceptores desses moços foi o filósofo Thomas Hobbes, que assim conheceu René Descartes.). Seria bom, hoje que a Europa está ao alcance da classe média, que nossos jovens a visitassem para aprender o que é uma realidade socialmente justa. Ao menos no núcleo duro da Europa Ocidental - França, Alemanha, Benelux, Escandinávia - uma cultura basicamente socialdemocrata se implantou após a Segunda Guerra e ainda resiste, formando um modelo de sociedade até hoje insuperado, superior ao nosso e ao norte-americano.

Levantei no Facebook a questão que considero a mais relevante para o Brasil: por que países devastados, como a Alemanha de 1945, ou atrasados, como a Espanha de 1975, conseguiram "dar certo" - e nós não? As respostas racharam. Em geral, quem se situa à "esquerda" protestou contra a ideia de "dar certo", sustentando que nem os europeus vão bem nem nós, tão mal. Já quem se diz liberal receitou reformas econômicas, como a desregulamentação da atividade empresarial (o exemplo mais comum). Entendo que essas são duas formas de não responder à pergunta mais importante sobre a sociedade brasileira.

Começo discutindo as reações mais à esquerda.

Primeiro, o que é uma sociedade "dar certo"? Entendo:

1) um sistema de saúde eficiente e justo. Eficiente: que todos sejam atendidos bem, em prazo razoável, pelo menos para a maioria esmagadora das moléstias. Justo: ninguém receie que uma doença possa destruir sua renda ou patrimônio; a sociedade, pelo imposto (em especial, o de renda da pessoa física), cobrirá os gastos de saúde. Imaginem como esse ganho em termos de saúde melhorará as aposentadorias. Ninguém precisará passar a vida acumulando para o dia em que pagará 2 mil reais de plano de saúde, mil de remédios e ainda consultas e cirurgias.

2) uma educação de qualidade, gratuita ou quase. A importância inédita que a sociedade contemporânea atribui à educação tem duas grandes metas. Primeira: proporcionar, a todos, condições de concorrer em certa igualdade, neutralizando o bônus que a riqueza confere a alguns (e o bônus negativo que a pobreza inflige à maioria). Segunda: deixar que aflorem as mais variadas competências. Nunca houve sociedade rica e complexa como a atual. Ela precisa de competências mais variadas do que sociedades que só repetiam o passado. Hoje há mais espaço para cada um seguir sua vocação. Uma educação boa realiza vocacionalmente o indivíduo e capacita-o, se mostrar dedicação e empenho, a se projetar economicamente.

3) um transporte público bom, em grande parte - pelo menos nas maiores cidades - sobre trilhos. Na Grande Paris, mesmo no horário de pico dificilmente se gasta mais de uma hora e quinze para ir de uma ponta dos subúrbios a outra - com ou sem acidentes na rota. O transporte coletivo deve ser subsidiado, porque traz vantagens para a cidade, preservando-a da destruição operada por carros e avenidas. O Brasil é perverso: subsidia o carro privado, com isenção de impostos e construção de vias; por que não o transporte coletivo, que é mais saudável?

4) uma segurança pública decente, com policiais que respeitem o cidadão em vez de ameaçá-lo, e sejam dispostos e capacitados a apurar crimes.

Todos estes pontos associam ética e eficiência, valores e gestão. Todos tratam do que é mais justo socialmente, e do que é mais eficaz, virtude esta que geralmente associamos à economia e à administração. A fusão da ética com a eficiência é o segredo - que aguardamos - da boa governança.

Poderia falar da cultura, que aprimora qualidades humanas e capacidades profissionais, e das cadeias, que em vez de educar para o crime deveriam recuperar os detentos (como nas prisões rurais autogeridas de Minas Gerais, tema de recente reportagem do Valor), mas fico no "minimum minimorum". No Brasil, já seria uma revolução.

Esta satisfação das necessidades dá à Europa uma tranquilidade no convívio cotidiano. Se no Brasil as pessoas furam fila e passam pelo acostamento, em parte é pela crença de que "não vai haver o suficiente para todos": precisamos garantir o nosso, antes que a oferta se esgote. Mas, quando há bastante para todos, isso não é necessário. A vida fica melhor. O valor disso não tem preço.

Por isso, estranhei tanta gente que se diz de esquerda fechar os olhos ao desastre social que é nosso atraso nestes pontos. Os avanços petistas na inclusão social apenas tornam prioritária a construção de uma sociedade social-democrática (pouco a ver com o que propõe nosso partido de nome socialdemocrata). As faixas exclusivas de ônibus recentemente abertas em São Paulo fazem parte dessa mudança, mas que precisa ir além do emergencial - como as cotas, o elogiado Bolsa Família - e se tornar estrutural.

Estes anos, aumentou o dinheiro para os pobres consumirem, mas não houve um salto real nas funções distintivas do poder público. É paradoxal. O partido mais acusado de estatista promoveu um crescimento que beneficiou os pobres, sem tirar dos ricos. Talvez esteja se esgotando essa conciliação de classes. Talvez por isso, os conflitos sociais se tornem ásperos.

Discutirei, na semana que vem, o que a centro-direita propõe para o país dar certo.

***
Na última coluna mencionei Boulez, mas o certo era Olivier Messiaen. Peço desculpas por ter confiado demais em minha memória. Mas me deu prazer receber várias mensagens de leitores apontando o erro. O Brasil conhece melhor a música erudita do que este amador imaginava.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

O Julinho e o ensino - Paulo Brossard*

O caso do Julinho
soa como uma
espécie de S.O.S.
partindo da educação

Um fato chocante e de inegável importância social foi divulgado por ZH dias antes do Natal ao retratar a alarmante deterioração de um dos mais conceituados colégios de Porto Alegre, o “Julinho”, como era familiarmente denominado o “Julio de Castilhos”. Ao tempo em que surgiam colégios de inspiração religiosa, logo consagrados pela excelência do ensino ministrados por notáveis educadores, o governo rio-grandense, de forte tintura comtiana, cuidou de formar seu colégio padrão, que viria a levar o nome do chefe republicano; cansei de ouvir referências respeitosas ao colégio laico destinado a cotejar com os católicos e evangélicos; o maior louvor suponho viesse daqueles que lhe houvessem frequentado. O trabalho da jornalista Letícia Duarte estendeu-se pelo ano escolar, 27 de fevereiro a 22 de novembro de 2013; registrando o colapso do que fora um colégio modelar; é impossível resumi-lo, o espaço seria insuficiente para um resumo do resumo, limito-me a dizer que, a todos os títulos, o quadro é deplorável.

É óbvio que sem professor não há escola nem ensino, no entanto, no Julinho, até sete professores por dia faltam às aulas, 89% dos alunos chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o mínimo em matemática, 38% saem do Ensino Médio e chegam ao Superior e não sabem ler e escrever plenamente; ao fundo da sala alunos se divertem com equipamentos eletrônicos durante as aulas; essas singelas observações esclarecem porque a classificação do Brasil entre 65 nações ocupa posição desoladora. É de notar-se que isto acontece em um colégio que durante muitos anos foi dos melhores aqui existentes e em consequência no Brasil inteiro. Esta metamorfose não se operou de repente, o mal, por conseguinte não começou ontem. O colégio que foi o melhor não se transforma no pior da noite para o dia. E o mais grave é que a degradação se infiltra a setores relevantes do país, do governo inclusive a de instituições docentes. Dir-se-á que existem, Deus seja louvado, colégios da melhor e mais justificada reputação e eu sei disso e como brasileiro por isto me felicito, mas infelizmente isto não justifica a cota de colégios de inqualificável reputação. Segundo as repercussões até agora conhecidas verifica-se que há os que pensam que o fenômeno que deformou o Julinho tem caráter geral e há os que entendem que a falência do antigo e modelar ornamento do colégio oficial é uma exceção.

Não tenho elementos para opinar em favor de uma ou outra das interpretações, mas confesso a minha angústia cívica diante do espetáculo público do caso funesto e vexatório do Julinho uma vez que os efeitos dele se irradiam aos demais graus do ensino; é evidente que o ensino primário contamina o Ensino Médio e este compromete o Ensino Superior; a esse respeito, louvores seriam poucos, se as numerosas universidades emergentes realmente encarnassem o que a sua denominação anuncia. Confesso-me sem condições de opinar em assunto de tal relevância, pois não conheço o real teor do ensino oferecido e mais do que o ensino, da real formação de seus jovens frequentadores.

No entanto, há um dado idôneo que ajuda a esclarecer o problema em causa, não é segredo, foi amplamente divulgado que dos 65 países que participam do exame de avaliação internacional de alunos de 15 e 16 anos em várias áreas, ficou o Brasil na 55ª posição em leitura, 58ª em matemática e 59ª em ciências. Dispensável dizer que esses dados indicam as carências do ensino no Brasil. Os dados referidos são dolorosos para não dizer humilhantes. O caso do Julinho soa como uma espécie de S.O.S. partindo da educação.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

A perna manca de 2014 - Valdo Cruz

O ano das estripulias econômicas do governo Dilma chega ao fim com algumas boas notícias. A inflação voltou a ser tratada como um mal a ser combatido. Ajustes foram feitos e as concessões decolaram. Falta, contudo, uma perna ainda manca, a da política fiscal.

Apesar das promessas, ainda não há uma clareza sobre a real disposição do governo de conter seus gastos. Por um simples motivo: é minoria na equipe presidencial o grupo que defende um aperto fiscal.

Em vez de admitir a realidade, Dilma e sua equipe preferem acusar o mercado de má vontade com o governo atual, só porque ele é do PT. Bem, vamos, então, aos números, que não costumam mentir.

No início de 2013, o governo prometeu economizar 3,1% do PIB para pagamento da dívida pública, a meta de superavit primário. Dela, 2,1% seriam de sua responsabilidade. Depois, reduziu a meta para 2,3%. Sua parte despencou para 1,5%.

E tudo indica que nem isso será cumprido. Ou seja, o governo gastou, sim, muito, jogando lenha na fogueira da inflação. Para 2014, os primeiros dados indicam um apetite ainda maior por mais gastos.

Ao elaborar o Orçamento do ano que vem, o governo fixou uma meta de superavit de 2,1% do PIB, menor do que a de 2,3% revisada deste ano. Não para aí. Da meta de 2,1%, a parte do governo federal seria de apenas 1,1%. Bem mais baixa do que a de 2013, que ficou em 1,5%.

Sinal ainda mais forte do desejo de gastança da equipe dilmista no ano da campanha da reeleição da chefe. Em sua defesa, o governo diz que tem elevado os gastos sociais. Só que não dá para aumentar despesas sem receitas para bancá-las. É insustentável no médio prazo.

Agora, diante do risco de a inflação voltar a subir no ano da reeleição, o governo promete elevar sua meta de superavit em 2014. A decisão ficou para janeiro. Saberemos, então, se o Brasil seguirá mancando ou, enfim, acertará o passo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Política - Cláudio Humberto

Farra com verba da Conab
Líder nos gastos sob suspeita com o Programa de Aquisição de Alimentos, o Rio Grande Sul continua encalacrado na farra investigada na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura. Após a compra irregular de sucos de uva, foram torrados R$ 13 milhões em leite em pó por três cooperativas registradas no sistema financeiro do governo, que também estão sob investigação. Por bagunça ou má-fé, a Conab só reconhece uma compra, apesar do registro delas no Siafi, sistema de administração financeira do governo: a de leite em pó pela Cosulati, que recebeu R$ 1,5 milhão em julho, mas só entregará mercadoria um ano depois. A Conab desconhece os "adiantamentos a fornecedores" para Cootap (R$ 3,2 milhões) e CPC (R$ 7 milhões), apesar de registrados no Siaf. À frente da Conab está seu diretor de Operações, Silvio Porto, que, investigado, até já foi levado para depor na PF, mas continua no cargo.

Arrecadar para o funcionalismo
Durante o ano de 2013 já foram registrados gastos de R$ 1,13 trilhão em gastos diretos federais para o pagamento de pessoal e encargos. Isso significa que as despesas com o funcionalismo dos Três Poderes consomem quase 71% do total do esforço de arrecadação de tributos em todo o País, segundo dados do Portal da Transparência. Até agora, já foram arrecadados pela União mais de R$ 1,6 trilhão em impostos.

Renda minha
É tanto dinheiro arrecadado com impostos que, redistribuído, daria um salário mínimo por mês para cada brasileiro, incluindo crianças.

É uma jornada!
Com expectativa de vida de 72 anos, cada brasileiro trabalha metade da vida só para pagar seus impostos ao governo.

Gente cara
A folha de pessoal dos Três Poderes corresponde a quase 50% do orçamento federal de R$ 2,5 trilhões aprovado pelo Congresso dia 18.

Daqui não saio
Com a família e amigos morando em Brasília, o mensaleiro Valdemar da Costa Neto quer permanecer preso no complexo da Papuda. Ele pretende ser "contratado" pelo PR, partido de sua propriedade.

Uma paulada
Cotado no PMDB para assumir o comando da Comissão de Finanças e Tributação em 2014, Mário Feitoza (CE) quer debater taxas abusivas de administração de fundos cobradas por bancos públicos e privados.

Droga de vida
A boa notícia: cubanos poderão trocar suas banheiras americanas por carros novos. A má: serão chineses. A Geely vai abrir montadora na ilha e exportar o faz-de-conta pelo porto de Mariel, aquele do BNDES.

Bike IPI zero
A rede Bicicleta para Todos já coletou 26,4 mil assinaturas pela isenção de IPI para bicicletas. Serão entregue aos presidentes da Câmara e Senado.

Feliz 2014
Lula vai abrir champanhe por não ser dele a correção da tabela do IR, o fim do IPI, o pior PIB entre os Brics e a Bolsa pífia.

Frase
"Pedro não pegou em nenhum dinheiro" -
Ex-vereador Clóvis Corrêa, sobre o primo mensaleiro, ex-deputado federal Pedro Corrêa (PE)

Cara de pau cara
Após a condenação, três ex-deputados mensaleiros torraram R$ 197 mil da cota parlamentar. De junho a dezembro, Valdemar da Costa Neto (PR) gastou R$ 81,6 mil, Pedro Henry (PP) R$ 77 mil, e Genoino (PT) R$ 38 mil até setembro.

A moda pegou
Após o flagrante de Dilma cometendo a mesma infração com o neto, foi a vez da deputada Celina Leão (PDT), de Brasília, postar no Instagram foto "selfie" em que aparece uma criança no carro sem usar cadeirinha.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)