- Blog do Noblat / Veja
E tudo só mal começou...
A uma semana de completar cem dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro deu-se ao trabalho de desautorizar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) criado em 1934 e respeitado desde então aqui e no exterior pela correção de suas análises.
O IBGE havia divulgado que o desemprego aumentou no país em fevereiro último, quando a taxa subiu para 12,4% e o total de desempregados voltou a superar 13 milhões. Bolsonaro disse que o número está errado e que os “índices parecem feitos para enganar”.
Economia não é o forte de Bolsonaro, e ele mesmo já confessou isso dezenas de vezes. Quando se arriscar a dar palpites a respeito, quase sempre dispara grossas bobagens. Ao tentar desacreditar o IBGE, ele apenas copia o exemplo dado por ministros de governos passados.
Até aqui, Bolsonaro só tem feito brigar com fantasmas e com o português. Golpe de 64, ditadura e agora o nazismo foram seus fantasmas preferidos. Reforma da Previdência é problema do Congresso. O pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, também.
Quando não se ocupa em disseminar notícias falsas nas redes sociais, viaja ao exterior – e por lá envergonha o país. Só faltou ajoelhar-se aos pés de Trump. No Chile, elogiou Pinochet, ditador sanguinário. No Paraguai, Stroessner, ditador pedófilo.
Governar de fato, ele não faz. Sequer preencheu ainda cargos importantes no segundo e terceiro escalões da administração federal. Já foi capaz de faltar ao trabalho para ir ao cinema com a mulher. E de faltar de novo para ir rezar junto com amigos homens.
Sua inapetência pelo exercício do poder não tem par desde que a democracia foi restaurada no país. É visível seu enfado com as múltiplas tarefas que cabem a um presidente da República. Só se sente bem e à vontade entre seus ex-companheiros de farda.
Anarquia no palácio do capitão
Quem mandou divulgar o vídeo que exalta o golpe de 64?
O general porta-voz de Jair Bolsonaro disse considerar “caso encerrado” a polêmica provocada por um vídeo divulgado no último domingo por meio de um dos canais privados da Secretaria de Comunicação da presidência da República que exalta o golpe militar de 31 de março de 1964. Caso encerrado coisa nenhuma!
Na segunda-feira, dia 1º de abril, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, declarou ao jornal O Globo que o vídeo fora divulgado por decisão do presidente Jair Bolsonaro, àquela altura em visita a Israel: “Decisão do presidente. Foi divulgado pelo Planalto, é decisão do presidente”.
Mas ontem, ainda no exercício da presidência da República, Mourão corrigiu-se: “Em tese, ele deveria saber. Agora sei que ele não sabia”. Se antes era grave o fato de um vídeo que exalta um golpe militar ter sido divulgado por decisão do presidente, muito mais grave ficou com a revelação feita por Mourão de que Bolsonaro não sabia.
Quem mandou produzir o vídeo e quem mandou divulgar? – eis a questão. O empresário bolsonarista Osmar Stábile, de São Paulo, ex-vice-presidente do Corinthians, se apresentou há poucas horas como o produtor do vídeo. “Não conheço Bolsonaro, mas apoiei sua eleição”, justificou-se. Ele disse também ter apoiado o golpe de 64.
Vá lá que não se trate de um arranjo de última hora para esconder o verdadeiro autor do vídeo, ou para afastar a suspeita de que o vídeo foi produzido e pago pelo governo. Mas quem autorizou que o vídeo supostamente produzido por um empresário fosse divulgado pela Secretaria de Comunicação da presidência da República?