SÃO PAULO - A aliança com o PSDB tende a ser melhor acolhida pela bancada do PSD na Câmara dos Vereadores de São Paulo do que aquela que vinha sendo negociada com o PT. O grupo que melhor acolhe a aliança entre o ex-governador de São Paulo, José Serra, e o partido do prefeito Gilberto Kassab é formado por vereadores que saíram do DEM, PPS e PSDB para fundar o PSD. A bancada do partido é a segunda maior da Câmara de São Paulo, com dez parlamentares, atrás apenas do PT, com 11. Os pessedistas receiam perder votos e diminuir de tamanho se apoiarem os petistas. Para eles, seria difícil explicar a mudança de postura depois de terem tomado a prefeitura do PT em 2004 com um discurso recheado de críticas.
Por outro lado, há setores no partido, como os deputados e o movimento sindical, que preferem a parceria com os petistas. Segundo aliados de Kassab, o acordo com os petistas era almejado pelo próprio prefeito como forma de se aproximar ainda mais do governo federal. O plano era apoiar a reeleição de Dilma em 2014, quando o PSD trabalharia para aumentar a bancada na Câmara e depois se posicionar como alternativa para a sucessão da petista em 2018, em aliança com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB.
Com a entrada de Serra na disputa, o PSD irá compor um arco de alianças com o PSDB. O prefeito era vice do tucano em 2006, quando ele renunciou para concorrer ao governo estadual, e tem o compromisso público de apoiá-lo na sucessão municipal. O fim das conversas com o PT na capital paulista não interfere na posição nacional do partido, dizem pessedistas, mas freia, pelo menos temporariamente, a guinada de Kassab em direção aos petistas.
"O ideal seria seguir a mesma linha de antigamente, do Democratas com o PSDB. Seria uma continuidade, um acordo mais fácil de explicar para o eleitor", afirma a vereadora Edir Sales, uma das que saíram do DEM com o prefeito. Irmã do ex-vereador e conselheiro do Tribunal de Contas do Município, Eurípede Sales, Edir concentra a maioria dos seus votos na Vila Prudente, região na zona leste da cidade onde o PT tem perdido as eleições para o bloco conservador.
A parlamentar garante que defenderá a aliança decidida pelo partido, mas acredita que o acordo poderia prejudicar inclusive a reeleição dos vereadores petistas, que também ficariam sem discurso. "Ainda não me imaginei subindo no palanque do Haddad para dizer "vote no PT, vote 13". Tomara que o meu líder, o prefeito Gilberto Kassab, não me submeta a esse sofrimento", afirma.
O vereador Souza Santos, ex-tucano, diz que seguirá a decisão da legenda. "Se o partido achar melhor [a aliança] com o PSDB, tanto melhor. Se fosse com o PT, não teria problema. É uma composição meio difícil, mas não impossível", comenta. Ex-PPS, o vereador Milton Ferreira concorda. "Nossa filosofia política, história, projetos e programas coincidem com os do PSDB", analisa.
Apesar da comemoração dos vereadores do PSD, que achavam ruim a aliança com o PT pela mudança de discurso, o acordo pretendido pelo PSDB com seus aliados, porém, é para impedir a coligação para a chapa de vereadores. "O que foi conversado pelo partido nas últimas 24 horas é que o PSDB não vai permitir coligação para a eleição proporcional com partidos maiores, ou corre o risco de eleger o prefeito e não ter a maior bancada na Câmara", afirma o líder dos tucanos no Legislativo municipal, Floriano Pesaro. A entrada de Serra possibilitou ao PSDB um ótimo puxador de votos para a legenda, mas uma coligação poderia diminuir essa vantagem, pois o PSD tem três vereadores a mais que os tucanos e sairia na frente, com mais candidatos à reeleição.
O PSDB tem oito vereadores, três a menos que o PSD. Com uma coligação, os candidatos com mais votos nessa chapa seriam eleitos.
A opinião é compartilhada pelo vice-governador Guilherme Afif Domingos, que já declarou diversas vezes preferir manter a coligação que o elegeu com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2010. Afif era o pré-candidato do PSD para prefeito, mas só aceitava concorrer com um vice tucano, proposta que naufragou pela resistência do partido aliado, que quer um candidato próprio.
Outro foco de resistências era a ala evangélica do PSD, que não quer ouvir falar do pré-candidato do PT, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, por causa do "kit anti-homofobia" que ele pretendia distribuir nas escolas. A campanha foi duramente criticada por religiosos e a presidente Dilma Rousseff teve de abandoná-la para evitar retaliação da bancada no Congresso.
Estão nesse grupo, segundo pessedistas, os vereadores David Soares, filho do missionário Romildo Ribeiro Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, e Marta Costa, filha do pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus. O Valor tenta contato com Marta desde a quarta-feira, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Soares está de licença até o início de março.
Favorável à aliança com os petistas, que foi interrompida, está o movimento sindical. "Me identifico mais com o PT, que tem um olhar social mais parecido com o nosso", afirma Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), terceira maior central sindical do país, e da futura fundação de formação política do PSD.
Segundo Patah, a vontade no movimento sindical era que Serra não se candidatasse. "São Paulo tem uma possibilidade importante de renovação, de ter uma cara nova no comando, o melhor seria aproveitar essa oportunidade", expõe o sindicalista, que apoiou as campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma. A UGT, que também tinha filiados em partidos da oposição, ficou neutra em 2010.
Os deputados do PSD que saíram de legendas da oposição com o desejo de aderir ao governo federal também gostariam de ver a legenda junto ao PT em São Paulo. A proposta de indicar um vice do PSD para Haddad, feita em janeiro por Kassab a Lula, desencadeou uma onda, até então improvável, de negociações em outros Estados, e hoje as duas siglas podem fechar aliança em cerca de dois terços das capitais.
O líder da bancada, Guilherme Campos, nega que exista essa disposição por parte dos deputados e diz que o partido é independente. "O PSD é composto por parlamentares que vieram de vários partidos. Muitos apoiaram a presidente Dilma na eleição. Outros, como eu, ficaram ao lado do Serra. A bancada está bem dividida, não tem uma posição de consenso", diz.
Já o presidente da Câmara de São Paulo, vereador José Police Neto, um ex-tucano que articulou com Kassab a formação da bancada municipal, via chances de entendimento com os dois lados. Ele avalia que PT e PSD se assemelham nas políticas de distribuição de renda, mas que seu partido está mais próximo do PSDB em outras propostas, como o investimento em metrô e trem, enquanto os petistas pregam a construção de corredores de ônibus. "Não tenho dificuldade nenhuma em construir convergências, que já existem, com o PT, ou reatar os entendimentos com o partido que me criou", garante. (RC)
FONTE: VALOR ECONÔMICO