“Já que, distante cem anos de sua morte, ninguém, marxista ou não marxista que seja, duvida que Marx deva ser considerado um clássico na história do pensamento em geral e também na história do pensamento político, eu me propus a confrontar a teoria política de Marx com algumas daquelas teorias cujos autores são unanimemente denominados os “clássicos” do pensamento político, de Platão a Hegel, indicando, através de um procedimento de comparação por afinidades e diferenças, qual possa ser o lugar ocupado pela teoria do Estado de Marx na história do pensamento político. Em outra ocasião, a propósito de Max Weber, ocorreu-me dizer que, para garantir um lugar entre os clássicos, um pensador deve obter reconhecimento nestas três eminentes qualidades: deve ser considerado como um tal intérprete da época em que viveu que não se possa prescindir de sua obra para conhecer o “espírito do tempo”: deve ser sempre atual, no sentido de que cada geração sinta necessidade de relê-lo e, relendo-o, de dedicar-lhe um nova interpretação: deve ter elaborado categorias gerais de compreensão histórica das quais não se possa prescindir para interpretar uma realidade mesmo distinta daquela a partir da qual derivou essas categorias e à qual aplicou.”
(Noberto Bobbio, em “Teoria Geral da Política - A filosofia política e as lições dos clássicos”, pág. 114 – Editora Campus, Rio de Janeiro, 2000)
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Reflexão do dia - Norberto Bobbio
Marco Aurélio Nogueira :: A falta de uma oposição
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Não poderia ser mais melancólico o final do ano político. Em meio ao foguetório e às confraternizações habituais, oculta-se um quadro sem brilho, pobre, desqualificado, que não promete nenhum bom augúrio.
É um quadro curioso, que intriga precisamente porque não sugere nenhum indício de ameaça à estabilidade política ou de algo que esteja pondo em risco a democracia no País. Se nada ameaça a legalidade política, se tudo parece indicar que continuaremos a viver democraticamente, a assistir ao revezamento regular dos governantes e à eleição sem traumas dos parlamentares, por que persiste este clima de indiferença e pessimismo com relação à política? Será que é porque tudo parece estar bem - ou muito bem, como pensam alguns - que ninguém no País se mostra civicamente comprometido, interessado em participar das decisões nacionais ou mesmo decidido a brigar para eleger os melhores representantes políticos?
Pode-se associar a isso ao menos uma dupla preocupação. Por um lado, se a política não funciona bem, não envolve nem compromete os cidadãos, aumenta o risco de que a cidadania não consiga se manter ativa e organizada, pressionando por seus direitos e vigiando os governos. Como poderá ela manifestar suas aspirações e lutar para garanti-las?
Como serão formados os consensos que nortearão as escolhas dos governantes? Por outro lado, a inoperância da política pode significar um obstáculo a mais para os planos futuros da sociedade, tanto quanto para as promessas e os compromissos anunciados pelos governantes. Mesmo o tão aclamado e acalentado desenvolvimento ficará sob risco, e isso para não lembrar das expectativas de reforma social e melhoria da distribuição de renda, operações que são eminentemente políticas e dependem de forma crucial de consensos que somente a política pode produzir.
A sucessão de escândalos, a corrupção convertida em prática cotidiana, o baixo nível dos debates e a ausência dramática de propostas integradas e factíveis para governar o País são a ponta de um iceberg que hoje aprisiona todo o campo político nacional. Não há partido que escape dele.
Não poderia ser mais melancólico o final do ano político. Em meio ao foguetório e às confraternizações habituais, oculta-se um quadro sem brilho, pobre, desqualificado, que não promete nenhum bom augúrio.
É um quadro curioso, que intriga precisamente porque não sugere nenhum indício de ameaça à estabilidade política ou de algo que esteja pondo em risco a democracia no País. Se nada ameaça a legalidade política, se tudo parece indicar que continuaremos a viver democraticamente, a assistir ao revezamento regular dos governantes e à eleição sem traumas dos parlamentares, por que persiste este clima de indiferença e pessimismo com relação à política? Será que é porque tudo parece estar bem - ou muito bem, como pensam alguns - que ninguém no País se mostra civicamente comprometido, interessado em participar das decisões nacionais ou mesmo decidido a brigar para eleger os melhores representantes políticos?
Pode-se associar a isso ao menos uma dupla preocupação. Por um lado, se a política não funciona bem, não envolve nem compromete os cidadãos, aumenta o risco de que a cidadania não consiga se manter ativa e organizada, pressionando por seus direitos e vigiando os governos. Como poderá ela manifestar suas aspirações e lutar para garanti-las?
Como serão formados os consensos que nortearão as escolhas dos governantes? Por outro lado, a inoperância da política pode significar um obstáculo a mais para os planos futuros da sociedade, tanto quanto para as promessas e os compromissos anunciados pelos governantes. Mesmo o tão aclamado e acalentado desenvolvimento ficará sob risco, e isso para não lembrar das expectativas de reforma social e melhoria da distribuição de renda, operações que são eminentemente políticas e dependem de forma crucial de consensos que somente a política pode produzir.
A sucessão de escândalos, a corrupção convertida em prática cotidiana, o baixo nível dos debates e a ausência dramática de propostas integradas e factíveis para governar o País são a ponta de um iceberg que hoje aprisiona todo o campo político nacional. Não há partido que escape dele.
Depois do caso Azeredo, em Minas, foi a vez do caso Arruda, no Distrito Federal, amplificado com os boatos de que novas revelações estariam prestes a atingir políticos de outras unidades da Federação. Ou seja, ligando os fios ao mensalão de 2005, aos vários pequenos casos que a ele se seguiram, à indigência do Congresso e à opacidade programática dos partidos políticos, o resultado é que a sujeira e a mediocridade contaminaram o sistema inteiro.
Dada a variável tempo, o prejuízo acabou localizado: afetou a medula das oposições, tirando delas aquele sussurro "ético" que poderia se converter num dos eixos do discurso com que disputar o pleito de 2010. Ou seja, o que já era ruim ficou péssimo. E as oposições chegaram ao fim do ano em situação de miséria política e programática, sem discurso, sem propostas, até mesmo sem candidatos e lideranças consensuais.
Quando se fala em oposições, fala-se em PSDB, DEM e PPS, partidos de caráter e dimensões distintas, mas que vêm falando linguagem semelhante e afinada.
Como articular coisas tão diferentes? Quem comanda, quem define os conteúdos, qual o papel de cada parceiro dessa operação? A "frente" oposicionista não responde a essas questões. Não é comandada por ninguém, não tem definições programáticas e não fala outro dialeto que não o anti-Lula, com pitadas improdutivas de frustração e udenismo moralista.
Define-se como centro-esquerda, mas de esquerda não tem nada, nem sequer uma retórica.
É algo que intriga, especialmente quando se lembra que o PPS é herdeiro do PCB e o PSDB se considera expressão da social-democracia, ou seja, são continuadores de tradições repletas de glórias e identidades, goste-se ou não delas. 2010 será um ano novo se esses partidos honrarem suas tradições.
Uma oposição sem discurso e sem coerência não deveria ser vista como objeto de desejo da situação. Pode ser que agrade a alguns setores governistas ou a parte da cúpula que conduzirá a campanha de Dilma Rousseff, pois é, afinal, um obstáculo eleitoral a menos. Mas é uma tragédia para a democracia e para a sociedade, especialmente porque deixa parcelas importantes da população sem um norte e reforça o clima de unanimidade que, ao não corresponder à realidade, funciona como um elixir de apatia e desinteresse. A ausência de uma oposição vigorosa não é boa para os governos em geral e muito menos para aqueles que se seguirão à era Lula, pois os despoja de "consciência crítica" e os deixa sem qualquer tipo de freio ou contraponto factível.
O ano só não terminou perfeito para a situação porque perfeição não existe. Não há como negar que o governo Lula abre 2010 em posição de vantagem, fortalecido pelos escândalos do último bimestre, pela alta popularidade do presidente e pelas previsões de que 2010 trará consigo crescimento econômico e mais benefícios sociais. Isso forma uma conjunção astral terrível para as oposições, roubando delas quase todas as fichas. Em nome do que se baterão os candidatos contrários a Dilma? A ladainha moralista ou gerencial, a denúncia do "assalto petista ao Estado" e as acusações de populismo serão inócuas, sobretudo se não forem apresentadas com um mínimo de razoabilidade e suporte factual.
Do lado governamental há, é claro, os riscos inerentes a uma aliança com o PMDB, a conduta mercurial de parceiros pesados como Ciro Gomes, a ruindade intrínseca das falas triunfalistas e maniqueístas tão usuais, a dificuldade que o PT terá de superar o lulismo, dar cara própria à sua candidata e qualificar seu discurso como força reformadora.
Se o PT e os demais partidos conseguirem sacudir a poeira e ganhar consistência, 2010 estará salvo. Se fracassarem, continuaremos na mesma velha e boa toada de sempre.
Bom ano-novo a todos.
Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp
Dada a variável tempo, o prejuízo acabou localizado: afetou a medula das oposições, tirando delas aquele sussurro "ético" que poderia se converter num dos eixos do discurso com que disputar o pleito de 2010. Ou seja, o que já era ruim ficou péssimo. E as oposições chegaram ao fim do ano em situação de miséria política e programática, sem discurso, sem propostas, até mesmo sem candidatos e lideranças consensuais.
Quando se fala em oposições, fala-se em PSDB, DEM e PPS, partidos de caráter e dimensões distintas, mas que vêm falando linguagem semelhante e afinada.
Como articular coisas tão diferentes? Quem comanda, quem define os conteúdos, qual o papel de cada parceiro dessa operação? A "frente" oposicionista não responde a essas questões. Não é comandada por ninguém, não tem definições programáticas e não fala outro dialeto que não o anti-Lula, com pitadas improdutivas de frustração e udenismo moralista.
Define-se como centro-esquerda, mas de esquerda não tem nada, nem sequer uma retórica.
É algo que intriga, especialmente quando se lembra que o PPS é herdeiro do PCB e o PSDB se considera expressão da social-democracia, ou seja, são continuadores de tradições repletas de glórias e identidades, goste-se ou não delas. 2010 será um ano novo se esses partidos honrarem suas tradições.
Uma oposição sem discurso e sem coerência não deveria ser vista como objeto de desejo da situação. Pode ser que agrade a alguns setores governistas ou a parte da cúpula que conduzirá a campanha de Dilma Rousseff, pois é, afinal, um obstáculo eleitoral a menos. Mas é uma tragédia para a democracia e para a sociedade, especialmente porque deixa parcelas importantes da população sem um norte e reforça o clima de unanimidade que, ao não corresponder à realidade, funciona como um elixir de apatia e desinteresse. A ausência de uma oposição vigorosa não é boa para os governos em geral e muito menos para aqueles que se seguirão à era Lula, pois os despoja de "consciência crítica" e os deixa sem qualquer tipo de freio ou contraponto factível.
O ano só não terminou perfeito para a situação porque perfeição não existe. Não há como negar que o governo Lula abre 2010 em posição de vantagem, fortalecido pelos escândalos do último bimestre, pela alta popularidade do presidente e pelas previsões de que 2010 trará consigo crescimento econômico e mais benefícios sociais. Isso forma uma conjunção astral terrível para as oposições, roubando delas quase todas as fichas. Em nome do que se baterão os candidatos contrários a Dilma? A ladainha moralista ou gerencial, a denúncia do "assalto petista ao Estado" e as acusações de populismo serão inócuas, sobretudo se não forem apresentadas com um mínimo de razoabilidade e suporte factual.
Do lado governamental há, é claro, os riscos inerentes a uma aliança com o PMDB, a conduta mercurial de parceiros pesados como Ciro Gomes, a ruindade intrínseca das falas triunfalistas e maniqueístas tão usuais, a dificuldade que o PT terá de superar o lulismo, dar cara própria à sua candidata e qualificar seu discurso como força reformadora.
Se o PT e os demais partidos conseguirem sacudir a poeira e ganhar consistência, 2010 estará salvo. Se fracassarem, continuaremos na mesma velha e boa toada de sempre.
Bom ano-novo a todos.
Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp
Bruno Gravagnuolo ::Norberto Bobbio, L'Unità e o PCI
DEU NO GRAMSCI E O BRASIL
Tradução: Josimar Teixeira
Bobbio e L’Unità. Bobbio e o PCI. Ligação dupla e inevitável, que é parte da história da Itália. E que reapresentamos ao leitor neste especial on-line que inclui os escritos do filósofo no nosso jornal entre 1982 e 2004, pouco antes da sua morte. É verdade, aquela relação começa já no pós-guerra e se prolonga nos anos em que não havia mais o PCI, e o nosso cotidiano não era mais órgão de partido. E, no entanto, tomar 1982 como data inicial tem o valor de uma recapitulação madura e consolidada de uma atitude jamais abandonada por Bobbio em relação ao comunismo e ao pós-comunismo italiano.
Tradução: Josimar Teixeira
Bobbio e L’Unità. Bobbio e o PCI. Ligação dupla e inevitável, que é parte da história da Itália. E que reapresentamos ao leitor neste especial on-line que inclui os escritos do filósofo no nosso jornal entre 1982 e 2004, pouco antes da sua morte. É verdade, aquela relação começa já no pós-guerra e se prolonga nos anos em que não havia mais o PCI, e o nosso cotidiano não era mais órgão de partido. E, no entanto, tomar 1982 como data inicial tem o valor de uma recapitulação madura e consolidada de uma atitude jamais abandonada por Bobbio em relação ao comunismo e ao pós-comunismo italiano.
A saber: uma estratégia de atenção maiêutica. Dirigida a uma força emancipadora de massa, o PCI, por Bobbio considerada crucial para a Itália moderna. Estratégia que penetra fundo e é “escutada” por aquele PCI. Até resultar num ingrediente essencial da futura reviravolta PCI-PDS de 1989, bem como eixo básico da tentativa de imprimir identidade a tudo o que se seguiria a 1989 (que, afinal, se tenha tornado um “eixo” é um outro discurso).
O que significa “maiêutica”? Nada além de tenacidade socrática, por parte de Norberto Bobbio. Tenacidade ativa em torno de pontos chave a serem estimulados na identidade comunista, tal como amadurecia ao longo de todo o pós-guerra. A democracia, antes de mais nada, e a relação política e cultura. E mais ainda: a relação com o marxismo, com o direito. E com a paz, para Bobbio valor irrenunciável e não “estrábico”, que não deve ser confundido com os alinhamentos ideológicos de campo, mas sim medido com o realismo das condições dadas. Um realismo que, às vezes, fazia Bobbio desesperar quanto à possibilidade de brandir, “sem poréns e incondicionalmente”, aquele valor, no entanto, segundo ele, absoluto e não dedutível, a não ser por um ato de fé ou de “ética da intenção”.
Recapitulemos, então. De um lado, Norberto Bobbio, filósofo do direito turinense, que passa do juspositivismo de Hans Kelsen para uma visão funcionalista e de esquerda do direito, insatisfeita com o puro formalismo burguês, que não levava em conta o Estado social e seus direitos expansivos.
O que significa “maiêutica”? Nada além de tenacidade socrática, por parte de Norberto Bobbio. Tenacidade ativa em torno de pontos chave a serem estimulados na identidade comunista, tal como amadurecia ao longo de todo o pós-guerra. A democracia, antes de mais nada, e a relação política e cultura. E mais ainda: a relação com o marxismo, com o direito. E com a paz, para Bobbio valor irrenunciável e não “estrábico”, que não deve ser confundido com os alinhamentos ideológicos de campo, mas sim medido com o realismo das condições dadas. Um realismo que, às vezes, fazia Bobbio desesperar quanto à possibilidade de brandir, “sem poréns e incondicionalmente”, aquele valor, no entanto, segundo ele, absoluto e não dedutível, a não ser por um ato de fé ou de “ética da intenção”.
Recapitulemos, então. De um lado, Norberto Bobbio, filósofo do direito turinense, que passa do juspositivismo de Hans Kelsen para uma visão funcionalista e de esquerda do direito, insatisfeita com o puro formalismo burguês, que não levava em conta o Estado social e seus direitos expansivos.
Do outro, o PCI de Togliatti, que chega à democracia progressiva, gradualista, equilibrando-se entre os dois blocos e esperançoso quanto à distensão geopolítica (mas sempre com o baluarte soviético na retaguarda). O desafio de Bobbio sempre reiterado — mesmo nos escritos dos anos 1980, que reapresentamos — consiste nisso: a democracia levada a sério. Com todos os fatos anexos e conexos. E democracia levada a sério contra visões formalistas e censitárias dos direitos. E contra visões totalitárias e finalistas da emancipação, inclusive a comunista.
Aos comunistas italianos Bobbio perguntaria continuamente: que ideia vocês têm de Estado? Das liberdades? Do pluralismo? Do conflito? Da cultura? E que ideia vocês têm da mudança e da paz?
As respostas não faltaram da parte comunista. Especialmente numa célebre disputa em Politica e cultura do início dos anos 1950, depois retomada com as réplicas de Bobbio num volume da Ed. Einaudi. E as respostas eram mais ou menos “tranquilizadoras”. Isto é: a cultura é um campo hegemônico de interesses em luta, autonomamente transferidos para formações ideais e de pensamento. Por isso, segundo Togliatti e Della Volpe, máxima liberdade para todos, mas primado do impulso libertador e emancipador encarnado pela classe operária e pelos seus “intelectuais progressistas”. Nos termos de um marxismo gramsciano, e não mecânico ou grosseiro.
Não, replicava Bobbio: a cultura é autônoma. É uma função universal do intelecto, que se conjuga com os interesses e também com eles se mistura. Tal como a ciência empírica, cuja liberdade não subjugada (pelo menos idealmente) reproduz, a seu modo e com seus métodos. Mesmo discurso em Bobbio para a democracia: campo de conflitos, certamente, para o filósofo. Mas campo perene e não superável por plebiscitos, consenso populista ou filosofias da história que extingam a representação e as suas “regras”.
No fundo, era esta, desde os anos 50 a ideia da democracia como “valor universal” assumida por Berlinguer vinte anos depois. Deste modo, para Bobbio, a democracia, assim como o direito eram técnicas não superáveis de exercício da soberania popular, em sintonia com as garantias para as minorias. E com a possibilidade, sempre dada para estas, de se tornarem maioria. Na prática, era o conceito de “alternativa” como mecanismo de troca e modo de funcionamento da democracia (que fosse bipolar ou majoritária pura e simples é um outro discurso, que Bobbio não abordava).
Portanto, concordância e discordância entre Bobbio e o PCI, mas em todo caso sintonia, muito bem documentada na antologia on-line que propomos. Por quê? Já o mencionamos. À medida que os anos passam, o PCI aproxima-se de ideias cada vez mais afins às de Bobbio, até o ponto de assumi-las como suas.
Certamente, o Bobbio dos anos 80 não compartilha o compromisso histórico e, precisamente, defende uma alternativa reformista de esquerda, na trilha do liberal-socialismo (do qual, no início, pensou encontrar um líder em Craxi, para depois mudar de opinião). E mais: Bobbio é contra a “terceira via” de Berlinguer, contra o eurocomunismo. De fato, acredita na social-democracia. Mas avançada. E baseada nos direitos sociais. Até mesmo com momentos de democracia direta na sociedade civil (mas com o primado do Parlamento).
Todavia, o aguilhão não se detém, incomoda e força os comunistas a acertarem suas contas com tudo isso. Restariam muitas outras coisas por dizer. A paz, a Hungria, a “guerra justa”, ponto este sobre o qual Bobbio foi capaz de autocrítica (não justa, mas “justificada”, corrigiu-se). E restaria falar do juízo final de Bobbio sobre o comunismo implodido: uma utopia falida, mas por trás dela exigências e necessidades atuais. Por fim, as polêmicas que amarguraram o último Bobbio. A descoberta midiática das suas fraquezas em relação ao regime fascista, que, como estudioso, não combateu e até tentou “apaziguar”, quando, em 1935, terminou na sua mira (com os azionisti de Turim).
Página amarga, que o filósofo enfrentou com honra e dignidade, sem fingimentos e com extrema crueldade autocrítica. Encontram-se passagens no “especial” de 19/01/2004, que então dedicamos à lição de Bobbio (“Bobbio explicado por Bobbio”). Ali, mais uma vez em L’Unità, está tudo o que Bobbio disse e pensou sobre “política e cultura”.
Leiam-no, imprimam-no e conservem-no. Servir-lhes-á em tempos de pensamentos débeis, vira-casaca, e poderosos “fortes”.
Que gostariam de destruir tudo aquilo que Bobbio, “companheiro” e mestre, quis e pensou para a Itália.
Fonte: L'Unità & Gramsci e o Brasil
As respostas não faltaram da parte comunista. Especialmente numa célebre disputa em Politica e cultura do início dos anos 1950, depois retomada com as réplicas de Bobbio num volume da Ed. Einaudi. E as respostas eram mais ou menos “tranquilizadoras”. Isto é: a cultura é um campo hegemônico de interesses em luta, autonomamente transferidos para formações ideais e de pensamento. Por isso, segundo Togliatti e Della Volpe, máxima liberdade para todos, mas primado do impulso libertador e emancipador encarnado pela classe operária e pelos seus “intelectuais progressistas”. Nos termos de um marxismo gramsciano, e não mecânico ou grosseiro.
Não, replicava Bobbio: a cultura é autônoma. É uma função universal do intelecto, que se conjuga com os interesses e também com eles se mistura. Tal como a ciência empírica, cuja liberdade não subjugada (pelo menos idealmente) reproduz, a seu modo e com seus métodos. Mesmo discurso em Bobbio para a democracia: campo de conflitos, certamente, para o filósofo. Mas campo perene e não superável por plebiscitos, consenso populista ou filosofias da história que extingam a representação e as suas “regras”.
No fundo, era esta, desde os anos 50 a ideia da democracia como “valor universal” assumida por Berlinguer vinte anos depois. Deste modo, para Bobbio, a democracia, assim como o direito eram técnicas não superáveis de exercício da soberania popular, em sintonia com as garantias para as minorias. E com a possibilidade, sempre dada para estas, de se tornarem maioria. Na prática, era o conceito de “alternativa” como mecanismo de troca e modo de funcionamento da democracia (que fosse bipolar ou majoritária pura e simples é um outro discurso, que Bobbio não abordava).
Portanto, concordância e discordância entre Bobbio e o PCI, mas em todo caso sintonia, muito bem documentada na antologia on-line que propomos. Por quê? Já o mencionamos. À medida que os anos passam, o PCI aproxima-se de ideias cada vez mais afins às de Bobbio, até o ponto de assumi-las como suas.
Certamente, o Bobbio dos anos 80 não compartilha o compromisso histórico e, precisamente, defende uma alternativa reformista de esquerda, na trilha do liberal-socialismo (do qual, no início, pensou encontrar um líder em Craxi, para depois mudar de opinião). E mais: Bobbio é contra a “terceira via” de Berlinguer, contra o eurocomunismo. De fato, acredita na social-democracia. Mas avançada. E baseada nos direitos sociais. Até mesmo com momentos de democracia direta na sociedade civil (mas com o primado do Parlamento).
Todavia, o aguilhão não se detém, incomoda e força os comunistas a acertarem suas contas com tudo isso. Restariam muitas outras coisas por dizer. A paz, a Hungria, a “guerra justa”, ponto este sobre o qual Bobbio foi capaz de autocrítica (não justa, mas “justificada”, corrigiu-se). E restaria falar do juízo final de Bobbio sobre o comunismo implodido: uma utopia falida, mas por trás dela exigências e necessidades atuais. Por fim, as polêmicas que amarguraram o último Bobbio. A descoberta midiática das suas fraquezas em relação ao regime fascista, que, como estudioso, não combateu e até tentou “apaziguar”, quando, em 1935, terminou na sua mira (com os azionisti de Turim).
Página amarga, que o filósofo enfrentou com honra e dignidade, sem fingimentos e com extrema crueldade autocrítica. Encontram-se passagens no “especial” de 19/01/2004, que então dedicamos à lição de Bobbio (“Bobbio explicado por Bobbio”). Ali, mais uma vez em L’Unità, está tudo o que Bobbio disse e pensou sobre “política e cultura”.
Leiam-no, imprimam-no e conservem-no. Servir-lhes-á em tempos de pensamentos débeis, vira-casaca, e poderosos “fortes”.
Que gostariam de destruir tudo aquilo que Bobbio, “companheiro” e mestre, quis e pensou para a Itália.
Fonte: L'Unità & Gramsci e o Brasil
Wilson Tosta:: Pesquisa mostra riscos para tucano José Serra
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Um exame cuidadoso da última pesquisa DataFolha dá uma boa pista sobre os motivos que levam o governador José Serra (PSDB) a não sair candidato desde já à Presidência da República. Não se trata, porém, de olhar o que já aconteceu - a notável ascensão de Dilma Rousseff (PT), que em quatro meses cresceu de 16% para 23% (ainda que em cenário de candidaturas diferente do anterior). O problema está no que pode estar por vir, provável motivo de preocupação de Serra e do adiamento da sua entrada na campanha pelo Planalto.
Primeiro, é preciso uma explicação. Uma regra não escrita do jogo eleitoral diz que, quanto mais distante a data do pleito, mais a pesquisa mede conhecimento de nome e menos avalia intenção de voto. Em um cenário assim, quem é mais conhecido leva vantagem, o que faz políticos que disputaram eleições recentes terem bom desempenho, com lideranças folgadas no início da campanha, por causa do recall, recordação do pleito anterior. O problema é sustentar a dianteira, o que nem sempre é possível.
No início de 1994, por exemplo, o recall de 1989 dava a Luiz Inácio Lula da Silva a primeira colocação absoluta nas sondagens da disputa presidencial, com 45%. Fernando Henrique Cardoso amargava metade disso, mais ou menos. Alguns meses depois, deu-se a virada. E FHC venceu no primeiro turno, cavalgando o Plano Real no auge do sucesso.
Outro esclarecimento: é regra entre políticos experientes que quem lidera pesquisas muito antes da eleição joga para esfriar a campanha. Interessa-lhe prolongar ao máximo a situação em que seu nome, mais conhecido, lidera. Fazer campanha, portanto, é obrigação de quem está atrás na corrida.
Com essas duas premissas, examinemos duas sondagens do DataFolha, feitas de 14 a 18 de dezembro e divulgadas dia 21. Uma estudou a popularidade de Lula, que obteve 72% de bom e ótimo como avaliação de governo. Alguns dados: o presidente conseguiu seus melhores números dessa avaliação na faixa de 25 a 34 anos (76%), entre quem tem até o nível fundamental de educação (74%) e quem ganha até cinco salários mínimos de renda familiar (73%).
Já a candidata de Lula, Dilma Rousseff, no cenário mais provável (no qual disputaria com Serra, Ciro Gomes e Marina Silva) tem índices bem diferentes. Entre quem tem 25 a 34 anos, obteve 25% de votos, 1/3 da avaliação do presidente na faixa. No eleitorado com até o ensino fundamental completo, teve 21%, quase 1/4 da popularidade de Lula no mesmo grupo.O desempenho de Dilma melhora à medida em que aumenta o número de anos de estudo dos eleitores (25% entre quem tem até o ensino médio completo e 29% entre quem tem até o superior completo). Na renda, Dilma tem 23% entre quem ganha até cinco mínimos, mas no grupo de cinco a dez salários vai a 24% ; no com mais de dez, 30%.
Mais um dado a ser considerado: do total dos eleitores, 41% dizem só conhecer a ministra de ouvir falar, e outros 20% afirmam não conhecê-la. Já Serra é mais conhecido: 33% dizem apenas ter ouvido falar do governador e apenas 7% admitem que não o conhecem.
Algumas conclusões são possíveis. Uma é que Dilma cresceu em todas as faixas, mas avançou mais na elite mais escolarizada e com melhor renda - portanto, mais informada. Isso dá à ministra uma boa plataforma de largada entre os formadores de opinião, que pode lhe ser útil no futuro. Mas nas classes mais pobres e menos educadas, com menos acesso à informação e para quem a eleição ainda é algo distante, Dilma cresceu menos, provavelmente por ser menos conhecida.
Agora, com todos os dados, pensemos em Serra. Interessa-lhe adiar ao máximo o início da campanha porque, uma vez iniciada, ela desencadeará na maioria do eleitorado mais pobre o impulso por procurar um candidato. Isso diminuirá o peso do conhecimento do nome, que beneficia o governador; as pessoas tenderão a prestar atenção ao processo para escolher em quem votar. E, como Lula é muito popular entre os mais pobres, o movimento natural é que esse eleitorado procure o postulante de seu governo à sucessão e encontre Dilma.
Tudo isso torna pouco provável que, antes de deixar o cargo em abril, o governador de São Paulo saia da toca para, na caravana dos sonhos tucanos, pedir apoios pelo País, iniciando sua campanha, como quer o PSDB. Para Serra, interessa prolongar ao máximo o momento em que se mede mais o conhecimento de nome, para depois tentar se manter na frente e vencer.
Até agora, a estratégia deu certo: Serra lidera, com 37% no DataFolha, apesar da ascensão de Dilma. Resta saber se ou até quando essa situação se sustentará, ante o crescimento potencial da ministra.
Um exame cuidadoso da última pesquisa DataFolha dá uma boa pista sobre os motivos que levam o governador José Serra (PSDB) a não sair candidato desde já à Presidência da República. Não se trata, porém, de olhar o que já aconteceu - a notável ascensão de Dilma Rousseff (PT), que em quatro meses cresceu de 16% para 23% (ainda que em cenário de candidaturas diferente do anterior). O problema está no que pode estar por vir, provável motivo de preocupação de Serra e do adiamento da sua entrada na campanha pelo Planalto.
Primeiro, é preciso uma explicação. Uma regra não escrita do jogo eleitoral diz que, quanto mais distante a data do pleito, mais a pesquisa mede conhecimento de nome e menos avalia intenção de voto. Em um cenário assim, quem é mais conhecido leva vantagem, o que faz políticos que disputaram eleições recentes terem bom desempenho, com lideranças folgadas no início da campanha, por causa do recall, recordação do pleito anterior. O problema é sustentar a dianteira, o que nem sempre é possível.
No início de 1994, por exemplo, o recall de 1989 dava a Luiz Inácio Lula da Silva a primeira colocação absoluta nas sondagens da disputa presidencial, com 45%. Fernando Henrique Cardoso amargava metade disso, mais ou menos. Alguns meses depois, deu-se a virada. E FHC venceu no primeiro turno, cavalgando o Plano Real no auge do sucesso.
Outro esclarecimento: é regra entre políticos experientes que quem lidera pesquisas muito antes da eleição joga para esfriar a campanha. Interessa-lhe prolongar ao máximo a situação em que seu nome, mais conhecido, lidera. Fazer campanha, portanto, é obrigação de quem está atrás na corrida.
Com essas duas premissas, examinemos duas sondagens do DataFolha, feitas de 14 a 18 de dezembro e divulgadas dia 21. Uma estudou a popularidade de Lula, que obteve 72% de bom e ótimo como avaliação de governo. Alguns dados: o presidente conseguiu seus melhores números dessa avaliação na faixa de 25 a 34 anos (76%), entre quem tem até o nível fundamental de educação (74%) e quem ganha até cinco salários mínimos de renda familiar (73%).
Já a candidata de Lula, Dilma Rousseff, no cenário mais provável (no qual disputaria com Serra, Ciro Gomes e Marina Silva) tem índices bem diferentes. Entre quem tem 25 a 34 anos, obteve 25% de votos, 1/3 da avaliação do presidente na faixa. No eleitorado com até o ensino fundamental completo, teve 21%, quase 1/4 da popularidade de Lula no mesmo grupo.O desempenho de Dilma melhora à medida em que aumenta o número de anos de estudo dos eleitores (25% entre quem tem até o ensino médio completo e 29% entre quem tem até o superior completo). Na renda, Dilma tem 23% entre quem ganha até cinco mínimos, mas no grupo de cinco a dez salários vai a 24% ; no com mais de dez, 30%.
Mais um dado a ser considerado: do total dos eleitores, 41% dizem só conhecer a ministra de ouvir falar, e outros 20% afirmam não conhecê-la. Já Serra é mais conhecido: 33% dizem apenas ter ouvido falar do governador e apenas 7% admitem que não o conhecem.
Algumas conclusões são possíveis. Uma é que Dilma cresceu em todas as faixas, mas avançou mais na elite mais escolarizada e com melhor renda - portanto, mais informada. Isso dá à ministra uma boa plataforma de largada entre os formadores de opinião, que pode lhe ser útil no futuro. Mas nas classes mais pobres e menos educadas, com menos acesso à informação e para quem a eleição ainda é algo distante, Dilma cresceu menos, provavelmente por ser menos conhecida.
Agora, com todos os dados, pensemos em Serra. Interessa-lhe adiar ao máximo o início da campanha porque, uma vez iniciada, ela desencadeará na maioria do eleitorado mais pobre o impulso por procurar um candidato. Isso diminuirá o peso do conhecimento do nome, que beneficia o governador; as pessoas tenderão a prestar atenção ao processo para escolher em quem votar. E, como Lula é muito popular entre os mais pobres, o movimento natural é que esse eleitorado procure o postulante de seu governo à sucessão e encontre Dilma.
Tudo isso torna pouco provável que, antes de deixar o cargo em abril, o governador de São Paulo saia da toca para, na caravana dos sonhos tucanos, pedir apoios pelo País, iniciando sua campanha, como quer o PSDB. Para Serra, interessa prolongar ao máximo o momento em que se mede mais o conhecimento de nome, para depois tentar se manter na frente e vencer.
Até agora, a estratégia deu certo: Serra lidera, com 37% no DataFolha, apesar da ascensão de Dilma. Resta saber se ou até quando essa situação se sustentará, ante o crescimento potencial da ministra.
Nem Lula no "topo" ajuda PT no Sudeste
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Partido corre risco de não eleger governador em nenhum dos 3 Estados mais importantes da região, onde está a maior fatia do eleitorado
PSB se converte na quarta força nos Estados, depois de PSDB, PMDB e PT; DEM, em declínio, não tem nomes de peso para ressurgir em 2010
Fernando Rodrigues
Partido corre risco de não eleger governador em nenhum dos 3 Estados mais importantes da região, onde está a maior fatia do eleitorado
PSB se converte na quarta força nos Estados, depois de PSDB, PMDB e PT; DEM, em declínio, não tem nomes de peso para ressurgir em 2010
Fernando Rodrigues
Da Sucursal de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a popularidade mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto pós-ditadura militar (1964-1985). Mas o seu partido, o PT, continua a patinar em grandes centros quando se trata de disputar governos estaduais.
Nos três mais importantes Estados da região Sudeste, que concentram a maioria do eleitorado, de novo os petistas correm o risco de não eleger nenhum governador em 2010.Nunca um petista governou São Paulo ou Minas Gerais. No Rio de Janeiro, só houve uma fugaz experiência com Benedita da Silva, que era vice-governadora e assumiu a cadeira de titular por nove meses, a partir de abril de 2002, porque Anthony Garotinho renunciou para concorrer a presidente.
Em 2010, o PT dá a largada no processo eleitoral sem nenhum candidato considerado competitivo em São Paulo. "Já sabemos que ali não ganhamos. Teremos de 30% a 35%", tem dito, de maneira resignada, o líder do PT na Câmara, o paulista Cândido Vaccarezza.
No Rio, a direção nacional do partido se esforçou nas últimas semanas para eliminar as chances do único quadro partidário interessado na disputa, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Na eleição do diretório fluminense, venceu a corrente contra a candidatura própria. O partido caminha para apoiar a tentativa de reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB).
Em Minas Gerais, o PT tem dois postulantes conhecidos ao Palácio da Liberdade: o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Mas uma parcela da cúpula petista prefere ficar fora da disputa. Acha melhor apoiar o pré-candidato do PMDB, o ministro Hélio Costa (Comunicações), pois assim haveria um palanque mineiro mais sólido para Dilma Rousseff, que concorrerá a presidente pelo PT.
Há uma opção preferencial no PT pelo projeto nacional, de manter a legenda no comando do Palácio do Planalto. Várias concessões deverão ser feitas em nome desse projeto, comandado por Lula.
Terceira força
Com essa participação anêmica em eleições estaduais, o PT deve se manter em terceiro lugar quando se considera o número de eleitores governados localmente, atrás de PSDB e PMDB, nessa ordem. A posição foi conquistada em 2006, quando a sigla foi vitoriosa em cinco Estados: Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe.
Desses, só a Bahia tem relevância de primeira grandeza, pois abriga 9,3 milhões de eleitores (7% do total do país). Essa massa de eleitores supera o total somado (8,6 milhões) de todos os outros quatro Estados governados por petistas.
A maior conquista do PT em 2006 foi imposta sobre um adversário marginal hoje no jogo nacional, o DEM (antigo PFL). O partido, sob o comando de Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, governava a Bahia desde 1990 até ser desalojado por Jaques Wagner.
No momento, o DEM não tem nenhum governo estadual. Havia vencido no minúsculo Distrito Federal (1,8 milhão de eleitores e só 1,3% do total do país). Mas o governador de Brasília, José Roberto Arruda, acabou sendo carbonizado por um esquema de mensalão descoberto em novembro. Pressionado, saiu da legenda.
Não há neste final de 2009 pesquisas eleitorais recentes para todos as unidades da federação. A Folha considerou o que há disponível e compilou os dados nesta página -sempre indicando o instituto responsável pelo levantamento, a data da coleta das informações e as margens de erro. Quando se levam em conta esses cenários, nota-se que o DEM tem como maior perspectiva a eleição da senadora Rosalba Ciarlini para o governo do Rio Grande do Norte -só 2,2 milhões de eleitores (1,7% do país).
O DEM também tem esperança na Bahia, Mato Grosso, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.
Mas ninguém na sigla imagina ser possível voltar aos tempos áureos de 1998, quando ainda se chamava PFL e conseguiu eleger seis governadores para comandar 19% dos eleitores brasileiros -Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia e Tocantins.
Com a desidratação do DEM, oposição no Brasil em disputas estaduais agora se resume, em grande parte, ao PSDB. O partido continua sólido no Sudeste, sobretudo por causa da hegemonia obtida em São Paulo desde 1994, com a vitória de Mário Covas (1930-2001).
De lá para cá, só tucanos sempre estiveram à frente dos 29,5 milhões de eleitores paulistas (22,4% do país).
Segundo o Datafolha, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, pontua de 50% a 54% e, se a eleição fosse hoje, venceria no primeiro turno.
Em Minas Gerais, o tucano Aécio Neves está em campanha aberta para fazer de seu vice, Antonio Anastasia -um técnico nunca testado nas urnas-, o sucessor no Palácio da Liberdade.
Na última pesquisa Datafolha, apesar de não ser um político conhecido, Anastasia já pontua acima dos 10% em todos os cenários.
De 1994 até hoje, o PSDB foi em todas as eleições o líder em número de eleitores governados nos Estados, pois sempre foi vitorioso nos maiores colégios. Em 1994, ano de lançamento do Plano Real (que iniciou a estabilização da economia), os tucanos foram bem sucedidos no chamado "triângulo das Bermudas" da política brasileira, composto por São Paulo, Rio e Minas Gerais -55 milhões de eleitores, o equivalente 42% do total do país.Naquele ano, Fernando Henrique Cardoso também foi eleito presidente da República. No plano estadual, além dos três do Estados do Sudeste, o PSDB conquistou Ceará, Pará e Sergipe -foi o suficiente para somar 66,7 milhões de eleitores (50,6% do país). Como em 1998 os tucanos perderam Minas Gerais e Rio de Janeiro, nunca mais uma sigla conseguiu tamanha supremacia eleitoral quando se consideram, juntos, a Presidência e os principais governos estaduais.
Em 2010, o PSDB deve entrar com candidatos competitivos em oito Estados, mas sofre desde já um grande revés no Rio Grande do Sul. A governadora gaúcha, a tucana Yeda Crusius, enfrentou uma bateria de acusações e uma ameaça de impeachment. Ficou no cargo, mas sua popularidade se liquefez: tem apenas 5% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e é a governadora que tem pior avaliação no ranking estadual do instituto, em 10º lugar.
Antes, os tucanos também já tinham perdido a Paraíba. O Estado era governado por Cássio Cunha Lima, que vencera o pleito em 2006. Acusado de utilizar programas sociais para a distribuição irregular de dinheiro, via cheques, ele foi cassado pela Justiça Eleitoral no início deste ano. A cadeira foi para José Maranhão (PMDB).
Os coadjuvantes
Enquanto PT e PSDB disputam a Presidência da República, dois partidos -PMDB e PSB- ficam de coadjuvantes do processo nacional, mas vão consolidando a força estadual.
Hoje, o PMDB tem nove Estados cujo eleitorado somado é de 36,9 milhões (28% do país).
No plano federativo, portanto, tem mais peso que o PT.
O PSB só tem três governadores (Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte), mas é a quarta maior sigla do país quando se trata de eleitores governados: 14 milhões (10,6%).
Em Pernambuco, o atual governador, Eduardo Campos, lidera todas os cenários pesquisados pelo Datafolha e tem chances de vitória no primeiro turno. "O PSB também fará uma bancada perto de 50 deputados na Câmara em 2010", diz Campos, que também é o presidente nacional do PSB.
No PMDB, os levantamentos eleitorais disponíveis mostram que o partido pode até ampliar o número de governos relevantes. Tem, por exemplo, candidatos competitivos em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, hoje sob domínio tucano.
Uma possível perda para o PMDB deve ser o Paraná. O atual governador, Roberto Requião, quer lançar como sucessor o seu vice, o também peemedebista Orlando Pessuti -mas ele não passa de 5% na pesquisa Datafolha.
Em todos os cenários atuais, ainda muito preliminares, já é possível enxergar pelo menos um fato que diferencia 2010 de 2006 em termos de disputas estaduais. No ano que vem, o presidente Lula e sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff, entrarão em campanha com mais da metade dos governadores atuais como aliados do governo federal. Há quatro anos, a situação era inversa, com a maioria dos governadores trabalhando contra a reeleição de Lula.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a popularidade mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto pós-ditadura militar (1964-1985). Mas o seu partido, o PT, continua a patinar em grandes centros quando se trata de disputar governos estaduais.
Nos três mais importantes Estados da região Sudeste, que concentram a maioria do eleitorado, de novo os petistas correm o risco de não eleger nenhum governador em 2010.Nunca um petista governou São Paulo ou Minas Gerais. No Rio de Janeiro, só houve uma fugaz experiência com Benedita da Silva, que era vice-governadora e assumiu a cadeira de titular por nove meses, a partir de abril de 2002, porque Anthony Garotinho renunciou para concorrer a presidente.
Em 2010, o PT dá a largada no processo eleitoral sem nenhum candidato considerado competitivo em São Paulo. "Já sabemos que ali não ganhamos. Teremos de 30% a 35%", tem dito, de maneira resignada, o líder do PT na Câmara, o paulista Cândido Vaccarezza.
No Rio, a direção nacional do partido se esforçou nas últimas semanas para eliminar as chances do único quadro partidário interessado na disputa, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Na eleição do diretório fluminense, venceu a corrente contra a candidatura própria. O partido caminha para apoiar a tentativa de reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB).
Em Minas Gerais, o PT tem dois postulantes conhecidos ao Palácio da Liberdade: o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Mas uma parcela da cúpula petista prefere ficar fora da disputa. Acha melhor apoiar o pré-candidato do PMDB, o ministro Hélio Costa (Comunicações), pois assim haveria um palanque mineiro mais sólido para Dilma Rousseff, que concorrerá a presidente pelo PT.
Há uma opção preferencial no PT pelo projeto nacional, de manter a legenda no comando do Palácio do Planalto. Várias concessões deverão ser feitas em nome desse projeto, comandado por Lula.
Terceira força
Com essa participação anêmica em eleições estaduais, o PT deve se manter em terceiro lugar quando se considera o número de eleitores governados localmente, atrás de PSDB e PMDB, nessa ordem. A posição foi conquistada em 2006, quando a sigla foi vitoriosa em cinco Estados: Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe.
Desses, só a Bahia tem relevância de primeira grandeza, pois abriga 9,3 milhões de eleitores (7% do total do país). Essa massa de eleitores supera o total somado (8,6 milhões) de todos os outros quatro Estados governados por petistas.
A maior conquista do PT em 2006 foi imposta sobre um adversário marginal hoje no jogo nacional, o DEM (antigo PFL). O partido, sob o comando de Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, governava a Bahia desde 1990 até ser desalojado por Jaques Wagner.
No momento, o DEM não tem nenhum governo estadual. Havia vencido no minúsculo Distrito Federal (1,8 milhão de eleitores e só 1,3% do total do país). Mas o governador de Brasília, José Roberto Arruda, acabou sendo carbonizado por um esquema de mensalão descoberto em novembro. Pressionado, saiu da legenda.
Não há neste final de 2009 pesquisas eleitorais recentes para todos as unidades da federação. A Folha considerou o que há disponível e compilou os dados nesta página -sempre indicando o instituto responsável pelo levantamento, a data da coleta das informações e as margens de erro. Quando se levam em conta esses cenários, nota-se que o DEM tem como maior perspectiva a eleição da senadora Rosalba Ciarlini para o governo do Rio Grande do Norte -só 2,2 milhões de eleitores (1,7% do país).
O DEM também tem esperança na Bahia, Mato Grosso, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.
Mas ninguém na sigla imagina ser possível voltar aos tempos áureos de 1998, quando ainda se chamava PFL e conseguiu eleger seis governadores para comandar 19% dos eleitores brasileiros -Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia e Tocantins.
Com a desidratação do DEM, oposição no Brasil em disputas estaduais agora se resume, em grande parte, ao PSDB. O partido continua sólido no Sudeste, sobretudo por causa da hegemonia obtida em São Paulo desde 1994, com a vitória de Mário Covas (1930-2001).
De lá para cá, só tucanos sempre estiveram à frente dos 29,5 milhões de eleitores paulistas (22,4% do país).
Segundo o Datafolha, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes, pontua de 50% a 54% e, se a eleição fosse hoje, venceria no primeiro turno.
Em Minas Gerais, o tucano Aécio Neves está em campanha aberta para fazer de seu vice, Antonio Anastasia -um técnico nunca testado nas urnas-, o sucessor no Palácio da Liberdade.
Na última pesquisa Datafolha, apesar de não ser um político conhecido, Anastasia já pontua acima dos 10% em todos os cenários.
De 1994 até hoje, o PSDB foi em todas as eleições o líder em número de eleitores governados nos Estados, pois sempre foi vitorioso nos maiores colégios. Em 1994, ano de lançamento do Plano Real (que iniciou a estabilização da economia), os tucanos foram bem sucedidos no chamado "triângulo das Bermudas" da política brasileira, composto por São Paulo, Rio e Minas Gerais -55 milhões de eleitores, o equivalente 42% do total do país.Naquele ano, Fernando Henrique Cardoso também foi eleito presidente da República. No plano estadual, além dos três do Estados do Sudeste, o PSDB conquistou Ceará, Pará e Sergipe -foi o suficiente para somar 66,7 milhões de eleitores (50,6% do país). Como em 1998 os tucanos perderam Minas Gerais e Rio de Janeiro, nunca mais uma sigla conseguiu tamanha supremacia eleitoral quando se consideram, juntos, a Presidência e os principais governos estaduais.
Em 2010, o PSDB deve entrar com candidatos competitivos em oito Estados, mas sofre desde já um grande revés no Rio Grande do Sul. A governadora gaúcha, a tucana Yeda Crusius, enfrentou uma bateria de acusações e uma ameaça de impeachment. Ficou no cargo, mas sua popularidade se liquefez: tem apenas 5% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e é a governadora que tem pior avaliação no ranking estadual do instituto, em 10º lugar.
Antes, os tucanos também já tinham perdido a Paraíba. O Estado era governado por Cássio Cunha Lima, que vencera o pleito em 2006. Acusado de utilizar programas sociais para a distribuição irregular de dinheiro, via cheques, ele foi cassado pela Justiça Eleitoral no início deste ano. A cadeira foi para José Maranhão (PMDB).
Os coadjuvantes
Enquanto PT e PSDB disputam a Presidência da República, dois partidos -PMDB e PSB- ficam de coadjuvantes do processo nacional, mas vão consolidando a força estadual.
Hoje, o PMDB tem nove Estados cujo eleitorado somado é de 36,9 milhões (28% do país).
No plano federativo, portanto, tem mais peso que o PT.
O PSB só tem três governadores (Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte), mas é a quarta maior sigla do país quando se trata de eleitores governados: 14 milhões (10,6%).
Em Pernambuco, o atual governador, Eduardo Campos, lidera todas os cenários pesquisados pelo Datafolha e tem chances de vitória no primeiro turno. "O PSB também fará uma bancada perto de 50 deputados na Câmara em 2010", diz Campos, que também é o presidente nacional do PSB.
No PMDB, os levantamentos eleitorais disponíveis mostram que o partido pode até ampliar o número de governos relevantes. Tem, por exemplo, candidatos competitivos em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, hoje sob domínio tucano.
Uma possível perda para o PMDB deve ser o Paraná. O atual governador, Roberto Requião, quer lançar como sucessor o seu vice, o também peemedebista Orlando Pessuti -mas ele não passa de 5% na pesquisa Datafolha.
Em todos os cenários atuais, ainda muito preliminares, já é possível enxergar pelo menos um fato que diferencia 2010 de 2006 em termos de disputas estaduais. No ano que vem, o presidente Lula e sua candidata ao Planalto, Dilma Rousseff, entrarão em campanha com mais da metade dos governadores atuais como aliados do governo federal. Há quatro anos, a situação era inversa, com a maioria dos governadores trabalhando contra a reeleição de Lula.
Clima de 'salto alto' em torno de Dilma provoca apreensão na cúpula do PT
DEU EM O GLOBO
Preocupação com declarações de Lula e desempenho de Dilma em Copenhague
Gerson Camarotti
BRASÍLIA. Com o clima de otimismo exagerado que tomou conta do governo Lula e de setores do PT, a cúpula do partido e articuladores políticos começam a manifestar preocupação com a síndrome do “salto alto”, que pode trazer prejuízos eleitorais para a campanha presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A orientação que deve prevalecer nas próximas semanas é a de não confundir a popularidade elevada do presidente com o desafio de tentar eleger Dilma em 2010.
De forma reservada, integrantes da coordenação de campanha de Dilma não escondem a apreensão com o clima de “já ganhou” instalado em setores do governo.
“Popularidade de Lula não basta”, diz Vaccarezza O clima de euforia foi motivado principalmente por três fatores: o crescimento de Dilma nas pesquisas de intenção de votos; a projeção de crescimento da economia de até 6% em 2010; e o avanço de programas sociais e de infraestrutura, como o PAC.
Apesar dos fatores positivos, integrantes da cúpula do PT alertam que o candidato tucano ainda lidera as pesquisas e que é preciso trabalhar a candidatura petista: — Precisamos ter cuidado com o salto alto. Não podemos ir para o já ganhou. A popularidade do presidente Lula não basta.
É preciso fazer política — alertou o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).
Pouco antes do recesso parlamentar, numa reunião entre integrantes da coordenação de campanha de Dilma, houve consenso de que era preciso atenção redobrada para evitar erros desnecessários.
Entre os erros cometidos recentemente foram listadas as afirmações de Lula de que o PMDB deveria enviar uma lista tríplice para a escolha do candidato a vice e a de que “dois Tostões” numa mesma seleção não garantem vitória, numa referência à chapa puro-sangue tucana.
Também foi citado o desempenho de Dilma em Copenhague.
Apesar do crescimento da ministra nesta reta final do ano — de 17% para 23% das intenções de voto na última pesquisa do instituto Datafolha —, a avaliação no núcleo de campanha é a de que a ministra precisa chegar a 30% nas pesquisas até março.
Dilma ficará próxima de Lula o maior tempo possível Esse é o patamar previsto para poder atrair por gravidade partidos aliados, como PP e PR, além do próprio PMDB, que tem demonstrado desconforto com a pré-aliança fechada com o PT.
Para isso, a estratégia é colar Dilma a Lula até abril, prazo de desincompatibilização eleitoral.
— Até a saída da ministra Dilma haverá muitos anúncios de ações do governo, e ela estará muito próxima de Lula — defende o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha
Preocupação com declarações de Lula e desempenho de Dilma em Copenhague
Gerson Camarotti
BRASÍLIA. Com o clima de otimismo exagerado que tomou conta do governo Lula e de setores do PT, a cúpula do partido e articuladores políticos começam a manifestar preocupação com a síndrome do “salto alto”, que pode trazer prejuízos eleitorais para a campanha presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A orientação que deve prevalecer nas próximas semanas é a de não confundir a popularidade elevada do presidente com o desafio de tentar eleger Dilma em 2010.
De forma reservada, integrantes da coordenação de campanha de Dilma não escondem a apreensão com o clima de “já ganhou” instalado em setores do governo.
“Popularidade de Lula não basta”, diz Vaccarezza O clima de euforia foi motivado principalmente por três fatores: o crescimento de Dilma nas pesquisas de intenção de votos; a projeção de crescimento da economia de até 6% em 2010; e o avanço de programas sociais e de infraestrutura, como o PAC.
Apesar dos fatores positivos, integrantes da cúpula do PT alertam que o candidato tucano ainda lidera as pesquisas e que é preciso trabalhar a candidatura petista: — Precisamos ter cuidado com o salto alto. Não podemos ir para o já ganhou. A popularidade do presidente Lula não basta.
É preciso fazer política — alertou o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).
Pouco antes do recesso parlamentar, numa reunião entre integrantes da coordenação de campanha de Dilma, houve consenso de que era preciso atenção redobrada para evitar erros desnecessários.
Entre os erros cometidos recentemente foram listadas as afirmações de Lula de que o PMDB deveria enviar uma lista tríplice para a escolha do candidato a vice e a de que “dois Tostões” numa mesma seleção não garantem vitória, numa referência à chapa puro-sangue tucana.
Também foi citado o desempenho de Dilma em Copenhague.
Apesar do crescimento da ministra nesta reta final do ano — de 17% para 23% das intenções de voto na última pesquisa do instituto Datafolha —, a avaliação no núcleo de campanha é a de que a ministra precisa chegar a 30% nas pesquisas até março.
Dilma ficará próxima de Lula o maior tempo possível Esse é o patamar previsto para poder atrair por gravidade partidos aliados, como PP e PR, além do próprio PMDB, que tem demonstrado desconforto com a pré-aliança fechada com o PT.
Para isso, a estratégia é colar Dilma a Lula até abril, prazo de desincompatibilização eleitoral.
— Até a saída da ministra Dilma haverá muitos anúncios de ações do governo, e ela estará muito próxima de Lula — defende o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha
Villas Bôa Corrêa::Um mágico chamado Lula
DEU NO JORNAL DO BRASIL
Acabei de ler o imperdível romance de Frei Beto, Um Homem chamado Jesus, que conta a passagem do filho de Deus sobre a terra seguindo os passos da Bíblia, mas com a liberdade do escritor que humaniza o enredo e os personagens – santos, pecadores, inimigos – nos diálogos, que vai do tom ameno das lições à indignação com os incréus que se converteram e seguiram Jesus até a ressurreição.
Curiosamente, mas não por acaso, a cada página e até em cada linha, fui surpreendido pelas semelhanças entre o romance histórico de Frei Beto e a vertiginosa ascensão do menino nascido em Garanhuns, de família humilde e da mais indigente pobreza e que disparou na carreira fulminante de líder operário, o maior da história deste país, fundador do Partido dos Trabalhadores, o PT, de crônica contraditória como o criador do caixa 2 e do mensalão, que acaba de gerar mais um monstrengo com a roubalheira que desmontou o governador de Brasília, José Roberto Arruda, filmado na distribuição de pacotes de milhões a secretários, parlamentares e cupinchas, que escondiam a bolada do suborno na cueca, nas meias, nos bolsos e outras cafuas pouco recomendáveis.
A honestidade do presidente jamais foi posta em dúvida. Mas, o seu salto acrobático para o topo de um dos mais populares líderes do mundo, de causar inveja ao presidente da maior nação do mundo, Barack Obama, e que o identificou como “este é o cara”; os êxitos da política econômica; a mágica da Bolsa Família distribuída a milhões de deserdados da sorte, ex-Bolsa Escola, que escancara a janela às crianças da extrema pobreza para a obrigatoriedade de frequentar escolas mexeram com os miolos presidenciais.
O Lula que inventa a candidatura da ministra Dilma Rousseff para sucedê-lo é a contradição ambulante do militante petista, deputado federal constituinte, contrário à praga da reeleição, aprovada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso com a vergonhosa distribuição de sinecuras para cabos eleitorais e parentes dos parlamentares. Não pode mirar-se no espelho na hora de aparar a barba e os cabelos que começam a rarear no cocuruto sem o arrepio do mal-estar com as contradições impostas pelas quebras de ética política.
Por fora bela viola. Mas, se as aparências enganam, também estimulam as desconfianças. Lula e a sua candidata podem desdenhar das pesquisas com a análise do panorama pré-sucessão, com o sucesso da sua tática e da campanha escancarada, mandando às favas os prazos constitucionais com a andrajosa peta de que ele e a ministra-candidata viajam às custas da Viúva, sobem nos palanques, discursam, são abraçados, concedem autógrafos como artistas de novela para fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, e do Minha Casa Meu Voto.
O sobe-e-desce dos índices das pesquisas não são definitivos nem podem ser interpretados ao pé da letra. Apenas indicam o lento crescimento dos índices da candidata oficial, que ainda sequer foi aprovada pela convenção do PT. Frioleiras: a legenda tem dono e senhor e faz o que seu mestre mandar.
Candidata que está fazendo prodigiosa carreira, saltando do chão para tentar a Presidência do Brasil, a ministra Dilma parece artista da primeira novela, decorando as falas e testando o vestuário para os comícios, as entrevistas, as conversas com os chefes políticos.
A bravura com que enfrentou o tratamento do câncer linfático até a cura com 90% de definitiva, ainda a expõe a constrangimentos como a da aposentadoria da peruca dos sete meses de tratamento e a estreia do novo visual com o cabelo curto, como uma touca.
A especulação política é um vício que reclama cautelas para não cair no ridículo. Antes da definição do candidato da oposição e do seu vice, nenhuma análise vai além do palpite.
A oposição não pode levar a lengalenga do governador José Serra, seu virtual candidato, além da passagem do ano e do recesso do Congresso. E a encrenca para a escolha do vice está resolvida por Lula e pela firme atitude do PMDB, que já anunciou aos quatro ventos que escolhe o seu candidato a vice. E que o nome e sobrenome é o de sempre, deputado Michel Temer.
O que os candidatos ainda não pensaram é no programa de governo, na recuperação de Brasília, uma capital feita de encomenda e arruinada pela incompetência e pela roubalheira.
Por aí, continuamos na estaca zero.
Acabei de ler o imperdível romance de Frei Beto, Um Homem chamado Jesus, que conta a passagem do filho de Deus sobre a terra seguindo os passos da Bíblia, mas com a liberdade do escritor que humaniza o enredo e os personagens – santos, pecadores, inimigos – nos diálogos, que vai do tom ameno das lições à indignação com os incréus que se converteram e seguiram Jesus até a ressurreição.
Curiosamente, mas não por acaso, a cada página e até em cada linha, fui surpreendido pelas semelhanças entre o romance histórico de Frei Beto e a vertiginosa ascensão do menino nascido em Garanhuns, de família humilde e da mais indigente pobreza e que disparou na carreira fulminante de líder operário, o maior da história deste país, fundador do Partido dos Trabalhadores, o PT, de crônica contraditória como o criador do caixa 2 e do mensalão, que acaba de gerar mais um monstrengo com a roubalheira que desmontou o governador de Brasília, José Roberto Arruda, filmado na distribuição de pacotes de milhões a secretários, parlamentares e cupinchas, que escondiam a bolada do suborno na cueca, nas meias, nos bolsos e outras cafuas pouco recomendáveis.
A honestidade do presidente jamais foi posta em dúvida. Mas, o seu salto acrobático para o topo de um dos mais populares líderes do mundo, de causar inveja ao presidente da maior nação do mundo, Barack Obama, e que o identificou como “este é o cara”; os êxitos da política econômica; a mágica da Bolsa Família distribuída a milhões de deserdados da sorte, ex-Bolsa Escola, que escancara a janela às crianças da extrema pobreza para a obrigatoriedade de frequentar escolas mexeram com os miolos presidenciais.
O Lula que inventa a candidatura da ministra Dilma Rousseff para sucedê-lo é a contradição ambulante do militante petista, deputado federal constituinte, contrário à praga da reeleição, aprovada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso com a vergonhosa distribuição de sinecuras para cabos eleitorais e parentes dos parlamentares. Não pode mirar-se no espelho na hora de aparar a barba e os cabelos que começam a rarear no cocuruto sem o arrepio do mal-estar com as contradições impostas pelas quebras de ética política.
Por fora bela viola. Mas, se as aparências enganam, também estimulam as desconfianças. Lula e a sua candidata podem desdenhar das pesquisas com a análise do panorama pré-sucessão, com o sucesso da sua tática e da campanha escancarada, mandando às favas os prazos constitucionais com a andrajosa peta de que ele e a ministra-candidata viajam às custas da Viúva, sobem nos palanques, discursam, são abraçados, concedem autógrafos como artistas de novela para fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, e do Minha Casa Meu Voto.
O sobe-e-desce dos índices das pesquisas não são definitivos nem podem ser interpretados ao pé da letra. Apenas indicam o lento crescimento dos índices da candidata oficial, que ainda sequer foi aprovada pela convenção do PT. Frioleiras: a legenda tem dono e senhor e faz o que seu mestre mandar.
Candidata que está fazendo prodigiosa carreira, saltando do chão para tentar a Presidência do Brasil, a ministra Dilma parece artista da primeira novela, decorando as falas e testando o vestuário para os comícios, as entrevistas, as conversas com os chefes políticos.
A bravura com que enfrentou o tratamento do câncer linfático até a cura com 90% de definitiva, ainda a expõe a constrangimentos como a da aposentadoria da peruca dos sete meses de tratamento e a estreia do novo visual com o cabelo curto, como uma touca.
A especulação política é um vício que reclama cautelas para não cair no ridículo. Antes da definição do candidato da oposição e do seu vice, nenhuma análise vai além do palpite.
A oposição não pode levar a lengalenga do governador José Serra, seu virtual candidato, além da passagem do ano e do recesso do Congresso. E a encrenca para a escolha do vice está resolvida por Lula e pela firme atitude do PMDB, que já anunciou aos quatro ventos que escolhe o seu candidato a vice. E que o nome e sobrenome é o de sempre, deputado Michel Temer.
O que os candidatos ainda não pensaram é no programa de governo, na recuperação de Brasília, uma capital feita de encomenda e arruinada pela incompetência e pela roubalheira.
Por aí, continuamos na estaca zero.
Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Os sertões
A iniquidade social no Brasil profundo espantou os paulistas quando Euclides da Cunha, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, em memorável série de reportagens que deu origem ao livro “Os Sertões”, relatou a carnificina que foi a Guerra de Canudos (1896 a 1897), no interior da Bahia. Liderados por Antônio Conselheiro, 20 mil sertanejos tomados pelo misticismo, mas também pela revolta contra o abandono e a exclusão, enfrentaram quatro expedições do Exército, que somente na sua quarta campanha conseguiu arrasar o arraial. Cinco mil soldados morreram.
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Quase três décadas depois, “Os Sertões” foi o livro de cabeceira do capitão do Exército Luiz Carlos Prestes na longa marcha de 24 mil quilômetros da coluna rebelde que leva o seu nome e o do general Miguel Costa. Durante dois anos e meio (1925 a 1927), jovens oficiais percorreram o interior do país sem grande apoio popular e com forte oposição dos coronéis nordestinos e seus jagunços. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não leu o livro de Euclides da Cunha, um tratado de história, geografia e sociologia, mas, com suas políticas sociais, conseguiu interpretar o Nordeste como nenhum outro político brasileiro. A prova disso é o seu prestígio entre os eleitores da região e os políticos nordestinos aliados do governo. --> --> --> -->
Teto// O programa Minha Casa, Minha Vida não deslanchou. A meta é chegar a 1 milhão de moradias no fim de 2010, segundo o ministro das Cidades, Márcio Fortes. O maior problema para execução do programa é a burocracia da Caixa Econômica federal (CEF).
Pernambuco
Segundo governador melhor avaliado do país, Eduardo Campos (foto), do PSB, aparece nas pesquisas de opinião com ampla vantagem em relação aos seus adversários. Venceria a eleição no primeiro turno contra o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), outro político de grande prestígio. Mesmo que o PT lance candidato o ex-ministro da Saúde Humberto Costa ou o ex-prefeito do Recife João Paulo. O prestígio de Campos, porém, é um problema para a transferência de votos do presidente Lula a sua candidata, Dilma Rousseff(PT). O governador de Pernambuco não precisa da licença de Lula para manter seu apoio à candidatura de Ciro Gomes (PSB).
Ceará
Situação muito semelhante ocorre no Ceará, onde Cid Gomes (PSB) é muito bem avaliado nas pesquisas. Irmão de Ciro, o governador cearense teria como principal adversário o senador tucano Tasso Jereissati, um aliado histórico do clã dos Gomes. Nas eleições passadas, Tasso se opôs à reeleição do ex-governador Lúcio Alcântara, que por isso deixou o PSDB, e apoiou Cid Gomes. É incerto que garanta um palanque robusto para o governador tucano José Serra. Isso facilita a vida de Dilma? Não, por causa da candidatura de Ciro à Presidência.
Bahia
Caso espetacular é o da Bahia. O governador petista Jaques Wagner (foto) também aparece bem avaliado. Seu principal adversário é o ex-governador Paulo Souto (DEM), mas seu grande desafeto é ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), que se lançou candidato ao governo. Ambos apoiam a candidatura de Dilma Rousseff (PT), enquanto Souto garante o palanque de Serra. Qual o problema? Wagner não aceita a existência de dois palanques governistas. Se Dilma prestigiar Geddel porque é da base, o petista abrirá o seu palanque para Ciro Gomes (PSB) e sua amiga Marina Silva (PV).
Minas
Mais pedregosos são os caminhos de Minas. O governador Aécio Neves (PSDB) faz o governo melhor avaliado do país e pretende eleger seu sucessor o vice-governador Antônio Anastasia, um técnico tucano muito competente. A disputa mineira, porém, tem três pesos pesados da base governista: o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB); o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT); e o ex-prefeito Fernando Pimentel (PT). Lula gostaria de atrair Costa para a vice de Dilma e abrir caminho para uma chapa Patrus, governador; Pimentel e o vice-presidente José Alencar, candidatos ao Senado. A fórmula parece impossível.
Vexame
O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, foi o recordista de atrasos no Natal. Segundo números divulgados pela Infraero, de 93 voos que decolaram da capital federal até as 15h de ontem, 28 (30,1%) saíram com atraso superior a 30 minutos. Nos 49 aeroportos administrados pela empresa, apenas 6,6% dos voos partiram fora do horário, de um total de 1.355 decolagens
Os sertões
A iniquidade social no Brasil profundo espantou os paulistas quando Euclides da Cunha, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, em memorável série de reportagens que deu origem ao livro “Os Sertões”, relatou a carnificina que foi a Guerra de Canudos (1896 a 1897), no interior da Bahia. Liderados por Antônio Conselheiro, 20 mil sertanejos tomados pelo misticismo, mas também pela revolta contra o abandono e a exclusão, enfrentaram quatro expedições do Exército, que somente na sua quarta campanha conseguiu arrasar o arraial. Cinco mil soldados morreram.
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Quase três décadas depois, “Os Sertões” foi o livro de cabeceira do capitão do Exército Luiz Carlos Prestes na longa marcha de 24 mil quilômetros da coluna rebelde que leva o seu nome e o do general Miguel Costa. Durante dois anos e meio (1925 a 1927), jovens oficiais percorreram o interior do país sem grande apoio popular e com forte oposição dos coronéis nordestinos e seus jagunços. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não leu o livro de Euclides da Cunha, um tratado de história, geografia e sociologia, mas, com suas políticas sociais, conseguiu interpretar o Nordeste como nenhum outro político brasileiro. A prova disso é o seu prestígio entre os eleitores da região e os políticos nordestinos aliados do governo. --> --> --> -->
Teto// O programa Minha Casa, Minha Vida não deslanchou. A meta é chegar a 1 milhão de moradias no fim de 2010, segundo o ministro das Cidades, Márcio Fortes. O maior problema para execução do programa é a burocracia da Caixa Econômica federal (CEF).
Pernambuco
Segundo governador melhor avaliado do país, Eduardo Campos (foto), do PSB, aparece nas pesquisas de opinião com ampla vantagem em relação aos seus adversários. Venceria a eleição no primeiro turno contra o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), outro político de grande prestígio. Mesmo que o PT lance candidato o ex-ministro da Saúde Humberto Costa ou o ex-prefeito do Recife João Paulo. O prestígio de Campos, porém, é um problema para a transferência de votos do presidente Lula a sua candidata, Dilma Rousseff(PT). O governador de Pernambuco não precisa da licença de Lula para manter seu apoio à candidatura de Ciro Gomes (PSB).
Ceará
Situação muito semelhante ocorre no Ceará, onde Cid Gomes (PSB) é muito bem avaliado nas pesquisas. Irmão de Ciro, o governador cearense teria como principal adversário o senador tucano Tasso Jereissati, um aliado histórico do clã dos Gomes. Nas eleições passadas, Tasso se opôs à reeleição do ex-governador Lúcio Alcântara, que por isso deixou o PSDB, e apoiou Cid Gomes. É incerto que garanta um palanque robusto para o governador tucano José Serra. Isso facilita a vida de Dilma? Não, por causa da candidatura de Ciro à Presidência.
Bahia
Caso espetacular é o da Bahia. O governador petista Jaques Wagner (foto) também aparece bem avaliado. Seu principal adversário é o ex-governador Paulo Souto (DEM), mas seu grande desafeto é ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), que se lançou candidato ao governo. Ambos apoiam a candidatura de Dilma Rousseff (PT), enquanto Souto garante o palanque de Serra. Qual o problema? Wagner não aceita a existência de dois palanques governistas. Se Dilma prestigiar Geddel porque é da base, o petista abrirá o seu palanque para Ciro Gomes (PSB) e sua amiga Marina Silva (PV).
Minas
Mais pedregosos são os caminhos de Minas. O governador Aécio Neves (PSDB) faz o governo melhor avaliado do país e pretende eleger seu sucessor o vice-governador Antônio Anastasia, um técnico tucano muito competente. A disputa mineira, porém, tem três pesos pesados da base governista: o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB); o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT); e o ex-prefeito Fernando Pimentel (PT). Lula gostaria de atrair Costa para a vice de Dilma e abrir caminho para uma chapa Patrus, governador; Pimentel e o vice-presidente José Alencar, candidatos ao Senado. A fórmula parece impossível.
Vexame
O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, foi o recordista de atrasos no Natal. Segundo números divulgados pela Infraero, de 93 voos que decolaram da capital federal até as 15h de ontem, 28 (30,1%) saíram com atraso superior a 30 minutos. Nos 49 aeroportos administrados pela empresa, apenas 6,6% dos voos partiram fora do horário, de um total de 1.355 decolagens
Aliado/ O senador Pedro Simon (PMDB-RS), em dura nota, endossou as críticas do ministro da Justiça, Tarso Genro, à decisão do ministro Arnaldo Esteves Lima, do Superior Tribunal de Justiça, que suspendeu os processos da Operação Satiagraha da Polícia Federal.
Rédeas/ O governador José Serra mandou os desafetos do ex-governador Geraldo Alckmin dentro do PSDB paulista baixarem a bola. Não quer confusão na própria retaguarda.
Panetones/ Ladrões arrombaram o restaurante Piantella na véspera do Natal, de madrugada. Só levaram os panetones do tradicional reduto dos políticos de Brasília.
Rédeas/ O governador José Serra mandou os desafetos do ex-governador Geraldo Alckmin dentro do PSDB paulista baixarem a bola. Não quer confusão na própria retaguarda.
Panetones/ Ladrões arrombaram o restaurante Piantella na véspera do Natal, de madrugada. Só levaram os panetones do tradicional reduto dos políticos de Brasília.
Voto à vista, novas regras
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Reforma estabelece obrigatoriedade de registro de programas de governo para candidatos a cargos no Executivo
Juliana Cipriani
Os eleitores, partidos políticos e pretensos candidatos a cargos eletivos terão que ficar atentos para não esbarrar na nova legislação que vai regular as campanhas do ano que vem. Mais uma vez, a eleição terá uma cara nova. A minirreforma sancionada em setembro prevê inovações além da tão falada liberação do uso da internet pelos candidatos. A obrigatoriedade daqueles que concorrem a cargos no Executivo de registrar os respectivos programas de governo é uma das alterações que passam a vigorar no pleito. O instrumento ajudará o eleitor na hora de cobrar do seu eleito as ações prometidas na propaganda.
O relator da minirreforma, deputado federal Flávio Dino (PCdoB-MA), considera esse um dos avanços no texto aprovado pelo Congresso. “É garantir um mecanismo de cobrança. Antes dessa lei, os programas de governo eram palavras ao vento que depois nem é possível achar, pois o site do candidato sai do ar. Agora é um documento formal, possibilitando a cobrança da imprensa e da sociedade”, afirmou. O avanço, no entanto, ainda não é completo, pois a norma não traz punições para aqueles que se desviarem do proposto. Outro ponto destacado foi em relação à participação feminina nas eleições. Antes, os partidos não precisavam cumprir a cota de 30% das candidaturas para as mulheres e agora a lacuna pode levar ao indeferimento do registro das chapas.
Também será uma campanha mais limpa e menos barulhenta. Ficam proibidas as grandes pinturas nos muros particulares e os trios elétricos. De acordo com o relator, foram ampliadas as possibilidades de cassação do mandato. Nos três meses que antecedem o pleito, os mandatários não podem gerar benefícios para categorias individualizadas ou realizar atos que configurem perseguição de servidores. O gasto com publicidade também terá que se manter na média dos três anos anteriores.
Aqueles que costumam ganhar os holofotes antes do início da campanha podem respirar aliviados. A nova lei garantiu a possibilidade de entrevistas com pré-candidatos, participação em programas, encontros em debates e outros eventos, mesmo que eles exponham suas plataformas. As prévias partidárias também estão liberadas. O pré-candidato pode se expressar livremente desde que não peça expressamente o voto ao eleitor. A multa para propaganda extemporânea também caiu, passando da variação de R$ 22 mil a R$ 57 mil para R$ 5 mil a R$ 25 mil.
As principais mudanças
Pinturas nos muros
Ficam proibidas. Nos bens particulares pode haver propaganda por faixas, placas, cartazes ou pinturas que não excedam 4m².
Propaganda extemporânea
O texto deixa claro que entrevistas com pré-candidatos ou participação deles em encontros, debates e programas, inclusive com exposição de plataformas eleitorais, não é propaganda antecipada, desde que não haja pedido de votos. O valor da multa, porém, caiu.
Programa de governo
Passa a ser registrado na Justiça Eleitoral como um dos documentos necessários para inscrição dos candidatos.
Doações
Reforma estabelece obrigatoriedade de registro de programas de governo para candidatos a cargos no Executivo
Juliana Cipriani
Os eleitores, partidos políticos e pretensos candidatos a cargos eletivos terão que ficar atentos para não esbarrar na nova legislação que vai regular as campanhas do ano que vem. Mais uma vez, a eleição terá uma cara nova. A minirreforma sancionada em setembro prevê inovações além da tão falada liberação do uso da internet pelos candidatos. A obrigatoriedade daqueles que concorrem a cargos no Executivo de registrar os respectivos programas de governo é uma das alterações que passam a vigorar no pleito. O instrumento ajudará o eleitor na hora de cobrar do seu eleito as ações prometidas na propaganda.
O relator da minirreforma, deputado federal Flávio Dino (PCdoB-MA), considera esse um dos avanços no texto aprovado pelo Congresso. “É garantir um mecanismo de cobrança. Antes dessa lei, os programas de governo eram palavras ao vento que depois nem é possível achar, pois o site do candidato sai do ar. Agora é um documento formal, possibilitando a cobrança da imprensa e da sociedade”, afirmou. O avanço, no entanto, ainda não é completo, pois a norma não traz punições para aqueles que se desviarem do proposto. Outro ponto destacado foi em relação à participação feminina nas eleições. Antes, os partidos não precisavam cumprir a cota de 30% das candidaturas para as mulheres e agora a lacuna pode levar ao indeferimento do registro das chapas.
Também será uma campanha mais limpa e menos barulhenta. Ficam proibidas as grandes pinturas nos muros particulares e os trios elétricos. De acordo com o relator, foram ampliadas as possibilidades de cassação do mandato. Nos três meses que antecedem o pleito, os mandatários não podem gerar benefícios para categorias individualizadas ou realizar atos que configurem perseguição de servidores. O gasto com publicidade também terá que se manter na média dos três anos anteriores.
Aqueles que costumam ganhar os holofotes antes do início da campanha podem respirar aliviados. A nova lei garantiu a possibilidade de entrevistas com pré-candidatos, participação em programas, encontros em debates e outros eventos, mesmo que eles exponham suas plataformas. As prévias partidárias também estão liberadas. O pré-candidato pode se expressar livremente desde que não peça expressamente o voto ao eleitor. A multa para propaganda extemporânea também caiu, passando da variação de R$ 22 mil a R$ 57 mil para R$ 5 mil a R$ 25 mil.
As principais mudanças
Pinturas nos muros
Ficam proibidas. Nos bens particulares pode haver propaganda por faixas, placas, cartazes ou pinturas que não excedam 4m².
Propaganda extemporânea
O texto deixa claro que entrevistas com pré-candidatos ou participação deles em encontros, debates e programas, inclusive com exposição de plataformas eleitorais, não é propaganda antecipada, desde que não haja pedido de votos. O valor da multa, porém, caiu.
Programa de governo
Passa a ser registrado na Justiça Eleitoral como um dos documentos necessários para inscrição dos candidatos.
Doações
Possibilidade de doações de recursos para a campanha por pessoas físicas pela internet.
Propaganda
A campanha vai até 10 horas antes do pleito. No dia da eleição, nenhuma propaganda é permitida, nem os fiscais poderão usar as cores do partido.
Som
Fica proibido o uso de trio elétrico.
Propaganda
A campanha vai até 10 horas antes do pleito. No dia da eleição, nenhuma propaganda é permitida, nem os fiscais poderão usar as cores do partido.
Som
Fica proibido o uso de trio elétrico.
Paul Krugman* :: Novidades reconfortantes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Perdoem-me por lhes contar uma versão no futuro próximo de "Um Conto de Natal", de Charles Dickens. Ela começa com notícias tristes: o jovem Timothy Cratchit, vulgo Tiny Tim, está doente. E seu tratamento custará bem mais do que seus pais podem pagar do próprio bolso.
Felizmente, nossa história se passa em 2014, e os Cratchits têm seguro-saúde. Não de seu empregador: Ebenezer Scrooge não paga benefícios a empregados. E alguns anos antes, apenas, eles não teriam tido condição de comprar o seguro por conta própria porque Tiny Tim tem uma condição pré-existente e, de qualquer modo, os prêmios estariam foram do seu alcance.
Mas a lei de reforma sancionada em 2010 proibiu a discriminação do seguro com base no histórico médico e também criou um sistema de subsídios para ajudar as famílias a pagarem pela cobertura. Mesmo assim, o seguro não fica barato - mas os Cratchits o têm, e estão gratos. Deus nos abençoe a todos.
Certo, isso foi ficção, mas haverá milhões de histórias reais como essa nos próximos anos. Por imperfeita que seja, a legislação que o Senado aprovou na quinta-feira e provavelmente, numa versão ligeiramente modificada, deverá se tornar lei em breve, fará dos EUA um país muito melhor.
Sendo assim, por que há tanta gente reclamando? Há três grupos principais de críticos.
Primeiro, há a direita maluca - uma franja lunática que não é mais uma franja mas se deslocou para o centro do Partido Republicano. No passado, havia um entendimento geral na política americana de que os grandes partidos ao menos fingiriam se distanciar de extremistas irracionais. Mas essas regras já não são operacionais.
Uma segunda posição de oposição provém do que vejo como o bloco do "Báá, Mentira": os críticos fiscais que rotineiramente emitem advertências sobre o aumento da dívida. Por direito, esse bloco devia encontrar muita coisa para gostar na lei de saúde do Senado, que o Escritório de Orçamento do Congresso diz que reduzirá o déficit, e que faz mais para o controle de custos que qualquer um já tentou no passado.
Mas, com poucas exceções, os críticos fiscais não tiveram nada de bom para dizer sobre a lei. E, no processo, revelaram que sua alegada preocupação com déficits é, bem, mentira.
Por último, tem havido oposição de alguns progressistas que estão descontentes com as limitações da lei. Alguns não admitiriam menos que um sistema completo single-payer (em que o governo paga a assistência e o setor privado fornece o serviço) tipo Medicare. Outros apostavam na criação de uma opção pública para competir com as seguradoras privadas. E há queixas de que os subsídios são inadequados, que muitas famílias ainda terão dificuldade de pagar pela assistência médica.
Diferentemente dos outros dois tipos de reclamantes, os progressistas decepcionados têm queixas válidas -mas não constituem um motivo para rejeitar a lei.
A verdade é que não há uma maioria no Congresso a favor de algo como o single-payer. Há uma estreita maioria a favor de um plano com uma opção pública moderadamente forte. A Camara aprovou um plano assim. Mas do jeito como funcionam as regras do Senado, é preciso 60 votos para fazer quase tudo, impondo limites estreitos para o que pode ser aprovado.
Se os progressistas quiserem mais, eles terão de fazer da mudança dessas regras do Senado uma prioridade. E, a longo prazo, terão de trabalhar para eleger um Congresso mais progressista. Até lá, contudo, a lei que o Senado acaba de aprovar, com alguns ajustes, é o que a liderança democrata pode obter. E com todos seus defeitos e limitações, é uma grande conquista.
*Paul Krugman é Nobel de Economia
Perdoem-me por lhes contar uma versão no futuro próximo de "Um Conto de Natal", de Charles Dickens. Ela começa com notícias tristes: o jovem Timothy Cratchit, vulgo Tiny Tim, está doente. E seu tratamento custará bem mais do que seus pais podem pagar do próprio bolso.
Felizmente, nossa história se passa em 2014, e os Cratchits têm seguro-saúde. Não de seu empregador: Ebenezer Scrooge não paga benefícios a empregados. E alguns anos antes, apenas, eles não teriam tido condição de comprar o seguro por conta própria porque Tiny Tim tem uma condição pré-existente e, de qualquer modo, os prêmios estariam foram do seu alcance.
Mas a lei de reforma sancionada em 2010 proibiu a discriminação do seguro com base no histórico médico e também criou um sistema de subsídios para ajudar as famílias a pagarem pela cobertura. Mesmo assim, o seguro não fica barato - mas os Cratchits o têm, e estão gratos. Deus nos abençoe a todos.
Certo, isso foi ficção, mas haverá milhões de histórias reais como essa nos próximos anos. Por imperfeita que seja, a legislação que o Senado aprovou na quinta-feira e provavelmente, numa versão ligeiramente modificada, deverá se tornar lei em breve, fará dos EUA um país muito melhor.
Sendo assim, por que há tanta gente reclamando? Há três grupos principais de críticos.
Primeiro, há a direita maluca - uma franja lunática que não é mais uma franja mas se deslocou para o centro do Partido Republicano. No passado, havia um entendimento geral na política americana de que os grandes partidos ao menos fingiriam se distanciar de extremistas irracionais. Mas essas regras já não são operacionais.
Uma segunda posição de oposição provém do que vejo como o bloco do "Báá, Mentira": os críticos fiscais que rotineiramente emitem advertências sobre o aumento da dívida. Por direito, esse bloco devia encontrar muita coisa para gostar na lei de saúde do Senado, que o Escritório de Orçamento do Congresso diz que reduzirá o déficit, e que faz mais para o controle de custos que qualquer um já tentou no passado.
Mas, com poucas exceções, os críticos fiscais não tiveram nada de bom para dizer sobre a lei. E, no processo, revelaram que sua alegada preocupação com déficits é, bem, mentira.
Por último, tem havido oposição de alguns progressistas que estão descontentes com as limitações da lei. Alguns não admitiriam menos que um sistema completo single-payer (em que o governo paga a assistência e o setor privado fornece o serviço) tipo Medicare. Outros apostavam na criação de uma opção pública para competir com as seguradoras privadas. E há queixas de que os subsídios são inadequados, que muitas famílias ainda terão dificuldade de pagar pela assistência médica.
Diferentemente dos outros dois tipos de reclamantes, os progressistas decepcionados têm queixas válidas -mas não constituem um motivo para rejeitar a lei.
A verdade é que não há uma maioria no Congresso a favor de algo como o single-payer. Há uma estreita maioria a favor de um plano com uma opção pública moderadamente forte. A Camara aprovou um plano assim. Mas do jeito como funcionam as regras do Senado, é preciso 60 votos para fazer quase tudo, impondo limites estreitos para o que pode ser aprovado.
Se os progressistas quiserem mais, eles terão de fazer da mudança dessas regras do Senado uma prioridade. E, a longo prazo, terão de trabalhar para eleger um Congresso mais progressista. Até lá, contudo, a lei que o Senado acaba de aprovar, com alguns ajustes, é o que a liderança democrata pode obter. E com todos seus defeitos e limitações, é uma grande conquista.
*Paul Krugman é Nobel de Economia
Miriam Leitão:: Tribos e eventos
DEU EM O GLOBO
“Combata a nudez” era o meu grupo favorito de manifestantes em Copenhague. Tinha o “Be Veg”, que garantia: o vegetariano emite 70% menos C02.
Tinha defensores de animais ameaçados, no topo, o belo urso polar. As grandes ONGs tinham bandeiras macro. Mas o “Fight nudity” era guerreiro.
Um dia, estavam de cuecas na porta do Bella Center, num frio glacial.
Os entrantes eram saudados pelo grito de guerra: — Fight nudity! Fight nudity! — berravam, pulando na vestimenta sumária.
Não salvaram o mundo, mas divertiram os que enfrentavam os desafios da entrada diária no centro de convenções superlotado da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15). O metrô exibia o filme da ONG: dois funcionários se encontram numa empresa. Um diz: “Você veio nu?”. O outro: “Com esse aquecimento global, cada dia tenho que tirar uma peça de roupa, por isso decidi assumir.” Voltei ao assunto Copenhague para falar de duas coisas: o papel das ONGs, e que lições pode tirar de lá um país que se prepara para hospedar dois grandes eventos: a Copa e as Olimpíadas.
Dentro do Bella Center, as várias ONGs faziam manifestaçõesrelâmpago que capturavam a atenção pela criatividade.
Mas engana-se quem pensa que aquele teatro, os gritos nas passeatas ou na porta do Bella Center eram o resumo da atuação das organizações não governamentais.
O maior trabalho era silencioso. As grandes ONGs como Greenpeace, WWF, Oxfam tinham dezenas de técnicos dentro do centro de convenções com uma extraordinária capacidade de saber o que se passava e especialistas em todas aquelas complicações técnicas.
A burocracia internacional do clima criou um mar de siglas, uma montanha de detalhes técnicos e uma floresta impenetrável de mecanismos.
Não dá para se mover nesse planeta sem os técnicos das ONGs. Saíam documentos e rascunhos sucessivos.
Para entender o que significava cada colchete, cada número, cada sutileza era preciso recorrer aos tradutores especializados.
Da metade para o fim da Conferência foram sumindo os técnicos, os especialistas.
A gente ligava, e eles diziam que não tinham conseguido entrar no Bella Center. E aí chegamos ao segundo assunto da coluna: o colapso logístico provocado pela incapacidade dos dinamarqueses ou da ONU, ou de ambos, de dimensionar o evento.
O metrô de Copenhague é uma maravilha. No sinal luminoso, o aviso aparece: Vanloose em três minutos. Podia contar, em dois minutos e meio estava chegando o trem para Vanloose. Meio minuto para o pessoal se acomodar e saía o metrô na hora certinha para a próxima estação. Tudo muito bem, até que chegaram os bárbaros: nós.
Credenciados para a COP eram 45 mil. Mais o pessoal de apoio, a cidade explodiu.
Isso já se sabia quando meses antes do evento não se achava um único quarto em hotéis na cidade. A saída boa foi ver a lista de imóveis para alugar, no próprio site da ONU. O meu locador, Rasmus Grei, era um jovem de 21 anos, fazendo MBA. Já veio ao Brasil e se apaixonou. Sua casa é decorada com uma foto do Rio em cima da cama, uma das Cataratas do Iguaçu, na sala, e uma miniatura do Cristo Redentor, na estante.
Quando ele pretende voltar ao Brasil? Em 2014 ou 2016.
Isso nos remete ao que não fazer na Copa ou nas Olimpíadas.
O pior erro é subdimensionar.
No caso da COP, isso produziu uma quantidade de desconforto indescritível.
Tínhamos que ir cedo para o Bella Center, do contrário a entrada poderia significar horas nas filas a zero grau. Dependendo do número de manifestantes, ou de pessoas tentando entrar, tudo podia acontecer. O negociador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo ficou preso na multidão, e até Rajendra Pachauri, o presidente do IPCC, o grupo dos cientistas da ONU, teve dificuldades para entrar. Isso vira enorme propaganda negativa.
No começo da segunda semana, o metrô deu sinais de que não conseguia digerir tanta gente. Um dia, fui carregada pela turba de passageiros para dentro do vagão e lá fiquei empacotada.
A massa compacta lembrava os trens do subúrbio do Rio. O metrô é tão preciso que trens em direção contrária compartilham o mesmo trilho.
— Eu precisei de dois dias para entender isso, que no mesmo lado da estação podem passar trens que vão em direção opostas — me disse um americano.
Uma noite, Sônia Bridi esqueceu a mala com computadores e equipamentos pessoais dentro do metrô.
Ligou para a central. Eles disseram que não tinham condutores, mas que ela ficasse na estação que a mala voltaria. Voltou.
Com tal logística de precisão, o metrô às vezes informava que o trem estava atrasado e sem previsão. Tudo preparado pra funcionar e muita coisa deu errada. A segurança era errática. Houve um dia, quando vários chefes de Estado já estavam lá, que colocaram detectores de metais na entrada do centro de imprensa, avisaram que homens e mulheres teriam que dividir o mesmo banheiro — o dos homens havia sido trancado — e decretaram que jornalistas só poderiam sair do centro acompanhados por policiais.
Uma hora depois, desistiram de tudo, tiraram os detectores e abriram o banheiro dos homens.
A comida dentro do Bella Center era indigente. Eles entregaram para um monopólio que oferecia os mesmos dois sanduíches em cada ponto de venda, as mesmas três opções de almoço.
Por isso fez tanto sucesso quando o capitalismo chegou na forma de uma carrocinha de cachorro-quente.
Filas enormes se formavam na frente do que foi — na opinião do jornalista Andrei Netto, do “Estadão” — o “único consenso da COP15”. Lá, um dia vi até o poderoso Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima, combatendo sua fome.
“Combata a nudez” era o meu grupo favorito de manifestantes em Copenhague. Tinha o “Be Veg”, que garantia: o vegetariano emite 70% menos C02.
Tinha defensores de animais ameaçados, no topo, o belo urso polar. As grandes ONGs tinham bandeiras macro. Mas o “Fight nudity” era guerreiro.
Um dia, estavam de cuecas na porta do Bella Center, num frio glacial.
Os entrantes eram saudados pelo grito de guerra: — Fight nudity! Fight nudity! — berravam, pulando na vestimenta sumária.
Não salvaram o mundo, mas divertiram os que enfrentavam os desafios da entrada diária no centro de convenções superlotado da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15). O metrô exibia o filme da ONG: dois funcionários se encontram numa empresa. Um diz: “Você veio nu?”. O outro: “Com esse aquecimento global, cada dia tenho que tirar uma peça de roupa, por isso decidi assumir.” Voltei ao assunto Copenhague para falar de duas coisas: o papel das ONGs, e que lições pode tirar de lá um país que se prepara para hospedar dois grandes eventos: a Copa e as Olimpíadas.
Dentro do Bella Center, as várias ONGs faziam manifestaçõesrelâmpago que capturavam a atenção pela criatividade.
Mas engana-se quem pensa que aquele teatro, os gritos nas passeatas ou na porta do Bella Center eram o resumo da atuação das organizações não governamentais.
O maior trabalho era silencioso. As grandes ONGs como Greenpeace, WWF, Oxfam tinham dezenas de técnicos dentro do centro de convenções com uma extraordinária capacidade de saber o que se passava e especialistas em todas aquelas complicações técnicas.
A burocracia internacional do clima criou um mar de siglas, uma montanha de detalhes técnicos e uma floresta impenetrável de mecanismos.
Não dá para se mover nesse planeta sem os técnicos das ONGs. Saíam documentos e rascunhos sucessivos.
Para entender o que significava cada colchete, cada número, cada sutileza era preciso recorrer aos tradutores especializados.
Da metade para o fim da Conferência foram sumindo os técnicos, os especialistas.
A gente ligava, e eles diziam que não tinham conseguido entrar no Bella Center. E aí chegamos ao segundo assunto da coluna: o colapso logístico provocado pela incapacidade dos dinamarqueses ou da ONU, ou de ambos, de dimensionar o evento.
O metrô de Copenhague é uma maravilha. No sinal luminoso, o aviso aparece: Vanloose em três minutos. Podia contar, em dois minutos e meio estava chegando o trem para Vanloose. Meio minuto para o pessoal se acomodar e saía o metrô na hora certinha para a próxima estação. Tudo muito bem, até que chegaram os bárbaros: nós.
Credenciados para a COP eram 45 mil. Mais o pessoal de apoio, a cidade explodiu.
Isso já se sabia quando meses antes do evento não se achava um único quarto em hotéis na cidade. A saída boa foi ver a lista de imóveis para alugar, no próprio site da ONU. O meu locador, Rasmus Grei, era um jovem de 21 anos, fazendo MBA. Já veio ao Brasil e se apaixonou. Sua casa é decorada com uma foto do Rio em cima da cama, uma das Cataratas do Iguaçu, na sala, e uma miniatura do Cristo Redentor, na estante.
Quando ele pretende voltar ao Brasil? Em 2014 ou 2016.
Isso nos remete ao que não fazer na Copa ou nas Olimpíadas.
O pior erro é subdimensionar.
No caso da COP, isso produziu uma quantidade de desconforto indescritível.
Tínhamos que ir cedo para o Bella Center, do contrário a entrada poderia significar horas nas filas a zero grau. Dependendo do número de manifestantes, ou de pessoas tentando entrar, tudo podia acontecer. O negociador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo ficou preso na multidão, e até Rajendra Pachauri, o presidente do IPCC, o grupo dos cientistas da ONU, teve dificuldades para entrar. Isso vira enorme propaganda negativa.
No começo da segunda semana, o metrô deu sinais de que não conseguia digerir tanta gente. Um dia, fui carregada pela turba de passageiros para dentro do vagão e lá fiquei empacotada.
A massa compacta lembrava os trens do subúrbio do Rio. O metrô é tão preciso que trens em direção contrária compartilham o mesmo trilho.
— Eu precisei de dois dias para entender isso, que no mesmo lado da estação podem passar trens que vão em direção opostas — me disse um americano.
Uma noite, Sônia Bridi esqueceu a mala com computadores e equipamentos pessoais dentro do metrô.
Ligou para a central. Eles disseram que não tinham condutores, mas que ela ficasse na estação que a mala voltaria. Voltou.
Com tal logística de precisão, o metrô às vezes informava que o trem estava atrasado e sem previsão. Tudo preparado pra funcionar e muita coisa deu errada. A segurança era errática. Houve um dia, quando vários chefes de Estado já estavam lá, que colocaram detectores de metais na entrada do centro de imprensa, avisaram que homens e mulheres teriam que dividir o mesmo banheiro — o dos homens havia sido trancado — e decretaram que jornalistas só poderiam sair do centro acompanhados por policiais.
Uma hora depois, desistiram de tudo, tiraram os detectores e abriram o banheiro dos homens.
A comida dentro do Bella Center era indigente. Eles entregaram para um monopólio que oferecia os mesmos dois sanduíches em cada ponto de venda, as mesmas três opções de almoço.
Por isso fez tanto sucesso quando o capitalismo chegou na forma de uma carrocinha de cachorro-quente.
Filas enormes se formavam na frente do que foi — na opinião do jornalista Andrei Netto, do “Estadão” — o “único consenso da COP15”. Lá, um dia vi até o poderoso Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima, combatendo sua fome.
Graziela Melo:: Natal triste
Manhã cinzenta
E calada
É dia
De natal!!!
Ausência
Na alma
Saudades
No coração
Lembranças
Fugidias...
Traços,
Fisionomias...
Dos entes
Queridos
Das alegrias...
Passado
Distante!
Manhã
Longa
Sem
Meio dia
Tarde
Tristonha
Sombria...
È o instante
Infinito
Da minha
Eterna
Agonia!!!
E calada
É dia
De natal!!!
Ausência
Na alma
Saudades
No coração
Lembranças
Fugidias...
Traços,
Fisionomias...
Dos entes
Queridos
Das alegrias...
Passado
Distante!
Manhã
Longa
Sem
Meio dia
Tarde
Tristonha
Sombria...
È o instante
Infinito
Da minha
Eterna
Agonia!!!
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