terça-feira, 25 de julho de 2023

Andrea Jubé - Centrão dança no ritmo da música de Lula

Valor Econômico

Na política, uma imagem, ou um gesto, valem mais do que mil palavras

Na política, uma imagem, ou um gesto, valem mais do que mil palavras. Por isso, um atento observador da cena política alertou a coluna de que o ingresso do Progressistas (PP) e do Republicanos no primeiro escalão do governo Lula 3, de modo a assegurar a governabilidade na Câmara dos Deputados, estava selado desde o dia 7 de julho, quando foi aprovada a reforma tributária.

Para chegar a essa conclusão, bastava olhar com atenção a fotografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de sorriso largo, tendo à volta o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e os líderes partidários, registrada na tarde daquela sexta-feira.

Naquele dia, Lula havia recebido o grupo no Palácio da Alvorada para agradecer a aprovação da reforma tributária e do projeto que favorece o governo no caso de empates em julgamentos no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf).

Pedro Cafardo - Entenda por que esquentou o debate entre economistas

Valor Econômico

Embora no Brasil esteja fortemente ideologizada, a discórdia entre economistas liberais e desenvolvimentistas é fenômeno antigo e global

Uma consequência natural da volta da esquerda ao governo brasileiro foi a retomada da discussão teórica sobre a forma pela qual o país deve buscar o desenvolvimento. Nas últimas décadas, o debate foi praticamente abandonado pela mídia - não pela academia -, sob a domínio arrasador de ideias liberais.

Não se trata, é claro, de uma discussão unicamente brasileira. Embora no Brasil ela esteja fortemente ideologizada, a discórdia entre economistas liberais e desenvolvimentistas é um fenômeno antigo e global, inerente ao capitalismo. Trata-se, em poucas palavras, de responder a uma pergunta elementar: por que alguns países ficam ricos e outros não?

Para os liberais, o caminho para a riqueza são as estratégias de “laissez-faire” doméstico e livre comercio internacional, com mínima intervenção do Estado. Por isso, ao governar, promovem desestatizações e redução radical do tamanho do Estado. Aceitam um grau mínimo de intervenção estatal, para corrigir falhas de mercado, com a justificativa de que as falhas de governo sempre são mais perigosas que as de mercado.

Para os desenvolvimentistas, é indispensável a intervenção ativa do Estado no processo que vai tornar os países ricos. Eles apresentam argumentos teóricos e empíricos, mas também evidências históricas para justificar a intervenção. Com as peculiares exceções de Hong Kong e Suíça, não há outro caso, inclusive a Inglaterra em sua revolução industrial, de país que tenha alcançado o status de desenvolvido sem a adoção de políticas industriais, subsídios e outros mecanismos de proteção do Estado.

Financial Times - Eleições deixam a Espanha em um limbo político

Valor Econômico

O PSOE e o PP, partidos dominantes desde o fim do franquismo nos anos 1970, não têm tradição de compartilhar o poder

Ramón Menéndez Pidal, um destacado historiador espanhol do século 20, observou certa vez: “Na Espanha, a diferença de opinião se degenera numa disputa de animosidade irreconciliável”. Isso mostrou ser verdadeiro na divisiva campanha eleitoral encerrada no domingo com um resultado inconclusivo, que não deixa um caminho claro para nenhum partido chegar ao governo.

Questões importantes, como a saúde das finanças públicas da Espanha e o impacto das mudanças climáticas num país hoje alvo de uma onda de extremo calor foram motivo de fervorosas discussões polêmicas, enquanto os governistas socialistas (PSOE) e a oposição conservadora do Partido Popular (PP) se acusavam mutuamente sobre seus laços com partidos menores da extrema direita, de extrema esquerda ou regionalistas.

polarização política tem raízes profundas em muitas democracias ocidentais europeias, mas após esta eleição, as consequências na Espanha para a formação de um governo estável são potencialmente mais problemáticas. O PSOE e o PP, partidos dominantes desde o fim do franquismo nos anos 1970, não têm tradição de compartilhar o poder e costumam preferir salientar suas discordâncias em vez de explorar áreas de possível cooperação.

Míriam Leitão - Brasil busca o topo do IPCC

O Globo

Com empenho de Lula e Marina, brasileira pode comandar o Painel Intergovernamental de Mudança Climática. O assunto é urgente, o Brasil tem nova atitude, e a candidata é qualificada

A ministra Marina Silva estava ontem em Nairóbi, no Quênia. Junto dela, a secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura da Rocha. Num evento na embaixada do Brasil, defenderam a candidatura da cientista brasileira Thelma Krug para a presidência do Painel Intergovernamental de Mudança Climática, o IPCC.

Se Thelma for escolhida na eleição que começa amanhã, será a primeira mulher a comandar o mais importante grupo de cientistas da ONU e a primeira pessoa da América Latina e do Caribe a estar no comando do Painel.

Carlos Andreazza - A PEC do Esculacho

O Globo

Uma Proposta de Emenda à Constituição que consistirá, prosperando, no maior perdão da História a partidos políticos no Brasil. Algo sem precedentes até para a cultura corporativista brasileira.

A melhor representação — o mais preciso rosto — do Congresso Lira, com seu rito-ritmo atropelador do Parlamento, está na chamada PEC da Anistia, a PEC do Esculacho, como prefiro; uma Proposta de Emenda à Constituição que consistirá, prosperando, no maior perdão da História a partidos políticos no Brasil. Algo sem precedentes até para a cultura corporativista brasileira.

Protocolada em março na Câmara, passou largamente — em maio — pela Comissão de Constituição e Justiça, 45 x 10, e só não teve comissão especial instalada em julho, antes do recesso, por gestões proteladoras do PSOL, que se valeu dos instrumentos de obstrução ainda restantes à atividade legislativa, combinadas sobretudo à imposição da ordem do dia do Congresso Nacional, que fez soar o gongo e determinou o adiamento da sessão.

Merval Pereira - Na cola do(s) mandante(s)

O Globo

O depoimento de Élcio Queiroz, que é mais longo do que foi publicado, já aponta indicativo de mandante

A Polícia Federal já tem os caminhos para chegar ao(s) mandante(s) do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. A delação do ex-PM Élcio Vieira de Queiroz é ampla, e só foi divulgada uma parte, que já foi checada e confirmada. Há uma exigência legal de que a delação sozinha não serve como prova, precisa de outros elementos, as chamadas “provas de corroboração”. No caso da execução, foram encontradas provas de corroboração.

Por exemplo, ele disse que, depois do assassinato, foram para casa de fulano de tal e de lá pegaram um táxi. A Polícia Federal encontrou o táxi, o registro da corrida, são várias provas que confirmam a delação. Os demais passos dependem ainda de uma investigação mais aprofundada. Não é possível cravar que já tenham o(s) nome(s) do(s) mandante(s), mas é possível afirmar que o Ministério Público e a Polícia Federal já têm os caminhos para chegar a ele(s).

Eliane Cantanhêde - Crime perfeito?

O Estado de S. Paulo

Marielle: não há crime perfeito, há investigações malfeitas ou feitas para dar em nada

O avanço das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes é, como a defesa efetiva dos territórios yanomamis, uma derrota para o governo Bolsonaro e uma vitória para o de Lula. Um lavava as mãos e gerava desconfiança sobre o real interesse em desvendar o crime, enquanto Lula já assumiu com o compromisso de ir às últimas consequências para responder a duas perguntas: quem matou Marielle? Por quê?

Marielle era e é uma síntese de diversidade, complexidade e injustiça no Brasil: mulher, negra, linda, vereadora, de origem pobre e LGBTQIA+. E ela dedicava a carreira política e a vida a proteger os mais vulneráveis e a perseguir os agressores poderosos. Virou símbolo de coragem nas comunidades pobres e ameaça para as milícias. Por uma coincidência cheia de simbologia, as investigações dão um salto justamente quando uma outra síntese encanta o Brasil na Copa: Ary Borges.

Luiz Carlos Azedo - Assassinato de Marielle deixou rastro e teve motivação

Correio Braziliense

O caso parece um romance policial noir, com todos os seus ingredientes e personagens emblemáticos, que misturam política, corrupção, crime organizado e assassinatos

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou nesta segunda-feira que o ex-policial militar Élcio Queiroz fez delação premiada e confessou sua participação no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ). No depoimento, o miliciano carioca revelou que a execução foi feita pelo policial militar reformado Ronnie Lessa. Élcio também denunciou a participação do ex-bombeiro militar Maxwell Simões Corrêa, que foi preso pela Polícia Federal. Condenado a quatro anos de prisão em 2021, por atrapalhar as investigações sobre o crime, “Suel” cumpria a pena em regime aberto.

Réu pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Queiroz foi convencido a fazer colaboração premiada após desconfiar de Ronnie Lessa, apontado como seu comparsa no crime. Os dois estão presos em Rondônia e vão a júri popular pelas execuções. Élcio descobriu que Lessa mentiu e, com a quebra da confiança, decidiu fazer a delação. É um caso típico de “dilema do prisioneiro”, no qual um dos acusados confessa por desconfiar de que será acusado pelo outro.

Cristovam Buarque* - Discurso incompleto na África

Correio Braziliense

Devemos pedir perdão pelo que fizemos aos escravizados, mas também manifestar gratidão pelo que eles fizerem, obrigados pela violência da escravidão

Em 14 de abril de 2005, o presidente Lula fez discurso na fortaleza de Gorée, no Senegal, pedindo desculpas pelos 350 anos de escravidão de povos africanos no Brasil. Embora triste, foi um momento de orgulho assistir a um dirigente brasileiro fazer essa manifestação. Nestes cinco séculos, desde que chegou um primeiro grupo de escravos, nenhum outro presidente brasileiro havia apresentado esse pedido de desculpas. Provavelmente, também nenhum português, nem qualquer papa. Por isso, surpreende que aquela manifestação não tenha tido o reconhecimento que mereceu na época e que surjam tantas críticas ao discurso da semana passada, em Cabo Verde, no qual, em vez de se desculpar pelo sofrimento da escravidão, Lula agradeceu a contribuição dos escravizados na construção do Brasil. 

Alvaro Costa e Silva - Perto do centrão, Augusto Aras é moleza

Folha de S. Paulo

Em troca da governabilidade, o governo cederá espaço para quem apoiou Bolsonaro

Membro do Ministério Público Federal desde 1987, subprocurador-geral da República e atual vice-presidente-procurador-geral eleitoral, Paulo Gustavo Gonet Branco é o favorito para assumir a chefia da Procuradoria-Geral da União. Bonet defendeu a inelegibilidade de Bolsonaro no TSE e é o candidato apoiado por dois ministros do Supremo, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. No entanto, só se fala em Augusto Aras. Um balão de ensaio tão perfeito que até o próprio Aras acredita que poderá ser reconduzido ao cargo.

Não só acredita como está em campanha, fazendo coisas inacreditáveis, como o pedido para ter acesso a nomes e dados de identificação de todos os seguidores de Bolsonaro nas redes. Lula vai cozinhar o galo enquanto puder, pois sabe que qualquer nome que escolha, ante a possibilidade de manter Aras, será um alívio e uma decisão acertada aos olhos até dos adversários.

Dora Kramer - Quando Lula dá defeito

Folha de S. Paulo

As gafes podem até humanizar o presidente, mas também o aproximam do estilo de Bolsonaro

As gafes não são novidade nas palavras de Luiz Inácio da Silva cidadão, sindicalista ou presidente. Nesta condição, contudo, é que por óbvio atraem atenção; por vezes condescendente, mas na maioria crítica e com toda razão.

África, que vem de ouvir um agradecimento pelos serviços prestados durante "os 350 anos de escravidão", é freguesa antiga. Há 20 anos, em novembro de 2003, Lula então em seu primeiro ano de mandato estava na Namíbia e, ao lado do presidente Sam Nujoma, resolveu elogiar a capital, Windhoek.

Muito limpa e bem construída, a cidade causou surpresa no brasileiro: "Quem chega a Windhoek não parece estar num país africano". E prosseguiu: "A visão que se tem da África é que aqui são todos pobres". E sujos, faltou dizer para completar a rata.

Hélio Schwartsman - Como Israel foi tão para a direita?

Folha de S. Paulo

Mudanças na demografia explicam crescimento do conservadorismo no país

Unanimidade política é algo que jamais existiu em Israel, mas o país surgiu em 1948 como um Estado que tendia mais à esquerda do que à direita. Seu primeiro líder, David Ben Gurion, era socialista, categorização que, com alguma flexibilidade, também se aplica a outros "pais fundadores", como Golda Meir, Moshe Dayan e Yitzhak Rabin. Também se dizia que Israel era o único lugar do mundo onde o socialismo, na figura dos kibutzim, tinha dado certo.

É claro que também houve, desde os primórdios, políticos mais à direita, como Menachem Begin e Yitzhak Shamir, mas havia o entendimento de que o Estado deveria ser secular. Religiosos até poderiam ganhar alguns privilégios, como subsídios e isenção do serviço militar, pois era consenso que estavam fadados a ser para sempre uma minoria não muito importante.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Sobre a Reforma Tributária

Carta Capital*

Se não há gasto e renda, a receita tributária capota

Os economistas William ­Anderson, Myles S. ­Wallace e John T. Warner escreveram o artigo ­Gastos do Governo e a ­Receita de Impostos: O Que Causa o Quê? ­(Government Spending and Taxation: What Causes What?)

No cipoal que enreda os economistas em suas indagações, esta pergunta aparentemente simples, se não simplória, faz sentido, sobretudo, quando o debate a respeito da reforma tributária alcança a dignidade dos editoriais da grande mídia brasileira.

Em editorial no dia 17 de julho, a Folha de S.Paulo lançou seus pensamentos na direção da Reforma Tributária. O título da peça opinativa é revelador: “O Problema É o Gasto”.

As manifestações do senso comum indicam a prevalência das concepções que entendem a anterioridade da arrecadação de impostos em relação aos gastos do Estado. É a falácia que proclama “primeiro arrecada, depois gasta.”

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Censo reacende preocupação com futuro da Previdência

Valor Econômico

O aumento do número de idosos e a redução das pessoas em idade ativa põem em xeque o futuro do sistema de aposentadorias

A divulgação dos primeiros resultados do Censo de 2022 reavivou a preocupação com o futuro da Previdência Social. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contou 203,1 milhões de habitantes, bem menos do que os 214 milhões estimados anteriormente. Embora ainda não tenham sido divulgados os detalhes etários do Censo, a queda do ritmo de crescimento da população aponta para a redução dos nascimentos e o envelhecimento dos brasileiros. O aumento do número de idosos e a redução das pessoas em idade ativa põem em xeque o futuro da Previdência alimentada pela contribuição dos mais jovens, que formam uma reserva para o pagamento das aposentadorias. Essa conta é historicamente deficitária no Brasil e em boa parte do mundo e constitui fonte de eterna preocupação dos governantes e dos 37 milhões de aposentados do regime geral, sem contar os do funcionalismo público.

Poesia | Dá-me a tua mão - Clarice Lispector

 

Música | Samba de Ôba - Moacyr Luz & Jorge Aragão