• Temer precisa acelerar mudanças já anunciadas para retirar o Estado do caminho da insolvência, a fim de que volte a confiança de investidores e consumidores
Os dados sobre desemprego e PIB, divulgados pelo IBGE em dois dias, terça e quarta, resumem a tragédia brasileira em curso de forma mais visível desde 2014, porém em gestação a partir do agravamento da crise mundial em fins de 2008, quando explodiu de vez a bolha imobiliária e financeira americana.
As ondas de choque provocadas pela ameaça de uma quebradeira bancária a partir da decretação da falência do banco Lehman Brothers chegariam ao Brasil por inteiro em 2009, na parte final do segundo governo Lula. Sob o pretexto de enfrentar a crise, e influenciado por Dilma, chefe da Casa Civil, o governo começou a estruturar o “novo marco macroeconômico”, que terminou explodindo as finanças públicas brasileiras — e o resultado aí está.
Embora informações sobre o desemprego e a recessão tenham sido divulgadas de forma separada, é claro que os dois dramas estão entrelaçados. Medido pela Pnad Contínua, nova e ampla pesquisa, o desemprego no trimestre encerrado em abril chegou a 11,2%, com aumento em relação aos 10,9% registrados no período de três meses fechado em março. É muito elevado, e o índice deverá subir ainda mais.
O número de abril significa que 11,41 milhões de brasileiros estavam procurando emprego sem sucesso. Em dois anos, 4,3 milhões de brasileiros ficaram desempregados, e mais de dois milhões mergulharam nas incertezas da informalidade. Pode-se imaginar o que isso significa em milhões de famílias, em termos de qualidade de vida e, especificamente, de estresse emocional. Também é possível pensar sobre o estrago social desta crise, já superior mesmo à decorrente da Grande Depressão, em 1929/30.
O PIB do primeiro trimestre do ano, revelado ontem, explica por que empregos dissolvem: em relação ao trimestre imediatamente anterior, o último do ano passado, ele retrocedeu 0,3%. Mas, em relação ao idêntico período de 2015, o tombo chegou a 5,4%. Neste conceito, é a oitava queda consecutiva. Em bases anualizadas, a recessão chegou a 4,7%. Firma-se a expectativa de a economia brasileira encolher, em dois anos, algo na faixa de 8%/9%, marca negativa inédita.
As taxas negativas trimestrais mostram um arrefecimento da tendência recessiva. O 0,3% calculado pelo IBGE chegou a ser um resultado melhor que a estimativa de departamentos de análise do mercado financeiro. Mas isso não anima, porque, na hipótese mais risonha, o PIB hibernará na estagnação.
Roga-se, portanto, que o governo Temer acelere o envio ao Congresso das devidas reformas e mudanças já esboçadas, cruciais para restabelecer a confiança de investidores e consumidores. Enquanto não houver a crença de que a relação entre a dívida pública e PIB deixará de escalar (ruma hoje para os 70%), em direção à insolvência do Estado, as engrenagens do crescimento não se moverão.