quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: José Álvaro Moisés

Não estou seguro que os responsáveis pelo País - incluindo meus colegas da universidade, como os cientistas políticos - estão se dando conta completamente das implicações e das consequências do retorno da violência na vida pública brasileira. Só não está vendo quem não quer que o clima de mal-estar com o funcionamento de algumas instituições democráticas - e também com o governo de Dilma Rousseff e do PT - está dando lugar a inúmeras iniciativas de ação direta que, antes de se apoiar no diálogo, na negociação e nas instituições de representação, adotam a violência como forma de protesto e de expressão válida.

Rostos cobertos em manifestações são sinal de reconhecimento de que se quer praticar atos ilegais, anti-humanos, da mesma forma que a prática da corrupção política mostra o desprezo pelas necessidades do povo e por regras de competição eleitoral equânime. Ambos são crimes contra a democracia. Mesmo sem exagerar o diagnóstico, o que está ocorrendo no Brasil contemporâneo assusta. O que têm a dizer os líderes da situação e da oposição sobre as incertezas do momento?

José Álvaro Moisés é professor de ciência política da USP, “Incertezas e apreensões com o momento político”. O Estado de S. Paulo, 12 de fevereiro de 2014.

MSTzaço na praça

Ativistas do MST e policiais entram em confronto na Praça dos Três Poderes. Ato ocorre na semana em que o Congresso debate projeto de lei que abre brecha para enquadrar manifestantes como terroristas

André Shalders, Daniela Garcia, Luiz Calcagno e Kelly Almeida

Menos de 24 horas depois de o projeto da chamada lei antiterrosismo ganhar corpo e voltar ao centro do debate no Executivo e no Legislativo, especialmente após a morte do cinegrafista Santiago Andrade durante protesto no Rio de Janeiro, a Praça dos Três Poderes foi palco de confronto entre policiais militares e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na tarde de ontem. Segundo a corporação, 30 PMs e pelo menos três manifestantes ficaram feridos. Até mesmo a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) teve de ser interrompida 

Os problemas ocorreram no dia seguinte à mudança de discurso da bancada do PT no Senado para adiar a análise da lei antiterrorismo — que abre brechas para o endurecimento das punições a manifestantes. Uma das intenções do partido, orientado pelo próprio governo, é evitar que movimentos sociais, como o MST, acabem sendo criminalizados.

Entre os policiais feridos, oito precisaram de cuidados especiais, pois sofreram cortes profundos e tiveram que passar por pequenos procedimentos cirúrgicos, como sutura, em um hospital particular da Asa Norte. Um deles chegou a receber 30 pontos. Segundo o capitão Aguiar, da assessoria de comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), todos tiveram alta por volta das 21h30.

A desproporção entre o número de policiais e o de manifestantes pode ter sido uma das causas da violência. Segundo o capitão da PMDF Marcos Henrique, que coordenava a operação, o efetivo no local era de apenas 250 PMs, além de 20 soldados do Batalhão de Choque. Já o número de manifestantes, de acordo com o MST, era de 15 mil pessoas. Em conversa com jornalistas, o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, se mostrou surpreso com os problemas. “O espaço público tem que ser preservado, eles sabem disso, nós combinamos tudo direitinho. Só houve confusão porque alguns correram na frente e derrubaram o alambrado.”

O tumulto começou por volta das 16h10, quando ativistas derrubaram parte das grades em frente ao STF. Vinte minutos depois, o mesmo problema ocorreu em frente ao Palácio do Planalto. O objetivo do grupo era ocupar a pista e construir barracas de lona, além de colocar cruzes de madeira no asfalto. A PM reagiu com armas de choque e spray de pimenta. O Batalhão de Choque foi acionado e, mesmo assim, outro grupo derrubou o que restava das grades.

Minutos depois, uma discussão entre os sem-terra e policiais foi o estopim para as agressões. O conflito começou quando um ônibus do MST estacionou na Praça dos Três Poderes. Do veículo, integrantes do movimento retiraram cruzes para pôr em frente ao Palácio do Planalto para lembrar assassinatos em conflitos rurais. Policiais militares bloquearam o local em que o material estava sendo descarregado. Segundo o motorista do ônibus, Alairton Vargas, 40 anos, um policial entrou dentro da cabine e puxou com força a chave da ignição. A chave acabou sendo quebrada.

Em volta dos policiais, estavam centenas de manifestantes reclamando que não poderiam utilizar as cruzes. Foi então que começou o confronto, e integrantes do MST começaram a arremessar pedras e cruzes de madeira.

Durante a ação, um PM acertou a cabeça de um jovem, que não teve o nome divulgado. Outro militante, identificado apenas como Daves, levou um tiro de bala de borracha. Médicos do movimento prestaram atendimento ainda no local da confusão. Marcelo Ramires, 20 anos, também ficou ferido. A mãe do jovem, Simone Ramires, 39, se queixou da reação da polícia. “Ele estava na frente, por isso apanhou, mas não estava desafiando ou jogando nada em ninguém. Eu estava por perto e corri. Quando vi, não estávamos mais juntos”, relatou.

A PM negou que o efetivo destacado para acompanhar a marcha tenha sido pequeno. “Tudo havia sido informado à polícia. Sabíamos de onde os manifestantes eram, eles não omitiram informações. Se tivessem conduzido o protesto normalmente, estaria tudo certo, mas eles partiram para o vandalismo”, disse o major Marcelo Koboldt, um dos responsáveis pelo policiamento.

Fonte: Correio Braziliense

MST protesta contra Planalto e Supremo; conflito deixa 32 feridos

Marcha em Brasília reuniu 15 mil pessoas; grupo rompeu grades do palácio e confusão parou sessão do Supremo

Erich Decat e Leonêncio Nossa 

BRASÍLIA - Uma marcha do Movimento dos Sem Terra (MST) realizada em Brasília nesta quarta-feira, 12, acabou em pancadaria na Praça dos Três Poderes, interrompeu a sessão no Supremo Tribunal Federal e levou a presidente Dilma Rousseff a agendar para esta quarta um encontro com seus integrantes no Palácio do Planalto.

O ato, segundo a Polícia Militar, reuniu cerca de 15 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. Ao todo, 30 policiais e 2 sem-terra ficaram feridos. De acordo com a PM, 8 policiais sofreram ferimentos graves e um militante do movimento foi detido.

Os manifestantes, que participam nesta semana do 6º Congresso Nacional do MST, na capital federal, reclamavam da "estagnação" da reforma agrária no País e gritavam palavras de ordem como "Dilma cadê a reforma agrária?" e "Dilma ruralista". Também seguravam faixas com os dizeres: "1.600 camponeses mortos", "Mensalão, julgamento de exceção", "STF, crime é condenar sem provas" e "Cadê o julgamento dos tucanos?". Foram registrados protestos também contra o uso de agrotóxicos e a espionagem americana.

Os sem-terra saíram no início da tarde do estádio Mané Garrincha e percorreram um percurso de cinco quilômetros até a Esplanada. O objetivo da marcha era entregar ao secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, um documento com os compromissos feitos pelo governo para a reforma agrária e que, segundo eles, não foram cumpridos.

Mas a entrega não foi tranquila. O tumulto começou quando um grupo de pessoas que estava na marcha e policiais trocaram empurrões. Durante o conflito, a polícia chegou a usar bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha. Já os militantes jogaram cruzes de madeira que portavam durante a marcha e pedras.

Em um segundo momento de tensão, um grupo de manifestantes derrubou grades instaladas em frente ao Planalto e arremessaram parte dos objetos e tonéis de plástico nos policiais. Com uso de gás de pimenta, os militares conseguiram fazer o grupo recuar.

A confusão levou o vice-presidente do STF, Ricardo Lewandowski, a suspender a sessão plenária de julgamentos. Por volta das 16h, ele anunciou que a segurança da Corte havia alertado que havia risco de invasão ao prédio. Do lado de fora da Corte, manifestantes derrubaram grades que isolavam o edifício. Seguranças e policiais, então, fizeram um cordão de isolamento para tentar impedir a invasão do tribunal.

Gilberto Carvalho acabou tendo de receber o documento em uma das vias de acesso ao Palácio do Planalto. Ele disse, após o tumulto, que a presidente Dilma Rousseff deve ter um encontro com líderes do MST hoje às 9h. No momento das manifestações, ela não estava no Palácio do Planalto, mas no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidente. "Você tem o risco de invasão do Planalto e aqui tem uma lei clara que ninguém pode nem obstruir a via muito menos adentrar o Palácio que é um símbolo do País", disse Carvalho.

O comandante da unidade da PM-DF, coronel Cesar, disse que um grupo de pessoas começou a agredir os policiais após derrubar uma grade que impedia o acesso à Praça dos Três Poderes. Ele ordenou que o grupamento de choque resgatassem 15 policiais que estavam sendo agredidos. No tumulto, um policial disparou um tiro para o alto.

O coronel disse não ser possível afirmar que o grupo que começou a agressão era de infiltrados ou do próprio movimento e que em nenhum momento a polícia interferiu na logística e no trajeto desenhado pelo MST. Segundo ele, os policiais feridos sofreram cortes na boca, no nariz e na cabeça. Segundo a PM, eles foram atingidos por pedras, pedaços de pau e barras de ferro e foram encaminhados ao Hospital de Base. Um dos policiais foi atingido por um rojão nas nádegas. Um militante foi detido.

‘Reforma paralisada’. Pela versão de João Paulo Rodrigues, da direção do MST, o confronto ocorreu porque alguns militantes sem-terra tentaram se dirigir a um ônibus para buscar as cruzes, que seriam utilizadas em um ato de protesto em frente ao Palácio do Planalto.
Outro dirigente do MST, Kelly Mafort, explicou os motivos dos protestos. "Viemos entregar um manifesto para a presidente Dilma porque a reforma agrária está paralisada. No ano passado apenas sete mil famílias foram assentadas. Do MST são 90 mil famílias acampadas."

Fonte: O Estado de S. Paulo

"Projeto antiterrorista é novo AI-5"

Valéria de Oliveira

“É realmente impressionante o nível de degradação a que chegou o PT”, disse o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), ao se referir ao apoio dos petistas a projeto que tramita no Senado que permite enquadrar como terrorista quem participa de protestos violentos. “Como bem qualificou o jornal Correio Braziliense, (a proposta) é o AI-5 padrão Fifa”, disse o parlamentar.

O ato institucional n° 5, baixado pela ditadura militar em dezembro de 1968, decretou o fechamento do Congresso Nacional e cassou garantias constitucionais, endurecendo ainda mais o regime de exceção instaurado no país com o golpe de 1964. “O governo do PT tem medo da sociedade brasileira e tenta construir uma legislação que lembra a ditadura”, observou Freire.

Para Freire, a proposta que está para ser votada no Senado “não constitui uma discussão séria para enfrentar a violência nas manifestações, até porque os atos que vêm sendo praticados nos protestos não são estranhos à legislação brasileira em vigor”.

Na avaliação do presidente do PPS, não é necessária uma nova lei para dar conta dos crimes praticados por manifestantes. “Prova disso é a prisão de dois manifestantes suspeitos de terem causado a morte do cinegrafista Santiago Andrade no Rio de Janeiro”, exemplificou.

A Polícia Civil do estado afirma ter provas da participação dos rapazes no crime e promete remeter à Justiça até a próxima sexta-feira o inquérito pedindo o enquadramento de Caio Silva de Souza em homicídio com dolo eventual e também a condenação por explosão em via pública.

Fonte: Portal do PPS

Eduardo cede a Marina em SP

Agência Folhapress

BRASÍLIA - O governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva selaram acordo para lançar um candidato ao governo de São Paulo, o que praticamente enterra a possibilidade de o PSB apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A decisão, tomada em reunião entre os dois em Brasília, anteontem, é a segunda alteração provocada por Marina nos planos do PSB.

Desde que aderiu ao projeto presidencial de Eduardo, em outubro, a ex-senadora vinha exigindo candidatos próprios nos Estados como forma de reforçar o discurso da nova política. Em Goiás, Marina conseguiu barrar aliança com Ronaldo Caiado (DEM), representante dos ruralistas e histórico adversário da ex-ministra.

Mas o pleito de Marina vinha se chocando em vários Estados com a articulação do PSB, que negocia apoio a outros candidatos. Era o caso de São Paulo, onde o partido integra o governo de Alckmin. Embora haja poucas chances de mudança, tucanos ainda tentarão convencer o PSB a não romper a aliança.

Da reunião entre Eduardo e Marina, participaram também o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, o vice-presidente do partido, Roberto Amaral, e os deputados federais Beto Albuquerque (PSB-RS) e Márcio França (PSB-SP). Esse último era o principal defensor do apoio a Alckmin.

Agora, França se apresenta como o candidato. É uma tentativa de barrar nomes defendidos por Marina, entre eles o do deputado Walter Feldman.

A mudança de planos do PSB em São Paulo é o mais significativo sinal da prioridade que Eduardo dá às posições de Marina. Melhor colocada nas pesquisas de intenção de voto à Presidência do que Eduardo, a ex-senadora indica ter a intenção de ser a vice na chapa.

Jornal do Commercio (PE)

Campos impõe a Marina nome do PSB para disputa paulista

Provável candidato do PSB diz a aliada que Márcio França será candidato; marineiros resistem ao nome

Isadora Peron e João Domingos

BRASÍLIA - O governador de Pernambuco e provável candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, avisou a ex-ministra Marina Silva de que o candidato do partido ao governo de São Paulo será o deputado Márcio França, presidente do PSB paulista. Após se reunir com integrantes da cúpula do PSB em Brasília na terça-feira, Campos ligou para conversar com Marina, que teria ficado de avaliar a indicação. Ontem, ela passou o dia em reunião com aliados para discutir o assunto.

Pela manhã, ao participar de evento em Salto (SP), Marina confirmou ao Estado que a coligação PSB-Rede terá candidato próprio em São Paulo, mas disse que o nome ainda não estava definido. Questionada se havia consenso na indicação de França, Marina afirmou que o deputado era uma das opções, mas que há outras sendo estudadas. "É um nome que está colocado, sem sombra de dúvidas. Mas outros nomes já tinham se colocado", disse a ex-ministra. Ontem, a Rede divulgou nota informando que a indicação ainda não foi definida.

O nome de França não é bem recebido pelos marineiros. Ele era o principal defensor do apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e chegou a ser cotado para ser o vice do tucano. Mas seus planos foram frustrados com a entrada de Marina no PSB, em outubro do ano passado, após o registro da Rede Sustentabilidade ser negado pela Justiça Eleitoral.

Quando Campos começou a dar sinais de que optaria pela candidatura própria no Estado, França passou a dizer que o nome natural era o dele. Como detém a máquina do partido no Estado, argumentava que sairia vencedor se houvesse uma prévia. Na terça-feira, Campos perguntou se a intenção dele se candidatar era verdadeira. Ele respondeu que não abriria mão da disputa e que, se quisessem lançar outro nome, seria preciso uma intervenção no diretório estadual.

A candidata dos sonhos de Marina era a deputada federal Luiza Erundina (PSB). Ela, no entanto, recusou o convite e embolou as negociações. No fim de janeiro, o vereador Ricardo Young (PPS), aliado de Marina, lançou-se ao governo paulista numa tentativa de pressionar o PSB a desistir de indicar França. Outro nome sugerido pela Rede era o do deputado licenciado Walter Feldman (PSB).

Resistência. Um aliado de Marina próximo à militância paulista da Rede diz que o grupo não aceitará França como candidato. Mesmo que Marina chancele a escolha de Campos, a Rede vai trabalhar por uma candidatura alternativa no Estado. A ideia é apoiar ou o candidato do PV, vereador Gilberto Natalini, ou do PSOL, filósofo Vladimir Safatle.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio corteja PSDB paulista de olho em vitória no estado em outubro

Senador deverá dar cargos na campanha a tucanos de SP para garantir amplo apoio no maior colégio eleitoral do país

Visitas do presidenciável ao estado têm sido freqüentes

Silvia Amorim

SÃO PAULO - As visitas feitas pelo senador e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, a diversas regiões do estado de São Paulo são apenas uma parte visível da estratégia montada pelo mineiro para garantir o engajamento total do PSDB paulista ao seu projeto eleitoral. Aécio tem apostado também em, pelo menos, outras duas frentes para viabilizar uma vitória na urnas no maior colégio eleitoral do país.

Uma delas é a distribuição de funções na equipe de campanha a tucanos paulistas. A outra iniciativa deverá ser confirmada em breve com o anúncio de que São Paulo será escolhido para sediar o lançamento da pré-candidatura de Aécio.

Os convites a paulistas para integrarem o núcleo da campanha têm sido feito aos poucos pelo senador. Algumas sondagens já foram confirmadas, como a indicação do deputado Carlos Sampaio, da região de Campinas, para a coordenação jurídica, e do ex-deputado Xico Graziano para comandar a área de redes sociais e internet. O ex-prefeito de Piracicaba Barjas Negri está auxiliando na elaboração do programa de governo para a saúde. Ele acompanhou Aécio a uma reunião mês passado na capital.

Para essa montagem, há um foco especial sobre aliados do ex-governador José Serra. O vereador Andrea Matarazzo deverá assumir um posto na coordenação da equipe de campanha na capital paulista e o senador Aloysio Nunes Ferreira é cotado para a coordenação nacional — se não for indicado para a vice de Aécio.

Os convites a paulistas são uma tentativa de envolver diretamente lideranças da sigla no estado na coordenação da campanha e evitar que se repita este ano o cenário de divisão partidária e de certo revanchismo das duas últimas eleições presidenciais entre o PSDB de São Paulo e Minas Gerais.

Além dos escalados para atuar na campanha, Aécio tem aproveitado toda oportunidade para fazer pedidos de engajamento a tucanos em São Paulo.

No caso do lançamento da pré-campanha, a data do evento ainda não foi definida, embora esteja previsto para o fim de março. A cúpula do partido espera uma decisão de Serra sobre seus planos eleitorais para acertar a data e o local. Seria importante, segundo aliados do senador, que Serra participasse do evento.

O ex-governador tem mantido conversas com lideranças do partido, mas, por enquanto, não anunciou a que cargo disputará a eleição — senador ou deputado federal. Interlocutores próximos dele já consideram uma possibilidade factível uma candidatura dele à Câmara dos Deputados. O PSDB vê essa como a melhor opção para o partido, já que, com uma votação expressiva, ele poderia ajudar a ampliar a bancada tucana.

— Eu reencontrei o Aécio num almoço semanas atrás em São Paulo depois de muito tempo que não nos víamos. Ele pediu para que eu sentasse à mesa e me pediu que trabalhasse pela candidatura dele no estado. Não foi um convite para integrar a equipe, mas um pedido de apoio político — afirmou o ex-deputado Arnaldo Madeira.

“Me deem a vitória em SP”
O que move Aécio a fazer a corte aos paulistas é a necessidade de vencer a eleição em São Paulo para ter um mínimo de chance de levar a Presidência da República. "Me deem a vitória em São Paulo que eu dou a vocês a Presidência da República". A frase tem sido dita por ele nos encontros regionais no estado com políticos e militantes do PSDB e mostra o peso que São Paulo terá para a candidatura de Aécio. O senador quer evitar que aconteça em São Paulo o que houve em Minas Gerais em 2010, quando o candidato do PSDB, José Serra, perdeu para a então candidata do PT, Dilma Rousseff, nos dois turnos.

A popularidade de Aécio ainda é baixa em São Paulo e está longe do patamar alcançado pelos presidenciáveis tucanos anteriores — Serra e Geraldo Alckmin — cerca de 40% dos votos válidos. O PSDB está monitorando com pesquisas periódicas o desempenho do mineiro especificamente no estado. A mais recente sondagem, em janeiro, sinalizou que Aécio teria chegado aos 19% das intenções de voto dos paulistas. Embora muito aquém da marca histórica dos tucanos, o dado foi comemorado.

— Atribuímos o crescimento dele no estado às visitas realizadas no interior. A nossa meta era chegar a esse patamar em maio. A orientação agora é prosseguir com as viagens até completar todas as regiões do estado — disse o presidente do PSDB em São Paulo, Duarte Nogueira.

Na próxima semana, Aécio estará no litoral sul do estado. Até o fim de março, visitará o Vale do Ribeira, região mais pobre do estado, e o Vale do Paraíba, uma das mais desenvolvidas. Com isso, concluirá o tour pelo estado nessa fase de pré-campanha.

Fonte: O Globo

Deputados do PMDB se rebelam

Inconformados com o espaço do partido na reforma ministerial, parlamentares da legenda ameaçam derrubar projetos prioritários para o governo federal que travam a pauta da Casa

No plenário, o PMDB pretende driblar o bloqueio da pauta com votação relâmpago dos projetos

BRASÍLIA – Em mais um sinal de insatisfação, a bancada do PMDB na Câmara decidiu ontem colocar em votação e derrubar os projetos prioritários para o Palácio do Planalto que travam a pauta da Casa. "Votar e derrotar, a menos que tenha consenso para votar em dois minutos", disse o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), para ilustrar a estratégia do partido para livrar-se dos projetos que tramitam em regime de urgência e, por isso, bloqueiam outras votações. Estão nessa situação o Marco Civil da Internet, a reserva de vagas para negros no concurso público, a destinação de recursos extras do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o setor habitacional, entre outras propostas.

De acordo com Cunha, a ideia é rejeitar as propostas sem consenso e, depois, reapresentá-las para uma nova discussão. Assim, os deputados estariam driblando a chamada urgência constitucional, que garante prioridade de projetos na pauta de votação. Se não forem votados, eles passam a bloquear a pauta da Câmara. Cunha afirmou que os parlamentares não podem continuar com a pauta trancada e há prioridades do Congresso para serem analisados, como a regulamentação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Domésticas.

"Tomamos a posição política de derrubar todo projeto que tem urgência para poder limpar a pauta", explicou. "Todos os projetos que estão trancando a pauta em regime de urgência, a nossa posição é votar e derrotar. E apresentar sem urgência constitucional", disse. E completou: "Não é que sejamos contra o projeto, queremos apenas limpar a pauta. A polêmica do Marco Civil pode levar esse projeto a ficar três semanas na pauta. E o que o governo quer no fundo é trancá-la".

O líder afirmou, no entanto, que não serão colocados projetos com impactos financeiros, que são conhecidos como pautas-bomba. "A questão é o direito do Parlamento de poder fazer a sua pauta, respeitando a responsabilidade de não colocar matérias que causem impacto fiscal. Queremos votar coisas importantes para a sociedade, como a regulação da PEC das Domésticas."

Ficou acertado ainda que na análise de vetos presidenciais o partido vai manter a posição adotada durante a votação do projeto no Congresso. "(A ideia é) manter a coerência do PMDB: Tudo o que votamos em plenário, votarmos igual nos vetos. O que votamos a favor mantemos, o que votamos a favor e vetaram, derrubamos."

Incomodada com espaço reservado por Dilma Rousseff ao partido na reforma ministerial, a bancada do PMDB na Câmara divulgou nota na semana passada criticando o governo e afirmando que não pretende indicar os substitutos para os dois ministérios hoje sob sua influência: Turismo e Agricultura. Segundo relatos de participantes, Cunha teria informado que o ministro Alozio Mercadante (Casa Civil) ofereceu ao vice-presidente Michel Temer no início da semana a manutenção do atual espaço do PMDB. A ideia teria sido descartada pela bancada. Os deputados mantiveram a posição de não indicar nomes para o primeiro escalão.

Embora nos microfones a decisão tenha sido anunciada sob o argumento de que o partido não quer mais ter sua imagem vinculada à disputa de cargos federais, nos bastidores o objetivo é tentar colocar o Planalto contra a parede e conseguir melhor resultado na queda de braço por mais espaço na Esplanada. "A conversa foi com Michel. Eu não poderia fazer a inconfidência de relatar uma conversa particular. Relatei para a bancada em porta fechada o que poderia relatar. Não mudou nada. A bancada não mudou uma vírgula. Só votamos o posicionamento em relação aos vetos, posição sobre marco civil", desconversou Cunha.

Fonte: Estado de Minas

PPS tem reunião com Campos para pedir apoio a candidatos nos Estados

Legenda quer coligação com a aliança PSB/Rede em três Estados; siglas também terão primeiro encontro para discutir diretrizes de programa de governo

João Domingos

BRASÍLIA - O PPS vai pedir ao PSB apoio a três candidatos do partido ao governo estadual em contrapartida à aliança fechada com o pré-candidato Eduardo Campos. Em reunião marcada para esta quinta-feira com o governador de Pernambuco, em Brasília, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), deve pedir que a coligação PSB/Rede dê apoio aos candidatos Eliana Pedrosa, no Distrito Federal, Eliziane Gama, no Maranhão, e Hissa Abrahão, no Amazonas.

Também nesta quinta dirigentes do PSB, Rede e PPS farão a primeira reunião para tratar de adequações das diretrizes para o programa de governo de Eduardo Campos, lançado na semana passada. Na sexta-feira, Campos terá reunião pela manhã com a direção do PPS, em que deverão ser acertados os primeiros passos para a campanha e as formas de atuação dos partidos nos Estados.

Apesar dos apelos do PPS para o apoio da coligação PSB/Rede a seus candidatos, não está certo que haverá acordo no Distrito Federal. O PSB quer lançar o senador Rodrigo Rollemberg candidato à disputa com o governador Agnelo Queiroz (PT). Eduardo Campos já disse que Brasília é um dos casos em que PSB, PPS e Rede poderão ter candidatos próprios. No caso, a Rede, que está abrigada no PSB e tem lastros em outros partidos, lançaria para o governo o deputado José Antonio Reguffe, do PDT.

Fonte: O Estado de S. Paulo

José Serra*: Apertem os cintos, o governo sumiu!

Governos existem para controlar as circunstâncias, não para ser controlados por elas; governos existem para irem adiante, e não atrás dos acontecimentos; governos existem para cercar as margens de erro, antecipando-se aos problemas, não para elaborar desculpas implausíveis; governos existem para informar-se sobre o futuro e as consequências dos seus atos - não com bola de cristal, mas com os dados objetivos fornecidos pela realidade -, não para confundir a embromação com o otimismo.

Isso tudo é querer demais? Pode ser. Mas, digamos, nosso problema principal não é o tamanho do superávit primário, a seca que vai subtrair água e energia, o tapering do Banco Central dos EUA ou as matérias de duvidosa qualidade da The Economist e do Financial Times, mais alarmistas que o devido. A questão essencial no Brasil de hoje é outra: a excessiva distância entre o que o governo deveria ser e o que é. Essa distância, que não para de se ampliar, é o nosso problema número um.

Estamos colhendo, literalmente, o que temos plantado. Quando plantamos direito - caso do agronegócio, que tem livrado o Brasil de um vexame na balança comercial dos últimos anos -, colhemos bons frutos. Quando plantamos o erro, o que se colhe é... uma safra de erros.

O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos, problema n.º 1 da economia brasileira, que a torna tão vulnerável às apostas do mercado financeiro internacional, tem como causa principal o déficit comercial do setor industrial, que no ano passado foi de espantosos US$ 105 bilhões. Essa situação resultou de uma escolha da política econômica lulista, muito especialmente a partir da crise internacional de 2008/2009.

Aqui e ali, multiplicam-se as críticas sobre a perversidade do farto financiamento do BNDES a alguns setores da indústria, algumas fundadas, outras nem tanto - e não vou entrar no mérito neste texto, a merecer outro artigo. Ou, ainda, há quem atribua isso ao "fechamento da economia", embora ela não pare de se abrir. A questão essencial, porém, é outra. O governo brasileiro assiste inerme a um processo de desindustrialização - a grande marca do governo Lula - que cobra um preço social altíssimo no médio e no longo prazos, já que é o setor que paga os melhores salários e que força com mais velocidade a especialização da mão de obra.

A escolha dos governos do PT foi torrar o dinheiro proveniente tanto dos altos preços das nossas exportações de produtos agrominerais como da abundância de capital externo barato. Como mencionou o professor Edmar Bacha, entre 2004 e 2011, tivemos uma farra econômica no Brasil: nada mais nada menos do que 25% do aumento do gasto doméstico foi financiado por esses dólares. Tudo para consumir e substituir produção doméstica. Pouco ou nada para fortalecer a competitividade da economia, elevando os investimentos públicos e privados e a oferta de bons empregos. Tudo para elevar a carga tributária que sufoca a produção e castiga proporcionalmente mais os setores sociais de menores rendas, via tributação indireta. Pouco ou nada para dar sustentação permanente à elevação do padrão de vida.

Pior ainda. O governo fez o possível para atrapalhar a Petrobrás, atrasar os investimentos em novos campos, travar as concessões de estradas, dentro de sua ideologia mais profunda: transformar facilidades em dificuldades. Isso nos privou de um precioso vetor de crescimento da economia, pelo lado da demanda e da produtividade.

A despeito das fanfarronices sobre a suposta agilidade do Brasil nos negócios externos, a verdade é que, das grandes economias, o Brasil é o único que não celebrou pactos comerciais bilaterais. Foram centenas no mundo nos últimos dez anos. O Brasil firmou só três: com Israel, Palestina e Egito... Ao contrário: continua amarrado ao Mercosul - o maior erro cometido pelo Itamaraty na sua história moderna, reiterado por cinco governos diferentes. E vejam bem: o estorvo essencial do Mercosul não vem dos Kirchners. É fruto da estultice da ideia de fazer dele uma união alfandegária, que suprimiu a soberania comercial no Brasil. Se, por exemplo, fizéssemos um acordo comercial com a Índia, seria preciso que todos os outros parceiros fizessem parte também... O País não se pode dar o luxo de acumular sucessivos, crescentes e escandalosos déficits na indústria sem considerar que está, obviamente, com problema.

Nada é tão deletério para nós, no que concerne ao futuro, como os erros de análise de perspectiva do governo brasileiro no que diz respeito ao cenário internacional. Tome-se o caso do atual estresse envolvendo a fuga de investidores - os de curto prazo - para EUA e Europa em razão da retomada do crescimento dessas economias: mais forte a americana; ainda modesta, na média, na zona do euro. Chega a parecer piada, mas é verdade: não faz tempo se falava por aqui numa verdadeira "guerra cambial" em razão da enxurrada de dólares que os EUA injetaram na sua economia. Foi uma gritaria danada. Agora que começa o movimento contrário e os dólares estão vindo menos, em vez de chegarem mais, ouve-se o mesmo alarido. Nos dois casos, há uma tendência de culpar os países ricos, mas a fragilização da nossa economia, tornando-a mais suscetível aos ataques especulativos no âmbito do sistema financeiro internacional, foi precisamente obra do governo Lula-Dilma.

Poderíamos ter-nos protegido dessa volatilidade? Se o ambiente fosse, por exemplo, mais favorável aos investimentos, em vez de o Brasil estar agora lamentando a retomada da economia americana e a melhora na zona do euro, estaria comemorando. E por dois motivos: porque investimentos realmente produtivos não fogem do País da noite para o dia e porque, tivesse uma indústria mais competitiva, estaria se preparando para disputar mercado. Ocorre que essas coisas não se fazem assim, no improviso, da noite para o dia. No fim das contas, é a incapacidade de planejar, ditada por uma leitura capenga do que vai pelo mundo, que nos leva a esse modelo que vai da mão para a boca.

Apertem os cintos. O governo sumiu!

*José Serra é ex-governador e ex-prefeito de São Paulo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Jarbas de Holanda: Autodefesa do PMDB e os palanques estaduais

As bancadas federais do PMDB, sobretudo a da Câmara mudando o tom das relações com o Palácio do Planalto e com o PT, de um lado complicaram o rearranjo eleitoral do Ministério, até o ponto de abrirem mão da continuidade de titulares do partido em pastas do enorme primeiro escalão. E, de outro lado, reforçaram a autonomia dos diretórios de vários estados para montarem ou integrarem palanques locais desvinculados da exclusividade de apoio à candidatura presidencial governista (como no caso do Rio de Janeiro), ou que poderão respaldar a do oposicionista Aécio Neves (como o do Ceará). Quanto ao Ministério, as duas bancadas rejeitaram (confirmando recusa do próprio indicado) convite da presidente ao senador Eunício Oliveira para uma dessas pastas, em troca de sua desistência de disputar o governo cearense em confronto com os irmãos Gomes e o PT e numa articulação com o PSDB de Tasso Jereissati. E para desqualificar os efeitos negativos de possível redução do espaço do PMDB no Ministério, o líder na Câmara, Eduardo Cunha, enfatizou avaliação já feita antes de que as pastas com titulares vinculados ao partido são, predominantemente, controladas por secretários-executivos ou assessores especiais da confiança direta da chefe do governo.

A esse choque com o Executivo soma-se o motivo principal da rebeldia dos peemedebistas: a percepção de ampla ofensiva do PT para reduzir e minimizar o papel político institucional deles por meio da conquista do controle da Câmara dos Deputados. Ofensiva apoiada na gestão pelo partido de pratica-mente todos os programas sociais do governo federal. Que se radicalizou com as reações dos petistas às posturas do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, a respeito dos desdobramentos das decisões do STF sobre o processo do mensalão. E reações que, por sua vez, ampliaram espaço, nas campanhas para a eleição de deputados e senadores petistas, para ataques à “imprensa burguesa” e à defesa de uma regulação “popular” da mídia.

Um sucesso dessa ofensiva, combinado com um aumento da representação de partidos “mais confiáveis” da base governista, debilitará o peso do PMDB, como força não esquerdista, na disputa do comando das duas Casas do Congresso. E tal combinação, tendo bons resultados, especialmente na Câmara, serviria a um objetivo importante do lulopetismo nos pleitos deste ano e futuros: manter e ampliar predomínio no uso do tempo de propaganda eleitoral “gratuita” e na distribuição dos recursos do Fundo Partidário, que dependem da composição partidária desta Casa.

Ao ex-presidente Lula está cabendo, certamente, o comando de articulações para contenção e possível reversão dos “estragos” no relacionamento do PMDB com o Executivo, bem como para afastar o perigo maior de reprodução deles na campanha reeleitoral de Dilma Rousseff. “Estragos”, político-administrativos e eleitorais, que, no caso deste relacionamento, são agravados pelo emergente antipeemedebismo dos petistas, mas transcende isso, refletindo a recorrente prepotência da presidente em relação ao Congresso e à própria base partidária governista. E “estragos” que, sem peso suficiente pelo menos até agora para pôr em xeque a presença do PMDB na aliança nacional para a reeleição, poderão esvaziá-la com significativa divisão do maior aliado. A qual, adicionalmente, estimularia a de outros partidos (PP, PDT, PTB) que Lula tentará limitar a todo custo.

Mas as alternativas de que essa divisão seja restringida ou ganhe ampla dimensão vão depender de condicionantes econômicas, sociais e políticas a se configurarem bem até as convenções partidárias do meio do ano. Entre as econômicas, aquelas ligadas à inflação, aos juros, ao comportamento do PIB, à qualidade e à credibilidade das ações do governo. Entre as condicionantes sociais – inclusive em manifestações de rua – os efeitos de provável agravamento dos problemas da economia e do precário gerencia-mento da máquina federal pela presidente/candidata. Entre as de caráter propriamente político, a capacidade, ou a incapacidade, das campanhas de Aécio Neves e de Eduardo Campos de capitalizarem a expectativa de mudança, que se afirma em crescentes camadas da população.

Jarbas de Holanda é jornalista

Demétrio Magnoli: Causa mortis

‘Não vamos parar, o poder é nosso!’, escreveu o Black Bloc RJ na hora da notícia do falecimento do cinegrafista

Santiago Ilídio Andrade era nossos olhos e nossos ouvidos. Sem o trabalho dele, e de tantos colegas seus, cinegrafistas, jornalistas, funcionários de apoio, não teríamos notícias — ou só teríamos versões das partes interessadas. O assassino de Santiago e seus cúmplices diretos, que compraram, transportaram e acenderam o rojão de vara, provavelmente não miravam o cinegrafista, mas os policiais. Contudo, sabemos pela palavra deles que devotam um mesmo ódio a jornalistas e policiais. Faz sentido: eles odeiam a democracia — e, deploravelmente, não estão sozinhos.

Santiago não é uma vítima “acidental”. Santiago é um cadáver circunstancial, mas anunciado desde as jornadas de junho. O que faziam, na periferia e na fímbria das manifestações, os vândalos, os depredadores, os mascarados? Eles abriam picadas no rumo de seu El Dorado: o sangue de alguém, qualquer um, policial, transeunte, jornalista, cinegrafista ou manifestante. “Abaixo a ditadura 2.0”, leio numa página de Facebook consagrada à propagação do vandalismo. Os covardes, rosto escondido, precisavam provar a tese que justificaria sua própria existência: a democracia é uma farsa, a máscara da ditadura.

Santiago teve seu crânio destroçado por um foguete ideológico. Os autores da tese não acenderam o rojão de vara, não o transportaram e não o compraram. Esses intelectuais de araque, que são as fontes de inspiração do assassinato, talvez nunca tenham se misturado a uma manifestação de rua. Eles circulam em esferas sanitizadas: universidades, ONGs, movimentos sociais, partidos políticos. Mas, enquanto a investigação policial desvenda os nomes de quem pode ser indiciado, cabe a nós decifrar as ideias que os mobilizam. O perigo está nelas: os pavios imateriais de foguetes ainda não lançados.

Santiago morreu porque, atrás dos assassinos, renasce uma velha teoria sobre a política e a democracia. As páginas eletrônicas dos black blocs definem a nossa democracia como um “Estado policial”. Um professor da FGV-SP, Rafael Alcadipani da Silveira, atribuiu a “estratégia da violência” aos “jovens das periferias”, “vítimas da violência cotidiana por parte do Estado”. A expressão “contraviolência” foi difundida por intelectuais radicais nas décadas de 1970 e 1980 para celebrar o método de “ação direta” empregado por organizações extremistas que, cindidas, dariam origem a agrupamentos terroristas como o Baader-Meinhof, na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. As fórmulas incendiárias daqueles intelectuais ressurgem entre nós, como frutos podres de uma crise política e moral.

Santiago está morto porque a fronteira entre a violência “simbólica” e a violência “real” só existe no pensamento depravado dos cultores da violência “simbólica”. Bruno Torturra, o chefão do Mídia Ninja, um “instituto” informal financiado com recursos públicos, definiu o Black Bloc como “uma estética” e fez a defesa da violência nas manifestações, “desde que dirigida aos bancos”. O filósofo-ativista Pablo Ortellado, um herdeiro ideológico dos arautos europeus da “contraviolência”, declarou sua paixão pela “ação simbólica” de depredação de uma agência bancária, um simulacro da “ruína do capitalismo” situado “na interface da política com a arte”. Mas por que eles nutrem uma obsessão exclusivista pelos bancos? O linchamento de um policial não poderia ser descrito como símbolo da “ruína da repressão de Estado”? O assassinato de um jornalista não anunciaria o almejado “controle social da mídia”?

Santiago morreu de excesso de violência “simbólica”, mas não apenas disso. “Não vamos parar, o poder é nosso!”, escreveu o Black Bloc RJ na hora da notícia do falecimento do cinegrafista.

A causa mortis tem ramificações complexas, que deitam raízes na condescendência nacional com a violência “justa”. A imprensa apressou-se, com razão e cumprindo seu dever, a denunciar as truculências policiais contra manifestantes pacíficos nos primeiros protestos de junho — mas custou a usar a palavra “vândalos” para qualificar os idiotas mascarados que se movem em busca de sangue. Um certo número de sindicalistas, alguns deles ligados ao PSOL, firmaram um pacto de aliança com os Black Blocs na greve dos professores do Rio de Janeiro. Numa nota asquerosa, mas típica, o Sindicato dos Jornalistas do Rio omitiu a origem do projétil que vitimou Santiago. Fora algumas honrosas exceções, não se ouviu uma palavra de condenação ao vandalismo sair da boca dos célebres “intelectuais de esquerda”.

Santiago é uma vítima, entre tantas outras não ligadas a manifestações, da inclinação do governo a produzir rimas entre “pobreza” e “violência”. Três meses atrás, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, anunciou que buscava “interlocutores” entre os black blocs para “compreender este fenômeno social” e entender “até que ponto a cultura da violência vivida na periferia já emigrou para esse tipo de ação”. O poderoso ministro, representação onipresente de Lula no governo Dilma, fala uma linguagem paralela à dos intelectuais engajados na justificação dos black blocs. “Cultura da violência”? “Fenômeno social”? Não, de jeito nenhum: o rojão que matou Santiago é um projétil político dirigido contra o alvo da democracia.

Santiago morreu porque damos ouvidos a Gilberto Carvalho, não a Reynaldo Simões Rossi, o coronel da PM espancado por uma chusma de covardes durante uma manifestação em São Paulo. Rossi disse que seu dever era respeitar os manifestantes e isolar a “minoria de criminosos e vândalos” que “se apropriam de manifestações legítimas”. Há algo de profundamente errado com um país incapaz de enxergar a face do mal, quando ela se esconde atrás da máscara de uma ideologia. A memória de Santiago exige que, finalmente, separemos os manifestantes dos vândalos — tanto nas palavras quanto nas ações.

Fonte: O Globo

Sergio Fausto* : Eleições 2014

Não faltam desafios para o próximo mandato presidencial. São vários os sintomas de que o "novo modelo de desenvolvimento", o "novo paradigma de política econômica", ou que nome pomposo se queira dar às políticas do atual governo, não têm produzido os resultados esperados. Há uma sensação generalizada aqui e lá fora de que estamos improvisando e empurrando decisões com a barriga. Até quando?

Diante desse quadro, segue-se a pergunta: apresentarão os candidatos à Presidência programas de governo que permitam ao eleitor compreender a visão que cada qual tem a respeito desses desafios e conhecer as escolhas políticas que cada um pretende fazer para enfrentá-los? Ou assistiremos novamente, como tem sido a regra nas últimas disputas, a uma campanha desprovida de conteúdo programático, reduzida a apelos publicitários relativos a reais ou supostos atributos pessoais dos candidatos e a vagas proposições de mais bondades a serem oferecidas (fantasiosamente sem custos e sem sacrifício de nenhum outro objetivo desejável) pelo futuro governo?

É certo que programas de governo devem ser traduzidos em linguagem mais acessível ao eleitor comum e que uma campanha para ser bem-sucedida deve mobilizar sentimentos em torno de uma simplificada ideia-força. Pelo menos assim reza a sabedoria política convencional no Brasil. Ela, porém, não apenas dificulta tornar mais informado o voto do eleitor, como também enfraquece o mandato recebido das urnas pelo eleito.

Quando o marketing substitui o programa, o mandato que sai das urnas sinaliza mal o caminho a seguir. Se, de um lado, o mandatário recebe um cheque meio em branco, de outro, ele se vê desprovido da legitimidade política que só um mandato mais programático lhe pode conferir. Esvaziado do confronto de ideias, o processo eleitoral perde assim, em grande medida, a dupla função de engajar o eleitor no debate sobre os rumos da gestão governamental (parte da educação para o exercício da cidadania) e de responsabilizar o eleito pela realização do programa apresentado, conferindo maior densidade política ao mandato recebido das urnas. Fosse maior a responsabilidade gerada pelo processo eleitoral, mais transparentes teriam de ser as negociações do presidente eleito na composição de sua maioria parlamentar, hoje feitas com base na troca de apoio congressual por cargos no Executivo. Sem nenhuma vinculação programática, essas negociações comprometem ainda mais a inteligibilidade do mandato recebido das urnas.

Em resumo, o confronto de programas nas eleições não é a panaceia para todas as imperfeições na nossa democracia, mas é uma condição essencial para fortalecer o nexo entre as preferências do eleitorado e as escolhas políticas do presidente eleito. Se ocorresse, ele reforçaria o mandato presidencial, como instrumento de delegação de poder, de um lado, e de ação política, de outro, dentro dos limites da legalidade e sem prejuízo do sistema de pesos e contrapesos que limita a vontade presidencial. Recorro a um exemplo próximo para fazer o contraste.

Recente eleição no Chile levou novamente à Presidência Michelle Bachelet. Ela apresentou ao eleitorado um bem articulado programa de governo. Comprometeu-se a expandir o ensino superior público e a pôr fim ao sistema eleitoral que restringe a representação de partidos menores e virtualmente força um empate entre direita e esquerda no Congresso chileno. Para financiar o ensino superior gratuito propôs um aumento de tributos, sobre as empresas, equivalentes a 3% do PIB. Disse o que ia fazer, explicou de onde tiraria os recursos para fazê-lo e conseguiu o apoio da maioria dos eleitores para realizar a sua proposta. A coalizão de partidos que a apoia conquistou também número suficiente de cadeiras no Parlamento. O governo de Bachelet está comprometido com a reforma do ensino superior e será cobrado por ela. Idem em relação à reforma eleitoral.

No Brasil, os candidatos em geral buscam se associar a ideias-imagens de compreensão instantânea e se refugiar em generalidades que não desagradem a nenhuma parcela significativa do eleitorado. Para públicos específicos a regra são as propostas ao gosto do freguês, não raro inconsistentes entre si: câmbio competitivo para a indústria, salário real mais alto para o trabalhador, mais recursos para o Bolsa Família e também para juros subsidiados para as empresas com acesso aos financiamentos do BNDES e ainda para o tomador de empréstimo do Minha Casa, Minha Vida e também e também..., numa adição quase infinita de bondades.

Há razões estruturais e históricas por trás da debilidade na formação do nexo eleitoral no Brasil - o País é regional e socialmente muito heterogêneo, a massa do eleitorado ainda é relativamente pouco escolarizada, os partidos são em grande número e pouco programáticos, etc. Nada disso, porém, exime os candidatos e as principais lideranças partidárias do País da responsabilidade de apresentar e se comprometer com programas de governo razoavelmente críveis e consistentes para o próximo período presidencial.

Governar é fazer escolhas, dizia Pierre Mendès-France, um grande político francês, ministro e depois adversário de De Gaulle. Escolhas terão de ser feitas para que o quadro de dificuldades crescentes que o Brasil enfrenta possa ser superado no próximo mandato presidencial: abriremos mais a economia, manteremos o Mercosul como está, retomaremos a discussão sobre a reforma previdenciária, criaremos alguma regra para a expansão do gasto corrente, enfrentaremos a regressividade do sistema tributário, daremos prioridade às energias renováveis?

Os candidatos e seus partidos têm a obrigação de ser claros quanto às escolhas que pretendem fazer, se eleitos, sobre essas e outras questões. É responsabilidade da imprensa e da sociedade exigir o cumprimento dessa obrigação.

*Sergio Fausto é superintendente executivo do iFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, é membro do Gacint-USP.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Angela Alonso: A intolerância ou o shopping e o aeroporto

A tolerância à brasileira pressupõe subordinação

No ponto de ônibus, o comercial da Fifa apela para "Star Wars": um time de futebol formado pelo robozinho C3PO e soldados da força de paz intergaláctica, anuncia que todos são bem-vindos à Copa. O cartaz evoca a longeva autoimagem dos brasileiros como tolerantes. A ideia de que aqui os conflitos não grassam com a força que ganham noutras partes é antiga. Por exemplo, quando tensões entre regiões ameaçaram seriamente cindir o país, no Império, formou-se um governo autointitulado "Conciliação".

A imagem se repete em escritos de intelectuais e discursos de políticos ao longo do tempo. Para ficar numa versão clássica, Gilberto Freyre argumentou que aqui vivemos num delicado e profícuo "equilíbrio de antagonismos". Isto é, enquanto noutras partes diferenças éticas e religiosas e subordinações sociais geram guerra aberta entre grupos, aqui a sociabilidade amornaria o conflito. Nosso jeitinho, o pendor para o diminutivo, para pessoalizar em vez de ir à regra, teriam tornado suportáveis e até amenas desigualdades sociais tão pronunciadas. Assim é que a empregada da casa é "quase uma pessoa da família", em linha com os escravos domésticos do Império. O "quase" aí faz a diferença. Indica que a distância entre uns e outros parece se anular, mas segue resguardada. Há afeto, desde que haja subordinação.

Esta elisão simbólica das diferenças via relações sociais funcionou longamente como colchão de amortecimento para desigualdades e hierarquias e ajudou a reproduzi-las. O mesmo se pode dizer da ascensão social pelo "talento". Louva-se a ida aos céus de alguns, por "excepcionais" - por exemplo, Silvio Santos, Lula, Pelé, Joaquim Barbosa -, apresentados como exemplares da possibilidade de ascensão para todos, independente de origem social, regional ou étnica.

Mas como fica esse princípio de tolerância quando, em vez de indivíduos avulsos, que surgem de tempos em tempos, há uma multidão de ascendentes simultâneos? No mínimo, o princípio trinca. Está às escâncaras o incômodo que esta ascensão produz nos estratos mais altos. Isto se viu nos shoppings, com os rolezinhos, como nos aeroportos, que, na opinião de uma professora universitária - veiculada nas redes sociais -, decaíram a rodoviárias. O incômodo assoma no espaço público, onde não se pode ignorar a presença ostensiva do que uma moradora de Higienópolis nomeou tempos atrás de "gente diferenciada".

Não cabe aqui discutir os mecanismos que possibilitaram o ingresso de milhões no universo do consumo, mas o fato é que, nos últimos anos, um estrato inteiro ascendeu. Mudança para a qual o bordão do ex-presidente, "nunca antes na história deste país", não exagera. O fenômeno vem sendo nomeado como "classe C". Termo impreciso porque se designa como classe grupo muito heterogêneo a partir de sua renda, quando classe designa sobretudo a partilha de uma experiência social, de um conjunto de vivências para além do consumo, que incluem formas de pensar, agir, sentir, se expressar. Não menos relevante, classe é um conceito relacional, existe por diferenciação e antagonismo, uma só tem sentido em relação a outra.

Por isso, usualmente, quando a distância social entre grupos diminui, os mecanismos de distinção social se sofisticam. Norbert Elias mostrou como isso aconteceu com a nobreza de corte francesa no século XVIII, que foi inventando maneiras cada vez mais rebuscadas de autoapresentação, uma etiqueta de difícil reprodução pelos ascendentes sociais. Pierre Bourdieu, tratando da França já no século XX, apreendeu o mesmo processo até no gosto artístico. Estudos deste tipo mostram que os grupos mais altos na hierarquia social, quando se sentem ameaçados, buscam novas formas de distinção, que podem ser novas formas de desigualdade.

Entram então em disputa os símbolos que permitem a cada indivíduo se localizar na hierarquia social. Parece que, no nosso caso, os shoppings e os aeroportos se revelaram dois espaços icônicos, por meio dos quais os grupos mais altos se distinguiam com clareza meridiana dos mais baixos. Consumo e viagens eram estratégias para demonstrar refinamento, sofisticação e traçar a linha entre elite e populacho. Mas quando muitos podem ter diploma universitário, comprar grifes e ir a Nova York, o prestígio que se auferia com essas prerrogativas se esmaece. O Tratado de Tordesilhas social, que divide os grupos, entra em risco. Agora é preciso diplomas com grife, shoppings "exclusivos", destinos exóticos, para não se confundir com a "massa".

Quando a renda por si não separa com nitidez, passam a relevantes formas sutis de diferenciação, como as maneiras - o modo de falar, andar, vestir - e os gostos - o musical, por exemplo. No caso dos rolezinhos e dos aeroportos, isto está no fulcro das reações. A tentativa dos shoppings de discriminar quem entra ou não se valeu desses critérios, os mesmos da professora da PUC em seu comentário jocoso no Facebook ("aeroporto ou rodoviária?") sobre a vestimenta de um passageiro de avião. O juízo estético opera como meio de exclusão, aponta a inadequação da posição social desses indivíduos. Supõe-se que ali estão por transgressores. Estão fora do lugar.

Aí voltamos à tópica do país sem preconceito, que está na propaganda da Fifa. A tolerância à brasileira vicejou enquanto a subordinação de certos grupos a outros estava não só bem definida no âmbito da economia como no dos costumes. Agora que estas distâncias encurtaram - e olha que seguem enormes -, a tolerância encurtou também. As reações exasperadas dos frequentadores usuais de shoppings e aeroportos em relação aos novos usuários o evidenciam. A visibilidade dos antes invisíveis, da "gente diferenciada", soa como insubordinação para grupos que se sentem ameaçados, a ponto de apelarem para a violência física, como em episódios homofóbicos recentes e no quase linchamento de um jovem negro.

Soa paradoxal que num país no qual já se pediu tanto por inclusão, por expansão de direitos e de prerrogativas, agora assomem no espaço público estas demandas por exclusão. Mudança gera conflito, mas não precisa gerar intolerância.

Angela Alonso é professora livre-docente de sociologia da USP, diretora científica do Cebrap

Fonte: Valor Econômico

Carlos Alberto Sardenberg: Entre caras de pau e pessimistas

Dentro do governo, dizem que a presidente sabe que seu modelo não funcionou e vai mudar. Mas não vai reconhecer isso

Janet Yellen não cai na categoria “cara de pau”, mas não escapa do grupo dos “pessimistas do fim do mundo” — conforme a classificação feita pela presidente Dilma na festa do PT na última segunda. Presidente do Fed, o banco central dos EUA, Yellen colocou o Brasil entre os cinco emergentes mais frágeis neste processo de mudança do cenário global. Mas não se meteu em política interna brasileira, nem sugeriu mudanças.

A categoria “cara de pau” se aplica mais a brasileiros, diretamente a políticos e especificamente ao governador de Pernambuco e pré-candidato a presidente, Eduardo Campos. Foi ele quem disse: o velho pacto político do PT já mofou e está na hora de o Brasil iniciar um novo ciclo.

Também é “cara de pau” o empresário Pedro Passos, sócio da Natura, que deu entrevista dizendo com todas as letras: “É preciso reconhecer que o modelo se esgotou e que precisamos lançar outro.” Mas Passos está associado a Marina Silva e, portanto, é classificado como “eleitoreiro”.

A categoria “cara de pau”, portanto, tem um propósito politico, enquanto a dos “pessimistas do fim do mundo” se aplica mais a economistas em geral, nacionais e estrangeiros. Caem nela todos aqueles que apontam desequilíbrios crescentes no Brasil.

Mas “cara de pau” cabe também a muitos economistas que, embora sem anunciar fim do ciclo político, entendem que, sim, um ciclo de política econômica terminou e é preciso fazer reformas profundas para sair da armadilha do baixo crescimento.

Delfim Netto, por exemplo, embora amigo do Planalto e embora faça questão de ressalvar que o Brasil está longe do fim do mundo, acaba classificado entre “cara de pau” e “pessimista”. Pode ser embaraçoso, mas é ali que o coloca a tese exposta em recente artigo para o “Valor”. A tese: estamos num fim de ciclo na economia mundial e especialmente para os emergentes, isso apanhando o Brasil com três desequilíbrios importantes e crescentes, a saber, dívida pública elevada, inflação alta e persistente e déficit nas contas externas “longe de ser saudável”.

Ora, esses são justamente os três fundamentos macroeconômicos que Dilma considera “sólidos”, de uma solidez tão evidente que só não vê quem é cara de pau ou quer jogar o Brasil no fim do mundo.

O ataque se dirige, claro, aos economistas considerados de oposição militante, mas atinge mesmo aqueles que estão longe da hostilidade ao governo Dilma e até acreditaram que ele poderia ter êxito.
Yoshiaki Nakano, por exemplo, também escreveu no “Valor” que se esgotou o ciclo da bonança externa (que propiciou o salto nas exportações de primários), que essa bonança não foi bem aproveitada — muito consumo e pouco investimento — e que, logo, já está passando a hora de “vigorosas reformas”.

E para não ficar apenas nos nacionais, acrescente-se aos “pessimistas do fim do mundo” o americano Dani Rodrik, que é, por assim dizer, um amigo dos emergentes. Pois ele está dizendo que os emergentes, depois de terem sido empurrados montanha-russa acima, estão na iminência da descida. E o Brasil está no primeiro banco.

O chamado mercado diz a mesma coisa a seu jeito: a bolsa brasileira foi a que mais caiu entre os emergentes, o risco Brasil subiu e o real desvalorizou.

O leitor e a leitora podem encontrar muitos outros exemplos pelo noticiário local e internacional. Perceberão que o número de pessimistas e caras de pau é crescente. E que, no exterior, a má vontade em relação ao Brasil é maior do que sugerem os fatos.

Na verdade, é exagerado dizer que o Brasil é o segundo pior dos emergentes, ficando apenas atrás da Turquia. A macroeconomia e a política mostram que o Brasil está menos vulnerável que Índia e África do Sul, para ficar nos Brics, e sequer se compara aos desastres de Argentina e Venezuela.

Mais importante: graças ao consistente arcabouço de macroeconomia construído desde a introdução do real, o governo brasileiro tem instrumentos mais eficientes para agir e corrigir os desequilíbrios.

O pessoal reconhece isso. Não está aí a má vontade. Está em outro lado: caras de pau e pessimistas desconfiam que Dilma, cuja administração enfraqueceu os fundamentos, não vai reconhecer erros e fazer mudanças.

Dentro do governo, alguns dizem que a presidente sabe que seu modelo não funcionou e vai mudar. Mas não vai reconhecer isso.

Aí fica difícil, não é mesmo? Política é confiança. Sem direção clara, o pessoal não embarca. Aliás, para Dilma, os críticos embarcaram, mas foi para o fim do mundo e “isso faz tempo". Parece que só ela está no começo dos tempos. Começo de quê?

Fonte: O Globo

Almir Pazzianotto Pinto* : 'É proibido gastar'

Nesta nação desmemoriada, em que persiste o analfabetismo, que engrossa a legião dos desonestos e alienados, é necessário remarcar, com insistência, episódios esquecidos. A crise do sistema de ensino, aliada à política de desinformação praticada pelo governo petista, relega ao esquecimento fatos da História e abre espaço a terroristas, corruptos e picaretas, festejados como heróis.

Passadas três décadas desde a vitória de Tancredo Neves para a Presidência da República, milhões pouco sabem do período 1960-1990, sendo comum encontrar quem imagine ter sido o PT responsável pela derrota, em 15 de janeiro de 1985, do candidato oficial, Paulo Maluf.

Tancredo pertence a reduzido grupo de estadistas. Lançou-se na vida pública em São João del-Rei, em 1933, pelo antigo Partido Progressista, fundado por Olegário Maciel, Antonio Carlos Ribeiro de Andrade e Venceslau Brás. Vereador, deputado estadual, deputado federal, ministro da Justiça de 1951 a 1954, foi orador à beira do túmulo de Getúlio Vargas, em São Borja, cujo suicídio, no dia 24, gerou a crise que resultaria dez anos depois no movimento de 31 de março.

Grande ao longo da vida, Tancredo agigantou-se em 1984. Derrotada a emenda constitucional que restabeleceria eleições diretas para a Presidência, restou à oposição arriscada disputa no colégio eleitoral.

Discursos reunidos no livro Tancredo Neves - Sua Palavra na História revestem-se de atualidade. Os problemas levantados durante a breve campanha eleitoral permanecem como então se achavam: insolúveis. E 11 anos de petismo só fizeram agravá-los.

José Sarney recebeu o País em precárias condições econômicas e sociais. Fez o possível, sob o bombardeio de milhares de greves, que somaram milhões de horas de produção perdidas, e de serviços públicos interrompidos, em prejuízo da economia, dos salários, do povo. Tentou três vezes, mas não derrotou a inflação. Fernando Collor de Mello foi abatido mal havia decolado. Itamar Franco aplainou o terreno para o Plano Real, que estabilizou a moeda, conteve os preços, zerou a inflação.

A Aécio Neves o destino reservou a missão de levar adiante a tarefa de reconstruir o País desejado pelo avô. Empenhou o futuro político no desfecho do próximo pleito.

Os derradeiros discursos de Tancredo consubstanciam, em linguagem serena e objetiva, autêntico programa de governo. Deixarei de lado parágrafos referentes a saúde, educação, transporte, relações internacionais, austeridade, combate à corrupção, recuperação da economia para me deter na área do trabalho, prioridade máxima de governo consagrado à tarefa de repor o Brasil na rota do desenvolvimento e lhe devolver a industrialização e prestígio internacional.

Antes, porém, rápida parada no discurso proferido em 1984, na Convenção Nacional do PMDB (o antigo, não esse que está aí), ao se referir à formação da Aliança Democrática: "Temos de compreender a verdade essencial do nosso pacto político. Nós o estabelecemos em favor da nossa gente. O Brasil que amamos não é entidade abstrata, feita apenas de símbolos, por mais que os veneremos. O Brasil que amamos está em cada coração e em cada alma de seus filhos. Restaurar, em seus olhos, o orgulho da Pátria é a missão que nos cabe. A soberania do País é a soberania de seu povo; a dignidade do País é a dignidade de sua gente".

Quão distinta dos negócios que se fazem agora, mediante a entrega de ministérios em troca de segundos de televisão.

No mesmo pronunciamento, a respeito da CLT observou Tancredo: "As relações entre capital e trabalho reclamam novo ordenamento jurídico. A Consolidação das Leis do Trabalho é um diploma envelhecido no arbítrio, que desserve aos empregados e não serve aos empresários. O código vigente só tem servido para iludir trabalhadores e intranquilizar empresas. Não há economia forte com sindicatos fracos. A autonomia sindical é imprescindível à construção democrática do País. Os sindicatos, quando no exercício das suas atividades legais, existem como legítimos instrumentos dos trabalhadores, e sem eles não há paz social".

Falando ao País após a vitória no colégio eleitoral, dirigiu-se aos assalariados para afirmar: "Retomar o crescimento é gerar empregos. Toda a política econômica de meu governo estará subordinada a esse dever social. Enquanto houver, neste país, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa".

Já no discurso redigido para o dia da posse tratou da liberdade sindical, tendo a audácia de registrar: "Os sindicatos devem ser livres. A unidade sindical não pode ser estabelecida por lei, mas surgir naturalmente da vontade dos filiados. Sendo assim, tudo farei para que o Brasil adote a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho. Os sindicatos não podem submeter-se à tutela do governo nem subordinar-se aos interesses dos partidos políticos. Se devemos ter uma política sindical, temos que evitar qualquer sindicalismo político".

Escândalos decorrentes de relações promíscuas entre governo e sindicatos confirmam Tancredo e robustecem a necessidade da reforma sindical. O pelego entrava a geração de empregos, pois desencoraja aplicações em atividades geradoras de emprego.

Aécio deve dar continuidade ao projeto do "Estado moderno, apto a administrar a Nação no futuro dinâmico que está sendo construído". Poderá adotar como emblema a frase "é proibido gastar", encontrada no discurso do avô ao novo Ministério.

A Nação sabe que nunca se esbanjou tanto, e de maneira tão irresponsável, dinheiro do povo como em 11 anos de petismo. Vejam-se as viagens e os estádios da Copa.

*Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Michel Zaidan Filho: A nova politica

"A nova Política" é o nome de ma coletânea de artigos, palestras, discursos e documentos oficiais", de autoria do ditador Getúlio Vargas, editada durante o período de vigência do Estado Novo. Muitos escritos pelo seu "ghostrother" Marcondes Filho. Os vitoriosos do movimento civil-militar de 1930 adotaram essa terminologia para se diferenciar dos políticos "carcomidos" da chamada República Velha ou a Primeira República.

Coincidência ou não, um dos prováveis candidatos à Presidência da República, nas eleições desse ano, adotou como lema do seu programa o mesmo título (A Nova Política). Curiosamente, há mesmo pontos em comum entre o chefe do Estado Novo e o discurso poticiamentenovo do candidato. Senão, vejamos.

O caráter profundamente autoritário da ideologia estadonovista, aliado a uma profunda convicção modernizadora, que colocou de lado a representação parlamentar, cercando-se de burocratas para administrar o país. Inspirado no fascismo de Mussolini, Vargas implantou um regime policial no Brasil, criminalizando toda forma de protesto social. Os sindicatos transformaram-se em agências de prestação de serviço de saude e/previdenciário, sendo estritamente controlado pela policia. Fazer oposição à Ditadura varguista foi quase impossível. Que o diga Gilberto Freyre, preso mais de uma vez pela polícia política de Agamenon Magalhães.

A propaganda fascista ou para-fascista, destinada a produzir o "consenso máximo" entre as pessoas, com o auxilio da Igreja, e da incitação anti-comunista. Na nova versão, o discurso (e as práticas) do candidato à ditador pretende alcançar o "consenso" dos desavisados, usando a propaganda institucional dos atos de governo para fazer a população "vestir a camisa" da gestão, seja através do futebol, seja pelo carnaval, pelas procissões religiosas, pelo nome dos familiares espalhados nas praças, avenidas, hospitais e ruas, ou seja pela onipresença na mídia através de "factóides". Confirma-se, nesse caso, a tese de conhecido teórico,de que a emergência dos novos meios de reprodução tecnológica da cultura fêz dos políticos atores, demagogos e ditadores. A espetacularização da política só esconde o seu conteúdo conservador, anti-democrático, anti-popular.

O conteúdo "moderno" da gestão: a socialização das perdas e a privatização dos lucros. Política hobinhoodiana de cabeça para baixo. Tirar de quem não tem (pela renúncia fiscal e outras benesses governamentais) para dar a quem já tem muito. E tudo em nome do desenvolvimento, da produção de riquezas, de atração de novos investimentos etc. Ou ainda, colocar o aparelho público a serviço da acumulação privada de capital. O estado gasta milhões na infra-estrutura da cidade e da região, para depois as empresas se estabelecerem, sem pagar nada e ainda beneficiadas com renúncia fiscal.

Onde certamente, a ditadura do Estado Novo se diferencia desses "novos" administradores é no caráter da prestação dos serviços de utilidade pública. Enquanto Vargas estatizou a prestação dos bens de utilidade pública e legalizou as relações de trabalho no Brasil, através da instituição da carteira de trabalho e da legislação trabalhista, o novo e moderno gestor se distingue pela privatização branca das políticas sociais, com a ajuda "desinteressada" do terceiro setor, e aposta na precarização das relações de trabalho no estado.

Há quem diga que é das coalizações políticas centralizadoras no Brasil que as mudanças são possíveis. Mas essa ditadura disfarçada dos novos gestores não traz ou apresenta absolutamente nada em favor dos mais pobres e miseráveis. Seu conteudo é privatizante. Seu involucro ou embalagem é fascista ou para- fascista.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

Eliane Cantanhêde:Mais médicos... nos EUA

A deserção de médicos cubanos –sabe-se lá quantos são– é um novo obstáculo na reaproximação Brasil-EUA.

Antes de negar publicamente a concessão de asilo ao delator Edward Snowden, Dilma Rousseff mandou o chanceler Luiz Alberto Figueiredo telefonar para a embaixadora americana, Liliana Ayalde, dizendo que essa era uma decisão cristalina, irrevogável. O Departamento de Estado, obviamente, gostou tanto da decisão quanto da deferência.

Agora, seria a hora da contrapartida, mas ela não está sendo como o Brasil gostaria. Pelo contrário, ao pular fora do Mais Médicos, a cubana Ramona Rodriguez imediatamente pediu visto para ir aos EUA. Dias depois, soube-se que seu colega Ortelio Jaime Guerra não apenas pediu o visto, como o obteve e até já estava "a salvo" em solo norte-americano.

O imbróglio diplomático é, portanto, triangular. Os médicos saem de Cuba, vêm para o Brasil embolsando míseros US$ 400 (em torno de R$ 1 mil) e escapolem pelas fronteiras, graças à mão amiga da embaixada americana, para um programa dos EUA feito especificamente para acolhê-los. O Itamaraty se comporta como se não fosse com ele, e talvez não seja mesmo.

Vejamos: quem negociou o pacote com Cuba, via Opas (Organização Pan-Americana da Saúde, da ONU), foi o Ministério da Saúde, com o beneplácito e até o estímulo do Planalto. Não é segredo para ninguém que, desde Lula –e lá se vão mais de dez anos– as negociações entre Havana e Brasília são como brigas de marido e mulher: ninguém mete a colher. Nem mesmo o Itamaraty, que, geralmente, é o último a saber.

Por isso, hoje a atenção máxima do governo está exatamente nos cubanos que estão desertando. Eles não só esgarçam a bandeira eleitoral do Mais Médicos como criam constrangimento com Havana e aumentam a desconfiança brasileira com os EUA –que já não é pouca.

Mas não foi por falta de aviso.

Fonte: Folha Online

Ricardo Noblat: Quem tem pele tem medo

A quem interessa a ação de vândalos que destroem o que encontram pela frente e até matam de propósito ou sem querer?

Interessa a partidos de extrema esquerda. Eles querem chegar ao poder a qualquer preço.

Sem bandeiras capazes de atrair votos no curto prazo, apelam para a violência. E alguns dos seus integrantes chegam ao ponto de financiá-la.

A ação dos vândalos naturalmente interessa também a eles próprios. São pessoas despolitizadas. Muitos recebem dinheiro para fazer o que fazem.

Quanto à direita...A direita nada teria a ganhar com a baderna. Pelo simples fato de que ela governa junto com o PT.

Nada mais parecido com um conservador do que um liberal. Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva têm interesses comuns. Quem chega ao poder quer conservá-lo. Se puder, não sairá dali jamais.

Por fim, a violência não interessa ao governo. Porque o ameaça e desgasta. Ele é obrigado a usar a força para tentar contê-la.

A violência que ameaça o governo, todavia, poderá ajudá-lo. Pois quem tem pele tem medo. Por que participar de passeatas me arriscando a ser agredido?

Prefiro ficar em casa acompanhando tudo pela televisão. Serei um a menos nas passeatas. O governo agradece.

Em tempo: cerca de 20 mil militantes do Movimento dos Sem Terra marcharam, ontem, pela Esplanada dos Ministérios. Acusaram o governo de não levar adiante a reforma agrária.

Por cautela, o Supremo Tribunal Federal suspendeu sua sessão. Na Praça dos três poderes, sem terra derrubaram grades e ameaçaram invadir o Palácio do Planalto. O Movimento é aliado do PT. Órfão de Lula.

O espetáculo de intolerância serviu para demonstrar que o uso da violência não é exclusividade dos que combatem o governo.

Fonte: Blog Noblat

Dora Kramer: Olhar estrangeiro

Até junho do ano passado os Estados Unidos trabalhavam com a reeleição certa da presidente Dilma Rousseff. Desde os protestos, contudo, os informes enviados a Washington pela via diplomática consideram o cenário "em aberto".

Antes, previam-se mudanças no poder central só a partir de 2018. Agora se leva em conta a hipótese da alternância - em moldura remota - já em 2014.

Nessas avaliações, Dilma continua sendo considerada como favorita, com vaga assegurada no segundo turno. Mas, da constatação de que será uma eleição competitiva para a oposição surge a dúvida sobre quem será o oponente com mais chance de derrotá-la: Aécio Neves ou Eduardo Campos?

O interlocutor, representante do governo americano em uma capital dos três maiores colégios eleitorais do País, esquiva-se de quaisquer questionamentos sobre preferências.

Os Estados Unidos relacionaram-se bem com os governos Fernando Henrique, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff. Quanto a este, uma ressalva: "Com alguns problemas".

Nada, no entanto, que sugira torcida contra. A preocupação é objetiva: em que termos, em qual clima, com qual grau de agressividade ocorrerá uma campanha eleitoral no ambiente conturbado de evidente "mal-estar" (palavras dele) da população e com perspectivas nada animadoras para a economia, embora a baixa taxa de desemprego seja vista como ponto a favor.

Não existe a apreensão dos meses anteriores à eleição de Lula no ano de 2002. Há, sim, curiosidade sobre os desempenhos dos oposicionistas e uma indagação: sendo ambos representantes de linhagens políticas tradicionais e eles mesmos políticos profissionais, isso não poderia ser uma desvantagem diante do desejo da população por algo novo, distante dos partidos que alvo de rejeição?

O problema do "outsider" carismático é que no Brasil não deram em boa coisa. O americano lembra-se bem do desfecho dos governos Jânio Quadros e Fernando Collor, mostrados ao eleitorado como pessoas apartadas da política. Em alguma medida tal característica está na origem dos problemas enfrentados pela presidente Dilma.

Ante a constatação, o diplomata apenas sorri. Não concorda nem discorda. Seu governo, diz, só observa. Mais intrigado com o transcorrer da campanha e a coincidência da Copa, do que propriamente preocupado com quem vencerá. Qualquer um dos três estará bem, conclui, como convém aos meios e modos diplomáticos.

Agora, a vez de invertemos a curiosidade: no radar do governo americano está a possibilidade de o ex-presidente Lula vir a ser candidato no lugar de Dilma? O diplomata responde por si e, se instado a manifestar sua opinião aos superiores, diria que não. Avalia que seria imprudente Lula pôr em jogo o capital que conseguiu durante dois governos brindados com condições externas favoráveis, para se arriscar a perdê-lo em meio a uma nova situação adversa.

Ademais, o ex-presidente já não é visto como dono da mística de outrora. Perdeu parte do encanto.

Livre pensar. Discordar da apresentadora de telejornal que diz compreender o ato selvagem de se amarrar um ser humano nu a um poste porque o Estado falha na segurança pública é inerente ao exercício do contraditório.

Pretender transformar em crime a opinião da moça é um exagero tão equivocado quanto. Ela foi rasa no raciocínio? Foi. Não atinou para o fato de que corroborava a execução de um crime? Não. Aliou-se aos impulsos da maioria, quando seu papel seria o de buscar o ponto de equilíbrio? Sim. Mas, o pensar e se expressar não configura ilicitude. Ainda que determinados raciocínios não façam a devida distinção entre a defesa da legalidade e a aceitação da lei da selva como substituta das carências do poder público.

Fonte: O Estado de S. Paulo