O Estado de S. Paulo / Aliás
Professor da USP, cientista político e
ex-ministro da Cultura deixou legado para o País
O professor Francisco Weffort dedicou
a sua vida e a sua carreira acadêmica à defesa da democracia. Desde os seus
primeiros estudos sobre o populismo, a sua obra abordou, a partir de diferentes
perspectivas analíticas, as questões mais fundamentais do devir e do
funcionamento do regime democrático em condições históricas adversas, como têm
sido as do Brasil. Nos seus principais livros e artigos sobre o tema,
Weffort tratou da natureza multidimensional do fenômeno democrático, e sem
recorrer a qualquer definição maximalista, tomou por referência a noção
relativamente consensual na ciência política contemporânea, segundo a qual a
democracia supõe, antes de tudo, o império da lei, ao qual se subordinam – ou
devem se subordinar – governados e governantes, e ainda a liberdade dos
cidadãos para se organizar e competir de modo pacífico pelo poder, e o direito
de escolha dos eleitores, através do voto, tanto das condições de constituição
do poder, como da definição de políticas públicas demandadas pela
sociedade.
Sua leitura do processo democrático - visto
como uma cose a fare desafiadora, no sentido preconizado por Maquiavel, ou
seja, como uma inconclusa construção a ser feita -, implicou desde o início no
diagnóstico crítico das desigualdades sociais e na defesa da justiça social.
Seu ponto de partida para a consideração desses elementos como atributos
mínimos e essenciais da democracia de qualquer tempo ou de qualquer lugar em
que o regime exista ou tenha existido foi a noção toquevilliana de egalité de
condition, segundo a qual o regime democrático só se realiza plenamente quando
as pessoas comuns são reconhecidas como indivíduos portadores de direitos
iguais e compartilhados.
Em seus primeiros textos sobre o populismo
dos anos 50 e 60, Weffort buscou responder ao duplo paradoxo do fenômeno que,
segundo ele, se caracterizava pelo fato de que setores dos grupos dominantes
que tinham ascendido ao poder a partir da Revolução Liberal de 1930 promoviam a
participação política das massas populares sob a condição de que, nessas
circunstâncias, elas se constituíssem em fator de legitimação política, mesmo
que precário, de um regime em que, de outro modo, elas eram dominadas.