Risco da nova política industrial é repetir erros da velha
O Globo
Histórico recomenda ceticismo sobre os planos
do governo de investir R$ 300 bilhões até 2026
O governo abriu ontem mais um capítulo na
longa história das políticas industriais brasileiras. Desta vez, o
plano se chama Nova Indústria Brasil e prevê financiamentos da ordem de R$ 300
bilhões até 2026, a maior parte do BNDES. É verdade que o mundo
tem sido palco de uma nova onda de ações governamentais para reavivar a
indústria. Mas o pretexto da “onda global” não necessariamente justifica as
medidas. O governo amontoou diversos objetivos num só plano: quer reduzir a
pegada de carbono, obter autonomia em tecnologias de defesa, aumentar a
participação da agroindústria, transformar digitalmente as empresas etc. Não
disse, porém, como cada um desses objetivos se traduzirá em benefícios e
incentivos.
Fortalecer a indústria é sonho antigo dos governantes. No mundo emergente, a industrialização sempre foi vista como elevador para o desenvolvimento. No Brasil, a desindustrialização aconteceu antes de o país ficar rico. No começo dos anos 1990, o setor industrial ocupava 23% da mão de obra. Hoje ocupa 19%. A redução se deve a uma combinação de fatores internos e à conjuntura global. O Brasil não foi o único país a sofrer desindustrialização, nem o mais afetado. Na Coreia do Sul, a mão de obra industrial caiu de 36% do total em 1991 para 25%. Nos Estados Unidos também, de 23% para 19%.