terça-feira, 10 de novembro de 2015

Opinião do dia - Marco Antonio Villa

As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.
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Marco Antonio Villa é historiador. ‘A crise tem nome: Lula’. O Globo, 10 de novembro de 2015.

PF investiga ex-assessor da Casa Civil em propina para campanha de Dilma

• Doleiro afirmou ter entregue R$ 2 milhões em 2010 em hotel em São Paulo e principal suspeito da força-tarefa é Charles Capella de Abreu, que trabalhou com ex-ministro Antonio Palocci e permaneceu no governo federal até 2014

Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O pagamento de R$ 2 milhões feito pelo doleiro Alberto Youssef, em 2010, a pedido do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa é o caminho que a Operação Lava Jato trilha para chegar ao suposto uso de dinheiro de propina na campanha da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff. O pagamento envolveria um pedido do ex-ministro Antonio Palocci, que foi coordenador da campanha presidencial do PT naquele ano e um ex-assessor especial da Casa Civil Charles Capella de Abreu.

Youssef – peça central da Lava Jato – detalhou em novo depoimento prestado à Polícia Federal no dia 29 de outubro o pagamento que fez em dinheiro vivo no Hotel Blue Tree, na Avenida Faria Lima, em São Paulo, a um emissário que ele não sabe dizer quem era. A suspeita dos investigadores recai sobre Charles Capella de Abreu.

“Tal pessoa tinha a cor de pela branca, estatura média alta, sendo um pouco mais alto que ele, que tem 1 metro e 71 centímetros, compleição física normal, mas se tratando de pessoa obesa ou de barriga saliente”, descreveu o doleiro.

O suspeito recebeu Youssef em um quarto do hotel, conta o doleiro, que disse não se lembrar exatamente o mês, nem o dia, possivelmente “no período de junho a outubro de 2010″. “Os R$ 2 milhões determinados por Paulo Roberto Costa a tal pessoa foram entregues em uma ou duas malas pequenas, do tipo daqueles que se leva como bagagem de mão em vôos comerciais”, afirmou Youssef ao delegado Luciano Flores de Lima, da equipe da Lava Jato.

“Esclarece que pode ter sido uma mala pequena, com alça telescópica, e uma maleta, como costumava fazer para transportar essa quantidade de dois milhões de reais em notas de R$ 100,00, como foi no presente caso”, anotou a PF. O doleiro disse que costumava usar esse tipo de bagagem para “não chamar a atenção, pois encaixava a maleta na alça prolongada da mala, puxando-as enquanto caminhava”.

A PF mostrou uma foto Charles Capella de Abreu para Youssef para saber se poderia ser ele o emissário que recebeu o dinheiro da propina da Petrobrás. “Reconhece como sendo possível que a foto seja de tal pessoa referida acima, para a qual entregou os R$ 2 milhões em notas cuja maioria (cerca de 85%) eram em cédulas de R$ 100,00 por ordem de Paulo Roberto Costa”, registra o depoimento. Em termos de probabilidade percentual, Youssef disse acreditar que tenha “70% a 80% de certeza” se tratar da mesma pessoa.

Perguntado pelo delegado se conhecia Charles Capella de Abreu, Youssef respondeu que o nome não era estranho, mas não se lembrava se realmente o conhecia.

Acareação. O pagamento de R$ 2 milhões à campanha presidencial do PT em 2010 foi inicialmente apontado aos investigadores da PF, nas delações de Paulo Roberto Costa, o primeiro delator da Lava Jato, em agosto de 2014. O ex-diretor relatou ter recebido um pedido via Youssef, que teria falado no nome de Palocci. O doleiro negou ter sido ele o autor do pedido e revelou posteriormente que outro operador de propinas traria à tona tal demanda.

Seria Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, operador de propinas ligado ao PMDB. Ele também fez acordo de delação premiada com a Lava Jato e em depoimento no dia 15 de setembro revelou que aproximou Palocci de Costa.

Para isso, Fernando Baiano afirma ter se reunido com o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que ele tentasse garantir a permanência de Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobrás caso a candidata Dilma fosse eleita. Costa temia ser demitido do cargo.

Bumlai respondeu que sim (poderia ajudar) e que faria o que fosse possível”, afirma Baiano. “Bumlai disse que a pessoa mais indicada para fazer a aproximação de Paulo Roberto Costa com o PT era Antonio Palocci, uma vez que era naquele momento o coordenador da campanha de Dilma Roussef e provavelmente seria o ministro da Casa Civil.”

Fernando Baiano conta que acompanhou posteriormente Costa no encontro com Palocci, em Brasília. O ex-ministro teria faladou que “haveria interesse por parte do PT” na continuidade dele na Diretoria de Abastecimento.

“Em seguida se passou a falar da campanha presidencial; que então Antonio Palocci falou que seria muito importante se Paulo Roberto Costa em sua relação com as empresas que eram prestadoras de serviços na Petrobrás conseguisse ajudar com doações para a campanha de Dilma Rousseff.”

Fernando Baiano afirma que o ex-diretor disse que poderia ajudar, mas não falou sobre valores nem como seria essa ajuda.

“No final da conversa, Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalhava com ele, possivelmente um assessor dele, que o estava ajudando nesta parte de arrecadação”, explicou Fernando Baiano. “Pelo que se recorda, o nome dessa pessoa era Charles.

Paulo Roberto Costa foi colocado frente-a-frente com Fernando Baiano na quinta-feira, 5, e negou que tivesse participado de reunião com ele e Palocci para tratar do assunto. O ex-diretor sustenta ter ouvido de Youssef o pedido de R$ 2 milhões para a campanha do PT a pedido do ex-ministro. Costa disse que autorizou o pagamento.

O pecuarista José Carlos Bumlai negou categoricamente envolvimento em qualquer ato ilícito.

Contra Dilma, caminhoneiro fecha estradas pelo país

No 1º dia de paralisação, caminhoneiros montam bloqueios em rodovias de 14 Estados

• Transportadores pedem redução no valor do óleo diesel, uma tabela de preços mínimos para o frete e a saída da presidente Dilma

José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo

Caminhoneiros fecharam nesta segunda-feira, 9, 43 pontos de rodovias em 14 Estados brasileiros contra o governo da presidente Dilma Rousseff. As manifestações, que têm como principal objetivo a renúncia da presidente, se concentraram em Estados importantes para a produção agrícola do País, como Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Santa Catarina – o que trouxe preocupação entre exportadores.

Representantes do grupo independente Comando Nacional do Transporte (CNT), responsável pela mobilização, garantem que tiveram novas adesões e o movimento continuará nos próximos dias. O objetivo é conseguir o apoio da população em geral para ir às ruas e fortalecer os protestos a favor da queda da presidente, diz Ivar Luiz Schmidt, líder do movimento.

“Diante do clima em que se encontra o País, com inflação elevada e aumentos consecutivos dos combustíveis e da energia elétrica, achamos por bem pedir a renúncia da presidente. Não acreditamos mais que ela seja capaz de conduzir o País para fora do abismo no qual se encontra”, diz o organizador do movimento.

No Palácio do Planalto, a greve e a pressão em cima da presidente ocorrem num momento em que o Congresso Nacional tinha dado uma “certa” trégua ao governo em relação ao impeachment. Para o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, o movimento visa desgastar politicamente o governo.

Segundo ele, nenhuma pauta de reivindicações foi encaminhada pelos organizadores. “Uma greve vem com questões econômicas, sociais e, geralmente, é propositiva, mesmo quando se trata de questões políticas. Eu nunca vi uma greve onde o único objetivo é gerar desgaste para o governo.”

Por outro lado há um receio por parte do governo de que o protesto dos caminhoneiros se mantenha de alguma forma até o final de semana e seja engrossado com a manifestação pró-impeachment marcada para domingo, dia 15 de novembro, feriado de Proclamação da República, em Brasília, e em outras cidades do País.

Ação. Os bloqueios atingiram importantes rodovias de ligação entre São Paulo e outras capitais – como a Dutra, acesso ao Rio de Janeiro, e a Fernão Dias, ligando São Paulo a Belo Horizonte. A mobilização chegou a prejudicar o trânsito na Marginal Tietê, principal via de escoamento de tráfego da capital paulista. Um comboio de caminhões seguiu para a Baixada Santista, mas até a tarde desta segunda-feira não tinham sido bloqueadas as operações no Porto de Santos. Foi realizado um protesto nas imediações do cais.

No Rio Grande do Sul, houve bloqueios em 13 rodovias, mas todas estavam liberadas à tarde, disse a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na madrugada, manifestantes queimaram pneus, mas não houve confronto com a polícia. No Paraná, seis rodovias federais e estaduais foram fechadas, uma delas com bloqueio total. Em Minas Gerais, houve seis bloqueios em vias federais, e na Bahia, quatro, um deles total. Goiás registrou quatro interdições parciais.

Em Mossoró (RN), base de Schmidt, a principal liderança do movimento, até um pixuleco – boneco gigante representando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uniforme de presidiário – foi levado para a rodovia. Manifestantes queimaram pneus para fechar a BR-304, que permanecia interditada no final da tarde. Na BR-153, em Anápolis (GO), também houve queima de pneus. Na SC 486, próximo de Itajaí, o líder dos manifestantes Antônio Heil foi preso após atravessar o caminhão na pista e obstruir a passagem de outros veículos.

De acordo com a PRF, na maioria das vias houve bloqueio parcial, com a formação de filas de caminhões. À medida que veículos de carga chegavam, eram abordados e convidados à aderir à paralisação. Segundo o comando nacional da paralisação, só eram parados caminhões com carga secas. Veículos com leite a granel, ração para suínos, remédios, oxigênio para hospitais e transporte de lixo eram liberados.

Sem apoio. O presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, o China, disse que a entidade não apoia a mobilização do Comando Nacional. “Parar rodovias em meio à crise econômica não ajuda, só pode piorar. Respeito os movimentos sociais e as reivindicações, mas esse não é o momento oportuno para uma paralisação”, informou, através da assessoria.

Em nota, o Movimento Vem Pra Rua negou participação nos protestos. “O Movimento Vem Pra Rua apoia movimentos pacíficos, ordeiros, e que visem exclusivamente um Brasil melhor, livre de corrupção. Não apoiamos pautas específicas que não digam respeito aos nossos objetivos.” O Movimento Brasil Livre manifestou apoio pela rede social. /Colaboraram Aline Torres, Gabriela Lara, Renê Moreira, Wagner Machado, Júlio César Lima, Leonardo Augusto, Anna Ruth Dantas e Renée Pereira

Caminhoneiro que fechar estrada pagará multa de R$ 1.915, diz ministro da Justiça

• Cardozo afirmou que movimento não tem pauta de reivindicações e por isso maior parte dos caminhoneiros não aderiu à greve

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta segunda-feira, 9, que os caminhoneiros que interditarem as estradas serão multados em R$ 1.915,00. A categoria deflagrou greve para protestar contra o governo e pedir a saída da presidente Dilma Rousseff.

"Esse é um movimento com um viés claramente político", disse Cardozo. "Não tem pauta de reivindicações e isso fez com que a maior parte dos caminhoneiros do País não aderisse à manifestação".

Além de aplicar a multa de R$ 1.915,00, a Polícia Rodoviária Federal também foi orientada a desobstruir as estradas e garantir a segurança dos caminhoneiros que quiserem trabalhar.

A greve atingiu 14 Estados e, de acordo com balanço do governo, interditou totalmente cinco rodovias, provocando obstruções parciais em outras 22. "Foi um movimento pulverizado, sem apoio das entidades tradicionais de classe, o que tirou a intensidade da manifestação", argumentou Cardozo. O ministro participou, nesta segunda-feira, de uma videoconferência com a Polícia Rodoviária Federal para fazer um balanço da greve e transmitir as orientações do governo.

A paralisação causou preocupação no Palácio do Planalto por ressuscitar a onda de protestos num momento em que a presidente Dilma sofre ameaça de impeachment.

Governo ameaça multar caminhoneiros parados

• Polícia Rodoviária aplicará punição de R$ 1.900 por bloqueio em estradas

No primeiro dia de greve, houve interdições em 48 trechos de rodovias em 12 estados, inclusive na Via Dutra

Após um dia de bloqueios de 48 trechos de rodovias em 12 estados do país, o Ministério da Justiça determinou ontem à noite que a Polícia Rodoviária Federal multe em R$ 1.900 os motoristas de caminhões que impedirem a circulação nas estradas. A greve está sendo organizada via redes sociais pelo Comando Nacional de Transporte (CNT), mas não tem o apoio de outros sindicatos de caminhoneiros. Para o governo, a greve é política. Produtores de aves e suínos temem que a paralisação afete as exportações.

Freio para caminhoneiros

• Governo diz que multará motoristas por bloqueios. Greve chega a 12 estados

Danilo Fariello, Catarina Alencastro, Dicler Mello e Souza, João Sorima Neto, Fernando Donasci e Heloísa Traiano - O Globo

-BRASÍLIA, BARRA MANSA, SÃO PAULO e RIO- O governo federal atuou ontem para enfraquecer a greve de caminhoneiros convocada por um grupo que bloqueou 48 pontos de rodovias em 12 estados. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou que os caminhoneiros que tentarem impedir o “direito de ir e vir” receberão multas de mais de R$ 1,9 mil. Para Cardozo, os líderes do movimento não têm uma reivindicação da categoria dos caminhoneiros, mas uma “pauta política”. Um reflexo disso é a falta de apoio à greve atual por outras entidades da categoria. A principal reivindicação dos grevistas é a renúncia da presidente Dilma Rousseff.

Segundo nota da Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 19h de ontem, havia cinco rodovias federais totalmente interrompidas no país e 23 com interdição parcial. Outras 21 tinham manifestantes, mas sem prejuízo ao trânsito.

Cardozo destacou, em declaração em áudio distribuída pelo ministério, que o movimento é político, “sem nenhum viés de reivindicação para a categoria dos caminhoneiros”:

— Fechar uma estrada, paralisar uma estrada, é algo que efetivamente não se aceita num Estado de direito, numa democracia. Então, portanto, nós temos a absoluta clareza de que esse movimento, exatamente por essa característica política, tem tido uma baixa adesão por parte dos caminhoneiros em geral no Brasil. Ele é um movimento de baixa intensidade, mas muito pulverizado, até porque as entidades sindicais não têm apoiado esse movimento.

Mais cedo, o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, disse que a greve era pontual e tinha como único objetivo desgastar o governo. Segundo ele, o governo está aberto ao diálogo, mas também destacou que não há uma pauta de reivindicação.

Apesar da ameaça do ministro Cardozo de ser rigoroso com as multas, os caminhoneiros poderão contar no futuro com a boa vontade de alguns políticos. Em março, a Câmara dos Deputados aprovou a toque de caixa, com apenas dez dias de tramitação, projeto de lei que anistia os caminhoneiros de multas pelas manifestações de fevereiro. O texto ainda está parado no Senado e, portanto, não entrou em vigor.

No primeiro dia da mobilização organizada pelo Comando Nacional do Transporte (CNT), o movimento chegou a interditar totalmente o tráfego na Via Dutra, na altura de Barra Mansa, no Sul Fluminense. Os dois sentidos foram liberados por volta das 16h, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Durante o bloqueio, o grupo só permitia que caminhões com oxigênio, ambulâncias, veículos de passeio e ônibus passassem.

Para o carreteiro autônomo Carlos Antunes Oliveira, que aderiu à manifestação, a greve é para dizer “basta” à corrupção instalada no país, que, afirma ele, está derrubando as empresas.

Em São Paulo, os caminheiros ocuparam três faixas da pista expressa da Marginal Tietê, uma das principais vias da cidade. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o bloqueio criou congestionamento de cerca de 15 quilômetros na pista que leva às rodovias Dutra e Ayrton Senna. A via expressa só foi liberada às 14h. E, mesmo sem uma liderança definida, caminhoneiros reunidos em um posto da rodovia Anhanguera, em Jundiaí, defendiam a greve em protesto contra o governo e por melhores condições para a categoria.

— Sou assalariado e, se a firma mandar sair com o caminhão, eu saio. Se mandar fazer greve, eu faço. Só não passo em bloqueio. A greve é encabeçada por autônomos, e a coisa está feia para todos por causa desse governo — explicou Altair Bertocci, que não tinha aderido à greve.

Alex Sandro Barbim, por sua vez, listou motivos como a crise econômica para apoiar a greve:

— Mesmo trabalhando como assalariado, está muito ruim, porque sou comissionado, e as entregas diminuíram. Com isso, meu salário fica muito baixo, e não consigo pagar minhas contas. Sou a favor da greve pacífica, sem quebradeira. Pago R$ 17 na marmita na estrada, tem dias que é difícil até de comer.

Outros sindicatos de caminhoneiros criticaram os protestos. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) classificou como imoral “qualquer mobilização que se utiliza da boafé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país”. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), filiada à CUT, os caminhoneiros estão sendo usados em prol de interesses políticos. O líder do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nelio Botelho, disse que a força do primeiro dia de greve superou as expectativas da organização. No entanto, afirmou que a entidade não vai participar de eventuais protestos, assim como não atuou na paralisação do primeiro semestre.

Caminhoneiros se organizam pelas redes sociais e bloqueiam estradas em 14 Estados

Por Camilla Veras Mota, Luiz Henrique Mendes, Sérgio Ruck Bueno e Bruno Peres - Valor Econômico

SÃO PAULO, PORTO ALEGRE e BRASÍLIA - Grupos de caminhoneiros organizados pelas redes sociais e não alinhados a entidades representativas da categoria bloquearam ontem, total ou parcialmente, rodovias em 14 Estados. A principal demanda do movimento é a renúncia da presidente Dilma Rousseff, segundo Ivar Schmidt, fundador do Comando Nacional do Transporte, que convocou na semana passada as manifestações.

Ele afirma que as pautas específicas da categoria já foram entregues "há muito tempo" ao governo e que, diante do avanço tímido das demandas, o movimento pede a saída do atual governo do cargo. Catarinense radicado há 16 anos em Mossoró, no Rio Grande do Norte, Schmidt admite que as paralisações ocorridas foram, em parte, espontâneas, feitas sem comunicação às lideranças, e que não há ainda uma agenda de ações pré-definida para hoje.

Segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), divulgado no início da noite de ontem, existiam ainda 24 pontos de interdição em estradas federais, sendo 22 delas com bloqueio parcial - com passagem para carros particulares, ônibus e ambulâncias. Essas manifestações atingiam oito Estados.

Em nota divulgada na noite de ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que não há possibilidade negociar em cima de uma pauta política. "Não podemos admitir que um movimento político, sem nenhum viés de reivindicação para a categoria dos caminhoneiros, mesmo com sua baixa densidade revelada no dia de hoje [ontem], possa trazer qualquer consequência ou dano a quem quer seja", disse.

Segundo Cardozo, a PRF está atuando em uma "ação rigorosa" para aplicar multas em caso de interdição de estradas e assegurar o direito de ir e vir daqueles que não participam do movimento. Também na avaliação do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, a paralisação tem viés político. "Infelizmente tem se caracterizado com uma aspiração única de desgaste político do governo", disse.

O Comando Nacional do Transporte foi fundado em dezembro do ano passado, a partir de um grupo de discussão de caminhoneiros no Facebook. Segundo Schmidt, nasceu da "indignação da categoria com seus representantes", mas não tem orientação política e nem pretende se tornar uma entidade sindical. "Os sindicatos poderiam fazer muito mais por nós", afirmou Schmidt, referindo-se, entre outras demandas, ao tabelamento do preço mínimo do frete - reivindicação que ficou de fora do acordo fechado em abril com o governo, após as manifestações realizadas no início do ano.

As principais entidades trabalhistas do setor se posicionaram contra a paralisação. A CNTTL, ligada à CUT, afirmou que o "grupo não representa os caminhoneiros e não tem compromisso com as reivindicações da categoria".

Para Diumar Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), o movimento tem sido coordenado por um pequeno grupo de frotistas e atravessadores de carga. Eles teriam, segundo Bueno, aproveitado os anos de crédito farto e programas como o Procaminhoneiro, do BNDES para entrar no setor de frete. Agora, com a desaceleração da atividade, estariam com dificuldade para pagar financiamentos, ou sofrendo efeitos do encolhimento do mercado, diz o dirigente da CNTA.

Temendo os efeitos da greve, a ABPA, entidade que representa produtores e exportadores de carnes de frango e suína, criou um comitê de crise para adotar medidas contra os possíveis impactos da paralisação. O temor é que se repita o que ocorreu com a greve de fevereiro, quando o setor perdeu cerca de R$ 700 milhões. (Com Folhapress, de São Paulo e Brasília)

Filho de Lula consegue sigilo na Operação Zelotes

Por Letícia Casado - Valor Econômico

BRASÍLIA - O Tribunal Regional Federal da 1ª Região decretou na sexta-feira, 6 de novembro, sigilo sobre documentos e dados apreendidos na Operação Zelotes nas empresas de Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O mandado de busca e apreensão foi autorizado pela juíza federal Célia Ody Bernardes e cumprido em 26 de outubro. Ela também levantou o sigilo do processo e, assim, tornou pública a medida cautelar referente ao procedimento.

Na sexta-feira, a defesa de Luís Cláudio conseguiu liminar junto ao TRF-1, decretada pela desembargadora federal Neuza Alves, para que os documentos e os dados apreendidos na LFT Marketing Esportivo e na Touchdown, empresas do filho do ex-presidente, sejam acessíveis apenas pelas autoridades policiais e judiciais competentes, assim como pelo Ministério Público Federal. A medida cautelar que pede a busca e apreensão nas empresas de Luís Cláudio continua pública e pode ser consultada no site do TRF-1.

Na semana passada, Luís Cláudio prestou depoimento à Polícia Federal em Brasília. Acompanhado por quatro advogados, ele respondeu perguntas sobre pagamentos feitos às suas empresas pelo escritório de advocacia Marcondes e Mautoni e sobre sua trajetória e experiência profissional, entre outras questões, durante quatro horas, mas suas respostas não foram satisfatórias para os investigadores, segundo apurou oValor. Os repasses feitos pelo escritório colocaram o filho de Lula no radar da Zelotes.

A juíza Célia Bernardes, que estava responsável pelos processos da Zelotes enquanto o juiz titular, Vallisney Oliveira, cumpria convocação no Superior Tribunal de Justiça passa agora a ser a substituta da Zelotes nas próximas semanas.

O juiz substituto da 10ª Vara, Ricardo Leite, entrou em férias e vai emendar o período com o recesso do Judiciário. Ele só retorna à Vara em 2016. Até lá, uma eventual substituição do juiz titular do caso, Vallisney Oliveira, será feita por Célia.

OAB decide em dezembro sobre impeachment

• Comissão de advogados analisa se houve crime de responsabilidade

Carolina Brígido, Jéssica Moura e Isabel Braga - O Globo

-BRASÍLIA- A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) deve decidir em 2 de dezembro se apoiará ou não o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo o presidente da entidade, Marcus Vinicius Furtado Coelho, uma comissão de advogados, que está analisando o caso, apresentará em 29 de novembro um parecer. No dia 2, o Conselho Federal da OAB votará o parecer.

Coelho explicou que a OAB vai analisar se Dilma cometeu crime de responsabilidade em razão das irregularidades encontradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nas contas do governo de 2014:

— Não compete à Ordem aprovar ou reprovar as contas. As contas estão, pelo parecer do TCU, reprovadas. O que precisa verificar é qual a consequência jurídica dessa reprovação. Implicará impeachment? Daí terá que ser enquadrado no artigo da Constituição da República que prevê a possibilidade de impeachment, quando tiver a hipótese de crime de responsabilidade — disse o presidente da OAB.

Na mesma reunião, o Conselho Federal da OAB vai definir se, no caso de apoio ao impeachment, será apresentado novo pedido, ou se a entidade assinará o pedido já em andamento na Câmara. O Conselho da Ordem tem 81 integrantes.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse ontem que não deverá decidir esta semana sobre os pedidos pendentes que deram entrada na Casa. Segundo a Secretaria Geral da Câmara, há 13 pedidos de impeachment pendentes de decisão, entre eles os dois apresentados pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior, que têm o apoio da oposição e de movimentos da sociedade.

— Eu havia dito que, antes de 15 de novembro, não faria. Não vou fazer esta semana. Já pedi para ver se tem outros pareceres (técnicos) prontos, amanhã (hoje) vão me dar posição — disse Cunha: — Tem uns cinco (pedidos) que entraram aí que eu nem li. Todo dia tem um pedido novo de impeachment aqui, uma fila grande.

Desde 2012, entraram 47 pedidos de impeachment contra Dilma. Destes, 33 foram apresentados na gestão de Cunha, que arquivou 20. Os pareceres jurídicos da Casa estão sendo finalizados. Eles serão levados a Cunha pela assessoria jurídica. As regras regimentais da Casa não estabelecem prazo para a análise desses pedidos. 

Levy sofre novo revés no ajuste fiscal

• Ministério da Fazenda foi surpreendido com a decisão do governo de reabrir pedidos de financiamento do PSI e reduzir cortes em R$ 3 bi

Irany Tereza, Adriana Fernandes, Álvaro Campos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sofreu mais um revés no ajuste fiscal. Terá de rever o corte de R$ 30,5 bilhões que havia determinado no mês passado para o limite das operações do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), administrado pelo BNDES. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, o BNDES vai reabrir o prazo para os protocolos de pedidos de financiamentos do programa depois de negociações com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O Ministério da Fazenda terá de devolver ao programa em torno de R$ 3 bilhões, reduzindo o corte para R$ 27,5 bilhões.

Na segunda-feira, 9, a equipe técnica da Fazenda foi surpreendida com o anúncio de que o governo voltaria atrás na decisão. Foi o presidente da Anfavea, Luiz Moan, que se antecipou e divulgou a decisão no fim da manhã, em São Paulo. Ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o presidente da Anfavea informou ter recebido, na sexta-feira, aval do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para tornar pública a medida.

Confirmação veio na sexta-feira, diz o presidente da Anfavea, Luiz MoanO PSI, programa do governo que financia investimentos com taxas de juros mais baratas do que as praticadas pelo mercado, tinha limite de liberação fixado em R$ 50 bilhões para 2015. Argumentando queda na demanda pelo programa, Levy propôs que o total fosse reduzido para R$ 19,5 bilhões, encerrando em 30 de outubro o prazo para recebimento de pedidos de financiamento. Agora, para manter o programa em operação, o BNDES depende de nova resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), que deve se reunir extraordinariamente até amanhã para modificar a decisão tomada no mês passado.

Voto vencido. “Recebi a confirmação (da mudança no corte) na sexta-feira em nome da presidente (Dilma Rousseff)”, disse Moan. Ele disse que a reabertura dos prazos tem o apoio dos três ministros que integram o CMN: Joaquim Levy (Fazenda); Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central). O fim do prazo para entrega dos protocolos de novos pedidos de financiamento causou grande preocupação nas empresas e levou, segundo ele, às negociações ao longo da semana passada.

O executivo disse que o novo prazo final será dia 27, mas a medida ainda não foi anunciada oficialmente pelo governo. Segundo Moan, quando houve o anúncio do fim do prazo em outubro houve corrida de pedidos de financiamento, provocando desestabilização das previsões do setor para este fim de ano.

Questionado se Levy apresentou resistências, Moan disse que, “sem dúvida” a mudança do prazo tinha apoio do ministro. No entanto, Levy foi voto vencido no governo.

O ministro retornou ontem do Rio de Janeiro a Brasília e foi direto ao Palácio do Planalto para uma reunião com a presidente Dilma e Jaques Wagner. A reunião não constava da agenda oficial de nenhum dos três e o tema não foi divulgado. OBroadcast apurou que a conversa girou em torno da medida envolvendo o BNDES. Levy relutava em alterar o corte determinado em 23 de outubro no programa de crédito subsidiado.

De volta ao Ministério da Fazenda, após a reunião com Dilma, cancelou toda a agenda – receberia o ministro da Defesa, Aldo Rabelo, à tarde e participaria, à noite no Planalto, da entrega da Ordem do Mérito Cultural, ao lado de Dilma.

Levy tem recebido pressões de auxiliares da presidente para tomar medidas para a retomada do crescimento, em especial para facilitar o crédito. Também tem sido alvo de especulação sobre sua saída do governo.

“Ao considerar a conjuntura atual do segmento, tenho certeza de que a decisão foi extremamente acertada e poderá dar uma injeção de confiança nos consumidores e investidores”, disse Moan durante abertura da 20ª edição da Fenatran – Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Carga. / Colaborou Igor Gadelha

Planalto cobra de Levy plano para reerguer economia

Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Diante da piora das expectativas sobre a retração da economia no próximo ano, assessores presidenciais cobram mais criatividade da equipe econômica para lançar uma agenda de retomada do crescimento que dê resultado já nos próximos meses.

Segundo a Folha apurou, a avaliação de auxiliares próximos da presidente Dilma Rousseff é que o governo não pode entrar em 2016 sem um plano para dar esperança aos agentes econômicos na recuperação do ritmo de atividade da economia.

Um assessor palaciano disse à Folha que a cobrança por mais criatividade da equipe do ministro Joaquim Levy (Fazenda) não significa pedir a adoção de medidas mágicas, mas de iniciativas que possam ser lançadas enquanto o governo busca aprovar o pacote fiscal apresentado ao Congresso Nacional.

Assessores chegam a dizer que, sem avanço das medidas fiscais, Levy pode aproveitar para deixar o governo na virada do ano sob a justificativa de que sua receita para recuperar a economia, que passa primeiro pelo reequilíbrio das contas públicas, não foi aceita no Congresso.

Interlocutores do ministro da Fazenda negam que esse seja seu plano. Levy, afirmam, faz questão de dizer que a presidente Dilma está fechada com sua proposta de ajuste fiscal e ele está comprometido com a missão de ajudá-la a superar a atual crise econômica.

Pressões
Nesta segunda-feira, dois auxiliares próximos da presidente disseram àFolha que não está nos planos da chefe trocar o ministro da Fazenda, apesar das seguidas pressões do PT e do ex-presidente Lula para substituí-lo.

Eles reconheceram, porém, que o governo está preocupado com as previsões de piora da retração econômica em 2016. A pesquisa do Banco Central com economistas do mercado já aponta para uma desaceleração de quase 2% no ano que vem.
Para o Planalto, não dá mais para ficar esperando a aprovação do ajuste, o que dificilmente ocorrerá neste ano, para reanimar a economia.

Para 2016, alguns analistas do mercado preveem um tombo próximo ao que deve ocorrer neste ano, com retração projetada de 3% do PIB (Produto Interno Bruto).

Essas previsões, na avaliação de assessores, reforçam a necessidade de adotar medidas que garantam um início de recuperação do ritmo da economia brasileira.

Caso contrário, dizem, o governo Dilma e o PT serão os principais alvos de críticas da campanha eleitoral do próximo ano, gerando um cenário de desgaste político que pode inviabilizar, de vez, qualquer possibilidade de um nome ligado ao petismo na eleição presidencial de 2018.

Angústia
Interlocutores de Levy dizem que o ministro compreende a angústia do PT, mas afirma que, sem ajustar as contas públicas, qualquer medida para retomar o ritmo da economia fracassará.

O próprio ministro da Fazenda passou a reforçar em suas entrevistas a necessidade de retomar o crescimento da economia, elencando ações para atingir este objetivo no médio prazo.

Levy publicou recentemente documento intitulado "Reequilíbrio fiscal e retomada da economia", apontado como um sinal de flexibilização de seu discurso antes só focado no reequilíbrio das contas públicas.

No texto, o ministro da Fazenda reconhece, no capítulo "O caminho do crescimento, os próximos passos", que a expansão da economia passa pelo "relaxamento das condições de crédito", uma das reivindicações do ex-presidente Lula.

A equipe do ministro afirma ainda que ele tem discutido dentro e fora do governo medidas para melhorar o ambiente econômico, como a modernização das regras das parcerias público-privadas (PPPs) e a reforma da Previdência Social.

PT intensifica pressão sobre Dilma para substituir Levy

Por Andrea Jubé e Rosângela Bittar – Valor Econômico

BRASÍLIA - Avança no governo o processo de substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com a consequente mudança das diretrizes da política econômica. A sucessão deverá ocorrer em janeiro, conforme fontes da coordenação política e da direção do PT, mas pode ser antecipada para dezembro, caso a crise se agrave.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do núcleo político intensificaram, nas últimas semanas, a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff para a substituição de Levy pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, a quem caberia implantar uma política baseada na retomada do crédito, aumento do consumo e liberação de empréstimos internacionais para os Estados.

Emissários de Lula buscaram em vão, nas últimas semanas, um empresário que tivesse aceitação instantânea pelo mercado, para reverter o quadro de deterioração econômica e descartar o impeachment.

Cresce pressão para que Meirelles substitua Levy
Avança no governo o processo de substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com a consequente mudança das diretrizes da política econômica. A sucessão deve ocorrer em janeiro, próximo à virada do ano, conforme fontes da coordenação política e da direção do PT, mas a troca pode ser antecipada para dezembro, se houver agravamento da crise política e econômica.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do núcleo político intensificaram, nas últimas semanas, o empenho em convencer a presidente Dilma Rousseff a nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o lugar de Levy.

Caberia a Meirelles implantar o modelo de política econômica defendido abertamente por Lula, que implica a retomada do crédito com aumento do consumo interno e a liberação de empréstimos internacionais para os Estados, uma demanda represada dos governadores junto ao Ministério da Fazenda.

Lula e ministros do núcleo mais próximo à presidente têm conversado semanalmente com Dilma sobre a necessidade de fazer a substituição para acelerar a retomada do crescimento econômico.

Foi Lula quem convenceu Dilma a receber o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, há 15 dias, na Granja do Torto. Nesse encontro, Palocci - que foi contemporâneo de Meirelles na equipe econômica do governo Lula -reforçou a indicação do ex-presidente do BC para o lugar de Levy, relataram ao Valor duas fontes com trânsito no Instituto Lula.

Pelo menos três fatores justificam a diminuição da resistência de Dilma a Meirelles: o agravamento da crise econômica, o esgotamento das medidas de reequilíbrio fiscal de Levy e a falta de nomes dispostos a aceitar o cargo.

Emissários de Lula sondaram, em vão, nomes no mercado para a sucessão de Levy nas últimas semanas. O perfil procurado era o de um empresário notório, cujo nome tivesse aceitação instantânea pelo mercado. Nas últimas conversas, Dilma disse ao seu antecessor que prefere o nome do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que já rejeitou o cargo no início do ano.

"Dilma está dividida entre não gostar de Meirelles e ele aparecer como a única opção para reconstruir com agilidade a economia", disse ao Valor um integrante da coordenação política que acompanha de perto as articulações.

"Para conter o impeachment de vez, precisamos reverter o quadro de deterioração econômica", complementa uma liderança do PT, com acesso às negociações. "Se a crise econômica agravar-se, Dilma vai cair não pelo Congresso, mas pelo clamor das ruas", avalia.

Se ocorrer desta forma, Lula sai novamente vencedor, após emplacar mudanças no núcleo político do Palácio do Planalto. Foi após um intenso processo de persuasão - e de recrudescimento da ideia de instaurar um processo de impeachment -, que a presidente se convenceu a nomear Jaques Wagner para a pasta da Casa Civil no lugar de Aloizio Mercadante, e Ricardo Berzoini para a Secretaria de Governo no lugar de Miguel Rossetto.

Até o momento, Lula não emplacou, contudo, as mudanças que considera necessárias para destravar a economia, como a ampliação do crédito para o mercado interno. O ex-presidente está convencido de que limitada ao ajuste, a economia não volta a crescer, o Brasil não sai da crise e o PT estará banido da política já nas próximas eleições municipais.

Mudar a política significa optar radicalmente pela liberação do crédito. Joaquim Levy se recusa a isso, bem como a liberar os empréstimos internacionais para os governadores ou a cogitar medidas alternativas para o reequilíbrio orçamentário, salvo a recriação da CPMF, que empacou no Congresso.

Para sustentar a retórica do afastamento de Levy, os petistas dizem que ele não entregou o que prometeu. Enumeram que o Congresso aprovou a maioria das medidas do ajuste fiscal - como as medidas provisórias que restringiram benefícios previdenciários e o projeto que reduziu pela metade as desonerações da folha de pagamento -, o governo deu a mão ao mercado, mas a crise não refluiu. Até o downgrade por duas agências de classificação de risco está sendo colocado na balança negativa de Levy.

Lula está determinado, convicto de que a liberação do crédito é a porta de saída da crise. "Temos duas opções: ou aumento de imposto, que é o que a Dilma está propondo com a CPMF, ou você faz uma forte política de crédito. Eu faria uma política de crédito", disse na semana passada em entrevista ao jornal do SBT.

Em outubro, durante o Congresso Nacional da CUT, o ex-presidente disse que a "solução é aumentar o consumo interno". Ele observou que "se os bancos privados não querem fazer crédito, há os públicos". Ele tem repetido que há uma demanda reprimida do mercado interno, citando o exemplo de que 30% das mulheres brasileiras não têm máquinas de lavar roupa em casa e são consumidoras em potencial.

A favor de Meirelles, o ex-presidente relaciona uma série de qualidades: agrada ao mercado, tem respeito internacional, e faria a liberação do crédito, ou seja, a política que Lula quer ver executada para melhorar as chances do PT nas eleições de 2016 e 2018.

Alimentos têm alta de até 68%

A falta de chuva ao longo do ano e a alta do dólar fizeram alguns alimentos subirem bem acima da inflação. No Rio, a batata-inglesa ficou 68,89% mais cara em 12 meses e o filé mignon, 40,40%.

Preços de alimentos já subiram até 68% nos últimos 12 meses

• Batata e carne são exemplos de altas puxadas por estiagem e dólar

Lucianne Carneiro - O Globo

 Depois do forte impacto da falta de chuvas e da alta do dólar sobre o preços dos alimentos, o risco de agravamento da greve de caminhoneiros que acaba de começar pode pressionar ainda mais os preços. Nos doze meses encerrados em outubro, os alimentos subiram 10,39%, superando os 9,93% da inflação medida pelo IPCA. No Rio de Janeiro, a alta dos alimentos foi de 9,81%. Especialistas dizem que os aumentos devem continuar nos próximos meses, corroendo ainda mais o poder de compra do consumidor.

A taxa perto dos 10% é uma média, mas muitos produtos tiveram reajustes bem mais expressivos. Como a batata-inglesa, cujo preço subiu 68,86% na Região Metropolitana do Rio nos 12 meses encerrados em outubro. No mesmo período, o valor do alho avançou 59,38%, enquanto o filé mignon teve alta de 40,40%, e a cebola, de 29,30%. Não adianta nem correr para uma carne de segunda: o músculo ficou 20,86% mais caro.

— Foi um ano de aumento principalmente dos produtos in natura, enquanto o preço dos grãos teve comportamento melhor. O ano foi de estiagem, com muito calor em algumas áreas e chuvas abundantes em outras. Todo ano é assim, mas a intensidade este ano parece ter sido maior — afirma a técnica do Ipea Maria Andréia Parente, do Grupo de Análises e Previsões.

Para piorar o clima, a forte valorização do dólar também pressiona os preços. De um lado, encarece itens que dependem do trigo importado, como pão francês, que ficou 8,73% mais caro no Rio, macarrão, que subiu 11,54%, e biscoito, 7,75%. Do outro, torna os produtos brasileiros mais competitivos lá fora, incentivando as exportações. Isso reduz a oferta desses itens no mercado doméstico, pressionando os preços. Foi o que aconteceu, por exemplo, com as carnes, que ficaram 20,91% mais caras no Rio e 17,16% no país.

— O aumento do preço da carne é mais um resultado da redução da oferta que da demanda, apesar da crise que estamos vivendo. Com o dólar mais alto, o produtor direciona a produção para as exportações — afirma o economista da banco Brasil Plural Raphael Ornellas.

A greve dos caminhoneiros acaba sendo um fator a mais de risco. Segundo Ornellas, a paralisação de rodovias pode ter efeito nos preços caso se prolongue por mais dias. Maria Andréia lembra que mesmo alguns dias podem ter efeito nos preços de alimentos, sobretudo os mais perecíveis.

— A greve de caminhoneiros pode ter impacto, mas é preciso que as paralisações sejam amplas e afetem as rodovias próximas das regiões pesquisadas pelo IBGE — afirma o economista da osenberg & Associados Leonardo França Costa.

Preço do diesel preocupa
Preocupação adicional é um possível aumento do preço do diesel. O governo estaria considerando elevar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) dos combustíveis, se a criação da CPMF não for aprovada. O diesel pressiona o custo do frete, que, em última instância, é repassado aos preços dos alimentos.

— As estatísticas de safras não sugerem problemas, mas há outros fatores. Se vier outro aumento de diesel, afeta o frete. Se a greve dos caminhoneiros ocorrer por um tempo suficientemente longo, também há efeito. E temos o dólar valorizado, que nos faz supor pressão adicional nos preços de alimentos — explica a técnica do Ipea.

A avaliação é compartilhada por Costa, que vê continuidade do cenário atual, com alimentos pressionando a inflação. Sua projeção para a alta de preços de alimentos nos domicílios para 2015 é de 9,7%, seguida de alta de 9,5% em 2016. Em 2014, a taxa foi de 7%.

Os dez maiores aumentos no Rio

• Nos 12 meses encerrados em outubro

Mercado prevê que economia brasileira vai encolher 5% até o fim do ano que vem

• Para economistas ouvidos pelo Boletim Focus, do BC, inflação ficará em 9,99% este ano

- O Globo

-BRASÍLIA- O Brasil deve amargar uma inflação de dois dígitos neste ano. A pesquisa semanal que o Banco Central faz com economistas mostrou que a aposta para o IPCA, índice oficial, subiu de 9,91% para 9,99%. A recessão deve ser ainda mais forte. Não bastava 2015 ser considerado perdido. O ano de 2016 está cada vez mais comprometido. A economia deve encolher nada menos que 5% nesses dois anos.

A estimativa para a queda da atividade é de 3,1% neste ano e de 1,9% em 2016. Com esse cenário, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil fica atrás apenas de países como Rússia e Ucrânia, países impactados pela guerra.

— O problema é que o Brasil não está em guerra. E não tem literatura econômica que resolva isso: desatar nó político — alertou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

A crise política afeta a economia porque aumenta a desconfiança em relação ao país. Investimentos minguaram com as incertezas. Mas outros fatores contribuem para agravar a crise. O reajuste das tarifas públicas, principalmente da energia, fez com que a inflação ficasse indomável neste ano. A previsão para o ano que vem já está próxima do teto da meta. A projeção é de IPCA de 6,47%, e o teto é de 6,5%.

Corte mais lento de juros
Com dúvidas em relação ao dólar e, principalmente, aos gastos públicos, os analistas ouvidos pelo BC esperam que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza menos os juros básicos no futuro, do que previam nas projeções anteriores.

Até a semana passada, a estimativa era que a taxa Selic cairia dos atuais 14,25% ao ano para 13% anuais em 2016. Agora, a previsão é que o BC será mais cauteloso, e os juros chegarão no fim do ano que vem em 13,25%. (Gabriela Valente)

Comissão de Orçamento resiste a nova meta fiscal

Por Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - Com uma previsão de rombo do governo central de até R$ 119,9 bilhões (2,08% do PIB) - sendo R$ 57 bilhões para pagamentos das chamadas 'pedaladas fiscais' - a nova meta fiscal para 2015 será o próximo grande embate do governo no Congresso Nacional.

O parecer do relator, deputado Hugo Leal (Pros-RJ), está pronto para votação na Comissão Mista de Orçamento (CMO) e agregou o passivo do governo com bancos públicos e uma possível frustração de R$ 11,1 bilhões em receitas com concessões e permissões relacionadas ao leilão das usinas hidrelétricas (UHE), que pode não ser realizado. Parlamentares que integram o colegiado, no entanto, dizem não ver condições para a medida ser aprovada esta semana.

"Vamos solicitar a realização de audiências públicas com os bancos e com a equipe econômica. Não vamos votar apressadamente não", avaliou o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA). Vice-presidente do colegiado, o deputado Jaime Martins (PSD-MG) diz que os parlamentares ainda estão "assustados" com a magnitude do déficit e devem requerer novas mudanças no parecer.

Ambos negam, no entanto, que esteja em curso uma possível articulação para atrasar propositalmente os trabalhos.

Parlamentares da oposição e do PMDB estariam trabalhando nos bastidores para não votar a mudança, o que no limite poderia levar a presidente Dilma Rousseff a ser enquadrada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), abrindo uma brecha para um processo de impeachment. "Vai acabar sendo aprovada a mudança, mas não será fácil. O governo errou muito, mas tentar imputar um crime de responsabilidade de propósito deporia contra o Parlamento", avalia Martins.

Atento aos movimentos da Casa, o presidente do Congresso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) cobrou publicamente ontem que a CMO seja ágil na apreciação da mudança, sob risco de comprometer todo o já atrasado calendário de votações até o fim do ano legislativo.

Faltam seis semanas para o término dos trabalhos em 2015 e ainda estão pendentes, além da meta fiscal, os projetos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e do Orçamento de 2016, além de propostas importantes para o reequilíbrio fiscal, como a volta da CPMF, a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e a proposta de regularização de recursos mantidos ilegalmente no exterior, que podem ficar para o próximo ano.

"Falei com a presidente da CMO [senadora Rose de Freitas, do PMDB-ES] para que a comissão agilize os projetos. É muito importante porque, na sequência, precisamos votar a LDO e o Orçamento de 2016", disse. Para a votação destas duas últimas medidas, é preciso limpar a pauta do Congresso, na qual constam, entre outros projetos, o reajuste médio de 59,5% a servidores do Judiciário, barrado pela presidente Dilma Rousseff.

Renan lembrou que, no ano passado, a mudança da meta, feita em dezembro, se tornou uma "batalha" cuja sessão de votação durou 17 horas. A situação agora é ainda pior do ponto de vista fiscal - à época, o governo apresentou um superávit de R$ 10,1 bilhões, valendo-se do artifício de abater da conta investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e das desonerações tributárias.

Merval Pereira: Os caminhos da crise

- O Globo

A melhor solução para Lula é o impeachment de Dilma, segundo o ex-ministro de Fernando Henrique, Lula e Dilma Nelson Jobim, que se transformou na figura mais importante a atuar nos bastidores dos três poderes dos quais já participou: foi o relator da Constituinte, foi ministro de Estado, e presidiu o Supremo Tribunal Federal.

A melhor solução para Dilma é Eduardo Cunha permanecer na presidência da Câmara, na avaliação de importantes assessores do Palácio do Planalto. Enquanto Cunha tiver o poder de aceitar o processo de impeachment, terá força para continuar a chantagear governo e oposição, sem sair do lugar.

Até que o tirem de lá, tarefa que depende basicamente dos deputados, mas que tudo indica não será cumprida devido ao receio, diria mesmo pânico, de que Cunha revele os muitos segredos que sabe de vários deputados e senadores.

Este é o resumo da situação a que chegamos, em que de chantagem em chantagem os poderes da República vão ficando paralisados, cada um tentando sobreviver aos ataques previsíveis apenas para sobreviver, sem maiores projetos para o futuro.

Para a presidente Dilma, o mais importante é não cair, seguir adiante até que seu mandato termine e ela possa ir para casa com o troféu de pior presidente da República da História, mas sem o constrangimento de ter sido derrubada.

Já Eduardo Cunha luta para não ser preso. Assim como acha que o Palácio do Planalto tem capacidade de manipular a Polícia Federal e o Ministério Público para persegui-lo, acha também que o procurador-geral da República não terá coragem de processá-lo enquanto presidir a Câmara, pois o Planalto o protegerá. Ledo e ivo engano, como diria o Cony.

Tudo indica que Cunha vai ter que explicar para os ministros do STF essa história da carne moída num processo que, de acordo com as provas que já foram anunciadas, possivelmente o levará para a cadeia.

Desse ponto de vista, é mais fácil derrubar Cunha do que Dilma, pois no Brasil criou-se a fantasia de que só roubo em benefício próprio justifica um impeachment. Com essa tese jurídica, permite-se que diversas leis sejam violadas pelo presidente da República do momento, dando a ele o poder de estar acima das leis se não for um reles ladrão.

Roubar pela causa, ou utilizar o dinheiro público para criar as condições para a eleição de seu candidato, como fez Lula em 2010, fazendo o país crescer a 7,5% no ano, mas escangalhando as contas públicas, isso pode. Ou facilitar a reeleição com abuso do poder econômico, hábito da política brasileira que a Lei de Responsabilidade Fiscal pretendeu evitar, isso também pode, sem que se veja nesses atos o que eles realmente são: crimes contra o patrimônio público puníveis com impeachment.

Enquanto a política brasileira segue nessa pasmaceira, pioram as previsões para a economia também em 2016 e a crise tripla — política, econômica e moral — não parece ter uma saída plausível, pois os acordos políticos já não obedecem a parâmetros civilizados.

Os players desse jogo truncado ganham com a paralisia das ações, e não há regras morais que as limitem. Vale tudo para alcançar o objetivo imediato, que é o de sobreviver no cargo.

Esse, como se vê, não pode ser o caminho virtuoso de um país em busca de seu destino. Não temos hoje na vida pública figuras que inspirem confiança, e por isso não é surpreendente que pesquisas de diversas procedência informem a rejeição maciça aos políticos e aos partidos.

Forma-se nessa marcha a condição para uma disputa presidencial em 2018 mais fragmentada do que a de 1989, a primeira eleição direta para presidente da República depois dos anos ditatoriais e a transição para a democracia iniciada com a eleição indireta de Tancredo Neves.

A não ser que saiam das operações Lava-Jato, Zelotes e similares definições de culpa que mudem o panorama atual e encurtem o caminho.

Rubens Barbosa: Comédia de erros

- O Estado de S. Paulo

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado Federal está organizando uma série de audiências públicas sobre defesa nacional e a situação da indústria brasileira no setor. Nesse contexto, juntamente com Eduardo Bonini, presidente da empresa Visiona, participei na semana passada de audiência sobre o programa espacial, com ênfase na construção de satélites e na operacionalização da Base de Lançamento de Satélites de Alcântara, no Maranhão.

O programa espacial, corretamente, é uma das prioridades da Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo atual governo brasileiro.

Os esforços da Aeronáutica para desenvolver um veículo lançador de satélites nacional não dispõem de recursos suficientes para as pesquisas e construção de equipamento simples para cargas de baixo peso. A indústria nacional, com os cortes orçamentários, está perdendo técnicos que poderiam construir satélites com porcentual importante de participação da indústria no produto final. A Base de Alcântara, localizada em posição privilegiada, próxima da linha do Equador, tem competitividade para concorrer no mercado global de lançamento de satélites comerciais de meteorologia e de comunicações. Há interesse de empresas europeias, norte-americanas, chinesas e russas em participar com empresas brasileiras desse significativo mercado internacional. A Visiona, empresa formada pela Embraer e pela Telebrás, seria a coordenadora da integração de todos os interessados.

Nos últimos 13 anos, contudo, por um viés ideológico, o programa registra um atraso considerável.
A razão dessa lamentável situação foi a decisão do PT, então oposição e depois governo, de se opor ao Acordo de Salvaguarda Tecnológica assinado com os Estados Unidos em 2001. A negociação com esse país é importante pelo fato de as empresas norte-americanas serem responsáveis por cerca de 85%-90% dos lançamentos desse tipo de satélite no mundo e porque permitiria que todos os países que lançam satélites de pequeno porte pudessem utilizar a base de forma mais econômica. A Rússia e a China assinaram acordos desse tipo com os Estados Unidos.

O Brasil preferiu assinar um acordo com a Ucrânia para desenvolver o projeto Cyclone, que previa a construção de um veículo lançador para pôr em órbita o satélite brasileiro. O irônico em todo esse episódio é que para lançar o satélite da Base de Alcântara seria necessário que o Brasil assinasse o acordo de salvaguarda com os Estados Unidos, porque o veículo lançador ucraniano tem componentes norte-americanos. Segundo telegrama da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, de 2009, revelado pelo WikiLeaks, até uma gestão diplomática foi feita pelos ucranianos para os norte-americanos concluírem o acordo com o Brasil. O desfecho de todo o imbróglio foi o cancelamento do acordo com a Ucrânia, depois de um custo declarado de R$ 500 milhões, sem nenhum resultado.

A descoordenação e a incompetência não terminam aí. Em 2003, o então ministro das Relações Exteriores anunciou na Câmara dos Deputados, onde o acordo estava sendo examinado, que, juntamente com os ministros da Defesa e da Ciência e Tecnologia, tinha sido decidido que o acordo de salvaguarda tecnológica ia ser retirado oficialmente por não ser de interesse do governo brasileiro. Em 2013, em audiência pública conjunta das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado, essa decisão foi confirmada por outro chanceler brasileiro.

Para surpresa geral, ao examinar a documentação atual dessa matéria no Congresso Nacional, verifiquei que o governo brasileiro não havia retirado o acordo e ele ainda está em tramitação.

O acordo, que poderá tornar viável o uso da Base da Alcântara, gerar recursos (cada lançamento de satélite custa cerca de US$ 50 milhões, que iriam para o Tesouro Nacional) e criar empregos altamente qualificados, há 14 anos segue sua via-crúcis pelas comissões do Congresso; 13 anos na Comissão de Constituição e Justiça, controlada pelo partido do governo, com a perspectiva de ser declarado inconstitucional. Enquanto isso, o acordo com a Ucrânia, cópia do negociado com os Estados Unidos e finalizado a toque de caixa, teve tramitação rapidíssima e foi aprovado pelo Congresso sob a liderança do PT.

O que fazer para resolver essa situação, em que o interesse nacional é posto num distante segundo plano por considerações político-partidárias?

A renegociação do acordo com os Estados Unidos, se o atual governo se dispuser a fazê-la, encontrará forte resistência da burocracia norte-americana, visto que a decisão de 2001 foi política, graças a entendimentos diretos entre os presidentes dos dois países.

A solução mais pragmática, em vista de toda essa comédia de erros, seria o Congresso Nacional superar o viés ideológico e aprovar o acordo com as ressalvas que decidir recomendar ao governo brasileiro. Os entendimentos poderiam ser retomados com o governo de Washington, como previa o comunicado final da visita do presidente Barack Obama ao Brasil, em março de 2011. Estranhamente (ou não seria de estranhar), na recente visita da presidente Dilma aos Estados Unidos, em julho passado, o assunto deixou de ser incluído entre as prioridades do governo brasileiro e não há registro de que o tema tenha sido tratado com as autoridades norte-americanas em qualquer nível.

Caso o assunto não seja reaberto pelo governo brasileiro de maneira positiva e pragmática, o programa espacial, tanto o desenvolvimento do veículo lançador quanto a utilização comercial da Base de Alcântara, continuará em ponto morto. Será mais uma política de Estado vítima da plataforma partidária sobreposta aos reais interesses do País.

Nunca antes na História deste país se sacrificaram tanto as prioridades nacionais no altar da ideologia.
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Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp

Raymundo Costa: PSDB espera governo cair por gravidade

• Ninguém sabe o que querem tucanos no pós-Dilma

- Valor Econômico

É mais ou menos consensual no PSDB que a presidente Dilma Rousseff não chega ao fim do mandato. Se não for por impeachment, será por pura exaustão. Num partido de tanto dissenso, desta vez ninguém acredita que a presidente tenha condição de liderar o processo de recuperação econômica, política e moral que requer o país. O PSDB já fala no "pós-Dilma". O que ninguém exatamente sabe dizer é o que isso significa para os tucanos.

Não é cobrança gratuita. Desde 1994, o PSDB elegeu Fernando Henrique Cardoso para dois mandatos consecutivos e disputou com o PT o segundo turno de todas as eleições presidenciais subsequentes. O que falta para os tucanos dizerem o que pensam, quando até o PMDB escreveu uma carta aos brasileiros apresentando-se como alternativa à crise? O PSDB estaria disposto a ajudar o PMDB e partes do PT numa transição?

No momento, o PSDB tergiversa sobre três assuntos cruciais: o impeachment da presidente da República, o afastamento e a cassação do mandato do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e qual será o seu candidato a prefeito de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país e onde as repercussões da crise parecem mais latentes. PMDB, PRB e PT já estão em campanha; os tucanos, divididos.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, parece ter dois nomes na manga. Um deles é o do empresário João Dória Jr, que tem 3% das intenções de voto, a um ano da eleição, segundo pesquisa Datafolha divulgada no início deste mês. Outro é o do vice-governador do Estado, Márcio França (PSB), que transferiu seu título para a capital a pedido do governador. Até resolver trocar o PT pelo PMDB, a senadora Marta Suplicy era alternativa para dupla Alckmin-França.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores José Serra e Aloysio Nunes Ferreira apoiam o nome do vereador Andrea Matarazzo, que há dez anos se preparara para ser prefeito de São Paulo e costuma repetir que não é candidato a nada mais a não ser prefeito da cidade. Na principal simulação do Datafolha com seu nome, Matarazzo aparece com 4% das intenções de voto do eleitorado paulistano.

Na prática, tanto Matarazzo quanto João Dória Jr precisam de tempo para tentar equilibrar a disputa com adversários mais conhecidos, casos de Celso Russomano (34%), Marta (13%) e até mesmo do apresentador de TV José Luiz Datena (PP), da Bandeirantes, que também tem 13%, mas que dificilmente levará sua candidatura até o fim. O que o PSDB precisa é tomar uma decisão e mostrar uma posição clara sobre seus pontos de vista não apenas sobre São Paulo como também sobre o país. A campanha de 2016, nunca custa lembrar, será também menor.

O PT nunca entrou tão frágil numa disputa eleitoral, pelo menos desde que venceu a Presidência da República, segundo mostram números do Ibope. O partido é rejeitado por 38% da população, segundo pesquisa divulgada por "O Estado de S. Paulo". O PSDB está bem atrás, com 8%, mas deve-se lembrar que o PT é o mais citado quando a pergunta é sobre qual partido a população mais gosta. PMDB e PSDB estão em segundo lugar, empatados, com 10%. Mas 40% dos entrevistados afirmam não ter simpatia por partido nenhum.

Os índices de Haddad pioraram em relação ao levantamento do Datafolha feito em fevereiro. A aprovação do prefeito caiu de 20% para 15%, enquanto sua taxa de reprovação subiu de 44% para 49%. Aparentemente, as políticas reducionistas que o prefeito adotou para a capital não tiveram o efeito esperado. São Paulo é uma cidade que está menos para Nova York e mais para Nairóbi, a capital do Quênia, noves fora o tamanho de cada cidade. Talvez menos ciclovia e mais transporte urbano, habitação e saúde. Mas é também em São Paulo que os efeitos perversos de uma crise com emprego em baixa e inflação em alta são mais sentidos.

No domingo, houve manifestações contra a permanência do deputado Eduardo Cunha na presidência da Câmara em nove Estados. A caligrafia dos protestos é mais que conhecida, é a mesma de quem se dispõe a ocupar as ruas contra o impeachment da presidente Dilma. Esse é o impasse, 2015 é tanto um ano que não acabou como o que não aconteceu. O PSDB pode até achar que a saída de Dilma da Presidência da República é uma questão de tempo, mas precisa desde já tomar decisões e dizer o que quer na hipótese de o impeachment - ou renúncia - efetivamente vier a ser confirmado.

Estrelas de primeira grandeza do PT voltaram a mencionar a palavra impeachment, no momento em que ela parecia cair em desuso. Segundo avaliação dessas fontes, curiosamente compartilhada com integrantes da cúpula do PSDB, Dilma tem apenas uma chance de concluir o mandato: nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, com pleno poderes para indicar também o ministro-presidente do Banco Central e o ministro do Planejamento. História antiga, mas o reuso exige registro. Os mesmos petistas dizem que o novo ministério Dilma tem três pontas soltas que dificultam a coesão interna, da base e em torno de Joaquim Levy: Miguel Rossetto (Previdência Social), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e - para não fugir à regra - José Eduardo Cardozo (Justiça).

Já não é a mesma a relação política do governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) com o senador Reguffe (PDT), talvez o seu maior eleitor no Distrito Federal. Está certo que Rollemberg recebeu as contas de Brasília sucateadas pela administração anterior de Agnelo Queiroz, mas Reguffe não consegue deixar de demonstrar incômodo com as concessões feitas pelo governador de Brasília aos antigos métodos que sempre determinaram o toma lá, dá cá na Câmara Distrital. Rollemberg e Reguffe eram dois dos maiores símbolos daquilo que, na eleição presidencial de 2014, era chamado de "nova política", cuja representante maior era a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade).

Luiz Carlos Azedo: Que greve é essa?

• A greve dos caminhoneiros nem de longe tem a mesma envergadura do que ocorreu no Chile, mas existe um forte movimento a favor do impeachment nas redes sociais e o governo anda mal das pernas no Congresso

- Correio Braziliense

Um dos pontos fortes do PT na disputa com a oposição é a capacidade de construir um discurso alarmista, a partir de um fato qualquer que sirva de pretexto para isso, e transformar qualquer polêmica numa briga de mocinho contra bandido. Nas campanhas eleitorais de 2002, 2006, 2010 e 2014, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma fizeram isso sem escrúpulos, ora alardeando que a oposição queria vender a Petrobras, ora que pretendia acabar o Bolsa Família.

A oposição muitas vezes facilita a vida dos petistas e atravessa a rua para escorregar na casca de banana, como acontece agora com o maior bode na sala da crise ética, política e econômica, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O “Fora, Cunha!” é uma bandeira empunhada pelos militantes petistas, ao mesmo tempo em que o Palácio do Planalto opera nos bastidores para que o presidente da Câmara engavete os pedidos de impeachment.

A oposição, visivelmente constrangida, alimenta a esperança de que o parlamentar despache favoravelmente à abertura do processo de impeachment, enquanto Cunha constrói um discurso pouco verossímil para evitar a cassação, em barganha simultânea com o governo e a oposição. Como no caso do “trust” que supostamente administraria o seu dinheiro na Suíça, no qual sustenta que as suas contas secretas não são o que pareciam.

Vejam o caso da greve dos petroleiros, que já tem uma semana e começa a prejudicar o abastecimento de combustíveis. Os petroleiros nada fizeram contra a roubalheira na empresa, pois seus sindicatos são controlados pelos petistas, como o fundo de pensão da categoria, o Petros, que também merece uma bela auditoria independente. Em vez de apoiar a Operação Lava-Jato, passaram a levantar suspeitas de que tudo não passa de uma grande armação imperialista para vender a empresa.

Com esse discurso, realizam uma greve contra o atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, que pretendem derrubar do cargo. Estão em greve por tempo indeterminado. Além da luta pelas cláusulas econômicas e sociais no acordo coletivo deste ano, defendem que a Petrobras “seja 100% estatal e pública”.

As entidades são contra a venda de 49% das ações da Petrobras Gás (Gaspetro) para a Mitsui Gás e Energia do Brasil por R$ 1,9 bilhão. A venda de ativos e a redução de investimentos fazem parte do plano da empresa para reduzir o nível de endividamento. Além disso, querem reajuste de 18%, envolvendo reposição da inflação, aumento real e produtividade.

Caminhoneiros
A greve dos petroleiros é maior expressão da oposição que o PT faz ao ajuste fiscal e ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, uma contradição na própria base do governo, como é o caso do “Fora, Cunha!” A diferença é que seu impacto na economia aumenta o desgaste do governo, que publicamente evita se manifestar sobre a greve. Fazê-lo seria admitir que o PT sabota o seu próprio governo.

Eis, porém, que surge outra greve, na medida para ser “demonizada” como coisa da direita, que pretenderia desestabilizar o país: a greve dos caminhoneiros autônomos. Fora do controle dos sindicatos da categoria e das empresas de transportes, o movimento é liderado por Ivar Schmidt, que encabeça o Comando Nacional do Transporte. Como no ano passado, foi organizado pelas redes sociais e já se espalhou por 14 estados, com bloqueios nas principais estradas do país.

Enquanto os petroleiros querem a cabeça de Bendine, os caminhoneiros pedem a saída da presidente Dilma. Um prato feito para o discurso que o governo precisa contra o impeachment. Como se sabe, a destituição do presidente Salvador Allende no Chile, em 1973, pelo general Pinochet, foi precedida por uma onda de greves patronais, iniciada em outubro do ano anterior. A maior e mais prejudicial foi a greve dos caminhoneiros, que deixou o país em colapso. Na verdade, houve mesmo uma articulação patronal golpista, com envolvimento dos Estados Unidos, que culminou com o golpe militar de Pinochet.

A greve dos caminhoneiros nem de longe tem a mesma envergadura do que ocorreu no Chile, mas existe um forte movimento a favor do impeachment nas redes sociais e o governo anda mal das pernas no Congresso, cenário agravado pelos altos índices de desaprovação da presidente Dilma Rousseff. Tudo na medida para o discurso de que a greve dos caminhoneiros é coisa da oposição golpista. E a dos petroleiros, é o que?

Marco Antonio Villa: A crise tem nome: Lula

• Seu protagonismo impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência política

- O Globo

Lula voltou a ser o principal protagonista da cena política brasileira. No último mês, não teve um dia sequer em que não ocupasse as manchetes da imprensa. Viajou pelo Brasil — sempre de jatinho particular, pago não se sabe por quem — e falou, falou e falou. Impôs uma reforma ministerial à presidente, que obedeceu passivamente, como de hábito, ao seu criador. Colocou no centro do poder um homem seu, Jaques Wagner, para controlar a presidente, reestruturar o pacto lulista — essencialmente antirrepublicano — com o Congresso e o grande capital e, principalmente, para ser um escudo contra as graves acusações que pesam sobre ele, sua família e amigos.

Como de hábito, não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra as investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um cidadão — sempre — acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.

O ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel — uma espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como “incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade financeira do cliente.”

Lula passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.

Mesmo após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.

O protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem. 

Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas. Em 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrota — e aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado pelos operários de pelego e traidor.

Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.

As vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.

As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.
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Marco Antonio Villa é historiador