sábado, 21 de julho de 2018

Alberto Aggio*: Os movimentos da política e a candidatura Alckmin

A política tem dimensões longas e curtas. De um ponto de vista longo, a política que defende transformações para o país pensa na chave analítica e propositiva de um Polo Democrático e Reformista que recentemente foi apresentado e estabelece suas balizas de maneira clara no rumo da defesa da democracia e da realização de uma ampla reforma do Estado. De um ponto de vista mais curto, estamos adentrando aos momentos decisivos da campanha eleitoral que em outubro decidirá quem vai ser o novo presidente e qual será a configuração do novo Congresso e das Assembleias estaduais.

Esse pequeno texto visa incidir, de forma breve, ao acontecimento que, encerrando a semana, orienta os movimentos da disputa presidencial dos principais candidatos que até agora se apresentam à disputa. Trata-se de considerar alguns pontos sobre o apoio do chamado Centrão ao candidato Geraldo Alckmin (PSDB).

1. Em primeiro lugar, me parece importante anotar que se trata de uma decisão defensiva desse grupo. Ele esperava ter candidato próprio, o que não vingou. Não aceitou ou não cedeu, nem mesmo ao candidato do governo por vê-lo sem nenhuma chance. Aos trancos e barrancos, como não poderia deixar de ser, tentou negociar com Ciro. Abriu-se uma série de dúvidas e predominou a confusão e a divisão. Por fim, decidiu por apoiar Alckmin porque vê nele a possibilidade de vencer as eleições e poder influenciar num futuro governo, mesmo sabendo de que isso não será fácil. No frigir dos ovos, o chamado Centrão fez uma opção defensiva, quase entrando na prorrogação do tempo normal da partida.

2. Esse Centrão não é igual àquele da Constituinte. Esse Centrão poderia aderir à extrema-direita e apoiar Bolsonaro, mas conhece as tradições da politica brasileira e vislumbrou o desastre que poderia ser uma posição como essa. Mas é preciso anotar também: esse Centrão é outra coisa: sabe fazer o jogo do poder, sabe se manter vivo e não perder espaço. É uma direita que emergiu com a democracia e na democracia. Sim, na democracia existem direitas políticas nos países mais avançados; faz parte da sua legitimidade. Portanto, esse Centrão não é a direita bolsonarista e vir para junto de Alckmin significa aprofundar o isolamento da extrema direita, o que é altamente positivo para a democracia. Uma operação como essa mostra que essa é uma direita que veio para ficar, mesmo que hoje se apresente de forma difusa, inclinada à corrupção (que o PT albergou de forma integral) e em busca de um discurso próprio que hoje se coloca mais entre os outsiders liberais.

3. Para as forças democráticas, que se encontram divididas e buscavam uma alternativa competitiva em termos quantitativos e estruturais, neutralizar parte da direita e trazê-la para o campo da democracia e das reformas, isolando-a especialmente da extrema direita, é um ganho eleitoral e político notável. Esse movimento não está completo e espero que isso se efetive nos próximos dias. Atuar estabelecendo seus princípios e horizontes, se fixar neles, sem ver o cenário, os outros atores e não influenciar nos seus movimentos é um erro crasso em política.

4. Geraldo Alckmin é pré-candidato do PSDB e já contava com o apoio de alguns partidos. Poderá ampliar esse apoio ainda mais com o Centrão. Alckmin sempre foi acusado de “jogar parado”, mas isso não é inteiramente certo. Seus movimentos nem sempre são detectados pelos radares mais atentos. O fato é que, ao que tudo indica, o Centrão é que foi a Alckmin e não o inverso, como dissemos acima. Por outro lado, Alckmin é um político tradicional no contexto da democratização brasileira. É um político de centro, um democrata-cristão ao velho estilo, como foi Franco Montoro (não estou dizendo que ambos têm políticas públicas idênticas, pois os tempos são outros). Alckmin tem experiência política e administrativa suficiente para montar um governo de grande coalizão, refazendo a frente que se formou e se conectou com as ruas no processo do impeachment de Dilma Rousseff. Tem tudo para retomar a ligação entre governo, democracia, esperança e mudança. Não tem nada a ceder ao Centrão que o próprio Centrão já não saiba e não tem nada a mudar no programa já alinhavado pela sua campanha. Em termos políticos, o Centrão optou por Alckmin, não o contrário.

*Bolívar Lamounier: Profecias e premonições não são inofensivas

- O Estado de S.Paulo

Não é isenta de riscos a discussão sobre os impactos que a democracia tem sofrido

Que o mundo inteiro está imerso em dificuldades é óbvio. E é também óbvio que, por toda parte, as democracias são impactadas de forma negativa por tal situação. Mas daí a dizer que os regimes democráticos estão com um pé na cova vai uma larga distância.

As principais publicações do Primeiro Mundo têm discutido tais impactos com bastante frequência. A discussão é importante, mas não é isenta de riscos. A maioria delas toma os cuidados necessários, mas algumas às vezes resvalam para aquilo que os americanos chamam de self-fulfilling prophecies (profecias que se autorrealizam). Ou, se preferem, para o risco de jogar fora o bebê com a água do banho. Pior ainda é quando, imaginando possíveis sucedâneos para democracias supostamente defuntas, os analistas contrapõem modelos baseados em “ativismos populares” supostamente calorosos e espontâneos à suposta frieza ou ao “mero formalismo” institucional da tradição democrática ocidental.

Dias atrás a newsletter da International IDEA, uma ONG séria, sediada em Estocolmo, adotou uma linha que em geral me causa certa urticária. Título: The vote is no longer enough (o voto já não é suficiente). Mas quem disse que o voto é ou algum dia foi “suficiente”? Neste artigo, com todo respeito à intenção sem dúvida louvável da referida organização, vou tentar pôr alguns pingos nos is.

É correto, corretíssimo, dizer que eleições são uma condição sine qua non da democracia. São uma condição absolutamente necessária. Mas não me consta que algum teórico sério desse regime tenha jamais afirmado que é uma condição também suficiente. E precisamos ir mais longe. Quando dizemos que eleições são uma condição suficiente, é essencial esclarecer em que sentido fazemos tal afirmação. Sim, o pilar fundamental da democracia são eleições periódicas, limpas e livres, nas quais a maioria da população adulta tenha o direito de participar. Eleições “limpas” significam que os pleitos não podem ser vulneráveis à fraude numa escala capaz de distorcer os resultados. Eleições “livres”, que nenhuma ameaça pese sobre os eleitores no momento em que comparecem às urnas, ou seja, que eles estejam livres da coação e da coerção em qualquer de suas formas. Essa condição coloca o regime venezuelano do sr. Maduro e o nicaraguense do sr. Ortega a anos-luz da democracia. 

Fernando Gabeira: Livrai-nos de tanta loucura

- O Globo

No Brasil, Congresso decide quebrar o país, em meio à crise; nos EUA, Trump critica aliados europeus e se põe aos pés de um líder autoritário

Nos últimos dias, tenho a impressão de que estão enlouquecendo nas altas esferas do poder e talvez não possamos fazer muito a respeito. No Brasil, o Congresso aprovou um pacote de benesses de mais R$ 100 bilhões. Considerando a crise, isso representa grandes problemas em 2019: falta de recursos, atraso em pagamentos, quebradeira. E os candidatos à Presidência não protestaram. Protestar contra a farra de gastos tira votos. E eles dividem o tempo com precisão: uma coisa é o período eleitoral, outra, o mandato. Não percebem que, ao se calarem agora, perdem a possibilidade de resistir lá na frente. Isso pode significar não só crise política séria, mas até impeachment.

De qualquer forma, o futuro imediato do Brasil está comprometido por essas aventuras irresponsáveis. Há pouco o que fazer, exceto votar bem, mas ainda assim por mais que se acerte aqui e ali, o conjunto do Congresso será assustador. A pesada máquina do atraso continuará esmagando as chances de crescimento sustentável, renovação política e recuperação da confiança. Lá fora, a loucura ainda é maior. O presidente dos EUA critica duramente os aliados europeus e vai se prostrar aos pés de um líder autoritário russo. A manobra de Trump, assim como a dos deputados brasileiros, é uma ação disruptiva. Não usaria o termo subversiva, pois ele implica alteração da ordem. O que está acontecendo é apenas algo destinado a bagunçar, criar as bases instáveis para a chegada do caos.

Os parlamentares brasileiros querem apenas alguns votos para garantir sua permanência no poder. Eles já articularam uma reforma que lhes garante o dinheiro público para disputar as eleições. Insatisfeitos, cavam o próximo abismo sabendo que dinheiro não lhes faltará. Em último caso, há sempre o aumento de impostos. O problema é que a sociedade brasileira parece aceitar. A suposição de que o Estado pode gastar ilimitadamente ainda é fato na cabeça de muitos, mesmo na dos que não são diretamente interessados em conquistas corporativas.

Demétrio Magnoli: As cores da França

- Folha de S. Paulo

No fundo, a esquerda diz o mesmo que a direita, mas o faz com um sorriso no rosto

A charge do cartunista jordaniano Mahmoud Rifai correu mundo, difundida por sites e blogs de esquerda. Intitulada "Quem conquistou a Copa pela França", exibe um barco de refugiados africanos do qual emerge um punho negro segurando a taça da Fifa —e, acima dele, a bandeira francesa da qual salta uma mão que se apropria do troféu.

Superficialmente, trata-se de uma crítica da xenofobia e do racismo, tão comuns na Europa de hoje. De fato, é outra coisa, repetida sob formas similares em incontáveis textos e imagens.

A direita sempre diz que os terroristas são estrangeiros —mesmo quando se sabe que, em quase todos os casos, são cidadãos nacionais. Agora, a esquerda resolveu dizer que os jogadores da seleção francesa campeã mundial são estrangeiros –mesmo quando se sabe que todos são, obviamente, cidadãos franceses.

Entre os campeões, apenas dois nasceram fora da França: o goleiro Mandanda, na República Democrática do Congo, e Umtiti, em Camarões. Na sua maioria, os demais são filhos de imigrantes —e nenhum deles pertence a famílias de refugiados.
Sugerir que são estrangeiros equivale a identificar a nação à “raça”, à cor da pele.

A mania nada tem de novo. Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional e pai da atual líder do partido ultranacionalista, acusou os vice-campeões mundiais de 2006 de não representarem a “França verdadeira”.

Na ocasião, o zagueiro Thuram deu-lhe a resposta precisa: “Le Pen deveria saber que, assim como existem negros franceses, existem loiros e morenos, e não são convocados para a seleção por sua cor, mas por serem franceses”.

E concluiu reivindicando a “França verdadeira” da Revolução de 1789, em contraponto à “França eterna” da direita xenófoba. Agora, sua lição de história (e de política) deve ser ensinada à esquerda.

No fundo, a esquerda diz o mesmo que a direita, mas o faz com um sorriso no rosto. Para a direita, o “diferente” é o veneno que contamina a nação; para a esquerda, é o eterno estrangeiro, africano ou árabe, discriminado pela maléfica potência europeia.

João Domingos: A jogada do Centrão

- O Estado de S.Paulo

Ciro Gomes age como um escorpião de natureza autofágica: pica a si mesmo

O maior fato desta fase da campanha à Presidência da República foi a decisão de um grupo de partidos do centro político de se aliar a Geraldo Alckmin, do PSDB. Mesmo que oficialmente o acordo só vá ser anunciado na semana que vem, ele já provocou inúmeros efeitos. De uma hora para outra, Ciro Gomes, do PDT, que parecia ter construído sua viabilidade eleitoral e as condições objetivas para chegar ao segundo turno, visto que as negociações dele com o Centrão estavam em fase adiantada, viu o chão abrir-se a seus pés; e Alckmin, que parecia fadado a passar o resto da campanha patinando num sofrível índice de aceitação do eleitorado, pulou para o status de competitivo, pois, com a adesão dos partidos, terá cerca de quatro minutos e meio de tempo de propaganda eleitoral em cada bloco de 12 minutos e meio.

Alguém já lembrou que em 1989 o deputado Ulysses Guimarães, do PMDB, tinha um imenso tempo de TV e não passou de 4,73% dos votos. A situação era diferente. Ulysses fez sua campanha baseado na Assembleia Constituinte, da qual fora presidente, e que produzira a Constituição cidadã. A Constituição tornou-se importantíssima para a garantia das liberdades do estado democrático de direito que se instalava. Vencida aquela fase, no entanto, o eleitor estava preocupado mesmo era com a inflação, que chegava, mês a mês, a 30%, 35%, e acima dos 40% em novembro, quando foi realizada a eleição. Enquanto Ulysses romantizava seus feitos, o PMDB o traía com Fernando Collor, que fazia uma campanha milionária e prometia acabar com a corrupção e uma caça sem tréguas aos marajás do serviço público. Lula e Leonel Brizola disputavam o segundo lugar prometendo um Brasil mais igual.

Luiz Weber: O candidato bombado

- Folha de S. Paulo

Geraldo Alckmin (PSDB) recorreu ao mercado de anabolizantes da política

Geraldo Alckmin tomou uma injeção de PMMA. De um dia para outro inflou. Ficou na aparência competitivo na disputa pelo Planalto (apesar dos 7% de preferência do eleitorado, segundo o Datafolha).

Projeta-se maior após receber doses cavalares de tempo de TV fornecidas pela aliança com DEM, PP, PR, PRB e SD. Uma sopa de letras tão letal quanto a sigla que identifica o silicone usado em cirurgias estéticas.

Magro nas pesquisas, Alckmin recorreu ao mercado de anabolizantes da política (só a base de muita metáfora para entender isso). Para tanto, procurou o líder do PR, o mensaleiro condenado Valdemar Costa Neto.

Valdemar é um Dr. Bumbum da política. Opera na semiclandestinidade, carrega seu estoque tóxico de fisiologismo para inocular nos aliados de ocasião. E está pronto para sair de cena tão logo algo dê errado na coligação siliconada.

Se o tucano —mesmo com um bom naco de TV— não crescer, o PR e alguns associados vão escapar do flagrante e atuar noutra frente.

Dora Kramer: Largados e pelados

- Veja

Bem nas fotos das pesquisas, Ciro e Bolsonaro perdem para Alckmin no quesito confiança

A retomada da temporada eleitoral pós-Copa já acontece em ritmo de fatos relevantes. Dois, nesta semana: a adesão dos partidos do chamado centrão ao tucano Geraldo Alckmin e o isolamento de Jair Bolsonaro e Ciro Gomes no quesito alianças eleitorais. Certo de que conquistaria aliados à direita, Ciro flexibilizou posições, amenizou o discurso, mas não evitou levar uma rasteira de última hora. Por dois motivos: a mania de insultar a tudo e a todos e a ausência de firmeza ideológica, fatores que suscitam desconfiança.

Bolsonaro tem sofrido repetidas recusas de candidatos a vice na chapa de uma forma particularmente humilhante, pois as recusas ocorreram depois de anunciados os nomes pretendidos pelo deputado. Ciro e Bolsonaro reagiram na base do desprezo pelas uvas verdes, fazendo de conta que não se abalaram. Ambos menosprezaram o fator aliança. Da boca para fora.

Realmente, a adesão de partidos não garante eleitores, mas assegura tempo de televisão. Para quem dispõe, como os dois, de apenas parcos segundos cada um, a conquista de tempo no horário eleitoral não é algo de que possam abrir mão sem prejuízo.

Enquanto isso, Alckmin já contabiliza 38% do horário. Não garante votos, mas transmite confiança, dá notícia de que os partidos estão botando fé no crescimento da candidatura. Em quadro de indefinição total isso conta. E bastante.

Ricardo Noblat: PT inventou Temer presidente e quer jogá-lo no colo de Alckmin

- Blog do Noblat

Mais uma narrativa sai do forno

O PT acha que encontrou a receita para sepultar de vez a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB) que acaba de ser resgatada do mundo dos mortos com a adesão de cinco dos mais fisiológicos partidos agrupados sob a sigla de Centrão.

Depois de tratar como golpe o impeachment de Dilma, de perguntar cadê a prova contra Lula, de dizer que eleição sem ele é fraude, e de mesmo assim estar disposto a disputá-la, o PT tentará carimbar Alckmim como o candidato de Temer e do mau governo que ele faz.

Dará certo? É claro que não. Mas não custa experimentar. Na política, o que vale é a versão do fato, não o fato em si. Ou como prefere o PT, a narrativa que se construa a respeito de qualquer coisa. Se colar, colou. Do contrário, providencie-se outra.

A lógica infantil do PT é a seguinte: o Centrão que apoiou Temer desde a queda de Dilma é o mesmo Centrão que apoiará Alckmin. O PSDB de Alckmin apoiou Temer. Logo, Alckmin é o candidato de Temer. E, se eleito, governará como Temer governa. Ora, ora, ora…

Lula governou no seu primeiro mandato com parte do Centrão que agora se alia a Alckmin. Deixou de fora o PMDB de Temer. Para no segundo mandato pô-lo para dentro. O Centrão governou com Dilma duas vezes. Abandonou-a quando não viu mais futuro.

Foi o PT que inventou Temer para candidato a vice de Dilma em 2010. Tornou a inventar em 2014. E até às vésperas do impeachment exaltou-o como um parceiro confiável. Dilma chegou a entregar a coordenação política do governo a Temer.

Tudo o que o PT poderia dizer agora é que a adesão do Centrão à candidatura de Alckmin foi engendrada para que em nome da mudança pouco se mude caso ele vença. Mas não foi o que ocorreu no período de quase 14 anos de quatro governos do PT?

O PMDB de Temer e ele próprio têm um candidato. Chama-se Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no primeiro governo Lula, por Lula sugerido a Dilma como candidato a vice, e mais tarde por Lula indicado a Dilma para ministro da Fazenda.

A espúria negociação de uma aliança: Editorial | O Globo

O candidato Geraldo Alckmin ganhou a corrida para obter apoio do centrão, mas precisa revelar o que foi negociado e não pode ter medo de ir contra a demagogia

Se o anunciado acordo entre o dito centrão e Geraldo Alckmin for confirmado no decorrer da semana, a candidatura do tucano ganhará forte impulso medido em tempo de propaganda eleitoral. Liderará o ranking de exposição na TV, com no mínimo 4 minutos e 46 segundos, 38% do total do horário político.

Isso porque Alckmin contará com as cotas, além do PSDB, do DEM, do PP, do PR, do PRB e do SD. Terá feito o maior lance de um candidato antes do período de convenções, que começou ontem. Reforça-se a imagem de Alckmin como eficiente político à antiga, da conversa ao pé do ouvido, expertise desenvolvida no interior de São Paulo, onde se lançou no ramo em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, até governar o estado por quatro vezes: ao finalizar o mandato de Mário Covas, de quem era vice, e mais três gestões.

Como o momento é de baixo nível ético na política brasileira, as legendas que compõem o centrão usam conhecidas moedas de troca nessas negociações: cargos e acesso ao dinheiro público. O PP tem extensa experiência neste balcão de negócios, bem como o PR, virtual “dono” do Ministério dos Transportes, desde o primeiro governo Lula, a partir de 2003. Enquanto Paulinho da Força, do Solidariedade (SD), até já teria conseguido algum compromisso de Alckmin de, no Planalto, encontrar nova fonte de financiamento sindical, para substituir o imposto revogado pela reforma trabalhista. Pode-se entender que a origem do dinheiro, como sempre nessas circunstâncias, será o Tesouro, sustentado pelo contribuinte.

É natural que se argumente que este é o padrão da política brasileira, e que não há outra maneira de se chegar ao poder. Argumento forte, mas o último que aceitou sujar as mãos nessas barganhas está preso em Curitiba, enquanto seu partido, o PT, se esforça para viabilizar sua impossível candidatura.

Se Alckmin seguir a trilha dessas barganhas, será necessário que o eleitor saiba o que foi negociado. Tanto quanto isso, suas propostas de governo precisarão ser claras, e terá de recusar ideias de aliados que não façam sentido no seu programa. E sem transigir na ética.

O estilo de fazer política ajuda Alckmin nesta costura, mas devem ter contribuído, também, na decisão do centrão de se afastar de Ciro Gomes e optar pelo ex-governador paulista, as posições do candidato do PDT contra a associação Embraer/ Boeing, leilões do pré-sal e a reforma trabalhista. Além de clássicas demonstrações de destempero do ex-ministro e ex-governador do Ceará.

A princípio, o cobiçado espaço do centro passa a ter um forte aspirante a ocupá-lo. Mas tudo depende do comportamento de Alckmin, que nem de longe pode ser o da campanha que disputou (2006, contra Lula), em que ficou receoso de ir contra a demagogia. Ao contrário, aderiu.

O peso do centrão: Editorial | Folha de S. Paulo

Apoio esperado de partidos fisiológicos dará alento à candidatura de Geraldo Alckmin

Poucas vezes se viu uma sucessão presidencial tão cercada de indefinições como as que têm caracterizado o atual momento. A desagregação partidária e o desgaste de lideranças imprimem, sem dúvida, elevado grau de incerteza à campanha que se aproxima.

Ao menos num ponto, todavia, os entendimentos com vistas ao pleito de outubro parecem acomodar-se num leito já conhecido.

Depois de uma fase de oscilações e desencontros, o chamado centrão prepara-se para anunciar seu apoio ao pré-candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin.

Os comandos de DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB abandonam, assim, as perspectivas de um acordo com Ciro Gomes (PDT) ou com Jair Bolsonaro (PSL), em favor de um nome que, embora menos favorecido pelas atuais pesquisas de opinião, há de ser-lhes mais confiável.

Não foi diverso, para começar, o esquema que deu sustentação ao governo Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990.

Se o paralelo parece distante no tempo, é inegável que, do ponto de vista programático, persistem as afinidades entre um partido de perfil mais liberal e reformista, como o PSDB, e a colcha de retalhos fisiológica e conservadora que se costura à sua volta.

A aliança em formação tende a fazer mais sentido, com efeito, do que a conjunção resultante de um apoio a Ciro Gomes, cuja confusa mensagem eleitoral envereda pelo campo da esquerda, ou com o direitismo simplório de Bolsonaro.

Não que amálgamas desse tipo sejam impossíveis. Com exceção do DEM, as siglas do centrão deram longo respaldo a governos petistas, cabendo ao pragmatismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvaviabilizar suas demandas enquanto mantinha acesas as esperanças e ilusões da militância.

Tal arranjo desaguou, como se sabe, em escândalos detectados em escala inédita nos episódios do mensalão e da Lava Jato —e, mais à frente, em rompimento com a gestão econômica e politicamente inepta de Dilma Rousseff.

Se confirmado, o acordo constituirá a melhor notícia para PSDB e Geraldo Alckmin desde o início da corrida presidencial. Seu tempo de propaganda na TV crescerá de modo expressivo —os números exatos dependem da quantidade de postulantes— e sua campanha ganhará maior enraizamento nos cenários regionais.

O preço desse acordo, em termos eleitorais, já está de certa forma contabilizado. O ex-governador paulista não poderá se apresentar como um renovador dos costumes políticos ou um paladino da ruptura institucional —imagem que nunca foi sua.

Seu desafio, nesse sentido, é o que acompanha toda a política brasileira: desvencilhar-se do lastro de atraso de um grupo de legendas cujo apoio nenhum governo, afinal, tem conseguido dispensar.

A militância partidária: Editorial | O Estado de S. Paulo

A política depende dos partidos. Não há democracia sem uma vida partidária vibrante

Ainda que os partidos políticos constituam uma realidade fundamental para a democracia representativa, raramente eles são objeto de estudo detalhado. A vida interna das agremiações é pouco conhecida, o que dá margem a juízos precipitados, quase sempre negativos, sobre as legendas. Com o objetivo de reverter esse quadro, o Departamento de Ciência Política da Unicamp tem conduzido o projeto temático “Organização e funcionamento da política representativa no Estado de São Paulo (1994 e 2014)”, cujos primeiros resultados jogam luzes sobre a militância partidária, conforme noticia recente edição da revista Pesquisa Fapesp.

Circunscrita ao Estado de São Paulo, a pesquisa contou com a participação de 445 filiados dos dez principais partidos nacionais – DEM, MDB, PDT, PP, PPS, PR, PSB, PSDB, PT e PTB –, que reúnem cerca de 80% da militância no País. “Trata-se da primeira pesquisa, de natureza acadêmica, no País, que ouviu diretamente integrantes de partidos políticos”, diz Rachel Meneguello, professora titular da Unicamp e responsável pelo projeto.

Ao traçar um perfil do filiado político, o estudo revelou que, em geral, ele é mais velho, mais escolarizado e com uma renda superior à média nacional. Por exemplo, 59,3% dos filiados têm alguma formação superior. Outro dado que se destaca é a proporção de funcionários públicos na militância partidária: 58,9% dos filiados no Estado de São Paulo provêm do funcionalismo público. Segundo o pesquisador Oswaldo Amaral, da Unicamp, o alto porcentual pode ser reflexo da importância atual dos recursos estatais para as legendas. “Cada vez mais os partidos dependem de recursos estatais. Tanto para campanhas e eleições quanto para fazer suas máquinas funcionarem. Os políticos indicam para suas assessorias e cargos de confiança pessoas ligadas aos próprios partidos”, afirma Amaral.

De toda forma, a desproporção com a realidade social é significativa. Apenas 12% dos trabalhadores são funcionários públicos, mas sua participação nos principais partidos quase chega a 60%. O dado talvez ajude a entender a força da pressão política das corporações públicas no Congresso.

Aliado nacionalmente, PSDB enfrenta centrão nos estados

Apoio do bloco ao partido de Alckmin ainda tem que acertar ponteiros regionais

Daniel Carvalho , Marina Dias e João Pedro Pitombo | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA E SALVADOR -Para consolidar a aliança nacional em torno de Geraldo Alckmin na eleição, PSDB e centrão —grupo formado por DEM, PR, PP, SD e PRB— terão que acertar os ponteiros nos estados. Também será preciso evitar que parte do grupo desgarre, como já ameaça fazer o deputado Paulinho da Força (SP), do Solidariedade.

O PSDB enfrenta diretamente partidos do bloco em ao menos nove estados —número que deve mudar até 5 de agosto, fim das convenções partidárias.

Uma das principais preocupações é Minas, onde Antonio Anastasia (PSDB) e Rodrigo Pacheco (DEM) pretendem disputar o governo. Tucanos querem oferecer a Pacheco a vaga do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que, após o desgaste provocado pela Lava Jato, vem sendo pressionado a não tentar se reeleger.

A possibilidade de desistência é considerada na cúpula do DEM, mas não é vista com simpatia por Pacheco. "Tive a garantia por parte da direção nacional de que estarei liberado aqui para a aliança que acharmos devida", disse.

Apesar de o DEM cogitar também abrir mão de disputar o governo de Santa Catarina e anunciar João Paulo Kleinübing como vice de Esperidião Amin (PP), ainda há a pré-candidatura de Paulo Bauer (PSDB).

Em 14 estados, a nova aliança nacional também vai ter que lidar com embates entre candidatos de diferentes partidos apoiados por tucanos ou integrantes do centrão.

É o caso, por exemplo, de São Paulo, onde João Doria (PSDB) tem apoio de DEM, PP, PSD e PRB, mas enfrenta Márcio França (PSB), que conta com o PR.

Acordo com centrão não é regra nos estados

PSDB e partidos do bloco serão adversários pelo menos em Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Sergipe

Gustavo Schmitt e Silvia Amorim | O Globo

-SÃO PAULO- O apoio do centrão ao presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) não conseguirá impedir que tucanos e partidos do bloco sejam adversários em, pelo menos, quatro estados nas eleições para governador. São consideradas improváveis as chances de composição entre PSDB e partidos como DEM e PP em Goiás, Mato Grosso, Sergipe e Rio Grande do Sul.

Uma liderança do DEM referiu-se ontem à disputa goiana como “a terceira guerra mundial” ao descartar qualquer possibilidade de um acordo para uma candidatura única do centrão e do PSDB no estado. O pré-candidato ao governo pelo DEM é o senador Ronaldo Caiado, que enfrentará o pré-candidato tucano, Zé Eliton, afilhado do ex-governador Marconi Perilo (PSDB). Caiado e Perilo são adversários políticos de longa data. Zé Eliton chegou a ser advogado do pré-candidato do DEM no passado, mas acabou se aliando ao tucano.

No Mato Grosso, o ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes, pré-candidato do DEM ao governo estadual, descartou qualquer chance de composição com o governador Pedro Taques (PSDB), que tenta a reeleição.

— Aliança nacional é uma coisa; estadual é outra. Cada um no seu quadrado — afirma Mendes, que enfrenta uma disputa acirrada com Taques.

Temer e Valdemar influenciaram apoio a Alckmin

‘Destemperos’ de Ciro Gomes também contribuíram para decisão do centrão

Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- A entrada do mensaleiro Valdemar Costa Neto, que controla o PR, nas negociações, a atuação do próprio presidente Michel Temer e os destemperos do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, são apontados por dirigentes do centrão (DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade) como fatores decisivos para que os caciques do grupo optassem pela aliança com o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

O acordo foi fechado na quinta-feira e já tem data para ser anunciado: no próximo dia 26. Temer disse a integrantes do centrão que Ciro não era confiável, e que os partidos que também integram seu governo não poderiam aceitar fazer campanha para quem o critica de forma voraz. O mesmo discurso foi usado por Valdemar nos encontros do centrão, dando fôlego aos aliados de Alckmin que sempre apontaram a instabilidade do pedetista como fator negativo para fechar uma aliança.

E, na quinta-feira, Temer se encontrou com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e ainda com o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Na conversa com Ciro Nogueira, o presidente reiterou as preocupações a respeito de Ciro, que o chamou de “quadrilheiro”. Temer lembrou que o pedetista chamou os partidos do seu governo de “picaretas” e destacou que não era possível ser do governo e apoiar um candidato com essa postura. Temer preferia que o grupo estivesse com o MDB, que tem Henrique Meirelles como pré-candidato, mas sabe que isso não seria possível. Os partidos evitam se atrelar a Temer, devido à sua impopularidade.

Alckmin exclui de acordo rever reforma trabalhista

Tucano descarta a possibilidade de o acerto com o centrão incluir a revisão do fim do imposto sindical; Solidariedade, comandado por Paulinho da Força, ainda insiste

Felipe Frazão e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Um dia após acertar uma aliança com partidos do centrão, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, descartou a possibilidade de o acordo eleitoral incluir a revisão de pontos da reforma trabalhista. A posição levou o Solidariedade a ameaçar a sair do bloco e voltar a apoiar Ciro Gomes (PDT). Ligado às centrais sindicais, o Solidariedade quer a volta do imposto sindical.

Nesta sexta-feira, 20, porém, Alckmin foi categórico: “Não vamos revogar nenhum dos principais pontos da reforma trabalhista. Não há plano de trazer de volta a contribuição sindical”, escreveu em uma rede social.

O centrão é formado também por DEM, PP, PR e PRB. Majoritariamente pró-Ciro Gomes, o Solidariedade queria que, no acordo com Alckmin, fosse discutida, com apoio das demais legendas, uma alternativa ao desconto obrigatório de um dia de trabalho dos empregados – extinto durante a reforma aprovada há pouco mais de um ano no Congresso.
O partido defende a chamada contribuição negociada, facultativa às convenções trabalhistas de categorias que aceitassem financiar os sindicatos.

A mensagem de Alckmin irritou a direção da Força Sindical, central que está na base da fundação do Solidariedade, do deputado Paulinho da Força (SP).

“Do jeito que ele (Alckmin) falou, ficou mal. Não vai colocar nada no lugar (do imposto sindical)? Conversamos com o Paulinho hoje para não fechar nada com ele por enquanto. Essa informação prejudica mais ainda. Parece que o homem não entende o que se quer discutir”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna. “Isso é muito pouco. A questão para nós é o que ele vai fazer com a reforma da Previdência, com a reforma trabalhista. Não é só passar um mel na nossa boca.”

Os sindicalistas pressionaram Paulinho a manter conversas com outras siglas. Na quinta-feira, 19, na residência oficial da Câmara, ele chegara a dizer que “estava fora” do bloco se não fosse atendido. Paulinho telefonou nesta sexta-feira para líderes do PCdoB e do PSBpara saber o rumo que tomariam – se marchariam ou não com Ciro. Ouviu de representantes da legenda comunista que a hipótese será discutida no fim de semana. “Existe chance ainda de ter uma frente com Ciro, PCdoB, PSB e PDT”, disse Juruna. Paulinho não respondeu à reportagem.

Em conversas reservadas, integrantes da cúpula do partido avaliam que Alckmin acabará sendo o candidato do presidente Michel Temer e, portanto, “difícil de carregar” na campanha. Para o Solidariedade, Temer esvaziou a candidatura de Henrique Meirelles(MDB) ao atuar pessoalmente para que o Centrão não apoiasse Ciro, jogando todos no “colo” de Alckmin.

Garantia. O acerto do centrão com Alckmin passou pela garantia de que os partidos aliados terão fatias em um futuro governo e autonomia para manter o comando da Câmara e tentar tirar do MDB o controle do Senado. Embora os dirigentes do bloco neguem a cobrança por cargos, as demandas das siglas são conhecidas e tratadas como “óbvias” pela cúpula do PSDB. Um coordenador da campanha de Alckmin disse, reservadamente, que cada partido quer, no mínimo, manter o espaço atual no governo Temer.

Lançamento de chapa de Doria vira ato de apoio do Centrão a Alckmin

Dirigentes do bloco comparecem a evento e exaltam pré-candidatura tucana nas eleições de 2018; possível vice é elogiado

Marcelo Osakabe e Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Dirigentes do Centrão, bloco de partidos que negocia em conjunto o apoio na eleição presidencial, transformaram o evento de oficialização do deputado Rodrigo Garcia(DEM) como vice do ex-prefeito paulistano João Doria (PSDB), na disputa ao governo de São Paulo, num ato de apoio ao pré-candidato tucano à Presidência da República nas eleições de 2018, Geraldo Alckmin.

Estiveram presentes o presidente nacional do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o deputado e ex-ministro Mendonça Filho (DEM-PE); o presidente do PRB, Marcos Pereira, o ministro das Comunicações Gilberto Kassab, presidente do PSD, e o deputado federal Guilherme Mussi, dirigente do PP em SP, além de outras lideranças do Centrão.

"Estivemos ao lado do PSDB desde o governo FHC para obter conquistas que perduram até hoje. Hoje estamos mais uma vez ao lado do PSDB, não apenas para desenhar o futuro de São Paulo, mas quem sabe o futuro do nosso Brasil", disse ACM Neto, que sentou ao lado do governador, o que não era esperado inicialmente. "Na próxima semana vamos anunciar o caminho do Centrão. Temos tido conversas produtivas e promissoras com Alckmin. O que sei é que o Estado de São Paulo vai liderar a construção do futuro ao lado de todos nós", emendou.

'Tempo de TV sinaliza ao eleitor qual candidato é mais competitivo'

Entrevista com Hilton Cesário Fernandes, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp)

Para analista, extensão do programa eleitoral ainda é variável mais importante nas eleições de 2018 em virtude do alcance da TV em todo o País

Luiz Raatz | O Estado de S.Paulo

A adesão em bloco do Centrão, formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB, à pré-candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB, à presidência nas eleições de 2018 deve aumentar sensivelmente o tempo de TV do tucano, o que, tem tese, deve ajudá-lo na corrida, apesar de seus números ainda tímidos nas pesquisas de intenção de voto.

Para o analista Hilton Cesário Fernandes, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fesp), a o tempo de TV ainda é a variável mais importante na campanha eleitoral. "O tempo de TV passa para o eleitor uma mensagem de que aquele candidato é competitivo ou não", disse ele ao Estado. A seguir, trechos da entrevista:

• Existe uma correlação entre tempo de TV e resultado eleitoral nas eleições majoritárias?

Sim. O tempo de TV ainda é a variável mais importante de uma campanha eleitoral. A TV é o meio de comunicação mais poderoso no Brasil, com uma penetração de quase 100% dos domicílios e ainda é a ferramenta mais usada para as campanhas eleitorais. O fato de os partidos terem diferentes tempos de TV acaba influenciando muito este momento de negociações de coligações justamente por causa disso. O tempo de TV é um ativo importante.

• O advento das redes sociais, principalmente aplicativos de troca de mensagens, como o WhatsApp, pode influenciar essa tendência de alguma maneira?

A TV não vai deixar de ser importante e provavelmente vai continuar sendo o meio de comunicação mais importante durante um tempo. Mas neste ano, a presença das redes sociais deve ter mais força, especialmente os aplicativos de mensagem. As informações podem ser espalhadas com muita velocidade e podem ser complementadas no caminho com opiniões (dos eleitores). Este ano a gente acredita deve ter uma influência talvez não diretamente no resultado, mas sim nos ataques aos candidatos.

• No que o tempo maior de TV pode ajudar um candidato como o Alckmin, que já é conhecido do eleitor, mas tem números tímidos nas pesquisas?

Um dos fatores no caso de uma disputa para cargo majoritário é que o tempo de TV passa para o eleitor uma mensagem de que aquele candidato é competitivo ou não. Quem tem pouco tempo de TV passa a impressão de ser pouco competitivo. Então quando começa o horário eleitoral os eleitores percebem o tempo de TV como um grau de influência do candidato: quem tem mais tempo é mais influente e tem mais poder. E isso mesmo de uma forma subjetiva é um indicativo de competitividade do candidato.

• Então isso em tese poderia prejudicar um candidato sem muitas alianças, como é o caso do Bolsonaro, por exemplo?

Exatamente. Quando ele começar a aparecer com pouco tempo de TV, na comparação pode parecer que ele ficou mais isolado. Mas isso não é uma fórmula exata. Às vezes o candidato tem muito tempo de TV, mas a imagem negativa é muito forte.

• O peso da TV numa campanha com menor volume de recursos investidos deve diminuir?

Acho que continua o mesmo, porque apesar de diminuir muito a produção, isso vai acontecer por igual para os candidatos. Não haverá uma diferença no peso da TV. O principal não será a mudança nas regras, mas sim as redes sociais.

Míriam Leitão: Sombras do centrão

- O Globo

O apoio dos partidos do chamado centrão pode ser tanto a salvação quanto uma fonte de problemas para o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. O ex-governador de São Paulo ganhará fôlego em sua campanha, principalmente pelo aumento do tempo de televisão, mas também dará um abraço no inimigo: DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade têm estado por trás de várias das pautas-bomba que aumentam gastos no Congresso. O mercado financeiro comemorou com alta nas bolsas e queda do dólar. Mas há quem pregue cautela.

O economista Nathan Blanche, da Tendências Consultoria e especialista em câmbio, diz que o fortalecimento da candidatura de Alckmin diminui o risco de eleição de um candidato populista em outubro, seja de esquerda, seja de direita. Por isso, a reação dos mercados foi positiva. Mesmo assim, ele avalia que o momento ainda é de reflexão porque esses partidos estão envoltos em denúncias de corrupção e tem atuado de forma ambígua em relação ao ajuste fiscal.

— Não é hora de oba-oba. O acordo é importante, mas a sombra da Lava-Jato permanece sobre esses partidos, e todo mundo sabe que o nosso presidencialismo de coalizão funciona na base do “toma lá dá cá". Há corporações organizadas que vão querer algo em troca. Isso pode ir contra o ajuste fiscal — explica.

Adriana Fernandes: Programa do Centrão

- O Estado de S.Paulo

Difícil é saber a essa altura qual presidenciável terá coragem de expor sua plataforma econômica

O apoio dos partidos do Centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) à candidatura do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) passou ao largo de uma negociação programática em torno das diretrizes de política econômica para o próximo governo. Foi, na verdade, uma grande desculpa.

Embora gritante, a incompatibilidade do programa econômico foi a cortina de fumaça do Centrão para se afastar das negociações com o candidato do PDT, Ciro Gomes, à Presidência, patrocinada por Rodrigo Maia, presidente da Câmara.

O programa de fundo é o de sempre: vamos ter espaço ou não no próximo governo? Tempo de televisão, alianças regionais, protagonismo nas mesas diretoras da Câmara e do Senado em 2019 e cargos estão no centro da negociação, ainda cheia de incertezas diante da reação dos políticos dos dois lados prejudicados nos seus redutos pela aliança nacional.

Alckmin já está, inclusive, sendo atacado por aliados que tiveram a vida complicada pelo acordo.

Dos cinco partidos do Centrão, talvez o DEM fosse o com maior dificuldade em enquadrar sua plataforma liberal ao programa econômico de Ciro. Para os parlamentares do restante dos partidos, ajustando vai. A maior parte deles estava nos governos petistas.

Adriana Calcanhotto - Mentiras

Charles Baudelaire: Hino à beleza

Vens do fundo do céu ou do abismo, ó sublime
Beleza? Teu olhar, que é divino e infernal,
Verte confusamente o benefício e o crime,
E por isso se diz que do vinho és rival.

Em teus olhos reténs uma aurora e um ocaso;
Tens mais perfumes que uma noite tempestuosa;
Teus beijos são um filtro e tua boca um vaso
Que tornam fraco o herói e a criança corajosa.

Sobes do abismo negro ou despencas de um astro?
O Destino servil te segue como um cão;
Semeias a desgraça e o prazer no teu rastro;
Governas tudo e vais sem dar satisfação.

Calcando mortos vais, Beleza, entre remoques;
No teu tesoiro o Horror é uma jóia atraente,
E o Assassínio, entre os teus mais preciosos berloques,
Sobre o teu volume real dança amorosamente.

A mariposa voando ao teu encontro ó vela,
"Bendito este clarão!" diz antes que sucumba.
O namorado arfante enleando a sua bela
Parece um moribundo acariciando a tumba.

Que tu venhas do céu ou do inferno, que importa,
Beleza! monstro horrendo e ingênuo! se de ti
Vêm o olhar, o sorriso, os pés, que abrem a porta
De um Infinito que amo e jamais conheci?
De Satã ou de Deus, que importa? Anjo ou Sereia,
Se és capaz de tornar, - fada aos olhos leves,
Ritmo, perfume, luz! - a vida menos feia,
Menos triste o universo e os instantes mais breves?