terça-feira, 23 de julho de 2019

Opinião do dia: Luiz Sérgio Henriques*

A esquerda não escapou ilesa do sarampão ideológico, basta lembrar que com o resultado eleitoral americano e fenômenos análogos, como o Brexit, houve quem imaginasse possível saudar o golpe de misericórdia na “globalização neoliberal”. Para essa parte da esquerda, não se trata de partir audaciosamente para a nova fronteira anunciada pela crescente interdependência, mas de recuar temerosamente para os limites do Estado-nação, só no interior do qual seria possível defender as conquistas do passado. Na verdade, essa esquerda “soberanista” mimetiza, em tom menor, o movimento do adversário, de cujas ações e de cujo programa se torna, querendo ou não, mero comparsa.

Eppur si muove. Nem governos que se veem como borrões do trumpismo podem se esquivar do novo horizonte global, como se viu ainda há pouco com o tratado entre os dois grandes blocos da América Latina e da Europa. Liberais, conservadores e socialistas, filhos legítimos da modernidade, continuam a ter relevantes chances de se renovar e retomar o controle da narrativa. Para tanto, tendo bem presente o vínculo nacional e o senso das realidades próximas, deverão sempre considerar o significado mais profundo de um cosmopolitismo moderno, o antídoto mais eficaz contra a ameaça de recuos pavorosos como o que se seguiu a Weimar.

*Tradutor e ensaísta, é autor de ‘Reformismo de esquerda e democracia política’ (Fundação Astrojildo Pereira, 2018).’Por um cosmopolitismo moderno’, O Estado de S. Paulo, 21/07/2019.

Merval Pereira: Presidente desmoraliza o Inpe

- O Globo

Teoria da conspiração não deixa que o presidente e seus assessores mais xiitas tenham atitudes sensatas

A última semana foi especialmente crítica para o presidente Bolsonaro, que falou muito, geralmente em situações improvisadas, o que dificulta seu desempenho, que já não é dos melhores na oratória. Mas, mesmo quando conversou com jornalistas estrangeiros num café da manhã, se descuidou com as palavras. Deu vazão a sentimentos que o perseguem, como conspirações.

Antigamente, os paranoicos procuravam comunistas embaixo da cama. Hoje, procuram conspiradores debaixo da mesa presidencial.

Não sei quem inventou essa parábola do anão debaixo da mesa, responsável por revelar todas as decisões tomadas no gabinete presidencial do Palácio do Planalto. Ela circulava com um tom irônico, que Bolsonaro também usou, mas não revelava nenhuma conspiração.

Esse espírito defensivo está sempre presente nas declarações do presidente e de seus filhos, especialmente o vereador Carlos. Fora do plano de conspiração, Bolsonaro tem obrigação de pesar o que está falando, pois sabe que tudo será publicado.

Perdeu a noção da repercussão que a palavra do presidente provoca. Além das declarações infelizes, erradas, Bolsonaro está numa discussão difícil, sobre a indicação do filho para a embaixada do Brasil nos EUA. Defendeu o filho de maneira equivocada, confundindo o país com a família.

E o que vazou de seu comentário a respeito dos nordestinos não é bom. Mesmo que se referir aos nordestinos como “paraíbas” seja uma característica da linguagem informal, há um claro tom pejorativo.

Bernardo Mello Franco: Bolsonaro é ‘insano’ e ‘perigoso’, afirma Dino

- O Globo

Governador do Maranhão, Flávio Dino acusa o presidente de liderar uma “minoria sectária”, determinada a “criar confusão e dividir o país”

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirma que o presidente Jair Bolsonaro é “insano” e lidera uma “minoria sectária”, determinada a “criar confusão e dividir o país”.

Na sexta passada, o presidente foi gravado usando um tom pejorativo ao citar o governador, em conversa com o ministro Onyx Lorenzoni. “Daqueles governadores ‘de paraíba’, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara”, disse Bolsonaro.

“Isso prova que tem um insano no comando do país”, reage Dino. “Há um método instalado no poder central. Um método de discriminação, perseguição e preconceito”, acrescenta.

Na visão do governador, o presidente investe em declarações agressivas para “esconder o mau governo que faz”. “Um traço do discurso fascista é a identificação de inimigos para justificar suas próprias carências”, diz. Ele avisa que não pretende recuar “um milímetro” em suas críticas. “Não tenho medo de ditador nem de projeto de ditador”, desafia.

Dino sustenta que as declarações de Bolsonaro não devem ser tratadas com “toscas” ou “ridículas”. “É preciso compreender que a visão expressada pelo presidente é perigosa para o Brasil”, afirma. “Não é algo isolado contra mim. É uma coisa geral, que visa promover uma desorganização da política brasileira”.

José Casado: O passado incomoda

- O Globo

Oficiais do Comando de Operações Especiais atravessaram a última semana tentando decifrar o significado de palavras ditas por Jair Bolsonaro durante uma celebração dessa unidade do Exército: “Feliz é o país que tem umas Forças Armadas e forças auxiliares comprometidas com a democracia, mesmo com sacrifício da própria vida ou com a destruição da própria reputação.” Como não explicou, oficiais não entenderam esse suicídio institucional.

A dúvida tem origem na ocasião do discurso, o 17º aniversário do Comando de Operações Especiais, criado em 27 de junho de 2002. Até então, existia um destacamento, cuja ação mais relevante ocorrera no Araguaia nos anos 70: o massacre de um grupo terrorista do PCdoB. Se era a isso que se referia, ele se tornou o primeiro presidente a reconhecer essa carnificina como devastadora para a imagem do Exército na ditadura.

Numa perspectiva benigna, pode-se tomar a retórica pelo que parece ser, a performance ilusionista de um personagem político cevado na banalização da violência e na louvação a ícones dos porões da ditadura — antítese do profissionalismo militar.

Convicto da caricatura política que criou e legitimou nas urnas, Bolsonaro parece ter esquecido quem é na vida real: “Deixei o Exército em 1988”, recordou no discurso, “e estou muito feliz com tudo aquilo que aconteceu, mesmo com algo um tanto quanto esquisito lá atrás.”

Simon Schwartzman*: O futuro das Federais

- O Globo

O ideal seria que as universidades deixassem de ser repartições públicas e adquirissem um status legal próprio

O programa Future-se, anunciado pelo MEC para fortalecer a autonomia administrativa e financeira das universidades federais, procura responder a um anseio antigo de dar às instituições maior autonomia e flexibilidade de captação e gestão de recursos orçamentários e de seus bens patrimoniais. Para entender e avaliar o programa, é necessário considerar três aspectos principais: o institucional, o educacional propriamente dito e o financeiro.

O ideal seria que as universidades deixassem de ser repartições públicas e adquirissem um status legal próprio, combinando a flexibilidade da legislação privada com mecanismos que garantam suas funções públicas. O modelo disponível é o das organizações sociais, já adotado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e outras instituições. Ao invés de tentar isso diretamente, o MEC está propondo uma via indireta, que é fazer com que as universidades estabeleçam convênios com organizações sociais existentes ou a serem criadas, que assumiriam parte ou a totalidade de suas funções de gestão, governança e empreendedorismo. Embora a ênfase seja em atividades de pesquisa, é possível dar uma interpretação mais ampla, já que as OS teriam funções gerais de gestão patrimonial e dos planos de ensino, pesquisa e extensão das universidades.

Luiz Carlos Azedo: A inércia do erro

- Nas entrelinhas / Correio Braziliense

“O presidente da República toma decisões na base do “achismo”, desconsiderando indicadores científicos”

Há casos famosos de líderes que preferiram matar o mensageiro a reconhecer os próprios erros. Em 335 a.C., o imperador persa Dario III, em guerra com Alexandre Magno, da Macedônia, ao ser alertado sobre os possíveis erros de sua estratégia pelo mercenário grego Charidemus, resolveu estrangulá-lo num ataque de fúria. Acabou derrotado. Também é famoso o caso do almirante inglês Clowdisley Shovell, que havia derrotado os franceses no Mediterrâneo e naufragou a sudoeste da Inglaterra, em meio a um nevoeiro, porque não quis reconhecer que seus cálculos de navegação estavam errados, perdendo cinco navios e dois mil homens. Preferiu enforcar o subalterno.

É mais ou menos o que está fazendo o presidente Jair Bolsonaro com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, a quem acusou de estar “a serviço de alguma ONG” por divulgar dados que mostram o grande aumento do desmatamento na Amazônia. Funcionário de carreira, com uma longa folha de serviços prestados, o pesquisador rebateu as acusações e reafirmou a veracidade dos dados sobre desmatamento divulgados pelo Inpe, cuja política de transparência permite o acesso completo aos dados e adota metodologia reconhecida internacionalmente.

De acordo com números divulgados pelo Inpe no início deste mês, o desmatamento na Amazônia Legal brasileira atingiu 920,4 km² em junho, um aumento de 88% em comparação com o mesmo período do ano passado. Áreas da Amazônia que deveriam ter “desmatamento zero” perderam território equivalente a seis cidades de São Paulo em três décadas. Fora das áreas protegidas, a Amazônia perdeu 39,8 milhões de hectares em 30 anos, o que representa 19% sobre toda a floresta natural não demarcada que existia em 1985, uma perda equivalente a 262 vezes a área do município de São Paulo. Nas áreas protegidas, a perda acumulada foi de 0,5%. É óbvio que a nova política para o meio ambiente já é um fracasso.

Houve protestos de instituições como a Academia Brasileira de Ciência e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Críticas sem fundamento a uma instituição científica, que atua há cerca de 60 anos e com amplo reconhecimento no país e no exterior, são ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico”, diz a nota da SBPC. Segundo a entidade, dados podem ser questionados em bases científicas e não por motivações políticas e ideológicas.

Bolsonaro argumenta que, antes de divulgar dados sobre desmatamento no Brasil, o diretor do Inpe deveria, no mínimo, procurar o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, ao qual está subordinado, para informar antecipadamente o conteúdo que seria divulgado. Afirmou que está acostumado com “hierarquia e disciplina” e questionou a divulgação de dados sem seu prévio conhecimento. Segundo Bolsonaro, pode haver algum equívoco na divulgação das informações ambientais sem um crivo prévio do governo, sob o risco de “um enorme estrago para o Brasil”.

José Serra*: Um grande homem público

- Folha de S. Paulo

Barelli deixou marcas importantes na história do país

Na última quinta-feira (18), morreu o economista Walter Barelli, cuja militância profissional na área deixou marcas importantes na história brasileira após o golpe militar de 1964.

Foi ele quem conduziu o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese) a partir da segunda metade dos anos 1960 até o início dos 90, instituição que teve um grande papel no fortalecimento do movimento dos trabalhadores de São Paulo, ao pesquisar índices de preços, ou custo de vida, que serviam de base às reivindicações sindicais.

O Dieese sobreviveu aos piores anos do autoritarismo no Brasil, com Barelli à frente, mantendo sempre sua credibilidade técnica.

Além de diretor do departamento, ele foi ministro do Trabalho de outubro de 1992 a abril de 1994, secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo de 1995 a 2002 e deputado federal pelo PSDB de 2003 a 2007. Foi ainda professor do Departamento de Teoria Econômica e membro do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Unicamp.

Como ministro do Trabalho do presidente Itamar Franco, assinou juntamente com Fernando Henrique Cardoso a lei 8.678, de 1993, que introduziu na legislação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) a possibilidade do trabalhador sacar a poupança no fundo quando fica fora do regime por um período de três anos ininterruptos. Nada mais justo.

Hélio Schwartsman: O antiestadista

- Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro não tem noção da estatura do cargo que ocupa

Costuma-se reservar a palavra “estadista” para designar líderes que se destacam dos demais políticos por enxergarem mais longe, serem capazes de elevar-se acima das divisões sectárias e fazer avançar agendas decisivas, que produzirão impactos positivos por décadas.

Jair Bolsonaro é o exato oposto disso. Ele não tem noção da estatura do cargo que ocupa, dedicando-se a questiúnculas que não deveriam chegar nem perto do gabinete presidencial, como o conteúdo de filmes que contam com financiamento público ou o número de pontos necessário para cassar a habilitação de motoristas. Pior, busca interferir nesses assuntos de forma personalista, com desprezo pelas instituições e contra consensos técnicos.

Bolsonaro também não desperdiça oportunidades de aprofundar as divisões políticas que tanto mal têm causado ao país. Ele abusa de pautas que não passam de nitroglicerina ideológica, investe contra governadores nordestinos e ataca, de forma pusilânime, desafetos e até profissionais que não corroborem suas singulares visões de mundo.

Ranier Bragon: Bolsonaro faz da mesquinharia uma marca de governo

- Folha de S. Paulo

Preconceito contra nordestinos é mais um indicativo de pequenez de espírito

O Maranhão é um estado muito necessitado. É o 11º mais populoso e tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do país.

Jair Bolsonaro nunca deu um pio que seja no sentido de buscar solução para as mazelas de lá ou de outros lugares, vide a sua concepção sobre a fome no Brasil. Certamente imagina que esse tipo de situação mistura coitadismo com dados fraudados pelos comunistas do IBGE.

Ocupa muito mais a cabeça do presidente a miudeza eleitoral, a ninharia política, a futilidade ideológica.

“Não tem que ter nada pra esse cara”, disse em áudio captado momentos antes da conversa com jornalistas estrangeiros, na semana passada.

Joel Pinheiro da Fonseca*: O que é (e o que não é) liberalismo

- Folha de S. Paulo

Não há nada de liberal numa turba enraivecida calando vozes dissonantes

Ciente da pobreza de qualquer definição, eu diria que o liberalismo é a defesa da liberdade individual como fator essencial da boa sociedade. Uma boa sociedade é aquela na qual as pessoas podem, tanto quanto possível, viver de acordo com seus diferentes valores e interagir pacificamente com os demais.

Os indivíduos vêm antes da consideração abstrata da coletividade, ou de alguma concepção da sociedade como um todo orgânico, que não raro acaba sendo identificado com o Poder Executivo.

Além de um componente moral, essa defesa parte também do entendimento de que a economia de mercado —aquela baseada na propriedade privada, liberdade de preços e de iniciativa— é a engrenagem básica do progresso.

O mercado está longe de ser perfeito. Tem falhas, pode levar à concentração exagerada de renda e riqueza, não atende adequadamente aos mais pobres, não compreende tudo que importa na vida. Essas considerações justificam o papel ativo do Estado para além de mero garantidor da propriedade. Mas o fato é que economias que tentaram prescindir do mercado naufragaram e seguem naufragando.

Dito isso, a liberdade individual vai além da liberdade econômica. Ela depende também, por exemplo, de regras e instituições que impeçam a concentração extrema de poder. Isso se dá tanto pela divisão dos Poderes do Estado quanto pela existência de entidades da sociedade civil capazes de fazer um contraponto ao discurso dos mais poderosos. Nada é mais perigoso ao poder constituído do que mentes e vozes livres.

Pablo Ortellado*: Como reagir a Bolsonaro?

- Folha de S. Paulo

Presidente parece se divertir com a indignação dos descontentes

O governo Bolsonaro coloca um grande desafio. Como responder a sua prolífica produção de declarações e ações ultrajantes?

Apenas na última semana, o presidente anunciou que vai indicar o próprio filho para o cargo mais estratégico da diplomacia brasileira, ameaçou censurar ou fechar a Agência Nacional de Cinema e caluniou da forma mais aviltante uma respeitada jornalista brasileira.

Em um governo regular, a reação indignada da opinião pública, de organizações de direitos humanos e de atores do mundo da política forçaria o presidente a pedir desculpas.

Mas Bolsonaro não reage assim. Ele parece divertir-se com a indignação que causa —e uma parte do seu público também.

Foi o que se viu, por exemplo, na “brincadeira” que fez ao chegar ao Palácio do Alvorada, no último sábado, se dirigindo às pessoas que estavam ali: “Vamos fechar a Ancine ou não vamos?”. Ao que responderam em coro: “Vamos!”

O bolsonarismo se mantém com uma estratégia de divisão e mobilização permanente. Ele explora e mantém viva a divisão da sociedade civil, assustando os seus apoiadores com supostos perigos dos quais os adversários seriam portadores.

Eliane Cantanhêde: ‘Paraíbas’ e ‘melancias’

- O Estado de S. Paulo

Bolsonaro contra institutos, governadores, conselhos, fundações e mais um general

Nas democracias, líderes políticos e governantes devem ter relações institucionais e ampliar contatos, interlocutores e aliados. O presidente Jair Bolsonaro faz justamente o oposto: ele parece determinado a confrontar e irritar todo mundo que não pensa exatamente igual a ele. Uns são “paraíba”, outros são “melancia”, e só ele sabe o que é bom para o País. Isso não soma, só divide e acirra os ânimos.

Depois de usar um termo pejorativo contra nordestinos e dizer que “não é para dar nada” ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), Bolsonaro não se contentou com a reação em bloco dos governadores da região – a mais oposicionista do País – e foi cutucar Rui Costa, da Bahia. O que seria uma festa de inauguração de aeroporto, hoje, em Vitória da Conquista, virou motivo de guerra.

Na versão do governador, que é do PT, Bolsonaro “excluiu o povo” e transformou a festa numa “reunião político-partidária” com os seus apoiadores, com uma claque organizada. De 300 convites, só 70 teriam sido para o governo local. Rui Costa decidiu não ir e gravou um vídeo de desagravo.

Rubens Barbosa*: Ser embaixador em Washington

- O Estado de S.Paulo

Talvez mais do que em outros postos, nos EUA o que conta é ter acesso e influência

O Dissenso de Washington, livro onde descrevo como exerci a função de embaixador nos Estados Unidos por quase cinco anos e as atividades da embaixada, foi publicado em 2011. Por sua atualidade, transcrevo trechos do capítulo Ser Embaixador Junto ao Governo Americano, lembrando que, por mais que as relações entre os governos sejam excelentes, o embaixador tem de ficar atento para defender os interesses do País, pois os Estados Unidos haverão de defender os seus com vigor. A defesa é feita acima de partidos e ideologias, com prudência e comedimento, sobretudo nos pronunciamentos públicos.

Ser embaixador em Washington, o posto mais importante no exterior para profissionais de qualquer país do mundo, é o sonho de todo diplomata, mas poucos alcançam esse objetivo. Até ser indicado, por mais de 30 anos ocupei cargos de chefia no governo e na área econômica do Ministério das Relações Exteriores e no Ministério da Fazenda.

O embaixador em Washington tem de estar amplamente atualizado não só sobre o que acontece em seu próprio país e naquele em que está acreditado, como também sobre os acontecimentos que se desenvolvem nos outros países do mundo.

Talvez mais do que em outros postos, em Washington o que conta para um embaixador é ter acesso e influência. O processo de construção do que se traduz em prestígio perante o governo e a sociedade local é, em grande parte, executado nos contatos desenvolvidos e aprofundados em ocasiões em que os interesses do Brasil são manifestados e defendidos.

Fernando Exman: Mais uma rota no voo solo do Legislativo

- Valor Econômico

Área social será terreno de luta por protagonismo

Os pontos de fricção entre a Câmara e o presidente Jair Bolsonaro irão além da agenda econômica, após o recesso parlamentar. Deputados devem começar a falar mais abertamente do plano do presidente da Casa, Rodrigo Maia, de implementar uma pauta social autônoma. Será mais uma tentativa de colocar o Parlamento em voo solo, agora na busca de protagonismo político num novo terreno.

O arranjo no calendário parece meticulosamente planejado. A partir de agosto, quando a Câmara dos Deputados finalmente passar adiante a pauta negativa da reforma da Previdência Social para o Senado, poderá então se debruçar sobre projetos de interesse de seus redutos eleitorais e com mais apelo popular.

Num primeiro momento, a Câmara fará o necessário para tocar a reforma tributária num ritmo acelerado o suficiente para que o Executivo consiga apenas entrar de carona na história. Maia assegura que a proposta a ser aprovada pelos deputados não instituirá novos impostos, mas essa bandeira, embora possa agradar governadores, prefeitos e empresários, não é capaz de animar comício algum. Assim como a necessária reforma administrativa do Estado, promessa do governo federal e também da cúpula do Legislativo.

O passo seguinte da cúpula da Câmara, que tem como horizonte os pleitos municipais do ano que vem e a eleição geral de 2022, será a discussão de uma agenda social. Em recentes entrevistas, Maia definiu algumas linhas do embate, como a aplicação do Bolsa Família, a primeira infância e o combate à evasão das escolas.

A esquerda já estava na mira de Maia e aliados, sejam eles seus correligionários do DEM ou lideranças nordestinas de outros partidos. Há meses os partidos de centro e centro-direita falam sobre a necessidade de se oferecer à sociedade programas que possam rivalizar com as realizações dos governos do PT. Com Bolsonaro passando a falar abertamente de seu projeto de reeleição, os programas da atual administração também entraram na linha de tiro. E a área ganhou evidência em razão de mais uma leva de declarações polêmicas do presidente: ao dizer que no Brasil não se passa a fome, o próprio Bolsonaro acabou deixando para um segundo plano os esforços de seu governo para combater a miséria.

Filipe Lage de Sousa*: Quem dá emprego?

- Valor Econômico

Políticas horizontais, como melhoria do acesso ao crédito e simplificação tributária, têm efeitos positivos no setor privado

Segundo os dados da última pesquisa do IBGE, há atualmente 13 milhões de desempregados no Brasil. Diante desse cenário, todos se perguntam que empresas poderiam oferecer emprego a essas pessoas? Grande parte dos economistas listaria o setor de serviços e/ou o segmento de MPMEs como os principais grupos do setor privado capazes de absorver esse contingente de desempregados, já que concentram a maior parte dos empregos formais. No entanto, esses grupos são formados a partir de uma fotografia da empresa ao longo da sua existência, seja pela atividade ou pelo seu tamanho. Recentemente, a disponibilidade de séries históricas de dados das empresas tornou possível analisar a sua dinâmica ao longo do tempo e, assim, identificar aquelas que apresentaram aumento na contratação de trabalhadores.

Publicado este ano pelo Banco Mundial, o livro "Empresas de Crescimento Rápido (ECR): Fatos, Mitos e Opções de Política para Países Emergentes" 1 aborda a dinâmica de empresas de onze países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. A publicação busca analisar o comportamento de firmas que obtiveram um crescimento diferenciado, bem como investigar como elas contribuíram para o desenvolvimento econômico. De uma forma geral, ECRs são definidas como empresas que alcançaram um crescimento de ao menos 20% a.a. em três anos consecutivos, partindo de um número de pelo menos dez empregados.

As ECRs representam em geral uma parcela pequena do total de empresas em uma economia. Nos EUA, Reino Unido e Espanha, elas correspondem a 6% do total de companhias. Já nos países em desenvolvimento, esse grupo de empresas costuma ser um pouco mais representativo (ver gráfico).

A participação delas nos países emergentes é, em média, mais que o dobro daquela encontrada em países desenvolvidos. Contudo, há também uma heterogeneidade significativa entre os países emergentes, com o percentual de ECRs variando de 4% no México até 21% na Turquia. No caso do Brasil, uma em cada cinco empresas brasileiras é classificada como ECR.

Ricardo Noblat: Sujeito errado

- Blog do Noblat / Veja

Com vocês, o presidente da República Federativa do Brasil

A reconhecida ignorância do presidente Jair Bolsonaro no trato dos maiores problemas do país tem uma vantagem para ele: pode recuar do que disse ou decidiu com facilidade, e cara de pau.

Quem lhe deu o voto sabia do seu despreparo, mas não ligou. Era a prova para eles de que Bolsonaro era um estranho no ninho de políticos corruptos. Melhor que fosse ele a qualquer outro.

Confrontados com declarações bizarras do candidato ou simplesmente sem pé nem cabeça, os devotos do capitão achavam graça e rebatiam condescendentes: exageros dele. O Mito é assim.

Por isso não se chocam nem se envergonham quando Bolsonaro, num dia, se refere aos nordestinos como aqueles “paraíbas”, e, no outro, os chama de “irmãos” e jura que não quis ofendê-los.

Nem se chocam ou se envergonham quando Bolsonaro chama de comunista um general que foi um dos maiores amigos no passado do mais bárbaro torturador da ditadura militar de 64.

Está tudo bom, tudo muito bem, e o capitão pode seguir na mesma toada. No fim de semana, pôs em dúvida a correção dos dados sobre desmatamento no Brasil. Ontem, arrependeu-se do que fez.

É razoável que Bolsonaro não queira ser surpreendido com a revelação de dados que possam aumentar o que ele classifica de “psicose” ambiental que assola outros países, o Brasil não.

Mas do mesmo modo seria razoável que ele se informasse antes a respeito do que o preocupa. Então ficaria sabendo que o governo recebe os dados com antecedência, podendo questioná-los.

Se o ridículo não o incomoda, à imagem do país causa grave dano. Imaginem se canais internacionais de notícias atentassem para o espetáculo que Bolsonaro oferece toda quinta-feira no Facebook:

“Com vocês, o presidente da República Federativa do Brasil”.

Do último, até ele pareceu se envergonhar. Estava mais para presidente de uma República de Bananas. Isso nada tem a ver com boa ou má comunicação de governo, mas com o sujeito em tela.

O novo alvo do Zero Dois

Crescimento global desacelera e pressiona bancos centrais: Editorial / Valor Econômico

Quando a economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, anunciar hoje em Santiago as previsões para a economia global, em nova revisão do estudo World Economic Outlook (WEO), muito provavelmente trará más notícias. A expectativa é que o FMI volte a reduzir a taxa de crescimento esperada para este ano, em consequência do acirramento da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, dos problemas na União Europeia e da decepção com o desempenho de alguns países emergentes, inclusive o Brasil. Para agravar a situação, a principal reação das autoridades parece se limitar a recorrer ao já surrado afrouxamento monetário.

Desde o fim do ano passado, o FMI vem cortando gradualmente as previsões para a economia global e, ainda assim, está com números superiores aos de outros organismos multilaterais. Depois de ter chegado perto do pico de 4% em 2017 e ter embalado o primeiro semestre de 2018 ao ritmo de 3,8% anualizados, o crescimento mundial começou a ratear no segundo semestre, tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes, em consequência da guerra comercial, aperto financeiro e elevação do preço do petróleo. 2018 acabou fechando com expansão de 3,6%.

O FMI esperava que esse índice fosse superado agora. No entanto, já em janeiro a previsão tinha recuado para 3,5% em vista da escalada tarifária no comércio entre Estados Unidos e China, e o enfraquecimento da produção na Europa. No segundo trimestre os problemas persistiram. O Brasil começou a decepcionar; e os Estados Unidos, que vinham em ritmo diferente, também pareceram marcar passo. Mais uma vez, o FMI reduziu a previsão, que foi para 3,3%. Essa é a menor marca desde 2009, quando a economia mundial encolheu 0,1%, na esteira da crise financeira internacional. Ainda assim deverá ser novamente reduzida.

Disparidade salarial: Editorial / Folha de S. Paulo

Gasto com funcionalismo deve ser reduzido gradualmente e sem perda de qualidade

Com salários elevados desde os estágios iniciais das carreiras, estabilidade no emprego e privilégios previdenciários, dificilmente o setor público brasileiro poderia dar maiores incentivos à baixa produtividade de seu quadro de pessoal.

Não surpreende, pois, que o país, longe de apresentar resultados animadores em áreas cruciais como educação, saúde e segurança, assuma custos extraordinariamente altos com seu funcionalismo.

Conforme noticiou esta Folha, o pagamento de servidores ativos nas três esferas de governo, em tendência de expansão, consumiu 13,6% do Produto Interno Bruto no ano passado. Pouquíssimos países do mundo destinam fatia tão ampla de seus recursos a essa finalidade.

Política de pessoal do funcionalismo exige uma reforma: Editorial / O Globo

São necessárias regras racionais para que tudo deixe de ser definido por lobbies de grupos de pressão

O adiamento de reformas necessárias para adaptar o país a mudanças que ocorrem em vários campos — no demográfico, na tecnologia e em outras tantas áreas —cobra um preço.

O exemplo atual é o da Previdência, tema por óbvio sensível, e que foi sendo deixado de lado por conveniências políticas, até chegar ao ponto em que aposentadorias e pensões consomem cerca da metade dos gastos públicos primários, uma conta que não para de subir.

E assim, o governo Bolsonaro está sob pressão para aprovar no Congresso uma reforma que precisa ser robusta, para afastar as expectativas crescentes de insolvência do Estado. Disso depende a capacidade de a economia voltar a se movimentar e começar a absorver os 13 milhões de desempregados.

O atual governo tem o desafio de recuperar o tempo perdido. Outro assunto é a reforma administrativa , sempre falada, mas sem que haja avanços substanciais. E quando existe algum avanço, logo à frente vem um recuo. Aconteceu na passagem da gestão Fernando Henrique para Lula e o PT.

Crédito externo, um avanço: Editorial / O Estado de S. Paulo

Com a imagem do País em recuperação, empresas brasileiras têm captado dinheiro externo aos menores custos contabilizados desde 2014, quando o Brasil afundava na recessão e numa das maiores crises fiscais de sua história. Vários fatores têm contribuído para essa melhora e o avanço da reforma da Previdência é um dos mais importantes, segundo executivos e analistas de grandes bancos internacionais e do mercado financeiro. A reforma começa, portanto, a produzir resultados positivos bem antes de sua aprovação final: até agora o projeto só passou pelo primeiro turno de votação na Câmara dos Deputados. Uma espiada nos bons efeitos já confirmados poderia ser um estímulo a uma tramitação rápida e sem grandes obstáculos a partir do começo de agosto.

Fatores externos também têm ajudado, com destaque para a freada nos juros americanos e as promessas de políticas ainda muito frouxas na Europa e no Japão.

Diante da perspectiva de menor crescimento econômico, bancos centrais do mundo rico decidiram prolongar os juros estimulantes. Isso torna mais fácil competir com a remuneração oferecida pelos papéis do Tesouro americano e outros títulos de grande prestígio no mercado global. Há um evidente benefício para os emissores – empresas e governos – do mundo emergente. Nesse quadro o Brasil tem sido especialmente favorecido.

Vinicius de Moraes: Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Roberta Sá - Mutirão de amor