sexta-feira, 24 de julho de 2015

Opinião do dia – Luiz Carlos Azedo

O recuo de Levy terá impacto perante investidores, ainda mais porque a crise política se agrava com o enfraquecimento da presidente Dilma Rousseff, cada vez mais impopular, e o avanço da Operação Lava-Jato, que atinge políticos importantes da base do governo. O programa de investimentos em infraestrutura lançado pelo governo com objetivo de alavancar a economia no segundo semestre, por ora, não passa de miragem. Dilma voltou a tomar decisões erráticas na economia.

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Luiz Carlos Azedo é jornalista, em artigo ‘Atrás do próprio rabo’. Correio Braziliense, 23 de julho de 2015.

Renda tem maior queda em 11 anos e desemprego sobe

Queda na renda piora desemprego

Marcello Corrêa, Daiane Costa – O Globo

• Salários têm a maior perda em onze anos e levam mais gente a buscar uma vaga

A primeira metade de 2015 terminou com um balanço amargo para o mercado de trabalho. Na média entre janeiro e junho, o rendimento real (já descontando a inflação) do brasileiro ficou em R$ 2.195,05, valor 2,1% menor que o registrado no mesmo período do ano passado. É a maior perda nos ganhos dos trabalhadores desde 2004, quando o recuo do primeiro semestre chegou a 3,09%. Os dados fazem parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE. A taxa de desemprego subiu para 6,9% no mês passado, a mais alta para um mês de junho desde 2010.

E as perspectivas para o segundo semestre não são boas. Entre os economistas ouvidos pelo GLOBO, já há quem estime que a renda média do trabalhador encerre o ano em patamar 4% inferior ao do ano passado. É o caso de Rafael Bacciotti, economista do Tendências. Segundo ele, o cenário negativo do mercado de trabalho vai persistir no segundo semestre.

- Esse processo deve continuar ocorrendo. A gente não tem perspectiva de mudança na atividade. Pelo contrário, há um consenso de que a recuperação vai ficar para depois, em 2016 - afirma o analista, que espera uma taxa média de desemprego de 6,7% neste ano.

Já Rodolfo Margato, economista do Santander, prevê queda de 3% da renda este ano.

- A perda na renda real não era esperada nessa magnitude. A explicação está na queda mais forte da atividade doméstica - destaca.

Vaga com salário menor
A alta do desemprego está diretamente ligada à queda da renda. Com mão de obra de sobra, a negociação salarial de quem está empregado fica mais difícil. Além disso, trabalhadores em busca de vagas acabam aceitando salários menores - uma tendência das empresas, em meio à economia mais lenta.

Após cinco meses desempregada, a ex-operadora de telemarketing Mariana Vieira Ewald, 30 anos, está disposta a ganhar menos para não ficar sem trabalho. Mãe de dois filhos, de 6 e 13 anos, ela era uma das dezenas de pessoas que buscavam vagas em um posto Secretaria do Trabalho, no Centro do Rio, ontem à tarde, e se mostrava bastante apreensiva. Desde que foi demitida, ela não consegue encontrar uma vaga que ofereça salário no mesmo patamar do anterior ou algum tipo de benefício, como vale-alimentação ou plano de saúde.

- Está muito difícil. Tenho conseguido me manter por conta da ajuda da família. Daqui para frente, estou aceitando o que vier, porque está muito difícil. Trabalhei por cinco anos em uma empresa, saí para ganhar mais em uma outra e, três meses depois, fui demitida. Nem seguro-desemprego pude usar. Fiz uma péssima troca - lamenta Mariana.

Na análise de Hélio Zylberstajn, professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e coordenador do site Salários.org.br, da Fipe, se a taxa de desemprego divulgada refletisse a realidade de hoje, ela já teria passado dos 7%, e a tendência é continuar nessa escalada. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, também do IBGE e que analisa o mercado de trabalho em todo o país, a taxa de desemprego do período de março a maio foi de 8,1%.

- O rendimento real está sendo corroído pela inflação, que é o maior inimigo do consumidor. E o poder de barganha do trabalhador para negociar salários está cada vez mais fraco - avalia. - Até janeiro deste ano, os sindicatos de classes trabalhadoras conseguiam repor a inflação e ainda ter um ganho real nas negociações salariais. Depois disso, com o aumento da inflação, que já gira em torno de 9% (no acumulado de 12 meses), as empresas não têm nem reposto a inflação.

O processo funciona como em um círculo vicioso: a queda na renda provoca o aumento da desocupação, e vice-versa. Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, um dos fatores que permitiu que a taxa de desemprego se mantivesse baixa no ano passado foi a baixa pressão sobre o mercado, reflexo do maior número de pessoas que optavam por não trabalhar. Isso só era possível graças à alta na renda, um movimento que já começou a se reverter.

- Houve um período bastante importante de crescimento real da renda, e isso permitiu que principalmente os mais jovens postergassem a entrada no mercado de trabalho. Agora, é o contrário - analisa Fábio Romão.

Hoje, são justamente os jovens que mais sofrem com a falta de trabalho. O desemprego da população entre 18 e 24 anos avançou para 17,1% em junho, após ter ficado em 12,3% no mesmo mês do ano passado. É a maior para essa faixa etária desde agosto de 2009, quando chegou a 17,4%, porque a economia ainda se ressentia dos efeitos da crise econômica global.

Tradicionalmente, a desocupação entre os mais jovens é mais elevada. Mas o IBGE chama atenção para intensidade da alta registrada na comparação com o ano passado. O aumento de 4,8 pontos percentuais foi o maior entre as três principais faixas etárias acompanhadas pelo pesquisa do instituto. No grupo entre 25 a 49 anos, a taxa passou de 3,6% para 5,8% (diferença de 2,2 pontos percentuais) e, entre os com 50 anos ou mais, foi de 2% para 2,9% (alta de 0,9 ponto percentual). Na média geral, a taxa passou de 4,8% para 6,9% (diferença de 2,1 pontos percentuais).

Total de desocupados cresce 45%
Considerando todas as faixas de idade, o número de brasileiros que ingressou na população economicamente ativa (pessoas que estão trabalhando ou procurando emprego) mês passado subiu 0,9% em relação a junho de 2014. O percentual é considerado estatisticamente irrelevante pelo IBGE, mas representa 224 mil a mais na força de trabalho, que chegou a 24,4 milhões nas seis regiões.

No mesmo período, o número de pessoas ocupadas diminuiu 1,3%, refletindo a onda de demissões observada nos últimos meses. Com isso, a fatia dos desempregados cresceu nada menos de 44,9% em um ano e chegou a 1,7 milhão de pessoas nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pela pesquisa. A menor taxa de desemprego foi registrada na região metropolitana do Rio (5,2%), e a maior, em Salvador (11,4%).

- O crescimento da desocupação pode estar sendo provocado tanto por aqueles que perderam o emprego, quanto por aqueles que estão tentando entrar no mercado de trabalho e já entram na condição de desocupados - explica Adriana Beringuy, técnica do IBGE responsável pela pesquisa.

Além da queda da renda, os dados indicam criação menor de vagas em cada vez mais setores. No mês passado, a maior queda na população ocupada foi registrada no construção civil, que perdeu 5,1% de sua força de trabalho entre junho de 2014 e junho de 2015.

Apesar de concordar com o quadro negativo, Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em mercado de trabalho, destaca que o emprego ainda tem mostrado sinais de resistência e que, diante da perspectiva de recuperação no ano que vem, é possível que empresários decidam evitar as demissões.

- Não há um sentimento de que o mergulho na recessão durará dois, três, quatro anos. Há uma grande expectativa de que o sinal de melhora ocorrerá no primeiro semestre do ano que vem. Se eu sou empresário, vou demitir somente aquilo que preciso - afirma Dedecca.

Salário formal tem 1ª queda em 11 anos

Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S. Paulo

• Piora no mercado de trabalho fez com que remuneração recuasse no primeiro semestre de 2015

A piora do mercado de trabalho provocou uma queda real (descontada a inflação) nos salários médios de admissão dos profissionais com carteira de trabalho. No primeiro semestre, a remuneração dos trabalhadores foi de R$ 1.250,39, abaixo do salário de R$ 1.2711,10 pago pelas empresas entre janeiro e junho de 2014, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A queda é a primeira da série histórica para esse indicador, iniciada em 2003.

O recuo no salário dos brasileiros com carteira de trabalho está diretamente associado à piora da atividade econômica e do emprego. O mercado já estima uma recessão para 2015 de 1,7% e, no primeiro semestre, o País fechou 345 mil postos o pior resultado desde 2002. "A deterioração do mercado de trabalho se mostrou mais rápida do que o esperado", afirma Fabio Romão, economista da consultoria LCA.

Em alguns Estados, como Pernambuco, Rondônia e Alagoas, a redução no salário de admissão chega a 5% de janeiro a junho (ver mais ao lado).

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, também apontou essa piora no rendimento dos profissionais com carteira de trabalho do setor privado. O recuo no salário desse grupo explicou 40% da queda real de 2,7% no rendimento total apurado na economia entre janeiro e abril, segundo um levantamento da consultoria Tendências. "Essa dado reforça o diagnóstico do Caged de que o salário de entrada no mercado formal tem diminuído", afirma Rafael Bacciotti, economista da Tendências.

A perda do poder de barganha do brasileiro na negociação salarial ocorre por causa da inflação elevada e também pela piora da economia, que leva mais trabalhadores a procurar emprego ao mesmo tempo em que as empresas ofertam menos vagas.

Em junho, por exemplo, o Indicador do Mercado de Trabalho Catho-Fipe apontou uma redução de 14,1% na quantidade de vagas abertas pelas empresas na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Em 2012, apesar do baixo crescimento, o número de vagas criadas pelas empresas rodava muito acima da taxa de admissão da economia", diz Raone Costa, economista responsável pelo estudo. "Agora, ocorre o contrário: a quantidade de vagas está caindo há um ano."

Precarização. Com a piora do emprego com carteira assinada, o mercado de trabalho brasileiro tem enfrentado um processo de precarização. Nos 12 meses encerrados em maio, segundo os dados do IBGE, 213 mil profissionais deixaram o emprego com carteira de trabalho na iniciativa privada. Nesse mesmo período, a quantidade dos trabalhadores chamados de por conta própria - com remuneração mais baixa - aumentou em 136 mil.

Um outro indicativo dessa precarização se dá pela piora da relação entre os salários de admissão e desligamento. A economia tem enfrentado um processo de substituição dos profissionais caros pelos menos custosos. "O salário de admissão concentra os jovens com pouca experiência e aquelas pessoas que perderam o emprego e aceitam uma remuneração aquém da desejada para poder se recolocar no mercado de trabalho", diz Romão, da LCA.

Governo tenta conter reação negativa após recuo no ajuste fiscal

Valdo Cruz, Isabel Versiani – Folha de S. Paulo

• Equipes de Levy e Barbosa ligam para investidores e economistas e tentam passar mensagem positiva

• Planalto tenta evitar que ganhe força tese de que ministro da Fazenda saiu derrotado na definição da meta

BRASÍLIA - A reação negativa do mercado à redução da meta fiscal, com dólar em alta e Bolsa em queda, levou a equipe econômica a deflagrar uma operação para tentar reverter o clima adverso ao Brasil entre economistas e investidores nacionais e estrangeiros.

Logo pela manhã desta quinta-feira (23), assessores dos ministérios do Planejamento e da Fazenda entraram em ação e começaram a ligar para economistas de bancos nacionais e estrangeiros com a mensagem de que a redução da meta não significa "afrouxamento nem abandono do ajuste fiscal".

Ao final da tarde, já com o mercado no Brasil fechado, foi a vez de Joaquim Levy (Fazenda) entrar em campo. Ele participou de uma conferência por telefone organizada pelo banco JPMorgan com economistas e investidores brasileiros e estrangeiros.

Na conferência, que teve mais de 1.400 participantes, Levy justificou a redução da meta diante do cenário de forte retração das receitas e frisou que ela não alterará de forma significativa a dinâmica da dívida do país.

Para ele, as agências de classificação de risco percebem que o país tem capacidade de lidar com os problemas com "vigor e realismo" necessários para garantir a retomada do crescimento.

"A beleza da economia brasileira é a capacidade de reagir e reagir rapidamente."

Em seus contatos, as equipes de Levy e Nelson Barbosa (Planejamento) buscavam ressaltar que o governo está sendo "transparente" e "realista", evitando um "tom otimista" descolado da realidade.

Um dado era enfatizado nas conversas, que o governo, mesmo reduzindo a meta de superavit primário de 1,1% para 0,15%, fez um novo corte de despesas de R$ 8,6 bilhões, o que sinaliza, segundo os assessores, um "compromisso" com o reequilíbrio das contas públicas.

Dentro da estratégia de acalmar o mercado, Barbosa estará nesta sexta-feira (24) em São Paulo para conversas com economistas de bancos e consultorias para explicar os ajustes no superavit.

Imagem de Levy
Além de garantir que o Brasil segue comprometido com o ajuste fiscal, outra preocupação do governo era evitar que prosperasse a imagem de que Levy saiu derrotado na definição da nova meta.

O ministro da Fazenda passou as últimas semanas defendendo a importância de manter ou fazer a menor redução possível da meta. Neste ponto, perdeu a disputa, pois prevaleceu a posição do Barbosa, que defendia a redução imediata do superavit.

A presidente Dilma tomou a decisão na terça-feira (21). Até então, ela pensava em bancar uma redução menor, como defendia Levy. Mudou de ideia depois de ser apresentada aos dados de queda acentuada da receita.

Segundo assessores, a presidente não queria estar exposta a novos questionamentos, como os do TCU (Tribunal de Contas da União), de que o governo faz manobras em suas contas para melhorá-las artificialmente.

Levy até tentou garantir uma meta maior propondo um corte mais forte de gastos e mais medidas de geração de receitas. Foi convencido, porém, de que as propostas não eram viáveis neste momento.

Com nova meta, dólar sobe e Bolsa cai; Dilma defende Levy

Mercados têm reação ruim a mudança na meta fiscal e dólar vai a R$ 3, 21

Alvaro Campos, Fabrício de Castro e Luiz Guilherme Gerbelli – O Estado de S. Paulo

O mercado financeiro reagiu com nervosismo às mudanças na meta fiscal anunciadas pelo governo na quarta-feira. Ontem, o dólar fechou em alta de 1,98%, a R$ 3,291, a cotação mais elevada desde 19 de março. A Bolsa também sofreu. O Ibovespa - principal termômetro do mercado acionário recuou 2,18%, aos 49.806,62 pontos, menor nível desde 16 de março.

Na avaliação dos agentes econômicos, a mudança no cenário fiscal fez subir o risco de a economia brasileira ser rebaixada pelas agências de classificação de risco. Na quarta-feira, a equipe econômica reduziu a meta de superávit primário deste ano de R$ 66,3 bilhões (1,13% do PIB) para R$ 8,74 bilhões (0,15% do PIB). Além da economia menor, o governo passou a permitir um abatimento de R$ 26,4 bilhões se houver frustração de receitas, o que permite ao governo fechar o ano com um déficit primário de até R$ 17,7 bilhões. O superávit dos próximos anos também foi reduzido. A meta de 2%, prevista inicialmente para 2016, só deverá ser cumprida em 2018.

"A possibilidade de abatimento da meta, que pode levar a um número negativo em 2015, foi mal recebida", afirma Silvio Çampos Neto, economista da consultoria Tendências. "O resultado mim do fiscal em 2015 todo mundo já esperava. Mas 2016 e 2017 com cortes, isso pegou mal", diz José Faria Júnior, diretor da Consultoria Wagner Investimentos

A piora da percepção da questão fiscal se soma a um momento de forte turbulência no cenário interno e externo. Interna-mente, a recessão da economia brasileira tem se mostrado mais forte do que o previsto e, na política, o governo lida com os desdobramentos da Operação Lava , Jato e tem dificuldade para negociar com o Congresso. No cenário externo, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deu sinais mais claros de que deve promover uma alta dos juros em 2015, o que favorece a desvalorização do real.

Risco. Esse quadro fez aumentar o risco de a Moody"s - que esteve recentemente no País -reduzir a nota do Brasil em um degrau, mas com viés negativo. Ou seja, o País continuaria como grau de investimento, mas muito perto de perder esse selo.

"Antes, a expectativa mais consensual era a de que haveria o rebaixamento pela Moody"s, mas com uma perspectiva estável. Mas, diante dos fatos recentes, o risco maior é de o rebaixamento vir acompanhado de uma perspectiva negativa", diz Campos Neto, da Tendências.

Em relatório, o economista-chefe do banco UBS, Guilherme Loureiro, afirmou que, embora as novas meta sejam mais realistas, elas são muito baixas para sinalizar uma melhora nas contas públicas.

"As novas metas não são suficientes para estabilizar a dívida pública no Brasil até 2018. As agências de rating têm dado o benefício da dúvida ao governo, contanto que a gente continuasse a ver progressos no aperto fiscal e desde que as dinâmicas de dívida se estabilizassem após a piora em 2015/2016", diz o texto. O UBS diz que a probabilidade de a dívida bruta superar 70% do PIB é alta e lembra que esse ! tem sido um patamar importante na avaliação da Mood"s.

Dilma pede a governadores 'pacto de governabilidade'

Renata Batista, Raphael Di Cunto, Andrea Jubé, Sérgio Ruck Bueno e Cristian Klein – Valor Econômico

RIO, BRASÍLIA e PORTO ALEGRE - Sem alarde, a presidente Dilma Rousseff articula reunião com governadores aliados na próxima semana, em Brasília, com o objetivo de selar um "pacto de governabilidade" em meio a um quadro de crise econômica e instabilidade política.

O encontro, previsto para quinta-feira segundo fonte do Palácio do Planalto, busca reunir governadores mais afinados com Dilma, dispostos a reafirmar o apoio à presidente e o compromisso com o ajuste fiscal. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), já convidado, disse ao Valor que podem ser chamados todos os 27 governadores. Nos últimos dias, governadores de vários Estados manifestaram apoio à presidente, a começar pelos do Nordeste, que divulgaram carta em defesa de Dilma.

A presidente deve pedir ajuda dos governadores para mobilizar suas bancadas de deputados e senadores a aprovar a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O projeto não tem o respaldo da maioria dos chefes de Executivo estaduais. Para Reinaldo Azambuja (PSDB), do Mato Grosso do Sul, que até ontem não havia sido convidado para a reunião, a reforma causa preocupação por retirar 17% da receita de ICMS do Estado - algo estimado entre R$ 650 milhões e R$ 800 milhões por ano. O temor é com a falta de clareza de contrapartidas a serem oferecidas aos Estados que tiverem perda de receita.

O pleito por mais "responsabilidade" de deputados e senadores já é defendido por governadores aliados, como o de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), que fez duras críticas ao comportamento da Câmara e do Senado pela demora em votar os projetos do ajuste fiscal e pela aprovação de matérias que comprometem ainda mais as contas do governo federal. Durante palestra na cidade de Rio do Sul (SC), Colombo afirmou que "o que o Congresso brasileiro está fazendo com a sociedade é um estupro".

Colombo atacou especificamente a derrubada do fator previdenciário e a extensão do reajuste do salário mínimo para todos os aposentados. Segundo ele, o Parlamento age com "insensibilidade" ao aprovar leis "para piorar mais o cenário".

Dilma busca pacto com governadores
Sem alarde, a presidente Dilma Rousseff articula uma reunião com governadores aliados na próxima semana, em Brasília, com o objetivo de selar um "pacto de governabilidade" num quadro de crise econômica e instabilidade política. O encontro previsto para quinta-feira busca reunir governadores mais afinados com Dilma, dispostos a reafirmar o apoio à presidente e o compromisso com o ajuste fiscal num cenário de agravamento das dificuldades econômicas, ante a redução da meta fiscal, novos cortes no Orçamento e queda de arrecadação.

A decisão de promover o encontro foi comunicada anteontem ao governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Nos últimos dias, governadores de vários Estados manifestaram apoio à presidente, a começar pelos do Nordeste, que divulgaram uma carta em defesa de Dilma. Devem participar os cinco governadores do PT, governadores do PMDB, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, Rodrigo Rollemberg (PSB), do Distrito Federal, entre outros alinhados com a presidente.

Com dificuldades no Congresso, agravadas após o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), romper com o governo, Dilma fará um apelo à governabilidade e pedirá ajuda para que mobilizem suas bancadas de deputados e senadores para aprovar a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Apesar do apoio declarado dos governadores do Sudeste após reunião com Dilma na semana passada, o projeto, contudo, não encontra respaldo da maioria dos chefes de Executivo estaduais. Para Reinaldo Azambuja (PSDB), do Mato Grosso do Sul, que não foi convidado para a reunião, a reforma causa preocupação por retirar 17% da receita de ICMS do Estado - algo em torno de R$ 650 milhões a R$ 800 milhões por ano - sem clareza das contrapartidas.

"Já temos problemas com a Lei Kandir, que desonerou as exportações e hoje os Estados não recebe o valor devido", afirmou o tucano ao Valor, que conversou sobre o tema esta semana com os colegas do Mato Grosso, Paraná e Goiás. "Vejo os governadores muito precavidos. Até porque todo mundo está muito preocupado, precisa ter muita clareza de como vai ser ressarcido nessas perdas", disse.

Para Azambuja, as dificuldades de Dilma no Congresso não seriam problema, se houver acordo entre os Estados. "Não é uma pauta que diz respeito a A ou B, é para o país. Se for consensual, não tem como não aprovar."

O pedido por mais "responsabilidade" de deputados e senadores já é defendido por governadores aliados, como o de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), que fez duras críticas ao comportamento da Câmara e do Senado pela demora em votar os projetos do ajuste fiscal e pela aprovação de matérias que comprometem ainda mais as contas do governo federal.

Sem mencionar nomes e partidos, Colombo afirmou, durante palestra na cidade de Rio do Sul (SC), que "o que o Congresso brasileiro está fazendo com a sociedade é um estupro". O Valor teve acesso à gravação do evento, na qual ele critica a "irresponsabilidade" do Legislativo federal e prevê que o quadro político tende a piorar "muito rapidamente". "Qual o governo que resiste a uma perda importante de popularidade, a um rompimento com o Congresso?", indagou.

Colombo atacou especificamente a derrubada do fator previdenciário e a introdução da fórmula 85/95 - que depois foi vetada e substituída por uma regra progressiva pelo governo - e a extensão do reajuste do salário mínimo para todos os aposentados. Segundo ele, o Parlamento age com "insensibilidade" ao aprovar leis "para piorar mais o cenário".

O governador catarinense reconheceu que o ajuste vai "penalizar duramente a sociedade". Disse, porém, que o governo gastou mais do que podia, adotou uma política de "desoneração fiscal excessiva" e agora precisa pagar a conta e arrumar a economia porque, caso contrário, "o dinheiro [dos investidores internacionais] foge daqui".

Além da preocupação em garantir a governabilidade depois do rompimento do presidente da Câmara com o governo, o que preocupa os governadores é a necessidade de adoção de medidas que revertam o atual cenário econômico, de queda quase que generalizada da atividade - e consequente perda de arrecadação.

A aproximação do Palácio do Planalto com os governadores começou na semana passada. Em encontro com secretários estaduais de Fazenda, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, acenou com a liberação de recursos que vinham sendo retidos pela União, como o pagamento das compensações previstas na Lei Kandir por incentivos à desoneração das exportações de 2014.

Segundo Azambuja, o governo precisa destravar ainda os empréstimos para os Estados poderem fazer novos investimentos e pagar as contrapartidas para obras. "O cenário é preocupante. Temos várias obras paralisadas - rodovias, escolas, presídios - porque o governo não repassou os recursos dos convênios", disse.

Planalto apoia contato entre FHC e Lula e inclui Dilma

Dilma também faz aceno à oposição após gesto de Lula

Daniela Lima, Bela Megale e Marina Dias – Folha de S. Paulo

• Planalto expressa apoio a aproximação do ex-presidente com tucano FHC

• Ministros e assessor de Lula adotam discurso conciliador, e aliado diz que presidente topa participar de conversa

SÃO PAULO, BRASÍLIA - ,O Palácio do Planalto expressou apoio à iniciativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de buscar aproximação com seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso, e indicou que a presidente Dilma Rousseff também está disposta a participar de uma conversa com eles.

"Em todos os países democráticos é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes, que sejam chamados pelos presidentes em exercício. Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo", afirmou à Folha o ministro Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social do Planalto.

"Vejo com bons olhos a possibilidade de diálogo entre Fernando Henrique e Lula, como vejo com naturalidade que o mesmo aconteça com a presidenta", concluiu.

Como a Folha revelou nesta quinta-feira (23), Lula autorizou amigos comuns aos dois a procurar Fernando Henrique e propor uma conversa sobre a crise política.

O objetivo imediato da aproximação seria buscar conciliadores que pudessem frear os líderes oposicionistas que defendem o impeachment de Dilma. Além de FHC, Lula também procurou o senador tucano José Serra (SP).

Além de Edinho, outros ministros petistas manifestaram apoio à aproximação com a oposição, adotando discurso conciliador e abandonando o receio de que uma discussão pública sobre o assunto possa prejudicar as tratativas.

O Instituto Lula, que na quinta afirmou que o ex-presidente não tinha interesse em falar com Fernando Henrique, mudou de tom. Dizendo que expressava apenas uma opinião pessoal, o diretor do instituto, Paulo Okamotto, defendeu o diálogo.

"Minha opinião é que tanto o presidente Lula como o presidente Fernando Henrique são políticos importantes, com responsabilidades e capacidade de analisar o que o Brasil está enfrentando. Sempre fui a favor de que a gente converse com quem faz política."

Agenda
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse que uma conversa entre Lula e FHC seria "benéfica". "O encontro de dois ex-presidentes teria uma agenda muito superior a essa [impeachment], que é conjuntural, sobre a briga da oposição com o governo", avaliou.

"Apesar da última campanha dura, não podemos deixar consolidar na alma brasileira e na política brasileira uma dicotomia que não se conversa. Essas posições, governo e oposição, a gente troca. O que não pode perder é o norte do país", acrescentou.

Os contatos dos emissários de Lula com FHC foram feitos às vésperas de o tucano embarcar para uma temporada de férias na Europa, há cerca de dez dias. Segundo relatos feitos à Folha, o tucano teria deixado a questão em aberto, prometendo resposta após voltar ao Brasil, em agosto.

Por-email, Fernando Henrique disse à Folha que Lula tem seus telefones e que não precisa de intermediários para falar com ele. "Se desejar discutir objetivamente temas como a reforma política, [Lula] sabe que estou disposto a contribuir democraticamente. Basta haver uma agenda clara e de conhecimento público", disse o ex-presidente.

Líderes do PSDB viram os acenos do PT com desconfiança. "Eles [Lula e Fernando Henrique] não falam a mesma língua", disse o senador Aloysio Nunes (SP). "Uma hora correm para o MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] e na outra para o factóide da agenda nacional."

O presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), disse que a oposição deve conversar com o governo "se o que estiver em pauta for do interesse do país". Procurada para comentar o assunto, a assessoria do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) –que também está no exterior–, não respondeu.

Ministro elogia encontro Lula-FHC

André Ramalho - Valor Econômico

RIO - O ministro da Defesa, Jaques Wagner, elogiou ontem a iniciativa de um possível encontro entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para discutir o cenário político do país. Sem confirmar ou não a reunião, Wagner classificou o encontro como "extremamente correto" e disse acreditar que um eventual diálogo não deverá tratar do assunto impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas sim de uma "agenda muito superior".

Segundo a edição de ontem da "Folha de São Paulo", Lula teria autorizado amigos em comum a procurar FHC para tentar agendar uma conversa entre os dois sobre a crise política. Wagner destacou que ex-presidentes têm "responsabilidade sobre a nação" e elogiou os dois.

"Acho que precisamos de serenidade e bom senso e imagino que os dois ex-presidentes têm de sobra essas qualidades. Aplaudiria muito se houvesse esse encontro", disse a jornalistas, durante evento da Marinha, em Niterói (RJ).

O ministro afirmou acreditar que um eventual encontro entre Lula e FHC trataria de uma pauta mais ampla que o assunto impeachment. "Porque essa [pauta impeachment] é uma agenda conjuntural. Acho que eles teriam que ter uma agenda de longo curso, pensar o Brasil", opinou.

Wagner defendeu que oposição e situação busquem o diálogo. "O que não podemos perder é o norte. Países que escolheram o caminho de uma dicotomia sangrenta, em que oposição e situação não conversam, não prosperaram. Democracia não convive com isso", disse o ministro.

Wagner comentou ainda sobre a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de romper com o governo federal. O ministro classificou como uma "decisão pessoal" a iniciativa do deputado e disse não acreditar que Cunha conduzirá a presidência da Casa pela pauta da oposição.

"O posto dele [Cunha] é de magistrado e acho que quem senta na cadeira da presidência da Câmara tem a consciência, e o deputado Eduardo Cunha tem, de que aquele é um posto que não é nem da oposição, nem do governo", comentou Wagner.

Presente no evento, o ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, reiterou o discurso. "Se fosse pautada apenas na sua recente declarada opção oposicionista, o governo não teria aprovado as medidas do ajuste fiscal ", avaliou o ministro.

Para ministros, política econômica 'está acabando com o governo'

- Folha de S. Paulo

Na véspera do anúncio da redução da meta fiscal para este ano, a condução da política econômica do ministro Joaquim Levy (Fazenda) foi alvo de duras críticas durante reunião entre o presidente do PT, Rui Falcão, ministros e ex-ministros do partido.

Segundo a Folha apurou, os petistas fizeram um discurso pessimista quanto à crise econômica e avaliaram que "do jeito que está" é "impossível" recuperar a popularidade da presidente Dilma.

"A política econômica está acabando com o governo", disse, sob condição de anonimato, um dos presentes ao encontro que ocorreu na noite de terça-feira (21), na sede nacional do PT em Brasília.

A principal queixa é sobre os cortes estimulados por Levy que, segundo os ministros, têm prejudicado os programas sociais, principal bandeira do governo petista.

Na quarta-feira (22), o Planalto anunciou a redução da meta fiscal de 1,1% para 0,15% do PIB, admitindo, inclusive, deficit nas contas públicas deste ano. A medida deve prolongar o tempo do ajuste.

Levy insistia em não reduzir a meta e propôs um novo corte, de R$ 8,6 bilhões, dois meses após o governo anunciar um contingenciamento de R$ 70 bilhões.

Crédito
A avaliação, dizem, é a de que o governo não tem mais de onde cortar e, ao invés de tentar acenar ao mercado, como quer o ministro da Fazenda, deveria se atentar às bases, retomar o crédito e estimular o consumo "para que o Brasil volte a crescer".

Entre os participantes do encontro estavam o ex-ministro Gilberto Carvalho, os ministros Arthur Chioro (Saúde), Carlos Gabas (Previdência Social), Pepe Vargas (Direitos Humanos), Eleonora Menicucci (Mulheres), e a presidente da Caixa Econômica e ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

Nova meta fiscal é 'confissão da incapacidade' do governo Dilma, diz Freire

Por: Fábio Matos – Assessoria do Parlamentar

• Presidente do PPS avalia que pressão da sociedade e agravamento da crise econômica podem levar ao impeachment da petista.

A nova meta fiscal anunciada pelo governo é um atestado da própria incompetência da atual gestão e do fracasso do ajuste fiscal proposto pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A avaliação é do deputado federal Roberto Freire (SP), que participou do programa “Intersom Debates”, da Rádio Intersom FM de São Carlos (SP), nesta quinta-feira (23).

“A situação está muito difícil e tende, infelizmente, a piorar. Ontem [quarta-feira] tivemos a confissão de toda a incapacidade do governo, que anunciou que o ajuste praticamente não existe mais. Os cortes anunciados não vão resolver. Vamos de mal a pior”, avaliou o presidente do PPS.

Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciaram que a meta de superávit primário foi reduzida de R$ 66,3 bilhões (1,1% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15%). Após o anúncio, o Ibovespa – principal índice da Bolsa brasileira – registrou a maior queda em quatro meses e tinha desvalorização de 1,15% no início da tarde. Para Freire, a redução da meta pode ter marcado o início do processo de esgotamento definitivo do governo Dilma.

“Esse pacote foi lançado ontem como uma confissão completa da incapacidade e da frustração por não ter sido feito ajuste nenhum. Este governo, até por conta da crise econômica que se aprofunda, pode correr o risco do impedimento constitucional”, afirmou o parlamentar. “O Congresso pode ter o problema que tiver, mas, se necessário, tem força para isso. Vai exercer o seu papel em sua plenitude.”

Ainda em relação à possibilidade do impeachment de Dilma, o deputado destacou a importância da pressão popular para que o Congresso Nacional se mobilize na volta do recesso parlamentar, em agosto. “Se, porventura, for necessária uma intervenção [impeachment], eu acredito que o Congresso fará. Para isso, é importante que a sociedade se mobilize e dê sustentação a essa intervenção, se ela for necessária. Seria ótimo que a manifestação do dia 16 de agosto fosse expressiva para demonstrar que a sociedade está pressionando”, disse Freire, referindo-se aos protestos contra o governo e o PT agendados para esta data em todo o país.

Questionado se a investigação sobre os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por suposto envolvimento em irregularidades apuradas pela Operação Lava Jato, enfraqueceria o Parlamento no momento de se analisar o impeachment, Freire rechaçou a tese. “Toda vez que o Congresso foi chamado, mesmo com todas essas fragilidades, respondeu a altura da necessidade. O Congresso brasileiro não era muito diferente quando se decretou o impeachment de Collor. Quando necessário, o Congresso cortou na própria pele, como na CPI dos Anões do Orçamento, que terminou com a cassação de parlamentares, ou mesmo em episódios recentes como o mensalão”, pontuou.

Parlamentarismo
Na entrevista, o presidente do PPS voltou a defender a instituição do sistema parlamentarista no Brasil a partir de 2019, após o fim da atual legislatura. “Os países mais avançados do ponto de vista democrático são parlamentaristas. O presidencialismo tem uma característica profundamente imperial no Brasil e na América Latina. O parlamentarismo significa sempre um governo de maioria”, comparou. “Quando não tem maioria, cai o gabinete. Cai o governo. Quando é impossível você formar uma maioria consistente, dissolve-se o Congresso e são convocadas novas eleições. Se esse regime estivesse em vigência no Brasil, Dilma já teria ido para casa.”

Na avaliação de Freire, o atual modelo gera distorções, entre as quais a figura de um “presidente imperial”. “A crise atual é fruto desse presidencialismo. O parlamentarismo, quando implantado, muda a cultura do processo eleitoral”, afirmou. “Não escolheríamos um presidente para resolver o problema, mas um programa de governo. O Executivo surgiria a partir da maioria parlamentar.”

Contas de Dilma podem furar fila no Congresso

Vinicius Sassine – O Globo

• Renan e Cunha dizem ao relator no TCU que não será preciso analisar primeiro os pareceres de anos anteriores

BRASÍLIA - O Congresso poderá furar a fila e pôr em votação as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff antes de apreciar as prestações de contas de anos anteriores. A informação foi transmitida ontem pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU). Augusto Nardes é o relator do processo no tribunal.

Um dia depois de receber a defesa da presidente para os 13 indícios de irregularidades detectados pelo TCU, Nardes procurou Renan e Cunha para consultar sobre a possibilidade de o parecer do tribunal sobre as contas de 2014 ser votado com prioridade, antes dos demais. Os dois presidentes responderam que isso será possível. O TCU deve julgar as contas de Dilma na segunda quinzena de agosto para, então, encaminhar seu parecer ao Congresso.

Análise começará pelo Senado
Nardes foi de manhã à residência oficial do presidente do Senado, onde também estava o ex-senador José Sarney (PMDB-AP). Ouviu de Renan que o início da análise das contas de 2014 da presidente caberá ao Senado. Existe uma alternância entre Câmara e Senado, e a vez, segundo Renan, é dos senadores. O GLOBO apurou que o presidente do Senado também prometeu divulgar um calendário de análise das contas de anos anteriores.

Cunha também recebeu Nardes em casa, e admitiu tanto a possibilidade de a fila ser furada quanto a necessidade de fazer um calendário de votações sobre prestações de contas. Na casa do presidente da Câmara estava o deputado Hugo Motta (PMDB-PB), aliado de Cunha e presidente da CPI da Petrobras.

O Congresso não analisa um parecer do TCU sobre contas de governo desde 2002. Estão represadas até prestações do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, dos dois mandatos de Lula e dos três primeiros anos de Dilma. Todo ano, o TCU analisa a prestação de contas e aprova um parecer em plenário. A decisão mais comum tem sido a aprovação as contas com ressalvas.

Pela primeira vez, diante da existência de vários indícios de irregularidades, os ministros deram prazo de 30 dias para a presidente se explicar. O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, entregou a defesa na quarta-feira, último dia do prazo. Ele afirma que as "pedaladas fiscais" ocorreram em anos anteriores, desde a década de 1990, e nunca foram reprovadas pelo TCU. Antes de receber a defesa de Dilma, Nardes já havia afirmado que votará pela rejeição das contas de 2014.

Fontes do Congresso ouvidas pelo GLOBO confirmam que no Regimento Interno não há qualquer impedimento para uma prestação de contas ser analisada antes das de anos anteriores. A decisão é política. O parecer aprovado pelo TCU será enviado à Comissão Mista de Orçamento, que produz seu próprio parecer recomendando a aprovação ou a rejeição das contas. Um projeto de decreto legislativo é elaborado e encaminhado para votação em plenário. As duas Casas precisam julgar as contas.

Mercadante pediu apresentação oral
Na quarta-feira, dia em que a AGU entregou a defesa de Dilma, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, telefonou para Nardes e para o presidente do TCU, ministro Aroldo Cedraz, e propôs que quatro ministros do governo fizessem uma apresentação oral da defesa: Adams, da AGU; Nelson Barbosa, do Planejamento; Joaquim Levy, da Fazenda; e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central.

A ideia era fazer uma reunião com todos os ministros do TCU na próxima segunda-feira. Mas houve reação contrária de parte dos ministros do TCU e o encontro não chegou a ser marcado. A Casa Civil diz que a proposta surgiu no mesmo momento da entrega da defesa, e seria um procedimento corriqueiro.

Nardes disse ontem que ainda não estabeleceu prazo para avaliar a defesa do governo, e garantiu que não haverá questões políticas influenciando na decisão do TCU.

- Todos nossos auditores são concursados, independentes. Não temos cargos políticos. Não há indicação politica de A, B ou C, como acontece em outras cortes do país.

Em busca de popularidade, Dilma investirá no Nordeste

Fernanda Krakovics e Simone Iglesias – O Globo

• Presidente pretende visitar cinco estados até o mês que vem

BRASÍLIA - Para tentar recuperar popularidade, a presidente Dilma Rousseff pretende concentrar sua agenda no Nordeste, região onde foi a mais votada nas últimas eleições. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também planeja percorrer a região, separadamente. Em outra frente, Lula tem se reunido com movimentos sociais para articular mobilização pró-Dilma e contra eventual pedido de impeachment.

O roteiro traçado para Dilma prevê a visita a cinco estados até o fim de agosto: Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahia e Maranhão. O objetivo é reconquistar esse eleitorado que, desde o início do governo Lula, é fiel ao PT. E que vem demonstrando insatisfação com a gestão Dilma. O tema foi discutido pela presidente em almoço com Lula, semana passada, no Palácio da Alvorada. Lula propôs, segundo participantes da reunião, que Dilma viaje pelo país, assim como seus ministros, para inaugurar obras, lançar programas e divulgar uma "agenda positiva".

Ministros petistas apostam em Lula para organizar uma reação das ruas. No encontro de semana passada, o ex-presidente também aconselhou Dilma a se reaproximar dos movimentos sociais. Na semana anterior ao almoço no Palácio da Alvorada, Lula já se reunira com o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.

- Estão menosprezando a capacidade do Lula de mobilizar. Ele está conversando com os movimentos sociais - disse um ministro petista.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, reforçou esse discurso contra eventual discussão sobre um impedimento da presidente:

- Se tentarem ,vão encontrar um militante da CUT em cada esquina enfrentando essa direita.

Lula quer que o governo reaja. Ele tem se mostrado incomodado por nem sempre ser ouvido por Dilma. Participantes do almoço no Alvorada disseram que Lula estava "muito irritado". Reclamou que o governo não consegue virar a página da agenda negativa, como o ajuste fiscal.

Segundo participantes do encontro, enquanto Lula reclamava, a presidente Dilma ficava calada, rabiscando um pedaço de papel.

Os demais presentes também ficaram quietos, temendo opinar e, assim, parecer que apoiavam Lula, contra Dilma. Participaram do almoço Mercadante, Edinho Silva (Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) e o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Em duro editorial, ‘Financial Times’ diz que Brasil parece um ‘filme de terror sem fim’

Fernando Nakagawa, correspondente, O Estado de S. Paulo

• Jornal britânico disse que a incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia do País e que, diante do risco de impeachment, tempos piores ainda podem estar por vir

• Título do editorial: 'Recessão e politicagem: a crescente podridão no Brasil'

LONDRES – O jornal Financial Times publicou um duro editorial sobre a crise política e econômica no Brasil. Com o título “Recessão e politicagem: a crescente podridão no Brasil”, o texto diz que a “incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia” do País. A publicação diz que os recentes fatos levam o Brasil a ser comparado com um “filme de terror sem fim” e que, diante do risco de impeachment da presidente Dilma Rousseff, “tempos piores ainda podem estar por vir”. O FT reconhece, porém, que as instituições brasileiras têm mostrado força e exalta a prisão de executivos das maiores construtoras brasileiras.

“Incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia do Brasil. Combinado com o fim do boom das commodities, tudo isso tem levado a oitava maior economia do mundo para uma recessão profunda. O escândalo de corrupção na Petrobrás só agrava a podridão. Mais de 50 políticos e dezenas de empresários estão sob investigação por terem levado US$ 2,1 bilhões em propinas. Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado sob a acusação de tráfico de influência. Há cada vez mais rumores de que a presidente Dilma Rousseff, no sétimo mês do segundo mandato, pode ser cassada. Isso ainda parece improvável, mas a probabilidade cresce a cada dia”, diz o editorial desta quinta-feira, 23, publicado na noite de ontem na internet. Diariamente, o FT publica na web os editoriais que serão veiculados na edição impressa do dia seguinte.

O editorial explica que dois motivos explicam a piora do quadro. Primeiro, o jornal cita a volta atrás de Dilma Rousseff na economia após a má sucedida experiência com a “nova matriz econômica”. Com o aumento dos juros e corte de gastos, a economia sofre e o apoio político dos aliados diminui, explica o jornal. “A maior razão, no entanto, é o escândalo de corrupção.

Embora ela tenha presidido o conselho da Petrobrás entre 2003 e 2010, poucos acreditam que Rousseff é realmente corrupta. Isso não significa, porém, que ela esteja segura. Dilma enfrenta acusações de que seu governo quebrou regras de financiamento de campanha e adulterou contas do governo, ambos motivos para impeachment.”

O editorial reconhece que, por enquanto, políticos brasileiros têm preferido que a presidente continue no poder. “Mas esse cálculo pode mudar à medida que eles tentam salvar suas peles”, cita o texto ao lembrar que o “chefe do Congresso” – sem citar o nome de Eduardo Cunha – migrou para a oposição e que Lula pode ser processado.

Diante do quadro, o FT diz que “não é à toa que o Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim”. O editorial diz que a presidente Dilma tende a ter “três anos solitários como presidente”. “Brasileiros são pragmáticos. Então, o pior cenário de um impeachment caótico pode ser evitado. Ainda assim, mercados começam a colocar no preço esse risco. Pode ser muito bem que tempos piores ainda estejam por vir para o Brasil”, completa o texto.

Apesar do tom pesado, o editorial reconhece que o escândalo de corrupção na Petrobrás tem “demonstrado a força das instituições democráticas do Brasil”. “Em um País onde os poderosos dizem estar acima da lei, Marcelo Odebrecht, chefe da maior empresa de construção do Brasil, está preso. Esta semana, três executivos da Camargo Corrêa, outra construtora, receberam sentença de mais de dez anos na prisão”, diz o editorial.

O texto lembra ainda que contratos de empreiteiras brasileiras estão sendo investigados em Portugal, países da América Latina e também podem ser alvo nos Estados Unidos, já que empresas como a Odebrecht têm títulos emitidos em Nova York. “Isso leva a políticos e líderes empresariais a pensarem duas vezes antes de pagar um suborno, o que é um grande avanço na luta da região contra a corrupção”.

Temer atua como 'primeiro-ministro', diz Economist

Fernando Nakagawa, Correspondente - O Estado de S. Paulo

• Para revista britânica Dilma Rousseff 'precisará do PMDB mais do que nunca se ela sobreviver até 2018'

LONDRES - O PMDB é a estrela da principal reportagem da editoria "Américas" da revista britânica The Economist que chega às bancas neste fim de semana. Com o título "O poder por trás do trono", a reportagem diz que o "sócio menor do governo está tocando o País". Para a revista, o vice-presidente Michel Temer tem exercido parcialmente o papel de "primeiro-ministro" e Dilma Rousseff "precisará do PMDB mais do que nunca se ela sobreviver até 2018".

A reportagem explica aos leitores estrangeiros a presença do PMDB nos diversos governos brasileiros desde a redemocratização. "Uma máxima da política brasileira é que ninguém governa sem o PMDB", diz a revista, ao comentar a composição do partido com diversos governos e a força do grupo nos governos locais. A presença do partido na base governista, porém, nem sempre é fácil. A reportagem lembra da recente ruptura do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo.

Mesmo com o esforço do partido de correr para avisar que a decisão do deputado "era pessoal e não do partido", a Economist diz que o gesto de Cunha preocupa a presidente Dilma Rousseff. "A senhora Rousseff precisará do PMDB mais do que nunca se ela sobreviver até o fim de seu mandato em 2018. Cada vez mais, eles têm tocado o show", diz a revista.

A Economist cita especialmente Michel Temer, que estaria exercendo parcialmente o papel de "primeiro-ministro". "Joaquim Levy, o ministro da Fazenda do corte de gastos, encontra-se com ele mais frequentemente do que com a presidente, dizem assessores de Levy", cita a reportagem, ao lembrar que lideranças do partido prometeram candidato próprio nas eleições de 2018.

Apesar de reconhecer o papel crescente do PMDB, a Economist não comprou a ideia de que o partido concorrerá efetivamente nas próximas eleições presidenciais. "Isso pode ser conversa fiada". A revista nota que o partido não tem candidato próprio desde 1994 e que, desde então, o ocupante do Palácio do Planalto procura o PMDB "para apoio, mas não para orientação sobre como governar o País".

Uma das razões pode ser a falta de uma linha ideológica mais marcada, diz a revista. "O programa (do partido) transborda platitudes: sua única posição firme é contra a pena de morte.
É mais pró-negócios que pró-mercado, mas muitas vezes faz lobby para benefícios locais e específicos da indústria", diz a reportagem. Essa falta de força do discurso ideológico faz com que o partido tenha a imagem de um "guardião da governabilidade", diz a revista. "Um banqueiro (pró-PSDB) diz que o PMDB é uma razão pela qual o Brasil nunca será a Venezuela."

Incompetência e corrupção destruíram poção mágica do Brasil, diz 'FT'

Do "Financial Times" – Folha de S. Paulo

O jornal britânico "Financial Times" afirma, em editorial, que incompetência, arrogância e corrupção destruíram a "poção mágica do Brasil", e que a situação no país foi agravada pelo escândalo de corrupção na Petrobras.

O texto é intitulado "Recessão e propina: a crescente podridão do Brasil".

Segundo a publicação, a crise que o governo Dilma Rousseff passa cresce devido a problemas econômicos e à baixa aprovação da petista, além da corrupção. "Não admira que o Brasil de hoje tenha sido comparado a um filme de terror sem fim", diz o editorial, em referência à frase do presidente do Senado, Renan Calheiros.

O jornal, porém, avalia que os desdobramentos da Operação Lava Jatodemonstram "a força das instituições democráticas brasileiras" e que o pior cenário, "o de um impeachment caótico", pode ser evitado.

Leia o editorial.

Recessão e propina: a crescente podridão do Brasil

Incompetência, arrogância e corrupção destruíram a poção mágica do Brasil. Combinadas ao final do boom das commodities, elas arremessaram a oitava maior economia do planeta a uma recessão cada vez mais profunda.

O escândalo de corrupção que continua a ser deslindado na Petrobras só agrava a putrefação. Mais de 50 políticos e dezenas de empresários estão sob investigação por propinas em valor de US$ 2,1 bilhões.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado [na verdade, Lula não foi indicado; ele é alvo de investigação do Ministério Público do Distrito Federal], sob acusação de tráfico de influência. Há cada vez mais rumores sobre um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff, cujo segundo mandato começou há sete meses. Isso ainda parece improvável, mas a probabilidade cresce a cada dia.

Duas forças principais forçam a escalada da crise.

A primeira é a condução da economia por Rousseff. Para seu crédito, ela abandonou a fracassada "nova matriz econômica", propelida pelo Estado, de seu primeiro mandato. As taxas de juros subiram para segurar a inflação. Seu ministro da Fazenda linha dura está buscando conter os gastos. Esses corretivos necessários porém dolorosos resultaram em queda dos salários reais, prejudicaram o emprego e abalaram a confiança das empresas.

Também demoliram os índices de aprovação a Rousseff, agora os mais baixos já registrados. Isso enfraqueceu ainda mais o controle da presidente sobre seus parceiros de coalizão, de cujo apoio ela necessita para aprovar as medidas de austeridade no Legislativo.

Corrupção
O maior motivo, porém, é o escândalo de corrupção. Ainda que tenha sido presidente do conselho da Petrobras entre 2003 e 2010, pouca gente acredita que Rousseff seja pessoalmente corrupta. No entanto, isso não significa que ela esteja segura. Rousseff enfrenta acusações de que sua administração violou as leis de financiamento de campanhas eleitorais e manipulou as contas do governo; qualquer das duas coisas pode bastar para um impeachment.

Até agora, os políticos em Brasília vêm preferindo que Rousseff permaneça no poder, e arque com a culpa pelos problemas do país. Mas a conta pode mudar à medida que eles lutam por salvar suas peles.

Um grande alerta surgiu na semana passada, quando o presidente da Câmaraaderiu à oposição depois de ser acusado no inquérito da Petrobras, alegando que isso era uma caça às bruxas pelo governo. Seria ainda pior em caso de processo contra Lula. Isso aprofundaria a cisão entre ele e Rousseff, sua antiga protegida, e poderia resultar em mais ímpeto para o impeachment.

Não admira que o Brasil de hoje tenha sido comparado a um filme de terror sem fim. Mas há muito de bom emergindo.

Instituições fortes
O zelo do inquérito sobre a Petrobras demonstra a força das instituições democráticas brasileiras. Em um país no qual os poderosos se consideram acima da lei, Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do Brasil,está preso. Esta semana, três executivos da Camargo Corrêa, outra empreiteira, foram sentenciados a mais de 10 anos de prisão.

Promotores públicos de Portugal e de diversos países latino-americanos agora estão investigando contratos internacionais da Odebrecht.

A companhia nega quaisquer delitos, mas tem uma subsidiária em Nova York e emitia títulos no mercado dos Estados Unidos, e por isso pode enfrentar um processo judicial norte-americano. Muitas outras companhias latino-americanas presumivelmente podem enfrentar problemas judiciais semelhantes, dados os bilhões em títulos denominados em dólares que emitiram.

Os investidores vinham se preocupando com essa exposição principalmente por conta da alta do dólar e das taxas de juros norte-americanas. Mas se a situação atual também levar os políticos e líderes empresariais a pensarem duas vezes antes de pagar propinas, isso representaria um grande avanço na luta da região contra a corrupção.

Quanto ao Brasil, Rousseff enfrenta três anos solitários na presidência. Os brasileiros são pragmáticos, de modo que o pior cenário, o de um impeachment caótico, pode ser evitado. Mas os mercados já começaram a incorporar esse risco aos seus preços. Pode bem ser que haja tempos piores à frente para o Brasil.

Roberto Freire - A farra dos cartões corporativos

Enquanto impõe aos brasileiros um ajuste fiscal que penaliza o trabalhador em tempos de crise e beneficia a banca financeira, o governo de Dilma Rousseff, assim como o de Lula em passado recente, não demonstra nenhum pudor no uso abusivo dos chamados cartões corporativos, especialmente nos gastos do gabinete presidencial. Segundo reportagem publicada pela mais recente edição da revista “Istoé”, desde que o PT assumiu o poder, em 2003, foram torrados nada menos que R$ 615 milhões com os cartões – e cerca de 95% dessas despesas são consideradas “secretas”.

Para que se tenha uma ideia da dimensão do montante desperdiçado pelos governos petistas, os gastos com o cartão corporativo em 2002, último ano da gestão de Fernando Henrique Cardoso, foram de R$ 3 milhões. Apenas nos três primeiros meses do segundo mandato de Dilma, em 2015, as despesas alcançaram R$ 14,3 milhões, dos quais R$ 4 milhões exclusivamente na Presidência da República. No ano passado, foram R$ 65 milhões ao todo, sendo R$ 22 milhões no gabinete da presidente. O descalabro é tão evidente que levou à abertura de um processo sigiloso no Tribunal de Contas da União (TCU) – o mesmo que investiga as “pedaladas fiscais” nas contas do governo em 2014 – cujo objetivo é detalhar o que os técnicos do tribunal apontam como “gastos excessivos”.

Instituídos durante o governo FHC justamente para inibir os gastos e promover a transparência nas contas federais por meio da comprovação de notas, os cartões corporativos já haviam sido desmoralizados na gestão de Lula, quando a Comissão de Ética Pública da Controladoria-Geral da União (CGU) foi acionada para investigar as despesas abusivas de alguns ministros. Foi exatamente em 2010, último ano do governo Lula, que os gastos totais com cartões bateram o recorde (R$ 80 milhões, dos quais R$ 19 milhões na Presidência). À época, a imprensa revelou que alguns ministros pagaram diárias em hotéis de luxo, foram ao cabeleireiro e até compraram tapiocas utilizando seus cartões – algo irrelevante, mas que demonstra o desrespeito e o deboche no trato da coisa pública. Foi ainda sob os auspícios de Lula que grande parte do gasto nos cartões da Presidência passou a ficar sob sigilo, justificado pelo argumento falacioso de que se tratava de uma questão de “segurança nacional”.

Tamanha desfaçatez gera uma indignação nacional traduzida nos índices cada vez mais pífios de aprovação ao governo Dilma – apenas 7,7%, segundo a última pesquisa divulgada pela CNT/MDA. O percentual de brasileiros que avaliam a atual gestão como ruim ou péssima já é de 70,9%, enquanto 62,8% são favoráveis ao impeachment da presidente. A grave crise econômica pela qual passa o país, com o fechamento de mais de 345 mil vagas formais de emprego neste ano (111 mil apenas no mês de junho, de acordo com dados do próprio Ministério do Trabalho), se mistura à crise política e gera um cenário que nos aproxima de uma verdadeira crise institucional.

O episódio dos cartões corporativos é só mais um que se soma à infindável coleção de imoralidades que marcam o governo do PT – da compra de apoio parlamentar que gerou o mensalão às propinas provenientes do assalto à Petrobras desnudado pela Operação Lava Jato. Diante de um acelerado processo de ingovernabilidade, com uma presidente acuada que já não governa, o debate em torno do impeachment está posto na sociedade e tal alternativa pode se impor como solução constitucional para o impasse. O Brasil não aguenta mais tanta corrupção e tanto desperdício.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Marco Aurélio Nogueira - Por que a esquerda não consegue avançar?

- O Estado de S. Paulo

Se a situação é de crise e aguçamento de contradições e conflitos sociais, se há conservadores, neoliberais e “direitistas” em todos os cantos, seria de esperar que as forças de esquerda crescessem e passassem a ter voz mais ativa. Não é o que acontece. Ao contrário, elas regridem para posições defensivas, aceitando que o quadro não lhes é favorável. Parte delas, por exemplo, em vez de buscarem disputar a direção do processo político, voltam a falar em “frentes de esquerda” para atacar o sistema. Outras nem sequer se preocupam com a própria identidade.

O que acontece?

Há, por certo, um problema de correlação de forças e de hegemonia. Um partido de esquerda pode chegar ao governo sem que tenha reais condições de governar. Pode precisar de aliados que cobram um preço alto e terminam por frear o programa esquerdista. Pode ter de lidar com uma realidade hostil e com determinações estruturais que não se deslocam por um ato de vontade. Pode, enfim, ter se preocupado mais com votos do que com ideias, trabalhado mais para chegar ao governo do que para produzir cultura e, com isso, alterar os alinhamentos éticos e culturais dos cidadãos. Neste último caso, o partido que tem alguma capacidade de coerção, mas não tem de hegemonia.

Esquerdas existem, evidentemente, para atacar os sistemas. O capitalismo, antes de tudo. Mas não podem viver somente disso: também precisam governar e mostrar serviço. Ao fazerem isso, acabam tendo de fazer os sistemas funcionarem. É um efeito não desejado, um dilema: a esquerda deve trabalhar para formular programas de governo ou para elaborar concepções do mundo? Deve agir para definir o melhor meio de chegar ao governo ou para construir uma “filosofia” para a sociedade, algo que vem antes e está acima da mera opinião com que se governa ou daquilo que se faz quando se governa?

A história é conhecida. Sempre que chegou ao poder, a esquerda teve de pagar um preço e de algum modo amarrou sua identidade à sua capacidade de governar. Não é diferente hoje: que preço é razoável pagar para que se arque com os desafios e os custos do governar numa época que parece produzir sempre mais obstáculos para a materialização de uma razão governativa superior, uma época que pressiona no sentido da homogeneização de todos os governantes?

Talvez se possa ver na reiteração sempre mais aguda desse dilema a razão maior para o encolhimento das esquerdas. Pelo menos no Brasil.

Por aqui, tem-se há décadas uma sequência de governos que de algum modo se abrem para a esquerda. Não é verdade que se possa narrar a recente história política brasileira como se ela tivesse tido um período neoliberal (os anos FHC) que teria sido negado e superado por um período “social-desenvolvimentista” (de Lula para frente). O que tem havido por aqui são duas formas de socialdemocracia, que, se quisermos, podemos classificar como mais “à direita” ou menos, mais vibrante ou menos. Nunca, como nesses anos todos, o capitalismo esteve mais forte e pujante e nunca, também, tivemos tanta democracia e tanta inclusão social. Não houve solução de continuidade: os governos Lula não negaram as realizações de FHC, ao contrário, apoiaram-se nelas para realizar seu programa.

Falar algo diferente disso é brigar com os fatos.

Acontece que este também foi o período em que a sociedade brasileira se modernizou de forma acelerada e conforme o padrão daquilo que tem sido chamado de “modernidade líquida”, turbinada por conectividade intensiva e tecnologia. A quebra de referências foi geral, a desedução política, brutal. Os partidos socialdemocratas – sim, o PSDB e o PT – deixaram de lado sua autoconstrução e se entregaram à gestão, ao poder e a seus recursos, à luta eleitoral sem freios. Tornaram-se inimigos, deixaram de dialogar e cooperar. Passaram a fazer tudo pelo poder. Encolheram como organizações de vontade e ação, como esquerda propositiva e educadora, impregnada de valores e ideias. Foram, além do mais, prejudicados pela fragmentação social e pelo individualismo que o modo de vida prevalecente impulsionou. A sociedade caminhou numa direção, a esquerda em outra. De dissonância em dissonância, perdeu o pé.

E houve, por fim, a avalanche da corrupção. Fato intrínseco ao Estado e à vida política brasileira, ela cresceu de modo assustador na última década e meia. Veio no embalo de algumas estratégias de conquista e gestão do governo, como um expediente para fazer com que posições de esquerda conseguissem não ser hostilizadas pelo “presidencialismo de coalizão” e pudessem se reproduzir. Serviu de cimento para colar as partes destas complexas estratégias, lubrifica-las e financiá-las. Ajudou sobremaneira fazer a jogo de cooptações com que se armaram as heterogêneas e venais “bases aliadas” com que se imaginava governar.

Não houve necessariamente dolo ou má-intenção. Tratou-se, creio, sobretudo de uma estratégia que fugiu do controle, um feitiço que virou contra o feiticeiro. É assim, e não em termos morais, que ela deve ser analisada. Reproduzida sem restrições e em escala sempre mais ampliada, a estratégia foi criando raízes, multiplicando beneficiários, criando luxo e facilidades, fazendo com que muitos caíssem em tentação. Viciou, digamos assim.

O estrago que os efeitos colaterais desta estratégia produziram na própria esquerda ainda terá de ser investigado. Penso que é um estrago enorme, assustador, que somente será remediado à custa de muito tempo, muito esforço e muito sacrifício. Parte importante do rico patrimônio da esquerda foi sumariamente atirado na lata de lixo da história. Um anel de encantamento e confiança se rompeu.

Mas a esquerda é como o sal da terra. Ressurge sempre porque, a rigor, nunca desaparece e não desaparece porque é indispensável. Pode, porém, permanecer viva e ficar à margem, respirando com dificuldade, sem fazer diferença.

Para voltar como força ativa ao palco político atual a esquerda terá de ser uma “esquerda de governo” sem deixar de ser uma “esquerda de valores” e uma “esquerda de luta”. Terá de ser democrática e dialogar com todos, não somente com os que pensam como ela. Seus partidos terão de ser reinventados, suas lideranças renovadas, sua linguagem precisará perder a cadência tradicional, a arrogância, os cacoetes e o doutrinarismo. É praticamente uma refundação.

A esquerda precisará definir com qual política pretende chegar ao governo, deixando claro se fará isso para gerir o sistema ou para fazer com que as coisas mudem de fato. Vencer a corrida e ao final se despojar dos valores, princípios e ideias com os quais se afirmava uma identidade é não só uma “traição” à própria história mas também um enorme equívoco ― o equívoco de achar que se pode avançar apenas porque se tem, no governo, uma nova e melhor classe política, que por ser nova e melhor pode se dispensar de manter vivas as referências sociais, a integridade moral, os compromissos, os vínculos.

Se conseguir unir a perspectiva do governo à perspectiva da sociedade — o Estado e a política ao social e aos cidadãos —, se conseguir encontrar um equilíbrio entre a necessidade de repor uma tradição e a necessidade de se manter em permanente renovação, a esquerda resolverá a equação que lhe atravessa a garganta. E poderá então mostrar que é competente não só para governar e agir politicamente, como também para se diferenciar e para transformar a política em algo colado à realidade viva das pessoas, às suas expectativas e aspirações, à sua disponibilidade para tentar, coletivamente, construir mundos sempre mais humanos e habitáveis, que se confundem, como projeção e possibilidade histórica, com a longa e rica tradição do socialismo.

O que diferencia a esquerda é sua disposição de funcionar como vetor de uma nova ética política. Se perder isso, cai no limbo.

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Marco Aurélio Nogueira é professor de Teoria Política na Unesp

Merval Pereira - Rumo ao rebaixamento

- O Globo

O que mais se temia deve acontecer: o rebaixamento da nota de risco do Brasil, possivelmente perdendo o grau de investimento em pelo menos uma das agências internacionais mais importantes, a Standard & Poor"s.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que usava seu prestígio nos meios financeiros internacionais como um escudo contra essa possibilidade, e em contrapartida a usava como uma ameaça aos que iam contra o programa de ajuste fiscal, está gastando rapidamente sua credibilidade diante dos investidores estrangeiros ao tentar tapar o sol com a peneira.

Um dia depois de ter tido que admitir a impossibilidade de realizar o superávit fiscal com que se comprometera ao assumir o cargo, Levy tentava convencer investidores estrangeiros de que a economia brasileira tem espaço para crescer, quando as previsões do mercado financeiro são de que o PIB negativo, que já é dado como certo este ano, deverá permanecer nesse patamar também em 2016, apenas um pouco melhor: entre - 1,5% e 2% este ano contra - 0,5% ano que vem.

As agências de risco, como era de se esperar, receberam mal a mudança do superávit primário, vista como uma capitulação do governo, que não conseguiu viabilizar a meta proposta inicialmente. Um rebaixamento por parte da Moody"s e da Fitch já é dado como certo, mas o país ainda se manteria acima do nível especulativo.

No caso da Standard & Poor"s, a nota brasileira pode voltar ao nível especulativo. O economista Paulo Rabello de Castro considera "impossível" as agências de risco americanas não admitirem o rebaixamento da nota de crédito do Brasil: "Ao anunciar a revisão da meta fiscal de 2015 para o chamado "superávit primário", que é a economia feita para pagar juros, reduzindo o alvo de R$ 66 bilhões (1,1% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB), o governo não apenas reconheceu que planejou mal suas contas deste ano, por não estimar bem a profundidade da crise no setor produtivo afetando a receita esperada de impostos, como, sobretudo, passou a aceitar que a dívida pública bruta (hoje 62% do PIB) deverá crescer muito nos dois anos seguintes", analisa ele em nota divulgada à noite.

Rabello estranha a criação do que chamou "descontingenciamento antecipado de receitas futuras, figura esdrúxula e inédita na gestão fiscal brasileira, ao enviar ao Congresso pedido de perdão de R$ 26 bi, caso receitas de resultado especulativo (como a de regularização de capitais no exterior) não renderem a arrecadação esperada".

Essa novidade tem ainda uma especificidade perversa: é a utilização de uma "contabilidade criativa" que está sendo contestada, com possíveis consequências políticas graves, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), nas contas sub judice do ano passado.

Como bem ressalta Rabello, "despesas precisariam ser contingenciadas pela presidente, e agora a equipe econômica pede licença para não contingenciar despesas de igual magnitude, legalizando a má prática".

Paulo Rabello discorda do diagnóstico de que o "problema" nasce na frustração das receitas, cuja arrecadação vem crescendo 2,2% (em 12 meses, até maio) e assim "obrigando" o governo a aprofundar o corte nos investimentos já ceifados.

"O governo omite que a despesa total não financeira até maio vem inchando 11,5%, com as de custeio indo a 16% de expansão. Ao somar-se a isso a explosão dos encargos financeiros em 7% do PIB (R$ 408 bilhões até maio!) se conclui pela total impossibilidade de qualquer solução na linha convencional de mais aumento da carga tributária, que, aliás, já não responde a tal apelo".

A solução, para o economista, "está na cara: adotar regra de contingenciamento de toda despesa pública baseada na variação do PIB nominal". Além disso, seria preciso uma reforma financeira "a fim de moderar, no tempo, uma política de juros públicos que leva o Brasil a ser, de longe e há muito tempo, o país que mais encargos paga para rolar sua própria dívida interna".

Se isso não ocorrer, Rabello acredita que os mercados adotarão caminho de correção pelo câmbio, "que facilmente encostará nos R$ 3,50 nas próximas semanas".

Eliane Cantanhêde - Travessia no deserto

- O Estado de S. Paulo

Ao reduzir o superávit fiscal para 0,15% do PIB e anunciar cortes de R$ 8,6 bilhões no já tão retalhado Orçamento, o governo da presidente Dilma Rousseff simplesmente jogou a toalha. Foi o reconhecimento cristalino de que Dilma, Joaquim Levy e Nelson Barbosa não conseguem ajustar as contas, muito menos estancar a crise. Por mais que a presidente diga que 2015 é um ano de "travessia", a dura realidade é que este é um ano de recuos e de trancos para a correção, ou tentativa de correção, de todos os erros crassos cometidos no primeiro mandato, pautado por uma visão embaçada e antiga sobre o que é nacionalismo e desenvolvimento.

O resultado é recessão, quando as empresas produzem menos, o comércio vende menos, os serviços operam menos e todos pagam menos impostos. E o governo, que gastou muito, continua gastando muito. Como em qualquer lar, se você gastou mais do que devia,endividou-se e não ganha o suficiente para arcar com a despesa... dá nisso. O governo não fecha as contas, não consegue mais economizar para amortizar suas dívidas, é obrigado a rever a meta fiscal e a "cortar na carne", como repetiu Levy na entrevista do anúncio. Se já cortara R$ 70 bilhões no Orçamento, uma das grandes dificuldades agora é definir onde ainda há o que cortar.

Gordura não há mais, enxugar o número de ministérios é fora de cogitação e o que sobra é uma escolha de Sofia. Educação ou Saúde? Defesa ou Desenvolvimento? Relações Exteriores ou Agricultura? Aparentemente, poucos passarão ilesos, tanto que o governo quer maior flexibilização para mexer até nos gastos, digamos, imexíveis. E aí entra a questão mais delicada. Dilma, Levy e Barbosa, aparentemente, esqueceram de um detalhe no anúncio da mudança da meta fiscal e dos cortes: combinar com os adversários. Essas são medidas que o governo anuncia e o Congresso vota. E vai votar num clima político e econômico péssimo, com a Lava Jato correndo solta e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, voltando do recesso de tacape em punho.

Enquanto a oposição aponta o dedo para culpar Dilma por mais esse jeitinho para fechar as contas públicas sem fechá-las, o governo reage lembrando a parcela bem razoável de responsabilidade do Congresso e da oposição nesse latifúndio de culpas. Os dois lados estão cobertos de razão: Dilma criou o problema, o Congresso dificultou a solução. A crise começou com o desconhecimento, a ideologia antiquada e a empáfia de Dilma, mas deputados e senadores complicaram ao máximo as votações do ajuste fiscal e foram reduzindo, uma a uma, as previsões de receitas com as mexidas previdenciários e trabalhistas e simplesmente não votaram nem a redução da desoneração fiscal das empresas nem o repatriamento de recursos do exterior.

Ou seja: a arrecadação continuou caindo, mas a receita não aumentou tanto quanto nos planos de Levy. E tome crise! Dilma empurrou o conteúdo econômico para Levy e Barbosa e o conteúdo político para o vice Michel Temer, enquanto trata de cuidar da própria forma. Não apenas da forma física, com o regime da moda e as pedaladas, mas também da forma de se comunicar com uma opinião pública que lhe é hostil. Assim, ela foi aos EUA, à Rússia e à Itália, sediou reunião do Mercosul em Brasília, tem ao menos uma viagem por semana aos Estados, concede uma entrevista daqui outra dali. Mas não há marqueteiro que dê jeito em crises, não há propaganda que encha barriga, nem mandioca que gere emprego.

O primeiro semestre foi um desastre? Pois o segundo não será melhor. Como diz o ditado, nunca está tão ruim que não possa piorar. Recordar é viver. Os bombeiros estão em ação, mas não custa lembrar que, em entrevista ao Estado em 10 de março, sua primeira exclusiva sobre a crise, o ex-presidente Fernando Henrique disse com todas as letras (acentuadas pela mágoa) que não faria acordos nem tinha nada a tratar com seu sucessor Lula: "Ele quer é acusar. Ele é o bom, nós somos os maus. Então, não há como dialogar com quem não quer dialogar".