Por Andrea Jubé | Eu & Fim de Semana – Valor Econômico
BRASÍLIA - A maior poeta viva do Brasil mora até hoje em Divinópolis, uma cidade sossegada de 200 mil habitantes localizada a 120 km de Belo Horizonte, incrustada às margens da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Lá ela nasceu, se casou e escreveu mais de 20 livros que ganharam o mundo. Foi um de seus grandes amigos, o escritor Ziraldo, mineiro como ela, quem resumiu toda a complexidade de Adélia Prado em uma pergunta, ainda sem resposta: "Como pode uma normalista, filha de um ferroviário e de uma dona de casa, que nunca saiu de sua cidade, ter tanta compreensão da alma humana?".
Agraciada com um Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira, e a Ordem do Mérito Cultural, ela é autora de poemas e narrativas em prosa que partem da singularidade da vida doméstica, da grandeza das pequenas coisas, para o mistério da existência, conciliando fé, religiosidade e, num outro extremo, o profano. Em 2013, quando lançou "Miserere", foi saudada pelos críticos como a maior poeta viva, ao lado de Manoel de Barros e Ferreira Gullar. O mato-grossense partiu em 2014 e Gullar, no ano passado. Adélia permanece, aos 81 anos, uma detetive da alma humana.