Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 4 de maio de 2021
Merval Pereira - A ‘fulanização’ da política
Míriam Leitão - CPI faz o governo desdizer o que disse
A
CPI da Covid já está contribuindo com o país. É a primeira vez em um ano e dois
meses que o governo Bolsonaro recua e começa a tomar decisões na direção oposta
a que tomava antes, como os anúncios feitos ontem pelo ministro Marcelo
Queiroga sobre a vacina, testagem e quarentena. Enquanto acontecem os
depoimentos e a investigação, o governo tentará todo o tipo de manobra
diversionista, claro, mas pela primeira vez procura o tom mais adequado, mesmo
que isso signifique tentar apagar o que fez e desdizer o que disse. Como é da
natureza deste governo, ele continua revelando sua face autoritária. O próprio
Queiroga mostrou quem é, quando atacou a imprensa.
O problema da CPI será organizar o volume excessivo de provas de que o presidente Jair Bolsonaro liderou uma política criminosa nesta pandemia. Ele promoveu tanta aglomeração, estimulou tanto as pessoas a desrespeitarem as normas sanitárias, inclusive a mais óbvia delas, que é o uso de máscara, combateu tanto as vacinas, que o conjunto da obra revela mais do que incompetência. É crime mesmo. Bolsonaro acredita na tese da “imunidade de rebanho” e por isso estimulou a exposição máxima ao vírus, achando que assim rapidamente se livraria do vírus. Isso independentemente do número de mortes.
Luiz Carlos Azedo - A CPI da necropolítica
Num país continental como o Brasil, uma crise sanitária
dessa envergadura desorganiza a economia e deixa ao relento e com fome milhões
de pessoas.
A
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado começa suas oitivas
hoje, com os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e
Nelson Teich. O primeiro foi defenestrado pelo presidente Jair Bolsonaro, que
ficou enciumado da popularidade do médico ao liderar o Sistema Único de Saúde
(SUS) na pandemia. O segundo pediu demissão rapidinho e se recusou a endossar
as teses negacionistas do presidente da República. O cenário de atuação da
pandemia é emoldurado por 400 mil cruzes, que podem chegar a 500 mil, antes de
a comissão concluir seu trabalho, no prazo de 90 dias.
Mais
de 300 requerimentos de informações já foram aprovados na CPI, mas esses dois
depoimentos têm o poder de dar o rumo de suas investigações. Os dois
ex-ministros são médicos e têm plena dimensão das razões que nos levaram à
tragédia sanitária atual. Os passos seguintes serão ouvir o general Eduardo
Pazuello, amanhã, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na quinta-feira.
Ambos terão que dar respostas convincentes aos integrantes da CPI.
Pazuello é um caso perdido, coleciona decisões e atitudes equivocadas. Se mantiver a costumeira soberba, estará no sal. Queiroga é médico, porém, ainda está enrolando o paraquedas. Manteve a maioria dos militares que assessoravam Pazuello. Sem confrontar o negacionismo do general, está se atrapalhando com a campanha de vacinação, sobretudo devido aos erros do antecessor. Pode complicar a vida de Pazuello ou se complicar, se fizer o contrário.
Eliane Cantanhêde – ‘Efeitos nefastos’
Pesquisa entre cidades bolsonaristas e não bolsonaristas confirma: negacionismo mata
Já
que estamos falando de CPI da Covid, vale a pena entrar nas
conclusões da mais nova e profunda pesquisa sobre os efeitos do negacionismo
no número de casos e de mortes no Brasil:
nos municípios onde o presidente Jair Bolsonaro teve mais de 50%
dos votos no segundo turno de 2018, o risco de infecção foi 299% e o de mortes,
415% maior do que nos municípios onde ele perdeu a eleição.
Quando
o foco fecha nas cidades mais ferrenhamente bolsonaristas, em que ele obteve
mais de 70% no segundo turno, o resultado é ainda mais alarmante: quem vive num
desses municípios chegou a ter 567% a mais de chance de se infectar e 647% a
mais de risco de morrer do que numa cidade onde ele teve menos de 30% dos
votos. Isso equivale a sete vezes mais mortes nas cidades onde Bolsonaro ganhou
com ampla margem.
“O estudo joga luzes e mostra, metodologicamente, os efeitos nefastos do negacionismo dos líderes, particularmente sobre seus próprios apoiadores e seguidores”, registraram os autores, professores Sandro Cabral (Insper), Nobuiuki Ito (Ibmec) e Leandro Pongeluppe (Universidade de Toronto, Canadá). (Link).
Eles planejaram e executaram um trabalho ambicioso, que condensou os dados de mortes e casos de, nada mais nada menos, todos os 5.570 municípios brasileiros, durante as primeiras 52 semanas da pandemia, equivalentes a um ano. Todo esse banco gigantesco de dois milhões de dados foi cruzado com as informações do TSE sobre os resultados de 2018 em cada cidade.
Paulo Hartung* - Existe futuro para a indústria
Com
ações arrojadas, podemos pensar em reeditar o caso de sucesso do agronegócio
O
Brasil vem assistindo há décadas a um forte movimento de desindustrialização,
fenômeno que, infelizmente, tem graves consequências para a sociedade. Fonte de
emprego e renda, a indústria tem apresentado retração sistêmica. Se em meados
de 1980 sua participação no PIB acional estava na casa dos 35%, hoje atinge
apenas 11%.
A
fuga de multinacionais se intensificou e os brasileiros têm sentido o impacto
na pele. A mais recente e emblemática saída de cena foi a da Ford, que deixa só
na região de Camaçari (BA) cerca de 12 mil desempregados. Tranco muito duro num
momento de dificuldades econômicas e sociais aprofundadas pela covid-19.
Se quisermos um futuro diferente, é necessário analisar o passado para não cometer os mesmos equívocos que assolam o presente. Insegurança jurídica, sistema tributário caótico e falta de infraestrutura, como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia e telecomunicações, entre outros, criaram um ambiente de negócios inadequado. O custo Brasil é alto. Soma-se a isso a carência de educação básica e de ensino profissionalizante adequados. Os gargalos estão escancarados e o País precisa resolvê-los urgentemente.
Joel Pinheiro da Fonseca* - Bolsonaro ladra, mas não morde
Estratégia
de governar mediante a pressão popular não dá resultados
É
virtualmente impossível, hoje, ser bolsonarista sem ser golpista. Todo o
movimento de apoio a Bolsonaro se sustenta na esperança de que o presidente
usará da força para solapar seus adversários, governadores, Congresso, Supremo.
Foi
para isso que seus apoiadores foram às ruas no 1º de maio. No mix
insólito de protesto e micareta que ocorreu na avenida Paulista, o cantor
Netinho, logo antes de entoar seu sucesso “Milla”, também pedia que o público
levantasse as mãos para dar uma “carta branca” para Bolsonaro fazer o que bem
quiser.
Classicamente,
o pré-requisito para uma democracia republicana funcional sempre foi a virtude
cívica. Um povo livre, que tem a prerrogativa de escolher seus representantes e
influir nos rumos do Estado, precisa ser também um povo responsável e com senso
crítico. Hoje, vivemos o exato oposto: aqueles que berram histéricos a
obediência à “vontade do povo” são os mesmos que se oferecem prostrados,
abjetos, ao arbítrio do poder total.
Ainda na campanha eleitoral, Bolsonaro dizia querer governar sem fazer política no Congresso; sem formar base, sem distribuir verbas e cargos. Sua ferramenta para governar seria apenas o povo; o povo nas ruas pressionando o Congresso para implementar as medidas do projeto vencedor de Bolsonaro.
Hélio Schwartsman - Os clássicos estão morrendo?
O
cânon ocidental ficará cada vez restrito ao estudo dos especialistas
Foi
assim que Cornel West, um dos mais destacados intelectuais negros dos EUA,
classificou a decisão da Universidade Howard, talvez a mais importante
instituição de ensino negra do país, de fechar seu departamento de estudos
clássicos.
West,
que escreveu um contundente artigo de opinião para o Washington
Post, afirma que a noção de crimes do Ocidente se tornou tão central na
cultura americana que ficou difícil reconhecer as coisas boas que o Ocidente
proporcionou, notadamente os clássicos, que são clássicos justamente porque
permitem uma conversação universal, abarcando pensadores de diferentes eras e
povos.
Diretores de Howard responderam, no New York Times. Dizem que, ao contrário de universidades brancas de elite, a instituição não tem dinheiro para tudo e teve de estabelecer prioridades. Afirmam que os alunos de Howard não ficarão sem ler Platão, Aristóteles e outros clássicos, apenas que não haverá mais um departamento exclusivo dedicado a esses pensadores.
Cristina Serra - O governo que odeia indígenas
Funai
assumiu linha de frente do ataque aos índios, na contramão de sua obrigação
As
intimações para que duas lideranças indígenas, Sônia
Guajajara e Almir Suruí, prestem depoimento à Polícia Federal são o mais
recente capítulo de um cerco permanente contra os indígenas desde que Bolsonaro
chegou ao poder. Já na campanha ele deixara claro que iria persegui-los naquilo
que lhes é mais essencial: seu direito à terra, matriz de sua existência e
cultura. Tem cumprido a promessa à risca.
O inquérito da PF foi aberto a partir de uma queixa-crime apresentada pela Funai, que assumiu a linha de frente do ataque, na contramão de sua obrigação, qual seja, proteger os índios. A acusação é a de que as lideranças estariam promovendo “fake news” ao criticar o governo pelo péssimo atendimento às aldeias na pandemia.
Andrea Jubé - Bolsonaro e Lula cortejam Sarney
Conselho
de Sarney a Renan: menos discurso, mais ação
A
política muda como as nuvens, diz o bordão atribuído ao ex-governador mineiro
Magalhães Pinto. Em 2018, o vendaval da antipolítica, puxado por Jair
Bolsonaro, varreu o MDB das urnas, mandando para casa caciques da estirpe de
Romero Jucá, Eunício Oliveira, Roberto Requião e Garibaldi Alves.
Em
uma releitura desse clássico, o relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros
(MDB-AL), declarou recentemente que na política “nada é irreversível”. Sem
dúvida, um exemplo é a debacle emedebista. Três anos depois, o partido se
reposionou no jogo político, com dois ex-presidentes da República cortejados
por Bolsonaro, e com assento na direção da CPI da Pandemia, que assombra o
Planalto.
Depois de alçar Michel Temer ao patamar de conselheiro político, Bolsonaro bateu na porta do ex-presidente José Sarney na semana passada para se aconselhar sobre a turbulenta relação com Renan Calheiros.
Gabriel Galípolo*, Luiz Gonzaga Belluzzo* - Meu mundo caiu
Os
órfãos de Thatcher e Reagan se preocupam com a dívida pública, pelo aumento das
despesas do Estado
Em
“Annie Hall”, Woody Allen relata uma antiga piada sobre duas senhoras em um
resort. Uma delas diz: “Rapaz, a comida nesse lugar é terrível”. A outra
responde: “Sim, eu sei! E em porções tão pequenas”. “É essencialmente assim meu
sentimento em relação à vida - repleta de solidão, miséria, sofrimento,
infelicidade e acaba rápido demais”, afirma o cineasta.
Nesta
existência exposta a todo tipo de contingência, é quase natural que a tomada de
consciência incline o ser humano à fantástica ideia de controlar os golpes do
destino. Mas o tempo, que dá origem e rege as coisas deste mundo, é um cara
gozador e adora brincadeira. Quis a ironia condenar a ação humana a
frequentemente produzir o contrário das suas intenções.
Dizem
os algoritmos dos aplicativos de música que, desde o anúncio do Plano Biden, a
mais ouvida entre os analistas que dominaram a opinião econômica publicada nas
últimas décadas é “Meu mundo caiu”, na voz da saudosa e maravilhosa Maysa. Boa
parte ainda não foi capaz de superar o trauma da ruptura. Em estado de negação,
repetem “não é nada disso que você está pensando” ou “nós somos diferentes,
isso tudo não se aplica ao nosso relacionamento”.
Oferecemos aos colegas o ombro de quem também já foi traído pelo destino. A arquitetura financeira dos anos dourados do pós-guerra engendrou o mundo que pariu Reagan e Thatcher, da mesma forma que estes últimos produziram o ambiente para a ascensão da China, a crise de 2008 e o Plano Biden, golpe final às políticas econômicas adotadas desde a década de 1980.
Luiz Schymura* - Mais Estado
Próximas
políticas devem seguir uma lógica diferente de quando o vírus aterrissou em
nosso país
Em
um passado não muito distante, não havia no Brasil muita preocupação com a
questão fiscal. Desde a segunda metade dos anos 90, os ventos começaram a mudar
e as contas públicas passaram a receber atenção crescente dos formadores de
opinião e do sistema político.
Em
especial, nas últimas duas décadas, grandes avanços foram feitos em termos de
consolidação fiscal: a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a renegociação da
dívida dos Estados, a realização de superávits primários por anos a fio, o teto
dos gastos e três reformas da Previdência. Diga-se de passagem, a última restruturação
do modelo de aposentadorias e pensões foi bastante profunda e realizada num
período - o ano de 2019 - no qual iniciativas desse tipo eram rejeitadas pelo
eleitorado em diversos países mundo afora.
A
recente guerra para a aprovação do Orçamento também trouxe novidades. Com todas
as dificuldades oriundas da crise sanitária, Executivo e Legislativo
trabalharam com afinco para convencer os agentes econômicos do comprometimento
dos Poderes com a disciplina fiscal, algo impensável no Brasil de algum tempo
atrás.
Mas, a despeito dos progressos, o receio de insolvência pública persiste. O desafio agora é caminhar da disposição em arrumar as finanças públicas para a conquista da percepção de um Estado estruturalmente solvente.
Malu Gaspar - Governistas da CPI da Covid vão confrontar Mandetta com esqueletos de sua gestão
Se
depender dos senadores governistas que integram a CPI da Covid, o ex-ministro
da Saúde Luiz Henrique Mandetta será confrontado com questões pendentes de
sua gestão na pasta durante o depoimento desta terça-feira.
O
objetivo é tentar tirar Jair Bolsonaro do foco da discussão, fazendo com
que Mandetta passe mais tempo se explicando do que apontando as divergências
entre eles e as ocasiões em que ações do presidente possam ter prejudicado o
combate à pandemia.
Os
grandes contratos de compras fechados por Mandetta são as principais armas na
artilharia preparada pelo grupo que defende o governo na comissão.
Esses
contratos foram alvo de vários dossiês enviados nas últimas semanas a senadores
da CPI por funcionários do ministério, empresários que tiveram interesses
contrariados e adversários políticos do ex-ministro.
No material há documentos sugerindo direcionamento em favor de fornecedores na compra de equipamentos de proteção individual (EPI) e na contratação de duas empresas, uma delas especializada em telemedicina, para o TeleSUS.
Cristovam Buarque* - Olhar para Frente
O eleitorado descontente com o PT e com Bolsonaro quer mais do que outro nome, quer um candidato que aponte para o futuro
Há meses o debate político se restringe ao eleitoral, limitado à opção entre PT, Bolsonaro ou candidatos no que vem sendo chamado de Centro ou Polo Democrático. Os que fazem parte deste grupo têm a tendência a achar que qualquer nome deles, se unidos, teria lugar no segundo turno.
Esquecem o imenso número de eleitores entre os nem-nem, que são nem-nem-nem. Dependendo do nome escolhido pelo Polo ou Centro, preferirão votar em branco ou nulo ou viajar no dia da eleição.
Carlos Andreazza - O caso Pfizer e as mentiras do governo
- O Globo
A
nova versão influente do governo Bolsonaro para se lavar da responsabilidade
por não haver contratado a vacina Pfizer em agosto/setembro de 2020 é alegar
que inexistia legislação — naquela época — capaz de cobrir a operação. É falso.
Mais uma distorção num conjunto de mentiras que pretendeu desqualificar o
imunizante — e o próprio valor da imunização.
A primeira mentira: as doses daquele laboratório demandariam uma rede de refrigeração impeditiva. A segunda: a contratação dessa vacina, antes do aval da Anvisa, como se alguém fosse aplicá-la sem a certificação sanitária, colocaria em risco a integridade do brasileiro — o levaria a se tornar jacaré. Lembremo-nos: sem aprovação da agência reguladora, o Ministério da Saúde contrataria, meses depois, os imunizantes Sputnik V e Covaxin. A terceira: a oferta da Pfizer seria modesta. A oferta: 3 milhões de doses até março de 2021, metade das quais a serem entregues já em dezembro do ano passado — volume que, segundo Pazuello, frustraria a população. Lembremo-nos: a malta que argumentara assim comemorou, no final da semana passada, a entrega de 1 milhão de doses dessa mesma vacina.
Zuenir Ventura - E por falar em utopia
Ao
participar há dias de um debate sobre utopia, não foi difícil constatar que
estamos vivendo justamente o contrário, uma distopia como nunca vivemos: um
acúmulo de crises — sanitária, política, econômica, ética, social, ambiental.
Por isso, para muitos, a utopia do século XXI é a sustentabilidade, isto é, o
equilíbrio entre progresso, bem-estar social e conservação dos recursos
naturais. E, se não o fim, pelo menos a redução das distâncias obscenas entre
riqueza e pobreza.
Aliás, a utopia sempre foi, digamos, meio utópica, desde o começo. Thomas Morus, o filósofo autor do livro “Utopia”, que em grego quer dizer “não lugar”, “lugar que não existe”, apresentava em 1516 o cenário de uma sociedade em que todos seriam felizes, ninguém era dono de nada, todos eram ricos. Porém o criador desse paraíso utópico morreu infeliz. Preso na Torre de Londres, foi executado por ordem de Henrique VIII. Quer dizer: o criador da utopia teve um fim distópico.
Morre o sociólogo e cientista político Leôncio Martins Rodrigues
Renata Galf / Folha de S. Paulo
SÃO
PAULO - Um
dos pioneiros da sociologia do trabalho no país, o sociólogo e cientista
político Leôncio Martins Rodrigues morreu nesta segunda-feira (3). Aos 87 anos,
ele fazia tratamento da doença de Parkinson e estava internado havia três meses
no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Leôncio
foi professor titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp e publicou
diversas obras
sobre política e sindicalismo.
Nascido
em 1934 em São Paulo, formou-se em ciências sociais na USP em 1962. Em 1967
concluiu seu doutorado sobre "Atitudes Operárias na Indústria
Automobilística”, tendo sido orientado pelo sociólogo Florestan Fernandes.
Seus
estudos sobre o sindicalismo lhe renderam, em 2009, o prêmio Florestan
Fernandes, da Sociedade Brasileira de Sociologia.
Já na década
de 90, apontava que os sindicatos eram instituições que estariam em
decadência e que os empregos que surgiam no mercado eram em áreas que não
favoreciam a sindicalização.
Em 1999, publicou a obra "Destino do Sindicalismo”, na qual discutia o futuro dos sindicatos e das relações de trabalho.
O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais
Presidente
periférico
Folha
de S. Paulo
Pandemia
escancara despreparo e desconexão institucional da aventura Bolsonaro
Jair
Bolsonaro era um deputado periférico que em circunstância excepcional sagrou-se
presidente. A imagem que se firma dele a cada desdobramento da política é a do
presidente que se torna periférico.
Como
se viu no sábado (1º), ele arrasta para as ruas um séquito assemelhado aos
que acompanham os charlatães religiosos. São pessoas ressentidas com os limites
que a Constituição de 1988 impõe à tirania, a expor pautas e retalhos de ideias
exóticos, cuja inviabilidade num país complexo como o Brasil do século 21 vai
ficando evidente.
Compelidos
a camuflar os lemas escancaradamente golpistas de outrora, os bolsonaristas de
parada agora destampam um “Eu autorizo”. A psicanálise poderá explicar que
essas figuras liliputianas estão expressando a mensagem contrária: não podem
nada; não autorizam nada fora das regras do jogo.
Em
paralelo, a administração Bolsonaro vai se despedaçando, o que atrai
excêntricos e oportunistas para seus escombros. Desfaz-se em bravatas,
comentários demófobos, fracassos e inoperância a ambiciosa agenda reformista do
ministro Paulo Guedes (Economia).
Sentindo cheiro da presa encurralada, enquanto se reduz a expectativa de poder em torno do presidente além de 2022, os partidos do centrão avançam sobre cargos e verbas com a voracidade dos visigodos no último assalto a Roma.
Poesia | Antonio Machado - Tenho andado muitos caminhos
Tenho andado muitos caminhos
tenho aberto muitas veredas;
tenho navegado em cem mares
e atracado em cem ribeiras
Em todas partes tenho visto
caravanas de tristeza
orgulhosos e melancólicos
borrachos de sombra negra.
E pedantes ao pano
que olham, calam e pensam
que sabem, porque não bebem
o vinho das tabernas
Má gente que caminha
e vai empestando a terra...
E em todas partes tenho visto
pessoas que dançam ou jogam,
quando podem, e lavoram
seus quatro palmos de terra.
Nunca, se chegam a um lugar
perguntam a onde chegam.
Quando caminham, cavalgam
lombos de mula velha.
E não conhecem a pressa
nem mesmo nos dias de festa.
Onde há vinho, bebem vinho,
onde não há vinho, água fresca.