domingo, 3 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Eduardo Campos: campanha antecipada

"Nunca vi quem está no governo, sobretudo quem está no governo numa situação de dificuldade, antecipar calendário eleitoral. Nunca vi isso dar certo."

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, no Jornal do Commercio, 2/3/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Bolsa Família sustenta 1 em cada 3 assentados
UPP do Caju aperta cerco para 2016
Em Mato Grosso, o rei dos fichas-sujas
Mineração é risco para 17 reservas

FOLHA DE S. PAULO
Papéis da ditadura estão retidos em arquivos federais
Loucos por comida, 'foodies' gastam até 60% do salário em restaurantes
Novo papa lidará com legado dúbio do Vaticano 2º
Dilma defende 'vida longa' à coalizão entre PT e PMDB
Rede fora da rede em Cuba
Crescimento do PIB desde a 'marolinha' é 41% menor

O ESTADO DE S. PAULO
Apenas o setor de serviços se recuperou da crise de 2008
Dilma não confirma Temer
Usuários fogem de Congonhas na chuva
Com déficit de pessoal, Saúde cede servidores

CORREIO BRAZILIENSE
Apagão no Aeroporto JK
Só este ano, pensão levou 160 à cadeia
Casa própria: Financiar imóvel não é mais tão vantajoso
Seu bolso: Leão está atento aos negócios imobiliários
Eleições: o rendado de Dilma

O ESTADO DE MINAS
Vereadores cassados em fronteira têm poder paralelo

O TEMPO (MG)
Importação pressiona indústria
Candidatura do PMDB é dor de cabeça para petistas e tucanos
Dilma afaga PMDB e deseja `vida longa´ à parceria com PT

GAZETA DO POVO (PR)
Táxis em mãos erradas
Uso eficiente de energia pode adiar desembolso de R$ 55 bi
Dom Odilo Scherer fala sobre a sucessão de Bento XVI
Dilma elogia PMDB, mas não garante Temer como vice em chapa para 2014

ZERO HORA (RS)
Protestos em redes sociais encaram o teste das ruas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Chávez volta a fazer sessões de quimioterapia

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

REFORMA AGRÁRIA EM XEQUE: Bolsa Família sustenta 1 em cada 3 assentados

Sem condições de viver do cultivo da terra, 339 mil famílias recebem o benefício

Outras 126 mil estão cadastradas como pobres, com direito a ajuda do governo.
No total, 49% têm propriedades no campo, mas não conseguem produzir

Dados do próprio governo mostram que 339 mil famílias assentadas pelo Incra (36% do total) vivem em situação de miséria e só sobrevivem às custas do Bolsa Família, revela Cleide Carvalho. Mais 126 mil, também na pobreza, têm direito a outros benefícios, segundo o Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social. Ou seja, 466 mil famílias que receberam terras não conseguem tirar delas seu sustento, o que, para especialistas, demonstra que o modelo de reforma agrária deve ser repensado.

Terra que não dá frutos

Pelo menos 36% dos assentados pela reforma agrária dependem do Bolsa Família para sobreviver

Cleide Carvalho

MISÉRIA NO CAMPO

SÃO PAULO - Entre 1994 e 2011, o governo quase multiplicou por dez o número de assentamentos no país, de 934 para 8.565. Nos dois melhores anos para os sem-terra, 2005 e 2006, foram assentadas 263.864 famílias, o que significa cerca de 1,055 milhão de pessoas. É como se toda a população de Campinas, interior de São Paulo, ou de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, tivesse sido reinstalada para começar vida nova. Já foram distribuídos 87 milhões de hectares (10,8% do território nacional). Mas a distribuição de terras não resolveu o principal problema dos sem-terra: a pobreza.

Hoje, 36% das famílias assentadas dependem de ajuda do Bolsa Família para sobreviver. Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 339.945 das 945.405 famílias que vivem em assentamentos recebem o benefício destinado aos 22 milhões de brasileiros classificados como miseráveis (renda por pessoa de até R$ 70, para famílias com ou sem filhos, e de até R$ 140 para famílias com filhos).

Terra pobre e Lotes Pequenos

Se consideradas todas as famílias de assentados inscritas no Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social que são pobres o suficiente para fazer jus a algum tipo de programa social (renda mensal por pessoa de até R$ 339), o número sobe para 466.218, o equivalente a quase metade (49%) de todas as que já receberam terras no país. Ou seja, de cada dez assentados, entre quatro e cinco não alcançaram emancipação financeira que permita retirar da terra, além do sustento, algum dinheiro para vestir, educar os filhos e ter confortos, desejos primários para quem se insere no mercado consumidor capitalista, cuja origem é justamente a propriedade da terra.

A situação dos assentamentos levou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a dizer em fevereiro que eles se assemelham a "favelas rurais". Em janeiro, O GLOBO mostrou que oito em cada dez jovens já deixaram os assentamentos em busca de uma vida melhor, ou pretende fazê-lo, segundo a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf).

- Quando se candidatam à terra eles já são pobres. Depois de assentados, a qualidade de vida melhora, mas não muda o status de família pobre - diz Alexandre Valadares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Os especialistas são unânimes ao listar os problemas da reforma agrária brasileira que impedem as famílias de gerar renda significativa. A começar pela qualidade das terras e o tamanho das propriedades, consideradas pequenas. Vários assentamentos são feitos em áreas de solo ruim ou que já foi esgotado pelo uso excessivo. Além disso, o crédito é difícil e escasso e os beneficiários têm dificuldade para se articular em torno de elementos fundamentais para o sucesso da produção, como obtenção de técnicas mais avançadas ou negociação com canais de distribuição e venda das mercadorias produzidas.

Os entraves levam muitos assentados a usar a terra só para morar e plantar para consumo próprio. Em sua tese de doutorado na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp-Botucatu, defendida em 2011, Marcelo Magalhães diz que o grau de ocupação efetiva das terras disponibilizadas pelo Incra é baixo, só 23,6%, o que sequer permite o desenvolvimento de ganhos de escala.

Muitos assentados buscam ocupação fora de suas terras. Fazem serviços temporários em grandes propriedades rurais do entorno ou são prestadores de serviços nos centros urbanos próximos, em geral com trabalhos mal remunerados, como pedreiros.

Crateús (CE) é um retrato dos erros de um modelo de reforma agrária que perpetua pobreza. O nome da cidade significa "coisa seca ou lugar seco". Em junho passado, nove servidores do Incra foram condenados numa ação de improbidade administrativa por desapropriar, por R$ 622 mil, um imóvel rural considerado "imprestável" para assentamento, além de levar o órgão a gastar mais R$ 387 mil para tentar viabilizar o inviável, ou seja, o plantio.

O município abriga sete assentamentos federais e pelo menos 12 estaduais onde imperam, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Emater), culturas de subsistência (milho, mandioca e feijão) e dependência de recursos de programas sociais. Com 20% da população classificada como extremamente pobre, Crateús tem 10.386 famílias listadas no Bolsa Família, das quais pelo menos 1.514 são classificados como agricultores familiares e assentados.

- A maioria dos assentados espera por tudo do governo. E quem pegou crédito está inadimplente, à espera de anistia. Falta interesse - diz Wilson Mourão Soares, gerente da Emater no município.

No Ceará, 47% dos assentados têm renda máxima de um salário mínimo. Pior: 44% dessa renda são benefícios sociais dados pelo governo e 8% correspondem a ganhos com trabalhos externos, fora das terras recebidas. A produção agrícola responde por menos da metade da renda (48%), que já é pouca.

Estrada ruim dificulta escoamento

Mas há vários casos de reforma agrária bem sucedidos. Os assentamentos no país respondem por 9% da produção nacional de arroz e entre 8% e 11% dos feijões consumidos no Brasil, segundo o Censo Agropecuário de 2006. Em Santa Catarina, 76% da renda dos assentados são provenientes da posse da terra, seja produção de leite ou cultivo. Em Santa Catarina, os assentamentos são menores em extensão e em número de famílias, e inseridos numa região onde a agricultura familiar é tradição.

Um estudo feito pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário sobre qualidade de vida, produção e renda nos assentamentos, publicado em 2010, dá mostras do que pensam os assentados: 57,89% disseram que as estradas de acesso às terras são péssimas ou ruins, percentual que sobe para 65% no Norte e Nordeste; 21% que a água é insuficiente; e 56,14% informaram que não têm energia elétrica ou que o fornecimento é irregular.

O economista Guilherme Lambais, em sua tese de mestrado no Instituto de Economia da Unicamp, diz que a reforma agrária melhora a segurança alimentar, já que o beneficiário, pelo menos, planta para comer, mas ressalta que falta aos assentados um requisito fundamental para prosperar: o empreendedorismo.

- Muitos não buscam financiamento porque temem o risco e, por isso, não vivem da terra. Ou vão trabalhar fora ou vivem da assistência do governo. Não basta dar a terra, é preciso retirar as pessoas da armadilha da pobreza - afirma Lambais.

Segundo Lambais, os assentamentos mais bem sucedidos entre os visitados por ele num trabalho sobre o programa Cédula da Terra, onde os sem-terra financiam a aquisição da área, são os que têm uma liderança técnica, não política.

- As associações de assentados devem ser livres de interferências políticas para que os interessados possam se juntar por características semelhantes, com um objetivo comum. Há comunidades que se juntaram para plantar maracujá, por exemplo - afirma o economista da Unicamp.

Fonte: O Globo

Expansão do PIB cai quase à metade no pós-crise global

Na média dos 4 anos, país ficou no meio entre os mais e menos afetados

Apesar da quase estagnação de 2012, desemprego baixo e programas sociais suavizam impactos

Gustavo Patu

BRASÍLIA - Completado um quadriênio sob efeitos de crises no mundo desenvolvido, o crescimento econômico do Brasil sofreu uma perda de 41% na comparação com os quatro anos anteriores.

Com a recém-divulgada expansão de apenas 0,9% em 2012, o Produto Interno Bruto contabiliza um avanço médio de 2,7% anuais desde 2009, modesto para os padrões e necessidades das economias emergentes.

Já entre 2005 e 2008, vivia-se o período de maior bonança nacional em tempos de inflação sob controle, com crescimento médio de 4,6% ao ano -vigoroso o bastante para que o governo considerasse o país imune às turbulências externas.

No final daquele período, quando a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers precipitava o início de uma recessão mundial, a administração petista minimizava o impacto doméstico do novo cenário global.

Na metáfora do então presidente Lula, o tsunami enfrentado pelos Estados Unidos chegaria ao Brasil como uma "marolinha". Para a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, seria uma "pequenininha gripe".

Mas, se de fato não passou por uma retração econômica dramática, o Brasil esteve longe de ser, como divulgava a propaganda oficial, o último país a entrar e o primeiro a sair da crise.

Levantamento feito pela Folha mostra que o país ocupa uma posição intermediária entre os mais e menos afetados pela conjuntura internacional adversa -que, do estouro de uma bolha imobiliária nos EUA, desaguou em um impasse de endividamento público na zona do euro.

Consideradas as principais economias do mundo, reunidas no G-20, nove países e a União Europeia passaram por perdas de crescimento econômico mais agudas que a brasileira; nessa lista, o PIB encolheu na Itália, no Reino Unido e na UE no geral.

Outros nove países sofreram menos que o Brasil, na comparação entre o quadriênio da crise e os quatro anos anteriores. No entanto, apenas dois, Arábia Saudita e Indonésia, não experimentaram uma desaceleração de um período para o outro.

Previsivelmente, o mundo desenvolvido foi mais abalado, incluindo europeus, EUA e Japão. Os mais resistentes são os emergentes asiáticos, que englobam ainda a China e a Índia, além da Coreia do Sul -que, para parte dos analistas, já está entre as economias avançadas.

Para o Brasil, a consequência negativa mais palpável da nova conjuntura global foi a interrupção da escalada dos preços das commodities, ou seja, dos produtos primários de exportação como soja e minério de ferro.

Antes de marolinhas ou tsunamis, o país surfava no boom das commodities, que sustentava recordes sucessivos das exportações e dava impulso ao crescimento da produção e da renda.

Apesar da quase estagnação do último ano, a economia brasileira mantém taxas de desemprego em patamares historicamente baixos, que, com a ajuda de programas sociais, suavizam os impactos adversos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Apenas o setor de serviços se recuperou da crise de 2008

Enquanto indústria de transformação e agropecuária patinam, os serviços cresceram 11,6% em 4 anos

O setor de serviços puxou do Brasil e foi o único que avançou mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) desde a crise de 2008. Nesse período, o setor, que inclui do comércio à tecnologia da informação, cresceu 11,6% enquanto a economia teve expansão de 9,3%, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

O setor agropecuário caiu 0,1%. Já a indústria, descontados os números das construtoras, caiu 5,9%. Para especialistas, o consumo cresceu: com a ajuda dos estímulos do governo, mas os custos da indústria subiram e ela perdeu espaço para os importados. Só a indústria química teve um déficit de US$ 28,1 bilhões no ano passado.

Só os serviços crescem mais que o PIB

Desde início da crise de 2008, setor de serviços avançou 11,6%, enquanto a indústria se expandiu apenas 2%, para um PIB total de 9,3%

Luiz Guilherme Gerbelli e Fernando Dantas

O setor de serviços, que inclui atividades como comércio e tecnologia da informação, entre outras, puxou o crescimento da economia brasileira e foi o único que avançou acima do Produto Interno Bruto (PIB) desde o início da crise econômica, iniciada em setembro de 2008.

Nesses quatro anos e um trimestre de turbulência internacional, o PIB do setor de serviços avançou 11,6%, enquanto o crescimento brasileiro, no geral, foi de 9,3%, revela um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). No mesmo período, a indústria cresceu apenas 2%, e a agropecuária ficou praticamente estagnada - queda de 0,1%.

A reação mais pujante do setor de serviços é evidente porque todas as atividades apresentaram crescimento. No caso da indústria, a atividade de transformação teve uma queda de 5,9% no período analisado. O que evitou um recuo do PIB total industrial foi o crescimento do setor de construção, que teve alta de 12,1% - vale lembrar que, nos últimos anos, o governo adotou medidas de estímulos para a construção, com o lançamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, e desonerou a compra de materiais de construção.

"Do ponto de vista da oferta, somente o setor de serviços respondeu aos estímulos da demanda", diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. "A minha expectativa é que o agronegócio se recupere em algum momento, porque esse resultado é fruto de uma reviravolta no setor das commodities. No caso da indústria, parece ser uma coisa mais estrutural."

Essa diferença que se abre entre os dois setores pode ser observada pelo dinamismo da economia brasileira desde o início da crise econômica. Para manter o crescimento econômico num cenário internacional adverso, o governo apostou no incentivo ao consumo. No período analisado pelo Iedi, o consumo das famílias cresceu 19,7%, enquanto o investimento teve alta de apenas 6,1% no período.

"É necessário que haja um alento para que o empresário invista. A saída para a indústria está no aumento da produtividade", diz Almeida. "O governo tem feito o que pode com redução de custo e reposicionamento do câmbio. Mas nós precisamos de uma revolução industrial."

Estrutura e conjuntura. O economista Fernando Rocha, sócio da gestora de recursos JGP, vê um elemento estrutural e um conjuntural na retração da indústria e no aumento do setor de serviços nos últimos anos. Pelo lado estrutural, ele cita a perda de competitividade da indústria, em função do aumento dos custos de produção - particularmente dos salários - e da valorização cambial. "A indústria sofreu muito, com as importações subindo fortemente para suprir a demanda", diz.

O estudo do Iedi mostra que o crescimento dos importados foi de 34,8% desde o início da crise, enquanto as exportações tiveram aumento de somente 5,9% no período.

Rocha nota ainda que é normal que o aumento da renda da população impulsione o setor de serviços. Ele explica que, quando as pessoas saem dos extratos de baixa renda para a classe média, há consumo de bens no primeiro momento, como geladeiras, carros, etc. Posteriormente, porém, são os serviços que crescem mais, com mais gastos em educação, saúde, lazer.

Do ponto de vista conjuntural, ele acha que a indústria também foi prejudicada, de um ano e meio para cá, com uma desaceleração da demanda, por causa do excesso de endividamento das famílias. Ele nota que o consumo das famílias, que chegou a crescer a um ritmo anualizado em torno de 7% em 2010, caiu para um mínimo em 2,5% em meados de 2012. No ano passado, o consumo das famílias fechou com expansão de 3,1%.

Se o setor industrial ficou pressionado nos últimos anos, o setor de serviços teve espaço para repassar o aumento d e custo, sobretudo porque o Brasil ostenta uma situação confortável no mercado de trabalho - em dezembro, a taxa de desocupação medida pelo IBGE foi de 4,6%, a mais baixa desde o início da série histórica, em março de 2002.

"O setor de serviços conseguiu repassar os custos principalmente nesse contexto de baixo desemprego", diz Rafael Bacciotti, economista da Tendência.

O economista Beny Parnes, professor da PUC-RJ, acha que o crescimento dos serviços e os problemas da indústria estão ligados à forma como o País reagiu a uma situação internacional extremamente favorável nos últimos dez anos.

Ele nota que o Brasil sofreu "um choque positivo de termos de troca". Isso quer dizer que os produtos que o País exporta mais, como commodities agrícolas e minerais, subiram de preço, enquanto aqueles que são mais importados, como bens manufaturados, ficaram mais baratos. Por outro lado, a isto se somou um grande aumento da oferta de capitais para o Brasil, em consequência do próprio choque positivo, que reforçou a confiança no País, e das melhoras na parte fiscal e de gestão econômica.

O problema, segundo Parnes, é que "o Brasil não usou este superchoque favorável e a enorme oferta de capitais para poupar mais, investir mais e aumentar as posições de crescimento de longo prazo". "Na verdade, o que a sociedade e o governo decidiram fazer democraticamente foi expandir o consumo no curto prazo", diz.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Construção para salvar o PIB

Victor Martins

Com receio de que a economia patine novamente em 2013, o governo vai apostar suas fichas no setor de construção civil para impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) e não repetir o resultado frustrante do ano passado, uma expansão de apenas 0,9%. Como o segmento entra duas vezes no cálculo das riquezas do país — na indústria e nos investimentos —, técnicos do Ministério da Fazenda acreditam que impulsionar o segmento pode ser determinante para que o país alcance taxas de crescimento mais robustas no decorrer deste ano.

Para isso, em 28 de dezembro, o Executivo publicou a Medida Provisória 601, que desonera e dá outros benefícios às empresas do ramo. Mas os incentivos começam a ter efeito a partir de abril. Para o governo, a construção civil se tornou tão importante que, durante 2012, a equipe econômica turbinou a concessão de crédito imobiliário por meio dos bancos públicos, reduziu os juros e tentou dar agilidade aos programas sociais que envolvem o sonho da casa própria.

O Palácio do Planalto deu início ainda a uma série de concessões para obras de infraestrutura (portos, rodovias, aeroportos e ferrovias, mas que devem se materializar como investimentos apenas a partir de 2014. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo lado dos investimentos, a construção civil chegou ao equivalente a 44% de toda a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Em valores reais, esse percentual representa uma cifra de R$ 349,4 bilhões.

O segmento ganhou a atenção do governo quando começou a registrar fragilidade no ritmo de investimentos. Em 2010, a construção havia crescido 12,9%. Em 2011, o avanço caiu para 3,9% e, no ano passado, ficou em apenas 1,9%. "Queremos evitar uma desaceleração ainda mais intensa. O setor de construção é muito importante para o PIB e para os investimentos. Por isso, a MP 601", diz um técnico do governo. "A partir de abril, quando os benefícios para o setor entram em vigor, esperamos uma retomada mais consistente dos investimentos e da atividade econômica", afirma.

Fonte: Correio Braziliense

Sem disfarce nem miopia - Fernando Henrique Cardoso

Por ora, o trem da economia não descarrilou, mas as balizas que asseguraram crescimento com estabilidade se tornam cada vez mais referências longínquas

As forças governistas, depois de precipitarem a campanha eleitoral, voltaram ao diapasão antigo: comparar os governos petistas com os do PSDB. Chega a ser doentio! Será que não sabem olhar para a frente? As conjunturas mudam. O que é possível fazer em uma dada fase muitas vezes não pode ser feito em outra; políticas podem e devem ser aperfeiçoadas. Porém, na lógica infantil prevalecente, em lugar de se perguntar o que mudou no país em cada governo, em que direção e com qual velocidade, fazem-se comparações sem sentido e imagina-se que tudo começou do zero no primeiro dia do governo Lula. Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a História é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa. Nada de novo sob o sol: é só lembrar os museus soviéticos que borravam nas fotos os rostos dos ex-companheiros caídos em desgraça... O PSDB não deve entrar nessa armadilha. É melhor olhar para a frente e deixar as picuinhas para quem gosta delas.

Quanto ao futuro, o governo está demonstrando miopia estratégica. Depois de quatro anos iniciais de consolidação da herança bendita, a política econômica teve de reagir ao violento impacto da crise de 2007/2008. Foi necessário, sem demora, expandir o gasto público, desonerar setores produtivos, ampliar o crédito através dos bancos públicos, etc. Em situações extraordinárias, medidas extraordinárias. Mas o cachimbo foi entortando a boca: a discricionariedade governamental tornou-se a regra desde então. Com isso, a credibilidade do BC foi posta em xeque, a transparência das contas públicas também. Cresceram as dúvidas sobre a inflação futura e sobre o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.

Não há que exagerar na crítica: por ora, o trem não descarrilou. Mas as balizas que asseguraram crescimento com estabilidade (câmbio flutuante, metas inflacionárias e responsabilidade fiscal), mesmo ainda em pé, tornam-se cada vez mais referências longínquas. A máquina governamental está enguiçada como o próprio governo sente; e sua incapacidade para consertá-la é preocupante. Os expedientes utilizados até agora com o propósito de acelerar o crescimento deram em quase nada (o Pibinho). Na ânsia de acelerar a economia, o governo beijou a cruz e apelou para as concessões (portos, aeroportos, estradas) e mesmo privatizações (de partes da distribuição energética). Mas a viseira ideológica, o hábito de fechar-se em pequenos grupos, a precariedade gerencial não permitem dar efetividade a decisões que ferem o coração de suas crenças arcaicas.

Enquanto a China puxar as exportações de matérias-primas e de alimentos, tudo vai se arranjando. Mesmo assim, a produção industrial torna-se menos competitiva e perde importância relativa no processo produtivo. A balança comercial já deixou de ser folgada, mas, com o financiamento estrangeiro, as contas vão fechando. No curto prazo, tudo bem. A prazo mais longo, volta a preocupar o fantasma da "vulnerabilidade externa".

Já se veem no horizonte sinais de retomada na economia mundial. Não me refiro a uma incerta recuperação do emprego e do equilíbrio fiscal, este em alguns países da Europa, aquele nos Estados Unidos. Refiro-me ao que Schumpeter salientava para explicar a natureza do crescimento econômico, uma onda de inovações. Provavelmente serão os Estados Unidos que capitanearão a nova investida capitalista mundial. O gás de xisto e os novos métodos de extração de petróleo tornarão aquele país a grande potência energética. Junto com ele, Canadá, México, Argentina e Brasil podem ter um lugar ao sol. De ser isso verdade, uma nova geopolítica se desenha, com, por um lado, um polo chinês- asiático e outro americano. Isso em um contexto político e cultural que não aceita hegemonias, no qual, portanto, a multiplicidade de polos e subpolos requer uma nova institucionalidade global.

Diante disso, como ficará o Brasil: pendendo para a Alba, de inspiração chavista? À margem da nova aliança atlântica proposta pelos Estados Unidos, que, por agora, contempla apenas a América do Norte e a Europa? Iremos fortalecer nossos laços com o mundo árabe longínquo, ou este terminará por se aconchegar na dupla formada pela China e pela Índia, ambos países carentes de energia? E como nos situaremos na dinâmica da nova fase do capitalismo global? Ao que eu saiba, ela continuará dependendo do aumento contínuo de produtividade para assegurar as bases do bem-estar social (que não será decorrência automática disso, mas de políticas adequadas). Como, então, querer acelerar o crescimento utilizando truques e maquiagens, do tipo subsídios tópicos, exceções de impostos setoriais, salvamento de empresas via Hospital BNDES ou Caixa Econômica?

Quando o PSDB fez o Plano Real, percebeu as oportunidades que se abriam para o Brasil com a globalização, desde que ajustássemos a economia e iniciássemos políticas de inclusão social. Na época o PT não entendeu do que se tratava. Queria dar o calote da dívida externa e sustentava o inadequado programa Fome Zero, que jamais saiu do papel. Foram as bolsas que o PSDB introduziu que salvaram o PT quando este, tardiamente, deu-se conta de que era melhor fazer uma política de transferência direta de rendas. Em geral se aferrou à ideia de que a globalização seria uma ideologia - o neoliberalismo - e não a maneira contemporânea de organizar a produção com base em novas tecnologias e novas normas. Não estará o PT repetindo o equívoco, com uma leitura míope do mundo e distorcida do papel do Estado? A resposta cabe ao governo. Ao PSDB cumpre oferecer a sua visão alternativa e um programa contemporâneo que amplie as possibilidades de realização pessoal e coletiva dos brasileiros. Sem esquecer o passado, mas com os olhos no futuro.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República

Fonte: O Globo

Dilma diz que aliança com PMDB terá 'longa vida' e ataca oposição

Presidente tenta aparar arestas com a base aliada enquanto costura o caminho da reeleição

Débora Bergamasco, Eduardo Bresciani e Rafael Moraes Moura

BRASÍLIA - Em um esforço para aparar as arestas com a base aliada num momento em que tenta costurar o caminho da reeleição, a presidente Dilma Rousseff discursou há pouco na Convenção Nacional do PMDB, em Brasília, afirmando que a aliança com o PMDB terá "longa vida" e voltou a atacar a oposição, celebrando as conquistas da sua administração.

"O convite do PMDB pra estar aqui ofereceu oportunidade extraordinária para que nós juntos possamos celebrar essa parceria sólida, produtiva e que sem dúvida alguma terá uma longa vida", discursou a presidente, sob aplausos, após iniciar o discurso com um cumprimento ao "meu grande parceiro Michel Temer".

A referência a Temer voltou no final do discurso, com Dilma afirmando que deseja "vida longa à nossa aliança, à nossa parceria". "Me dirijo calorosamente ao meu amigo Michel Temer, para agradecer mais uma vez o apoio, a competência, a solidariedade e a lealdade, essa é uma parceria que muito me honra e quero dizer que nós, juntos, eu e o Temer, vocês, a base aliada, meu partido, PMDB e todos os partidos da base aliada temos esse desafio maravilhoso que é transformar o Brasil."

O afago de Dilma no PMDB ocorre no momento em que o Palácio do Planalto vê cristalizar uma possível candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência da República - para barrar os planos de Campos, petistas cogitaram inclusive oferecer a ele a vaga de vice de Dilma em 2014.

"Mercadores do pessimismo"

Atacando a oposição, Dilma disse que o seu governo fez o que os "adversários políticos, quando puderam, não souberam ou não quiseram fazer". Ao falar de economia, Dilma destacou que a inflação está sob controle e que a indústria começa a dar sinais de recuperação.

"Mais uma vez, os mercadores do pessimismo vão perceber, vão perder como perderam quando previram o racionamento de energia, mais uma vez os que apostam todas as fichas no fracasso do País vão se equivocar. Torcer contra é o único recurso daqueles que não sabem agir a favor do Brasil, em tudo que foi feito, é normal que tenhamos enfrentado interesses divergentes que estavam acostumados ao passado", atacou.

A presidente disse que, antes, "crises maiores" que a atual "quebravam o Brasil, "levavam o País a bater à porta do FMI (Fundo Monetário Internacional), pedindo de joelhos, recursos e dólares". "Hoje, o País tem 378 bilhões de dólares de reservas, não deve nada a ninguém, olha a todos nos olhos", prosseguiu.

A presença de Dilma na convenção ocorre um dia após a presidente cumprir uma intensa agenda de eventos no Rio de Janeiro, acompanhada do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes - seus dois maiores aliados peemedebistas na região. PT e PMDB, no entanto, estão em pé de guerra no Rio, após o senador Lindbergh Farias (PT) se lançar à campanha pelo governo estadual, contrariando os planos do PMDB, que quer emplacar o vice-governador Luiz Fernando Pezão.

Dilma destacou a parceria com as autoridades do Rio de Janeiro, defendendo que "essa parceria é baseada na capacidade de gestão, também na força e na determinação de transformar". Enquanto a presidente discursava, populares bradavam gritos de "É união, é união, Dilma, Cabral e Pezão" e "Ô presidenta, por favor: 2014 é Pezão governador".

A presidente destacou o "empenho e dedicação" dos ministros do PMDB ao seu governo. "Juntos, PMDB, PT e os demais partidos da base aliada fizemos o nosso dever para com o nosso País. Por causa dessa base, desse imenso mercado interno, rompemos com aquela dualidade, visão conservadora que dizia que primeiro a gente tinha de crescer para depois distribuir o bolo, nós, juntos, PT, PMDB e partidos da base aliada, afirmamos, pelo contrário, que quando o bolo é distribuído o País cresce cada vez mais", disse Dilma.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Caravana de Lula foca cidades onde PT foi derrotado

Nordeste é região mais visada para fortalecer candidatura de Dilma à reeleição; BH e Porto Alegre no roteiro

Fernanda Krakovics

CAMPANHA ANTECIPADA

BRASÍLIA - O roteiro traçado pelo PT para a caravana do ex-presidente Lula, que vai preparar os alicerces para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, privilegiou cidades onde o partido é fraco ou foi derrotado nas eleições municipais do ano passado. Não foi à toa que a peregrinação começou pelo Nordeste, região em que os petistas sempre tiveram mais votos mas perderam terreno nas últimas eleições - foram derrotados em Fortaleza, Recife e Salvador. Lula ainda vai bater bumbo em Belo Horizonte, Cuiabá e Porto Alegre, onde o PT também perdeu. O ex-presidente irá também a capitais como Manaus, onde o PT nem teve candidato, e ao Rio, onde a relação com o PMDB está conturbada.

A estreia em Fortaleza, na última quinta-feira, foi com o tema do combate à pobreza, que será o carro-chefe da campanha de Dilma. O formato da caravana - seminários temáticos abertos com um ato político, com a presença de Lula, lideranças petistas e aliados - tem os objetivos de propagandear os feitos dos dez anos de governo petista, privilegiando a comparação com o governo Fernando Henrique Cardoso, e de tentar aglutinar, desde já, os partidos aliados em torno do projeto de reeleição. O conteúdo dessas apresentações será compilado em um impresso e distribuído.

- Queremos recuperar e apresentar para o eleitor a condução do Brasil nesses dois projetos (petista x tucano). Queremos fazer o debate eleitoral com melhor conteúdo. Hoje, a discussão está muito ligada a nomes - disse Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, do PT, uma das organizadoras dos seminários.

O roteiro da caravana de Lula está sujeito a alterações, porque depende da agenda do ex-presidente. A provável ida a Belo Horizonte é para se contrapor à pré-candidatura presidencial do senador tucano Aécio Neves. Lá, PT e PSB se desentenderam na eleição do ano passado e o petista Patrus Ananias foi derrotado. O prefeito Márcio Lacerda (PSB) foi reeleito com apoio do PSDB.

Fonte: O Globo

Comparação com tucanos será sempre explorada

PSDB foi definido como adversário preferencial para disputa em 2014

BRASÍLIA - A largada para os seminários foi dada em um ato político em São Paulo, mês passado, no qual o ex-presidente Lula lançou Dilma Rousseff à reeleição, para afastar as especulações de que poderia ser ele o candidato do PT em 2014. Ficou estabelecido também neste ato o adversário preferencial do PT: o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador Aécio Neves. Foi neste encontro que se divulgou a cartilha comparando os dez anos de governo petista com a administração de FH, com números como o aumento real do salário mínimo e a queda de taxa básica de juros. E esta será a tônica da caravana de Lula.

- Nós queremos, sim, lembrar o passado (últimos dez anos), e lembrar o passado mais distante. Esse passado mais distante é que não queremos que retorne - disse o presidente do PT, Rui Falcão. - Vamos fazer de 2013 o ano de consolidação das conquistas de nosso governo.

Além da propaganda dos feitos do governo, as andanças de Lula servirão mesmo para que ele atue como articulador político da campanha de Dilma. Em Fortaleza, ele aproveitou para prestigiar o governador Cid Gomes (PSB), defensor do apoio à reeleição da petista, contrariando o projeto do presidente de seu partido, governador Eduardo Campos (PE), de disputar a Presidência da República no ano que vem.

- Temos a imensa responsabilidade neste momento de manter essa política de alianças. O sucesso de nossa empreitada em 2014 está nesta mesa - disse o líder do PT na Câmara, deputado José Guimarães (CE), no seminário em Fortaleza, referindo-se não só à presença de Cid, mas à do presidente local do PR, Lúcio Alcântara, e à do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE).

Lula e sua equipe vão turbinar também a campanha em cidades onde avaliam que cometeram erros na eleição do ano passado. Caso de Porto Alegre, onde o PT não apoiou José Fortunati (PDT), que foi reeleito, e lançou a candidatura de Adão Villaverde (PT). Na lista de mea culpa do PT também está Fortaleza, onde a ex-prefeita Luizianne Lins foi incapaz de lançar um nome em consenso com Cid Gomes.

Há previsão de eventos ainda em Cuiabá, onde Mauro Mendes (PSB) derrotou Lúdio Cabral (PT), e em Manaus, onde o PT apoiou Vanessa Grazziotin (PCdoB), que teve metade dos votos de Arthur Virgílio (PSDB). As exceções na caravana são Curitiba, onde o PT apoiou o vitorioso Gustavo Fruet (PDT) e São José dos Campos (SP), onde o partido derrotou o PSDB.

Fonte: O Globo

Aécio não pode esperar 2014, dizem governadores

Governadores do PSDB querem que o candidato do partido à Presidência da República seja definido ainda neste ano. Embora a candidatura do senador Aécio Neves (MG) seja apontada como natural, chefes de oposição dizem ser favoráveis à prévia, caso haja mais um postulante à indicação - mas desde que a disputa interna seja feita ainda em 2013.

"Em muitas regiões o grau de conhecimento dele (Aécio) é baixo. Acho que é hora, sim, dele aparecer mais, apresentar propostas e alternativas que o PSDB tem para oferecer ao País", declarou o governador do Paraná, Beto Richa. "Para quem quer se firmar como candidato de oposição o timing é diferente, tem que começar num prazo maior. Acho que é prudente, se for o caso, prévias neste ano e já entra com candidatura no ano que vem."

Na semana passada, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva alimentaram uma polêmica sobre os modos de gestão tucano e petista. O pano de fundo foi a antecipação da defesa de seus candidatos à eleição de 2014, Aécio e a presidente Dilma Rousseff, respectivamente.

"Sabemos que um candidato identificado mais cedo tem prós e contras. É o dado da realidade. Eu, pessoalmente, acho que devemos iniciar o ano sabendo quem seria", declarou o governador de Minas, Antonio Anastasia, aliado de Aécio. "Não dá para fazer como em 2010: chegar em maio e definir o candidato. Não dá tempo de construir uma candidatura a presidente, faltando 30 dias para convenções", disse Anchieta Jr., governador de Roraima.

A declaração dos governadores tucanos sobre a escolha do candidato do PSDB neste ano, ainda que por prévias, é apoiada por FHC e pelo presidente do partido, Sérgio Guerra, que querem lançar Aécio candidato. Avaliam que o senador precisa ganhar projeção nacional e construir uma estrutura de campanha.

O paulista Geraldo Alckmin critica a antecipação do debate eleitoral, mas também defende a realização das prévias em 2013. Quanto à candidatura de Aécio, Alckmin ainda não se posicionou publicamente. Em encontro com Aécio e Guerra disse não ser contra a candidatura do mineiro e sugeriu que ele percorra o País. 

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB mescla tendências internas de olho em 2014

Paulo de Tarso Lyra

O PSDB afina o discurso para entrar competitivo na eleição presidencial de 2014. A exemplo do PMDB (e de outros partidos, veja quadro e matéria nesta página), que elegeu ontem o vice-presidente Michel Temer para dois anos como presidente da legenda, os tucanos preparam-se para eleger o senador Aécio Neves para conduzir o tucanato e pavimentar a própria candidatura ao Palácio do Planalto. A eleição interna está marcada para maio.

Até lá, Aécio e os defensores de sua candidatura buscam um fino equilíbrio para evitar a repetição das três eleições presidenciais anteriores — 2002, 2006 e 2010 — quando, rachados por disputas internas no partido, foram derrotados pelo PT de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Em 2002, o atual presidente do Instituto Teotônio Vilela, Tasso Jereissatti, defendeu a candidatura de Ciro Gomes (PPS-CE). Nos dois pleitos seguintes, os tucanos paulistas não conseguiram a unanimidade do partido.

Aécio tem buscado a conciliação com os correligionários de São Paulo. "Está caminhando, lentamente. São Paulo sempre é mais difícil", reconheceu, ao Correio, demonstrando otimismo com o desfecho das negociações. Ele conta com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que abraçou a sua candidatura presidencial e costura um armistício com José Serra e o atual governador paulista, Geraldo Alckmin. O próprio senador mineiro também já conversou com a dupla mais de uma vez.

Aliados de Aécio lembram que o processo de reunificação partidária ficou congelado ao final do ano passado à espera da decisão do presidenciável em lançar-se como candidato a comandar o partido. A inércia foi revertida a partir do aval dado pelo próprio parlamentar de Minas de que assumiria o desafio de conduzir o partido.

O Correio apurou que, nas mexidas previstas no tabuleiro tucano, encontra-se o deslocamento do atual presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), para a presidência do Instituto Teotônio Vilela. O ITV é o responsável pela elaboração do material teórico que será discutido nos diversos seminários que a legenda fará ao longo de 2013, como o que será realizando amanhã, em Goiânia (GO), sob o título "Discutindo o futuro de Goiás e do Brasil". Aécio, Guerra e os líderes do partido no Congresso estarão presentes ao fórum.

Planejamento

As negociações políticas não param por aí. Para mostrar que não há interesse do futuro grupo que comandará a legenda em prejudicar a ala paulista, o segundo cargo mais importante da máquina partidária — a secretaria-geral do PSDB — será oferecida aos tucanos de São Paulo. "Não vamos influenciar no nome que eles vão apresentar para nós. Esperamos que um consenso seja obtido pelo bem do partido", disse ao Correio um aliado de Aécio Neves.

A eleição dos líderes partidários no Congresso também obedeceu às mesmas regras de prudência. As duas lideranças escolhidas — Aloysio Nunes Ferreira (Senado) e Carlos Sampaio (Câmara) — são paulistas, em substituição ao paranaense Álvaro Dias e ao pernambucano Bruno Araújo. Mas não foram escolhas aleatórias. "O Aloysio acabou tornando-se líder porque o sucessor natural do Álvaro, o senador Cássio Cunha Lima (PB), pediu para adiar a indicação", minimizou Guerra.

Segundo apurou o Correio, contudo, a escolha também passou pelo planejamento eleitoral para 2014. Carlos Sampaio é muito próximo ao senador Aécio Neves e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Já Aloysio Nunes Ferreira é um fiel aliado do ex-governador José Serra, a quem considera "um dos grandes amigos que fez dentro e fora da política".

Um dos responsáveis pelo desenho do novo formato do PSDB lembra que, nesse momento, o mais importante é evitar que os paulistas sintam-se desprestigiados. "Em todas as negociações para a escolha dos nomes que vão compor a futura direção do partido, eles sempre terão voz ativa para propor candidatos", prometeu um tucano mineiro.

Fonte: Correio Braziliense

As sucessões de Eduardo

Ao mesmo tempo em que mostra engajamento no projeto nacional, governador trata nomes de possíveis candidatos a sucedê-lo

Débora Duque

Se havia dúvidas de que a campanha eleitoral já foi deflagrada, a troca de ataques entre PT, PSB e PSDB, na última semana, serviu para enterrá-las. Em Pernambuco, devido à possibilidade do governador Eduardo Campos (PSB) lançar sua candidatura ao Planalto, os debates sobre a sucessão presidencial e estadual caminham juntos. Este último de forma discreta, mas na mesma velocidade que o primeiro. Mesmo adotando a estratégia de não tocar no assunto nem com aliados mais próximos, Eduardo dedica às articulações para a eleição estadual a mesma preocupação e cautela com que trata seu projeto nacional. Sabe que um depende do outro.

Numa aliança com 14 partidos, será preciso uma "ginástica" para conciliar interesses e evitar "baixas" no palanque. Por isso, adotou a tática do silêncio, obedecida por seus seguidores, que evitam falar abertamente sobre a disputa para o governo. Apesar de propagar o discurso do consenso, as negociações para os dois últimos pleitos deixaram feridas abertas. É o caso do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), que teve sua candidatura ao Senado rifada em 2010, e o desejo concorrer, em 2012, ao comando do Recife, para onde transferiu o título um ano antes, cortado na raiz.

Dentro do PSB, seu nome é considerado "carta fora do baralho" para suceder o governador e, não à toa, vieram à tona especulações sobre sua possível ida para o PT, negada por ele na sexta-feira. Assim como FBC, o apoio à candidatura do atual vice-governador, João Lyra (PDT), é encarada com incredulidade no meio socialista. No PSB, os nomes "lembrados" são os dos secretários Tadeu Alencar (Casa Civil), Paulo Câmara (Administração) e Antônio Figueira (Saúde), além do prefeito do Recife, Geraldo Julio.

Mas, contra o novo gestor, pesa não só o risco do desgaste com a interrupção do mandato recém-conquistado como, principalmente, o fato de ter que entregar o comando da capital para o PCdoB, do vice Luciano Siqueira. Há ainda um entrave nacional. Socialistas consideram improvável que, diante de uma candidatura presidencial de Eduardo, a cúpula do PCdoB, dono do ministério dos Esportes, largue a base da presidente Dilma Rousseff para apoiar o governador.

Sendo assim, uma alternativa de perfil semelhante ao de Geraldo seria Paulo Câmara. Ele é auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e responsável pelo controle da máquina governamental e das metas de arrecadação e despesa do Estado. Coube a ele os cálculos para a estruturação do recém-criado Fundo de Desenvolvimento Municipal (FDM), que afagou os prefeitos pernambucanos. Casado com uma prima de Eduardo, Câmara ainda pertence ao círculo familiar do socialista, mas, a despeito da cotação "alta", não sabe se quer atuar na linha de frente da política.

Já Tadeu Alencar é tido, nos bastidores, como um dos mais "empolgados" para assumir a "missão". De procurador-geral do Estado tornou-se chefe da Casa Civil e passou a desempenhar a função de interlocutor político do governo. Mas sua ascensão política gerou "ciúmes" entre os socialistas antigos, o que, na avaliação de alguns correligionários, pode dificultar seu voo.

Longe dos holofotes, o nome de Antônio Figueira passou a ser ventilado por sua proximidade com o governador. Ex-presidente do Imip, ele nunca disputou cargos políticos, mas já se envolveu em campanhas do PSB e estaria disposto a ocupar um cargo eletivo a partir de 2014. Se não for convocado para suceder Eduardo, pode pleitear uma vaga na Câmara Federal.

Para além do círculo socialista, interlocutores do governador ainda apostam numa solução externa: o atual ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio. Antes de assumir o cargo, por indicação do ex-presidente Lula, era deputado pelo PTB, mas ainda se faz presente nas rodas políticas do Estado. Sua possível candidatura, porém, o colocaria em confronto com o primo, o senador Armando Monteiro Neto (PTB), obstinado a conquistar o Executivo estadual na próxima eleição.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PSDB espera por definição de Eduardo

Caso se confirme o voo nacional do governador Eduardo Campos (PSB), o PSDB de Pernambuco já está ciente de que irá suar para montar um palanque estadual e dar suporte ao candidato do partido à Presidência, Aécio Neves (MG). A exigência surgirá, segundo tucanos, porque Eduardo, como presidenciável, terá uma base de sustentação garantida no Estado, assim como o PT que, dificilmente, deixará a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, órfã de um esteio local.Internamente, admite-se, no entanto, que o PSDB pernambucano esbarra na falta de um nome de projeção estadual para disputar o governo. A única opção considerada competitiva para o partido seria o lançamento da candidatura de Daniel Coelho (PSDB), que poderia desfrutar do recall eleitoral acumulado na última eleição para a Prefeitura do Recife. O deputado, porém, tem insistido, nos bastidores, que não está disposto a ir para o "sacrifício". Seu projeto para 2014 é concorrer uma vaga como deputado federal e garantir projeção política suficiente para voltar a concorrer à prefeitura em 2016.

Outras figuras com relativo patrimônio eleitoral também não estariam dispostas a comprometer seus respectivos projetos no Legislativo. É o caso, por exemplo, do deputado federal Bruno Araújo, que tentará renovar seu mandato, e da deputada estadual Terezinha Nunes. Ela ficou como suplente na eleição de 2010 e só assumiu a cadeira na Assembleia Legislativa em janeiro deste ano com a eleição do ex-deputado Carlos Santana prefeito de Ipojuca.

Diante da ausência de quadros, a informação é de que o partido estuda lançar um nome "café com leite" para disputar o governo e abrir palanque para Aécio. Nos bastidores, cita-se o próprio Sérgio Guerra (PSDB), que está se despedindo da presidência nacional do partido, ou mesmo do vereador recém-eleito André Régis. Já se Eduardo não for candidato a presidência, o diagnóstico é de que a legenda ficaria "livre" da obrigação de montar uma base de sustentação para o presidenciável tucano e poderia, simplesmente, compor com outras siglas.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Duda negocia com Eduardo Campos

João Valadares

Decidido a ser candidato a presidente da República em 2014, mesmo sem nunca ter declarado publicamente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, já começou a negociar com o publicitário baiano Duda Mendonça, responsável pela campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. A informação é confirmada por várias fontes ligadas ao governador e ao PSB. Os dois, inclusive, se encontraram recentemente. Conversam frequentemente sobre política e conjuntura nacional. No fim do ano passado, o marqueteiro baiano se aproximou mais de Pernambuco. Fundiu sua agência com a pernambucana Blackninja, do sociólogo Antônio Lavareda, e herdou parte de uma conta institucional da gestão Eduardo Campos. Foi a senha para colocar os dois pés dentro do Palácio do Campo das Princesas.

Pessoas bastante próximas a Eduardo Campos indicam que as negociações já estão bem avançadas, mas não fechadas. Afirmam que o governador hoje é candidato e, assim sendo, o marqueteiro seria Duda Mendonça. "Os dois já estão conversando sobre o assunto. Eduardo candidato, Duda será o marqueteiro. É o mais provável. Claro que é preciso ressaltar o perfil do governador. Ele nunca trabalha com apenas uma opção. Ele sempre se consulta com um segundo médico", ressalta uma fonte do PSB. Para Duda Mendonça, Eduardo Campos é o candidato perfeito na tentativa de recuperar a imagem arranhada em decorrência do escândalo do mensalão. O publicitário admitiu, em 2005, ter recebido R$ 10,5 milhões nas Bahamas referentes aos serviços prestados ao PT durante a campanha de Lula em 2002. Réu no processo do mensalão, o marqueteiro foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado.

Duda Mendonça e Eduardo Campos têm uma relação antiga. Em 1998, o baiano foi responsável pela propaganda política do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, avô de Campos, falecido em agosto de 2005. Arraes acabou derrotado pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), hoje aliado de Eduardo, por uma diferença de mais de um milhão de votos. Nessa mesma campanha, o atual sócio de Duda Mendonça, o sociólogo Antônio Lavareda, aclamado pelo ninho tucano, foi o responsável pelos ataques mais duros já sofridos por Miguel Arraes. A campanha evidenciou o chamado escândalo dos precatórios.

Em 2010, quando Eduardo disputou a reeleição em Pernambuco, Duda, que não era o marqueteiro, chegou a fazer um jingle espontaneamente para o governador. O vídeo foi postado no blog do publicitário, no entanto, não chegou a ser utilizado na campanha. O marqueteiro do governador nas duas últimas vitórias em Pernambuco, em 2006 e 2010, foi o publicitário Edson Barbosa, dono da agência Link. Ele tem a maior conta institucional do governo estadual. No entanto, informações de bastidores apontam que a relação de Barbosa com o governador ficou bastante desgastada após a campanha de 2010. Seria mais uma evidência para a entrada de Duda Mendonça numa eventual candidatura em 2014. "Não tenha dúvida de que Eduardo Campos já está pautado por um marqueteiro. O jogo já começou", afirmou um influente publicitário pernambucano.

Hoje, todos os passos de Campos são medidos pelo argentino Diego Brandy. É o homem responsável pelas pesquisas encomendadas pelo Palácio do Campo das Princesas desde a campanha de 2006. "Eduardo não bebe um copo d"água sem antes perguntar ao argentino o que indicam as pesquisas", brinca um socialista.

Estratégia

O plano de Eduardo Campos é se posicionar, em 2014, da mesma forma como agiu na campanha para o governo estadual em 2006. Ele vai se apresentar como candidato da base e deixar a tarefa de bater na presidente Dilma Rousseff para o PSDB. Em 2006, a eleição pernambucana foi disputada entre o senador Humberto Costa (PT), Eduardo Campos, e o então governador, Mendonça Filho (DEM). Eduardo correu por fora. Enquanto Mendonça e Humberto trocavam insultos no programa eleitoral, Campos crescia nas pesquisas. Conseguiu chegar ao segundo turno e derrotou o candidato do DEM. "O projeto 2014 está traçado. É claro que existem circunstâncias diferentes. Mas Eduardo, se realmente for candidato, vai deixar que o PSDB faça o papel do PSDB. Ele quer repetir 2006", avalia uma fonte do Palácio do Campos das Princesas. O Correio tentou entrar em contato com o publicitário Duda Mendonça, mas não obteve sucesso.

Fonte: Correio Braziliense

MG:Candidatura do PMDB é dor de cabeça para petistas e tucanos

2014. Eleição para o governo de Minas, no próximo ano, não deverá repetir polarização ocorrida em 2010

PT e PSDB tentam atrair peemedebistas, que resistem à formação de alianças

Larissa Arantes

Tucanos e petistas estão mobilizados internamente para tirar o PMDB da disputa pelo governo de Minas Gerais em 2014. Os dois partidos estão preocupados com a disposição dos peemedebistas em lançar o nome do senador Clésio Andrade (PMDB-MG) e, com isso, enfraquecer os nomes do PT e do PSDB.

Ambos não podem contar mais com a polarização que ocorreu em 2010, o que acabaria beneficiando uma das duas siglas novamente. E o PSDB ainda vive o dilema da escolha de seu candidato.

Naquele ano, o PSDB reelegeu o governador Antonio Anastasia, e o PT se uniu com o PMDB, tendo Hélio Costa na cabeça de chapa e Patrus Ananias como vice.

"Não acredito que PMDB e PT formarão novamente uma chapa. Até porque, ao que tudo indica, o ministro Fernando Pimentel irá mesmo concorrer", destacou Clésio Andrade. O senador ainda foi enfático ao dizer que "o PMDB terá candidato próprio".

No lado petista, no entanto, a união das duas legendas ainda no primeiro turno não está descartada. O presidente estadual do PT, deputado federal Reginaldo Lopes, confirma que o nome é mesmo o do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. "PT e PMDB têm que estar juntos", disse.

O PSDB também busca uma candidatura da base de Anastasia, mas terá que resolver de onde sairá o nome, tendo em vista a ampla base aliada ao governador.

"O nome do PSDB será o nome das forças aliadas", afirmou o deputado federal e presidente estadual do PSDB, Marcus Pestana. "Eu não acredito nessa hipótese de o PMDB sair sozinho. Ou irão compôr com a gente ou com o PT", avaliou. Mesmo com a avaliação, Pestana confirma que os tucanos têm "canais abertos" com os peemedebistas do Estado.

Batalha. Tendo 2014 como objetivo ou não, fato é que tanto o PT quanto o PSDB adotaram estratégias de atração do PMDB para seus campos de influência.

No mês passado, lideranças do PMDB admitiam o diálogo cada vez mais próximo com a cúpula tucana do Estado, cogitando, inclusive, integrar a base de Anastasia. O governador negou, mas, nos bastidores da Assembleia de Minas, chegou-se a comentar que espaços nobres haviam sido oferecidos ao partido para que mudasse de posição.

Na esfera nacional, o PT estuda dar aos peemedebistas um ministério na próxima reforma que será feita pela presidente Dilma Rousseff. A pasta dos Transportes é a mais cobiçada. A dúvida, porém, é o nome que seria contemplado: o do presidente estadual, Antônio Andrade, ou o do deputado federal Leonardo Quintão.

Guerra entre aliados já é uma realidade no Rio

Enquanto em Minas Gerais, apesar das indefinições que ainda rondam a disputa de 2014, PT e PMDB discutem suas candidaturas em clima amistoso, no Rio de Janeiro, essas legendas estão em pé de guerra.

Nesta semana, o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, chegou a dizer que o senador Lindbergh Farias (PT) tem uma conduta de "moleque e age como carreirista", em referência à recente pré-campanha iniciada pelo petista ao governo do Rio na televisão. Os peemedebistas do Estado desejam o apoio do PT ao candidato do partido e repudiaram a decisão do senador de lançar o seu nome ao pleito.

O embate ficou ainda mais acirrado com a postura do presidente nacional do PT, Rui Falcão, que foi enfático ao dizer que a candidatura de Lindbergh "é para valer".

Fonte: O Tempo (MG)

Divisão do PT diante de ataque do PMDB pode jogar Lindbergh no colo do PSB

Apesar dos 2.330 quilômetro que separam Japeri e Recife, a cidade da Baixada Fluminense e a capital pernambucana estão mais próximas do que supõe o PT do Rio. Na sexta-feira, foi por Japeri que o senador Lindbergh Farias (PT) começou as viagens em que vai ouvir os problemas da população do Rio. O senador considera a estratégia essencial para sua candidatura ao governo estadual em 2014. Mas, diante do PT intimidado pelo PMDB, talvez esteja em Recife a solução para Lindbergh.

Na sexta, políticos próximos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), provável candidato a presidente em 2014, garantiram que o PSB o filiaria para que ele se candidate pela sigla.

— Só uma criança acharia que Lindbergh vai ter legenda pelo PT. Ele sabe disso. O Lindbergh é simpático, é jovem, combina com o Eduardo — sugeriu o deputado Márcio França (SP), um dos mais próximos de Campos.

— Temos história de coerência e luta pelo povo. Admiramos Lindbergh — disse Rodrigo Rollemberg (DF), líder do PSB no Senado.

Na sexta, após passar a noite na casa de um militante de Japeri, Lindbergh criticou a urbanização precária:

— É lama por todo o lado. A população sofre aqui, viu?

Foi enfático ao negar a chance de ir para o PSB.

— O Lula jamais me pediria para não ser candidato.

Neves vai ter que se explicar

Para evitar a saia-justa de encontrar Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, o senador não encontrou Dilma Rousseff, que cumpriu agenda ao lado da dupla. Em seu discurso, a presidente chamou Pezão de “querido” e defendeu como é boa a aliança com o PMDB para o Rio.
Já no PT, a declaração de apoio de Rodrigo Neves a Pezão colocou o partido em nova encruzilhada. O presidente estadual do partido, Jorge Florêncio, afirmou que Neves será convocado a se explicar. O PT quer saber se é uma traição ou se Neves declarou o apoio só para agradar o governo do estado.

— Temos que ver qual é a do Rodrigo — cobrou.

O PT agora discute se deixa o governo Cabral, opção defendida por Lindbergh. Já o deputado Alessandro Molon vai propor a aprovação de moção de apoio à candidatura própria. Contra o relógio, o PT tenta que Lindbergh não caia no colo do PSB.

— Isso atrapalharia a campanha da própria Dilma — avaliou um deputado do PT.


Fonte: Jornal Extra

Coincidência ou teto? - Eliane Cantanhêde

Lula, em 2002 e 2006, e Dilma, em 2010, tiveram no primeiro turno o mesmo índice de votação: em torno de 43% dos votos totais, contando nulos e brancos. O que variou foi o percentual dos adversários tucanos. Serra teve 21% em 2002 e 30% em 2010. Alckmin atingiu 37% em 2006, no rastro do mensalão.

A lembrança, que assanhou oposicionistas na semana passada, foi lançada pelo "ex-blog" do ex-prefeito, ex-governador e bom analista de pesquisas Cesar Maia, do DEM, junto com uma provocação: "Coincidentemente, nas três eleições de Lula, Lula e Dilma obtiveram no primeiro turno 43% dos votos totais. Coincidência? Ou teto para 2014?".

Se for teto, isso sugere que o resultado deverá, ou poderá, se repetir no ano que vem. Há, porém, dois fatores a serem considerados, até porque, em política e em eleições, tudo pode, menos certezas de véspera.

Um dos fatores é que Lula foi "o cara" em 2002, 2006 e 2010, como candidato ou como carregador de Dilma. Na próxima eleição, ele continuará protagonista, mas já não estará sozinho. Aos 43% que ele teve e que carregou para sua candidata, acrescente-se o que a própria Dilma amealhou por méritos próprios ou mesmo pela força do cargo. Em 2014, poderá haver uma soma: Lula mais Dilma.

O outro fator é a economia. Nas festas de 33 anos do PT, 10 no Planalto, os aplausos vão para o governo Lula, como se ninguém se lembrasse do governo Dilma ou não quisesse azedar o bolo com o "pibinho" de menos de 1% de 2012, a inflação dando as caras, o fiasco da Petrobras, a maquiagem de dados... Não é o que se projeta, mas, em tese, pode haver uma diminuição: Lula menos Dilma.

E os demais candidatos são determinantes. Nas contas de Maia, Heloísa Helena só teve 6% dos votos totais em 2006, mas os evangélicos fizeram a diferença nas outras eleições. Garotinho chegou a 16% em 2002, e Marina, a 18% em 2010. Lula e Dilma venceram no final. Mas tiveram de enfrentar a pedreira do segundo turno.

Fonte: Folha de S. Paulo

O êxito que satisfaz - Dora Kramer

Boas referências, pessoas, atos ou ideias nas quais a sociedade reconhece valores caros não necessariamente têm de se transformar em candidaturas à Presidência da República.

Compreende-se o "disse me disse", o entusiasmo, quando não a firme crença, em alguns setores e ocasiões , na hipótese de que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, venha – ou pelo menos almeje – a disputar o posto de chefe da nação.

Em boa parte dos países, se não na maioria, o presidente é a figura máxima. Se por aqui boa parte da população, se não a maioria, achou o máximo a atuação de Barbosa como relator do processo do mensalão, natural que faça uma conexão entre uma coisa e outra. Em especial diante da carência de exemplos reconhecidos como merecedores de respeito.

Ao estruturar uma narrativa inescapável da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, o relator do processo levou o país à compreensão do que foi o esquema de desvios, fraudes e escambo de vantagens indevidas em troca de apoio político devido.

Foi acompanhado pelo tribunal na quase totalidade dos votos. O colegiado, com sua decisão, elevou o grau de confiabilidade do Judiciário, mas nem por isso se lançaram os nomes de outros ministros no fogaréu de vaidades do ambiente das disputas eleitorais no molde em que se dão.

Muito bem, Joaquim Barbosa virou um símbolo. Para alguns, parcial, arbitrário e, como se diz agora, midiático. Para muitos, um emblema de justiça e de intolerância com a ilegalidade para a qual defende tratamento igualitário entre poderosos e não poderosos.

Mas, daí a dizer que tal atributo seja um trampolim para a Presidência da República são outros 500 quilômetros a serem percorridos. O presidente do STF tem a favor de si o crédito junto a substancial parcela de população.

Em compensação, para sermos realistas, tem contra si diversos fatores. A começar pela suposição de que o que o move é a ambição política. Isso diminui a figura do juiz, não deixa de ser uma maneira, ainda que involuntária, de reduzir suas atitudes e opiniões a uma mera ânsia por notoriedade com aquele poder conferido pelo Diário Oficial.

Além disso, Joaquim Barbosa não é do ramo. Há quem aponte nisso uma vantagem. Mas, sem comparações de forma e conteúdo, de exemplos de que o repúdio à atividade política por si só não credencia alguém a exercê-la de modo a fazer de fato a diferença, a História está cheia.

Temos ainda o temperamento do presidente do Supremo a contar como desvantagem numa atividade em que a vocação para a diplomacia é essencial. Ao menos quando se pretende exercê-la na regra do jogo sem a ajuda do vale-tudo.

O ministro não tem um partido e, a não ser que pretenda criar um ou alojar-se em algum apenas para ter uma legenda sem maior presença no cenário político (o que poderia causar péssima impressão), não se vislumbram espaços disponíveis. A fila nos partidos obedece a uma lógica e nenhum deles parece disposto por enquanto a subvertê-la.

Isso tudo sem falar na possibilidade de uma empreitada malsucedida, que tiraria Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal e o levaria a lugar nenhum.

Por que o ministro não pode servir ao país exatamente onde está, exercendo o papel a que vem se propondo? Figuras respeitadas não necessariamente precisam chegar à Presidência para, com seu êxito, satisfazerem demandas por condutas tidas como exemplares

São Tomé. Antes de se acreditar na ameaça do PMDB de não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff caso o PT não retire a candidatura própria ao governo do Rio, é preciso ver para crer se o partido trocará a vice-presidência e ministérios por um palanque regional.

Em 2014, se Dilma estiver com dianteira segura isso só ocorrerá no dia de São Nunca.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Meu momento Yoani - Merval Pereira

Na sexta-feira à noite, na inauguração do museu MAR na Praça Mauá, passei por rápidos instantes a mesma situação que enfrentou a blogueira Yoani Sanchez quando esteve no país recentemente. Havia diversas manifestações nos arredores do museu, onde participavam da inauguração a presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. O barulho era insuportável dentro do museu, que, com seu lindo teto ondulado, criou um inesperado efeito acústico dentro do prédio.

Uma era contra o fechamento dos teatros do Rio depois da tragédia de Santa Maria. Muitos teatros, que funcionavam sem as medidas de segurança necessárias, continuam fechados e os artistas estavam ali protestando. Mas protestavam contra o quê? Deveriam mesmo protestar contra o fato de terem passado todo esse tempo trabalhando e recebendo pessoas em lugares sem condições de segurança adequadas. Deveriam protestar contra a prefeitura, mas pelo que ela não fez, e não pelo que está fazendo, embora tardiamente.

Havia um pequeno grupo reclamando casas prometidas e não entregues. E um terceiro grupo, mais barulhento e agressivo, que protestava contra a Medida Provisória dos Portos que, em boa hora, a presidente Dilma enviou ao Congresso. Aparentemente, não havia no grupo nenhum estivador ou operário. Eram todos jovens estudantes com máscaras e cartazes que alertavam: "Gestão mata".

O que esses jovens do PT, do PCdoB, da Juventude Socialista, do PDT queriam dizer é que a nova legislação sobre os portos trará prejuízos aos trabalhadores. O que está por trás dos protestos, no entanto, é uma nada estranhável, embora exótica, aliança entre órgãos sindicais e empresários que operam os portos sem competição beneficiando-se de uma reserva de mercado tão ultrapassada quanto prejudicial à economia.

Os jovens radicais estavam ali protestando contra a possibilidade de os novos administradores de portos disputarem cargas com os terminais já existentes e contratarem mão de obra pelo regime da CLT, à qual estão subordinados todos os trabalhadores brasileiros.

Sindicatos liderados pelo Paulinho da Força Sindical, deputado federal (PDT), querem impedir a modernização dos portos, obrigando os novos terminais a contratarem os estivadores pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo). E têm o apoio de concessionários dos portos que querem tudo menos competição para melhorar a produtividade.

No entanto, dar competitividade ao setor portuário é fundamental para a retomada do crescimento, reduzindo o chamado custo Brasil. E lá estavam os jovens esquerdistas não apenas protestando, como seria normal em uma democracia, mas agredindo verbal e quase fisicamente as pessoas que passavam por uma espécie de corredor polonês que a polícia deixou que fizessem.

As pessoas que saiam da festa de inauguração forçosamente tinham que passar pelos manifestantes para pegar seus carros, e houve momentos em que as agressões verbais chegaram às raias da agressão física. Uma senhora que ia à nossa frente foi chamada de "fascista"por um manifestante que gritou tão perto do seu rosto que quase houve contato físico.

Passei pelo grupo com minha mulher sob os gritos dos manifestantes, e um deles me reconheceu. Gritou alto: "Aí, Merval fdp". Foi o que bastou para que outros cercassem o carro em que estávamos, impedindo que saísse. Chutaram-no, socaram os vidros, puseram-se na frente com faixas e cartazes impedindo a visão do motorista. Só desistiram da agressão quando um grupo de PMs chegou para abrir caminho e permitir que o carro andasse.

Foram instantes de tensão que permitiram sentir a violência que está no ar nesses dias em que, como previu o ministro Gilberto Carvalho, "o bicho vai pegar". É claro que o que aconteceu com a blogueira cubana Yoani Sanchez nem se compara, mas o ocorrido na noite de sexta-feira mostra bem o clima belicoso que os manifestantes extremistas estão impondo a seus atos supostamente de protesto.

E é impressionante que jovens ditos revolucionários se empenhem em defender um sistema arcaico que só interessa às corporações sindicais que já estão instaladas nos portos e a empresários que se beneficiam de privilégios que emperram a economia brasileira. A presidente Dilma está certa ao não aceitar as pressões políticas para mudar a medida provisória dos portos, essencial para a revitalização da economia.

Fonte: O Globo

Depois da festa, a fatura - Tereza Cruvinel

O fim de semana foi de novo impulso à antecipação eleitoral, com o PMDB reiterando em convenção sua aliança com o PT para reeleger a presidente Dilma. Mas apesar dos afagos dela e das juras dos cardeais, os conflitos e tensões latentes só aumentaram desde o tiro de largada do último dia 20. Tudo o que se passou depois reforça uma pergunta: com a antecipação, que vantagem levará Maria, ou melhor, Dilma?

A pedido do vice-presidente Michel Temer, ela adiou para depois da convenção deste fim de semana a esperada reforma ministerial. Mas agora o PMDB passará a dizer, com mais desenvoltura, que está subpresentado no governo, tendo cinco ministérios contra 14 do PT. Eleitoralizada a conjuntura, passará a buscar na montagem dos palanques estaduais, embora saindo em desvantagem no Rio, onde o PT lançou a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo, contra a do vice-governador Pezão, gestada pelo governador Sergio Cabral.

Relativamente à representaçao no ministério, um dos cardeais avisa: não venham com o argumento de que o PMDB já têm as presidências das duas Casas do Congresso. A do Senado decorre do fato de o partido ter a maior bancada. Na Câmara, a bancada peemedebista hoje é a segunda, mas era a primeira quando foi firmado o acordo de revezamento com o PT. As ambições ou frustrações peemedebistas já existiam, mas o momento agora favorece a apresentação das faturas. O PSB ameaça deixar a coalizão dilmista e alguns dos partidos menores estão sendo cortejados pelos tucanos.

Já tendo conquistado o comando das duas Casas legislastivas com apoio do PT e assegurado a Temer a vaga de vice em 2014, o objetivo agora é, no dizer de um prócer, "equilibrar a representação" no ministério. Dilma foi ao jantar com que Temer homenageou Sarney, inaugurou o novo museu do Rio com Eduardo Paes e a fábrica de submarinos com Cabral, chamou Pezão de "meu querido" e foi ontem à convenção. Mas de ministério, continua evitando falar. Quando alguém aborda o assunto, ela franze a testa e dispara a falar de outra coisa.

Agora o PMDB quer tratar do assunto com franqueza. A prometida nomeação do paulista Gabriel Chalita vai sair ou foi descartada, como assopram do Palácio? E o ministério para os mineiros, como ficará? Para equilibrar a representação, dirão eles, isso não basta.

Proveta, não

Num sinal de que a desconfiança persiste, apesar do clima aparente de paz e amor, o PMDB aprovou uma moção estabelecendo que, para ocupar cargo público representando o PMDB, o indicado precisa ter pelo menos seis meses de filiação.

Isso é vacina, para evitar que Dilma tente usar o partido como barriga de aluguel para ministros seus, com carimbo do partido. Recentemente, houve um movimento para filiar Josué Gomes da Silva, filho do falecido vice-presidente José Alencar, que em seguida seria nomeado para um ministério da cota do partido.

Guerras regionais

Dilma verá também se multiplicarem, faltando tanto tempo para o início da campanha, conflitos como o do Rio, entre petistas e peemedebistas. A "candidata energética", como se definiu, gastará energia administrando essas guerras, tarefa que pode também ficar com Lula. Ao governador Cabral, o ex-presidente praticamente disse para se conformar com os dois palanques pró-Dilma, recusando polidamente o pedido para obter a desistência de Lindbergh. Tendo o apoio de dois palanques, na campanha ela iria aos dois, não favorecendo nenhum, disse Lula. Mas, na prática, todo mundo sabe que isso não acontece. Não aconteceu em 2010, por exemplo.

Já tendo problemas com o PSB, o PDT e o PR, ao acelerar a campanha, Dilma abriu também a tampa da panela em que o PMDB cozinhava suas insatisfações e pretensões. Por isso muita gente do ramo se pergunta: o que ela ganhou com isso?

Por ora, desentocou um adversário, o tucano Aécio Neves, acirrou os conflitos com o PSB e despertou o instinto de auto-valorização do PMDB. Na economia e na administração, todas as medidas enfrentarão questionamentos sobre eventual caráter "eleitoreiro", reforçando a desconfiança que as manobras contábeis do ano passado suscitaram nos agentes econômicos. Se a antecipação não tiver uma forte razão ainda desconhecida, terá contrariado velho consenso político sobre os governos de quatro anos: o primeiro é para arrumar a casa, o segundo é para planejar e dar início aos projetos mais arrojados, e o terceiro para executá-los. O quarto será ano de campanha e de inaugurações, enquanto a lei deixar.

Judicialização

O script da semana legislativa já está pronto. São de 100% as chances de o Congresso derrubar na terça-feira, pela força das bancadas dos estados não produtores de petróleo, os vetos da presidente Dilma Rousseff que garantiram maior quinhão aos estados produtores. Publicada a lei, o governador do Rio, Sérgio Cabral, entrará no STF com a ação direta de inconstitucionalidade, que já foi preparada pelo jurista Luiz Roberto Barroso. Mais uma vez, uma decisão legislativa será judicializada, abrindo espaço para a arbitragem do STF.

Impedimento

Não se deve tratar dos vetos com o líder do PMDB, Eduardo Cunha. Sendo ele do Rio, e estando sua bancada majoritariamente disposta à derrubada, ele entregou a condução do assunto ao vice lider Marcelo de Castro (PI).

Fonte: Correio Braziliense

Carro adiante dos bois - Míriam Leitão

Se a presidente Dilma quer ganhar a eleição de 2014 precisa olhar para 2013. Nos últimos dias, seus olhos estiveram em vários anos diferentes, menos no que está diante de nós para ser vivido e construído. Olhou para 2003 e não viu o cadastro que o governo recebeu, que, aperfeiçoado, foi a base do Bolsa Família. Olhou para o período entre 1994 e 2002 e não viu a vitória sobre a hiperinflação.

É uma pena que não tenha visto o que já foi feito, porque há muito a fazer. Uma das tarefas imediatas é passar para os empresários estrangeiros, que estão sendo visitados pelas autoridades brasileiras nestes dias, a convicção de que o governo tem um rumo e que não é apenas ganhar a eleição de 2014.

Se a presidente Dilma e seus enviados afirmarem aos investidores que nada havia antes de 2003, que o Brasil era uma terra arrasada, e que tudo foi construído pelo PT, eles vão estranhar. Todos já sabem o básico sobre as evoluções das últimas duas décadas no Brasil.

A dívida externa contraída pelos militares foi renegociada. Todos os velhos papéis foram trocados por outros com novos prazos e preços sob o comando do negociador Pedro Malan. Isso permitiu ao país voltar ao mercado financeiro internacional.

A inflação que atingiu dois dígitos no começo dos anos 1940, continuou sua escalada e fugiu ao controle nos anos 1980 e 1990. Só foi domada com o Plano Real, mas antes dele passos importantes foram dados em governos diferentes, todos democratas, para derrotar esse mal que perseguiu o Brasil. Foi uma construção coletiva e uma escolha do país, mas nesse processo de vitória sobre a inflação é inegável o papel dos ex-presidentes Fernando Henrique e Itamar Franco. É também inegável que o PT se opôs ao projeto até que, no governo, o herdou e preservou.

Os investidores desse mundo interconectado têm mais informação sobre o Brasil do que tinham no passado - quando confundiam Brasília com Buenos Aires. Eles achariam estranhíssima a frase de que "não herdamos nada, construímos tudo".

Após a queda da inflação é que o Brasil passou a ser levado a sério. Antes, era motivo de chacota. Mas o Plano Real não foi um fim. Ele se dispôs para o país no meio do caminho. Foi preciso desmontar uma parafernália fiscal recebida de herança dos governos militares para levar o país à Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso também foi construído antes do PT e com a sua oposição. Na energia, o governo do PSDB passou pelo fiasco do apagão. Para consertar o que fez, montou um sistema de termelétricas para ser acionado quando fosse o caso de poupar água nos reservatórios. Não é o ideal, mas é o que está sendo usado este ano para superar o risco criado pela enorme queda do nível de água.

A presidente disse que quem falou em falta de energia estava criando instabilidade. Foi por não se falar do perigo a tempo que houve o apagão. Os alertas são necessários, no governo e fora dele. Em dezembro, o nível dos reservatórios chegou a 28% na região Sudeste e a 32% no Nordeste, as duas regiões que representam 88% da capacidade instalada. Depois de toda a chuvarada, estão em 45% e 41%, respectivamente. Isso é muito menos que o percentual do mesmo mês de 2012: 80% e 85%. Por isso, o governo decidiu continuar usando as termelétricas, que custarão mais de R$ 6 bilhões este ano se ficarem ligadas até dezembro. Esse valor só não anulará o efeito da redução do preço da energia porque o governo está construindo uma engenharia financeira que transferirá o custo para o Tesouro.

Em vários dos avanços brasileiros há continuidade. Cada partido tem que marcar as diferenças no discurso que levará para o palanque, mas nas falas recentes da presidente certas afirmações não correspondem aos fatos. Esse cacoete era do ex-presidente Lula. Não é necessário no palanque de 2014. Melhor base o palanque terá se a presidente encarar 2013 e seus desafios.

Fonte: O Globo