domingo, 16 de outubro de 2016

Opinião do dia – Ana Maria Machado

No século XX, uma observação irônica do psicólogo Carl Gustav Jung vai além e nos belisca: Pensar é difícil, e é por isso que a maioria das pessoas se limita a julgar.

Se quisermos ajudar o Brasil a ser mais democrático e a diminuir nossas desigualdades, cada um de nós precisa conversar mais, ouvir mais, ler mais, abandonar a preguiça de pensar, acolher em si diferentes pontos de vista. Isto é, se acharmos que podemos deixar o palanque para a rua e ir além do discurso rasteiro e do deboche, em discussões primárias sobre a camisa polo do Doria ou a renda do vestido de Marcela Temer ou em chamar de ladrão quem se veste de vermelho. Nosso futuro e nossa gente merecem mais.

------------------------
Ana Maria Machado é escritora. ‘De conversa em conversa’, O Globo, 15/10/2015.

Dezoito ex-ministros de Lula e Dilma são alvo de investigação por desvios

Investigações já atingem 18 ministros da era petista

• Levantamento feito pelo 'Estado' em inquéritos no STF indica que ex-titulares de pastas nos governos de Lula e Dilma são suspeitos de envolvimento em esquemas que movimentaram 1,25 bi de forma ilegal

Luísa Martins e Julia Lindner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) indicam que ministros dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) são suspeitos de envolvimento em esquemas que movimentaram pelo menos R$ 1,25 bilhão de forma ilegal, por meio de irregularidades no uso do dinheiro público e propinas pagas por empresas privadas durante o exercício do cargo.

O dado faz parte de um levantamento feito pelo Estado no Supremo que mostra que 18 ministros estão sob investigação de desvio de recursos nas gestões petistas – 4 no período Lula, 10 no de Dilma e outros 4 comuns aos dois governos. Foram considerados os já condenados (1), réus (2) e investigados (15) – neste último caso, o número engloba os processos na Corte e os remetidos a outras instâncias pelo STF. Foram pesquisados os nomes de 167 ex-ministros nas duas gestões.

Após impeachment, PT ainda tenta achar discurso de oposição

• Parlamentares do partido admitem dificuldades para se contrapor à base de Temer no Congresso

Ricardo Brito e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Colocado de volta à condição de oposição no Congresso após 13 anos à frente do Palácio do Planalto, o PT ainda não afinou o discurso. Após a cassação de Dilma Rousseff, o partido ainda tenta encontrar a melhor maneira de se contrapor ao governo do presidente Michel Temer, que tem contado com uma alta taxa de fidelidade da base aliada nas votações.

Na Câmara, o partido se viu obrigado a abrir espaço na liderança da minoria para deputados que antes eram vistos como coadjuvantes. Também se reaproximou de aliados históricos, como PCdoB e PDT, e petistas adotaram discursos mais alinhados com a esquerda.

A mudança de postura tem rendido apoio até da Rede e do PSOL, antigos adversários do governo Dilma. “Estamos numa condição muito minoritária, é difícil a gente ter uma vitória sobre o governo neste momento”, resumiu o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

Temer diz a empresários dos BRICS que Brasil tem estabilidade política e segurança jurídica

• Durante reunião de líderes dos BRICS, Temer fez um alerta de que os desafios à paz global clamam por reforma do Conselho de Segurança da ONU; Brasil pleiteia ser membro permanente desta instância das Nações Unidas

Ricardo Leopoldo, enviado especial - O Estado de S. Paulo

GOA, ÍNDIA - O presidente Michel Temer disse, neste domingo 16, para dirigentes de companhias que participam do Conselho Empresarial dos BRICS que seu governo está empenhado em promover reformas estruturais no País, que retomarão o crescimento e elevarão o nível de emprego.

Temer convidou as empresas dos países que compõem os BRICS a investirem no Brasil. “As senhoras e os senhores encontrarão um país com estabilidade política, com segurança jurídica e com grande mercado consumidor”, disse.

“Também faço votos de que as empresas que já mantêm investimentos no Brasil ampliem sua presença”, disse o presidente. “Encorajo, ainda, a comunidade empresarial brasileira a conhecer mais as oportunidades de negócios existentes na Índia, na China, na África do Sul e na Rússia".

Temer ressaltou que sua administração também empenha esforços para melhorar o ambiente de negócios no País. “Vamos desburocratizar processos, reduzir custos de operação e zelar pela previsibilidade e pela segurança jurídica”, disse. “Lançamos já programa de parcerias de investimentos fundado em regras estáveis. São 34 projetos iniciais nas áreas de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia, óleo e gás. As agências reguladoras voltarão a ter papel efetivo de supervisão.”

Temer nega acordo do PMDB com tucanos para a eleição de 2018

• Presidente diz que ‘não há previsão para essa espécie de aliança’

Gabriela Valente - O Globo

O presidente Michel Temer negou ontem que o seu partido, o PMDB, tenha fechado acordo com os tucanos para a campanha eleitoral de 2018. Segundo ele, um arranjo como esse só poderia ser feito no fim do ano que vem. Durante a viagem oficial à Índia, ele comentou ainda a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar a chapa encabeçada pela presidente Dilma Rousseff. Disse que cumprirá qualquer decisão, mas fez questão de ressaltar que esse processo vai durar bastante.

Partido avalia lançar nome próprio para presidente

• Jucá diz que decisão vai depender do desempenho do governo Temer

Maria Lima - O Globo

Se o presidente Michel Temer conseguir fazer a transição e reposicionar a economia até 2018, o PMDB tem esperança de construir candidatura própria à Presidência, o que não consegue desde 1994. O problema é que não há um nome claro na legenda. Apontado como uma das alternativas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, saiu muito enfraquecido da eleição municipal. E o próprio Temer vem insistindo que não disputará a reeleição. Os aliados o consideram inviabilizado pela necessidade de garantir o apoio de partidos da base para aprovar as difíceis reformas.

Presidente do PMDB, Romero Jucá (RR) diz que o partido tem a tarefa de reconstruir a economia e que Temer cumprirá essa tarefa. Mas confirma que o PMDB deve sim ter candidato, e que isso vai depender do resultado da transição e da construção de nomes viáveis.

Frente de esquerda patina e pode não sair do papel

• PDT, PSOL e PCdoB não querem ser afetados pelo desgaste do PT; união é defendida por Lula e Tarso Genro

Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO - Apontada como caminho para o PT superar a crise que atravessa, a frente de esquerda com partidos e movimentos sociais enfrentará muitos obstáculos para sair do papel. A ideia, defendida por petistas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Tarso Genro, é vista com ressalvas no PDT, no PSOL e no PCdoB, e teria, na avaliação de líderes dessas legendas, poucas chances de resultar em candidatura única na eleição presidencial de 2018.

Nenhum dos partidos chega a fechar as portas para conversar com o PT e acertar atuações conjuntas pontuais no Legislativo, como a oposição à PEC 241, do teto de gastos públicos. Mas há desconfiança, principalmente, sobre a disposição dos petistas de abrir mão da hegemonia dentro da frente.

‘PDT não abre mão da candidatura de Ciro’, diz Lupi

• PSOL se recusa a apoiar Lula em 2018; PCdoB se queixa do PT em Olinda

Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO - Os partidos resistem à ideia da frente por conta dos projetos para 2018. No PDT, a candidatura presidencial de Ciro Gomes é dada como certa. O ex-ministro tem rodado o país e participado de campanhas municipais. Apesar de ter se posicionado de forma dura contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Ciro não acredita que receberá o apoio do PT, porque avalia que o partido exigiria em troca uma defesa integral dos governos do partido, o que ele não está disposto a fazer.

Temer diz que não há perseguição aos pobres em propostas do ajuste fiscal

Isabel Fleck – Folha de S. Paulo

GOA (ÍNDIA) - O presidente Michel Temer disse, neste sábado (15), que "não há nenhuma perseguição aos mais pobres" no seu governo.

Ao ser questionado sobre por que não optou por taxar dividendos como forma de contribuir com o ajuste fiscal, Temer disse que a primeira opção cogitada pelo governo foi a contenção dos gastos públicos.

"Vamos caminhar muito ainda e não sabemos o que vamos fazer no futuro", disse Temer, sugerindo que, "se houver necessidade de taxar os mais ricos", isso poderá ser feito.

"Não há nenhuma perseguição aos mais pobres. (...) Na verdade nós universalizamos o governo, nós governamos para todos os setores."

O presidente também declarou que não existe previsão para uma aliança entre o PMDB, o seu partido, e o PSDB para as eleições presidenciais de 2018.

Poder de compra dos brasileiros cai 9% em dois anos e volta ao nível de 2011

• Desemprego, taxa de juros alta e inflação fora do controle nos últimos anos deixaram o orçamento das famílias cada vez mais apertado

Renée Pereira - O Estado de S. Paulo

O orçamento cada vez mais apertado trouxe novos hábitos para a vida da consultora de beleza Karen Lima Piasentim. Com a renda em queda, ela trocou o antigo hobby de comprar sapatos por uma nova mania: colecionar tabloides de liquidação e traçar estratégias para conseguir comprar ao menor preço possível. A ideia é mapear os trabalhos fora de casa e os supermercados que estão na mesma rota. “Assim, consigo comprar o produto mais barato e não gasto combustível”, conta a consumidora, que também virou visitante assídua de sites de desconto.

Retomada do consumo deve ser lenta

• Projeção é que poder de compra cresça R$ 50 bi em 2017, com a queda na taxa de juros e um crescimento modesto do crédito

Renée Pereira - O Estado de S. Paulo

A queda no poder aquisitivo fez o brasileiro rever alguns hábitos adquiridos nos tempos de bonança da economia. As idas aos restaurantes escassearam e a frequência nos supermercados subiu – afinal, cozinhar em casa é mais barato. De acordo com o boletim Consumer Thermometer, da Kantar Worldpanel, de agosto, 22,7 milhões de lares aumentaram a frequência em supermercados em busca de liquidações.

“Percebemos que as famílias estão comprando ingredientes para fazer a comida em casa, como leite condensado, creme de leite, linguiça e hambúrguer”, diz a diretora comercial da Kantar, Christine Pereira. Segundo ela, desde o início da crise, os produtos que mais crescem na lista de compras são linguiça, açúcar e café torrado. E essa mudança de hábito deve demorar a ser revertida. Segundo João Morais, economista da Tendências Consultoria Integrada, o poder de compra dos brasileiros deve começar a se recuperar a partir de agora, mas lentamente. Em seus cálculos, no ano que vem, o poder de compra deve crescer algo em torno de R$ 50 bilhões, de R$ 3,17 para R$ 3,22 trilhões – muito pouco diante das perdas acumuladas. No cenário de Morais, essa pequena retomada será impulsionada pelo crédito e redução dos juros.

Rombo de R$ 101 bi ameaça estados

• Déficit das previdências regionais crescerá 57% até 2020 se não houver mudança de regras

Governadores querem ser incluídos na reforma previdenciária federal e pedem que a União acabe com o regime especial de aposentadoria de PMs e bombeiros, que já consome R$ 28,8 bilhões ao ano

O rombo das previdências estaduais, que chegou a R$ 64,26 bilhões no ano passado, alcançará R$ 101,5 bilhões em quatro anos, numa expansão de 57%, segundo cálculos de um estudo contratado por um grupo de governadores que inclui Rio e São Paulo, informa Geralda Doca. Diante da gravidade da situação, os governadores pediram ao governo federal que os estados sejam incluídos na reforma da Previdência. Além do aumento da contribuição, eles querem que a União acabe com os regimes especiais de policiais militares e bombeiros, que hoje representam quase um quarto das despesas com servidores estaduais inativos. –

Uma ameaça de R$ 101 bi

• Sem mudança de regras, déficit previdenciário dos estados pode crescer 57% até 2020

Geralda Doca - O Globo

BRASÍLIA- Os estados pediram ao governo federal para serem incluídos na reforma da Previdência, a fim de desarmar uma bomba que pode explodir em quatro anos. Sem mudança nas regras para servidores públicos, o déficit dos regimes próprios estaduais, que alcançou R$ 64,266 bilhões no ano passado, chegará a R$ 101,144 bilhões em 2020 — um aumento de 57,4% no período, de acordo com cálculos de um estudo contratado por um grupo de governadores, que inclui Rio e São Paulo. A cifra indica quanto os estados terão que aportar a mais para pagar aposentados e pensionistas, já descontadas as receitas com contribuições.

Democracia e populismo - Luiz Sérgio Henriques*

- O Estado de S. Paulo

• Uma esquerda racional poderia contribuir para um ‘cosmopolitismo de novo tipo’

Se for verdade, como de fato é, que a sociedade e a política brasileira devem ser entendidas como parte constitutiva do “Ocidente”, com estruturas sofisticadas e, por isso, irredutíveis a assaltos ao poder e a revoluções redentoras, daí se segue que por aqui simplesmente não podem deixar de existir um extenso ativismo social e formações partidárias de esquerda ou centro-esquerda como protagonistas da cena pública. Uma premissa desse tipo se apoia factualmente na história do capitalismo democrático, na qual – quer no New Deal norte-americano, quer no compromisso social-democrata europeu – foram atores decisivos social-democratas e comunistas, estes últimos, em particular, na França e na Itália do segundo pós-guerra.

Lembrar essa premissa é importante num momento de recuo eleitoral e, mais significativamente, de desmantelamento ideal do principal partido de nossa esquerda, após quase década e meia de experiência no poder central e em inúmeros Estados e municípios relevantes. Uma experiência que, ao se concluir por ora de modo negativo, convida à discussão, tanto quanto possível serena, das relações entre esquerda e democracia, bem como das possibilidades de sua ação reformadora numa das sociedades mais injustas e desiguais desse Ocidente que reivindicamos como nosso.

Grau de deterioração do prestígio do PT só foi revelado ao final do 1º turno – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

As recentes eleições municipais, em seu primeiro turno, assinalaram um momento importante na vida política brasileira. Não se costuma atribuir maior importância a esse tipo de disputa, na visão equivocada de que os cargos municipais não têm maior importância no jogo político nacional, cujos lances decisivos se passam em Brasília, no palácio presidencial e nas duas casas do Congresso.

Até certo ponto isso é verdade, mas as eleições municipais, por encarnarem o interesse imediato e vital tanto das pequenas cidades quanto das capitais dos Estados, revelam, no mínimo, a correlação de forças que, no final das contas, definem o rumo que os interesses políticos vão tomar. Talvez nem sempre percebamos, mas, nestas eleições, isso ocorreu.

Hora de usar a cabeça - Fernando Gabeira

- O Globo

Ao som do tiroteio no morro Pavão-Pavãozinho, reflito sobre o momento político cujo ponto alto na semana foi a votação da PEC que estabelece um teto para os gastos do estado. Sempre houve tiroteio por aqui. Na primeira viagem que fiz ao Haiti ouvi tiros à noite. Pensei: estão fazendo tudo para me sentir em casa. E dormi em paz. Mas o tiroteio dessa semana parece marcar o fim de uma época e o começo de tempos bem mais difíceis. A ruína do projeto do PMDB no Rio acabou levando consigo algo que o sustentava, eleitoralmente: a política de segurança.

Tempos difíceis pela frente. A decisão de criar um teto para os gastos é correta. No entanto, há argumentos da oposição que merecem um exame. Acompanhei os debates e concordo com a tese de que a demanda com saúde e educação deve aumentar nos próximos anos. Como encará-las com recursos decrescentes?

O mundo paralelo dos políticos - Merval Pereira

- O Globo

A volta ao debate da lista fechada para escolha dos candidatos partidários à Câmara, no bojo de uma provável reforma política que vai entrar na pauta do Senado esta semana, é mais uma demonstração de que nossa classe política vive em um mundo paralelo, que não se conecta com o sentimento dos eleitores.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, começou a defender a tese, que anteriormente era do PT, usando o mesmo argumento falacioso: sem financiamento privado, somente a lista fechada viabiliza uma campanha eleitoral bancada pelo dinheiro público.

Na verdade, existem razões por baixo dos panos para que a tese volte à mesa de negociações. A adoção de lista fechada mudaria o sistema eleitoral brasileiro e daria argumentos jurídicos aos que buscam uma anistia para os políticos que foram financiados pelo caixa 2 ilegal no regime anterior.

Avanços e recuos - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• Enquanto a Câmara avança contra a corrupção, o Senado recua a favor

O Congresso dá uma no cravo e outra na ferradura. Na Câmara, a Comissão Especial que analisa as dez medidas anticorrupção propostas por procuradores avança a olhos vistos. Mas, no Senado, o PMDB embala uma mudança da lei de abuso de autoridade vista como uma ofensiva contra os mesmos procuradores e a Lava Jato. As dez medidas preveem maior rigor com os crimes e criminosos de colarinho branco. Já a nova lei de abuso de autoridade visa cortar as asinhas justamente de quem tenta combater... os crimes e criminosos de colarinho branco. Um cruzamento revelador.

O bom ladrão - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• A política se tornou um empreendimento pessoal, familiar e corporativo. A riqueza privada e a vida pública se cruzam e se reforçam reciprocamente

Uma prática comum dos colonizadores ibéricos é que “chegavam pobres às Índias ricas e retornavam ricos das Índias pobres”, nas palavras do Padre Antônio Vieira (1608-1697), o Paiaçu, na língua tupi. Lusitano, passou a vida entre o Brasil (Salvador, Olinda e São Luís) e a Europa (Lisboa e Roma). Ao morrer na Bahia, deixou uma obra que soma 30 volumes. Um de seus sermões mais famosos é o do Bom ladrão, de 1655, proferido na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e sua corte, além dos dignitários do reino, juízes, ministros e conselheiros. Vieira atacou os que se valiam da máquina pública para enriquecer ilicitamente, denunciou escândalos no governo, as gestões fraudulentas e, indignado, criticou a desproporcionalidade das punições nas masmorras do século 17: “Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma viatura, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma força pública, sois governador?”

Em defesa da PEC 241, que limita os gastos públicos – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

A dívida pública encontra-se em trajetória explosiva. A persistência dessa dinâmica significa o retorno ao passado inflacionário dos anos 80.

Entre 1998 e 2010, a taxa média de crescimento da despesa primária (isto é, que desconsidera pagamentos de juros) real (deflacionada pelo IPCA) foi de 6,5% ao ano. Entre 2011 e 2014, primeiro mandato da presidente Dilma, foi de 5,6%. Para a receita real total da União, os números são de respectivamente 6,8% e 2,4%. Para o crescimento do PIB real nos mesmos períodos, 3,2% e 2,2%, respectivamente.

O que as urnas revelaram sobre o PT no ABC paulista - José de Souza Martins

- O Estado de S. Paulo

Em face dos resultados das recentes eleições municipais, as oposições ao PT caíram na enganosa euforia de considerar que o partido foi aniquilado pelas centenas de prefeituras que perdeu no País inteiro. Do lado do PT, os equívocos não foram menores. O partido continuou a considerar o PSDB, mais que seu adversário, seu inimigo e grande responsável por sua derrota. Deixou de analisar o cenário político profundamente transformado desde a posse de Luiz Inácio na Presidência da República, em 2003.

Para compreender essas eleições, tomo como referência o ABC, que é o lugar emblemático do surgimento e afirmação do PT. Se examinarmos em detalhe a presença do Partido na governança dos sete municípios que o compõem, veremos que a região nunca foi propriamente petista. Chegou ao poder municipal não raro em disputas apertadas com outros partidos, como o PPS, o PV, o PSDB, o PTB, o PMDB, o PSB. Desde 2000, o eleitorado do ABC tende a dispersar-se em vez de concentrar-se em um ou dois partidos.

O juiz moro e o Frade Savonarola - Elio Gaspari

- O Globo

O professor Rogério Cerqueira Leite publicou um artigo na “Folha de S. Paulo” comparando o juiz Sérgio Moro ao frade dominicano Girolamo Savonarola, que barbarizou a vida de Florença no final do século XV. Era uma época em que os pregadores tinham a popularidade dos roqueiros de hoje. Visionário, demagogo, moralista e ascético, Savonarola incendiou a cidade abatida por uma invasão estrangeira, pela fraqueza de sua elite, mais a peste, fome, misticismo e superstições.

Savonarola foi excomungado pelo papa Alexandre VI (pai de pelo menos oito filhos), e, quando sua liderança popular enfraqueceu-se, acabou preso, torturado, enforcado e queimado. (Tempos depois, apareceram flores no lugar do patíbulo. A retórica papista patrulhou a memória do frade com tamanha eficácia que a cidade de Florença levou 400 anos para homenageá-lo com uma lápide no ponto da praça onde mataram-no.)

A crise fiscal e o colapso das políticas públicas estaduais - Marcos Lisboa

- Folha de S. Paulo

A política pública caminha para o colapso na maioria dos governos estaduais.

Muitos Estados têm reduzido a compra de bens e serviços essenciais pela dificuldade em pagar regulamente os fornecedores, seis já não conseguem pagar em dia a folha de pagamento e a Previdência dos servidores, e dois estão inadimplentes com os pagamentos das suas dívidas.

Essas dificuldades irão se agravar na ausência de reformas profundas.

A Era Vargas e a PEC dos gastos - Suely Caldas*

- O Estado de S. Paulo

As reações disparatadas à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do teto de gastos vindas de setores influentes, alguns com viés fortemente corporativos, mostram o quanto o Estado continua provedor da sociedade organizada, 62 anos depois da morte do ex-presidente Getúlio Vargas, que personificou a chamada Era Vargas. Este período da história econômica ficou conhecido pelo excessivo intervencionismo de um Estado provedor e presente – sobretudo com dinheiro público – em todos os setores e classes sociais organizadas, dos empresários aos sindicatos de trabalhadores. Num Brasil economicamente atrasado, a Era Vargas era justificável na época. Agora não mais.

Depois da confissão - Míriam Leitão

- O Globo

A expectativa na Odebrecht é fechar os acordos de delação e de leniência até o fim de outubro. Ela prepara o pedido de desculpas mais claro já feito pelas empresas envolvidas na Operação Lava-Jato, no qual espera estabelecer um corte com o passado e o início do futuro da companhia. No mercado, no entanto, há dúvidas sobre como a maior empreiteira do Brasil chegará ao fim desse processo.

As últimas duas semanas foram as mais duras da negociação, porque está sendo feita a definição das penas. A Lava-Jato elevou o custo da corrupção no Brasil. Se uma empresa com tantas conexões e apoio, tão poderosa, está agora se curvando para pedir desculpas, está abrindo seus cofres para pagar uma multa bilionária e com seu presidente preso por um ano e meio, fica claro que este é um caminho perigoso demais.

Teremos ou não crescimento em 2017? - José Roberto Mendonça de Barros

- O Estado de S. Paulo

A pergunta mais relevante que se faz hoje é se teremos ou não crescimento no próximo ano. A melhora nas expectativas, de consumidores e produtores, que vem se verificando desde março, sugere que a resposta à questão acima colocada é positiva. Entretanto, qual será sua intensidade?

Poucas vezes vi uma amplitude tão grande nas respostas disponíveis, como revelam os seguintes exemplos: para a Fundação Getúlio Vargas, a expansão será muito modesta, de 0,6%. No Boletim Focus, o número é de 1,3% e o governo trabalha com 1,6%.

Nós da MB trabalhamos, desde maio, com 2%. Este é o número mais otimista da praça, embora não sejamos os únicos a trabalhar com ele. Estamos tão convictos da melhora que nos arriscamos a dizer que, se houver alguma revisão desta projeção mais adiante, ela será para cima.

Coloco a seguir as razões de nossa posição. Essas incluem questões políticas e econômicas:

Brasil em reformas – Editorial / Folha de S. Paulo

Desde maio, quando Michel Temer (PMDB) ainda ocupava de forma interina a Presidência da República, o Congresso aprovou —ou está prestes a aprovar— projetos de lei e propostas de emenda à Constituição em número e relevância suficientes para modificar a vida econômica e política do país.

Como as medidas são também de interesse ou de iniciativa do Planalto, o desempenho indica, até aqui, a capacidade do governo de construir uma coalizão parlamentar ampla e fiel.

A demonstração de força tende a influenciar a percepção de lideranças políticas e agentes econômicos a respeito da viabilidade do programa de mudanças em curso. O próximo teste decisivo virá com a reforma da Previdência.

Chama a atenção que os projetos já aprovados ou em fase final de discussão constituem um programa. As providências adotadas em parte espelham itens da "Ponte para o Futuro" e da "Agenda Brasil", documentos apresentados na segunda metade do ano passado por lideranças do PMDB.

Eletrobrás, BNDES e Lava Jato – Editorial / O Estado de S. Paulo

Suspensa das operações da Bolsa de Nova York desde maio, a Eletrobrás acaba de enviar à Securities and Exchange Commission (SEC), a comissão de valores mobiliários americana, um relatório sobre investigação de propinas e de superfaturamento em contratos de subsidiárias assinados a partir de 2008. A suspensão ocorreu porque a empresa havia sido incapaz de entregar balanços de 2014 e 2015 assinados por empresa de auditoria externa. Os auditores haviam recusado firmar as demonstrações financeiras porque a Operação Lava Jato havia apontado sinais de irregularidades. Uma investigação independente foi contratada para esclarecer o assunto e permitir uma revisão das contas dos dois exercícios. O envio dos novos dados à SEC foi divulgado no Brasil na terça-feira passada. No mesmo dia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou a suspensão, desde maio, dos desembolsos de recursos para 25 operações de exportação de serviços de engenharia. As empreiteiras envolvidas nesses negócios também são investigadas na Lava Jato.

As duas notícias são partes de uma única história, complexa, longa, assustadora e ainda com detalhes obscuros. A divulgação das duas no mesmo dia pode ter sido uma casualidade, mas termina aí a manifestação do acaso. A Operação Lava Jato, inicialmente centrada na pilhagem da Petrobrás, abriu caminhos para investigações em outras áreas da administração federal e para uma visão mais ampla da ocupação predatória da máquina do Estado no período petista.

Crise é responsável por enorme retrocesso social – Editorial / O Globo

• Famílias fazem o caminho de volta à pobreza, devido aos erros de política econômica do lulopetismo, que se vangloriava de ter criado uma ‘nova classe média

O PT soube usar de forma competente como propaganda político-eleitoral os avanços sociais que, na verdade, vinham desde a estabilização da economia, com o lançamento do Plano Real, em 1994, no governo Itamar, e implementado nos oito anos de poder dos tucanos, com o ministro da Fazenda responsável pelo plano, Fernando Henrique Cardoso, na Presidência da República.

Como já ocorrera por um curto momento no Cruzado, a derrubada da inflação, por si só, provocou um salto no poder de compra em especial da grande massa da população, sempre a mais prejudicada na subida dos preços.

Com o PT, programas sociais lançados na era FH ficaram mais robustos — embora menos focados —, foram ampliados, e ainda houve, com apoio lulopetista, a indexação de benefícios sociais e previdenciários pelo salário mínimo.

Adiamento – Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

Fabiana Cozza - Doces