O Estado de S. Paulo
Neste País carregado de possibilidades,
estamos sem governo, há estímulos para a degeneração da convivência e se
amontoam os problemas
A nossa é uma época estranha. Todas as
épocas talvez sejam assim: quem vive nelas sempre pode ter a sensação do
inusitado, de algo que não se manifestou antes. Mas a nossa é paradoxal demais.
Encanta e assusta. Confunde, perturba, excita. Parece vazia de esperança e
otimismo, como se temêssemos o que nos aguarda à frente.
Há grandes margens de liberdade e
autonomia. Podemos escolher como viver a vida. Mas não nos damos conta das
orientações que, insidiosamente, valendo-se de algoritmos e estratégias
mercadológicas, modulam e padronizam os comportamentos coletivos.
Misturam-se a isso a desinformação induzida
e a atuação de líderes autoritários, que minam os valores democráticos e
manipulam parcelas importantes da população. Há governantes que governam contra
seu povo e outros que combatem o sistema eleitoral de seu próprio país, depois
de terem dele se beneficiado.
Vivemos em redes. A cada dia, mais pessoas caem nelas. Redes são prisões ou estradas para a autonomia? Isolam-nos em bolhas e nos roubam do contato com o mundo exterior, alienando-nos? Ou são estratégias de sobrevivência, lugares de fuga de uma realidade sempre mais difícil de ser suportada e compreendida?