quarta-feira, 31 de outubro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: “E uma refundação da República” (II)


Essa será a questão de fundo nos próximos meses. Terminada a sucessão municipal, está aberta a sucessão presidencial. Qual será o candidato da situação? Dilma ou Lula? Não diria que essa questão esteja fechada. Para um grupo petista, especialmente o paulista, a volta de Lula é um elemento fundamental para sua sobrevivência. Essa facção, que é muito poderosa, pressionará para que Lula seja o candidato a presidente da República. Se a Dilma quiser ser candidata à reeleição, terá de se colocar. Não se trata de ser infiel ou romper, mas de definir sua liderança, inclusive em termos partidários. Ela tem de ser forte no partido, e ela não é. Ela tem de ser consagrada pelo PT. A não ser que o Lula, mais uma vez, abdique da candidatura e peça ao PT que sufrague publicamente o nome dela. Agora, quem, hoje, em sã consciência, sem ter informações de intimidade, pode dizer que Lula não será candidato a presidente da República?

Luiz Werneck Vianna, sociólogo, professor-pesquisador da PUC-Rio. Entrevista: ”É uma refundação da República”, revista Época, nº 754,29/10/2012.

Manchetes dos principais jornais do Brasil


O GLOBO
A metrópole ilhada - NY: sem metrô, no escuro e alagada após o furacão
Valério oferece delação premiada ao STF e diz correr risco de vida
Jd. Botânico conclui estudo sobre os seus limites

FOLHA DE S. PAULO
Um policial é morto a cada 32 horas no Brasil
Governo bancará trem-bala mesmo sem passageiros
Mensalão leva à quebra de sigilo de ex-dirigentes do BB

O ESTADO DE S. PAULO
‘Não faço toma lá dá cá’, diz Haddad sobre apoios
Furacão Sandy mata ao menos 38 nos EUA e afeta milhões
Maior seca em 83 anos põe reservatórios do NE em alerta
Ex teme prisão de Dirceu
Justiça barra despejo de índios caiovás em MS
TCU vê problema em 6 de cada 10 obras do governo
Polícia acha ‘lista da morte’ contra PMs

VALOR ECONÔMICO
Múltis brasileiras refreiam a expansão internacional
País importa mais petróleo dos árabes
Fundo agora quer ensino de qualidade
Um golpe na recuperação americana
Haddad diz que vai reduzir custos sem romper contratos
Aeroporto de Guarulhos terá monotrilho

BRASIL ECONÔMICO
Fundo de pensão do estado de SP inicia operação nos próximos dias
“Lista suja” de empresas ainda é letra morta
Comissão quer tornar crime a guerra fiscal
Batalha pelos royalties vai recomeçar hoje
Cenários do Brasil para 2013

CORREIO BRAZILIENSE
Drible na lei acelera carteira de motorista
Sem desculpas para acabar com 14º e 15º
Valério tenta evitar a prisão
Alívio para os índios

ESTADO DE MINAS
Obras de Confins estão nove meses atrasadas
Gargalo custa até 22,6% da receita bruta
Enem reforça segurança antifraudes

ZERO HORA (RS)
A tempestade de US$ 45 bilhões
Mantega quer acabar com a guerra do ICMS
TCU sugere parar duas obras no RS

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Governo vê falha humana em apagão
TCU quer paralisar obras da refinaria
Índios ganham direito de ficar em fazenda

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

De volta à questão democrática - Luiz Sérgio Henriques


Em vista dos acontecimentos recentes, com a bisonha reação de setores (majoritários?) do petismo às decisões do Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470, cabe deduzir, com algum grau de desalento, que há de ser molecular e como que conduzido pelos fatos - no caso, o caráter objetivamente "ocidental" da formação social brasileira, que a torna relativamente imune a surtos prolongados de populismo - o processo de modernização da cultura política da nossa esquerda. Até hoje, pelo menos, por parte de atores decisivos, como os próprios expoentes políticos, os dirigentes das máquinas partidárias e especialmente os intelectuais ditos "orgânicos", os caminhos dessa modernização não foram trilhados sem meios-termos.

O salto para o continente novo da democracia política - definitivamente considerada como conquista dos "de baixo", e não instância "burguesa" que mascara ou domestica o conflito de classes - e a consequente queima de navios ainda não foram dados, por esta ou aquela razão. Estamos longe do que um pensador como Giuseppe Vacca chamou de requisito da moderna convivência civil, a saber: a recíproca legitimação dos adversários no contexto do Estado Democrático de Direito. Tal legitimação dificultaria discursos "refundacionais" que fazem datar do surgimento de um partido, e não da Carta de 1988, o novo início da História do Brasil e remetem os adversários ao limbo da representação dos prévios 500 anos de predação da Pátria e do seu povo.

Se de esquerda falamos - e se é um tronco da esquerda que desde 2002 mantém firmemente nas mãos o poder central, com exceção do período de turbulências da CPI dos Correios -, cabe revirar mais fundo o baú de ossos dessa família política, em busca dos primeiros e ainda hesitantes sinais da sua ocidentalização. Um sinal corajoso, por exemplo, veio de um notável documento do PCB, antigo de quase seis décadas. Os especialistas em remexer naquele baú sabem que se trata da Declaração de Março de 1958, da qual dois signatários, Armênio Guedes e Jacob Gorender, são nossos contemporâneos e representam, cada qual a seu modo, interpretações distintas do documento. E os especialistas sabem também que ali começou um difícil caminho de revisão do nexo entre democracia política e socialismo, ainda longe de chegar a um ponto maduro.

Nos termos da esquerda, havia ali, com instrumentos conceituais muitas vezes datados, uma dialética tensa entre "questão nacional" e "questão democrática". A primeira, embebida de retórica anti-imperialista (esse mesmo anti-imperialismo que ainda hoje faz estragos, ao levar parte da esquerda, não raramente, a simpatizar com "ridículos tiranos" ou autocratas eleitoralmente competitivos), poderia, no entanto, obedecer já na época a uma concepção não regressiva: tratava-se, afinal, de deslocar para dentro do País o eixo das decisões fundamentais, sem prejuízo dos processos de internacionalização da economia já fortemente operantes.

A questão democrática era ainda mais complicada, como não podia deixar de ser para uma esquerda que desde o leninismo se acostumara a dissociar socialismo e democracia. Aparecia aquela questão, no seu aspecto "substantivo", como incorporação da massa rural à vida moderna, seja pela difusão do sindicalismo e dos direitos a ele associados, seja pela reforma agrária à custa do latifúndio improdutivo. E todo esse movimento ocorria no quadro da legalidade de 1946 - uma legalidade formal, que, no entanto, não convinha subestimar e significava um acréscimo decisivo na qualidade da democracia: no modo de entendê-la e de praticá-la.

O avanço da questão formal da democracia na cultura comunista se daria, paradoxalmente, nas duras condições da nova clandestinidade imposta em 1964. Um avanço que também decorria, entre outras coisas, da verificação dos resultados inesperados da modernização conservadora, como a diversificação da sociedade civil e a imposição da centralidade da política democrática para a derrota do regime militar.

Não é certo, contudo, que esse novo patamar da "questão democrática"se tenha generalizado na esquerda. Seu partido hoje hegemônico, de certa forma, esteve alheio a tais desdobramentos desde as origens. Como sabemos, não importava muito a política de "frente ampla" aos olhos de jovens quadros sindicais, para quem a CLT é que era "o AI-5 dos trabalhadores". Frase forte, emblemática, que se converteria numa política em que o dado bruto do social - das corporações e seus interesses - seria sistematicamente confrontado com o político e suas instituições. Estas, de resto, como o Parlamento, seriam apenas o palco por excelência de três ou quatro centenas de "picaretas", dispostos, como numa feira livre, em tabuleiros de compra e venda.

Se este argumento fizer sentido, voltamos a viver outro momento decisivo na história da esquerda. Mais uma vez se requer a atualização da sua cultura ou, para utilizar um termo em circulação, a própria refundação dessa mesma cultura, de seus procedimentos e de suas categorias. A independência dos Poderes, a autonomia do Ministério Público, a livre dialética parlamentar, bem como uma sociedade civil desembaraçada de tutela estatal e de toda mitologia salvacionista são traços inelimináveis de qualquer vida associada sob o signo da liberdade.

A esquerda não deveria "sofrer" a democracia, como se fosse concessão penosa e temporária aos "inimigos do povo", mas promovê-la, ao lado de outras tendências, inclusive moderadas e conservadoras, como conquista de civilização. Ou, ainda, deveria entender a democracia não como caminho para o socialismo, mas o próprio caminho do socialismo, se formos capazes de retirar deste último conceito a aura de autoritarismo que persistentemente o ronda.

Luiz Sérgio Henriques, tradutor, ensaísta, é um , dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil e editor do site Gramsci e o Brasil e vice presidente da Fundação Astrojildo Pereira.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Valério oferece delação premiada ao STF e diz correr risco de vida


Ele pede inclusão em lei de proteção a testemunha; Genoino pode reassumir mandato; PT não punirá dirigentes condenados.

Condenado a 40 anos, Valério propõe delação premiada

Novas informações do operador poderiam influenciar processos derivados do mensalão

Carolina Brígido

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A Procuradoria Geral da República terá que decidir o que fazer com um ofício que chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro, assinado por advogados do operador do mensalão, Marcos Valério, sugerindo a delação premiada - quando o réu pode colaborar com a Justiça contando mais detalhes do crime em troca de benefícios.
No documento, a defesa também afirma que Valério está correndo risco de morte e, por isso, deveria ser incluído na lei de proteção a testemunhas. Para o presidente do tribunal, ministro Ayres Britto, uma eventual delação de Valério não mudaria nada no atual processo do mensalão, pois a investigação terminou.

- Na minha opinião, a esta altura, não (influencia). Mas o relator (Joaquim Barbosa) é quem vai se pronunciar - disse Ayres Britto.

Em conversas reservadas, três ministros do STF também afirmaram que, nesta fase do julgamento, um novo depoimento não altera em nada o processo. No entanto, poderia afetar processos derivados do mensalão a que Valério e outros réus respondem em outras instâncias do Judiciário.

Um dos ministros afirmou que eventual decisão concedendo a Valério o benefício da lei de proteção a testemunhas afetaria o cumprimento da pena imposta a ele no mensalão.

Semana passada, os ministros fixaram a pena de Valério em 40 anos, um mês e seis dias de reclusão, mais pagamento de multa. Como o tempo é superior a oito anos, o regime de cumprimento é inicialmente o fechado. Se houver proteção a Valério, o cumprimento poderá ser repensado pelo juiz de execução de Minas Gerais.

Logo que recebeu o pedido, via fax, Ayres Britto determinou sigilo e o encaminhou ao relator. O pedido tramita de forma isolada, sem ligação com o processo principal.

- Chegou um fax. Não posso dizer o conteúdo, porque está sob sigilo, mas é hiperlacônico - disse Ayres Britto.

Marcelo Leonardo, advogado de Valério não negou nem confirmou ser o autor do pedido.

- Nada a declarar - disse.

Semana passada, Leonardo disse ao GLOBO que Valério tem informações para ajudar nos outros processos.

- Em relação a este julgamento, que já está perto do fim, não teria mais nada a acrescentar. O mesmo não pode ser dito em relação a outros processos - disse o advogado, referindo-se às ações a que Valério responde nas instâncias federal e estadual.

No último memorial entregue aos ministros do STF, Leonardo alegou que seu cliente atuou como colaborador no processo ao entregar a lista de beneficiários dos recursos distribuídos por suas empresas. Mas o MP não concorda.

Para o ex-ministro do STF Carlos Velloso, a delação de Valério pode alterar a pena já imposta a ele no mensalão:

- Ele certamente quer que a delação influa na dosimetria da pena. Isso pode acontecer, dependendo da informação que ele traz. As informações podem ser objeto de novo inquérito contra pessoas ainda não envolvidas no caso.

Segundo Velloso, a inclusão de Valério na lei de proteção a testemunhas pode alterar o regime de prisão:

- Ele pode ficar numa prisão de segurança, com isolamento. Se ele realmente fizer a delação e ficar junto de outros presos, vai correr perigo.

Ayres Britto também confirmou que o Ministério Público Federal pediu a Barbosa para confiscar o passaporte dos réus no processo. Segundo o presidente da Corte, ainda não houve decisão. O relator está em viagem para tratamento de saúde na Alemanha. (Colaborou: Thiago Herdy)

Fonte: O Globo

PT não punirá mensaleiros


"Quem aplica o estatuto somos nós", diz presidente do partido, que defende mandato para Genoino

Paulo Celso Pereira, Isabel Braga, Evandro Éboli e Tatiana Farah

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse ontem que não haverá punição e que o PT não tomará qualquer medida contra os políticos petistas condenados no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Falcão alegou que as condenações impostas a parlamentares e políticos do PT não fazem parte dos casos de punição elencados no estatuto partidário. O estatuto do PT, no inciso XII do artigo 231, prevê que a pena de expulsão do partido deve ser aplicada quando ocorrer "condenação por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado". Para Falcão, os casos dos companheiros condenados não se aplicam ao estatuto.

- Quem aplica o estatuto somos nós. E esse caso não se aplica - disse Falcão.

Além disso, Falcão, com o apoio de outros deputados do PT, defendeu ontem que José Genoino, mesmo já condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha pelo STF, assuma o mandato como deputado federal, no início de 2013. O presidente do PT negou, no entanto, ter conversado sobre isso com Genoino.

- Imagino que ele queira assumir. Ele tem mandato e é um direito dele - disse Falcão.

Genoino é o segundo suplente da coligação do PT e outros partidos, segundo resultado da eleição de 2010. Ele deve assumir o mandato em janeiro de 2013 porque o deputado Carlinhos Almeida, que se elegeu prefeito de São José dos Campos (SP), terá que renunciar. O primeiro suplente, Vanderlei Siraque, já está exercendo o mandato na vaga de Aldo Rebelo, que está no Ministério do Esporte.

Há dirigentes do PT defendendo até que Carlinhos renuncie antes de 31 de dezembro, para que Genoino tenha mais tempo no Congresso. Mas Genoino afirmou a interlocutores que ainda não decidiu se vai assumir o mandato. Ele se reuniu ontem com seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, para tratar do assunto, mas não tomou nenhuma decisão. Assim que foi condenado pelo STF, ele pediu demissão do cargo de assessor especial do Ministério da Defesa.

- Ele se demitiu do governo porque achou que a condição de condenado poderia causar constrangimento à presidente Dilma. Ela não aceitou a demissão e ele teve de pedir em caráter irrevogável. Mas o mandato parlamentar é dele, foi obtido pelo voto - disse Pacheco.

Deputados querem evitar constrangimento

Colegas da base e da oposição admitem o direito de Genoino assumir como suplente, antes da publicação do acórdão da condenação pelo STF, mas defendem que o Supremo já decida sobre a perda do mandato dele e dos outros deputados condenados no mensalão, o que evitaria o constrangimento na Casa.

Líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE) disse que a decisão é de Genoino e lembrou que há outros deputados condenados com mandato na Casa. Afirmou, no entanto, que o PT deveria assimilar as decisões tomadas pelas instituições.

- Cada vez mais essa matéria diz respeito ao Supremo e não à classe política. Nesse caso, cito frase atribuída à ministra Gleisi Hoffmann. O PT tem que assimilar o resultado das instituições estabelecidas

O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), ex-petista, diz que o ideal seria o STF já decidir a perda do mandato de todos os deputados condenados na decisão final do julgamento:

- É um direito dele (Genoino), mas uma situação constrangedora até para ele, para a Câmara, para a sociedade. O Supremo deveria já resolver a situação, os ministros têm que se pronunciar sem deixar para a Câmara resolver. Se vier para a Câmara, temos que votar primeiro o fim do voto secreto, ou corremos o risco de o STF condenar e a Câmara absolver.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também espera que a decisão do STF seja plena em relação ao mandatos dos condenados:

- Se Genoino voltar, e já temos outros três condenados na Casa, a depender das penas aplicadas, regime aberto, fechado, não há como negar o constrangimento.

Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) é preciso aguardar as penas que serão impostas a Genoino e aos demais deputados condenados.

- Imagino que ele sofrerá constrangimentos, mas não há ainda sentença, é preciso aguardar. Ele pode ficar no regime aberto e não ter o mandato retirado - disse Miro.

Para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), não há como impedir a posse de Genoino.

- A Câmara, como qualquer instituição, deve cumprir a Constituição. E a Constituição dá a ele o direito de assumir o mandato. Não é uma decisão que cabe à presidência, à Mesa decidir.

Maia, no entanto, discorda da tese defendida por alguns deputados de que o próprio Supremo poderá, no acórdão, já definir a situação dos deputados condenados, evitando que a Casa tenha que tomar tal decisão:

- A Constituição é clara, a decisão tem que passar pelo plenário da Câmara. Quando foi votado, na Constituinte, esse artigo foi aprovado com 408 votos, entre eles os de Fernando Henrique, Lula e Serra. Foi feito pelo Jobim. E, teoricamente, a Câmara pode manter o mandato do deputado que for condenado.

- Se a lei permite, ele deve tomar posse. Não existe impedimento para que ele faça isso - disse o petista Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo na Câmara.

Professor Luizinho e Rocha voltam à Câmara

Ex-presidente do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP) também defendeu o direito do colega e negou qualquer tipo de constrangimento:

- Genoino é um lutador, defensor do estado de direito e, na visão do PT, não cometeu nenhum crime. É vítima de um julgamento politizado em função das eleições.

Irmão de Genoino, o deputado José Guimarães (PT-CE) também defendeu o direito dele:

- Ele tem mandato dado pelo povo.

Enquanto a Câmara discute o caso Genoino, dois ex-deputados do PT absolvidos no julgamento do mensalão - Professor Luizinho (SP) e Paulo Rocha (PA) - reapareceram sorridentes ontem na Câmara, e participaram do ato em comemoração às 5.000 edições do boletim informativo da bancada do partido na Casa, o "Informes PT". Em clima de festa, foram efusivamente saudados pelos companheiros petistas.

Ex-líder do governo na Câmara, Professor Luizinha, absolvido da acusação de lavagem de dinheiro, afirmou que está feliz com o resultado do julgamento, que tirou um peso de suas costas, mas que sua felicidade não é completa por conta da condenação de Genoino e de José Dirceu.

- Tirei um peso das costas, mas não todo. Foi um absurdo eu ter sido denunciado. Fui julgado, condenado e punido esses anos todos. Eu me sinto como um ex-presidiário. O que fizeram comigo não tem volta. Vi a minha honra e de minha família serem destruídas - disse Luizinho. - Mas estamos lamentando e tristes com o que estão fazendo com o Genoino e o Zé Dirceu. Pessoas que deram suas vidas ao país, que lutaram contra a ditadura e pela democracia.

Paulo Rocha preferiu não dar entrevistas. Argumentou que o julgamento ainda está em curso. Luizinho que deve voltar a atuar na direção do partido em Santo André, onde mora.

Fonte: O Globo

Ex teme prisão de Dirceu


Antes mesmo de o STF fixar a pena de José Dirceu no julgamento do mensalão, parentes do ex-ministro se preparam para uma eventual detenção em regime fechado. "Meu medo é que ele se mate na prisão", conta a primeira mulher, Clara Becker, a Débora Bergamasco. E ataca: "Se ele pagou (mensalão) foi pelos projetos do Lula".

"Dirceu e Genoino pagam por Lula"

Clara Becker afirma que ex-ministro, com quem viveu por quatro anos no Paraná, "não é ladrão"

Débora Bergamasco

CRUZEIRO DO OESTE - A família do ex-ministro José Dirceu (Casal Civil) já se prepara para o pior: sua condenação em regime fechado por envolvimento com o mensalão. Enquanto o Supremo Tribunal Federal não decide a pena, parentes já planejam como serão as visitas na cadeia. A refeição da penitenciária é uma das preocupações, pois ele é reconhecido como um sujeito bom de garfo. "Meu medo é que ele se mate na prisão", chora Clara Becker, 71 anos, sua primeira mulher e mãe de seu filho mais velho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).

Casados por apenas quatro anos na época da ditadura militar, ela é amiga próxima do ex-marido há mais de três décadas e tem certeza de que "Dirceu não é ladrão". "Se ele fez algum pecado, foi pagar para vagabundo que não aceita mudar o País sem ganhar um dinheiro (...) Se ele pagou, foi pelos projetos do Lula, que mudou o Brasil em 12 anos", afirma, referindo-se ao pagamento a parlamentares da base aliada que receberam dinheiro para votar a favor de propostas do governo do ex-presidente Lula, segundo a denúncia do Ministério Público.

Para ela, militantes do PT como Dirceu e José Genoino, ex-presidente do partido, estão sendo sacrificados. "Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas, se é que houve alguma coisa errada? Eles assumiram os compromissos e estão se sacrificando", indigna-se.

"Sabe, é muito sofrimento. Uma vez peguei meu filho chorando de preocupação com o pai. E minha neta, Camila, também sente muito."

Desde que começou o julgamento da ação penal 470, Dirceu diminuiu sua exposição pública. Para se poupar de constrangimentos, ele evita circular com desenvoltura, ser visto em Brasília ou jantar fora - seu passeio predileto. Agora, o ex-todo-poderoso do governo Lula lista quem são seus amigos fiéis e os recebe em sua casa de São Paulo ou na de Vinhedo (SP). No fim de semana do dia 7 de outubro, eleição municipal, ouviu ao telefone uma ordem expressa: "Benhê, limpa a área que eu tô chegando". Era Clara avisando que lhe faria uma visita na casa do interior paulista e deixando claro que não queria dividir a atenção do ex-marido com mais ninguém - nem com a atual namorada dele, Evanise Santos. Clara saiu de Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, levando em um isopor uma peça de carneiro temperada no vinho branco e alecrim. Instruiu a empregada a deixar a carne três horas no forno, enquanto aguardava o anfitrião chegar em casa.

Quando ele apontou no portão, ela ouviu também uma voz feminina. Chispou escada acima e se trancou no quarto, alegando enxaqueca. Só desceu quando seu filho bateu na porta e avisou que a "dor de cabeça" já havia ido embora. Depois do fim de semana de comilança e champanhe, Dirceu despediu-se dela, dizendo: "Preciso ir embora mais cedo para São Paulo, tenho que eleger o (Fernando) Haddad".

Parente. "Hoje gosto dele como se fosse meu parente, mas já sofri muito. Sabe aquele homem que é tudo o que pediu a Deus? Pois Deus me deu e me tirou", sorri. Clara, que conta nunca mais ter namorado depois de viver com o ex-ministro, foi casada, na verdade, com Carlos Henrique Gouveia de Mello, um jovem órfão paulistano de origem argentina, pessoa que nunca existiu, a não ser no disfarce adotado pelo então subversivo banido do Brasil e procurado pelo regime militar.

Clara sabia que o marido guardava um segredo. Imaginou que ele tivesse uma família em outra cidade, mas que teria fugido "da bruxa da mulher dele e se ele quer ficar comigo e não com ela, deixe ele aqui, né?", lembra. Só quando a anistia política foi decretada, em 1979, foi que José Dirceu contou à mulher quem realmente era, apontando uma foto dele e de outros exilados em recorte de jornal. "Pensei assim: "Ai, era isso? Grande coisa", porque nem estava por dentro do que aquilo significava."

Sua preocupação foi ter registrado o filho com o nome de um pai fantasma. Mas compreendeu a importância da mentira. Também diz não ter-se magoado quando, assim que voltou a ser Dirceu, mudou-se para São Palo. "Ele até quis que eu fosse junto, mas não dava, eu estava com filho pequeno, ajudava minha família e ele nem salário tinha, só queria saber de fundar essa miséria desse PT", conta ela, que é petista roxa, com direito a uma piscina nos fundos de casa decorada com a estrela e a legenda do partido em minipastilhas.

Arrependida. Para ela, o único golpe foi ir a São Paulo e encontrar cabelos pretos de mulher no banheiro. Descobriu que era traída. "O Dirceu me disse: "Se eu tenho outra é um problema, agora se a gente vai se separar é outra questão". E eu: "Não, senhor, acabou aqui, cara". Peguei minhas coisas, o moleque pela mão e fui embora. Hoje, me arrependo, se eu não tivesse deixado o campo limpo, estaria com ele...", imagina.

Ela diz já ter preferido ser viúva a ver Dirceu "cada dia mais bonito" indo em sua casa visitar o filho todo mês. Depois se convenceu de que seria melhor para Zeca ter o pai por perto e sempre cedia sua cama para o ex-marido dormir com mais conforto, mesmo que ele não tenha contribuído com um centavo de pensão. Clara acha que nunca foi amada por ele. "Dirceu nunca amou nenhuma mulher nessa vida, viu? O que ele amou foi a política e pode ir preso por isso", diz. "Agora que o cartão de crédito acabou, quero ver quem vai lá visitá-lo", provoca.

Em um de seus últimos encontros com o ex-marido, Clara o fez chorar: "Eu disse a ele: "A nossa ampulheta está acabando, você não se tocou, hein, garoto? Mas se um dia você precisar de mim, eu venho cuidar de você". Ele ficou todo apaixonado e prometeu que ia me comprar um cordão de ouro igual ao que o ladrão me roubou. Mas não comprou, né, só falou..."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mensalão leva à quebra de sigilo de ex-dirigentes do BB


A Justiça determinou a quebra do sigilo bancário de ex-dirigentes do Banco do Brasil e do Fundo Visanet, informam Flávio Ferreira e Matheus Leitão.


O objetivo é apurar se o desvio de dinheiro no mensalão teve participação de outros executivos além do ex-diretor Henrique Pizzolato, já condenado


Mensalão leva à quebra do sigilo de ex-executivos do BB

PF apura se ex-dirigentes do banco e de fundo participaram de desvio de verbas

Ação é desdobramento do caso julgado pelo STF, que já condenou o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil

Flávio Ferreira, Matheus Leitão

BRASÍLIA - A Justiça determinou a quebra do sigilo bancário de ex-dirigentes do Banco do Brasil e do Fundo Visanet em investigação que apura se o desvio de verbas no mensalão teve atuação de outros gerentes além do ex-diretor de Marketing do banco Henrique Pizzolato, condenado pelo Supremo Tribunal Federal.

O inquérito, aberto pela Polícia Federal para aprofundar apurações na principal fonte de recursos do mensalão, aponta que o valor corrigido dos desvios no Banco do Brasil atingiu R$ 90 milhões.

A investigação começou em 2006, depois que a Procuradoria-Geral da República apresentou a denúncia do mensalão contra 40 acusados, entre eles Pizzolato.

Como a Procuradoria considerou não ter naquele momento provas suficientes contra outros dirigentes do banco, pediu a abertura de um novo inquérito.

A quebra de sigilo dos suspeitos foi pedida pela PF e determinada pelo Judiciário em junho. A apuração está sob responsabilidade da Justiça Federal do DF.

Nos últimos meses, a PF obteve dados bancários dos suspeitos e agora as informações estão passando por perícia para apuração de eventual movimentação financeira ilegal dos ex-gerentes.

Os suspeitos podem responder por crimes como peculato e corrupção.

Colegiado

Em entrevista à Folha no início do mês, Pizzolato questionou o fato de ele ter sido o único executivo do banco a ser denunciado pelo Ministério Público. Segundo o réu, as decisões no banco eram tomadas por colegiados.

O Ministério Público Federal diz que, se ficar comprovada a participação dos suspeitos, pedirá à Justiça que devolvam recursos ao banco.

O inquérito corre sob sigilo. A Folha apurou que um dos investigados é o ex-gerente-executivo de Propaganda do Banco do Brasil Cláudio de Castro Vasconcelos.

Ele participou de atos de processos internos que direcionaram antecipadamente R$ 73 milhões do fundo Visanet (do qual o BB tinha participação) para a DNA do empresário Marcos Valério.

Ao lado de Pizzolato, Vasconcelos é alvo de apuração do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre ilegalidades nos contratos com a DNA.

O procurador que atua no inquérito, José Robalinho Cavalcanti, afirma que usará conclusões do julgamento do mensalão no STF na investigação ainda em curso. "A materialidade do crime está comprovada. Falta no nosso inquérito terminar a investigação sobre se os suspeitos foram coautores do delito."

Segundo o procurador, o banco não colaborou e criou "mil dificuldades" para fornecer documentos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Valério tenta evitar a prisão


O presidente do STF confirma que o empresário pediu o benefício da delação premiada. Ayres Britto descarta qualquer influência no julgamento

A nova manobra de Valério

Ayres Britto confirma que réu tenta a delação premiada, mas frisa que ato não vai interferir no julgamento. Ministros acreditam que o empresário quer ser incluído em programa de proteção para escapar da prisão

Paulo de Tarso Lyra, Amanda Almeida e Juliana Colares

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, afirmou ontem que o pedido de delação premiada feito pelo empresário Marcos Valério não vai interferir no julgamento do processo do mensalão. O ministro confirmou ter recebido um fax com a solicitação apresentada pela defesa do réu, apontado como operador do esquema de compra de apoio parlamentar no primeiro mandato do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Chegou um fax que não posso dizer o conteúdo, porque está sob sigilo, mas é hiperlacônico", destacou Britto.

O ministro disse ter decretado o sigilo do caso e enviado o pedido para o relator do processo, Joaquim Barbosa, a quem caberá apreciar a questão. Questionado se a petição poderá gerar alguma interferência no julgamento, que está em andamento desde o começo de agosto, o presidente do STF negou prontamente. "Em minha opinião, a essa altura, não", frisou, antes de reiterar que caberá ao relator se pronunciar sobre o tema. Dois ministros do STF disseram reservadamente que o pedido pode ser uma estratégia de Valério para ser incluído no serviço de proteção a testemunha e, assim, não ser preso.

Em agosto, o Correio antecipou que a defesa de Marcos Valério pediria ao Supremo que considerasse a "colaboração" do empresário com as investigações. No fax encaminhado à Suprema Corte no fim de setembro, Valério se oferece para ser ouvido em juízo novamente e relata que corre o risco de morrer. Na semana passada, os ministros fixaram uma pena de 40 anos para o empresário, durante o início da fase de dosimetria do julgamento.

Passaportes

Um dos 25 condenados no processo do mensalão, o advogado Rogério Tolentino antecipou-se ao Supremo ao enviar, na segunda-feira, seu passaporte à Corte. Ex-sócio de Marcos Valério, Tolentino aguarda ainda o STF calcular as penas pelos crimes de corrupção ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O documento foi enviado via Sedex, com um ofício no qual o defensor do réu, Paulo Sérgio Silva, afirma ter tomado o conhecimento de que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a apreensão dos passaportes dos condenados na Ação Penal 470.


Ayres Britto observou ontem que a decisão sobre o pedido de apreensão dos passaportes será tomada somente após Joaquim Barbosa retornar de viagem, na semana que vem. O relator do mensalão está em Dusseldorf, na Alemanha, onde passa por tratamento médico — ele sofre de problemas crônicos no quadril.

Interrompido na última quinta-feira, o julgamento do mensalão será retomado somente em 7 de novembro, em exatamente uma semana. Os ministros terão que definir ainda as penas de 24 condenados. A tendência é que a análise do processo se prolongue até o fim de novembro, o que levará o Supremo a concluir o julgamento após a aposentadoria de Carlos Ayres Britto, que deixará o tribunal no próximo dia 18.

O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, não quis comentar o pedido de delação premiada. Ele avisou, porém, que Valério foi o primeiro dos réus no processo do mensalão a entregar o passaporte, em 2005. "Ele tomou a iniciativa de deixar o passaporte à disposição para mostrar que não tinha a intenção de fugir, como de fato não faz. Portanto, esse assunto, para nós, é inócuo."

Absolvidos festejam na Câmara

A cerimônia de comemoração da edição número 5 mil do informativo do PT na Câmara serviu também para o partido fazer um desagravo aos réus do mensalão, confirmar que vai defender os mandatos de João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), e homenagear, ainda que discretamente, os absolvidos Professor Luizinho e Paulo Rocha . Os dois últimos não subiram ao palco montado em frente ao corredor das comissões, mas foram festejados por todos os correligionários. "Sabe como se sente um ex-presidiário? É assim que estou me sentindo", disse ao Correio o ex-deputado Professor Luizinho. Ele negou que tenha se tornado empresário na Bahia de uma companhia de celulose, como veiculado na imprensa. "Você deve ter comprado a empresa com os R$ 20 mil que eles (apontando para a reportagem do Correio) diziam que você tinha pego", reclamou o paranaense Paulo Rocha, bem menos à vontade do que o colega paulista. Na denúncia julgada pelo Supremo Tribunal Federal, Luizinho era acusado de pegar R$ 20 mil do esquema do Valerioduto.

Fonte: Correio Braziliense

A ameaça de pane - Rosângela Bittar


O ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal, tinha um objetivo em mente quando traçou o princípio mestre para sua conduta no processo do mensalão: evitar a pane do julgamento. Tudo reforçava a ameaça, a começar pelo gigantismo do processo de 38 réus, muitas imputações, 600 testemunhas. Só as relações de Marcos Valério davam um livro: ele tinha quatro empresas - DNA, SMP&B, 2S, Grafitti -, se relacionou com Banco do Brasil, Visanet, BMG, Banco Rural, Banco Mercantil de Pernambuco, com o Presidente da Câmara, usou a Guaranhuns como corretora, a Bônus-Banval, a Natimar. Se relacionou com os sócios publicitários e com os políticos. Um processo que tinha como réu o ministro braço direito do presidente da República mais popular da atual geração. Nada parecido havia passado pelo STF, um processo originalíssimo que exigia também originalidade no julgamento e pulso firme.

Um risco imenso, real, por tudo o que cercava e ainda cerca o caso, mais ainda tendo em vista a coincidência de fase conclusiva da tomada de posição no mérito com as eleições municipais. Nada ocorreu, desde o início, que pudesse minorar os temores, ao contrário.

A relutância do revisor do processo em entregar seu voto para que o trabalho não se iniciasse tinha sido um indício sério de pressão sobre ele, agravado com a confirmação de que o pior estava por vir com a revelação pública de pressão direta do ex-presidente Lula sobre ministros amigos para não haver o julgamento. Uma CPI foi criada para pressionar o promotor do caso. Logo na primeira sessão, houve a aprovação do revisor para um assunto já vencido em julgamento anterior, a questão do desmembramento. Em outro momento, entre outros lances espetaculares, a carta da presidente Dilma entrando diretamente na argumentação do voto do relator para contestar o uso de uma frase sua sobre as óbvias dificuldades para aprovação de pacotes, como o do setor elétrico, no Congresso.

Os princípios de Ayres Britto ajudam o STF a ir ao fim

Foi um lampejo ameaçador, que provou o acerto do presidente do Poder Judiciário em munir-se de cuidados para levar a termo a tarefa. Sobre a carta, em que a presidente toma assento metafórico no plenário da Suprema Corte, Britto deu à presidente consideração, ao esfriar os ânimos e afirmar que o relator também não precisava usar aquele exemplo, poderia ter buscado outro. E deixou que cada um dos contendores, presidente da República e relator do processo, se vissem nos próprios espelhos.

Muitos outros, cruciais, surgiram, todos transpostos pelo STF sob o comando de Ayres Britto com cordialidade, em taxas sempre elevadas, e bom senso. As vaias ao ministro revisor, de presença praticamente protagonista, além de voto sempre vencido, os debates às vezes ríspidos, chegando até ao insulto, entre o relator e revisor, temperamentos fortes, nunca ameaçaram, porém, a segurança do julgamento. Só faltava não ter divergência, tensão e calor em um caso como esse.

A previsão de pane era concreta, reforçada também pela atuação da banca de advogados de defesa, corporativos, como é natural, alguns deles responsáveis pelas definições dos crimes e seu tratamento político que esperavam ver acatados pela Corte Suprema, sem sucesso. O STF manteve-se no foco, no rumo, não seguiu pelo caminho que a defesa tentou lhe impor.

O tribunal foi muitas vezes desrespeitado, criticado, insultado, denegrido, mas segurou o tranco, não houve retrocesso. Todos os riscos contornados pelo presidente ajudado, é verdade, pela coesão do plenário em torno da ideia de evitar a pane que seria o retrocesso institucional, a interferência de um poder sobre o outro, a mobilização contra as decisões que resultasse em paralisia do STF.

A definição das penalidades, agora, quando se vai saber se algum dos réus vai para a cadeia, se o Supremo vai cassar o mandato de quem ainda o tem, ou se serão aplicados agravantes e aceitos atenuantes, uma parte subjetiva que sempre provoca contestação, pode manter o clima de tensão. A ser piorado pela campanha que o PT promete mover contra o STF a partir de agora, já sem perigo para o seu resultado eleitoral.

Parte do PT diz que o julgamento influenciou as eleições (onde perdeu), e parte desafia os que mantiveram o julgamento nesse período mostrando que nada influenciou (onde ganhou). Sente-se o partido liberado, de qualquer forma, para levar adiante o revide. Agora já sem Ayres Britto, que aposenta-se dia 18 e passa o cargo ao sucessor, Joaquim Barbosa, dia 22. Barbosa deverá coordenar o fim do julgamento com uma atuação mais suave do que a exibida até aqui, embora a divergência, por óbvia e natural, vá acontecer. A solução é, apesar das diferenças de temperamento, manter o critério e evitar a pane.

Ayres Britto, tal como fez o ex-ministro mineiro Carlos Veloso, vai continuar morando em Brasília. Quando se transferiu de Sergipe, há 10 anos, sua filha mais nova tinha 11 anos, e o filho 13. Tem um neto brasiliense de 3 anos e todos eles adoram Brasília. Manterá a vida acadêmica, intensa, que sempre teve, e a participação em bancas de doutorado de várias universidades, além da literatura e o hábito da meditação, que cultiva há 20 anos. Provavelmente o que mais o ajudou a atravessar a tormenta.

Na sua passagem pelo Supremo, produziu um livro de direito constitucional, "Ciência Quântica do Direito", o seu sexto. Tem um livro de poemas totalmente pronto, o "DNAlma", o sétimo. Vai alimentar a paixão pela leitura. Ayres Britto encerra sua participação no Supremo com intensos dois últimos anos, em que relatou a maioria dos processos de interesse da sociedade: a homoafetividade, a autorização para pesquisas com células-tronco embrionárias, o fim da Lei de Imprensa, a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, a autorização de aborto de anencéfalos (fetos com má formação no cérebro), a confirmação da Lei da Ficha Limpa, a proibição do nepotismo no Judiciário. Além de ter conduzido com firmeza, e sem pane, o julgamento do mensalão.

Fonte: Valor Econômico

Começa o jogo - Merval Pereira


De repente, houve percepção generalizada de que o PSB cresceu e surgiu como um dos mais importantes partícipes do jogo eleitoral. Mas ele já era partido com forte penetração no Nordeste, com seis governadores eleitos, sendo quatro nessa região: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí. O que deu caráter nacional ao PSB nesta eleição municipal foi ter enfrentado e derrotado o PT em capitais como Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.

Mas o PSB elegeu também o maior número de prefeitos de capitais, ampliando sua atuação para o Centro-Oeste (Cuiabá) e o Norte (Porto Velho). O crescimento de mais de 40% na eleição de prefeitos - vencendo em 440 cidades - dá nova dimensão nacional ao partido, que passará a se sentir incomodado dentro do modelo de coalizão governista, um pouco sem espaço para parceiros que tenham planos de voos mais altos. Mais fácil fazer acordos com o PMDB, que tem tamanho, mas não tem unidade para lançar candidato próprio, do que com o PSB, que já tem seu candidato potencial no governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O papel definidor do PSB pode ser exercido já nas próximas eleições presidenciais ou pode ser adiado para 2018, tudo dependendo das condições objetivas que encontrar pela frente.

As eleições municipais têm mais a ver com a composição futura do Congresso Nacional e também com a eleição de governadores do que propriamente com a próxima disputa presidencial. No entanto, a maneira como os partidos espraiam seu poder político pelo país afora é parte fundamental da logística a ser montada para 2014.

Para efeitos práticos, o que importa é a fotografia do momento, e é certo que o PMDB, com 1.026 prefeituras (168 a menos que em 2008), e PT, com 635 (91 a mais), os dois partidos que estão no poder, governarão quase 1/3 dos municípios brasileiros, o que dá à campanha de reeleição da presidente Dilma forte plataforma para eleger bancadas no próximo Congresso. A base governista tem tudo para manter o controle político no Senado e na Câmara, acrescida do PSD, que surge nesta eleição como a quarta legenda a eleger mais prefeitos, nada menos que 496 nesta sua primeira eleição.

Se somarmos a essas as prefeituras de PP (468), PDT (312) e outros partidos menos votados, teremos um quadro amplamente favorável à campanha de reeleição. Mas acontece que também a oposição manteve uma boa base eleitoral pelo país, melhorando sua posição no Norte e no Nordeste, onde o domínio do governismo era avassalador.

Com as vitórias em Manaus e Belém, no Norte, e Maceió e Teresina, no Nordeste, o PSDB fincou os pés nas regiões, onde tem os governadores de Alagoas, Roraima e Tocantins. A eleição de Arthur Virgílio em Manaus, numa revanche pessoal, depois de ter sido derrotado por Lula na eleição para o Senado em 2010, coloca-o em posição proeminente novamente no PSDB, de que já foi secretário-geral e líder no Senado. O fato de Virgilio ter uma imagem nacional - foi também ministro no governo Fernando Henrique - dá-lhe condições de interferir nas decisões estratégicas do partido, e ele sem dúvida voltará a ser um dos principais líderes oposicionistas.

No total de prefeituras, o PSDB continua sendo o segundo partido, com 702, mesmo fora do governo há dez anos. Somadas às 278 prefeituras do DEM e 123 do PPS, a oposição tem uma boa base municipal para as futuras disputas.

O que pode desequilibrar a disputa é a decisão que o PSB de Eduardo Campos venha a tomar quanto a 2014. No primeiro momento, a tentativa será de acomodação dentro da aliança governista, até porque as definições para a disputa presidencial só ocorrerão a partir do fim de 2013. Uma aliança entre o PSB e o PSDB de Aécio Neves formaria chapa com força nas principais regiões, mas difícil será um dos dois abrir mão da cabeça de chapa.

Uma aliança hipotética no segundo turno é previsível caso Campos decida investir mesmo na carreira solo em 2014. O senador Aécio Neves pretende concorrer mesmo que a presidente Dilma continue com sua popularidade alta como hoje, sem grande abalos econômicos a enfrentar. Estaria semeando uma colheita para quatro anos depois.

Resta saber se o governador Eduardo Campos se resignará a disputar espaço com o PT e o PMDB por mais quatro anos, na esperança vã de vir a ser o candidato da coligação em 2018.

Fonte: O Globo

Eleições e futurologia - Fernando Rodrigues


O mais divertido das eleições são os vaticínios peremptórios sobre seus efeitos futuros. Há vários e para todos os gostos.

O PT está predestinado a ganhar o governo de São Paulo em 2014. O PSDB afundou-se em crise irreversível. Eduardo Campos será candidato a presidente em 2014 ou 2018, pois o PSB é um dos grandes vencedores neste ano. O DEM está no fim, mesmo com a conquista de ACM Neto em Salvador. E Gilberto Kassab e seu PSD serão eternamente governistas.

Tudo isso pode estar certo. Ou não. Ninguém sabe. Não existe um algoritmo capaz de processar o resultado eleitoral e calcular com precisão o que ocorrerá daqui a dois anos.

O que há são dados objetivos do presente. Desde o final da ditadura militar, nunca um presidente da República viu durante seu mandato alguém do seu partido ser eleito prefeito de São Paulo. Dilma é uma exceção: ela e Fernando Haddad são do PT. Mas qual é o significado dessa curiosidade? Saberemos no futuro.

No final de 1987, só um maluco diria que dois anos depois Fernando Collor seria o primeiro presidente da República eleito pelo voto direto na nova fase democrática do país.

Em 1993, Fernando Henrique Cardoso fazia as contas sobre como se eleger deputado federal em 1994.

Em março de 1994, Luiz Inácio Lula da Silva liderava todas as pesquisas de opinião. Estava quase eleito presidente. No meio do ano, veio o Plano Real. FHC venceu em outubro.

No ano 2000, o PT analisava nomes para lançar a presidente em 2002. Lula estava desgastado. José Genoino e Cristovam Buarque eram as possibilidades mais citadas. Em 2008, Dilma era apenas uma aposta excêntrica de Lula para sucedê-lo.

É claro que as urnas em 2012 produziram vencedores e perdedores. Lula, o PT e o PSB saíram bem na foto. Todos os outros, com algumas variações, enfrentaram derrotas.

Mas nada garante que daqui a dois anos o cenário se repita. Ou não.

Fonte: Folha de S. Paulo

Pauliceia desnorteada - Dora Kramer


A gênese da candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo é de alguma forma síntese das tormentosas bifurcações que assolam o PSDB. Serra foi candidato por insistência do partido que lhe negara a presidência do instituto nacional de estudos (Teotônio Vilela) no ano anterior e na prévia municipal deu-lhe o aval de candidato com pouco mais da metade dos votos (52%).

Em miúdos, o partido queria, mas não queria muito. Houve quem enxergasse na candidatura a prefeito uma oportunidade de tirar Serra definitivamente da disputa de 2014 – projeto por ele acalentado, embora não necessariamente para presidente –, houve quem preferisse apostar na escolha de um dos quatro candidatos à prévia, mais ou menos equivalentes no tocante à baixa densidade na largada.

Seria uma solução semelhante à encontrada por Lula para o PT com Fernando Haddad que, na análise corrente hoje entre tucanos, se resultasse em derrota ao menos poderia ser menos traumática que a perda para um novato. Prevaleceu a opinião da cúpula, Serra incluído, que quis evitar a adesão do prefeito Gilberto Kassab ao PT. Assim foi feito e aquele que motivou a candidatura revelou-se em boa medida a razão de seu fracasso.

Não se pode atribuir todo o infortúnio a Kassab. Seria retirar do PSDB suas responsabilidades. Primeiro, deu a vitória como certa e depois considerou secundárias as dificuldades.

Não enfrentou a questão da renúncia de Serra nem soube separar as duas fases da gestão de Kassab, uma como herdeiro, outra como prefeito eleito.

Houve alertas internos nesse sentido? Houve, mas caíram no buraco negro das dissensões, teimosias, animosidades, autofagia, corpo mole e tudo o mais que agora desautoriza as reclamações do departamento de engenharia de obra feita. Se houvesse unidade, comando e tirocínio no partido, o efeito deletério não teria encontrado terreno fértil.

Tudo começa com a cizânia decorrente da candidatura em 2008, depois da interinidade herdada como vice de Serra na chapa vitoriosa quatro anos antes. Muito bem avaliado no mandato-tampão, Kassab ganhou, impôs uma derrota a Geraldo Alckmin que sequer foi ao segundo turno, mas aprofundou a divisão do PSDB e criou enormes arestas.

Depois dos primeiros seis meses na posse de um mandato de fato e direito, desmontou a equipe anterior e começou a dilapidar o patrimônio que amealhara com uma administração considerada desastrosa.

Ao mesmo tempo, na política se aproximou do governo federal tendo como instrumento a criação de um partido (PSD) para prestação de serviços a todas as forças detentoras de poder municipal ou estadual com o objetivo primeiro de ampliar e consolidar seu espaço em São Paulo. Na eleição, desistiu do PT por alegado compromisso de "lealdade" para com José Serra. Fidelidade que não esperou esfriarem as urnas: a vitória de Fernando Haddad não tinha completado 15 minutos quando Kassab ofereceu sua tropa na Câmara Municipal para dar-lhe "apoio incondicional". Irrestrito, pois.

Junte-se a isso um ministério, mais uma bancada de 47 deputados federais com boa perspectiva de ampliação em 2014 devido à conquista de 497 prefeituras e está feita a receita de Gilberto Kassab para derrubar o PSDB e tornar-se a segunda força política em São Paulo, de braços dados com o PT.

Movimenta-se para fazer com os tucanos de São Paulo o que fez com o DEM no plano nacional no momento em que o partido passava igualmente por uma crise de carência de comando e abundância de discórdia interna.

E o que diz o PSDB enquanto é sorvido ao molde de um mingau, pelas beiradas? À falta de porta-voz autorizado, olha para a cena desorientado, sem saber como dar uma meia volta volver nessa marcha cujo ritmo delineia a perda da principal trincheira em 2014.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Uma vinheta da eleição paulistana - Elio Gaspari


Em agosto, quando o candidato Fernando Haddad prometeu a criação de um Bilhete Único Mensal, pelo qual o cidadão poderia comprar um passe livre para os ônibus municipais, a marquetagem tucana acusou-o de propor uma taxa, um "bilhete mensaleiro".

Dividia-se o eleitorado em dois grupos. Um, que já foi a Londres, Nova York ou Paris e sabia que esse tipo de bilhete com um desconto não é uma taxa, pois ninguém é obrigado a comprá-lo. Noutro grupo, estava a população que usa os ônibus. Para ela, bastava fazer a conta: se o novo bilhete custar R$ 150 e o cidadão fizer duas viagens por dia, a tarifa de R$ 3 cai para R$ 2,50.

Com o início da propaganda eleitoral gratuita, Haddad tinha 16% nas pesquisas, bem atrás dos 35% de Celso Russomanno, que sobrevivia ao raquitismo de seu tempo de exposição e de uma ofensiva de parte da hierarquia católica. Uma semana antes da eleição, o "fenômeno Russomanno" começou a evaporar. Na véspera, tinha 27% das preferências. Abertas as urnas, ficou com 22%, fora do segundo turno. O que houve? No final de setembro, Russomanno prometera a cobrança de tarifas diferenciadas nas viagens de ônibus. Simples assim: quem anda muito pagaria mais, como quem viaja muito é o trabalhador, lá vinha tunga. Até hoje a explicação mais convincente para a implosão de Russomanno está na migração dos eleitores mais pobres. Perceberam o perigo e saltaram.

O tucanato, que condenara o Bilhete Único Mensal, acordou e, no segundo turno, correu atrás, propondo a extensão da sua validade. Desde 2004, quando a prefeita Marta Suplicy foi a primeira a instituir essa modalidade de tarifa numa grande cidade brasileira, governantes e candidatos do PSDB olham para a iniciativa com cara feia. Primeiro, porque criticavam-na nos seus aspectos técnicos. Depois, porque ela parecia coisa do adversário. Acordaram com oito anos de atraso.

É uma exagerada temeridade atribuir o resultado eleitoral de São Paulo ao item do Bilhete Único, mas certamente ele foi um dos ingredientes do naufrágio, pela percepção oferecida ao eleitorado. No primeiro turno uma parte dele saltou de Russomanno porque o doutor queria cobrar mais caro pelas tarifas de quem fica duas horas no ônibus para chegar ao trabalho. Não se deve esquecer que os transportecas da prefeitura defenderam a instituição do pedágio urbano para veículos sobre pneus numa cidade em que a municipalidade nada cobra pelos pousos de helicópteros. Com uma cabeça dessas, um candidato tucano poderá ganhar a eleição em Fort Worth, no Texas, pois lá está a fábrica das aeronaves Bell.

A renovação de que o PSDB precisa e que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vocalizou é de nomes, mas, sobretudo, de ideias. Não só de propostas novas, mas sobretudo de uma faxina nas velhas, demofóbicas. Os candidatos do PSDB deveriam ser obrigados a usar a rede de ônibus todos os dias, durante pelo menos uma semana. A experiência valeria mais que sete seminários com ex-ministros tucanos reapresentando ideias de um governo que acabou em 2002. Algo como barões do Império amaldiçoando a República em 1899, durante o governo Campos Salles.

Fonte: O Globo

Serra diz a tucanos que renovação é coisa do PT


Por telefone e e-mail, candidato derrotado do PSDB procurou aliados e reclamou de declarações públicas em defesa de novos quadros partidários

Bruno Boghossian, Julia Duailibi

O candidato derrotado do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, procurou integrantes do seu partido para reclamar da tese da renovação que passou a ser defendida por parte dos tucanos, na esteira do resultado das urnas.

Anteontem, um dia depois da derrota, Serra telefonou e enviou e-mails para ex-integrantes de sua campanha e aliados no PSDB paulista. Afirmou que a defesa da renovação era um tema que interessava apenas ao PT e reclamou das declarações feitas pelos integrantes do partido que defenderam publicamente mudanças no quadro partidário.

Segundo o Estado apurou, Serra disse que o PSDB estava se submetendo a uma estratégia dos petistas e que as declarações de defesa dessa tese eram uma traição à sua candidatura.

O tucano argumenta que entrou na disputa municipal depois de ser pressionado pelo partido, alegando que ele seria o melhor quadro para vencer o PT - a decisão também serviu a Serra, que, naquela ocasião, enfrentava certo isolamento partidário.

Serra também fez críticas duras a declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, antes mesmo do fim da votação, afirmou que "a renovação é necessária sempre e o Brasil está mostrando isso mais uma vez".

"O Serra é mais jovem do que eu e ainda tem a possibilidade de continuar a sua carreira, mas o partido, no geral, precisa de renovação. O momento é de mudança de gerações. Isso não quer dizer que os antigos líderes vão desaparecer. Eles têm apenas que empurrar os novos para a frente", disse o ex-presidente, no domingo.

A tese da renovação passou a ser defendida por políticos do PT e do PSDB após a vitória em São Paulo de Fernando Haddad (PT), cuja candidatura foi uma operação deflagrada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula acreditava que, para ganhar na capital paulista, o partido deveria apresentar um nome novo e que tivesse maior inserção na classe média - desde 2000, o PT tinha como candidata em São Paulo a ministra Marta Suplicy (PT). No PSDB, desde 1996, Serra e o governador Geraldo Alckmin se revezam como candidatos a prefeito.

Outros fatores. Na avaliação que o candidato derrotado do PSDB fez a seus aliados, a derrota não se deu por uma questão de idade, mas sim por fatores que passariam pela má avaliação da gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e por sua renúncia ao mandato de prefeito em 2006, um ano e três meses depois de assumir o cargo, para disputar o governo do Estado.

Serra procurou seus principais aliados para debater a questão. Vários deles passaram, então, a criticar o discurso da renovação. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) criticou a tese da "novidade" anteontem.

"Muitos daqueles que hoje falam "ah, o novo" imploraram para José Serra ser candidato a prefeito de São Paulo", disse Aloysio, na tribuna do Senado.

O ex-governador Alberto Goldman diz que o partido não deve mirar a idade para escolher seus quadros. "Dizem que a renovação é a escolha de pessoas jovens, mas isso é bobagem", afirmou o tucano.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PT reclama de Dilma e teme fogo amigo do PSB em 2014


Senadores petistas queriam presença maior da presidente nas campanhas municipais

Fernanda Krakovics

BRASÍLIA - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, se reuniu ontem com os senadores do partido, e um dos assuntos dominantes foi a preocupação com a movimentação do PSB nas eleições municipais e a avaliação de que o maior adversário da presidente Dilma Rousseff, em 2014, sairá da própria base aliada, provavelmente o governador socialista Eduardo Campos (PE). Diante desse cenário, passaram a avaliar a atuação da presidente Dilma, com uma conclusão negativa sobre sua participação na campanha e reclamaram de sua pouca disposição.

No encontro com Falcão - que também participou ontem da comemoração da 5.000ª edição do jornal da liderança do PT na Câmara -, os petistas disseram que Dilma não faz política e que, até por conta disso, a população não a identifica com o PT. Os senadores mostraram insatisfação com o fato de ela ter uma tímida agenda presidencial de visitas aos estados.

- Na campanha, a gente até compreende, mas queríamos que ela pudesse ter uma agenda de visitas aos estados. Todos os estados têm coisas para inaugurar: projetos habitacionais, de energia, expansão de universidades - afirmou um participante da reunião.

Falcão ouviu as queixas, mas não pode prometer nada em nome da presidente. Mas deu algumas sinalizações sobre decisões futuras. Segundo os senadores, disse que a ministra Gleisi Hoffman (Casa Civil), disposta a disputar o governo do Paraná, deve deixar a pasta na minirreforma ministerial, talvez já na virada do ano:

- Se ela é candidata em 2014, vai esperar 2014 para trocar a Casa Civil? - disse Falcão, segundo petistas.

Gleisi está cotada para assumir a liderança do governo no Senado. Dilma deve trocar os ocupantes das três lideranças: o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM); o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP); e o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE). A saída política para essas trocas será a lembrança de que, ao nomeá-los, a presidente deixara claro que haveria um rodízio nos cargos.

No caso de Chinaglia, ele próprio manifestou o desejo de sair. Em conversas com deputados, o petista diz que uma coisa é ser líder do governo Lula, e só dizer sim para os pedidos; outra bem diferente seria ser líder do governo Dilma, tendo que se indispor com os colegas o tempo todo. Um dos nomes cotados para substitui-lo é o do deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

Quanto a Pimentel, a avaliação no Palácio do Planalto é que ele foi mal nas negociações para a votação do Orçamento da União, no final do ano passado, e da Lei de Diretrizes Orçamentárias, neste ano. Já Braga é considerado truculento nas negociações com o Senado.

Os petistas perderam as prefeituras de Recife e Fortaleza para o PSB e viram seu aliado nacional se aproximar do senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à Presidência da República. O partido acompanha com preocupação os movimentos do presidente do PSB, Eduardo Campos, que também tem pretensão de disputar a Presidência da República.

- Temos que descer do palanque e nos reaproximar dos aliados -disse o senador Jorge Viana (PT-AC).

Nota de apoio a mensaleiros

Na esteira da vitória em São Paulo, os petistas avaliaram que o julgamento do mensalão não influenciou tanto o eleitorado. Eles pretendem divulgar uma nota, no final do julgamento, defendendo os integrantes do partido que foram condenados.

O PT tem reunião marcada para 9 de dezembro, quando pretende traçar um calendário para o próximo ano. A ideia é definir, já em 2013, os locais onde o partido terá candidaturas próprias em 2014 e onde apoiará nomes de aliados.

Fonte: O Globo

Aproximação de ACM Neto com Michel Temer irrita a presidente


Prefeito eleito de Salvador nega possível fusão dos partidos

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - As declarações do prefeito eleito de Salvador, ACM Neto, de que o vice-presidente Michel Temer seria seu principal interlocutor junto ao governo federal, irritaram a presidente Dilma Rousseff. Deputado do DEM, Neto derrotou justamente a tese pregada por seu adversário, Nelson Pelegrino (PT), de que era necessário Salvador ter um prefeito alinhado ao governo federal. Para tentar eleger o candidato petista, Dilma e Lula foram à capital baiana e fizeram duros discursos contra Neto.

A avaliação no Planalto é que ao eleger Temer como interlocutor prioritário, Neto vai contra a premissa institucional básica de que o prefeito deve debater políticas públicas com a presidente. Segundo um interlocutor de Dilma, Temer jamais conversou com ela a respeito de Salvador.

Aliados de Temer avaliam, porém, que o vice pouco poderá fazer se a presidente ficar contra o auxílio a Salvador - o que Dilma tem dito que não fará em relação a nenhum prefeito ou governador.

Neto voltou ontem à Câmara dos Deputados, onde é líder do DEM, e foi recebido com festa e muita comemoração dos funcionários e companheiros de partido. Para minimizar o problema e não criar problemas com o Palácio do Planalto, antes de assumir a prefeitura, minimizou a crise:

- Vou procurá-la (Dilma), quero fazer a interlocução diretamente com ela - afirmou ao chegar ao Congresso.

Temer tem um álibi para se aproximar de Neto que, como líder do DEM, fazia oposição intensa ao governo. Segundo aliados, o objetivo de Temer é se aproximar de Neto para reerguer o debate sobre a fusão do PMDB com o DEM.

Apesar de os peemedebistas considerarem que seriam um porto seguro para os integrantes do DEM, as dificuldades para a tese da fusão prosperar são imensas. As principais lideranças do DEM, que detêm o controle da legenda, são de estados onde o PMDB também têm quadros fortes, como Rio Grande do Norte, Bahia, Goiás e Rio de Janeiro.

O ponto mais difícil é decidir quem comandaria o partido em cada um dos estados. Segundo parlamentares, ninguém aceitaria perder a primazia do comando partidário em sua região. O próprio Neto descartou essa possibilidade:

- Pelo amor de Deus, discutir fusão? Você é louco. Só se for confusão.

Fonte: O Globo

Dilma prepara mudança pós-eleitoral

Presidente marca para terça-feira reunião em que acertará com Temer, pelo PMDB, e Rui Falcão, pelo PT, os ajustes nos ministérios

Tânia Monteiro

A necessidade de ajustes na divisão de espaço na Esplanada dos Ministérios entre a base de sustentação do governo, após as eleições, começa a ser discutida na próxima terça-feira, em uma reunião no Palácio da Alvorada. O convite foi feito pela própria presidente Dilma Rousseff ao vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB, e ao presidente do PT, Rui Falcão, que representam os dois maiores partidos da base.

Com o resultado do 2.º turno das eleições municipais, foi deflagrada a temporada de disputas por cargos em Brasília e a presidente Dilma sabe que precisará acomodar Gabriel Chalita, do PMDB, em uma pasta, e o PSD, de Gilberto Kassab, em outra. Mas a ideia da presidente, neste momento, é fazer o mínimo de movimentos e, talvez ainda em novembro, atender às demandas e evitar que as disputas contaminem votações importantes no Congresso.

Na segunda-feira, Dilma fez com Temer um balanço sobre as eleições. Ela está convencida de que o apoio de Gabriel Chalita no 2.º turno a Fernando Haddad foi "relevante" para assegurar a vitória ao PT e desbancar os tucanos da maior cidade do País. Os dois reconheceram que "a relação nunca foi tão estreita" entre PT e PMDB e comprovaram isso com o alto número de votos obtidos pelo PT e o grande número de prefeituras conquistadas pelo PMDB.

Nas primeiras negociações da terça-feira estarão presentes cinco integrantes de cada partido. No Planalto, há divergências sobre o timing destas modificações no primeiro escalão. Há quem ache melhor esperar a eleição das presidências e mesas da Câmara e do Senado, embora já exista acerto de que ambas serão comandadas pelo PMDB. Mas, na avaliação de outros, esperar até fevereiro não é o estilo da presidente. A ideia, então, seria fazer coisas pontuais, e mais rápidas, que poderiam ser concluídas no mês de dezembro.

No caso de Chalita, a opção mais cogitada, no momento, seria acomodá-lo no Ministério da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp. Mas o PMDB está sempre de olho também no Ministério das Cidades, pelo polpudo orçamento que administra, embora a presidente Dilma não tenha manifestado, em nenhum momento, desejo de tirar daquele posto Agnaldo Ribeiro, do PP. O PSD, por sua vez, também está em busca de um espaço na Esplanada dos Ministérios e considera Cidades a pasta "dos sonhos".

Integrantes do PSD, no entanto, lembram ainda que também gostariam do Ministério dos Transportes. O PSD não demonstrou entusiasmo em relação ao Ministério das Micro e Pequenas Empresas, sob a alegação de que já tem muita influência no Sebrae, além de a Pasta ainda estar em gestação no Congresso.

O fato é que o próprio Gilberto Kassab é que decidirá qual será o indicado para a Esplanada, representando o partido - e o nome do atual prefeito paulistano é o único que é unânime na legenda, que ainda discute sua fusão com o PP. Outros nomes possíveis para estrear o partido no governo federal seriam Guilherme Afif Domingos, Paulo Safady Simão e Kátia Abreu. Os dois últimos são próximos da presidente mas certamente enfrentariam problemas internos. O líder Guilherme Campos também é outro nome lembrado.

De qualquer forma, em todas as mudanças realizadas até agora a presidente da República já deixou claro que, mesmo que suas decisões desagradem a alas dos partidos, é ela quem escolhe os nomes e decide a hora.

Fonte: O Estado de S. Paulo