terça-feira, 19 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Josias de Souza: ‘o Brasil mudou’

Testemunha ocular da reunião em que Lula e Fernando Haddad confraternizaram-se com Paulo Maluf, o companheiro Rui Falcão, presidente do PT federal, explicou a aliança com o impensável com uma frase inacreditável. Disse que mudou o país, não o PT. Heimm?!?

“Há 12 anos, éramos rivais e hoje somos aliados. O Brasil mudou. Mudou o eleitorado e mudaram os partidos que resolveram apoiar nosso projeto nacional, como é o caso do PP.” Hã, hã…

O Brasil, de fato, mudou muito desde o tempo em que cachoeira era apenas uma queda d’água. Hoje, sabe-se que Demóstenes era apenas a moral que ainda não descobrira os encantos da contravenção. Do mesmo modo, o PT era apenas a ética que ainda não chegara à chave do cofre. Com o passar dos anos, todos mudam. E alguns nem deixam o endereço.

Josias de Souza, jornalista, Blog do Josias, 18/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Aliança com Maluf abre crise em campanha do PT
Enquanto isso, na Câmara...
Natureza (humana) em fúria
TRE considera Jorge Roberto inelegível em Niterói

FOLHA DE S. PAULO
PT faz aliança com Maluf, e Erundina ameaça sair
Justiça valida grampos da PF do caso Cachoeira
Dilma prepara terreno para ações protecionistas

O ESTADO DE S. PAULO
Erundina: "Não vou aceitar"
EUA eram contra Rio+20, revela telegrama
Desmate fora da Amazônia
Justiça diz que são legais provas contra Cachoeira

VALOR ECONÔMICO
União investirá R$ 13 bi em novas ferrovias no Sul
Prioridade do novo Cade é coibir cartéis
Brasil recebe críticas por 'falta de ambição'
Brics terão fundo virtual de reservas
Saúde atrai múltis para equipamentos
A vez do Brasil

CORREIO BRAZILIENSE
Comissão vai apurar tortura Dilma em Minas
Bafômetro: será pior se não soprar
Grampos contra Cachoeira foram dentro da lei
PT se une a Maluf e abre crise com Erundina

ESTADO DE MINAS
Enfim, a busca da verdade
Mobilização pelos royalties do minério
Provas legais: Notícias ruins para Cachoeira e Demóstenes

ZERO HORA (RS)
Aliança em SP: Apoio de Maluf abala candidatura

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Erundina não aceita união Haddad/Maluf
Rio+20 busca equilíbrio para texto final

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Aliança com Maluf abre crise em campanha do PT

Erundina, recém-anunciada vice de Haddad em SP, diz não aceitar coligação

Suspensa do PT em 1993 por aceitar um ministério do governo Itamar Franco, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, atualmente no PSB, disse ontem que não admite mais ser vice de Fernando Haddad, após a formalização da aliança com Paulo Maluf (PP). Ela classificou como constrangedora a união com tudo o que rejeita na política e disse que o deputado representa "o atraso e a falta de ética". Petistas, perplexos, tentam mudar a decisão. Maluf, que não pode deixar o Brasil por uma ordem de captura da Interpol, fez o anúncio da união em sua própria casa, com a presença do ex-presidente Lula.

Com Maluf, Erundina sai

Recém-confirmada como vice de Haddad à prefeitura de São Paulo, deputada repudia aliança

Sérgio Roxo

SÃO PAULO - Descontente com a união selada ontem em uma visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à casa de Paulo Maluf (PP), a deputada federal Luiza Erundina (PSB) disse ontem que, com a aliança, não aceita mais o posto de vice na candidatura do petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo.

- Vou conversar com o meu partido. Meu partido tem outros nomes, não tem problema nenhum. Mas eu não aceito - afirmou ao GLOBO, na tarde de ontem.

A declaração deixou os petistas perplexos. A coordenação da campanha de Haddad se reuniu para discutir o assunto e decidiu procurar a deputada para tentar reverter a situação. O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, que articulou a adesão de Erundina à chapa, disse, por meio de sua assessoria, que não daria entrevistas até se reunir com a direção do partido e com a deputada, o que deve acontecer hoje. Amaral, no entanto, frisou que "a vaga de vice de Haddad é do PSB", o que dá a entender que, com a desistência de Erundina, o partido nomearia outra pessoa à chapa do petista.

O episódio acrescenta mais um conflito à conturbada relação de Erundina com o PT. Fundadora e primeira prefeita do partido em São Paulo (1989-1992), ela deixou a legenda em 1997 para se filiar ao PSB. O desgaste teve início em 1993, quando a hoje deputada foi suspensa por um ano por aceitar o convite do então presidente Itamar Franco para assumir o Ministério da Administração Federal.

Para Erundina, a aliança do PT com o PP é "constrangedora". Ela e Maluf se enfrentaram na eleição da prefeitura de 1988, vencida pela socialista:

- Não é a pessoa do Maluf, é o que ele representa na História política deste país. No momento em que se está buscando a verdade sobre os crimes da ditadura, está se celebrando um acordo com alguém que foi um dos protagonistas e sustentáculo da ditadura militar. Fica tudo muito esquisito.

A deputada acrescentou que Maluf representa "o atraso e a falta de ética":

- Tudo que eu rejeito na política e que a sociedade também não aceita.

Oposição de militantes

Na avaliação de Erundina, Haddad não conseguirá implantar as mudanças que promete na cidade se estiver ao lado do líder do PP. O tempo de TV ganho com a aliança, que fará com que o PT tenha a maior fatia do horário eleitoral gratuito (mais de sete minutos), não vale o desgaste, segundo a socialista:

- Não acho que um minuto e 30 segundos justifiquem que se passe para a sociedade uma atitude contraditória do ponto de vista de quem quer fazer um governo que seja renovador, que seja criativo, que seja democrático. Não vai fazer isso junto com alguém que é o oposto disso.

A deputada diz ainda que a forma como o acordo foi selado também contribuiu para aumentar a sua rejeição:

- A presença dos três (Maluf, Lula e Haddad) na casa do Maluf é uma coisa muito simbólica, representativa.

Erundina não sabe quando vai conversar com o partido nem estabelece um prazo para decidir o seu futuro. Ela faz questão de destacar que a sua posição não é individual. Conta ter se reunido, no final de semana, com cerca de 200 pessoas, "entre militantes do PT e do PSB, intelectuais e lideranças da sociedade", que se opuseram à aliança.

Na noite de domingo, ela conta ter relatado a Haddad o que ouviu :

- Ele (Haddad) estava sabendo da minha insatisfação em nome de, no mínimo, 200 pessoas.

Haddad disse que conversará com Erundina:

- Tenho o maior apreço por Erundina. Vou conversar com ela sob as perspectivas que foram colocadas agora. Não fazemos alianças com pessoas mas com partidos da base do governo Dilma.

Colaborou Mariana Timóteo da Costa

FONTE: O GLOBO

Lula vai à casa do adversário histórico

Por Haddad, ex-presidente faz visita pública a Maluf; exigência teria sido do deputado

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. Para garantir que o seu ex-ministro da Educação Fernando Haddad tenha o maior tempo no programa eleitoral de TV da eleição de São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pela primeira vez na vida à casa do deputado federal Paulo Maluf, adversário histórico do PT, no começo da tarde de ontem.

Lula ficou cerca de 30 minutos no local e saiu sem dar entrevista. De acordo com petistas, a presença do ex-presidente na casa de Maluf foi uma exigência imposta pelo deputado federal para fechar a aliança.

Deputado é procurado pela Interpol por desvio de dinheiro

Depois de uma breve conversa na parte interna da casa, os portões foram abertos para que os fotógrafos registrassem os cumprimentos na saída, com a presença de Haddad.

- Queria agradecer a presença do presidente, que apesar das recomendações médicas de não falar, compareceu à minha casa - disse Maluf, que não pode deixar o país porque é procurado pela Interpol por suposto envio de US$ 11,6 milhões para conta bancária nos Estados Unidos.

A informação de que a visita de ontem foi a primeira de Lula à casa de Maluf foi passada pela assessoria do próprio deputado. O Instituto Lula não confirmou.

Maluf negou que o apoio seja contrapartida pela nomeação, publicada na última sexta-feira, no Diário Oficial da União, de Osvaldo Garcia, que seria ligado ao deputado, para a secretaria de saneamento ambiental do Ministério das Cidades.

- Não conheço (Garcia). Parece que é do Paraná.

O deputado federal, que é presidente estadual do PP, não quis dizer os motivos que o levaram a desistir de negociar a aliança com o tucano José Serra.

- Haddad é o nosso candidato porque eu amo São Paulo. E por amor a São Paulo eu tenho plena convicção de que São Paulo vai precisar do governo federal para resolver seus problemas.

Questionado sobre as restrições feitas por Luiza Erundina, vice na chapa do petista, na aliança, o deputado elogiou a gestão dela na prefeitura. Também afirmou que no mundo atual "não existe mais esquerda e direita".

Projeto político nacional já conta com apoio do PP

Maluf se colocou à disposição para aparecer na propaganda eleitoral do petista na televisão, mas Haddad afirmou que a participação do líder do PP na propaganda ainda será avaliada, e disse ser "normal partidos que têm diferença" fazerem uma aliança pela cidade.

Para a candidato do PT, a aliança se justifica porque os dois partidos estão unidos no governo federal.

- Hoje temos um projeto político no país que está dando certo, que pelo terceiro mandato conta com o apoio do Partido Progressista. O PP coordena o Ministério das Cidades. Nós temos que olhar o que é melhor para a cidade.

Questionado sobre a gestão de Maluf como prefeito (1993-1996), Haddad respondeu:

- Nunca neguei a ele que sempre estivemos em campos opostos no passado. A divergência é natural na política.

FONTE: O GLOBO

Mensalão: defesa de réus fez petição a STF

Documento foi elaborado após reunião de advogados no escritório de Márcio Thomaz Bastos para traçar estratégia conjunta

Gustavo Uribe

SÃO PAULO. Às vésperas da análise do processo do mensalão, os advogados de réus do escândalo político se reuniram para trocar impressões sobre o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e discutir alternativas para garantir a atuação da defesa no episódio. O encontro foi promovido em maio, no escritório do advogado criminalista e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, e teve a participação de pelo menos seis advogados, entre eles José Luiz de Oliveira Lima e o também ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. Na reunião, foi avaliada a possibilidade de a Suprema Corte sofrer pressões externas em decorrência do julgamento do escândalo, e ficou acertada a entrega de petição ao presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, para assegurar que não seja violado o Código de Processo Penal durante o julgamento do mensalão.

No documento, que já foi entregue ao Supremo, os advogados defenderam a necessidade de o Tribunal dar mostras de que "não se curva a pressões" e se mostraram preocupados com a "inaudita onda de pressões deflagradas contra a mais alta Corte brasileira". As defesas dos réus do mensalão pediram que as sessões do julgamento sejam realizadas em, no máximo, dois dias por semana e pregaram que cada sessão tenha apenas três sustentações orais dos advogados de defesa. Márcio Thomaz Bastos, que esteve à frente do Ministério da Justiça entre 2003-2007, é advogado de defesa do ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado.

- O encontro foi uma maneira de registrar, em nome da defesa, que o julgamento garantisse a nossa atuação de maneira ampla, que não se atropelasse o regimento interno do Supremo Tribunal Federal. Foi apenas nesse sentido que a defesa registrou uma posição. Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias levaram essas colocações ao ministro Carlos Ayres Britto - relatou o advogado criminalista José Luiz de Oliveira Lima, advogado do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.

O cronograma do julgamento, aprovado pelo Supremo Tribunal Federal, estabeleceu que, até 14 de agosto, haverá sessões diárias de cinco horas e, a partir de 15 de agosto, serão promovidas sessões três vezes por semana. O advogado criminalista José Carlos Dias, que defende a ex-diretora do Banco Rural Kátia Rabelo, afirmou que o encontro teve como objetivo trocar impressões sobre o julgamento e negou que as defesas discutam uma estratégia em comum.

- Nós trocamos ideias sobre o caso, para saber qual a perspectiva, o que é comum acontecer. Isso foi apenas em uma única oportunidade. Nós assinamos uma petição em conjunto - afirmou.

FONTE: O GLOBO

PSDB vê desvio de repasses federais à Delta

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Cruzamento de informações dos documentos de operações da Polícia Federal de posse da Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira revela que, de uma amostra de quase R$ 800 milhões repassados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) à empresa Delta, em um ano (de maio de 2010 a abril de 2011), quase R$ 30 milhões foram destinados à conta da empresa Alberto & Pantoja e, de lá, foram repassados a contas de pessoas ligadas ao esquema.

A afirmação foi feita ontem, em discurso no plenário, pelo líder do PSDB, Alvaro Dias (PR). "Dinheiro público irrigando a conta dos criminosos, do esquema Cachoeira. Aí está a relação de promiscuidade do governo federal com a empresa Delta e Cachoeira. Portanto, é a justificativa para a convocação já do Fernando Cavendish [dono da Delta] e do Luiz Antônio Pagot [ex-diretor do Dnit], para esclarecer essa relação de promiscuidade conferida nesses dados, que são sigilosos, mas foram revelados porque o Supremo Tribunal Federal (STF) nos autorizou", afirmou Dias.

Da tribuna, o tucano mostrou um gráfico para ilustrar a relação entre governo federal, Delta, Alberto & Pantoja, empresas laranjas, e, por fim, familiares e integrantes do esquema de Cachoeira. O processo começa com a Delta ganhando licitações com preços baixos. O segundo passo é a empresa apresentar sucessivos aditivos, por meio de tráfico de influência de Cachoeira, que o líder do PSDB define como "grande lobista" ou "sócio oculto da Delta".

Depois que os recursos chegam à Delta, a empresa "simula serviços fictícios com laranjas", de acordo com o gráfico de Dias. Os recursos saem do governo federal para a Delta, que os repassa para empresas-laranja, especialmente a Alberto & Pantoja, e dela para os destinatários finais. São basicamente duas as contas da Delta que recebem o dinheiro, uma no Bradesco e outra no Banco Safra, ambas em agências do Rio de Janeiro. O tucano cita agências e número de contas.

No período citado por Dias, os depósitos feitos pelo governo federal para a Delta nessas contas chegaram a R$ 729 milhões. O valor recebido pela empresa do governo, nesse período, é muito maior, mas Dias afirmou que esses depósitos foram usados como amostragem. O caminho do dinheiro leva R$ 29.995.967,43 a uma conta da Alberto & Pantoja, que as investigações mostram ser uma empresa ligada a Cachoeira. O tucano também apresentou o número da conta da empresa que teria recebido o valor.

A partir daí, o líder mostra a distribuição dos recursos. Entre vários exemplos de pessoas e empresas que teriam recebido depósitos uma vez ou durante vários meses seguidos em 2010, ele citou Geovani Pereira da Silva, que seria o contador de Cachoeira, JR Construções, Luiz Carlos Almeida Ramos, irmão de Cachoeira, a Brava Construções, a Mapa Construtora, Sebastião Alves de Morais Filho, parente de Cachoeira, e o ex-vereador Wladimir Garcez Henrique. Depois, citou depósitos de Alberto & Pantoja em 2011 para a Mapa Construções, Lenine Araújo de Souza e Excitante - cujo sigilo bancário foi quebrado na última reunião da CPI. Em 2011, segundo o tucano, o total desses repasses, com origem no governo federal, do Dnit para a Delta e dela para a Alberto & Pantoja, alcança R$ 29.992.929,00.

"É necessário ouvir, para adotar providências posteriores, o senhor Fernando Cavendish e o senhor Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit, que, aliás, surpreendentemente afirmou ter sido derrubado do cargo que ocupava pelo bicheiro Cachoeira e pelo empresário Fernando Cavendish. Eu digo surpreendentemente, porque a empresa Delta era beneficiada, privilegiada com contratos generosos e aditivos expressivos através do Dnit, onde estava Pagot. Se ele faz essa queixa, certamente não era o responsável principal pela concessão desses aditivos. Obviamente, estaria recebendo ordens para que esses aditivos fossem concedidos", afirmou Dias. O tucano vai pedir ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que convoque reunião administrativa do colegiado para votar requerimentos de convocação de Cavendish e Pagot.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Blindagem ao dono da Delta na CPI gera racha e bate-boca no PT

Walter Pinheiro e Cândido Vaccarezza chegaram a trocar insultos

Catia Seabra

BRASÍLIA - A blindagem do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, na CPI do Cachoeira expôs uma divisão no PT.

Na semana passada, horas antes da discussão sobre a convocação de Cavendish para depor na CPI, o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), e o deputado Cândido Vaccarezza (SP) protagonizaram um bate-boca. Os dois chegaram a trocar insultos após um jantar na casa de Vaccarezza.

A divisão frustrou os planos de emissários de governos e petistas próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contrários à convocação de Cavendish e do ex-diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) Luiz Antonio Pagot.

Temendo que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) virasse alvo, o governo recomendou, segundo integrantes da comissão, que a investigação ficasse restrita ao esquema de Carlinhos Cachoeira. Rachado, o PT só concordou com o adiamento da votação das convocações.

Até então latente, a crise ficou evidente à 0h30 de quinta-feira, quando Pinheiro foi chamado à casa de Vaccarezza, onde aliados discutiam a estratégia para a sessão.

Sem se sentar, Pinheiro sugeriu que a base explorasse o pedido de convocação da presidente Dilma Rousseff para acusar a oposição de politização do debate. Sua ideia era derrubar a reunião da CPI da tarde seguinte.

Vaccarezza sugeriu que Pinheiro comprasse uma emissora de TV para que difundir seu ponto de vista. Pinheiro alegou que conversara com o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) sobre a situação.

"Você e o Braga não sabem o que está acontecendo na CPI", disse Vacarezza.

"Só você sabe tudo", gritou Pinheiro, segundo participantes.

Sem acordo, petistas optaram por uma fórmula intermediária. Ainda assim, parlamentares do PMDB, PTB e PDT votaram pela convocação de Cavendish.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dossiê dos Aloprados: seis anos depois, Justiça abre ação penal e petistas vão ao banco de réus

Josias de Souza

Num instante em que o PT inquieta-se com a proximidade do julgamento do mensalão no STF, um segundo fantasma ressurge do passado para assombrar a legenda na eleição municipal de 2012. Sem estrondos, o juiz federal Paulo Cézar Alves Sodré, titular da 7a Vara Criminal da Seção Judiciária de Mato Grosso, abriu há quatro dias uma ação penal contra os petistas envolvidos no caso que ficou conhecido como escândalo do Dossiê dos Aloprados.

Datado de 15 de junho, o despacho do magistrado converteu em réus nove personagens que tiveram participação na tentativa de compra de documentos forjados que vinculariam o tucano José Serra à máfia das ambulâncias superfaturadas do Ministério da Saúde. Entre os encrencados, seis são petistas. Os outros três são ligados a uma casa de câmbio usada para encobrir a origem de parte do dinheiro que seria usado na transação.

O caso escalara as manchetes às vésperas do primeiro turno das eleições gerais de 2006, quando a Polícia Federal prendeu em flagrante, no Hotel Íbis, próximo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, dois petistas portando R$ 1,7 milhão (uma parte em dólares). Exposto no noticiário da época (veja foto lá no alto), o dinheiro seria usado na transação. Relegado ao esquecimento, o episódio parecia condenado ao arquivo. Engano. Acaba de renascer.

Deve-se a ressurreição a três procuradores da República: Douglas Santos Araújo, Ludmila Bortoleto Monteiro e Marcellus Barbosa Lima. Lotados no Ministério Público Federal de Cuiabá, eles formalizaram em 14 de junho, quinta-feira da semana passada, uma denúncia contra os acusados. Recebida pelo juiz Paulo Cézar, a peça deu origem à ação penal aberta no dia seguinte.

No seu despacho, o magistrado determinou a citação dos réus para que respondam às acusações “no prazo de dez dias”. As citações serão feitas por meio de cartas precatórias, já que a maioria dos acusados não mora em Cuiabá, sede da 7a Vara Criminal de Mato Grosso. São os seguintes os ‘aloprados’ que serão intimados a prestar contas à Justiça:

1. Gedimar Pereira Passos: policial federal aposentado, foi preso em flagrante pela Polícia Federal no hotel de São Paulo. Gedimar (foto à esquerda) portava R$ 700 mil em dinheiro. Integrava o comitê da campanha à reeleição de Lula, em 2006. Foi escalado pelo PT para pagar o dossiê urdido contra o tucano Serra.

2. Valdebran Carlos Padilha da Silva: empresário matrogrossense, era filiado ao PT e operava como coletor informal de verbas eleitorias para o partido. Foi ele quem informou ao PT federal sobre a existência do dossiê. Estava junto com Gedimar Passos no hotel paulistano. Também foi preso. Carregava R$ 1 milhão.

3. Jorge Lorenzetti: ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina, é amigo de Lula, para quem assava churrascos na Granja do Torto, em Brasília. Lorenzetti (foto à direita) integrou o comitê de campanha do PT, em 2006, como chefe do Grupo de Trabalho de Informação. Chefiava uma equipe voltada a ações de espionagem e “inteligência”. Comandou a malograda tentativa de compra do dossiê.

4. Expedido Afonso Veloso: ex-diretor do Banco do Brasil, também compôs a equipe do comitê reeleitoral de Lula. Reportava-se a Lorenzetti. Foi escalado para viajar a Cuiabá a fim de analisar os dados contidos no dossiê montado contra Serra.

5. Oswaldo Martines Bargas: amigo de Lula dos tempos de militância sindical no ABC paulista, integrava o núcleo de “inteligência” da campanha nacional do PT. Recebeu de Lorenzetti a ordem para acompanhar Expedido Veloso na viagem a Cuiabá. Juntos, deveriam presenciar uma entrevista dos vendedores do dossiê –os empresários matogrossenses Darci e Luiz Antônio Vedoin, pai e filho— à revista IstoÉ. A entrevista, informa o Ministério Público, era parte da trama. Destinava-se a dar visibilidade às denúncias contra Serra.

6. Hamilton Broglia Feitosa Lacerda: atuava em 2006 como coordenador da campanha do ex-senador Aloizio Mercadante. Então candidato ao governo de São Paulo, Mercadante media forças com Serra, que prevaleceu nas urnas. Hamilton Lacerda (foto à esquerda) foi filmado pelo circuito interno de câmeras do hotel Íbis entregando dinheiro a Gedimar Passos, o policial federal que foi preso em flagrante. Foram duas remessas. Numa, as notas estavam acondicionadas numa valise. Noutra, em sacolas.

7. Fernando Manoel Ribas Soares: era sócio majoritário da Vicatur Câmbio e Turismo Ltda, empresa utilizada no esquema para lavar parte dos dólares que financiariam a compra do dossiê.

8. Sirley da Silva Chaves: Também ex-proprietária da Vicatur, recrutou pessoas humildes para servir como “laranjas” na aquisição de parte dos dólares apreendidos pela PF no hotel de São Paulo.

9. Levy Luiz da Silva Filho: cunhado de Sirley, foi um dos “laranjas” utilizados no esquema. Em troca de uma comissão de R$ 2 mil, emprestou o próprio nome e recolheu as assinaturas de outros sete integrantes de sua família –um laranjal que incluiu dos pais aos avós. Rubricavam boletos de venda de moeda americana em branco. Eram preenchidos na Vicatur.

Para redigir a denúncia encaminhada ao juiz Paulo Cézar, os procuradores Douglas Araújo, Ludmila Monteiro e Marcellus Lima valeram-se de informações coletas em inquérito da Polícia Federal e numa CPI do Congresso. Só o trabalho da PF, anexado ao processo de número 2006.36.00.013287-3, reúne mais de 2.000 folhas. Foram inquiridas cinco dezenas de pessoas. Realizaram-se 28 diligências. Quebram-se os sigilos fiscal, bancário e telefônico dos envolvidos.

Imaginava-se que o esforço resultara em nada. Mas os procuradores encontraram nos volumes do processo matéria prima para a denúncia. E o juiz considerou que ficou “demonstrada a existência da materialidade e de indícios de autoria” dos crimes. Daí a conversão da denúncia em ação penal e a transformação dos acusados em réus.

No miolo da denúncia do Ministério Público, obtida pelo blog, ressoa uma pergunta que monopolizou o noticiário na época do escândalo: de onde veio o dinheiro? A resposta contida nos autos, por parcial, frustra as expectativas. Mas não completamente. Os procuradores anotam que “grande parte do dinheiro” apreendido pela PF no hotel de São Paulo não teve a origem detectada. Por quê? “Apresentava-se em notas velhas, sem sequenciamento de número de ordem e sem identificação da instituição financeira.” Porém…

Foi possível rastrear uma “parte diminuta das cédulas” recolhidas pela PF na batida policial de 15 de setembro de 2006. Eram dólares. “Cédulas novas, que estavam arrumadas em maços sequenciais.” Servindo-se dos números de série das notas, a Divisão de Combate ao Crime Organizado de Brasília requisitou informações ao governo dos EUA. “Em resposta, o Departamento de Justiça Americano informou que os dólares tiveram origem em Miami”, anotam os procuradores na denúncia.

Seguindo o rastro do dinheiro, descobriu-se que parte dos dólares fez escala numa casa bancária da Alemanha, o Commerzbank. Dali, o lote foi remetido, em 16 de agosto de 2006, para o Banco Sofisa S/A, sediado em São Paulo. Para desassossego dos “aloprados”, o Federal Bureau of Investigation dos EUA farejou a origem de outro naco de dólares apreendidos pela PF. Coisa de US$ 248,8 mil. Compunham um lote de US$ 15 milhões adquirido em 14 de agosto de 2006 pelo mesmo Banco Sofisa junto à filial do alemão Commerzabak em Miami.

Munido das informações, os investigadores acionaram o Banco Central. A quebra dos sigilos bancários levou à seguinte descoberta: parte dos dólares apreendidos no hotel paulistano em poder de Gedimar Passos e Valdebran Padilha havia saída do Banco Sofisa para a corretora de câmbio Dillon S/A, sediada no Rio. Dali, as notas foram repassadas, em várias operações de compra, à Vicatur Câmbio e Turismo Ltda., também do Rio.

Na sequência, o Núcleo de Inteligência da PF varejou a clientela da casa de câmbio Vicatur. Chegou-se, então, ao ‘laranjal’ composto de pessoas humildes. Gente que, sem renda para adquirir dólares, foi usada para dificultar o rastreamento do dinheiro. Inquirido, Levy Luiz da Silva Filho, um dos réus do processo, confessou que servira de laranja. Mais: reconheceu que, em troca de uma comissão de R$ 2 mil, coletara as assinaturas de sete familiares. Juntos, “compraram” na Vicatur o equivalente a R$ 284.857 em moeda americana.

Os procuradores escreveram na denúncia: “Ocorre que, não por mera coincidência, verificou-se que a soma exata de R$ 248,8 mil vendidos a clientes finais pela empresa Vicatur (todos ‘laranjas’conforme depoimentos prestadoso) correspondia à mesma soma dos valores apreendidos” com os petistas Gedimar e Valdebran.

“Desse modo”, concluíram os procuradores, “constata-se que Gedimar Pereira Passos, Valdebran Padilha, Expedito Veloso, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas se associaram subjetiva e objetivamente, de forma estável e permanente, para a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro”.

Crimes que “tinham por fim a desestabilização da campanha eleitoral de 2006 ao governo do Estado de São Paulo através de criação de vínculo entre o candidato do PSDB [Serra] à máfia dos Sanguessugas [que superfaturava ambulâncias com verbas do Ministério da Saúde] e, com isso, favorecer o então candidato do PT [Mercadante].”

Em notícia veiculada em junho do ano passado, a revista Veja revelara que, em conversas com companheiros de partido, um dos ‘aloprados’, Expedito Veloso (foto ao lado), revelara que o verdadeiro mentor do plano do dossiê fora Aloizio Mercadante. Nessa época, o então senador chefiava o Ministério da Ciência e Tecnologia, sob Dilma Rousseff. As conversas foram gravadas e expostas no site da revista.

No áudio, Expedito declara a certa altura: “O plano foi tocado pelo núcleo de inteligência do PT, mas com o conhecimento e a autorização do senador. Ele, inclusive, era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo”. Segundo Expedito, Mercadante associara-se ao presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia, morto no final de 2010.

“Faltavam seis pontos para haver segundo turno na eleição de São Paulo”, prosseguiu Expedito. “Os dois [Mercadante e Quércia] fizeram essa parceria, inclusive financeira. [...] As fontes [do dinheiro] são mais de uma. [...] Parte vinha do PT de São Paulo. A mais significativa que eu sei era do Quércia.”

Mercadante negou as acusações. Ele chegara a ser indiciado pela PF no inquérito aberto em 2006. Mas, seguindo parecer da Procuradoria-Geral da República, o STF anulou o indicamento por falta de provas. Agora, em ofício enviado ao juiz Paulo Cézar, os procuradores Douglas Araújo, Ludmila Monteiro e Marcellus Lima voltaram a excluir Mercadante da grelha.

Anotaram: “Relativamente ao crime eleitoral, a autoridade policial, em seu relatório, entendeu que a omissão de receita ou despesa em prestaçãoo de contas de campanha é crime previsto no artigo 350 do Código Eleitoral, o qual prevê que ‘constitui falsidade ideológica a ação de omitir, inserir ou fazer inserir declaraçãoo falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais’.”

“No entanto”, prosseguem os procuradores no texto, “certo é que o próprio STF já afastou a modalidade especial de falsidade ideological, por ausência de comprovação de dolo por parte do senador Aloizio Mercadante. Aliado a isso, os laudos de exame financeiro não demonstraram que os recursos provieram de campanha eleitoral.”

Mais adiante, vem a conclusão que excluiu Mercadante da nova denúncia: “Logo, de todo o conjunto probatório colhido, verifica-se a ausência de prova quanto à saída de recursos da caixa de campanha eleitoral, bem como a comprovação da existência de caixa dois para trânsito de recursos por meios ilícitos…”

Afora Mercadante, também o deputado Ricardo Berzoini foi mantido longe da denúncia. Ele presidia o PT em 2006. Coordenava o comitê reeleitoral de Lula. O núcleo de inteligência da campanha, ninho dos ‘aloprados’, reportava-se a Berzoini. Mas ficou entendido que quem comandou a ‘alopragem’ foi Lorenzetti, o churrasqueiro de Lula.

FONTE: BLOG DO JOSIAS

Enquanto isso, na Câmara...

O deputado Marcos Medrado (PDT-BA) confirmou que negociou com João Carlos Bacelar (PR-BA), acusado de comprar emendas de colegas, a destinação de verba ao Orçamento, mas negou ter recebido dinheiro por isso.

Deputado federal admite que negociou emenda

Marcos Medrado diz que destinou verba para base eleitoral de João Bacelar, em troca de apoio do prefeito à sua campanha

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA . O deputado federal Marcos Medrado (PDT-BA) confirmou ontem que negociou com o colega João Carlos Bacelar (PR-BA) a destinação de uma emenda individual ao Orçamento da União para um município da base eleitoral de Bacelar. Segundo Medrado, a emenda, de cerca de R$ 2 milhões, teria sido entregue ao colega em troca do apoio de um prefeito do interior à sua campanha eleitoral:

- Posso estar errado, mas o que ocorreu foi que, na campanha passada, fui votado no município de Teofilândia. O prefeito não queria mais votar nele (Bacelar) e votou comigo. Mas aí ele me pediu: "Olha, combine com o deputado Bacelar e destine para ele o mesmo valor que ele deu pra cá, de aproximadamente R$ 2 milhões" - explicou o deputado.

Medrado foi o deputado mais bem votado

Marcos Medrado foi, de fato, o deputado mais bem votado na cidade, com 3.561 votos. Já Bacelar teve apenas 20 votos. A prova inequívoca do poder financeiro da negociação é a comparação com o pleito anterior, de 2006. Nele, Bacelar tinha sido o terceiro deputado mais votado da cidade, com 493 votos, e Marcos Medrado conseguira três votos.

Teofilândia era então um reduto de Fernando de Fabinho (DEM-BA), ex-deputado que figura na tabela usada por Bacelar para acompanhar emendas parlamentares destinadas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paranaíba (Codevasf). Como não concorreu na eleição de 2010, Fabinho deixou na cidade o espólio de seus 4.046 votos obtidos em 2006. Após o acerto com Bacelar, Medrado herdou esse capital. Medrado nega, no entanto, que tenha havido negociação financeira envolvendo as emendas.

- Não faço isso de vender emenda e nunca fiz. Eu compensei ele (sic) em outra cidade com uma emenda do mesmo valor da que ele tinha dado para lá. Fiz isso porque o prefeito tinha compromisso com o Bacelar e aí compensei em outros municípios - afirmou Medrado.

No último domingo, O GLOBO revelou a existência de um esquema de venda de emendas na Câmara dos Deputados. Segundo a ex-mulher de Bacelar, Isabela Suarez, filha de um dos maiores empreiteiros da Bahia, o deputado comprava emendas de vários parlamentares que o procuravam em busca de recursos para campanha.

Bacelar tinha, inclusive, uma tabela pela qual acompanhava os recursos enviados por dois deputados - Geraldo Simões (PT-BA) e Marcos Medrado - e um ex-deputado federal, Fernando de Fabinho. Isabela contou à irmã de Bacelar, Lílian Bacelar, que Geraldo Simões seria um dos deputados federais que venderam emendas para o ex-marido.

De acordo com a tabela, Medrado havia enviado duas emendas para cidades onde Bacelar foi o deputado mais votado: R$ 2 milhões para Canarana e outros R$ 2,5 milhões para Ibipeba. Procurada, a Codevasf, que recebeu os recursos, informou que Medrado alterou, no fim do ano passado, o destino do dinheiro dessas cidades para o município de Paramirim.

- Quando surgiram as denúncias com ele no ano passado, disse para ele que ia tirar as minhas emendas de lá e colocar nas minhas bases - explicou Medrado, referindo-se às revelações feitas ano passado pela revista "Veja", de que Bacelar destinava emendas parlamentares para prefeituras, que contratavam posteriormente a empreiteira de sua família, a Embratec, para realizar as obras.

O balcão de negócios envolvendo as emendas parlamentares poderá começar a ser investigado ainda esta semana na Câmara dos Deputados. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), entregará hoje ao presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), um memorando de cinco páginas pedindo que ele solicite à Corregedoria a apuração do esquema. O deputado pede também que a Câmara apure as acusações de direcionamento de emendas parlamentares para a construtora da família de Bacelar.

Deputado quer apurar quebra de decoro

"As denúncias são gravíssimas e impõem à Corregedoria da Casa a devida apuração com a adoção das medidas cabíveis, no curto prazo que a gravidade do caso requer, a fim de coibir tais práticas, preservar a imagem da Câmara dos Deputados e punir possível quebra da ética e do decoro parlamentar", diz o memorando.

FONTE: O GLOBO

TRE considera Jorge Roberto inelegível em Niterói

Prefeito de Niterói é considerado inelegível pela Justiça Eleitoral

Decisão se deve à não retirada de placas publicitárias; Jorge Roberto vai recorrer

Renato Onofre

O juiz eleitoral Ricardo Alberto Pereira da 133 Zona Eleitoral de Niterói acatou o pedido do Ministério Público (MP) Eleitoral e considerou o prefeito Jorge Roberto Silveira (PDT) inelegível para as próximas eleições. A decisão foi tomada depois que o município e o prefeito não acataram a determinação da Justiça Eleitoral que obrigava a retirada das placas de publicidade em obras espalhadas pela cidade sem a informação do custo, tempo de duração e empresa contratada, como manda a legislação federal. Na representação, o MP considerou que as peças publicitárias desrespeitavam a legislação federal e caracterizavam propaganda eleitoral antecipada. Através de sua assessoria, Jorge Roberto informou que vai recorrer da decisão, afirmando que "suspeita que o juiz teria tentado agradar sua família (do próprio prefeito)", que não quer que ele se candidate novamente.

Em novembro, o GLOBO-Niterói denunciou a multiplicação de material publicitário da prefeitura pelas principais vias da cidade. Na época, a equipe constatou que era praticamente impossível transitar pelas ruas sem notar o azul, vermelho e branco propagando novas obras, algumas que nem haviam começado. A estratégia de marketing do município vai na contramão de legislações federais, estaduais e até da Lei Orgânica do Município - que vedam a publicidade de atos e obras públicas que não tenham caráter informativo e educativo, que omitem prazos, custos e responsáveis técnicos pelos projetos.

Cinco meses depois, o MP eleitoral entrou com uma ação pedindo a retirada de pelo menos 27 placas flagradas pelas equipes de fiscalização da Justiça Eleitoral espalhadas por Itaipu, Itacoatiara, Ingá, Fonseca e Icaraí e a condenação por propaganda eleitoral. No pedido, as promotoras Ana Cristina Lesqueves Barra, Ediléa Goncalves dos Santos Cesário e Maria Elisabete Cardoso Antunes da Costa acusavam a prefeitura de Niterói e o prefeito de violar o artigo 37, parágrafo 1, da Constituição brasileira e os artigos 36, parágrafo 3, e 74 da Lei 9.504/97. A representação afirmava que Jorge Roberto teria sido intimado pessoalmente sobre a irregularidade a fim de retirar as placas ou regularizá-las e o fato de não ter acatado a medida justificaria a ação. A propaganda política é autorizada apenas a partir do dia 6 de julho.

Através de sua assessoria, o município informa que estava fazendo as modificações nas placas para poder atender à solicitação da Justiça Eleitoral, mas a decisão veio antes do fim do serviço. A prefeitura de Niterói informou que vai recorrer da decisão da multa e Jorge Roberto disse que também irá recorrer da decisão que o declarou inelegível para as próximas eleições. O prefeito informou ainda que não pode ser considerada propaganda eleitoral se ele não decidiu se é ou não candidato.

A decisão pela inelegibilidade do prefeito foi publicada no Diário Oficial de ontem, e o prazo do recurso é de três dias. Se mantida a condenação, Jorge Roberto terá os seus direitos políticos cassados nos próximos oito anos, a contar do fim das eleições de outubro deste ano. Ele e o município foram condenados ainda a pagar multa de R$ 25 mil.

FONTE: O GLOBO

Em Recife, PSB avalia chapa com o PTB na vice

Governador quer anunciar palanque socialista até a quinta (21), após conversa com Lula. Chapa ventilada pode unir PSB e PTB: Geraldo Júlio e Antônio Luiz Neto

Sheila Borges

Para não alimentar ainda mais o clima de “insegurança política” entre os partidos da Frente Popular, o governador Eduardo Campos (PSB) decidiu que só embarcará para os Estados Unidos – onde receberá um prêmio em Nova Iorque – no domingo (24), após resolver o imbróglio da sucessão do Recife. Até a quinta (21), o governador espera definir – após conversa com o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) – o candidato socialista. Os nomes mais cotados são os ex-secretários Geraldo Júlio e Danilo Cabral. O primeiro tem ganhado força em função de seu perfil mais “gerentão”. Como é um profundo conhecer do modelo de gestão de Eduardo no Estado, teria todas as condições para replicá-lo se chegar à Prefeitura do Recife, na avaliação dos socialistas.

Na bolsa de cotações da chapa do PSB, especulou-se ontem que Geraldo Júlio deve ser confirmado candidato e ter como vice o vereador Antonio Luiz Neto, do PTB do senador Armando Monteiro Neto. O perfil mais político do petebista contribuiria para equilibrar a imagem pública da dobradinha da Frente Popular. Luiz Neto tem voto e popularidade, exerce o quinto mandato na Câmara do Recife, sempre com votações expressivas. Além do mais, é de família forjada na política. Seu pai, Antonio Luiz Filho, foi vereador do Recife e deputado estadual. O vereador está em uma fase positiva. Como presidente do Santa Cruz, conseguiu conquistar dois títulos pernambucanos e tirar o time da Série D do campeonato nacional.

A entrada de Antonio Luiz Neto também “renovaria” a aliança de Eduardo com Armando Monteiro - os dois viveram atritos desde a polêmica emenda da reeleição do presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT), com Eduardo apoiando e o PTB votando contra.

Nos bastidores, já está quase tudo definido. Falta apenas a conversa final entre Eduardo e Lula. O ex-presidente ficou de ligar hoje para o governador. O PT não abre mão de lançar o senador Humberto Costa, após abortar o projeto de reeleição do prefeito João da Costa. Os socialistas acreditam que Lula entenderá as razões que fizeram Eduardo tomar para si a condução da sucessão, já que o PT tem dificuldades para conseguir a unidade interna. A maioria das legendas da Frente está com Eduardo.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Mariene de Castro - Cirandas

Requintes de crueldade:: Merval Pereira

Fazer com que Lula fosse visitá-lo em sua casa para selar publicamente o acordo político de apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo é o ponto de destaque, com requintes de crueldade, dessa aliança, que de inusitada não tem nada, a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal, podendo fazer qualquer coisa para vencer eleições.

Em 2004, Maluf já apoiara Marta Suplicy no segundo turno contra Serra, mas naquela ocasião ele disse que o fazia sem ter tido contato nem com Lula nem com Marta, reafirmando suas divergências com o PT.

Desta vez foi diferente. Além de ganhar para um indicado seu uma secretaria do Ministério das Cidades, um Maluf radiante recebeu Lula e Haddad em sua casa, destacando o "sacrifício" que o ex-presidente fizera indo até lá, apesar das cautelas médicas devido à sua recuperação da cirurgia de câncer.

Pelo menos o conselho de evitar falar em público ajudou Lula a sair de cena sem ter que justificar tal aliança.

A senadora Marta Suplicy, que aceitara de bom grado o apoio envergonhado de Maluf em 2004, hoje, rejeitada por ser uma alternativa política "velha", de acordo com Lula, diz que a aliança com Maluf é "pesadelo" maior do que a com o prefeito Gilberto Kassab, que ela também rejeitara.

O maior problema, porém, para a candidatura petista é a reação da candidata a vice Luiza Erundina, que de incomodada com o pragmatismo petista, mas engolindo a seco a aliança, passou a rejeitá-la publicamente, convencida de que ela não será apenas uma união política "para constar", diante da pose de Lula carrancudo com Maluf sorridente, tendo o "rapaz esforçado" Fernando Haddad no centro.

O acordo político com Maluf conseguiu ofuscar a boa notícia que a nova pesquisa Datafolha trouxe para a campanha petista.

Ter quase triplicado o apoio depois de algumas aparições ao lado de Lula e da presidente Dilma na televisão indicava que Haddad pode ter a esperança de vir a ser adotado pelo eleitorado petista conforme a campanha progredir, o que lhe daria um patamar mínimo de 30% dos votos para competir com o tucano José Serra.

Mas aliança tão formal e explícita com o grupo de Maluf está reforçando as críticas do grupo de Marta Suplicy dentro do PT e abriu uma divergência séria no PSB, que pelo visto terá que buscar outro candidato a vice para Haddad.

A ex-prefeita Luiza Erundina não parece ser do tipo que abre mão de suas convicções, mesmo que sejam ultrapassadas como o socialismo que ainda prega.

Sua presença na chapa petista levava a candidatura Haddad mais para a esquerda do que seria desejável numa capital que tem a tradição de votar ao centro, quando não à direita.

O próximo ataque especulativo de Lula será em cima do PMDB se a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita permanecer estacionada abaixo dos dois dígitos e menor do que a de Haddad.

O PMDB queria usar a disputa paulistana para vender caro seu apoio ao PT num segundo turno, ou até mesmo ter Chalita como o candidato oficial num segundo turno contra Serra.

Tudo para neutralizar o ataque que o PSB vem orquestrando, com o objetivo de tomar o seu lugar como principal partido da base aliada, abrindo caminho para o governador Eduardo Campos ser o vice de Dilma em 2014.

Ou, conforme os ventos da economia, surgir como uma alternativa ao próprio PT.

O maior receio do PMDB é que, após a eleição, o PSB se una ao PSD de Kassab para formar o maior partido no Congresso.

Isso só não acontecerá, aliás, se o tucano José Serra vencer a eleição paulistana, o que coloca mais um pouco de incoerência nessa armação partidária onde ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo, dependendo da ocasião.

O PSD de Kassab iria para a aliança de Haddad se Serra não fosse o candidato tucano, e Maluf iria para a base serrista se o PSDB aceitasse pagar o alto preço que o PT pagou.

Esse imbróglio paulistano não é, no entanto, o único empecilho à aliança do PT com o PSB, que está se organizando nacionalmente para se colocar como protagonista na cena política em 2014.

Assim como a disputa pela prefeitura em São Paulo está intimamente ligada à sucessão presidencial de 2014, com os dois partidos querendo fortalecer suas posições no maior colégio eleitoral do país, algumas outras capitais também definem agora disputas políticas que serão fundamentais para a campanha à reeleição da presidente Dilma e para o PSDB.

Em Fortaleza e Recife, PT e PSB não conseguiram se entender até o momento, e tudo indica que sairão separados na disputa regional.

Em Salvador, ACM Neto, do DEM, com o apoio do PSDB, pode fazer ressurgir a força carlista na capital baiana.

Em Manaus, uma aliança entre Amazonino Mendes e Arthur Virgílio pode dar ao ex-senador tucano as condições políticas para disputar a prefeitura de Manaus, o que está preocupando a base aliada governista, à frente o ex-governador Eduardo Braga.

Líder do governo no Senado em substituição ao eterno líder de qualquer governo Romero Jucá, Braga vem sofrendo ataques do grupo de senadores como Sarney, Calheiros e o próprio Jucá, que aparentemente a presidente Dilma quer ver fora do centro de decisões.

Se tiver que concorrer a prefeito para unir a base governista contra a oposição, Braga corre o risco de perder o cargo no Senado, embora considere que pode acumular a candidatura com a liderança do governo.

Além do jogo de poder visando à eleição presidencial, há ainda em disputa as presidências da Câmara e do Senado.

O grupo do senador Sarney quer manter o controle do Senado mesmo depois que ele sair, e dois nomes aparecem na disputa no PMDB, a maior bancada: Edison Lobão e Renan Calheiros, o que aparentemente não agrada a Dilma, que gostaria de um nome novo de sua confiança.

Na Câmara, a vez seria do PMDB, mas o candidato preferencial do partido, o líder Henrique Eduardo Alves, desgastou-se com a presidente Dilma.

Um eventual acordo em São Paulo pode colocar em discussão a sucessão na Câmara, e o vice-presidente Michel Temer deverá ser o fiador.

Como se vê, há muito mais do que política municipal em disputa nas próximas eleições.

FONTE: O GLOBO

Quanto vale o show:: Dora Kramer

Na geleia geral vigente no cenário político sobram pouquíssimas vozes moralmente abalizadas para condenar a aliança do PT com Paulo Maluf na eleição municipal de São Paulo.

Dizer o quê, se apoios são pagos com cargos de maneira explícita, variando apenas se a quitação ocorre à vista e com pronta entrega de cargos - como no caso de uma secretaria no Ministério das Cidades entregue ao PP de Maluf - ou a prazo na forma de promessa de ocupação de espaços na máquina pública?

Espantar-se com mais o quê, se não há resquício de preocupação com identidades, nem falemos ideológicas, mas minimamente programáticas, e se a referência única é o tempo de televisão a ser acumulado pelo carro-chefe da coalizão e beneficiário principal da negociata?

Criticar quem poderá, se todos agem segundo a mesma ausência de critério?

O principal adversário do PT em São Paulo, o PSDB, é que não haverá de ser, pois até outro dia estava negociando apoio com o mesmo personagem. Inimigo tradicional dos petistas no plano regional, mas há quase dez anos aliado deles em âmbito federal.

Questão resolvida e do ponto de vista da coerência superada lá atrás, quando Lula atraiu a legenda para a base do governo da qual nunca mais saiu.

Portanto, não há razão para tanto espanto, para tão efusivos ataques à "incoerência" do PT. Ou mesmo para o "desconforto" expresso pela deputada Luiza Erundina indicada para vice de Fernando Haddad em composição com o PSB nem para o "pesadelo" apontado pela senadora Marta Suplicy.

Maluf é diferente, um emblema, nome que já virou verbo e destaque na lista de procurados pela Interpol?

Pois nesses tempos em que réus acusados de integrar organização criminosa ocupam postos de direção partidária, ganham cargos na estrutura federal, presidem comissões importantes no Congresso, apresentam-se como candidatos ao eleitorado que gentilmente lhes dão votos para representação legislativa e executiva, francamente, Paulo Maluf é mera peça de composição do ambiente.

Digam com sinceridade o senhor e a senhora se, na essência, há diferença entre a pose de Lula ao lado de Maluf e Haddad agora e dos atos de defesa que, como presidente, assumiu em prol de protagonistas de escândalos?

Não estamos diante de nenhuma novidade. O que vemos é resultado do acúmulo de abusos cometidos nas barbas de uma sociedade que aceita tudo e ainda bate palmas.

Não reage nas urnas aos exotismos cada vez mais exóticos dos partidos que não se distinguem mais no mérito de suas propostas nem fazem questão de disfarçar a sanha em que se lançam a um vale tudo desmoralizante por um minuto a mais na televisão.

Pior que isso só a falsidade dos indignados de ocasião. Onde estavam nos últimos anos enquanto um presidente da República usava repetidas vezes do argumento do "todo mundo faz" para amenizar efeitos de denúncias que envolvessem qualquer um que pudesse lhe propiciar ganhos políticos?

Onde estavam quando esse mesmo presidente zombava da Justiça, menosprezava as instituições, desqualificava o Congresso com uma ofensiva de cooptação explícita como nunca se viu?

Alguns quietos, outros na linha de frente da defesa da política das "mãos sujas". Ora, uma aliança do PT com Maluf em São Paulo é mais um entre tantos outros atos de pragmatismo exacerbado e mistificação de resultados que fazem as normas da casa.

Está demais? Sem dúvida, mas já faz muito tempo que se passou da conta.

Anonimato. O Tribunal Regional Federal da 1.ª Região livrou a Justiça de um vexame ao decidir pela legalidade das provas obtidas pela Polícia Federal contra Carlos Cachoeira e companhia.

O argumento da defesa, de que denúncia original era anônima e por isso inválida, equivaleria a considerar nulas todas as investigações decorrentes de informações dos disque-denúncia, cujo trabalho (exitoso) se baseia exatamente na preservação da identidade do denunciante.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

"Por amor a São Paulo" :: Eliane Cantanhêde

Acabo de voltar de uma semana a Curaçao e leio, ouço, vejo as fotos de Maluf e Lula, com Fernando Haddad no meio, e me sinto como o personagem Sebá, o último exilado político, que ouvia pelo telefone as piores notícias sobre o Brasil e tascava para a mulher: "Tu não queres que eu volte!".

O petista Haddad abraçado ao PSB, que, de socialista, cada dia tem menos, e, do outro lado, ao PP de Maluf, que foi o inimigo nº 1 da sociedade e tem uma folha corrida internacional. O tucano José Serra de braços dados com o PV, de discurso bonito e de prática nem tanto, e, do outro lado, com o PR de Alfredo Nascimento, que saiu escorraçado dos Transportes na tal "faxina ética".

Onde o PSDB e o PT foram parar? Será que 1min35 a mais na TV e no rádio justifica que se engalfinhem por Maluf? Será que vale um cargo federal seja lá em que ministério for? Será que vale as décadas de lutas dos petistas e a história da cúpula tucana?

Lula passou por cima de Marta Suplicy e do PT para impor Haddad, tentou a jogada com Gilberto Kassab e levou uma rasteira fenomenal, entregou a cabeça de petistas pelo Brasil afora para atrair o PSB e, agora, vende a alma ao diabo por Maluf.

Bem, depois de anistiar Fernando Collor e convencer os antigos caras-pintadas de que as rixas eram só oportunismo político, Lula usa seu peso, sua história, seu carisma e o seu partido para reduzir tudo o que Maluf representa a algo banal, sem importância. O importante, ensina Lula do alto de seus 80% de popularidade, é vencer.

Coitado de Haddad, o novo que já entra velho. Sorte de Marta, que escapou dessa. E juízo de Erundina, para quem, segundo a "Veja", "não é preciso ser vice para fazer política".

Mas a melhor frase é a do próprio Maluf, que exigiu que Lula e Haddad fossem à casa dele e disse que selava a aliança "por amor a São Paulo". O único ganhador de toda essa história é ele. Quem ri por último ri melhor.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Caciquismo é igual na direita e na esquerda:: Raymundo Costa

Engana-se quem acredita que José Sarney está contente com a suposta preferência de Dilma Rousseff para suceder o maranhense na presidência do Senado, em 2013. Certo, Lobão, ministro das Minas e Energia de Dilma, integra o grupo político de Sarney no Maranhão. Mas Sarney prefere escolher o nome do sucessor a aceitar uma indicação da presidente da República.

Parece estranho, mas não é. Sarney chefia talvez a mais longeva oligarquia do país, sabe como poucos manejar os cordéis do poder. Deveria diferir muito dos caciques mais modernos, sobretudo aqueles considerados mais à esquerda, mas não é o que ocorre: os caciques de esquerda são iguais aos da direita; os antigos, aos modernos, como parece demonstrar a pré-campanha eleitoral de 2012. O que prevalece é o "dedazo" ou pelo menos a vontade de quem circunstancialmente está no exercício do poder.

Durante anos, os tucanos foram acusados de ser um partido de cúpula, no qual as decisões eram tomadas por quatro ou cinco pessoas - três de São Paulo, uma de Minas e outra do Ceará. Em 2012, devido à necessidade de concorrer com um nome de peso na cidade, o PSDB fez eleição prévia para escolher José Serra candidato. O PT, um partido com histórico de prévias, por seu turno, submeteu-se ao "dedazo" de Lula para indicar Fernando Haddad para o posto.

Imposição de candidatos marca eleição de 2012

A expressão "dedazo" passou a ser usada no México para designar a prática de os presidentes da República indicarem seus sucessores nas fileiras do PRI, que exerceu o poder por mais de 70 anos. Nunca foi de uso muito corrente no Brasil, até José Serra desencavá-la numa declaração sobre a disputa paulistana de 2008. "No PSDB, em São Paulo, não somos partido de coronéis, não pratico "dedazo"", afirmou, após a crise que tomou conta dos tucanos com o apoio do governador (Serra) a Gilberto Kassab, na eleição para a prefeitura do município.

Do Sul ao Norte, as escolhas partidariamente mais abertas estão decididamente em baixa nas eleições municipais. Com maior ou menor dificuldade, os caciques regionais impuseram ou ainda tentam impor suas vontades eleitorais e a hegemonia de seu grupo político.

No Acre, por exemplo, os irmãos Viana (o senador Jorge e o governador Tião) praticamente alijaram da política local uma figura da expressão de Marina Silva, ex-candidata a presidente da República pelo PV, atualmente sem filiação partidária. No Rio Grande do Sul, o presidente regional do partido, Raul Pont, fechou questão com a candidatura própria - posição coerente com o histórico partidário. O governador Tarso Genro preferiria apoiar a deputada Manuela D"Ávila, do PCdoB.

O problema de Tarso Genro é a reeleição. Os nomes até agora apontados pelo PT não sugerem segurança eleitoral, enquanto Manuela, mesmo na hipótese de uma derrota, poderia ser uma aliada contra o prefeito José Fortunati, que é do PDT mas tem trânsito fácil no PT, partido que ajudou a fundar no Rio Grande do Sul, e a simpatia da presidente da República Dilma Rousseff. O Rio Grande do Sul já não parece o mesmo: a aliança do PCdoB para as eleições municipais é com o PP da senadora Ana Amélia. O desenho eleitoral da capital Porto Alegre ainda não pode ser considerado definitivo.

Político da nova geração e - talvez - de renovação do PSDB, Beto Richa dispunha de um acordo para apoiar Gustavo Fruet nas eleições para a prefeitura de Curitiba, este ano. Esqueceu o que prometeu e seu candidato agora é Luciano Ducci, do PSB. Fruet, como em geral costuma acontecer em situações como essas, saiu do PSDB e vai disputar a cadeira municipal pelo PDT. Com o apoio do PT, partido com qual andou às turras em 2005, durante as investigações da CPI do mensalão.

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, já é um cacique bem fornido. Mas bem que tentou emplacar o candidato do PT, seu secretário Maurício Rands. Não deu certo.

O problema do Recife parece ter uma forte conotação local: o ódio visceral entre o ex-prefeito João Paulo e o atual prefeito João Costa. Caso de criatura e criador: à época, Lula e os principais caciques do PT queriam o senador Humberto Costa como candidato; João Paulo, com 83% de aprovação, impôs João Costa, que era seu secretário. Brigaram em questão de meses. O PT agora quer impor o nome do senador Humberto Costa. Pode ser um flanco aberto para Campos entrar com um nome próprio. Afinal, o governador de Pernambuco tem razão quando diz que, se o PT local é incapaz de se unir internamente, imagine-se no comando de uma frente partidária.

Em Belo Horizonte (MG), aparentemente a cúpula do PT conseguiu contornar a crise interna que ameaçava a candidatura à reeleição do prefeito Márcio Lacerda. Mas ainda podem ocorrer surpresas. Principalmente quando se sabe que o cacique local não é do PT nem do PSB, é do PSDB. E mais ainda: é o principal nome dos tucanos para a discuta presidencial com Dilma Rousseff, em 2014.

Apesar do extraordinário desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, quando tirou Dilma Rousseff do anonimato ministerial diretamente para a cadeira de presidente da República, o "dedazo" não significa necessariamente sucesso, como demonstram as dificuldades que o candidato do ex-presidente da República encontra para descolar do bloco de candidatos nanicos em São Paulo. O próprio Lula, aliás, é personagem de um "antidedazo" histórico.

Em 2004, o PT decidiu apoiar a candidatura do hoje senador do PCdoB, Inácio Arruda, para prefeito de Fortaleza. Uma jovem insolente resolveu desafiar todos os poderes constituídos do PT: Lula, José Genoino (à época presidente nacional do PT) e o então chamado campo majoritário do partido. Ganhou por um voto as eleições zonais de Fortaleza. O PT decidiu baixar o centralismo democrático e intervir no diretório, mas não foi adiante. Luizianne Lins foi eleita. Hoje, é vítima do próprio veneno e tenta impor o nome de sua vontade a candidato a prefeito da cidade.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Os santos da aliança:: Janio de Freitas

Lula, Erundina e Maluf, e, em meio a eles, Haddad -a quem PT, PSB e PP incumbem da tarefa de renovação

A composição é fascinante, na eloquência com que sintetiza tanto dos nossos tempos: Lula, Luíza Erundina e Paulo Maluf entrelaçados. Uma nova santa aliança em versão brasileira e atualizada.

Erundina, que nunca se entendeu bem com Lula no PT, rompeu com ele e abandonou o partido por não aceitar que petismo fosse lulismo. Lula, que dirigiu a Maluf, por anos e anos, as acusações mais graves e os piores insultos. Maluf, que atacou o PT, montou uma estrutura eleitoral em São Paulo para bloqueá-lo (com várias vitórias) e combateu Lula ao melhor estilo malufista.

Lula, que jamais apreciou Erundina, e em certa medida foi por ela derrotado quando a viu escolhida no PT e eleita para a prefeitura paulistana. Erundina, que lançou sobre Maluf uma carga pesada de acusações sobre a realidade encontrada na prefeitura e na própria cidade. Maluf, que em suas respostas não poupou Erundina nem como pessoa.

Lula, Erundina e Maluf, e, em meio a eles, Fernando Haddad -a quem o PT e o PSB, e por extensão Maluf e o PP, incumbem da tarefa de renovação, por suas muitas qualidades, da política tão fosca que perdura em São Paulo.

Na outra calçada, a frustração: iam tão bem os negócios, digo, as negociações para a aliança Serra, Kassab e Maluf, e de repente ficam aqueles dois outra vez recolhidos ao seu enlace de contorcionistas. Porque o DEM, é claro, não dá para consolar ninguém. Mas sempre há um Paulinho desejoso de crescer da condição diminutiva para o lugar de um Paulo disputado.

Sem resposta. As provas valem, até prova em contrário. Ou até que um recurso ao Supremo ponha em suspenso a derrota, por dois a um, da tese de invalidade da autorização judicial para "grampear" Carlos Cachoeira e seu círculo. A decisão, porém, até por sua margem mínima, deixa em aberto questões muito acima do processo de Cachoeira.

Os comentários exibiram muita confusão a propósito da tese derrotada. A Polícia Federal vai continuar baseando em interceptações telefônicas muitas de suas investigações. E quais são, afinal, os critérios para que juízes as autorizem?

A denúncia anônima, sem investigações comprovadoras, é suficiente para a PF pedir e obter a autorização, como até agora foi próprio só das ditaduras? O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz que a investigação "foi legítima", mas não explica o essencial no caso, que são os "grampos" baseados em denúncia anônima, ou não.

Para obter as respostas devidas à opinião pública, talvez seja preciso grampear a PF. Com base em denúncia anônima.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A Espanha volta ao foco:: Celso Ming

Na semana passada, os observadores dos quatro cantos do Planeta avisavam que a economia mundial estava à beira do precipício e que tudo ficaria bem se houvesse um desfecho positivo das eleições na Grécia. Porém, a vitória dos conservadores e, com ela, a possibilidade de que os canais de crédito oficial sejam reabertos não mudaram a percepção. O bêbado continua lá no alto, balançando miseravelmente o corpo sobre o vazio.

Ficou, em alguma coisa, reduzida a possibilidade de que a Grécia saia da área do euro e, com isso, lance a economia mundial no pandemônio. Contudo, a agonia continua, agora com o agravamento de outro foco da crise, o da Espanha, duramente ameaçada de não obter financiamento para seu enorme rombo orçamentário.

Apesar do alívio que veio com o anúncio do resultado das eleições na Grécia, o investidor mostrou que não se atreve a canalizar seu dinheiro para a compra de títulos soberanos da Espanha. Ontem, o baixo interesse aumentou o rendimento (yield) desses papéis para acima dos 7% ao ano (veja o Confira). Aumenta assim o risco de que a dívida fique insustentável. A esses níveis, o passivo da Espanha dobraria em menos de 10 anos, mesmo se não houvesse novos déficits orçamentários à procura de cobertura. No pregão de ontem, a Bolsa de Madri refletiu o aumento da aflição geral. Fechou com uma baixa de quase 3%.

Na semana passada, o presidente do governo, Mariano Rajoy, anunciou radiante a decisão tomada pelo comando do bloco europeu de repassar um pacote de pelo menos 100 bilhões de euros, destinado a reforçar o capital dos bancos espanhóis, cujos caixas vinham sendo assediados pelos correntistas. No entanto, o que foi vendido como solução definitiva para o rombo patrimonial dos bancos não tranquilizou ninguém. A única vantagem da operação (os juros mais baixos) não desarma a bomba principal. Ao contrário, aumenta seu potencial destrutivo. Se a situação financeira anterior da Espanha já era precária, pior ficará com o aumento da dívida.

Há também razões para acreditar que 100 bilhões de euros não serão suficientes para dar conta do recado. O tom de satisfação passado por Rajoy, por ter arrancado de Bruxelas a nova linha de crédito, parece ter acentuado a desconfiança dos mercados. Passou a impressão de que seu governo não avalia corretamente a gravidade da hora.

O alívio aparente obtido com a formação de um novo governo na Grécia e do respeito aos acordos, por sua vez, tem o lado ruim de apontar para o adiamento indefinido das soluções.

A Europa é uma Kombi velha que só pega no tranco. Mas, desta vez, o emperramento geral não está sendo utilizado para forçar a passagem para a saída política da crise. Os dirigentes se agitam na tarefa de apagar focos esparsos de incêndio, no entanto, não são capazes de estancar o vazamento do oleoduto que está estourado.

Ontem, por exemplo, em Los Cabos, México, onde se realiza mais uma cúpula do Grupo dos 20 (G-20), o presidente do Conselho Europeu, o belga Herman van Rompuy, repetiu que a União Europeia não vacilará em usar seu arsenal para debelar a crise. É o tipo de declaração que piora tudo. Mostra que as autoridades não sabem o que fazer. Se soubessem, por acaso já não teriam agido?

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Eurocopa, semifinais:: Vinicius Torres Freire

Resultado da eleição grega dá tempo para a Espanha respirar, mas crise bancária já está nas rodadas finais

Uma vitória da esquerda na eleição grega teria provocado um infarto na Espanha e ataques de pânico pelo resto do mundo. Graças a parte mínima do eleitorado grego, pois, os líderes políticos e outros poderosos da Europa ganharam algum tempo para evitar o pior.

Quanto tempo?

Sabe-se lá, mas, a julgar pelo custo de financiamento da dívida espanhola ontem no mercado, o tempo deve ser curto. O mercado já não está ligando muito para a promessa europeia de arrumar uns 100 bilhões de euros para tapar rombos nos bancos espanhóis.

Para piorar, ainda não se sabe que bicho vai dar na Grécia. Observe-se, em primeiro lugar, que o resultado da eleição foi apertadíssimo, tanto na contagem dos votos como na distribuição de cadeiras no Parlamento.

A Nova Democracia, de centro-direita, responsável pelos capítulos finais do descalabro grego, teve menos de 30% dos votos. No Parlamento, precisa do Pasok, "socialistas", centro-esquerda, para fazer uma maioria de 12 votos. Não dá para o gasto: basta três tipos do Pasok debandarem que o caldo entorna.

A Nova Democracia terá então de apelar aos liberais (Independentes), que porém são antiacordo de arrocho, à Esquerda Democrática (antiarrocho, mas conversável) ou aos nazistas da Aurora Dourada, que são loucos.

Ou seja, a Grécia está a passos de nova crise política, pois o país está em depressão, metade dos jovens não tem emprego, a economia não voltará a crescer até pelo menos 2014 e não voltará ao nível de 2007 antes de 2025, se tanto. Além do mais, mais de metade do eleitorado votou nos partidos antiarrocho (antieuro, enfim).

Por que tanta minúcia sobre a eleição grega? Se por mais não fosse (por interesse pela história do mundo, enfim), porque o colapso grego tiraria mais azeitonas (kalamatas?) da nossa empada econômica, a do Brasil.

Embora o colapso grego viesse a jogar lenha na fogueira espanhola, o mercado garroteia a Espanha por conta de outros fatores. Ninguém mais acredita nos relatos oficiais sobre o tamanho dos rombos bancários. Ainda que sejam tapados tais rombos, o governo ficaria ainda mais endividado (a não ser que a Europa dê dinheiro diretamente à banca, o que a Alemanha não quer).

Enfim, alguns rapazes do mercado (lá da Europa) dizem que a Espanha vai precisar de dinheiro ou decisão firme da Europa antes do final do mês. Antes da nova reunião de cúpula dos líderes europeus. No Brasil não vamos crescer muito mais que 2% neste ano. Com desastres na Europa, vamos ter recessão.

O colunista mudou

Se não foi para melhor, pelo menos para outra cidade. Este colunista passa a escrever de Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos, onde vai passar uns tempos em estudos e pesquisas universitários.

Causa estranhamentos e dissonâncias escrever sobre crise, a americana em particular, num lugar em que a renda per capita é o quíntuplo da brasileira e em que na periferia a nossa "classe C" parece miserável. Num lugar em que o desemprego é igual ao do Brasil, em que a TV a cabo custa menos, o celular também, a comida é mais barata (afora o bife) e o vinho chileno custa a metade do que a gente paga aí.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Mercado derruba previsão de alta do PIB pela 6ª vez, agora para 2,3%

Pesquisa Focus também prevê que taxa básica de juros vai chegar a 7,5% em agosto e que inflação fecha o ano em 5%

Fernando Nakagawa

BRASÍLIA - Cresce o pessimismo com o Brasil em 2012. Pesquisa do Banco Central mostra que a previsão do mercado financeiro para o crescimento da economia caiu pela sexta semana seguida, de 2,53% para 2,30%. Em tempos de crise global e falta de confiança de empresários, a retração é vista especialmente na indústria e analistas já preveem expansão do setor de menos de 1% no ano. Nesse cenário, economistas apostam que o corte de juros deve seguir até agosto.

Mesmo com o esforço da equipe econômica em tentar acelerar a atividade econômica, analistas estão cada vez mais cautelosos. Ainda que iniciativas como a redução do juro, oferta de mais crédito e recursos para investimentos públicos ajudem, o efeito deve demorar a aparecer.

"As medidas recentemente anunciadas de investimentos, como a liberação de R$ 20 bilhões para os Estados, só terão efeito claro lá para 2013", diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, Andre Perfeito.

O símbolo do pessimismo está na indústria. Mesmo com financiamentos mais baratos e redução de impostos, o setor segue estocado e empresas já dão sinais de problemas. Em abril, segundo dados do IBGE, a indústria cortou postos de trabalho pelo segundo mês consecutivo.

Diante do quadro desanimador, a previsão dos analistas para o crescimento do setor industrial em 2012 caiu pela metade em um mês: de 1,58%, há quatro semanas, para 0,63%, ontem.

Juros. Com a economia lenta e sem sinais de solução na crise externa, o mercado reforça a aposta de que o Banco Central seguirá com a estratégia de cortar o juro para baratear o crédito e, assim, incentivar a demanda interna. Na pesquisa, analistas mudaram a previsão e passaram a apostar que o ciclo de redução da Selic só será encerrado em agosto, e não mais em julho, como era a aposta até semana passada.

Para o mercado, o juro atualmente em 8,50% ao ano deve cair 0,50 ponto porcentual em 11 de julho. Depois, o ciclo de cortes continua em 29 de agosto, quando a taxa deve recuar pela última vez no ano e atingir 7,50%.

O espaço para o movimento existe, avaliam os analistas, porque a economia fraca diminui a pressão sobre os preços. Na pesquisa do BC, a estimativa de alta do IPCA este ano caiu pela quinta semana seguida, de 5,03% para 5,0%. O movimento leva a previsão cada vez mais perto do centro da meta de inflação: 4,5%.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O risco do vazio:: Míriam Leitão

O Brasil jogou a toalha. O documento da Rio+20 será mais fraco do que o imaginado no cenário pessimista. A crise econômica bloqueou as soluções para salvar o futuro. Por outro lado, a China - com a ajuda do Brasil - tenta manter o passado. Há 20 anos, a China era 4,3% do PIB global, e os Estados Unidos, 22,7%. Hoje, os chineses são 15%, e os americanos, 18,8%. Países que já cresceram querem privilégio de quando eram pequenos.

Em 1992, estabeleceu-se o princípio das "responsabilidades comuns porém diferenciadas". Isso dava aos países pobres e aos países em desenvolvimento um tratamento diferenciado e jogava mais peso, com justiça, nos mais ricos. Quem tinha emitido mais no passado pagava a conta, depositava recursos nos fundos, assumia o papel de "tradicional" doador. Os outros receberiam e teriam responsabilidades menores.

Perfeito para a época. Vinte anos depois, tudo mudou. Veja o gráfico abaixo das emissões de gases de efeito estufa da China e dos Estados Unidos. Em 1990, uma enorme distância separava os dois países; em 2005, a China passou os Estados Unidos. Obviamente que a hora é, de fato, de flexibilizar esse princípio, para que os países emergentes, especialmente os Brics, participem mais do financiamento aos países pobres na transição para uma economia sustentável.

A grande briga, no entanto, foi para reafirmar o princípio das "responsabilidades comuns porém diferenciadas". E lá está ele escrito, explicitamente, e mais de uma vez, como inegociável, nas várias versões do texto. Países de renda média, como bem disse o economista Jeffrey Sachs neste jornal, podem e devem assumir mais responsabilidades.

No texto negociado, falta quase tudo. Mas, principalmente, faz falta uma proposta concreta sobre o fundo que se pensava criar no Rio. Os governantes vão apenas "reconhecer a necessidade" de que existam formas de financiamento, que ele envolva fontes variadas, como os órgãos multilaterais - leia-se FMI e Banco Mundial -, e criam um comitê intergovernamental de trinta especialistas que vão desenvolver estratégias de financiamento até 2014.

Isso parece pouco. E é. A explicação dada pelos negociadores do texto tão aguado é que, diante da situação de crise econômica em que o mundo vive, seria irreal falar de recursos adicionais aos que os "tradicionais doadores" já se comprometeram a aportar em outros fundos.

A Rio+20 estabeleceria os objetivos de desenvolvimento sustentável. Agora se sabe que os governantes vão se comprometer a ter objetivos no futuro mas não estará claro quais serão. Extraoficialmente se sabe que seriam metas sobre áreas como água, energia, transportes, cidades e oceanos. O fundo seria criado aqui. Agora se sabe que ele terá uma arquitetura financeira a ser proposta pelo painel intergovernamental. Outra intenção era criar no Rio um órgão para comandar as negociações de sustentabilidade. Agora, já se sabe que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) será fortalecido e que haverá no texto a possibilidade de elevar seus poderes em algum momento. Também no futuro.

No começo da negociação, estava quase certo que os países se comprometeriam a negociar uma legislação complementar do Direito do Mar, cobrindo áreas internacionais. Ontem, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo admitiu, na conversa com os jornalistas, que também este ponto está encrencado. Claro que ele não fala a palavra encrencado. Na linguagem dos diplomatas, é assim: "O tema oceanos continua sendo negociado, mas exigirá um esforço mais intenso."

Figueiredo também disse que a negociação seria concluída ontem mesmo. Ela já está na prorrogação, porque oficialmente acabou na sexta-feira. Na delegação brasileira falava-se que poderia encerrar à meia-noite, "mas o conceito de meia-noite é bem elástico".

Negociam-se palavras em uma sucessão de consultas bilaterais, ou com grupos de países, para tornar mais sólido um texto que foi emagrecido pelo Brasil. Inicialmente, a lipo tinha razão de ser: era para tirar as redundâncias. Em seguida, o Brasil passou a tirar tudo o que era controverso, pela razão explicada pelo ministro Patriota ao GLOBO de ontem. Ele disse que "se deixar muitos pontos em abertos, não se conclui nada". Se todos os pontos em aberto forem retirados acabam as polêmicas, mas fecha-se um acordo sobre nada.

FONTE: O GLOBO