O Globo
Além de mergulhar até o fundo na areia
movediça da Justiça em duas frentes críticas, ex-presidente a cada dia arrasta
mais os militares consigo
Não é possível atestar, no momento, se todo
o teor dos depoimentos de Walter Delgatti Neto à CPMI do 8 de Janeiro e à
Polícia Federal é verídico. A gravidade da trama revelada por ele — um
presidente da República pedindo a um hacker para criar um código-fonte fake das
urnas eletrônicas, em conluio com o Ministério da Defesa, depois sugerindo que
ele assumisse o grampo num ministro do Supremo Tribunal Federal em troca de um
indulto — é inaudita até para os padrões cada vez mais aloprados do
bolsonarismo.
Ainda que não haja meios de provar os pedidos de Bolsonaro, o que já está comprovado é suficiente para implicar o ex-presidente e boa parte da cúpula militar numa conspiração para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Não eram as urnas que eram passíveis de fraude. Era o presidente da República que estava empenhado em fraudá-las ou, pelo menos, em simular uma fraude e, a partir disso, tentar alguma medida de exceção.