domingo, 11 de dezembro de 2022

Luiz Carlos Azedo - O primeiro obstáculo de Lula é isolar a extrema-direita

Correio Braziliense

O bom governo depende dos serviços prestados à população. E das mulheres, que foram a força decisiva para a eleição de Lula, cuja presença na Esplanada não deve se restringir ao “lugar de fala”

É natural que todas as atenções estejam voltadas para a montagem do governo Lula e suas relações com o Congresso, mas é um equívoco tratar o presidente Jair Bolsonaro como cachorro morto, ainda que ande chorando em solenidades militares, em silêncio depressivo e com uma erisipela, um processo infeccioso da pele, que pode atingir a gordura do tecido celular, causado por uma bactéria que se propaga pelos vasos linfáticos, comum nos diabéticos, obesos e nos portadores de varizes.

Na sua primeira fala política após as eleições, na sexta-feira, Bolsonaro passou recibo da depressão, ao falar com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada: “Estou há praticamente 40 dias calado. Dói, dói na alma. Sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês, mesmo arriscando a minha vida no meio do povo”, disse, numa alusão à facada que levou em Juiz de Fora (MG) em 2018. Sua postura é de derrotado, Bolsonaro já não reage como aquele lutador de boxe nocauteado que se levanta querendo lutar. Mas é um erro avaliar que não tem condições de se manter como o líder de direita com ampla base popular. A pesquisa do Ipec divulgada na quinta-feira mostra isso.

Merval Pereira - Orçamento secreto na berlinda

O Globo

Existe uma ameaça de não aprovar a PEC da Transição caso o STF considere inconstitucional o orçamento secreto

O orçamento secreto do Congresso está em discussão tanto no Supremo Tribunal Federal (STF), que definirá se é constitucional, quanto no Tribunal de Contas da União (TCU), que autorizou um pedido do governo para deixar fora do teto despesas obrigatórias da Previdência. O presidente eleito Lula procura ressaltar a todo momento que a PEC da Transição, que permite um gasto bilionário fora do teto, não é de seu governo, mas sim do governo Bolsonaro, que fez um orçamento fictício onde não cabem o Bolsa Família de R$ 600 e mais R$ 150 por criança menor de 6 anos, e nem gastos correntes como despesas do INSS com aposentadorias e outros benefícios previdenciários, que chegaram a R$ 770,4 bilhões.

O atual Governo chegou ao mês de dezembro precisando ‘pedalar’ quase R$ 15,5 bilhões no Teto de Gastos, e conseguiu que o TCU aceitasse a imprevisibilidade de despesas obrigatórias da Previdência devido à pandemia o que as retirou do limite de Teto de Gastos, ampliando assim ainda mais o espaço para o orçamento secreto. A decisão do TCU, no entanto, não autorizou expressamente o governo a furar o teto. Se tomada, a decisão do governo terá que ser avaliada novamente pelo plenário, o que é arriscado.

Bernardo Mello Franco – Anatomia de um desastre

O Globo

Se governo Bolsonaro fosse um avião, terminaria em pane seca

Se o governo Bolsonaro fosse um avião, seu voo terminaria em pane seca, sem combustível para pousar. O sumiço do piloto, que largou o manche e abandonou os passageiros, seria apenas o epílogo do desastre.

Depois de quatro anos, o capitão deixa um cenário de terra arrasada. A máquina federal vive um colapso administrativo e financeiro. A manutenção de serviços básicos está ameaçada, e o Orçamento do próximo ano não para em pé.

O noticiário tem registrado os efeitos do apagão. Já faltou dinheiro para comprar remédios, encomendar livros didáticos, levar água potável ao semiárido. A Polícia Federal teve que suspender a emissão de passaportes. Cerca de 200 mil estudantes de pós-graduação não receberam as bolsas de dezembro.

Depois de furar cinco vezes o teto de gastos, o presidente raspou o que sobrava no cofre para tentar se reeleger. Não conseguiu e deixará o governo em estado de calamidade.

Dorrit Harazim - Raspando o tacho

O Globo

Bolsonaro se dedica, entre choros e queixas, a cometer desmandos onde ainda é possível

Final de ano no nosso planetinha é o atropelo de sempre — uma insana correria atrás do tempo perdido. É como se a virada do calendário demandasse um acerto com todas as contas deixadas em aberto. Atarefados em zerar assuntos pendentes (imaginários ou reais), corremos o dobro para não chegar a lugar algum. Com governantes não é diferente. Tome-se o exemplo do ainda presidente Jair Bolsonaro. Com a ampulheta de seu tempo regulamentar no poder já quase esvaziada, ele se dedica, entre choros e queixas, a cometer desmandos onde ainda é possível — a possível extinção da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, a nomeação do capitão da PM baiana André Porciuncula para a Secretaria Especial da Cultura brasileira, com mandato de 14 dias úteis, e a condenação à mendicância terminal do Ministério da Educação são exemplos desta semana.

É a raspa do fundo do tacho de um desgoverno funesto — mas que tem seguidores à altura de seu desvario. Não são lobos solitários. Estão e permanecerão em concertação, numa vigília ostensiva que não dá conta de suas ramificações. Até agora apenas um empresário, Milton Baldin, teve prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No momento da prisão, Baldin estava no acampamento bolsonarista montado em frente ao Q.G. do Exército, em Brasília, participando de atos antidemocráticos e abertamente golpistas. Semanas antes, já usara as redes sociais para convocar abertamente a turma armada dos CACs, como são chamados os “colecionadores, atiradores desportivos e caçadores”:

—[Vocês que] têm armas legais, hoje nós somos, inclusive eu, 900 mil atiradores, venham aqui mostrar presença.

Míriam Leitão - Os desafios dos novos ministros

O Globo

Na economia não pode haver erro porque essa área é a que define o destino de qualquer governo. Esse é o desafio de Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não poderá errar na escalação da sua equipe nem nas políticas que adotará, porque a economia tem riscos e chances pela frente e nela é que o rumo do governo Lula se definirá. A economia, sempre ela, decide o destino de qualquer administração. Na política externa, o presidente Lula poderia ter ousado com segurança, mas preferiu nada renovar, mas espera-se no Itamaraty que Mauro Vieira faça mudanças importantes. Na Defesa, Lula preferiu não comprar a briga que um dia o Brasil terá que travar.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, proporá a Lula a revogação total das normas que liberaram a posse e o porte de armas, mas fará uma política gradual de desarmamento. Os clubes de tiro com ilegalidade serão fechados, e o tempo de revisão da licença de armas será reduzido. Dino venceu a disputa interna em torno da criação de um ministério da segurança. E a política de segurança vai mudar, com participação muito maior do governo federal.

Cacá Diegues - Para que serve a cultura?

O Globo

Não adianta escolherem artistas famosos para comandar nossa Cultura. É preciso alguém que seja capaz de sonhar e ao mesmo tempo construir na prática

A gente sabe muito bem que a eleição recente de Luiz Inácio Lula da Silva foi, em parte, resultado de certas circunstâncias. Ele obteve os votos de seus parceiros do PT e os de seus permanentes eleitores; mas também, em parte, os votos daqueles que quiseram interromper o avanço insano do país em direção à autocracia fascista. Mais ou menos o mesmo fenômeno político que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, com o sinal trocado.

O Brasil recusou assim, nessas eleições democráticas de 2022, a barbárie em que podia estar se tornando a política no país. Felizmente isso aconteceu e, mais uma vez em parte, devemos esse serviço cívico a Luiz Inácio. E os outros, os que não votaram em Lula e eram quase metade dos nossos eleitores? O que faremos com eles que são quase metade de nossa população?

Em primeiro lugar é preciso não perder de vista quem ganhou a preferência das urnas. São os que devem nos governar, aqueles a quem devemos respeito e colaboração para administrar o que nos aguarda a todos. Um pouco como anda fazendo, em notável exemplo, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin.

Elio Gaspari - A vida está mais leve

O Globo

Jair Bolsonaro ficou calado por cerca de 45 dias e esse silêncio foi um dos fatores da paz 

Noves fora a Croácia, passada a eleição e anunciada parte do Ministério de Lula, sente-se uma certa leveza na vida nacional. Jair Bolsonaro ficou calado por cerca de 45 dias. Esse silêncio foi um dos fatores da paz .

Para que se possa avaliar a importância do ocaso de Bolsonaro, vale a pena revisitar o Brasil dos primeiros dias de novembro ao início de dezembro do ano passado. Foram pelo menos dez encrencas, todas inúteis. (No Rio, um açougue vendia ossos de boi a R$ 3,50 o quilo.)

No início de novembro, Bolsonaro estava em Roma, onde havia terminado a reunião do G-20. Sua participação foi periférica, salvo pela pisada que deu na então chanceler alemã Angela Merkel. Passeando pela cidade, Bolsonaro teve um bate boca com o repórter Leonardo Monteiro. O jornalista havia sido agredido por um segurança e reclamava:

— Presidente, presidente. O cara tá empurrando, gente. Presidente, por que o senhor não foi de manhã ao encontro do G-20?

Bolsonaro:

— É a Globo? Você não tem vergonha na cara....

De volta ao Brasil, o presidente explicou por que não havia comparecido à reunião da COP de Glasgow, atacando a ativista Txai Suruí:

—Estão reclamando que eu não fui para Glasgow. Levaram uma índia para lá, para substituir o Raoni, para atacar o Brasil. Alguém viu algum alemão atacando a energia fóssil da Alemanha? Alguém já viu (alguém) atacando a França porque lá a legislação ambiental não é nada perto da nossa? Ninguém critica o próprio país. Alguém já viu o americano criticando as queimadas no estado da Califórnia?

Janio de Freitas - Ministro dos dias difíceis

Folha de S. Paulo

Ministro considera sua prioridade a despolitização das casernas; despolitizar de verdade é militarizar os militares

Se a disciplina e a hierarquia fossem os princípios essenciais dos militares, como dizem todas as intenções de caracterizar a vida das casernas, não se explicariam a atualidade nem o tumultuado percurso da República, nascida já da insubordinação contra os poderes constituídos.

Ou, o que dá no mesmo, se a disciplina e a hierarquia são os princípios que caracterizam a função militar, quem não se enquadra nos limites de ambas não cabe na definição de militar, propriamente.

Esta é a questão que se põe, de fato, para o indicado a ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, ex-parlamentar da linhagem mais habilidosa na política e nos convívios.

Bruno Boghossian – Lula e o risco PF

Folha de S. Paulo

Fala sobre 'consertar' órgão e escolha de diretor-geral abre brecha para conflitos internos

Uma diferença de tom marcou as referências que Lula fez aos militares e à Polícia Federal no anúncio de seus primeiros ministros. O presidente eleito criticou a atuação política de integrantes das Forças Armadas, mas pontuou que elas têm uma "missão nobre". Depois, o futuro ministro da Defesa falou em "apaziguamento" e disse que a transição será "a mais tradicional possível".

A PF recebeu um cartão de visitas mais áspero. Lula afirmou que era preciso "consertar o funcionamento" do órgão e que o governo não quer que policiais "fiquem dando shows nas investigações antes de investigar". O escolhido para o Ministério da Justiça disse que era necessário restaurar a hierarquia e a legalidade.

Muniz Sodré* - A síndrome de Onoda

Folha de S. Paulo

Fenômeno se refere a militar japonês que negou-se a reconhecer o fim da 2ª Guerra

O senso comum pode estar sendo exposto à "síndrome de Onoda". É um fenômeno esdrúxulo, semelhante ao "gaslighting", por sinal eleita a palavra inglesa do ano. Remonta a 1945, quando Onoda Hiroo, tenente do Exército Imperial japonês, negou-se a reconhecer o fim da Grande Guerra. Não foi caso único. Em São Paulo, também a "Shindo Renmei", uma organização terrorista, não admitiu a derrota do Japão.

Onoda comandava um pelotão na ilha de Lubang, nas Filipinas, com a missão de assegurar terreno para o desembarque de tropas. Escondeu-se trinta anos na selva, rejeitando evidências e sobrevivendo graças ao roubo de arroz, bananas e vacas. Odiado pelos camponeses, matou trinta dos que tentaram combatê-lo. A Shindo Renmei assassinou 23 e feriu 147 compatriotas da colônia nipo-brasileira, aos quais chamava de "corações sujos", por não compactuarem com a mentira delirante.

Vinicius Torres Freire - A equipe de Haddad na Fazenda

Folha de S. Paulo

Convites formais dependem ainda de definições de outras pastas da área econômica

Os nomes dos secretários do ministério da Fazenda vão dar pistas fortes do que deve ser o programa econômico de fato do governo Lula 3. Mas o comando e função do ministério do Planejamento também serão importantes. Como disse o próprio ministro nomeado para Fazenda, Fernando Haddad, a formação de sua equipe ainda depende do que vai ser feito do Planejamento, um mistério ainda grande. Na terça, Haddad dá entrevista.

Há nomes "sondados", segundo os chutes informados do entorno de Haddad e dos "sondados".

Para a Fazenda, ou talvez para o Planejamento, podem ir Bernard Appy, Bernardo Guimarães (colunista da Folha), Marco Bonomo e Felipe Salto. Breves perfis desses economistas seguem mais abaixo. Bonomo e Guimarães são pesquisadores reputados, "economistas padrão" ou, de acordo com o apelido simplório "ortodoxos".

Diz-se que o futuro ministro gostaria também de levar dois nomes "do mercado", de gente do setor privado, que talvez já estejam até definidos, mas guardados em segredo maior, até para não abalar os empregos dos "cotados" _ou "cotadas".

Eliane Cantanhêde – O coração do governo

O Estado de S. Paulo

Sem improviso e concessões, Lula é pragmático na escolha dos principais ministros

Ao anunciar o coração do seu governo, com Fazenda, Justiça, Defesa, Itamaraty e Casa Civil, o presidente eleito Lula dá cara, coração e alma ao seu novo mandato, demonstra maturidade e pragmatismo, sem improviso e concessões, e sinaliza que quer pacificação, não guerra. Goste-se ou não de Fernando HaddadFlávio DinoJosé Múcio MonteiroMauro Vieira e Rui Costa, eles não foram surpresa nem tirados da cartola.

Para parte do setor privado, Haddad não se encaixa no perfil de ministro da Economia: nem baita técnico, como Malan, nem baita político, como Palocci, que foi hábil negociador na Economia e lamentável figura na Lava Jato. A sinalização é que o real ministro da Economia será Lula e ele não queima gordura para fazer a coisa certa, se o certo é impopular.

Rolf Kuntz* - O novo presidente será um novo Lula?

O Estado de S. Paulo

O novo governo será quase certamente melhor que o atual, mas será muito melhor se for pragmático e sem as velhas limitações ideológicas do petismo tradicional

Qualquer coisa será melhor que Jair Bolsonaro na Presidência, mas o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva com certeza pretende ser mais que simplesmente melhor que o antecessor. Seu primeiro trabalho será reconstruir o governo, como entidade e como conceito. Bolsonaro foi chefe de governo e jamais governou. Confundiu governar com mandar, acabou dominado pelo Centrão e só usou seu poder para cuidar de interesses pessoais, familiares e de aliados ocasionais. Seus auxiliares estiveram, quase sempre, à sua altura. Ajudaram a devastar a educação e a frear os programas de pesquisa. Combateram a cultura. Aceitaram o morticínio de centenas de milhares de pessoas, na pandemia, negligenciando a prevenção e a assistência. Foram incapazes de formular programas de crescimento, de modernização econômica, de recuperação da indústria e de integração internacional. Apoiaram a devastação do ambiente, rejeitaram a cooperação global e transformaram o Brasil em pária.

Pedro S. Malan* - Convergências possíveis?

O Estado de S. Paulo

Sugestão de 2014 de Dilma Rousseff, ainda que nunca implementada, permanece relevante para o governo recém-eleito

“Como os pulmões precisam de ar, o coração precisa de sangue e o estômago precisa de alimento – e não como um bêbado precisa de álcool, um viciado precisa de drogas e um diabético precisa de insulina –, uma economia moderna pode, em alguns momentos, precisar de déficits fiscais e uma dívida pública crescente e, em outras épocas, precisar de superávits fiscais, obtidos através de redução de gastos e/ou aumento de tributação, para destinar recursos à necessidade de investimento, combater a inflação e reduzir a dívida pública.” (Paul Samuelson). A metáfora, distinguindo necessidades reais daquelas de outra ordem, tem relevância para o Brasil, onde os tipos de necessidades se confundem. E no qual há cerca de três décadas as despesas primárias do governo federal cresceram a uma taxa anual superior ao crescimento do PIB, passando de 11,8% do PIB, em 1991, para 19,9%, em 2016 (20,2% em 2021).

Isso mostra que temos um problema estrutural de demandas por maiores gastos públicos, sobre o qual muito já escrevi neste espaço. Esta pressão exige difíceis escolhas, seleção de prioridades, avaliação de programas/projetos e mudanças institucionais significativas envolvendo reformas na área tributária e de administração pública e, certamente, a definição de regras fiscais críveis que tenham capacidade de conferir previsibilidade no médio e no longo prazos à sustentabilidade das finanças públicas no País. Definitivamente, não é o que temos no momento.

Cristovam Buarque* - E a cultura?

Blog do Noblat / Metrópoles

A primeira tarefa do Ministro da Cultura será superar a criminalização do mundo artístico que o discurso bolsonarista promoveu

O Brasil espera os nomes dos ministros da economia, fazenda, planejamento, relações exteriores, defesa. Poucos lembram da importância do nome de quem vai cuidar dos assuntos da cultura. Entre estes poucos, a preocupação mais comum é para saber quem vai cuidar dos órgãos de promoção e financiamento das atividades artísticas. Esquecemos que vai caber a este ministério coordenar a grande luta pela recuperação da mente brasileira, comprometida nos últimos quatro anos pela visão obscurantista, preconceituosa, censora, promovida pelo ainda presidente e seus asseclas mentais e espirituais.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Clima de ódio que contaminou Brasil precisa ter fim

O Globo

Não tem cabimento atacar ninguém pelas escolhas políticas. Precisamos nos inspirar em atos de solidariedade

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deverá ser diplomado amanhã e assumirá em 1º de janeiro, como manda a Constituição. A eleição acabou, e não faz nenhum sentido perseguir, atacar ou hostilizar quem quer que seja com base em suas escolhas políticas. Passou da hora de dar um basta à sandice que tomou conta do país na campanha. Lamentavelmente, episódios de intolerância e agressões, relacionados a uma contenda que não existe mais, têm pipocado a todo momento dentro e até fora do Brasil. Prorrogam um clima de ódio que só nos faz mal.

Na estreia da seleção brasileira na Copa do Catar, o cantor e compositor Gilberto Gil e sua mulher, Flora Gil, presentes ao estádio Lusail, em Doha, foram xingados por bolsonaristas, como se não pudessem torcer pela seleção. Dias antes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PSDB-RJ) foi hostilizado num resort da Praia do Forte, Litoral Norte da Bahia. Ao deixar o restaurante do hotel, foi xingado de “pilantra”, “ladrão” e outras ofensas impublicáveis, especialmente depois de fazer um L com a mão (referência a Lula, em quem declarara voto).

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Foi-se a Copa?

 

Música | Zeca Pagodinho - Aquarela Brasileira