Por
Carolina Freitas / Valor Econômico
SÃO PAULO- Presidente de honra do PSDB, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso diz que não são os partidos que vão definir o nome de centro para as eleições de 2022, mas as personalidades. O tucano defende o diálogo do partido com outras legendas, em busca de consenso para levar ao segundo turno um candidato capaz de enfrentar a polarização entre PT e o presidente Jair Bolsonaro.
Em
entrevista ao Valor,
concedida na tarde de ontem via Zoom, FHC citou como possíveis nomes os dos
governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite,
ambos do PSDB, e do apresentador e empresário Luciano Huck, sem partido. Mas
deixou claro que o cenário está aberto a quem apresente um caminho para o
Brasil pós-pandemia e que mostre capacidade de falar ao povo, especialmente via
redes sociais.
“Eu
vou apoiar quem tiver capacidade de juntar essa trupe toda, pelo menos esses
três nomes, para o segundo turno. Quanto mais convergência melhor”, afirmou.
Fernando Henrique disse ainda que a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à cena acelera as articulações do centro. Para o tucano, os desafios de se construir uma frente de centro são “ter lado” e tornar palatável ao eleitor uma posição que não seja extrema. “Não é qualquer centro anódino. Tem que ser um centro que tenha rumo, progressista econômica e socialmente, olhando para a maioria.”
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Como o
senhor analisa o cenário atual do Brasil?
Fernando Henrique Cardoso: Estamos em
uma situação melindrosa. Economicamente, vamos ter desemprego; politicamente,
não se vê ainda caminhos de recuperação de confiança; e socialmente, as pessoas
estão sofrendo e vão sofrer mais. O quadro sanitário é o que no momento chama
mais a atenção pela gravidade. Mas quando sairmos desse pesadelo vamos nos
encontrar com uma situação difícil. Não é uma situação só econômica. É uma
situação política.
Valor: E como
estão as condições políticas de recuperação?
FHC: Estamos com um presidente que tem apoio ainda forte, nas camadas médias e populares. Está perdendo um pouco desse apoio. Vai perder mais. Mesmo que os políticos não tenham a capacidade de vocalizar aquilo que deveriam, as pessoas sabem o que está acontecendo, pela imprensa. Não dá para saber como vai ser do ponto de vista social no momento em que as pessoas perderem a preocupação obsessiva com a sua própria saúde. Vão protestar, vão para a rua? Isso depende da reação política, do que os políticos vão dizer e de quais políticos serão críveis.